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Incertezas
from Não Saia Agora
Incertezas Marcari
Eu andava na calçada com passos rápidos, podia ouvir o eco do barulho dos sapatos nos pedregulhos. O Mundo amanheceu em silêncio. O azul do céu e o calor do sol revelaram um mundo vazio. Só o aterrorizante silêncio percorreu o mundo, os continentes. Ninguém entendeu nada.
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O contágio do vírus Covid-19, causou dor e morte. Essa era a força do novo vírus que rapidamente ocupou todos os lugares e as cidades. O povo permaneceu em seu lar, perplexo e confuso diante da dor do próximo e o terror de perder rapidamente seus entes queridos.
Que medo! Como enfrentar o inimigo invisível, mil vezes menor que uma célula humana. O maior inimigo do homem em 2020?
Em todos os países surgiram possibilidades, remédios milagrosos que não salvaram ninguém. O homem em sua arrogância e egoísmo investiu por muitos anos suas riquezas em armamentos. Não pensou na ciência, ou na necessidade de preparar equipamentos e medicamentos para situações de emergência. O maior engano, terrível e letal. Levou a vida de milhares de pessoas em meio a tanto choro e dor. Muitos órfãos no mundo.
Eu refletia sobre a minha vida e todos estes acontecimentos e enquanto caminhava, parecia que alguém estava seguindo meus passos. Parei, olhei atentamente a minha volta e não vi ninguém. Parecia o fim do Mundo. Todas as lojas fechadas, todas as ruas desertas. Como um filme terrível de suspense.
Gostaria de descrever todos os sentimentos que invadiam o meu ser. Variavam de sensação de desespero, medo, pavor até a conformidade de estar no caminho do fim. Engraçado, novamente a sensação de estar sendo seguida.
Já podia ver ao longe o portão de minha casa, mas a sensação de dúvida persistia em minha mente. Haveria uma razão para que o Mundo inteiro sofresse tanta dor e tudo que estava acontecendo. Uma guerra invisível entre nações com uma arma biológica capaz de aos poucos dizimar toda a humanidade ou um castigo ao descaso com a natureza.
Cheguei em casa, com a cabeça repleta de suposições, até as mais malucas possíveis. Viver no isolamento sem poder conversar com outras pessoas ou trocar ideias parecia insuportável depois de algumas semanas de solidão. Sentia muita aflição e sempre com a sensação de não estar só. Acontecia sempre que saía e o fato de não cruzar com carros ou outras pessoas aumentava a sensação de perseguição. Talvez estivesse ficando meio tantã em meio a Pandemia.
Em uma longa noite de insônia e pavor, na incerteza da vida, eu ouvi barulhos fora da casa, parecia que alguém batia nas janelas suavemente, como uma alma penada ou quem sabe um assaltante. Fiquei totalmente gelada e arrepiada sem nenhuma ação. Perdi a noção do tempo e me encolhi na cama. No entanto, o barulho persistia e não parecia que teria fim. Com muita coragem venci o terror e lentamente fui andando em direção a janela. Olhei e vi um gato preto, batendo com a patinha e pedindo auxílio. Abri a janela e o acolhi. Estava com muita fome e perdido, era um animal bonito. Então esse era o meu ser invisível que espreitava os passos em todos os cantos. Já fazia mais de uma semana que estava me seguindo e assustando os meus caminhos.
Resolvi adotar o gato preto. Agora um novo amigo para o isolamento da Pandemia. Dei-lhe o nome de Asclépio, em homenagem ao Deus grego da medicina e da cura.