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Tabela 2 - Palavras chave nos sambas afro-brasileiros da Nenê de Vila Matilde

portuguesa para realizar uma trabalho conjunto enriquecendo ainda mais o samba enredo como recurso didático. Analisando os sambas afro-brasileiros da Nenê, nos deparamos com palavras que se destacam em seu uso desde o primeiro samba, em 1956, até o mais atual, de 2018.

Tabela 2 - Palavras chave nos sambas afro-brasileiros da Nenê de Vila Matilde.

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Palavras Incidência Orixás* Língua Africana** Negro Cultura

Rei/Rainha Raça

Liberdade

24 22 20 09 07 05 04

Negritude Igualdade Senzala

03 03 02

Miscigenação Quilombo

02 02

* Aqui se refere aos diversos orixás existentes dentro do candomblé, que aparecem dentro das letras. ** Língua africana aqui se apresenta palavras de origem bantas, nagôs ou iorubas nas letras. _____________________________________________________________________________________ Fonte: Elaboração do autor.

A escolha de tais palavras se justifica pela proximidade e pela identificação com o nosso assunto. A incidência de grande número de palavras de língua africana e de nomes de orixás se deve a alguns fatos: dos 22 sambas da Nenê de temática afro-brasileira, dois são sobre orixás, Oxumarê, em 1984, e Iemanjá, 2018. Mesmo sendo comuns os enredos com homenagem aos orixás no carnaval brasileiro, na Nenê, isso não é comum em sua temática negra, que se baseia mais na cultura e identidade. A palavra cultura, que remete a muitas coisas, se apresenta nos sambas da escola de maneira enaltecedora da tradição e ancestralidade do negro. Ela aparece pela primeira vez na temática de samba afro em 1980, no enredo em homenagem ao samba, no trecho “acasalando as culturas africanas”, e sendo utilizada nos sambas seguintes. Já a ideia de realeza aparece em uma grande quantidade dos sambas negros da agremiação, sendo a primeira aparição no

desfile de 1978, Sonho para um rei negro, sendo comum e presente nos sambas de 1978 e 1981, o que demonstra a relevância de mostrar o negro como destaque do desfile. A ideia de liberdade está presente nos sambas da Nenê de 1982, sobre Zumbi de Palmares, de 1997 e de 2012. Os três sambas retratam o negro como livre em suas ações, buscando sempre sua identidade e alteridade. Já a palavra raça também aparece pela primeira vez no samba de 1978 e, logo depois, em 1982, 1989 e 2001, sambas que possuem características parecidas ao que falamos anteriormente. As palavras negritude e igualdade têm pouco uso nas letras da escola e aparecem após a consolidação efetiva do movimento negro, que, nos anos 90, iria propagar a ideia de igualdade e reparação racial com mais força. Negritude aparece pela primeira vez só em 1997 e igualdade só no samba de 2013, quando a agremiação falou exatamente da igualdade e dos seus direito dentro dos movimentos sociais, em especial, do movimento negro. É interessante notar que palavras como quilombo, senzala e miscigenação aparecem somente duas vezes nas letras dos sambas da escola. Quilombo aparece nos anos de 1981 (Candeia) e 1982 (Zumbi dos Palmares); a palavra senzala está presente em 1956 (Casa Grande e Senzala) e 1980 (Homenagem ao samba); e miscigenação ocorre somente em 1978 (Sonho de um Rei Negro) e 1997 (Narciso Negro). Isso nos faz pensar que a ideia de coisificação do negro ou, até mesmo, a ideia de passividade é pouco usual na escola, sendo mais presente, de fato, nos desfiles de 1956 e 1959. Curioso é que a palavra escravo só aparece em um samba o de 1989, e em um sentido contestativo, no trecho “Não quero ser alienado à cultura/ e nem escravo do luxuoso carnaval”, o que indica que a escravidão não é protagonista na escola. Essa análise da letra do samba é importante para se compreender pontos chaves que o discurso do samba e do enredo querem mostrar. Mas isso deve ir além de uma simples análise do conteúdo. Como vimos, a utilização de certas palavras chaves são importantes para compreender o discurso que a escola, inclusive, assume para si mesma. Se estudarmos outra escola de samba, iremos perceber outro tipo de trato com as palavras e com os eixos temáticos existentes, o que significa que cada escola de samba tem uma cultura escolar. Como Olavo Pereira Soares (2017, p. 82) comenta, em A música nas aulas de história, “o princípio de uma atividade didática consciente está baseado justamente no fato de que professores e alunos precisam ter a compreensão clara de o que, para que e porque se deve estudar o que se propõem”. A música não deve ser utilizada sem motivo, ela deve ser uma

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