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Katia Brito 49 e
Fafá de Belém veste talentos do Pará no The Voice + (Reprodução/Instagram)
Toni Garrido com a vitoriosa Vera de Maria Maga na grande final do programa (Globo/Divulgação) 65. Desde o primeiro programa, ela mostrou que ali era seu lugar, um lugar de uma fala potente em defesa das pessoas de sua geração. Como quando falou da necessidade de tirar a capa da invisibilidade que cobre os 60+, mostrando que ainda estão vivos, têm desejos, sonhos e experiência para serem compartilhadas. Fafá inspirou e brilhou em todos os programas, salientando também o empoderamento feminino e as conquistas das mulheres de sua geração.
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Nas últimas etapas, a técnica esteve acompanhada de uma bengala, que logo virou assunto nas redes sociais, e ela desmistificou o acessório. Longe de uma marca de dependência e fragilidade, a bengala, segundo a postagem de Fafá, traz mobilidade e segurança para quem precisa utilizá-la, e por que não, é também um acessório charmoso. A técnica paraense também prestigiou sua região, e usou em alguns programas um look com peças de talentos locais. Realmente Fafá arrasou e torço para que continue entre os técnicos do programa!
Reconhecimento e valorização
O The Voice+ começou no dia 30 de janeiro com a apresentação de pouco mais de 50 vozes nas Audições às Cegas, quando os técnicos viram ou não as cadeiras, foi avançando com apresentações incríveis de clássicos da música nacional e internacional dos mais diferentes estilos. Até que no dia 3 de abril, chegou ao fim, com uma grande vitória para todas as pessoas 60+, representadas com brilhantismo por grandes vozes. O último programa foi corrido com a semifinal e final acontecendo em seguida, mas os talentos maduros não se intimidaram, e conseguiram mostrar tudo que são capazes, que a idade não coloca limites, quem os coloca somos nós mesmos. Entre as finalistas, Marcília e Dionisya, contemporâneas, mostraram que os 80+, 90+ cantam lindamente, com uma segurança de palco, respeitando a canção e o próprio talento como bem destacou Fafá de Belém. Também quero chegar lá como elas. Quem dera outros segmentos também tirem essa capa da invisibilidade e invistam na valorização e reconhecimento das pessoas idosas. Na verdade, é impossível mensurar o quanto as pessoas com mais de 60, 70, 80, 90 anos ou mais ainda têm a contribuir para o desenvolvimento social e econômico do país. Nossa luta pelos velhos de hoje e de amanhã permanece!
‘Causos’ do Nordeste Coisas que não se empresta
Tony de Sousa Cineasta
“Espingarda de caça, Cachorro de raça, Mulher de estimação, não empreste não! ” (Dito popular)
Luís da Câmara Cascudo em seu livro “Coisas que o povo diz”, afirma que veio de Portugal essa desconfiança em objetos emprestados. Mas sabemos que a ideia de que cada objeto fica impregnado do espirito (da energia ) da pessoa que o possui é assunto da psicologia e de outras áreas. Até Marx e Engels andaram estudando o assunto. Mas o dicionário de Filosofia André Lalande confirma que veio mesmo de Portugal a origem do termo “Fetichismo”. “Assim, uma peça de roupa, superficial ou íntima, é uma parte do indivíduo. Sobre esse material é possível exercer-se uma força contrária e maléfica , com a transmissão inevitável ao antigo dono” , diz Câmara Cascudo. “Por isso um fragmento de roupa, cabelos, unhas, saliva, sangue, suor, uma joia, um lenço, um retalho de papel úmido de qualquer secreção humana será alvo precioso num trabalho de feitiçaria...”, continua Cascudo.
Aqui chegamos ao ponto mais importante da questão que é: por que não devemos emprestar objetos de uso pessoal e de estimação. Corremos o risco de sermos alvo de feitiçaria. Lembro-me que o poeta Ferreira Gullar conta uma experiência que teve com uma espécie de feiticeira, que conseguia localizar pessoas a partir de um pedaço de roupa usada por essa pessoa. No caso era um filho dele que usava drogas e desaparecia de casa. Por mais de uma vez ele foi conversar com essa mulher e ela localizou o seu filho. É curioso observar os rumos que tomam a discussão quando levados para o campo do misticismo. Lembra Câmara Cascudo que as devotas ensinam que terços e rosários não devem ser obtidos por empréstimo. Caso alguém empreste seu terço para outra pessoa, o benefício das rezas desse terço virá para o verdadeiro dono e não para quem está rezando com o terço emprestado. Também com as armas acontece algo semelhante. Quem pega arma emprestada para lutar se dá mal. “Com as armas emprestadas não se ganha valentia!”, diz um dito popular. Cascudo lembra o caso da Guerra de Troia em que Aquiles emprestou suas armas a Pátrocolo e foi vencido por Heitor. Por isso diz a Lei da Cavalaria: “Cada Cavaleiro com suas armas, sua montada, sua Dama. ”