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Marcelo Conti 59 e
realfoodwholelife “Nada, obrigado. Já jantei; é só para encerrar a noite...” (sorriso amarelo) “Bebidas?” “Não, obrigado. Apenas a sopa...” Veio a sopa. Quentinha, cheirosa, apetitosa. Maravilhosa! Ruth, coitada, ofereceu ao namorado e ele não quis (por educação, lógico!). Ainda que acompanhava o prato uma pequena porção de fatias de pão. Lelo tratou de comer aquele pãozinho e, vez por outra, mergulhava um pedaço dentro da sopa de Ruth, sem que o garçom percebesse. Satisfeitos, pediram a conta. Veio a despesa: total R$ 33,00. Lelo havia se esquecido da cobrança do serviço, ou seja, os 10% que costumeiramente são incluídos. Ali estava, sobre a mesa, a sentença de morte daquele casal que resolveu fazer um programinha barato. Mas, Lelo não se apertou. Para surpresa de Ruth, chamou o garçom novamente e pediu o cardápio. Faltava a sobremesa. “Escolhe aí, Rutinha, fica à vontade”. A sopa veio de volta pelo esôfago, a namorada atônita imaginou que o pão tivesse feito algum estrago na cabeça do companheiro. “Escolhe!”, insistiu. E foi mais longe: “Olha, tem pudim, morango com creme, sorvete, frutas... deixe-me ver... Morangos com creme! Boa pedida, você quer morangos com creme... Garçom!”. “Lelo!”, sussurrou Ruth, “...você está louco? O que significa isso?”. “Significa que você vai ficar comendo que eu vou atrás do dinheiro. Entendeu, agora?” E, enquanto a namorada saboreava aquela deliciosa fruta, o namorado correu em casa e obteve um “empréstimo” do velho pai que, já pensando em se recolher aos aposentos, foi surpreendido com a história maluca que o filho acabara de lhe contar. Voltou Lelo ao restaurante, todo faceiro, porque agora ainda sobraria um belo troco para o próximo encontro. Ruth estava apreensiva e respirou aliviada quando viu o semblante feliz do amado, e uma discreta piscadela com o olho direito. “Por favor, agora sim, a conta!”, exigiu Lelo. Veio a conta. Algumas notas de Reais cobriram o pequeno pires que o garçom havia trazido. Foi o pires com o dinheiro a mais, e Lelo aguardou o troco. Sorriram um para o outro. Como o super-herói que salva a mocinha, Lelo e Ruth teriam um final de domingo feliz.
Veio o garçom com o troco. Mal colocou o pires sobre a mesa e Lelo, ansioso e confiante, falou: “Muito obrigado, estava ótimo!”. E o garçom, pensando que era uma “caixinha”, puxou para si novamente o pires, e com um sorriso largo emendou ao mesmo tempo em que virava as costas: “Somos nós quem agradecemos... Volte sempre!” E embolsou o troco do pobre Lelo...
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Marcelo Conti Escritor e Sócio da SOLUÇÃO Gestão de Negócios e Cultura Ltda. www.solucao-gnc.com.br
A paz eterna
Laerte Temple Doutor em Ciências Sociais Relações Internacionais
Pacífica Garcia criou com dificuldade o neto que deseja ser escritor famoso e fazer fortuna. O nome ajuda: Gabriel Marques. Faltou apenas o sobrenome materno no meio. Gabo, seu apelido, idealizou a sonhada obra prima “Paz eterna”, ainda na faculdade. A vidente Madame Cacilda garantiu que ele será famoso e seu trabalho renderá vários milhões. A avó morreu e Gabo herdou velho o casarão, mas perdeu a mesada e teria de trabalhar, adiando o sonho de se tornar escritor. Quando começou a procurar trabalho, a sorte lhe sorriu: uma construtora comprou o casarão para erguer um edifício. O negócio rendeu um bom dinheiro, o aluguel de um Studio durante e obra e 3 apartamentos no futuro prédio. Com renda garantida, Gabriel Marques podia se dedicar integralmente ao livro, voltar a morar no antigo endereço e ainda contar com o aluguel de 2 apartamentos. O Studio era menor que o banheiro do casarão, a acústica um horror e os vizinhos muito estranhos: solteiros, góticos, casais de toda espécie, chapados e até foragidos da justiça. A alta rotatividade de vizinhos impedia formar vínculos. Morava no último andar, abaixo da piscina, academia e salão de festas. O agito constante e a experiência da vida no Studio foram parar no livro. O edifício ficou pronto e Gabriel mudou-se imediatamente. Gastou boa parte das economias em impostos, taxas e na decoração dos apartamentos, um para morar e 2 para alugar.
O apê inteiro era menor do que sala do casarão da avó, mas era só seu e dava para o gasto. Achou injusto morar sozinho e rachar a conta de água com famílias de 4 ou 5 pessoas. A pia da cozinha tinha caimento para o piso, que vivia molhado. Como o ponto mais alto do box era o ralo, a água não escorria e infiltrava no andar de baixo. Na primeira assembleia, deu várias sugestões e acabou virando síndico: problemas com vizinhos, empregados, manutenção e rateio extra. Arcou com as despesas dos 2 apartamentos até aluga-los, para 2 anos depois livrar-se dos inquilinos. Um nunca pagou condomínio e IPTU e o outro atrasava o aluguel e detonou o imóvel. Gabriel Marques transpôs a vivência para o livro, vendeu os 3 imóveis e comprou uma casa isolada. Condomínio nunca mais! Sem dor de cabeça com vizinhos, condomínio, garagem coletiva, festas, cães e crianças, o jovem escritor podia se con-