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3.5 Possíveis recursos didáticos: a Nenê como recurso didático

ou, até mesmo, se foi um samba encomendado (feito por um grupo de compositores, seguindo os preceitos do enredo).

Outro aspecto a ser visto é a origem da escola e a relação com tal enredo, assim como os diversos agentes que fazem um samba: o carnavalesco, compositores, interpretes e comunidade. Pensar essa dimensão carnavalizada com outras dimensões citadas pode ser uma forma que lance luz às particularidades de identidade e cultura de uma escola de samba não recaindo em generalizações e transposições da música. Sendo assim, a partir do que discutimos, pensaremos os sambas da Nenê dentro de uma possível estratégica de recurso didático.

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3.5 Possíveis recursos didáticos: a Nenê como recurso didático

Propomos agora abordar os sambas enredos da Nenê como um recurso didático na sala de aula. Seguiremos as coordenadas que discutimos sobre o trato do documento que é o samba enredo, bem como partiremos do que as DCNERER propõem e apresentaremos outros documentos que podem enriquecer nossa sequência. As DCNERER (2004), em seus apontamentos sobre o que se deve ser apresentado em sala de aula, de acordo com a Lei 10.639/03, coloca a história e cultura africana e afrobrasileira de maneira muito ampla, mas, aqui, nos centraremos em duas ações de combate ao racismo apontada pelo documento como um princípio de encaminhamento:

. Seguindo o proposto pelas diretrizes, podemos dizer que o uso do samba enredo atende e muito bem essas ações propostas pelo documento, principalmente a de valorização da arte e da corporeidade do negro, tendo em vista que a estética do samba tem profundas origens negras e que o corpo se manifesta pela arte do samba e dos diversos fazeres dentro do carnaval. Além disso, estamos falando de uma escola de samba que, embora não seja reconhecida como um patrimônio de fato, é um dos pilares da manutenção e do

- a valorização da oralidade, da corporeidade e da arte, por exemplo, como a dança, marcas da cultura de raiz africana, ao lado da escrita e da leitura; - educação patrimonial, aprendizado a partir do patrimônio cultural afro-brasileiro, visando a preserva-lo e a difundi-lo (DCNERER, 2004, p. 20)

desenvolvimento do samba paulistano, que, ao longo de seus 69 anos, vêm preservando e difundindo a cultura e as tradições da ancestralidade negra. Assim, entendemos que o uso dos sambas da Nenê seja uma maneira de interpretar a ação do negro na sociedade, em que ele se torna o protagonista e o narrador de sua história, tendo em vista que, enquanto sujeito dos samba enredos, ele possui um protagonismo de sua ação, o que seria um “reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura afrobrasileiros, garantia de seus direitos de cidadãos, reconhecimento e iguala valorização das raízes africanas na nação brasileira” (DCNERER, 2004, p. 20). Como o PCN (1998, p. 77) de história aponta, “os conhecimentos históricos tornam-se significativos para os estudantes, como saber escolar e social, quando retribuem para que eles reflitam sobre suas vivencias e suas inserções históricas”. Entendemos que o samba enredo pode ser um documento que ofereça a possibilidade de suscitar dúvida e reflexão, tendo em vista o seu modo de expressar o conteúdo histórico. Assim o professor deve deixar o aluno fora de uma zona de conforto, mostrando que a história esta sempre em movimento, com reflexões da articulação passado / presente. Assim, provocamos o questionamento do aluno sobre suas ideias e opiniões pelo que os sambas afro-brasileiros dizem, em discussão dos temas e das intencionalidades dos diversos sujeitos envolvidos no samba enredo; estimulamos o debate sobre a letra e os sujeitos que compõem o samba enredo, com o intuito de reconhecer e descontruir possíveis privilégios e também de promover uma reflexão do lugar e construção do “outro”; e, acima de tudo, refletimos sobre a diversidade e o papel da escola de samba nessa discussão, em especial, da Nenê de Vila Matilde. Ao longo do capítulo, realizamos análises nos sambas escolhidos e, a partir de agora, abordaremos possíveis utilizações. Podemos usar os sambas de várias formas e com objetivos dos mais diversos. Aqui, propormos uma reflexão ao longo de um ano letivo, pensando o oitavo e nono ano do ensino fundamental.

Sequência didática “Sou da negritude, o fruto e a raiz!”

Para essa sequência, iremos analisar e colocar em discussão a valorização da identidade negra. Aqui, a proposta é questionar, dentro dos sambas da Nenê e da sua própria identidade, a representação do negro e como ocorrem permanências no modo de visualizar a sua identidade ao longo dos períodos históricos. O “outro” é questionado de acordo com sua

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