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Quadro 1 - Sequência didática

presença e com suas atividades e deslocamentos em sociedade, gerando a sedimentação de um racismo que tenta interromper a ascensão de uma identidade negra. Assim, a partir dos sambas enredos e de sua escuta e leitura, bem como da introdução da trajetória do samba enredo e da Nenê de Vila Matilde, levantamos uma problemática: a representação do negro na Nenê de Vila Matilde possui alguma diferença da visão da sociedade sobre a história, cultura e identidade do negro? O objetivo principal é identificar o discurso e as possíveis valorizações do negro nos sambas enredo da Nenê de Vila Matilde.

Quadro 1 - Sequência didática

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Momento 01: Apresentação da escola de samba Nenê de Vila Matilde e início de discussão sobre o tema do racismo e protagonismo do negro.

Atividade 01: Questionar com os alunos o que é uma escola de samba e apresentar um pequeno vídeo sobre Seu Nenê (► audiovisual 01), que fala sobre a Nenê de Vila Matilde, seu bairro e sua identidade. Atividade 02: A leitura e escuta do samba de 1989, Eu tenho Origem. A partir dela, delinear com os alunos como o carnaval pode apresentar, no samba enredo, uma representação do negro e de sua cultura, iniciando uma discussão de como eles próprios veem a cultura, a religião e o próprio negro. Atividade 03: Em uma atividade expositiva, mostrar as manifestações culturais apresentadas na música e sua relação com sua origem africana, apresentando a África em sua diversidade não só cultural, como de visões diferentes de mundo e sociedade, questionando com os alunos o porquê de, talvez, ainda existir um apagamento do negro em sociedade.

Comentários: A proposta é apresentar uma visão sem estereótipos da escola de samba e, em especial, mostrar o passado e a identidade da Nenê de Vila Matilde. A escuta do samba de 1989 é importante para que o professor consiga colocar a dimensão carnavalizada da música: da escola de samba questionando a condição cultural negra em sociedade. O professor, com o auxílio do livro didático, pode articular com os alunos a discussão do continente africano, em especial dos povos nagô e ioruba, para explorar a ancestralidade cultural e histórica encontrada na letra. Essa atividade realizada no primeiro bimestre poderá provocar um questionamento inicial sobre o negro e a visão da escola de samba em sala de aula.

Momento 02: Atividade que pode ser preparada na semana do dia 13 de maio, Dia Nacional

de Denúncia contra o Racismo, e nas semanas posteriores.

Atividade 01 (discussão da problemática): Estabelecer com os alunos um quadro ou uma lista de artistas, escritores e/ou personagens negros da história conhecidas pelos alunos. Em seguida, ler o samba de 2012 e verificar se eles conhecem algum dos personagens descritos. Realizar em seguida a escuta do samba e discutir as possíveis interpretações.

Atividade 02: Ler e ouvir o samba de 1959 e 1982, sobre Chica da Silva e Zumbi dos Palmares, questionando qual a visão que a letra passa sobre esses personagens.

Atividade 03: A partir dos resultados da atividade 02, realizar uma discussão sobre a abordagem da situação do negro antes e depois da abolição, questionando se a ausência de representatividade não se encontra no apagamento de sua imagem ao longo da história.

Comentários: O professor deve, antes de tudo, estabelecer uma conexão com a atividade do Momento 01 e, na atividade 01, estimular os alunos a identificarem personalidades que sejam significativas para eles, não somente grandes artistas ou algo do tipo, mas podendo ser incluídos familiares, pessoas comuns. Na escuta do samba de 2012, é interessante realizar a leitura com muita atenção, esmiuçando os detalhes da música. Quanto aos sambas de 1959 e 1982, explorar a contextualização dos dois sambas refletindo sobre as visualidades dos dois personagens, articulando com o samba de 2012, sobre Chica da Silva e Zumbi dos Palmares. Na atividade o professor deve discutir como o dia 13 de maio, de certa maneira, não representou uma liberdade, mas fez crescer ainda mais a exclusão do negro.

Momento 03: Continuação do debate no Momento 02, tendo como foco a visão sobre o “outro” e como esse “outro” se enxerga.

Atividade 01: Realizar a escuta e leitura do samba de 1978. Em seguida, discutir o que os alunos entenderam sobre o título do enredo sonho de um rei negro. Depois de ler e ouvir o samba, trabalhar o poema A escravidão de hoje no Brasil (anexo Q) para questionar se esse sonho foi realizado ou se ainda é um sonho.

Atividade 02: Exposição/discussão sobre o processo de transição do fim da escravidão e a abolição da escravatura, que, posteriormente, gerou outro tipo de escravidão, como o poema coloca.

Atividade 03: Elaborar com os alunos músicas, poemas desenhos ou outras produções culturais que dialoguem com a letra e o poema em questão, ou seja, sobre “o sonho do negro” de se libertar socialmente.

Comentários: O samba de 1978 apresenta, em sua temática e no seu discurso, uma discussão interessante, a projeção de uma possível realidade, o que possibilita ao professor ampliar as discussões anteriores sobre a construção imaginada do negro. A leitura do poema A escravidão de hoje no Brasil, de Emilia dos Santos, 11 anos, aluna da Escola Municipal Marechal Rondon, umas das ganhadoras do Prêmio Educar para não Escravizar, poderá estimular o questionamento do significado da escravidão no Brasil. Essa atividade devera explorar a não passividade do negro, como analisado no samba de 1982 e nos diversos personagens do samba de 2012. Explorar a posição dos alunos na realização da atividade. Momento 04: Indicado para ser realizado no mês de novembro, fechando essa proposta com a discussão do empoderamento da identidade do negro, seja em sociedade, na história ou cultura.

Atividade 01: O professor realizará com os alunos uma retrospectiva dos sambas enredos apresentados ao longo das atividades no ano, perguntando se lembram de algum em especial. Em seguida, questionar qual a visão que a Nenê de Vila Matilde possui sobre o negro de acordo com os seus sambas.

Atividade 02: Ler e ouvir com os alunos o samba de 1997, Narciso Negro. Em seguida, apresentar o mito de Narciso e questionar os possíveis motivos para o enredo ter esse nome. Por fim, indagar como o negro é colocado nesta representação.

Atividade 03 (Na semana da consciência negra): Propor um questionamento sobre o papel social da representação positiva do negro. Como atividade final realizar uma intervenção (com fotos, cartazes, músicas) dentro da escola ou no seu entorno, com negros que são imponderados. O objetivo é explorar Narcisos que expõem e tem orgulho de sua raça e de sua identidade.

Comentários: Nessa última atividade a ser desenvolvida em sala de aula, o professor deve, antes de tudo, avaliar os resultados positivos e negativos apresentados ao longo do ano letivo. Sendo assim, a escuta do samba de 1997 é um meio de amarrar certas questões: a escola de

samba Nenê de Vila Matilde e os seus sambas, o racismo, o preconceito que o negro enfrenta, e como o samba enredo abordou o ser negro. Dessa maneira, o samba Narciso Negro deve servir como um articulador da compreensão de como se assumir negro em sociedade pode ser um ato de resistência e de orgulho da raça. Na atividade de contestação sobre o dia da consciência negra, o professor deve estimular que os alunos da sala ou da escola (sem utilização de black face) sejam os modelos de tais fotos ou dos conteúdos gerados, como forma de construção de um espaço de diversidade e aceitação da própria identidade. Ao fim do ano letivo, o professor pode discutir com os alunos e tentar responder a nossa pergunta problema: como a Nenê de Vila Matilde, representa o negro ao longo de sua história, propiciando, talvez, uma nova visualidade e colocando o samba enredo dentro da sua identidade cultural.

No anexo R, temos mais conteúdos possíveis para serem explorados dentro de sala de aula, que estão reunidos em um aplicativo para smartphone.

Cada mediação em sala de aula pode ser realizada dentro de cada bimestre letivo e ao longo do processo educativo das aulas de história. O questionamento das fontes e o estímulo para os alunos inserirem outras músicas ou outras atividades do seu cotidiano são bem vindas para que haja uma interculturalidade, possibilitando um aprendizado mais horizontal. A proposta também é a de não colocar o olhar do negro somente no período escravista e, sim, na sua circularidade e nas suas resistências, o que possibilita uma perspectiva mais abrangente da história e cultura do negro em sociedade. Portanto, os sambas que aqui selecionamos podem ser desenvolvidos de diversas formas, propiciando questões a serem resolvidas e diálogos com outras fontes para serem um recurso possível no ambiente escolar.

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