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Prolegômenos
Este livro é fruto do esforço que vimos dedicando há mais de uma década à semiótica com o objetivo de encontrar fundamentos capazes de serem transpostos do referido campo de estudo para o ensino de ciências, tendo a preocupação de fornecer subsídios para orientar o ensino e aprendizagem de conceitos científicos. Na obra estão reunidas investigações isoladas publicadas originalmente em revistas direcionadas à área de educação científica. A despeito da opção do relativo conforto de o leitor contar com essas investigações concentradas em único volume, em vez de buscá-las em periódicos dispersos, todavia, muito além desse motivo, o manuscrito apresenta a conveniência de não necessitar ficar restrito ao número de páginas desses meios. Em razão da referida limitação estar aqui afastada, pôde-se juntar em um só espaço as reduzidas quantidades de exemplos de casos de ensino ocorridos nas publicações isoladas, oferecer novos casos investigados e dispensar maior aprofundamento teórico e analítico para cada um. Mas, mais do que isso ainda, a reunião dos exemplos, permite mostrar a amplitude e variedade de aplicações em situações de ensino e revelar, por consequência, o potencial de generalização que as ideias expostas atingem em razão do espectro dos casos ilustrados. Porém, o ponto mais importante da realização deste material trata-se do seguinte. Em razão do tempo decorrido desde as publicações, maior amadurecimento das ideias e linguagens iniciais foi se concretizando, o que possibilitou revisá-las. Com isso, conseguiu-se refinar, articular e aclarar melhor a parte conceitual do referencial teórico da semiótica, assim como estabelecer e organizar um maior número de parâmetros para diagnóstico dos casos estudados. Tais procedimentos promoveram aprimoramento do instrumento de análise e ganhos de compreensão da proposta. Nesse sentido, devido ao tempo transcorrido, a obra não só atualiza as produções saídas nos artigos até o momento desta publicação, mas vem melhorar o que foi elaborado em termos de qualidade teórica e analítica. O benefício com a leitura do livro, portanto, encontra-se nos acréscimos apontados, sem deixar de lembrar que as situações tratadas foram acontecimentos obtidos de ambientes de ensino reais. Por isso, sua aplicação no ensino
de ciências é factível, ponto este frequentemente questionado e valorizado pelos professores.
Os estudos semióticos vêm se tornando uma das referências para abordar problemáticas que envolvem a educação científica. Contudo, antes de manter-nos presos a uma perspectiva teórica desses estudos, optamos por um ponto de vista mais operacional e pragmático para enfrentar essas problemáticas. Quer-se dizer com isso que em vez de partirmos de uma única escola semiótica para enfrentamento de questões de interesse da educação científica, aproveitamos contribuições de mais de uma tendência teórica desse campo do saber. Consequentemente, o estudo não mantém fidedignidade filológica e nem preserva um quadro teórico unificado baseado em um número limitado de conceitos de um autor, mas se preocupa em dispor para os professores das ciências da natureza, para os quais o livro tem seu destino, instrumentos úteis para encaminhar o ensino e acompanhar a aprendizagem dos estudantes com o objetivo de proporcionar-lhes maior significado e profundidade.
Ao optar por um ecletismo teórico, em que os conceitos expostos não estão sistematizados com o rigor dos autores citados, estamos cientes da ausência de maiores aprofundamentos a condicionar suas formulações teóricas. Entretanto, esse ponto não impediu de mencionar suas justas procedências, que aparecem reconhecidas nas citações dos autores e trabalhos que lhe deram origem. Frente a isso, optamos por priorizar a validade e viabilidade analítica realizada juntamente com o pretenso fim maior que é o de iluminar com novas leituras questões educacionais de interesse e atuais.
Por essas considerações, o principal referencial semiótico utilizado é o da teoria da comunicação de Luis Jorge Prieto, à luz do qual conceitos foram selecionados e acomodados para serem transpostos didaticamente. O objetivo desse procedimento foi estabelecer um olhar analítico semiótico para estruturar e compreender a maneira pela qual operam determinadas dinâmicas discursivas dialógicas em sala de aula. Para tanto, um conceito chave inspirado da teoria, pertencente à categoria de signo, que nomeamos pelo neologismo de “indicação circunstancial”, e que será a ideia central que guiará as páginas abaixo. Vai-se mostrar que durante atividades discursivas o professor é capaz de servir-se da emissão mediadora desse tipo de signo como instrumento de interlocução para contextualizar o assunto e estimular a reflexão autônoma dos
estudantes. Com essa atuação, busca torná-los participantes ativos na construção do conhecimento.
O mote principal do trabalho está em descrever como esse elemento semiótico funciona e é identificado na estrutura da composição discursiva, além de conhecer como o mesmo é usado dentro das finalidades acima citadas. Fazendo uso da metodologia qualitativa descritiva, aulas de professores de ciências foram examinadas e apresentadas em trechos que explicam e ilustram os pontos levantados. Em momentos do processo discursivo dessas aulas, entre uma pluralidade de formatos de emissões sígnicas produzidas pelo professor, vai ser possível reconhecer certos tipos de signos qualificados de indicações circunstanciais que se apresentam com diversas características e fins na instrução. Como poder-se-á constatar, o emprego das indicações circunstanciais se justifica pela sua fundamental participação na contextualização discursiva para dar significado à mensagem comunicada e pela sua função intelectual reflexiva, com vistas ao aprimoramento conceitual dos aprendizes.
Sinteticamente e fundamentalmente, portanto, propõe-se fazer ver a existência das indicações circunstanciais e qualificar seus tipos, contextualizando seus papéis no processo discursivo durante situação real de ensino.