E&M_Edição 08_Novembro 2018 • Ideias que brilham

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IdeIas que brIlham As stArtup nAcionAis que estão A inovAr no mercAdo finAnceiro moçambique GNl como A gAlp está A investir nA áreA 4 do rovumA TV dIGITal depois do impAsse... o ApAgão de 2019 ecoNomIa próximo Ano será de forte crescimento. será mesmo? socIedade moçAmbique AindA não tem ‘pedAlAdA’ pArA As bicicletAs novemBRo 2018 • ano 01 • no 08 Preço 200 mZn

6 Observação

Estados Unidos as eleições intercalares para o Congresso têm Trump no centro das decisões 8 Radar

Panorama economia, banca, Finanças, Investimento, recursos minerais, Lá Fora 14 MaCro

ENQUADRAMENTO

14 GNL Com o início da exploração da Área 4 no horizonte, a Galp investe cada vez mais no país 18 TV Digital a migração do sinal analógico tem-se arrastado mas estará concluída até 2020 26 Nação

IDEIAs QUE bRILhAM

26 Fintech a e&M mergulha no mercado das startup nacionais que desenvolvem tecnologias inovadoras para o mercado financeiro 34 Na voz de... Mulweli rebelo, Ceo da ologa, uma tecnológica nacional considerada uma das PMe com maior potencial de expansão mundial 38 ProvÍnCIa

Zambézia os novos caminhos de desenvolvimento na terra das bicicletas, em que a hora é a do chá 44 MerCado

e FInanças

Plano Económico e social Governo prevê que a economia volte a crescer perto dos 5% em 2019. será mesmo assim? 48 E

MPresas

PME

VIP a história e os planos de crescimento da maior cadeia de hotéis em Moçambique

50 MeGaFone

Marketing

o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

52 FIGura do MÊs

OCAM Mário sitoe, bastonário da ordem dos Contabilistas, e um olhar sobre o estado das artes da profissão

54 soCIedade bicicletas a pedalada (ou a falta dela) de Moçambique para uma nova geração de transportes urbanos

60 LÁ Fora

Turismo Como o continente africano pode aproveitar melhor os seus recursos para crescer num sector fundamental

67 ócio

68 Escape uma viagem pela beira 70 Gourmet o vietname no prato, em Maputo 71 Adega o melhor dos espumantes portugueses 72 Agenda Música, livros, filmes 73 Arte sunday nood, ‘new object of desire’ 74 Ao volante a nova (ou nem tanto assim) moda das caravanas

Novembro 2018 3 Sumário

A contribuição do Turismo para a economia nacional

moçambique pode ser considerado um país abençoado pelo seu clima, pelas suas extensas e belíssimas praias e ilhas, florestas, pela diversidade da sua fauna e pela sua gente hospitaleira.

A contribuição do Turismo, quer para o Produto Interno Bruto, quer para o desenvolvimento social, contrasta com o seu potencial para o desenvolvimento global do país.

Numa altura em que as atenções das autoridades governamentais estão mais viradas para os recursos minerais, com uma estratégia discursiva de desen volvimento baseada na agricultura, o turismo continua a ser um sector que timidamente vai contribuindo para os cofres do Estado e para o desenvolvi mento das comunidades.

A situação actual das finanças públicas, caracterizadas por restrições orçamen tais em consequência das chamadas dívidas ocultas, já deveria ter levado as autoridades governamentais a repensarem a estratégia para o Turismo, como uma das principais contribuições para a diversificação, equilíbrio, desenvolvi mento e consolidação da estrutura da economia do país e como um factor de promoção, integração e desenvolvimento das comunidades locais no contexto da economia nacional e regional.

A África do Sul, o nosso vizinho gigante africano, com uma economia bem estru turada e consolidada, apesar dos sobressaltos dos últimos anos, mantém uma contínua aposta no Turismo enquanto um forte contribuinte para o desenvol vimento económico e social do país, uma abordagem que pode ser inspiradora para Moçambique.

Ao destacar este, e outros temas, como o processo de migração para TV digi tal, fazer um update do processo de exploração de gás na Área 4 na visão do country manager da Galp em Moçambique, ou traçar uma análise profunda sobre as Fintech no país, e o que podem aportar à necessária evolução do sec tor financeiro, principalmente num contexto económico que dá sinais tímidos de retoma mas que ainda manifesta dificuldades de crescimento, a E&M tenta cumprir o seu desígnio e fazer jus ao seu lema pois, quem lê sabe mais.

Novembro 2018 • Nº 08

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

COnsElhO EDITORIAl

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo DIRECTORA EDITORIAl

GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro

EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGInAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Executive Moçambique PUBlICIDADE DEPARTAmEnTO COmERCIAl Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique. com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal)

ADmInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com DElEGAÇÃO Em lIsBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; iona@iona.pt ImPREssÃO E ACABAmEnTO Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEm 4 500 exemplares númERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018

Novembro 2018 4
Iacumba Ali Aiuba
Editorial
Director da revista Economia & Mercado
Novembro 2018 6
observação

Em Novembro, os norte-americanos vão às urnas para eleger um novo Congresso que, no sistema americano, é composto por duas câmaras: Senado e Casa dos Representantes dos Estados. Nos últimos anos, os republicanos detiveram a maioria em ambas (235 das 435 cadeiras da Câmara dos Representantes e 51 dos cem senadores), amparados (ou nem por isso?) num presidente que geralmente é simpático à sua agenda. Ainda assim, o actual Congresso tem conhecido algumas votações dramaticamente apertadas, da reforma dos cuidados de saúde que falhou, mesmo com a maioria republicana, aos cortes nos impostos, aprovados ‘por uma unha negra’. Os democratas, numa oposição em bloco à presidência de Donald Trump, acreditam na vitória e em assumir o controlo das duas câmaras. Enquanto isso, os republicanos esperam o fortalecimento da economia, aliada a uma baixa taxa no desemprego, que os ajude a manter-se no poder. Resta perguntar, o que (ou quem) irá determinar o vencedor: Trump ou Trump?

Novembro 2018 7
Washington, EUa , novEmbro dE 2018
Trump ou Trump? os prós e os conTras das eleições para o congresso
fOTOgRAfiA Istock Photo

DíviDa permanece em Discussão

Dívida pública. O Governo re cusou uma proposta apre sentada pelo Credit Suisse para a reestruturação de parte das dívidas não de claradas do Estado, suge rindo a emissão de uma nova dívida em que os pa gamentos dos juros estejam indexados ao desempenho da economia nacional. De acordo com fonte da Lazard Freres, empresa que pres ta apoio a Moçambique no processo negocial, citada pela Bloomberg, “a proposta dos credores da Proindicus não respeita os requisitos das autoridades e não é considerada uma base viá vel para uma solução”.

O Credit Suisse e o banco VTB Capital emprestaram 662 milhões de dólares (504 milhões e 118 milhões, res petivamente) à Proindicus, uma das três empresas criadas pelo Estado em 2013 e que faz parte do es

economia

Investimento externo. A Tur quia lidera a lista dos maio res investidores externos em Moçambique com mais de 70 milhões de dólares, entre Ja neiro e Junho do corrente ano. Transportes, comunicações,

cândalo das dívidas ocultas de dois mil milhões de dó lares cujo destino continua por apurar.

O Credit Suisse tinha anun ciado que a sua proposta fazia “várias cedências fi nanceiras e dava várias garantias de flexibilidade a Moçambique” e mostra va-se disposto a negociá-la com o Governo.

No início de Agosto, os cre dores da parcela de 727,5 milhões de dólares em títulos (Mozambique Eu bonds 2023) propuseram ao Governo o pagamento de apenas 200 milhões de dólares até 2023 e a partir daí receber o restante em função das receitas do gás.

O ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleia ne, admitiu no início de Ou tubro passado que a nego ciação pode incluir aquele tipo de instrumentos inde xados a outras receitas.

indústria e construção, foram as áreas de aposta daquele país europeu.

A China, actualmente o maior parceiro socio-económico de Moçambique, ficou em segun do lugar, seguida das Ilhas Maurícias que fecham o top 3, segundo dados da Agência para Promoção de Investi mento e Exportações (APIEX).

Sector privado. O Governo vai iniciar a amortização das dí vidas acumuladas durante mais de dez anos por bens e serviços fornecidos pelo sec tor privado, estimando-se que, até Dezembro próximo, 553 pequenas e médias empresas irão receber cerca de 2,8 mil milhões de meticais. A garan tia foi dada pelo Ministro das Finanças, Adriano Maleiane, em Outubro passado, sem re velar o prazo em que o Gover no amortizará os remanescen tes 23,5 mil milhões de meticais ainda em dívida. Grande parte das dívidas são para com empresas pri vadas baseadas em Maputo, sendo que o sector com maio res dívidas em crédito é o das Obras Públicas com 59% do montante.

Impostos. O pagamento do Im posto sobre o Valor Acrescen tado (IVA) será electrónico a partir do próximo ano, com o objectivo de facilitar os proce dimentos de cobrança, poden do reduzir custos operacionais para pequenos produtores. O teste dos aparelhos electró nicos de cobrança está previs to para o período que medeia entre Janeiro e Março de 2019. Numa primeira fase, a cidade e a província de Maputo são as regiões seleccionadas para a fase piloto do projecto, por con centrarem metade das recei tas arrecadadas no país.

Negócios. Moçambique melho rou três posições no ranking “Doing Business”, do Banco Mundial, um indicador que mede a facilidade de fa zer negócios em 190 países. A economia nacional melhora no ranking pela primeira vez em vários anos, escalando da posição 138 na avaliação refe rente a 2017, para o lugar 135 em relação a 2018. No relatório, o Banco Mundial destaca que, apesar “de ser mais oneroso lançar um ne gócio, ao mesmo tempo, o país simplificou o processo de aber tura de novas empresas, ao substituir, em alguns sectores, a obrigatoriedade de licença por uma simples notificação de abertura de actividade”, lê-se. Itens como o acesso a energia, pagamento de impostos e tro cas comerciais internacionais também foram melhorados.

Multa. Cinco bancos do merca do moçambicano deverão ter de pagar multas num mon tante global de 91 350 milhões de meticais ao Banco de Mo çambique, por terem cometi do várias infracções entre os exercícios económicos de 2013 e 2018. Tratam-se do BCI, UBA, BNI e Millennium Bim. As infracções incluem, de acor do com o BM, “não comunicação imediata das transacções sus peitas e a não comunicação ao Ministério Público dos funda mentos da abstenção e presta ção de informações.” A sansão é resposta a uma acusação que a Procuradoria fez aos bancos, segundo a qual “estes não co municam devidamente com as entidades regulatórias.”

enerGia

RADAR 8
Novembro 2018
Electricidade. O Executivo apro vou o Plano Director Integra do de Infra-Estruturas de Elec tricidade avaliado em mais de 34 mil milhões de dólares.

Deste valor, 18 mil milhões de dólares deverão ser in vestidos em infra-estruturas de produção de energia eléc trica. Deste montante, meta de irá utilizar o gás natural como matéria-prima e outra metade será aplicada no fi nanciamento à construção de infra-estruturas de trans porte, principalmente a linha Tete-Maputo, conhecida por “espinha dorsal”.

Os restantes 7 mil milhões de dólares deverão ser investi dos na distribuição da corren te eléctrica.

Prospecção. A petrolífera ita liana ENI e a sul-africana Sa sol assinaram contratos de concessão de três blocos para prospecção e pesquisa de pe tróleo e gás natural. As duas petrolíferas formaram um consórcio para explorar dois blocos em Temane e Pande, na província de Inhambane, marcando o fim das negocia ções entre as multinacionais e o Governo que duraram cerca de quatro anos.

lou à agência Lusa fonte da empresa responsável pela exploração.

A Vale mantém paralisado um terço das suas operações, correspondente a uma das quatro secções da mina de Moatize. A multinacional bra sileira reitera que mantém “diálogo aberto com as comu nidades sobre as questões apresentadas”, e que no dia 5 de Outubro passado condu ziram a protestos - e conse quente paragem parcial dos trabalhos.

A população exige o encer ramento da secção quatro da mina, alegando que esta vam a ser feitas detonações prejudiciais à saúde e com níveis de poluição acima do tolerável.

Gás. Cerca de 250 novos con sumidores domésticos serão ligados à rede de gás natu ral canalizado no norte de Inhambane nos próximos meses, graças a um projecto de massificação do uso deste recurso, financiado pela Em presa Nacional de Hidrocar bonetos (ENH), através da sua afiliada Companhia Moçam bicana de Hidrocarbonetos (CMH). O orçamento do projec to é de 340 mil dólares.

aGricultura

Carvão. A empresa Sol Mine ração Moçambique, subsidiá ria do grupo Sunflag da Índia, anunciou o início da explora ção de depósitos de carvão na província de Tete. A empresa irá operar no distrito de Mu tarara, onde dispõe de uma concessão de 4 000 hectares, sendo que o carvão a extrair será exportado para o mer cado indiano.

Vale. A paralisação de uma parte da mina de carvão de Moatize, na província de Tete está a provocar um “impacto reduzido na produção”, reve

Seguro. As actividades agríco las passam a contar com um novo seguro de proteção que cobre as pequenas colheitas. Trata-se de uma iniciativa pioneira no país, e que surge depois de um projecto-piloto de seguros para a agricultu ra, em 2013, financiado pelo Banco Mundial. Agora, no caso do novo seguro agrário, ha verá um produto tradicional com prémios anuais a partir de 500 mil meticais e haverão microseguros com prémios reduzidos que começam em 150 meticais para proteger 10 quilos de sementes de milho. Os preços poderão ser ainda

“É comum nos conformarmos com o que já temos e não querermos correr o risco de perder o que já está garantido. Não há nada de errado ao agirmos assim, no entanto, podemos perder muitas oportunidades por sermos bastante conservadores, ou seja, o risco de não correr o risco.”

Na Bolsa de Mercadorias de Moçambique (BMM) existem oportunidades de negócio que podem render milhões de meticais, mas poucos arriscam no risco, ou seja, não querem correr o risco de entrar no negócio de transaccionar na Bolsa de Mercadorias por desconhecimento ou porque julgam que podem perder o seu investimento.

Para o caso dos que julgam que podem perder os seus investimentos, é preciso entender que há formas de minimizar os riscos quando se trata de transaccionar em mercados bolsistas de mercadorias em Moçambi que. O primeiro seria através de uma aproximação à BMM para entender melhor sobre como efectuar o negócio em Bolsa, que mecanismos a BMM oferece para redução de riscos e quais as vantagens em transaccionar por via da Bolsa. Por outro lado, a BMM garante a classificação dos produtos intermediados e o estabelecimento de preços justos na base de preço de referência que são aceitáveis no mercado nacional e internacional.

É neste sentido que a Bolsa de Mercadorias de Moçambique abre esta oportunidade de arriscar, com risco de perdas reduzidos para todos aqueles que de alguma forma pretendam entrar nessa área de negócio, desde que tenham o cuidado de fazer um estudo e de se aproximarem à BMM para obter mais informação sobre os produtos agrícolas que pretendem transaccionar (comprar ou vender). Sobre este aspecto importa frisar que a BMM transacciona até então produtos como milho, soja, gergelim, arroz e diferentes variedades de feijão.

Lembre-se que o risco de não correr o risco é a decisão menos acertada.

Maputo, Bairro da Coop - Rua E, Nº 13

Telefone: + (258) 21902503 - (258) 843203371

Email: info@bmm.co.mz

Novembro 2018
Bolsa De mercaDorias De moçamBique: transaccionar proDutos aGrícolas com marGem De risco reDuziDas

mais baixos, caso o tomador consiga ter acesso a subsídios para um conjunto de prémios de seguro.

a gestão da atribuição de par celas individuais e trabalhos de manutenção e limpeza da área.

A Gapi trabalha na estrutu ração da cadeia de valor do caju desde 2005, tendo sido pioneira no apoio ao relança mento de novas unidades de processamento da castanha.

transportes

Tecnologia. A empresa israe lita, Mottech Water Solutions Ltd, ganhou um contrato em Moçambique para fornecer uma solução informática de irrigação sem fios.

A tecnológica desenvolve sis temas que ajudam os agricul tores a proceder à irrigação e fertilização das plantações à distância, permitindo a uti lização dos recursos dispo níveis de uma forma muito precisa.

O grupo salienta que Moçambique tem 3,9 milhões de ter renos com vocação agrícola e é, por isso, “um importante mercado para este tipo de soluções.”

O grupo anunciou ainda que o contrato estipula que a en trega da solução informática será realizada por fases, com um valor inicial de um 5 mi lhões de meticais e um valor total previsto de 25 milhões de meticais.

Caju. A Gapi-SI iniciou o pro jecto de apoio ao rejuvenes cimento dos cajueiros no dis trito de Mogovolas, província de Nampula, com a intenção de revitalizar a indústria do caju naquele ponto do país. A iniciativa surge pelo re conhecimento da contínua quebra de produtividade dos cajueiros.

Perto de 70 famílias já se re gistaram para participarem no projecto, cujo custo não foi revelado, devendo para tal constituir uma organização de base comunitária que faça

Ferroviário. O Ministério dos Transportes e Comunicações prevê o crescimento signifi cativo do transporte ferro viário na ordem de 15,6% no próximo ano, face aos 7% pro jectados para o presente ano. A previsão de desempenho é justificada pelo aumen to do fluxo de mercadorias em trânsito, com a aquisi ção de uma centena de va gões de carga, contribuindo para a redução dos camiões de carga na Estrada Nacio nal EN4 e a consolidação do projecto Metro-Bus, no sis tema ferroviário sul, bem como pelas importações e exportações dos países do hinterland (sem contacto directo com o mar).

Moçambique, Daniel Tsige, justificando a demora que se tem verificado com o arran que, pelo facto de “ainda estar a resolver alguns problemas com a licença.”

40 mil turistas, a maioria dos quais em escala, em navios de cruzeiro.

lá Fora

Aéreo. Depois de falhar por duas ocasiões a data do início das suas operações, inicial mente anunciadas (1 de Junho e 1 Outubro deste ano), a com panhia Ethiopian Airlines, uma das gigantes africanas, aponta para 1 de Dezembro próximo o voo inaugural no mercado doméstico. “Vamos começar a operar no dia 1 de Dezembro”, garantiu o direc tor da Ethiopian Airlines em

Corredor da Beira. O Governo da Zâmbia está a considerar a utilização mais regular do Corredor da Beira como uma rota alternativa acessível para o Oceano Índico. A se cretária permanente da In dústria e Comércio daquele país vizinho, Kayula Siame diz que é necessário que se explore melhor o Corredor da Beira, baseada no facto de ser “o trajecto que se revela mais curto e menos dispendioso para as operações logísticas do país”, aspecto que repre sentará uma vantagem com petitiva para os operadores do sistema da região centro de Moçambique.

Turismo. O Governo e o sector privado pretendem tornar a zona da baixa da cidade de Maputo “num destino turís tico de referência, capaz de concorrer com outros pontos da região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e do mundo.” No entanto, há ainda muita coisa por definir para a ma terialização da iniciativa que tem vindo a ser lançada por vários responsáveis políticos e económicos (o mais recente foi o empresário João das Ne ves, da CTA), e que passa pela execução de uma série de obras que concorrem para a melhoria das condições de re cepção de turistas. Em média, Maputo recebe anualmente

Quénia. O governo queniano planeia fundir as três prin cipais instituições financei ras de desenvolvimento es tatais num só mega-banco. A medida ocorre quando as principais organizações mul tilaterais têm vindo a alertar sobre os altos níveis de en dividamento do país. A Cor poração para o Desenvolvi mento Industrial e Comercial (ICDC), o BID Capital e a Corpo ração Financeira do Turismo (TFC) serão assim as entidades que irão formar o novo Banco de Desenvolvimento do Quê nia (KDB). Com uma estrutura de capital muito mais robus ta, o novo banco permitirá ao Quénia obter financiamentos de longo prazo de instituições internacionais, em condições mais favoráveis, e alimentar o rápido crescimento que a economia queniana espera na próxima década.

Fórum Macau. O ministro da In dústria e Comércio, Ragendra de Sousa lançou um apelo à China, no decorrer da 23ª Fei ra Internacional de Macau, para investir na agricultura, no sector florestal e em pro jectos de infra-estruturas. Na abertura de um fórum de dicado a Moçambique e a Fu jian, província chinesa tam bém em destaque na feira deste ano, o governante assu miu a ambição de convidar a plateia de investidores para em conjunto produzirem ali mentos para a Humanida de. “Os recursos agrícolas de Moçambique estão disponí veis para os moçambicanos mas também para qualquer investidor nesta plateia”, disse o ministro. A 23ª Fei ra Internacional de Macau teve lugar entre 18 e 20 de Outubro passado.

RADAR Novembro 2018 10

Cultura e turismo, pontes para a paz, progresso e aproximação entre nações

a realização próxima do Congresso intitulado ‘Culltura e Turis mo como factores de desenvolvimento, promoção da paz e apro ximação entre nações’, a ter lugar em Maputo nos dias 26 e 27 de Novembro, constitui o ponto de partida para esta reflexão em tor no do turismo e da cultura como verdadeiras pontes para a pro moção da paz, desenvolvimento e aproximação entre os povos. Há 17 anos, por ocasião do XXII Dia Mundial do Turismo, em 2001, que teve por tema “O turismo, um instrumento ao serviço da paz e do diálogo entre as civilizações”, João Paulo II destacava o facto de as viagens e o turismo poderem constituir oportuni dades para o diálogo entre as civilizações e as culturas e um precioso serviço à paz. Neste sentido, enfatizava ainda que a própria natureza do turismo inclui algumas circunstâncias que predispõem para este diálogo. De facto, a prática do turismo propicia como que a abertura de um parêntesis no seio da rotina contínua da vida quotidiana, feita de trabalho, deveres e obrigações a que o ser humano é necessariamente compelido pelos imperativos da vida social. No contexto da prática do turismo, o ser humano, liberto das amarras do quotidiano, reveste-se de um novo olhar sobre a própria existência e a dos outros: viajando o ser humano des cobre outros lugares, deslumbra-se e molda o seu olhar diante de novas cores, novos contornos paisagísticos, admira-se peran te maneiras diversas de sentir e viver a natureza; extasia-se diante de novas sonoridades, novas palavras, novos sotaques, novas musicalidades frásicas, delicia-se diante de novos sa bores, interroga-se em face de outras formas de conceber o mundo e a vida, outras manifestações de espiritualidade, ou tras modalidades artísticas, outras religiões. Trata-se de um exercício de aprendizagem e apreciação da diversidade de um mundo que na sua multiplicidade não pode ser apreendi do nem expresso plenamente nem pela palavra nem pela arte. Mas trata-se também de uma experiência humana que com prova a justeza da afirmação da poeta moçambicana Glória de Santana que, “entre o céu e a terra e os nossos passos, a nossa

humanidade constitui o mesmo laço, une-nos a mesma dimensão humana, o valor supremo diante de tanta diversidade é a pró pria humanidade.” A prática turística permite ao ser humano uma maior sensibilidade e consideração por tudo o que o cir cunda e a consciência ecológica da necessidade de protecção do planeta, como a casa comum da humanidade e da natureza, o seio cósmico que a todos nos alimenta e que é preciso preservar para as gerações vindouras . Hoje, mais do que nunca, o turismo permite aos povos não vive rem circunscritos à sua vivência especifica, à sua cultura. Com efeito, eles são convidados a cultivarem um espírito de abertu ra a outros povos e culturas, são desafiados a verem-se e reve rem-se diante de outros modos diversos de pensar e de viver. Este exercício que a actividade turística propicia, constitui uma ponte para o diálogo intercultural, um diálogo que impulsione a paz, um diálogo que coloque em evidência as riquezas que dis tinguem uma cultura de outra e proporcione a preservação no coração da humanidade de uma memória viva da história e das tradições sociais, religiosas e espirituais do mundo inteiro. Este tipo de interacção possibilita a emersão de uma nova forma de encarar os outros como iguais na sua diversidade, e ajuda a libertar o ser humano do perigo fundamentalista de perma necer alienado no seu próprio universo, fechado em si próprio, incapaz de se irmanar à humanidade, que, hoje, à escala global se confronta com desafios comuns tais como a preservação da vida no planeta, a luta pela paz, a luta pela equidade de género entre outros.

O turismo constitui um instrumento positivo para o desenvol vimento social pois propicia a criação de oportunidades de em prego, alavanca o desenvolvimento rural, mormente de regiões empobrecidas pelo declínio das actividades agrícolas tradicio nais, regiões onde o património cultural existente pode desem penhar um papel fundamental, promovendo a criação de novos empregos e o desenvolvimento da harmonia social, através da recuperação, valorização e revitalização de lugares que, de ou

“Amamo-nos hoje numa praia das Honduras, estamos amanhã sob o céu azul da Birmânia e na madrugada do dia dos teus anos despertamos nos braços um do outro baloiçando na rede da nossa casa na Nicarágua”, José Craveirinha

OPINIÃO Novembro 2018 12
Professor Narciso Matos • Reitor da Universidade Politécnica e membro do Conselho Editorial da E&M Aurélio Ginja • Mestre em Educação e docente na Universidade Politécnica

tra forma, estariam eventualmente relegados ao abandono e ao esquecimento.

A paz é, provavelmente, o tesouro mais ansiosamente buscado por toda a humanidade. Com efeito, o turismo, pela sua natureza, pode ser uma alavanca para um incremento do relacionamen to entre pessoas e povos, fundamentado em valores éticos como o respeito mútuo, a solidariedade, a cordialidade e, por essa via, uma ponte de dois sentidos, aberta para a paz e convivência fraterna à escala universal.

Por conseguinte, um congresso desta natureza não só oferece de novo a oportunidade de afirmar a contribuição positiva do turismo para a construção de um mundo mais justo e pacífico, mas também para reflectir profundamente sobre as condições concretas em que ele é gerido e praticado. Neste âmbito, como nos afirma Alfred Whitehead, um eminente filosofo e matemático do século passado, “tal como ocorre na na tureza em geral, a diversificação entre as comunidades huma nas é essencial para prover o incentivo e o material da odisseia do espírito humano. As outras nações de hábitos diferentes não são inimigas, são dádivas de Deus. Os homens requerem dos seus vizinhos algo suficientemente semelhante para ser compreen dido, algo suficientemente diferente para provocar a atenção e algo suficientemente grande para causar a admiração.”

Turismo Cultural, Turismo Sustentável e o papel das Tecnologias de Informação e Comunicação

Turismo e a cultura são dois pólos indissociáveis. Por conse guinte, não é de espantar que o turismo cultural tenha cres cido de forma exponencial no mundo actual. Com efeito, dado que a cultura é um sistema de valores, tradições e modos de vida (Williams, 1958), hoje praticamente todas as viagens tu rísticas podem ser consideradas culturais (Richards, 1996). Na definição de Raymond Williams, o turismo cultural com

preende dois aspectos essenciais: a cultura contemporânea, entendida como modos de vida; e o desenvolvimento da cul tura do indivíduo e do grupo, na divulgação do património e da tradição.

Segundo o Barómetro Mundial do Turismo da OMT relativo a 2016, as chegadas turísticas internacionais somam cerca de 1 235 milhões. No mundo, o sector representa 10% do Produto Interno Líquido e 7% do total das exportações, considerando que a cada 11 empregos, um se encontra no turismo. O sector ocupa, portanto, um papel relevante nas economias dos Esta dos e nas políticas que apostam no desenvolvimento inclusivo e na sustentabilidade ambiental global.

Em 1987, a ONU apresentava o conceito de desenvolvimento sustentável como “o desenvolvimento que satisfaz as neces sidades presentes sem comprometer a capacidade das gera ções futuras de suprir suas próprias necessidades.”

A OMT aplicou estas ideias para promover o “turismo susten tável”, um turismo responsável, não destrutivo nem prejudi cial para o meio ambiente e o contexto sociocultural em que incide; particularmente respeitoso pelas populações e seu pa trimónio, um turismo que salvaguarda a dignidade pessoal e os direitos dos trabalhadores, um turismo atento às pessoas mais desfavorecidas e vulneráveis. Com efeito, o tempo de férias não pode ser pretexto para a irresponsabilidade nem para a exploração: ao contrário, é um tempo nobre, no qual cada um pode agregar valor à sua vida e à dos outros. O turis mo sustentável é também instrumento de progresso para as economias em dificuldade quando se torna veículo de novas oportunidades, e não fonte de problemas.

Segunda parte deste artigo continua na próxima edição da E&M, em Dezembro

Novembro 2018 13
A importância da Viagem. O turismo e a sua envolvência histórica, importância cultural e dimensão económica

MoçaMbique "na vanguarda" coMo centro Mundial de produção de gnl

Presente no mercado nacional de combustíveis desde 1957, a Galp Energia faz parte da história do sector energético no país e prepara-se agora para um dos maiores passos da sua história, e simultaneamente, da de Moçambique

de acordo com a Agência Internacional da Energia (IEA), enquanto fonte ener gética, o gás natural representará pelo menos um quarto da demanda mundial até 2040, um crescimento de mais de 40% num período de 25 anos. E cerca de 80% desse aumento, advirá do incremento na procura nos mercados chinês e indiano, (entre outros países asiáticos), sendo que, pela dimensão das suas reservas, Mo çambique desempenhará um importante papel em toda esta nova dinâmica. Nesse sentido, torna-se essencial olhar aos players desse mercado, como a ENI, a Exxon Mobil, ou a Anadarko, mas também a Kogas, a ENH, ou a Galp Energia, claro. Ao longo dos anos foram muitos os projec

tos em que a multinacional portuguesa foi investindo mas, quando em 2007 ini ciou actividade no segmento de explora ção e produção na Bacia do Rovuma em Cabo Delgado, os horizontes tornaram-se mais amplos e Moçambique passou, de forma ainda mais vincada, a fazer parte das prioridades da empresa (que já actua no país desde meados do século passado). Em Julho, o consórcio que inclui a Galp Energia, avançou com o plano de desen volvimento do projecto para a produção e venda de gás natural (inclui a proposta de construção de instalações onshore, que compreenderão duas unidades de lique facção, com capacidade para produzir 7,6 milhões de toneladas por ano) proveniente

das reservas de Mamba, na denominada Área 4. Mais adiantado está já o processo de Coral Sul (unidade flutuante de produ ção de GNL que já começou a ser construí da na Coreia do Sul), que já tem o FID (deci são final de investimento) de 7 mil milhões de dólares aprovado desde o ano passado. Com uma forte expansão a nível global, a Galp desenvolve operações de exploração, produção, refinação e distribuição em 11 países de quatro continentes e, em Mo çambique, será a única a actuar em duas das áreas da cadeia de valor do gás na tural up e downstream. Em entrevista à E&M Paulo Mendonça, Country Manager da Galp Energia Moçambique, revela a posição da petrolífera na conjuntura ac

Macro Novembro 2018 14

tual e fala sobre as perspectivas do mer cado de GNL, antecipando ainda, um pouco do que aí virá nos próximos anos.

Que presença tem hoje a Galp em Mo çambique, e como foi ela evoluindo ao longo dos anos?

Os projectos em que estamos a investir ga rantem a continuidade no sentido de cons truir um futuro comum com o país por muitos anos. A Galp é, também, um caso sin gular no sector energético em Moçambi que uma vez que é a única empresa que está presente, em simultâneo, nos negócios da Distribuição - Downstream e da Explo ração e Produção - Upstream.

Carlos Nuno Gomes da Silva, CEO da Galp Energia dizia recentemente que “esta será a década do gás”. Neste sen tido que importância tem Moçambi que na estratégia global da empresa?

Esta é de facto a década do gás e Mo çambique está na vanguarda desta re volução energética como novo centro mundial de produção de GNL. Os merca dos procuram cada vez mais soluções energéticas limpas, o que pode levar a uma procura de gás no mercado inter nacional muito superior ao previsto. A posição geográfica e um time-to-market favorável que o país oferece propor cionarão alta competitividade, em com paração com outros projetos de GNL no resto do mundo. O gás natural é uma das grandes apostas estratégicas da Galp pa ra as próximas duas décadas e repre sentará um contributo significativo na transição energética e na descarboniza ção da economia global. O nosso projecto para o Rovuma terá grande relevo na estratégia de crescimento da empresa e será determinante para o aumento do peso do gás no nosso portefólio.

Depois de anos de avanços e recuos, em que ponto está hoje a operação? A Galp é um dos principais investidores no país e integra um consórcio para a exploração de gás natural em Cabo Del gado. Este investimento é realizado em parceria com a Mozambique Rovuma Venture S.p.A. – uma joint venture en tre a ExxonMobil, Eni e CNPC, a KOGAS e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos - ENH. A apresentação ao Governo do Pla no de Desenvolvimento para a primeira fase do projecto onshore Rovuma GNL1, em Julho de 2018, reflecte o compromis so do consórcio em continuar a desenvol ver os recursos de elevada qualidade descobertos na Área 4. Refira-se que, em

Junho de 2017, foi já tomada a decisão fi nal de investimento – FID, referente ao projecto FLNG Coral Sul, estando a pri meira produção de GNL prevista para 2022. O consórcio de que a Galp faz par te na Área 4 está a trabalhar afincada mente para concretizar a FID do projecto Rovuma GNL1 em 2019, permitindo assim que a produção de GNL comece em 2024. Estamos, igualmente, a avançar na ver tente comercial, de forma a garantir as melhores condições de venda do gás.

A situação de insegurança que se vi ve em Cabo Delgado pode, de alguma forma, fazer atrasar o processo? Apesar dos acontecimentos que se têm verificado continuamos empenhados na prossecução dos projectos e temos confiança que vão ser encontradas so luções no terreno que permitam prosse guir os trabalhos actualmente em curso. Bem como o início dos trabalhos de cons trução das fábricas de liquefação em Pal ma e Afungi. Este é um tema que temos vindo a acompanhar com muita atenção juntamente com os operadores, os nossos parceiros de consórcio e as autoridades moçambicanas, com as quais mantemos um diálogo permanente e muito próximo. Esperamos que a situação de tensão

se atenue quando os benefícios económi cos do projecto se forem tornando efecti vamente mais palpáveis.

Como é que a empresa observa os seus parceiros de consórcio, duas gigantes mundiais como a Exxon, a CNPC ou a ENI e como tem sido a relação com os outros players?

Os projectos de GNL do Rovuma são de uma enorme complexidade com grandes exigências técnicas, financeiras e comer ciais. Tenho que destacar o alinhamento claro que existe entre todos os parceiros nas questões fundamentais e estratégicas do projecto. O sucesso de um projecto desta natureza depende muito da qualidade e da robustez das parcerias formadas para a exploração dos recursos. A forte robus tez da joint venture da Área 4 é um dos factores que garantem, à partida, o suces so de tudo isto. Ao todo, são seis empresas com experiências diferentes e comple mentares fortemente empenhadas na concretização do projecto. O modelo de Dual Operatorship em que a ENI assume o papel de operadora do Upstream e da unidade offshore de FLNG do Projecto Co ral, e a ExxonMobil o papel de Operadora do Midstream do projecto RLNG1 em Afun gi, permitem optimizar a excelência de

Novembro 2018 15
KoGas ENH KoGas GalP ExxoN Mobil ENH ENi CNoDC ENi 10% 10% 10% 10%10% 25% 10% 70% 20% 25% GalP Multinacional portuguesa concentra na Área 4 da Bacia do Rovuma grande parte dos seus interesses a médio e longo prazo em Moçambique o PosiCioNaMENto Da GalP Na árEa 4 Do rovuMa
Coral Sul Mamba
2022 Entrega do navio flutuante de produção de GNL 2024
de início de funcionamento das
unidades terrestres de liquefacção
fonte Galp
Ano
duas

"a posição geográfica e um time-to-market favorável que Moçambique oferece proporcionarão alta competitividade em comparação com outros projectos de GNl no resto do mundo"

conhecimentos de cada empresa em prol do sucesso do desenvolvimento dos projec tos da Área 4. O relacionamento entre os parceiros do consórcio tem-se pautado por uma grande cumplicidade institucio nal e tem-se alicerçado no aproveitamen to das valências e experiência de cada um, o que tem permitido os sucessos já ob tidos, nomeadamente a Decisão Final de Investimento (FID) do projecto Coral em Junho de 2017, e a entrega ao Governo do Plano de Desenvolvimento (PoD) do projec to RLMG1, em Afungi, em Julho de 2018.

A GALP opera também em outras áreas desta cadeia de valor, e é visível o crescimento da presença de postos de abastecimento da empresa no país. É para manter este crescimento?

Na sequência de um plano de investimen to em curso, alargámos recentemente a nossa rede de postos de abastecimento a todas as províncias do território. Actual mente temos 57 postos de abastecimento e iremos crescer até aos 60, até ao final de 2018, sendo que prevemos, em 2020, chegar aos 70 ou até mais. O plano de ex pansão da empresa passa ainda pela construção de duas novas bases logísticas

para recepção, armazenagem e expedi ção de combustíveis líquidos e de GPL nas cidades da Matola e da Beira. Passaremos, desta forma, a contar com quatro bases lo gísticas no país.

Qual é hoje, o grau de investimento da Galp energia em Moçambique?

O investimento total da Galp em Moçam bique chegou aos 450 milhões de dólares nos últimos cinco anos, dos quais mais de 400 milhões foram direccionados para os projetos da Área 4 e o restante na expan são da rede de postos de abastecimento e logística. Os projectos que a empresa tem neste momento em curso no país são de uma envergadura difícil de imaginar, tan to no Coral Sul como naquele que espera mos avançar, em breve, o grande projecto onshore RLNG1 em Afungi, que será qua tro vezes maior em termos de produção. Os projectos em que estamos envolvidos fazem parte dos principais investimen tos directos estrangeiros em Moçam bique, criando milhares de empregos directos e indirectos, sendo por isso um motor de crescimento e de desenvolvi mento. Acreditamos que estes investi mentos vão transformar a economia e

multiplicar as oportunidades de desen volvimento para todos os que aqui vivem.

Com a dimensão das operações de ex ploração de recursos, de que forma se pode minorar o impacto junto das po pulações locais?

Desde sempre, temos procurado contri buir para o desenvolvimento social e pa ra que os moçambicanos estejam em condições de beneficiar dos investimen tos que a empresa faz em Moçambique. A Galp tem um compromisso com o desen volvimento sustentável de Moçambique e quer contribuir para uma melhoria efec tiva das condições de vida dos moçambi canos, quer através da criação de riqueza para o país, por via da criação de postos de trabalho, quer através de uma abordagem muito diversificada que vai da formação e capacitação profissional até a activida des de responsabilidade social. Temos fei to um trabalho estruturante no apoio a empresas nacionais através de progra mas de intercâmbio e estágios profissio nais de colaboradores, tal como acontece com a ENH. Temos tido, desde 2013, quadros da estatal a trabalhar, inicialmente, na área de exploração e produção de petró leo, depois em quase todas as áreas corpo rativas, partilhando a nossa experiência e know-how em cada uma das áreas. Par tilhamos as nossas melhores práticas no sentido de contribuir para capacitar o país para enfrentar, nas melhores con dições, as grandes mudanças do futuro. Estamos também a promover activa mente projectos sociais e com impacto na comunidade tal como a instalação de pai néis solares em quatro localidades nas províncias de Sofala, Manica e Cabo Del gado, para dotar as populações de acesso a energia limpa, através de uma parce ria com a FUNAE. A educação, a promoção do talento e a meritocracia são causas que abraçamos e tornámos estratégicas. Nes sa medida, estabelecemos uma parceria com a Girl MOVE Academy, no sentido de dar mais oportunidades às mulheres mo çambicanas, enquanto principais agentes de desenvolvimento do seu país, atra vés da liderança pelo serviço. Em Outu bro, duas jovens moçambicanas fizeram uma formação nos escritórios de Lisboa da Galp através de estágios nas áreas de Marketing e Comunicação e Compliance. A Galp tem o compromisso em adicionar valor ao país.

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tExto Pedro Cativelos & Cristina Freire fotoGRAfiA jay Garrido uma realidade cada vez mais próxima. Em 2022 a área 4 estará operacional

2019, Quando a televisão vai apagar... se não tiver uma set-top box

O processo da TV digital tem-se arrastado nos últimos anos, mas parece acelerar agora, deixando no entanto um curto espaço de tempo disponível para que as pessoas se ajustem às exigências do novo sistema de distribuição

se um corte de energia é sempre abor recido, pior será quando nos interrompe o programa favorito de TV. E há um ce nário que pode ser ainda pior: quando, mesmo com corrente eléctrica, a TV de repente deixar de emitir sinal porque a ‘licença’ expirou e a reactivação exi ge custos e uma série de procedimentos. É exactamente isto que vai acontecer em Moçambique dentro de apenas um ano, espera-se. Em Dezembro de 2019, as tele visões vão deixar de funcionar da forma como até aqui conhecemos e quase nin guém sabe que pouco tempo resta para

investir em meios digitais que permi tam continuar a ter sinal de TV em casa, apesar de a estratégia de migração digi tal ter agendado a divulgação atempada de toda a informação sobre o processo – mesmo para que as pessoas se pre parem para arcar com os custos dessa transição.

Vale a pena questionar se o “alerta” será atempado ou apropriado para que a po pulação, maioritariamente pobre de um país muito a querer sair da crise se possa preparar. Neste sentido, a surpre sa não será tanto o “apagão” em si, mas

CENTROS EMISSORES

TMT VAI INSTALAR OS CENTROS EM PONTOS DE MAIOR CONCENTRAÇÃO DA POPuLAÇÃO

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60

a frustração por começar a obter in formação em tempo insuficiente para comprar os descodificadores que assegu rem “inclusão” no acesso à televisão. E é o que parece que vai acontecer se o país completar a migração até Dezembro do próximo ano, conforme as previsões actuais.

As autoridades reconhecem esta falha inicial na comunicação com o público. Mas para o Presidente do Conselho de Administração (PCA) da empresa res ponsável pelo projecto de transmissão do sinal digital – a Transporte, Multiplexa ção e Transmissão (TMT), Victor Mbeve, há bons motivos para que ela aconteça: “em 2014 a Comissão para a Implemen tação da Migração Digital (COMID) tinha iniciado o processo de divulgação da in formação e dos seus impactos para conhecimento do público, através de se minários em todas as capitais provinciais, mas essa divulgação ficou interrompi da quando o financiamento do projecto conheceu atrasos sucessivos. Só no ano passado o dinheiro finalmente chegou e criou condições para a reactivação da COMID, já em Fevereiro deste ano, subs tituindo a anterior Comissão que cessou o mandato”, explicou o PCA da TMT. Curioso, é que, entretanto passaram nove meses e o público ainda não está a ser informado. Apesar disso, Victor Mbeve acredita que “se o processo de divulgação começar este ano (conforme o agendado) e for incisivo, até ao próxi mo ano será possível fazer chegar a toda a gente a informação em torno do pro cesso, podendo precaver as famílias de possíveis perdas de sinal televisivo”. A única certeza é que “o apagão vai acon tecer em todas as TV que não tiverem adquirido um descodificador (também designado por set-top box) e para mini mizar as perdas de sinal prevê-se que o Governo conceda prazos para que as fa mílias comprem os descodificadores (de três a seis meses conforme a dimensão territorial). Findo este prazo, o apagão será inevitável”, avisa a TMT.

descodificadores em défice Mesmo que a comunicação com o pú blico tivesse sido feita com a devida antecedência, as famílias estariam diante de outro problema: Moçambi que importou, até ao momento, apenas 100 mil descodificadores dos 400 mil projectados para a primeira fase da era de televisão digital. Os números sugerem um défice considerável se to marmos em conta os cerca de 5 milhões

A (já lOngA) hisTóriA dA migrAçãO digiTAl

2010

O tema ganhou destaque, quando o Governo aprovou o padrão de migração a ser adoptado pelo país (DVB-T2), cuja escolha tomou por base a harmonização com a realidade da região austral, além do facto de ser um dos sistemas mais modernos.

2014

Nos anos que se seguiram assistiu-se a uma movimentação intensa, dado o prazo para transitar para o sistema de televisão digital (2015). Assim, foi criada a Comissão Nacional de Migração Digital (COMID), órgão composto por quadros de várias instituições entre as quais o Ministério dos Transportes e Comunicações, o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM), o Ministério das Finanças, as Telecomunicações de Moçambique (TDM), TVM, RM, STV, cujo foco era o desenho da estratégia de migração.

2015

O dia 17 de Junho de 2015 deveria ter sido o da transição do sinal analógico para o digital, baseado na estratégia que vinha sendo delineada e em que as televisões deixam de ser responsáveis pela transmissão dos conteúdos que produzem, ocupando-se apenas da produção. O conteúdo de todas as empresas de televisão deveria ser entregue à empresa criada para a transmissão para o público, no caso de Moçambique, a TMT.

2019

A nova data para a entrada em vigor do sinal digital de televisão, mais de quatro anos depois do previsto.

de agregados familiares reportados pelo senso populacional do ano passado. Mas é importante sublinhar que ainda não é possível apurar a exacta dimen são do défice de descodificadores por duas razões: primeiro, muitas famí lias não têm aparelho de televisão, (ou não têm acesso à rede eléctrica), ou vi vem em locais onde o sinal actual não chega. Segundo, os resultados do censo populacional realizado ano passado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) ain da não foram divulgados, e poderiam esclarecer a dimensão do défice dos con versores, já que uma das questões do inquérito era se as famílias possuíam ou não aparelho de televisão

Haverá capacidade de resposta

A estratégia montada para lidar com as insuficiências, numa primeira fase, consistirá em privilegiar as zonas de maior concentração populacional para a colocação dos centros emissores, o que permitirá cobrir até 70% da população. Depois disso iniciar-se-á a distribuição das boxes. E à medida que estas forem sendo adquiridas pela população, a re ceita servirá para a importação de mais descodificadores para dessa forma ir co brindo, gradualmente, as necessidades do mercado. A previsão é de cobertura de mais de um milhão de famílias (cinco milhões e meio de pessoas) nos próximos dois anos, acompanhando, igualmente, o ritmo de expansão da rede eléctrica.

boxes low-cost

Estima-se que as boxes de descodificação de sinal digital venham a custar cerca de 20 dólares por cada descodificador (aproximadamente 1 200 meticais ao câmbio actual), um valor que está abai xo do preço praticado noutros mercados. “Entendemos que é um custo que muitas famílias que têm energia eléctrica e que consomem televisão estariam em condi ções de suportar. Outra vantagem é que, tratando-se de uma rede pública, as pes soas que comprarem o descodificador passam a ter acesso definitivo ao sinal de televisão sem necessidade de pagar qualquer subscrição mensal”, explicou o PCA da TMT.

Se de 2010 até à data limite inicialmen te estabelecida (17 de Junho de 2015), Moçambique conheceu atrasos na mar cha pela digitalização, hoje a realidade é muito diferente e tudo indica que até Dezembro de 2019 (novo prazo estabele cido pelos países da SADC após falharem em 2015), a migração estará completa.

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áfricA EsTá ATrAsAdA nA cOrridA digiTAl

Apenas 16% do território africano concluiu a transição para o digital até 2016, segundo dados da União Internacional de Telecomunicações (ITU). Moçambique faz parte de uma maioria (66%) ainda em transição. Os restantes 18% nem tinham iniciado o processo e terão até 2020 para completarem uma transição que tem dado muito que falar

migrAçãO cOncluídA

18

migrAçãO nãO iniciAdA 16 66

Em prOcEssO dE migrAçãO

Até porque, na prática, Moçambique já cumpriu com maior parte das quatro etapas do projecto de migração digital, de acordo com a empresa que o está a implementar.

digital demorou a dar sinal

A primeira etapa diz respeito à cons trução de uma rede de distribuição composta por 60 centros emissores es palhados pelo país. Desses, já estão concluídos 42 (executados acima de 60%).

A segunda etapa, é a das boxes que, como já referimos, prevê a distribuição de 400 mil aparelhos, estando já disponí veis 100 mil.

E a terceira é a digitalização da Televi são de Moçambique (TVM) que consiste na aquisição de equipamentos para três estúdios centrais e mais de 10 estú dios provinciais para permitir que a TVM possa produzir conteúdos em for mato digital. Destes, sete já estão na fase de instalação de equipamentos.

digital está mesmo a chegar. processo vai avançar até 2020, mas já deveria estar concluído desde 2015

Por fim, a quarta componente baseia -se na construção do edifício de quatro andares na Cidade de Maputo, a par tir de onde se vai fazer a distribuição dos conteúdos digitais de todas as esta ções de televisão para a rede digital que, por sua vez, fará chegar o sinal e os conteúdos às boxes dos utilizadores.

O edifício já está executado até ao ter ceiro piso e prevê-se que seja concluído em breve.

Assim, espera-se que até Dezembro deste ano a rede de transmissão esteja concluída podendo ser activados alguns centros emissores num processo contí nuo, que só terminará em Dezembro do próximo ano.

Mas, como se explica então que a mi gração digital tenha acelerado de um momento para o outro? E que, paradoxal mente, isso tenha acontecido no momento de pior desempenho macroeconómico? Na realidade, até Abril de 2014 estima va-se em 223 milhões de dólares o custo

MILHÕES DE DÓLARES

É O CuSTO TOTAL DA INSTALAÇÃO DO PROJECTO DE MIGRAÇÃO DIGITAL EM MOÇAMBIQuE. O fINANCIAMENTO DO PROJECTO fOI DISPONIBILIZADO PELO EXIM BANK DA CHINA E JÁ ESTÁ A SER EXECuTADO PELA TMT

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Em percentagem fontE ItU 156

de todo o processo de migração digital. Estavam incluídos neste orçamento a componente do edifício e dos 60 centros emissores, falava-se de 1,2 milhões de descodificadores, e além da digitalização da TVM falava-se também da digitaliza ção da Rádio Moçambique (RM).

Mas uma reavaliação feita em 2015 pelo Governo baixou consideravelmente os custos do investimento para os actuais 156 milhões, porque cortou itens como a digitalização da RM, e baixou a neces sidade de investimento em boxes de 1,2 milhões para 400 mil.

Além disso, os 156 milhões de dólares que ajudarão a garantir o processo de migração foram disponibilizados no ano passado pelo Exim Bank da China. A mobi lização destes fundos foi, por muito tempo, tomada como a tarefa mais difícil para a materialização da migração digital. Mas foram conseguidos por meio de um concurso público internacional, que exigia que os concorrentes tivessem

Q&a: o Que traz a migração digital?

Fala-se de vantagens na transmissão nos vários tipos de suportes, tais como cabo, satélite e radiodifusão terrestre, mas quais são elas?

O grande diferencial da TV digital está na capacidade de fornecer aos telespectadores novos serviços que não são possíveis no sistema analógico, com destaque para a gravação de programas que possibilita o armazenamento num disco duro dentro do aparelho para exibição posterior, mesmo quando o espectador estiver a assistir a outro canal, permitirem acesso à Internet, a jogos electrónicos, e facilitarem as comunicações móveis por via de um maior e melhor acesso à rede.

Estas e outras aplicações devemse, principalmente, ao facto de a TV digital proporcionar a interactividade com o espectador, por meio de um canal de retorno, dizem-nos os especialistas.

A desvantagem é que para infelicidade dos países menos avançados tecnologicamente, como Moçambique, onde o acesso à TV é para muitos um luxo, a mudança surge como uma imposição dispendiosa e não uma opção.

condições de os mobilizar. Na altura 20 concorrentes manifestaram interesse, mas foram pré-seleccionadas 6 empre sas que apresentaram propostas de financiamento (quatro chinesas, uma ita liana e uma das Ilhas Maurícias), tendo ganho a chinesa Startimes, que mobilizou os 156 milhões de dólares no Exim Bank. “Este valor é suficiente para implemen tar o projecto”, garante Víctor Mbebe.

operadores privados desdobram-se

O sucesso do processo não depende ape nas dos investimentos na expansão da rede. Há encargos avultados que vêm sendo suportados pelos operadores de televisão em Moçambique como a aquisição de equipamentos modernos, incluindo as câmaras de filmar.

A E&M conhece apenas o investimento da Televisão de Moçambique (pública), que deverá ultrapassar os 40 milhões de dólares. Outros grandes operadores, como a TV Miramar e a STV, preferem

não revelar volume de investimento global, mas garantem “prontidão para a digitalização, visto que fizeram e conti nuam a fazer grande esforço financeiro que permitiu que actualmente estejam a operar dentro do ambiente digital.” O facto é confirmado pela TMT. Além de não revelar os custos dos investimentos, (nenhuma televisão privada aceitou cla rificar e fornecer à E&M os detalhes das acções em curso neste processo), o que dá a entender que há factores de con corrência a salvaguardar.

As televisões de relativamente menor dimensão financeira, como a Televisão Independente de Moçambique (TIM), a Gungu TV e a TV Sucesso, admitem “di ficuldades no processo”, mas referem estar a fazer “todos os esforços” e ga rantem mesmo que “não vão sair do circuito”.

Nesta nova realidade, as televisões são instadas a criar mais canais uma vez que, por exemplo, na Cidade de Mapu to, estão a operar 14 canais em sinal analógico e já não é possível abrir mais nenhum canal, porque o espectro está esgotado. Mas, com a televisão digital, a rede da TMT terá capacidade para 60 canais. Ou seja, há espaço que pode ser aproveitado através da criação de mais canais e conteúdos de transmissão.

incertezas ainda são muitas Além dos investimentos já referidos, na era digital os operadores terão ainda de pagar à TMT pela expansão do sinal. Esse valor permanece ainda desco nhecido e a TMT reconhece que esse facto dificulta a projecção dos inves timentos, a planificação do negócio e a previsão de rentabilidade futura. Em resposta, a TNT refere que “ainda não pode revelar qualquer valor, por que suspeita que as estimativas actuais estejam cima da capacidade financeira da maior parte dos operadores”. Ain da assim, anuncia que está a realizar um estudo para averiguar se o valor é adequado à realidade do mercado mo çambicano. Assim que esteja concluído, garantem, “a TMT irá convocar uma reunião com os operadores para anun ciar o custo.”

Com algumas pontas soltas, a verdade é que a migração está mesmo a chegar e, desta vez, não haverá mais adiamentos, espera-se. Será possível mudar de canal?

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TExTO Celso Chambisso FOTOGRAFIA D.R.

InvestImentos doces fazem açúcar subIr

o volume de investimento direcciona do, nos últimos cinco anos, à reactivação da indústria açucareira em Moçambique está avaliado em cerca de 800 milhões de dólares, o que fez disparar a produção do sector, de 90 mil toneladas por ano, para perto das 400 mil toneladas pre vistas para o final deste ano. E tudo num sector que até foi dos mais afectados pelo recente conflito armado em Moçambi que, mas que actualmente é responsável por uma receita anual de perto de 50 mi lhões de dólares, fruto da exportação mé dia anual de cerca de 240 mil toneladas. Para o director executivo da Associação

dos Produtores de Açúcar de Moçambi que, João Jeque, esta é “uma evolução resultante do investimento feito nas qua tro açucareiras existentes no país”, refe rindo-se às unidades de processamento de Marromeu e Mafambisse, na província central de Sofala, e da Maragra e Xina vane, na província de Maputo, para onde está também já anunciada a conclusão de mais uma refinaria de açúcar, fruto de um investimento da Tongaat Hulett no valor de 33 milhões de dólares, destina do à construção de mais uma unidade industrial, com capacidade instalada de produção de 90 mil toneladas por ano.

milhões de dólares

É o valor acumulado do investimento efectuado, nos últimos cinco anos, no sector do açúcar nas quatro unidades de produção, nomeadamente Marromeu e Mafambisse, na província central de Sofala, e Maragra e Xinavane, na província de Maputo

‘Doce’ oitavo Açúcar tem lugar no grupo dos maiores produtos de exportação

250 000 toneladas

Capacidade instalada de produção de sacarose castanha da Açucareira de Xinavane

Números
conta Novembro 2018 22
1 687 1 100 360 359 211 210 59 47 carvão mineral barras e perfis de alumínio energia eléctrica gás natural tabaco areias pesadas madeira AçúcAr Em milhões de dólares
em
800

693 000

de dólares

O valor da exportação de açúcar em 2017, o oitavo maior produto de exportação de Moçambique

200 000 empregos

É o número de pessoas que, de forma directa, estão ligadas a este subsector agrícola

mil toneladas

Moçambique terá hoje uma capacidade instalada de produção de açúcar calculada em 500 mil toneladas, no entanto a produção ainda não preenche as necessidades do sector industrial, e a meta do meio milhão de toneladas só deve ser atingida em 2020

inDústria cresce…

Produção agro-industrial tem recuperado da quebra nos últimos dois anos

Novembro 2018 23
47
(1) 2018 Em
de
2013 383 2014 423 2015 349 2016 294 2017 363 400 (1) Previsão FontE Ministério da Agricultura e Segurança AlimentarDirecção de Economia - Departamento de Estatística … sustentaDa
Da
Em milhares de toneladas 2013 2014 201520162017 Melhoria da produção também é visível nos últimos dois anos 3,6 3,1 3 2,7 2,9 500
milhares
toneladas
no aumento
proDução De cana

As oportunidades das Fintech

os sistemas de informação consomem memória, bateria, processador, largura de banda e dados. E agregam e propor cionam valor aos utilizadores, através da informação, objectos virtuais e produtos físicos que são olhados como resultados ou saídas, se os olharmos sob a perspectiva de negócio. O outro tipo de recurso fundamental que está a tornar-se fácil de consumir enquanto input é o dinheiro, o que implica vários constrangimentos no provimento dos serviços financeiros, o que tem contribuído para o surgimento de novas tecnologias: o dinheiro virtual, o machine learning, o cloud computing, as blo ck chain, são tendências reais que tornaram as Fintech numa enorme oportunidade de crescimento no sector financeiro. O dinheiro sempre foi uma ferramenta flexível para transa cionar bens e serviços entre pessoas. No início do ano 2000 a interface entre o dinheiro e os computadores, conquistou o seu espaço, apesar de nessa época a regulamentação ser inflexível, exigindo aos engenheiros informáticos que quisessem desen volver soluções financeiras, que o fizessem através da banca considerada tradicional.

Após a crise financeira, no ano 2008, os reguladores decidiram encontrar uma outra solução para a gestão do risco financei ro, devido à concentração de capitais e também ao facto de a banca ter perdido credibilidade durante a crise financei ra, relaxando a regulamentação, para permitir o desenvol vimento de novas soluções para o sistema financeiro, o que daria origem às primeiras startups Fintech. Este avanço tecnológico com baixos custos de investimento inicial, permitiu o surgimento de soluções de moeda elec trónica, constituindo-se deste modo como um oceano azul de oportunidades em API’s para seguros, micro-finanças, crédito, cartões electrónicos, soluções em comércio eletróni co, digitalização bancária, soluções para fundos de pensões, sistemas de pagamento, sistemas de notas fiscais, de com pliance, jogos online, mobile money e várias outras soluções financeiras. É importante assegurar que as soluções desen volvidas tenham, em primeiro lugar, segurança e estejam

em conformidade com a regulamentação em vigor. O enorme desenvolvimento na telefonia móvel permitiu tam bém um avanço em soluções de mobile money, onde os con sumidores, cada vez mais, obtêm uma melhor experiência em aplicações desenvolvidas para smatphones, o que gerou ainda maior necessidade de alargar esta experiência para sistemas de pagamento usando este meio, e a uma cada vez mais completa integração de APIs nos telefones móveis, o que estimulou o uso do dinheiro como um dos interfaces no proces so de integração entre a banca e os seus consumidores. Por outro lado, a consolidação de sistemas como Facebook, qui ckBook, Google dot ou slack, também contribuiu para uma va riada lista de oportunidades para desenvolver soluções para as Fintech, como por exemplo na captura de dados e na inte gração com sistemas tradicionais (legacy systems), o que per mite que os bancos não tenham de investir ainda mais em big data e desta forma poderem fazer crescer as suas bases de da dos através de outros serviços comerciais, com custos baixos. Moçambique, com três operadoras de telefonia móvel, e um universo de mais de 14 milhões de subscritores, constitui um enorme potencial nesta área, sendo que ainda há grandes de safios: o marketing destes serviços e a segurança electrónica de dados, devido ao enorme e constante ataque dos hackers.

A ciber-segurança é um sector inexplorado no mercado mo çambicano, o que é, sem dúvida, um enorme desafio para o crescimento das Fintech.

As políticas do Banco Central sobre a inclusão financeira, o surgimento das Fintech e o crescimento da rede móvel, consti tuem uma enorme oportunidade para a expansão do merca do financeiro no País, sobretudo olhando a uma rápida plata forma de bancarização rural. Para isso, a infra-estrutura da rede móvel deve ser partilhada de modo a reduzir os seus custos de investimento, procurando a melhoria da qualidade dos serviços de comunicação, para que o custo de transacção no consumidor final seja competitivo, permitindo uma rápida inclusão financeira e económica no país.

Este avanço tecnológico, de baixo custo de investimento inicial, permitiu o surgimento de soluções de moeda electrónica, constituindo deste modo um oceano azul de oportunidades. em API’s, para seguros, micro-finanças, crédito, cartões eletrónicos, soluções em comércio electrónico, digitalização bancária, soluções para fundos de pensões e tantas outras

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Nação

IdeIas que brIlham

O dinheiro móvel está a transformar a paisagem financeira de África, alavancado por uma percentagem crescente da população com acesso ao telemóvel, e tornando os serviços financeiros mais acessíveis para milhões de africanos. Apesar de ainda distante dos principais mercados de inovação financeira, também em Moçambique, esta verdadeira revolução está em marcha e são já algumas as empresas que se dedicam a criar soluções tecnológicas inovadoras para o sector financeiro. A E&M visitou a Sandbox, a incubadora de Fintech do Banco de Moçambique, para conhecer quem são e como estão a programar o Futuro

seis em cada dez adultos africanos não têm conta bancária e, em Moçambique, o rácio é ainda mais crítico, chegando aos oito em cada dezena. O que provoca ondas de impacto incalculáveis na saúde financeira do país, na sustentabilidade do crescimento e amadurecimento do próprio sistema financeiro, na vida quo tidiana de milhões de cidadãos e na pro dutividade global da economia. Ao mesmo tempo, a ascensão meteórica do número de subscritores de serviços móveis no continente manteve-se aci ma dos dois dígitos na primeira metade da década e, mesmo com essa tendência de crescimento a registar um abranda mento nos últimos dois anos, ela deverá, ainda assim, manter-se numa cadência de crescimento anual de 4,8% durante os próximos cinco anos. Mesmo assim, representa mais do dobro em relação à taxa estimada a nível global para o mes mo período, e com índices de penetração

milhões de dólares

Volume de inVestimento feito em fintech africanas, em 2017, mais 53% do que no ano anterior. com a atenção dos grandes inVestidores, espera-se que, até 2023, esse Volume cresça para os 3 mil milhões de dólares

200a aumentarem dos 44% no ano passado, para uma estimativa a rondar os 50%, até 2023. A este nível, Moçambique até está acima da média, com cerca de 16 mi lhões de moçambicanos afiliados numa das três operadoras de rede móvel exis tentes no mercado.

De acordo com o estudo de 2018 da GSMA Intelligence (empresa especializada em análise ao sector das telecomunicações a nível global), todo este crescimento re presenta “um mar de oportunidades” de crescimento em praticamente todos os segmentos possíveis e imagináveis, res salvando, no entanto, os clusters emer gentes do futuro, que estão relacionados com juventude, meio rural, educação, saú de e o mercado financeiro e de seguros. Toda esta dinâmica não nasceu agora, mas só nos últimos dois anos, ganhou verdadeira tracção junto dos grandes fundos de investimento, que apostam em África pelas características dos

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e que têm alcançado o sucesso na obtenção de financiamento. Ainda nessa tendência, o mais recente relatório trimestral da KPMG, Pulse of Fintech, constatava que, no quarto trimestre de 2017, os investido res globais continuavam a priorizar in vestimentos em empresas de Fintech no mercado B2B, incluindo plataformas de pagamentos, de empréstimos para PME e soluções de software para tornar as ope rações de back office mais eficientes e me nos onerosas para o cliente”, pode ler-se.

O novo edifício do Banco de Moçambique, o lugar onde a inovação acontece. Alguns meses após a sua abertura, a E&M entrou na caixa de quem faz profissão a pensar fora dela

vários mercados, pouco amadurecidos ao nível do sistema bancário quando em comparação com a Europa ou os Estados Unidos, vendo o continente como labora tório de experimentação a este nível.

Em 2017, as startups criadoras de tecno logia financeira em África, as chamadas Fintech, arrecadaram mais de 200 mi lhões de dólares (um crescimento de 53% face ao ano anterior) em investimento. Cerca de 85% desse valor foi direcciona do aos mercados da África do Sul, Quénia e Nigéria, de acordo com o relatório ‘Fin novating for Africa’, de 2017. A África do Sul é, de resto, o mercado onde existem hoje mais Fintech (94 empresas, e 31% do total de toda a África), seguido pela da Nigéria com (74) e Quénia (56 empresas), mas é também destacado o papel mer cados emergentes com uma “palpitante actividade a este nível”, onde se incluem Gana e Camarões.

Um dos ‘triggers’ de toda esta dinâmica, é a confiança no mercado, conquistada pelos bons desempenhos do mPesa, com um grande impacto no Quénia, do Paga da Nigéria, ou do Zoona da África do Sul. De acordo com uma análise recente do

EcoBank, mais de 57% de todas as contas de dinheiro móvel no mundo estão na África subsaariana, antevendo-se que, por via disso, o mercado “cresça dos ac tuais 200 milhões de dólares anuais de investimento angariado, para os 3 mil milhões, até ao início da década.”

admirável mundo novo

É desta forma que se vão desenhando li nhas de código nas pontas dos dedos de uma nova geração de jovens empreen dedores africanos, programadores de so luções digitais para os problemas reais de todo um continente. É essa, aliás, a génese do próprio conceito de Fintech, um termo que surge da combinação das palavras ‘fi nancial’ e ‘technology’, com o fito de criar facilidade e conectividade.

A esse nível, vários estudos indicam que o principal foco tendencial da criação de soluções, passa por criar novas for mas de pagamento, depois pelas trans ferências nacionais e internacionais, havendo também Fintech que estão a encontrar novos caminhos de acesso ao crédito e a seguros, no auxílio das finan ças pessoais, e utilização de blockchain,

sandbox, a caixa fora da caixa Assim, inovações financeiras, combi nadas com uma elevada taxa de pene tração de dispositivos móveis, estão a permitir que milhões de africanos, ac tualmente sem acesso à banca, tenham acesso a uma plataforma de serviços financeiros pela primeira vez, algo que colocou a África Subsaariana na van guarda dos serviços bancários móveis. Toda esta mudança não tem passado ao lado de Moçambique onde, embora a uma escala ainda reduzida, começa a de senhar-se o princípio de um ecossistema financeiro inovativo. E logo no coração do sistema, no Banco de Moçambique. Ali, funciona desde Maio passado, e com o apoio da FSD Moç (um programa finan ciado pelo DFID-Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido), a Sandbox, uma incubadora re gulatória para Fintech, onde se juntam os criadores de soluções inovadoras e os reguladores e players nacionais, do go verno aos bancos e seguradoras. Esselina Macome, que lidera a FSD Moç, depois de uma década na administra ção do Banco de Moçambique, explica a importância da aposta nestas novas empresas, exaltando “a sua relevância na dinamização do sistema financeiro, algo que vai ao encontro dos esforços da FSD, que passam por, nos próximos anos, fazer aumentar consideravel mente os níveis de literacia financeira, mas também a ampliação da rede de serviços e de abrangência bancária, para níveis perto dos 50% da popula ção moçambicana. Nesse sentido, estas startup que desenvolvem soluções ino vadoras serão decisivas nesse processo.” Alguns meses após a sua abertura, a E&M entrou na ‘caixa’ de quem faz pro fissão a pensar fora dela. O programa do BM já conta com cinco Fintech, procuran do trabalhar com elas, através da cedên cia do espaço, cooperando nos processos de licenciamento, mas também tentando entender a melhor forma de lidar com

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Fintech
Sandbox funciona num dos edifícios do complexo do Banco de Moçambique, desde Maio passado

as finteCh no merCado

Para além da Sandbox, que funciona no Banco de Moçambique e onde estão actualmente cinco empresas, há algumas outras startup que começam a surgir, aproveitando um ecossistema inovativo que tem vindo a ser cultivado por iniciativas como a ideiaLab, o Orange corner, ou a incubadora do Standard Bank, e concursos como o Seedstars, um concurso internacional de ideias criativas

É uma startup moçambicana que desenvolve aplicações direccionadas para os mercados financeiros, saúde e educação

criada por tauanda chare, venceu a 3ª edição do SeedStars, com um serviço designado Móvelcare, que facilita acesso a seguros via telemóvel.

esta Fintech nacional propõe uma solução agregadora de serviços de recebimento e pagamento, e congrega no seu aplicativo as várias contas de bancos ou carteira móvel, facilitanto utilização e minimizando custos e taxas de transacção.

Como a banCa olha as finteCh

A OLOGA nasceu como Fintech em 2010, mas evoluiu para outros campos, e recentemente foi distinguida pela União internacional de telecomunicações (Uit ) pela criação de uma aplicação de gestão de informação estatística em tempo real.

foto

esta startup moçambicana desenhou um sistema capaz de agregar pagamentos em todas as carteiras móveis através de um só user account, sem ser necessário ter conta no mPesa, mKesh ou no e-mola.

É uma plataforma de transferências instantâneas via código SSiD, do exterior para Moçambique, para a conta bancária ou carteira móvel.

É uma app ao estilo ‘Uber made in Moçambique’, que permite localizar taxis e txopelas associados à aplicação de forma simples, rápida, permitindo o pagamento através da própria app.

Uma das Fintech africanas que mais tem crescido nos últimos anos, e que tem interesse em Moçambique. Originária da Zâmbia, o plano de negócio- é simples: criar um ecossistema de pagamentos digitais, um pouco à imagem do mPesa, mas mais virado para a população rural.

Global Fintech Report, um estudo global da consultora PWc mostra como a banca convencional se está a abrir para este novo mundo das startup na área financeira, numa perspectiva de parceria e com cada vez menos desconfiança

82%

dos operadores de banca convencional esperam aumentar parcerias com num peíoso de cinco anos.

77%

esperam adoptar sistemas de blockchain como parte de processos de produção até 2020.

54%

consideram armazenamento de dados, privacidade e protecção como barreira

30%

das grandes instituições financeiras estão a investir em soluções de inteligência Artificial

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fonte PwC Global fintech Survey 2017

áreas ainda não cobertas pela regula ção existente. Este é, de resto o primeiro obstáculo a todos os que estão nesta am pla sala. “É uma iniciativa positiva, um primeiro passo para agir sobre a lei dos prestadores de serviços de pagamen tos. Actualmente, no nosso sistema, há os bancos e emissores de moeda electró nica, mas pelo meio não há nada. Estas Fintech não pretendem captar depósito ou emitir moeda electrónica, focando-se na criação de serviços de pagamentos a custos baixos, num conceito de agrega ção de serviço. Creio que todos estamos a aprender como nos relacionarmos da melhor forma e o que podemos tirar de tudo isto”, começa por dizer à E&M, João Gaspar, um dos implementadores da rede SIMO no país, no início da déca da e actual CEO e fundador da Paytek, empresa que disponibiliza um softwa re de agregação de serviços de paga mento entre bancos e carteiras móveis. O caminho parece, assim, ser longo, até que estas soluções abandonem a fase piloto em que se encontram e fi quem disponíveis no mercado. Para lá da legislação, há questões a melho rar, como a interoperabilidade entre os vários players do mercado, a segu

OS SEgMEntOS QuE SErãO ‘tOMAdOS’ PElAS FintEch

De um universo de mais de 300 Fintech que actualmente existem em África, a maioria está a criar novas soluções para a área de pagamentos que é, de longe a mais palpitante neste novo segmento. Mas há outras, como as transfências, as finanças pessoais e o crédito em percentagem da criação de serviços

pessoais crédito pessoal poupança seguros saúde

rança electrónica e o acesso à rede SIMO. “Esses são os passos a dar para uma ex plosão da utilização de serviços financei ros. O que só não acontece devido a dois grandes entraves: a falta de interopera bilidade e os custos de transacção. Um ou dois meticais podem ser um factor deci sivo para o cliente. E estas Fintech, pela dimensão que têm, tornam-se competiti vas a esse nível. É o caso da Paytek, cujo modelo de negócio assenta nesse custo reduzido cobrado ao cliente. O cliente paga Credelec, ou uma recarga de te lemóvel, e eu ainda lhe consigo dar um desconto. Mas, refiro que terá de haver uma série de mudanças na legislação que rege o sistema bancário e estou confian te que isso aconteça até ao final do ano.”

mudar o sistema A existência de um princípio de ecossis tema de inovação tecnológica na área financeira, e a recente visita a Durban promovida pelo Instituto Nacional das Comunicações, para o concurso global da ITC serviu de mote para juntar os prin cipais agentes deste mercado e começar fazer face a estas questões. Nesta altura, estão a ser dados os primeiros passos no sentido de criar uma associação que

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Fintech
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Sucesso de Fintech pioneiras como o mPesa, no Quénia, está a suscitar o interesse de grandes investidores de todo o mundo que, buscam em África, a próxima disrupção
84 68 60 56 49 38 38 pagamentos transferências finanças
fonte PwC Global fintech Survey 2017

Parece assim abrir-se um novo caminho no qual, ancorados na expansão massiva das telecomunicações, dinheiro real e digital irão inevitavelmente ter de percorrer lado a lado

lhes permita ganhar ‘músculo negocial’ no mundo financeiro, existindo já um es boco da futura Associação das Fintech de Moçambique, ou a ‘Fintech MZ’. João Gaspar, explica: “Existe a necessidade de as empresas terem uma voz mais acti va junto das entidades reguladoras do sector financeiro e de seguros. A ideia é que, eventualmente, os emissores de moeda electrónica, (mPesa, mKesh e e -Mola) possam associar-se à Fintech.mz, até por essa questão de facilitar a inte roperabilidade. Depois, a questão da se gurança é também fundamental, e seria ideal a criação de um grupo CERT (Com puter Emergence Response Team) onde os operadores de moeda electrónica têm necessidades concretas e devem estar coligados na resposta a estas ameaças que se colocam hoje em dia, um pouco à imagem do que já acontece com a banca.” Quando se entra na Sandbox, a impres são que se tem é a de um espaço moderno, bem cuidado (onde a internet precisaria de ser mais rápida, ainda assim), um open space onde, por enquanto, só estão cinco

empresas. Mas, há espaço para mais. Um dos segmentos mais fortemente ali representado é o das remessas externas (muito utilizadas pelos mineiros moçam bicanos na África do Sul, por exemplo) em que a Mukuru e a Zoona (duas Fin tech internacionais que viram na San dbox uma oportunidade de alargar os seus serviços para Moçambique) apre sentam um sistema de transferências que, de forma fácil, barata e segura, per mitem aos moçambicanos residentes no estrangeiro transferir dinheiro para a família não bancarizada no país.

O futuro agora?

Depois, a Ekutiva que, devido às inú meras restrições de movimentação de capitais, decidiu desenvolver um sis tema similar ao PayPal, mas usando o metical. E a Robobo, uma startup criada por Fei Manheche, engenheiro electro técnico que, depois de estudar Internet of Things (IOT) em Londres, regressou a Moçambique para “fazer algo pelo país”. Decidiu criar a própria empresa de

tecnologia, lançando um sistema de pagamentos digitais e monetários, de senhado, numa primeira fase, para o comércio. “A ideia é que o comerciante tenha uma conta Pagalu na qual pode receber pagamentos de qualquer car teira móvel, sem necessidade de ter uma conta em todas elas, e agregando também a sua própria conta bancária, podendo movimentar fundos entre elas. Ou seja, juntar numa só conta todos os mé todos de pagamento existentes e tendo de desembolsar uma pequena comissão de 0,5% sobre cada transacção. Estamos na fase de licenciamento para aceder à rede SIMO e numa ronda de apresenta ções aos operadores de carteira móvel pois tem de haver interoperabilidade para que tudo isto aconteça”, conta. Entretanto, lá fora, a bola de neve vai crescendo e, muitas destas tecnologias, começam a ser adoptadas em opera ções de trade finance e no mercado de capitais, o que tem permitido à própria banca oferecer melhores serviços, com redução de tempo de transacção e a cus tos mais reduzidos para os seus clientes. Parece assim abrir-se um caminho em que, ancorados na expansão das teleco municações, dinheiro real e digital irão ter de percorrer lado a lado. E isso já começou a acontecer, e de formas pou co expectáceis até. Em 2017, a Orange, maior operadora móvel de França, lan çou o Orange Bank, após ter adquirido 65% do capital do Groupama Bank (banca e seguros) lançando um banco com uma estratégia ancorada em dois vectores: mobilidade total e transacções sem custo. Cá dentro, para já, a banca e a telefonia móvel começaram por ser ‘desconheci dos’ em ramos de actividade diferentes, mas hoje, começam a surgir parcerias. Através da criação de produtos integra dos para favorecer mais clientes (o BCI com o mPesa ou o Barclays com o mKesh, entre outros exemplos) ou adoptando nos seus portefolios, algumas soluções inova doras que as Fintech vão lançando. Rogério Lam, director de marketing do BCI, falava recentemente sobre “as opor tunidades da utilização destas tecnolo gias ao serviço da banca, para melhor servir os utilizadores”, e não esquecia ser esta “uma grande oportunidade para técnicos, profissionais e empresas de IT apresentarem soluções à banca.” Se o futuro é agora, ele está a bater à porta.

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Fintech
Nação
textO Pedro Cativelos FOtOGRAFiA Jay Garrido, istoCk Photos Mais de 57% de todas as contas de dinheiro móvel no mundo estão na África subsaariana
Na voz de... Novembro 2018 34 FINTECH

“Fintech têm um longo caminho a percorrer, mas serão essenciais”

no mercado desde 2010, a Ologa (significa falar, em Chuabo, dialecto do centro de Moçambique) nasceu como Fintech, para fazer a gestão dos sistemas de informação dos balcões do Banco Terra.

Com o tempo, evoluiu enquan to tecnológica, e entrou em no vos segmentos.

Com participação accionista da Gapi-Si, criou, ao longo dos anos, soluções digitais que fo ram sendo premiadas. Casos da SureTrack, que tem como parceiros o Ministério do Gé nero, Criança e Acção Social, a USAID, ou a World Vision, e que lhe valeu o reconhecimento enquanto empresa mais ino vadora de Moçambique, no concurso “100 Melhores PME de Moçambique”, tendo sido finalista da African Entre preneurship Award, através desta solução para o sector da saúde, que faz o rastreamento de pacientes na pediatria do Hospital Central de Maputo. Mas, terá sido em Setembro passado, que terá atingido um dos pontos mais altos da sua história, quando a União

Internacional das Telecomuni cações (ITU na sigla em inglês), a agência da OnU responsá vel pelas Tecnologias de Infor mação e Comunicação (TIC) a considerou “uma das três PME com maior potencial de ex pansão ao nível mundial”, jun tamente com Talamus Health dos EUA (vencedora da cate goria) e Dropque, da nigéria. Este reconhecimento foi al cançado durante a realização da 4ª edição do ITU – Telecom World Awards, que decorreu em Durban, e para o qual concorreram mais de 200 empresas de todo o mundo (e 12 outras startup e Fintech moçambicanas).

À E&M, Mulweli rebelo, fun dador e director-geral da empresa, lança um olhar so bre o que é hoje o panorama da inovação em Moçambique, e recorda o passado em que, depois de ter regressado ao país em 2010 (estudou e for mou-se na África do Sul), se focou “na criação de um elo entre o desenvolvimento e a tradição, como forma de che gar a um novo progresso.”

VEjO GrAnDE POTEnCIAl nOS SErVIçOS SOCIAIS E DE SAúDE nAS FInTECH TAMBéM, MAS é UM MErCADO EM qUE O VOlUME DE TrAnSACçõES E nEGóCIOS

AInDA é MínIMO

O que é, hoje, a Ologa? é uma empresa do ramo das TIC, que inicialmente surge no mercado, em 2010, com o objectivo de dar suporte à GAPI na expansão de servi ços financeiros para as zo nas rurais, em particular os projectos de micro bancos rurais que a GAPI detém. De senhámos a infraestrutura informática (comunicações e software de gestão financei ra de microcrédito). Montá mos o primeiro projecto em Sena, na província de Sofala, o segundo em Inhambane, mais dois em niassa e outro ainda em Maputo. Um dos maiores problemas que tínhamos na altura era com as comunica ções, porque é possível fazer um suporte remoto, mas tem que haver uma ligação de in ternet mínima. Então, encon trámos soluções via satélite relativamente a baixos custos e começamos a disponibilizá -la, e esse tornou-se num dos nossos maiores negócios. Hoje, continuamos com os micro-bancos, e a dar supor te de internet via satélite.

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2016 COMEçÁMOS A TrABAlHAr COM

Um desses projectos, o mais recente, o FHI360 foi pre miado num evento interna cional, em Durban. De que se trata?

Em 2015, começámos a produ zir software localmente, em parceria com uma empresa sul-africana, mas acabámos por seguir sozinhos nesse ca minho. E nesse âmbito temos dois projectos. O desenvol vimento do registo médico electrónico para o Hospital Central de Maputo com o foco na pediatria, e em 2016, co meçámos a trabalhar com uma OnG chamada FHI360, fi nanciada pela USAID em que temos o acompanhamento da Unicef, do Ministério do Géne ro, Criança e Acção Social e da jICA (agência de investimento do japão). Assim, esse softwa re regista em tempo real, in formação sobre os agregados familiares (localização, telefo ne, quem é o chefe da família), a informação individual de cada beneficiário e agrega a

análise de cada beneficiário no âmbito da saúde, educa ção, alimentação. Com base nisso, por exemplo, na saúde, ficamos a saber pormeno res importantes como se os indivíduos consomem água devidamente tratada, se dis põem de redes mosquiteiras, e outras mais gerais, relacio nadas com o seu estado geral de saúde. Usamos sete per guntas pré-definidas pelo Mi nistério e com base nas prio ridades que se identificam, cria-se posteriormente um plano de acção direcionado. O que o software faz é todo esse registo, permitindo algo muito escasso em Moçambi que, dados rigorosos e quase em tempo real sobre uma de terminada realidade sobre a qual é preciso actuar.

Em que fase de implemen tação está este projecto?

O FHI360 é um sistema com probabilidades de expan são e com maior potencial de

escalabilidade, porque apli camos uma metodologia de senhada pela USAID e que é usada em muitos dos projectos que apoiam crianças órfãs e vulneráveis a nível mundial. Então, digitalizámos uma fer ramenta que era utilizada em papel, com todo o potencial que isto implica. nesta altura está em funcionamento já. na base de dados já temos mais de 200 mil beneficiários só no projecto FHI360 e vamos, em novembro e Dezembro, fazer um ‘piloto’ com a Unicef e o Ministério para enquadrar as necessidades do país, noutras áreas, de acordo com todo o potencial do software. A ideia é que, devido à sua adaptabili dade, ele seja usado como base para comandar a gestão de casos de monitoria e avaliação de políticas de saúde.

O funcionamento está na fase mobile já?

Estamos a fazer essa transição para que os dados possam ser

capturados directamente no telefone sem ter que passar pelo papel. E estamos a pen sar já na fase seguinte, que é desenvolver um módulo do programa completamente di recionado para OnG’s, em que podem utilizar gratuitamente as funcionalidades básicas do software até aos 300 benefi ciários, e só se pretenderem evoluir para uma escala mais abrangente terão de pagar.

E é ai que se vai buscar receita? Sim. Porque não cobramos pelo uso do software mas sim pela sua customização. é des sa forma que ele tem evoluí do e irá fazê-lo ainda mais de acordo com as aplicações que lhe forem sendo adicionadas de acordo com as necessida des de quem o irá utilizar.

Após o prémio, que reacções lhe chegaram? logo de seguida, conseguimos um programa ‘piloto’ na Áfri ca do Sul em que já estamos a trabalhar. na cidade de queli mane vamos conseguir avan çar com um outro projecto com o município local, e há outras coisas que aconteceram, e que estamos a estudar. Engraça do que estávamos à procura de financiamentos para con seguir fazer a expansão dos nossos serviços, mas agora, já não estamos muito preocupa dos com essa componente. Es tamos mais preocupados em conseguir os projectos, porque serão esses que vão financiar o reinvestimento na melhoria do software, tornando-o ainda mais seguro e fiável.

Quem é que desenha, cria, ou programa, será mais correc to dizer, os vossos softwares?

São jovens moçambicanos? no início trabalhávamos com software developers sul-afri canos. no entant começam a aparecer inúmeros jovens excepcionais que surgem nas universidades, alguns são auto-didactas até, e que per cebem imenso desta área.

Na voz de... Novembro 2018 36 FINTECH
EM A FHI360 E DESEnVOlVEMOS UM SOFTWArE qUE rEGISTA E AGrEGA InFOrMAçãO SOBrE AS COMUnIDADES EM TEMPO rEAl As 13 startup moçambicanas na 4ª edição do ITU – Telecom World Awards, em Durban, na qual a Ologa foi distinguida

Terá sido este abrandamen to económico dos últimos anos, um dos catalizadores para aquilo a que assistimos, e se fale crescente mente de empreendedoris mo, de startup e Fintech em Moçambique?

Sem dúvida. no entanto, é difícil ganhar escala com as startup, particularmente em Moçambique. porque o mer cado e o poder de compra são reduzidos. Ou as startups crescem ganhando algum prémio ou reconhecimento, que lhes traz capital, ou têm dinheiro dos accionistas para poderem crescer. A Ologa é um exemplo disso, teve apoio financeiro (da Gapi-SI como acionista), mas também ga nhou prémios que lhe trou xeram credibilidade. Mas ainda estamos muito longe de alcançarmos sucesso em termos financeiros, embora já tenhamos conquistado nome. Em relação às Fintech, o pro blema é um pouco mais com plexo, porque dependem intei ramente do regulador que é o Banco Central, e nem sempre, estas entidades entendem o papel de mudança que as startup financeiras podem ter no mercado. no entanto, o BM está mais proactivo e parece ter entendido o papel que as tecnologias podem ter na ex pansão dos serviços financei ros por toda a população.

Em que segmento as star tup terão mais potencial, ou caminho, para crescerem? Vejo grande potencial nos serviços sociais e de saúde. nas Fintech também, mas é um mercado em que o volu me de transacções e negócios ainda é mínimo. O mPesa ou o Mkesh são Fintech e mesmo estas estão a batalhar para conseguir volume, porque não estamos no quénia onde há literacia informática e toda a gente usa smartphones. Por aqui ainda há muitos de safios. Agora, eu vejo poten cial nisto para o desenvolvi mento rural, com projectos

como os da Gapi, por exemplo, e para a área de seguros, que também farão parte da evo lução futura das Fintech.

Daí a necessidade de criar uma Associação Moçambi cana de Fintech?

Havendo um movimento nesse sentido, agora é pre ciso que ele tenha uma voz comum, no sentido de falar com o regulador para criar enquadramentos legais, com as grandes Fintech (mPesa, Mkesh e e-Mola) sobre ques tões de inter-operabilidade e formas de reduzir custos altos de transacções electró nicas entre diferentes ope radores, ou mesmo questões de segurança contra fraudes. Tudo isto fica mais fácil atra vés de uma associação.

A grande questão, não só em Moçambique, continua a ser a sustentabilidade destas empresas, ou a forma de mo netizar a inovação, é isso? Para Moçambique, em par ticular, é bastante complexo conseguir a sustentabilida de destes projectos. é algo sempre emotivo, porque são encabeçadas por jovens que ainda não têm famílias por sustentar. A UX por exemplo, ganha muitos prémios e mes mo assim tem de expandir para outros mercados onde, aí sim, conseguirá a sustenta bilidade. Mesmo nós, financia mos este projecto graças aos doadores, porque o mercado é ainda muito pequeno. Acre dito que Moçambique pode tirar grandes vantagens da exportação de serviços de software porque somos rela tivamente baratos em rela ção a outros mercados, temos ligações internet de fibra e um enorme potencial de montar data centres movidos a gás que terão custos relati vamente baixos.

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TExTo Pedro Cativelos & Hermenegildo langa FoTograFIa Jay garrido

ZambéZia, a província do chá

Na província onde o primeiro sonho de qualquer jovem é ter uma bicicleta, o tempo passado é de chá. Mas há novos ventos a chegar na economia de uma das províncias mais tradicionais de Moçambique

é comum dizer-se que, na zambézia, a pobreza que impera faz do povo da região mais criativo na busca de saídas. Por exemplo: é uma brincadeira comum da região, dizer-se que “no dia em que se mandarem embora os quelimaneses, na capital do país, não haverá mais alguém a vender recargas de crédito de telemó vel”, um estereótipo, que, no fundo, carac teriza o lado mais adaptável e sobrevi vente das gentes da Zambézia.

Deixando a sociologia e focando o olhar no que é hoje a Província, a nível econó mico, ali existem actividades que, em bora ao longo dos anos tenham perdido fôlego, continuam a ser importantes. De acordo com o Graciano Francisco, direc tor provincial da Economia e Finanças da Zambézia, a economia da Província tem tido “uma tendência de crescimento nos últimos quatro anos”, facto relevado pela comparticipação no Produto Inter no Bruto (PIB) nacional, “que denota cres cimento, e está na ordem de 9,2%”, diz o responsável.

Mas, que actividades são essas? Pela Zam bézia, a tradição tem um peso grande. E são as mesmas de sempre. A agricul tura, nomeadamente produção de chá, copra (polpa seca de coco), algodão, arroz e gergelim. Aliás, foram estas, as produ ções (especialmente o chá e a copra) que fizeram no passado com que a Província da Zambézia merecesse um lugar desta cado no mercado interno que, no entan to, foi perdendo, com a quebra de pro dução e produtividade destas culturas. Por agora, há um sonho do governo da

província ZambéZia

capital Quelimane área 105 008 km² população 5 110 787 região Centro

Novembro 2018 38 província ZambéZia

Zambézia em tentar revitalizar estas culturas. E o Plano Económico e Social (PES) aprovado recentemente para 2019 já coloca o foco nestas culturas de rendimento. De acordo com o executivo provincial, o objectivo do PES de 2019, “é atrair os investidores nacionais e estran geiros para apostar no desenvolvimento destas culturas afim de estimular uma maior contribuição para o crescimento e desenvolvimento da economia local.”

E alguns desses novos ares, já se fazem notar. Nesta altura, estão já aprovados 15 novos projectos de investimento, todos concentrados na agricultura e na indús tria de agro-processamento. “Queremos estimular a área de agro -negócio onde a Província da Zambézia tem enorme potencial, principalmen te nos distritos do Gurué, Ile e Mocuba”, considera director provincial da Econo mia e Finanças. O objectivo da aprova ção desses projectos, prossegue, “passa por recolocar esses distritos em pólos de desenvolvimento da Província, tentan do potenciar cada vez mais as culturas alimentares e de rendimento, entre elas, a soja, gergelim, arroz, feijão bóer, chá e macadâmia.”

E esses investimentos já estão a dar fru tos, o que no caso, pode ser levado de for ma literal, com a ampliação da área total de cultivo na Província a crescer em 15 mil hectares, dedicados à produção de oleaginosas como soja, gergelim, girassol, milho e feijão. “São investimentos que a nível provincial se fixaram na ordem de 102,6 milhões de dólares face aos 22,2 milhões que se haviam registado no ano anterior”, aponta o mesmo responsável.

produção do chá tenta reerguer-se A Província de Zambézia é reconheci da cimo a terra do chá em Moçambique, mas hoje, já não se ouve falar tanto do Chá Gurué ou mesmo do Chá Licungo, marcas... que se tornaram marcantes na forma de representação local, nacional e internacional de uma Província que pa rece ter parado no tempo, durante anos. Perfilhando esta posição, um estudo feito pelo IESE no ano passado, aponta que “em Moçambique, a agro-indústria do chá foi uma das principais fontes de emprego na zona da alta Zambézia até princípios dos anos 1980, empregando, nos perío dos de pico, pouco mais de 30 000 traba lhadores, a maioria dos quais sazonais”. No entanto, das 11 unidades fabris de processamento que existiam há al gumas décadas, restam apenas qua tro ainda em operação e a indústria

102,6

milhões de dólares

Volume de inVestimento priVado registado na proVíncia da ZambéZia, e que será, na sua grande maioria destinado a 15 noVos projectos na área do agro-negócio. no ano transacto, esse Volume ficou-se pelos 22,2 milhões de dólares

consegue apenas empregar cerca de 10% desse volume, pouco mais de 3 000 trabalhadores nos períodos do pico.

A Chazeiras de Moçambique é neste mo mento uma das principais produtoras de chá do país, exportando pouco mais de 1 200 toneladas ao ano, num segmen to que, em tempos, era trabalhado pelos portugueses, sendo hoje gerido por em presários indianos, que tentam recolocar esta cultura no topo de produção a nível nacional. Mas, ainda é preciso fazer uma grande ginástica. Ainda assim, depois de um longo período de quebra na produção de folha de chá (38 mil toneladas na última época, de acordo com o INE), em 2017, o valor de receita gerada pelas exportações de chá prove niente da Chazeiras de Moçambique, a maior da região e uma das poucas que ainda conseguem sobreviver na área de cultivo, processamento e comercializa ção do chá em Moçambique, situou-se em 1,6 milhões dólares. Uma receita escassa que, no entanto não faz baixar as expec tativas para o que aí vem. “A demanda do consumo de chá no mercado domésti co e no internacional é crescente de ano para ano. Para o final desta época pre vemos um incremento nos preços do chá a nível internacional na ordem de 10 a 15 por cento devido à baixa de produção nos países que se evidenciam como gran des produtores de chá, designadamente Índia e Quénia”, assinala um responsável da empresa que, no entanto, lamenta a incapacidade de fazer crescer a produ ção, por limitações de recursos, “que vão

das plantas serem já antigas, e das áreas de cultivo não terem sido aumentadas.” O governo provincial tem noção deste problema. A procura até existe, mas a oferta não está a corresponder. “O que te mos feito agora, é apoiar este sector visto que as plantas em si já estão cansadas, e precisam de uma revitalização. E isso, já está a acontecer com as empresas que operam nesta área”, explica Graciano Francisco.

Com a falta de crescimento dos níveis de produção do chá e da copra, a economia da Zambézia perdeu oportunidades su cessivas para crescer, ancorada nas cul turas que suportaram durante décadas toda a economia da Província.

De acordo com o administrador do distri to do Gurué, Costa Chirembue, ao longo de cadeia de valor do chá, desde a produção até ao processamento, a actividade “tem gerado emprego, e continua a ser a fonte subsistência para as milhares de famí lias. No entanto, o ciclo da maior parte das plantas do chá já está quase no seu fim, algumas delas têm mais de 70 anos, e agora, começa uma corrida contra o tempo para a sua revitalização. São plan tações de longa data, e algumas já come çam a ressentir-se do tempo, perderam a sua capacidade produtiva”, sublinha Costa Chirembue.

Se há anos a produção do Chá da Zam bézia tinha como foco, abastecer o mer cado interno, nesta fase de reinvenção de todo um segmento produtivo, a prio ridade inverteu-se e é a exportação que vai fazer alavancar o cultivo e produção de folha de chá. E isso já está a acontecer, de acordo com o director provincial da Economia e Finanças da Zambézia, que assinala o facto de “actualmente, cerca de 95% da produção total” já ser destina da à exportação, tendo como principais destinos Europa, Estados Unidos de Amé rica e Ásia, os maiores mercados consu midores de chá nacional.

novos caminhos

No entanto, Gurué não é apenas terra de chá sendo até, neste mesmo, um dos distritos onde mais tem crescido a pro dução de uma noz nutritiva e importan te para a saúde humana, a macadâmia, cuja produção subsituiu (em muitos ca sos) a cultura da folha de chá, pela sua elevada taxa de rentabilidade. Usada na produção de cosméticos e produtos alimentares, apesar de ser uma cul tura recente no país, vem conquistan do, pouco a pouco, espaço naquela vila montanhosa da Província da Zambézia.

Novembro 2018 39

província

procurados nos mercados desenvolvidos. Instado pela E&M, o governo local mos tra-se, igualmente atento a esta questão, e refere estar “numa fase da busca de investimentos”, assinala. “Há um estudo que o governo fez para revitalizar a ca deia de valor do coco, e estamos optimis tas para que, que em breve, a Zambézia poderá voltar a ostentar o título de ‘rei dos palmares’ no país.”

Actualmente, o palmar na Província da Zambézia, reduziu para menos da meta de comparando com o efectivo que existia há quatro décadas. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), nesse período, Zambézia produzia entre 50 a 60 mil toneladas, sendo que hoje, pro dução reduziu radicalmente para valo res igualmente abaixo da metade.

Hoje, a soja (acompanhada de tabaco, chá, algodão, castanha de caju, milho e feijão bóer) tornou-se uma das principais culturas de rendimento da Província, mas há ainda muito por fazer

Uma cultura relativamente recente, que só ganhou verdadeira expressão em Mo çambique a partir de 2012, mas que, leva o governo zambeziano a não hesitar em afirmar que, “o seu impacto é já visível na economia da Província.” E segundo o administrador do distrito do Gurué, o crescimento é forte, anuindo aos 800 mil dólares que, ainda recentemente, foram adjudicados para fazer crescer a área de plantio (mais de três mil hectares). “Já estamos a passar daquela fase de ins talação do investimento para a fase de produção propriamente dita”, sublinha. “Esperamos atingir as 200 toneladas de produção da macadâmia em 2020, e a partir de 2021, produzir perto de duas mil toneladas por época”, aponta o gover no local.

O maior desafio para já, é agregar mais volume de hectares para a produção da matéria-prima, sendo que, prossegue, “para o bom desempenho da agricultura é preciso melhorar cada vez mais a rede eléctrica e as vias de acesso”.

Outra das imagens que temos da Zam bézia, são as florestas de palmeira (pal mares de coco) e que, mais do que pai

sagem, eram uma importante fonte de riqueza. Com o tempo, as doenças (amare lecimento letal) e o abandono, afectaram a floresta, apesar dos vários projectos que foram sendo desenhados (nem todos implementados) para revitalizar os pal mares da Zambézia.

Desde que os palmares da Província fo ram fustigados pelo amarelecimento le tal, a Zambézia que até detinha o epíteto de “baía dos cocos”, a produção caiu a pi que. As extensas filas de coqueiros nesta Província foram suficientes para Mo çambique ostentar o estatuto de ‘maior palmar do mundo’ que chegou a deter, em meados do século passado, estatuto este que há muito já se perdeu, e que hoje é ostentado pelas Filipinas. Entretanto, parece haver a vontade de investir neste segmento, mas será preci so mais do que isso. Até porque os resul tados disso, não tardariam a surgir, uma vez que o coqueiro é, sem dúvida, uma ‘árvore da vida’, que dá tudo, desde a casca utilizada para carvão ecológico, às folhas, do fruto ao tronco, passando pelas fibras e óleos essenciais, com utilizações na cosmética e na alimentação, muito

De acordo com o director provincial de Agricultura e Segurança Alimentar da Zambézia, Jabula Zibia, passa pela agri cultura, o futuro económico da Província, sendo que o sector é responsável por em pregar mais de 80% da força de trabalho. “A produção do chá, arroz e soja tem envolvido muita mão-de-obra, e agora temos também a macadâmia”, enfatiza Jabula Zibia.

A soja é, de resto, outra das culturas que tem crescido, e feito aumentar a receita da Província. Zibia diz mesmo que, nos últimos anos, foram injectados para esta cultura, investimentos de grande vul to, sobretudo oriundos do estrangeiro.

“Actualmente estão aqui operar na soja, algumas das grandes empresas agríco las, e estão a ocupar milhares de hecta res de terra e a empregar uma mão-de -obra considerável nos períodos de pico da campanha agrícola. Para além da soja, estas empresas, também se têm de dicado ao desenvolvimento de culturas de rendimento como o feijão, o milho e o gergelim”, reitera.

Hoje, a soja (acompanhada de tabaco, chá, algodão, castanha de caju, milho e feijão bóer) tornou-se as principais culturas de rendimento na Província e a sua cadeia de produção envolve todo de tipo de agri cultor, desde o familiar até às grandes corporações.

E é por isso que o governo provincial estabeleceu a meta de “fazer aumentar o volume produção” para patamares mais próximos do potencial de uma re gião que, parecendo abençoada, parece ter caído em desgraça por alguns anos.

Novembro 2018 40
ZambéZia
texto Hermenegildo langa fotografia Vasco célio &
d.r
Quelimane é a capital da bicicleta, na Província que é capital do chá, que aposta agora na macadâmia

PROdutORes assistidOs Pela GaPi abastecem Os meRcadOs

Producers assisted by GaPi are reachinG out to the markets

Produzir mais e com melhor qualidade e, sobretudo, poder escoar toda a produção é sonho de todo o agricultor. o Prosul está a torná-lo real

Producing more and with higher quality and, above all, to drain the whole production is the dream of every farmer. Prosul is making it happen

oito distritos com grande poten cial agrícola situados nos corredores de Maputo e Limpopo, nomeadamente: Moamba, Marracuene, Namaacha, Boa ne, Chokwe, Guija, Manjacaze, Chibuto e Xai-Xai, estão a assistir a mudanças de cisivas no processo de produção de ali mentos, fruto da implementação do Pro jecto de Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos corredores de Maputo e Limpo po (PROSUL), cuja cadeia de produção de hortícolas está a ser implementada pelo consórcio Gapi-SI/Novedades Agrícolas. A par da melhoria nas técnicas de pro dução, maior disponibilidade de sistemas de irrigação e outros meios que possibili tam o cultivo ao longo de todo ano, os pro dutores têm também melhores canais de acesso aos mercados e já conseguem escoar a sua produção, através das re des de supermercados, que recorrem às hortícolas nacionais, devido à sua quali dade. “Muitos clientes estão a comprar para revender nos mercados da capi tal”, testemunha Salomão Machava, líder da Associação 44 hectares, que alberga 78 membros e funciona em Mahelane. Segundo Hairton Panguana, técnico da Gapi e coordenador provincial da cadeia de hortícolas em Maputo, a ligação com os mercados é feita através de um ‘focal point’ instalado em cada regadio, e que tem a responsabilidadede de contactar os mercados em cada colheita, informan do sobre as quantidades disponíveis e os respectivos preços de referência, uma estratégia que tem estado a produzir resultados. “O trabalho que realizamos nestas duas províncias, é parte de uma estratégia de modernização da agricul tura, que estamos a desenvolver à es cala nacional. Com o apoio de parceiros como o IFAD, DANIDA, Banco Mundial, BAD e BADEA, os negócios de centenas de

eight districts with great agricultu ral potential located in the corridors of Maputo and Limpopo, namely: Moam ba, Marracuene, Namaacha, Boane, Chokwe, Guija, Manjacaze, Chibuto and Xai-Xai, are witnessing decisive chan ges in the food production process due to the implementation of the Value Chain Development Project in the Maputo and Limpopo corridors (PROSUL), whose horticultural production chain is being implemented by the Gapi-SI/Novedades Agrícolas consortium.

In addition to improved production tech niques, increased availability of irriga tion systems and other means that crea te the possibility to generate growth and productivity in the crops throughout the year, producers also have better ac cess to markets and are already able to channel their own production through mozambican supermarkets, which choo se national horticulture because of their quality. “Many customers are buying to resell in the capital markets,” said Salo mão Machava, leader of the 44-hectare Association, which houses 78 members and operates in Mahelane.

According to Hairton Panguana, Gapi’s provincial coordinator for the horticul tural chain in Maputo, the link with the mass markets is being made through a focal point installed in each irrigated area, which has the responsibility of contacting the markets in each harvest, informing on the quantities available and their reference prices. A strate gy which has been producing results. “The work we are doing in these two provinces is part of a all strategy for the modernization of agriculture, whi ch we are developing at the national level. With the support of partners such as IFAD, DANIDA, the World Bank, AfDB

pequenas empresas foram consolidadas, através da disponibilização de soluções de financiamento, combinadas com ser viços de assistência técnica em vários domínios, entre os quais o uso de novas técnicas e tecnologia; introdução de se mentes melhoradas; e ligação aos mer cados”, reforçou.

apoio técnico Nos distritos onde actua, o consórcio Gapi/Novedades Agrícolas montou estu fas para manter o nível de produção e produtividade estáveis ao longo do ano; introduziu o sistema de rega gota-a-gota (que além de poupar água), assegura

Novembro 2018 42 PUBLIREPORtaGEM Pt | EN

and BADEA, the business of hundreds of small farmers has been consolidated through the provision of financing solu tions combined with technical assistance services in various fields: the use of new techniques and technology; introduction of improved seeds; and linkage to ma rkets“ he added.

technical support

In the districts where it operates, the consortium Gapi/Novedades Agrícolas has set up greenhouses to keep a sta ble level of productivity throughout the year, introduced the drip irriga tion system (fundamental to save wa

precisão no sistema; e tem fornecido se mentes melhoradas. Em cada regadio há técnicos-residentes para orientar os produtores no processo produtivo e dar formação técnica. São estes técnicos formados que estão a implementar a metodologia de transferência de conhe cimento, designada Escola na Macham ba do Camponês. “Temos moto-bombas e tubagem para o sistema de rega gota-a -gota, foram-nos facultadas sementes de melhor qualidade e estamos a receber assistência em técnicas de cultivo”, teste munha Hélio Herculano, Coordenador da Associação Regantes de Manguiza, com 35 hectares e 65 membros beneficiários.

ter), ensures accuracy in the system, and has provided improved seeds. In each irrigation system there are resi dent technicians to guide the producers in the process and to secure technical training. it’s these trained technicians who are implementing the methodolo gy of knowledge transfer, called ‘Escola na Machamba do Camponês’. “We have motor pumps and piping for the drip irrigation system, we were provided with quality seeds and we are recei ving assistance in farming techniques“ says Hélio Herculano, Coordinator of the Irrigation Association of Manguiza, with 65 beneficiary members.

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mercado e finanças

Economia consolida franca rEcupEração Em 2019. sErá?

As propostas do Plano Económico e Social e do Orçamendo do Estado para 2019 traçam um cenário favorável ao desempenho da economia nacional no próximo ano. Mas alguns economistas questionam este optimismo

primeiro, os bons sinais. Depois de uma quebra histórica nos últimos três anos, o crescimento do PIB deve reanimar, ou reaquecer, será mais o termo, no próxi mo ano, atingindo pela primeira vez a barreira do bilião de meticais (perto de 17 mil milhões de dólares), traduzindo um crescimento em 4,7%, substancialmente mais do que os 3,7% do ano passado. Depois, o Investimento Directo Estran geiro (IDE), que também passou por um período de drástica redução, poderá mais do que duplicar para 5,7 mil mi lhões de dólares, regressando a patama res próximos do registado até 2015, em que Moçambique andava nos lugares

5,7

mil milhões de dólares

A previsão do volume de investimento directo estrAngeiro pArA 2019, um Aumento de mAis de 100%, fAce Ao que se verificArá no finAl do corrente Ano

cimeiros do continente africano, quanto a este indicador. Depois, a inflação, que também regressará ao nível de um dígi to aliviando o custo de vida dos cidadãos.

Esmiuçando as previsões Parece, assim, que a economia vai, fi nalmente, começar a consolidar a recu peração de uma crise que durou quase quatro anos, com o pico em 2016, prevê o Plano Económico e Social para 2019. Pode parecer um posicionamento demasiado optimista, mas é perfilhado por institui ções multilaterais como o Fundo Monetá rio Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Para o economista Faizal Carsane, a

Novembro 2018 44

EcOnOMiA cOntinuArá A rEcuPErAr dA criSE ... … AlAvAncAdA nAS ExtrActivAS…

A projecção de crescimento económico é menos optimista do que inicialmente previsto para este ano, que era de 5,3%, tendo sido ajustada para 3,4%

Crescimento económico será sustentado por extractivas que vão crescer 14%, devido ao aumento de produção de carvão, areias pesadas e pedras preciosas Crescimento do PIB em percentagem

internacionais, podendo criar pressão inflacionária (aumento geral de preços), uma vez que o país ainda é muito depen dente de importações, o que iria obriga toriamente causar ‘danos’ nas previsões do governo para o próximo ano.

idE vAi AuMEntAr PArA MAiS dO dObrO dE 2018…

Depois de profunda queda nos últimos anos, deve conhecer em 2019 um salto significativo para níveis anteriores à crise, alavancado por investimentos em projectos de gás na Bacia do Rovuma

Em mil milhões de dólares

Voltando às projecções para 2019, a ala vanca do crescimento económico que se projecta é, ainda assim, o bom desempe nho da indústria extractiva, que deverá crescer 14%. Outros sectores que vão crescer e contribuir em grande medida para o bom desempenho do PIB incluem a agricultura (5,5%), pescas (6,0%), saúde e acção social (5,0%), educação (4,5%) e ad ministração pública (4,5%).

indústria extractiva

E A inflAçãO vAi MAntEr tEndênciA dE AbrAndAMEntO

O nível geral de preços, que conheceu períodos de pico histórico no auge da crise, em 2016, iniciou tendência de descida em 2017, em resposta às medidas de ajustamento da política monetária e fiscal 6,1 4,9 4,1 3,1 2,2

5,7 2,3

média anual em percentagem

2,8 3,6

Percentagem de crescimento por sector (1) Previsões FONTE Plano Económico e Social e Orçamento do Estado para 2019

expansão da economia em 4,7% é “sa tisfatória” e pode ser mais realística do que a previsão inicial para este ano, na sua opinião “demasiado optimista”. Carsane refere-se à previsão inicial de crescimento que se esperava (de 5,3%), mas que na prática “não se concretizará por não haver condições internas nem externas”, acabando por ser revista em baixa (para 3,4%), sobretudo devi do às previsões de quebra de produção de carvão (face às previsões iniciais da Vale) na província de Tete. É olhando para riscos desta natureza, e para a “falta de clareza e profundidade dos documentos” (Plano Económico e So

19,9 15,1 11,9 6,5

A este nível, espera-se um crescimento significativo da produção das areias pe sadas, carvão mineral, rubi, gás natural e grafites. A produção de carvão de co que deverá chegar aos 11,9 milhões de toneladas contra 10,1 em 2018 (cresci mento em 18%) e 5,6 milhões de tonela das de carvão térmico, quase o mesmo que o previsto para este ano.

Na produção das areias pesadas augu ra-se também um crescimento significa tivo comparativamente às previsões de 2018, com a produção de ilmenite a atin gir 1,1 milhões de toneladas, o zircão com 86 mil toneladas e 9 mil toneladas de rú tilo (minérios de grande utilidade em di versas indústrias como tintas, plásticos, etc.), o correspondente a crescimentos da produção na ordem dos 3,1%, 0,8% e 0,7% respectivamente.

Em relação aos minerais não-metáli cos espera-se, de igual forma, um cres cimento de produção de grafite de 273%, para 256 mil toneladas.

cial e Orçamento do Estado) que a econo mista Inocência Mapisse não está confian te na possibilidade de alcançarem taxas de crescimento desse nível, admitindo a hipótese de nova revisão em baixa. Os riscos que se colocam no caminho do crescimento incluem a redução do preço de dois dos principais produtos de expor tação, nomeadamente, o carvão em 12% e o alumínio em 3%.

Por outro lado, parece haver uma ten dência de agravamento dos preços de grande parte das matérias-primas im portadas, que terá efeitos negativos para a economia nacional e que se pode tra duzir numa pressão sobre as reservas

Quanto às pedras preciosas e semi-pre ciosas, o destaque vai para o rubi, que deverá crescer 90,2% comparativamen te com as projecções de 2018, para 5,7 milhões de quilates, como resultado do aumento da produção, sustentado pelo anúncio da introdução da mineração se lectiva de alta qualidade.

O Plano Económico e Social não avança detalhes sobre a produção do gás natu ral, senão apenas que esta vai crescer 0,4%. Há que não esquecer (como se isso fosse possível numa economia onde este é o assunto do dia, ano após ano) que es tão em fase de formalização vários con tratos de exploração e construção de in fra-estruturas de liquefação que, em princípio, devem levar ao início da ex portação em 2023, tornando Moçambi que num dos maiores players globais.

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14 6 5,5
6,6 3,8 3,7 3,4 4,7
5 4,5 extractivas pescas agricultura saúde educação 2015 20162017(1)2018(1)2019
Inflação
(1)2019 (1)2019 (1)2018 (1)2018 2017 2017 2016 2016 2015 2015 2014 2014 2013

mercado e finanças

invEStiMEntO SOciAl

Plano Económico e Social anuncia um vasto conjunto de investimentos em áreas sociais, procurando suprir desequilíbrios criados nos últimos anos

Saúde

Serão contratados 2 126 profissionais, dos quais 80 médicos, 100 técnicos de saúde de nível superior e 1 946 de nível médio; aumentará a cobertura de partos institucionais de 83% (2017) para 84% em 2019; e a cobertura de crianças menores de 12 meses completamente vacinadas de 90%, em 2017, para 94% em 2019.

Educação

Está prevista a admissão de 6 413 professores em todos os níveis de ensino; matriculados cerca de 7,5 milhões alunos no ensino geral; 94 mil alunos no Ensino Técnico-profissional e 216 mil estudantes no ensino superior; distribuídas 224 775 novas carteiras escolares e 14 345 mil livros escolares.

Assistência social

Serão assistidos mais de 609 beneficiários através do Programa de Subsídio Social Básico (420 306), do Programa de Apoio Social Directo (30 901), do Programa de Serviços Sociais de Acção Social (2 045), Programa de Atendimento a Unidades Sociais (6 989) e do Programa de Acção Social Produtiva (121 557).

Emprego

Prevê-se a criação de 354 308 empregos, sendo 12 128 admissões na função pública, 226 698 pelo sector privado e 29 000 no exterior. Serão adquiridos e alocados 450 kits de autoemprego para jovens nas profissões de carpintaria, agricultura, construção, corte e costura, cozinha, serralharia, avicultura, frio e climatização.

agricultura em transformação

A aposta do Governo tem sido a trans formação da agricultura de subsistência numa agricultura comercial (que pro duz em grande escala para o comércio).

A estratégia para o próximo ano passa rá pela expansão agrícola, estando pre vista a contratação de 399 técnicos (283 extensionistas e 116 investigadores) pa ra assistirem 764 mil produtores, em técnicas de produção e o anúncio de pro dução de 270 toneladas de semente bá sica. De uma maneira geral, a produção agrícola deve crescer, prevê o Gover no, cerca de 5,5%, em 2019, mais 1,1% em relação a previsão de 2018. E estima-se uma área total de produção das princi pais culturas alimentares de cerca de 5,8 milhões de hectares (este ano cifra-se em 5,2 milhões de hectares).

Depois, olhando ao comércio externo, o factor positivo vai para a previsão do aumento das exportações. No entanto, a má notícia é que, do lado das importa ções, existem indicadores de incremen to, o que leva à previsão de um défice na ordem de 2 769 milhões de dólares, em resultado do aumento da factura de im portação dos combustíveis líquidos, asso ciado às projecções de aumento do res pectivo preço médio internacional.

Projecta-se assim um volume total de ex portações na casa dos 5 160 milhões de dólares, (um crescimento de 5% compa rando com 2018), enquanto as importa ções ascenderão aos 7 929 milhões de dó lares (5 824 milhões este ano).

pode haver imprecisão nas projecções de 2019 Para os economistas contactados pela E&M não tem sido fácil fazer a interpre tação do Plano Económico e Social e do Orçamento do Estado (PES e OE) porque o modelo actualmente em uso para a apresentação de contas “não permite fa zer uma análise profunda, já que traz nú meros gerais e não apresenta detalhes sobre as respectivas contas”, dizem-nos. O fenómeno leva os economistas a questionarem, inclusive, os pressu postos que estão por detrás das previ sões de crescimento em 4,7%. Inocência Mapisse, economista que está a reali zar estudos sobre os dois instrumen tos (PES e OE), recorre a exemplos pa ra defender o seu posicionamento. E explica que “carece de aprofunda mento o facto de que o crescimento se vá basear na expansão da indústria extractiva porque o Governo não tem controlo sobre este sector, pelo que po de tomar uma tendência contrária e

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FONTE Plano Económico e Social e Orçamento do Estado para 2019

Em termos nominais, o Pib de Moçambique será, no próximo ano, de mais de um bilião de meticais, ou 17 mil milhões de dólares ao câmbio actual), face aos 992 mil milhões de meticais deste ano, cerca de 16,5 mil milhões de dólares

acabar forçando uma revisão em bai xa, como já ocorreu, devido à sua natu reza incerta, determinada por eventos de natureza diversa como a volatilida de de preços no mercado internacional.”

Além disso, prossegue, “há dúvidas quan to às condições para melhorar a comer cialização agrícola, porque não se expli ca em que é baseada.”

Na mesma linha, Faizal Carsane questio na o argumento para prever a duplica ção do IDE, uma vez que o PES e o OE não trazem as devidas fundamentações. O economista revela que os documentos, em si, carecem de muita informação ca paz de ser interpretada com profundi dade pelos profissionais da área. Na área social, estão previstos avan ços importantes no emprego, na co bertura de acção social, entre outras, mas “sem ferramentas precisas, difi

cilmente se pode medir a capacida de da economia alcançar as metas definidas e não se pode de medir o res pectivo impacto”, lamenta Faizal Carsane. Inocência Mapisse advoga, por isso, a adopção de modelos que ganham desta que em várias outras economias e que possibilitam que o Governo agregue um conjunto mais alargado de detalhes às contas do Estado. “Apresentar dados ge néricos é muito bom por dar a indica ção do que se pretende fazer, mas quan do avançamos para o específico é mais fácil de monitorar e até responsabilizar, sobretudo porque em Moçambique não há uma cultura arreigada de prestação de contas de forma clara e aberta”, suge riu a pesquisadora do Centro de Integri dade Pública (CIP).

Uma dessas questões difusas, relaciona -se com a despesa. Sendo que a austeri

dade é também posta em causa pelos dois economistas entrevistados pela E&M. Para o próximo ano estão previstas vá rias medidas que vão nesse sentido, co mo a fixação do limite das despesas de combustível e serviços de telefonia mó vel para os dirigentes superiores do Es tado e titulares de cargos governativos, entre outros. Trata-se de um pacote de medidas já há muito sugerido, mas não revela o limite do que se pretende apli car a estes benefícios e beneficiários, o que impossibilita o monitoramento do seu impacto no Orçamento, ao mesmo tempo que também não se esclarece o valor que o Estado despende, quanto pretende cortar na despesa, e até que medida tudo isto melhora as suas contas. Ou seja, racionalizar, em si, pode e de ve ser encarado como uma acção posi tiva. Mas não há detalhes que permitam “medir” de forma correcta todo o impac to desta acção num olhar macro do país. O que nos leva a ter de fazer contas às contas. Veremos, o que 2019 nos traz.

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Celso Chambisso fOTOgRAfiA D.R.
TExTO
Mina da vale, em tete. Será esta uma das ‘minas’ do crescimento económico esperado para 2019
e
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mpresas

VIP, e maIs do que Isso

O maior grupo hoteleiro do país nasceu há 17 anos e hoje já é composto por quatro unidades. Mas o crescimento do Vip Hotels não fica por aqui e várias novas unidades, em diferentes segmentos, deverão arrancar brevemente

um grupo inteiramente moçambicano, mas que nasceu fora do país. Uma histó ria pouco usual, que se conta pelo facto de a cadeia de hotéis VIP ter sido funda da em Portugal, em 1978, por um moçam bicano, e pela sua expansão a ter trazi do, décadas depois, até casa, Moçambique. Era este, de resto, um sonho de família quando, há 43 anos se iniciou um negócio que se iria expandir até aos dias de hoje, tornando-se um grupo multinacional que, nem por isso, deixou de perder a gestão familiar. Mesmo detendo hoje 16 hotéis, ente Portugal e Moçambique (unidades de cinco, quatro e três estrelas). Dado Gulamhussen, director de operações do VIP em Moçambique, não hesita em prenunciar um futuro com ainda mais estrelas, assumindo que “o objectivo pas sa por ampliar a rede de hotéis já exis tentes e entrar em novos segmentos, que não têm sido muito explorados no país.”

E é nesta perspectiva de expansão que se cumpre o desígnio do seu fundador: estar presente em todas as províncias do país. “Temos já finalizada a previsão de am pliação da rede para as províncias mais promissoras do Norte. Em princípio, va mos iniciar estas construções em 2020, te mos de fazer os aterros, infra-estruturas de saneamento e tudo o resto. Isso leva al gum tempo e requer capital”, avança. Embora o crescimento seja algo que está imbutido na estratégia e no discur so, sustentabilidade é outro dos termos de que não abdica. “O objectivo é cres cer, claro, mas sabemos, até por valo res que temos na família, que temos de o fazer contando com os nossos colabo radores, criando mais postos de traba lho, dando melhores condições de vida aos nossos funcionários e promoven do uma série de regalias que lhes per mitem ter melhor qualidade de vida. O nosso objectivo está bem vincado na

identidade corporativa do grupo logo desde o seu início, e passa por ser mais do que um hotel, contribuindo para a criação de cadeias de valor auto-susten táveis, procurando ampliar a importân cia do que é hoje o turismo a vários ní veis”, sublinha.

Depois de anos difíceis para a economia na cional, em que o turismo também sofreu consequências, o grupo VIP Hotéis acredita que o mercado nacional, dada a sua diversi dade e potencial económico, social e cultural, torna possível que se catapulte o incremen to de receitas nesta área através de uma, há muito falada, restruturação do sector. Para tal, “é preciso criar condições logísti cas, de saneamento e de saúde, infra-estru turas enquadradas numa estratégia clara. Baseamo-nos muito no segmento da restau ração e não temos uma área de lazer onde as pessoas possam ir para se divertir, por exemplo. E isso é uma falha, quando pensa mos em aumentar o número de visitantes de negócios, ou fazer crescer uma verda deira indústria em torno do turismo fami liar e de lazer”, explica.

A actuar num segmento direccionado para o turismo de negócios, o gestor reitera que a expansão do grupo passará por entrar em novos nichos de mercado, como o dos resorts. “Os nossos projectos para o Norte, prevêem já este enquadramento multi facetado de lazer e negócios com diferen tes segmentos numa só unidade, mas a seu tempo iremos anunciá-lo detalhadamente. Mas para tudo isto ser efectivo, tem de ha ver alteração das leis, mais incentivos fis cais aos operadores e um sector a funcio nar em uníssono, não havendo demasiadas entidades a tutelá-lo, que acabam por se atrapalhar umas às outras”, frisa o gestor.

BgruPo ViP Hotels dirEctor gEral DaDo gulamHussen Fundação do gruPo 1978 início dE actividadE Em moçambiquE 2002

unidadEs 4

Hotéis as unidades do ViP estão em maputo, Beira e tete

É a oferta de alojamento do grupo em moçambique

quadros 500

Trabalhadores

oFErta 378 Quartos na quase totalidade são moçambicanos

Novembro 2018 49
viphotels
fotografia Jay garrido
texto PEdro cativElos & HErmEnEgildo langa

bci e esJ aliaM-se na Melhoria de qualidade

Uma nova campanha, lançada em Outubro, inteiramente de dicada à escola, e que intenta promover um conjunto de van tagens para o público escolar. Entre elas, a emissão dos cartões EU (Estudante Universitário), a facilitação do pagamento de bol sas de estudo e o apoio à valori zação e premiação dos melho res estudantes a nível nacional, objectivos definidos pela parce ria rubricada entre o Banco Co mercial de Investimentos (BCI) e a Escola Superior de Jornalismo (ESJ). Paulo Sousa, PCE do BCI, e a ESJ, pela voz do director -geral, Tomás Jane, entendem que o acordo firmado represen ta “um grande passo no sentido do desenvolvimento da cidada nia em Moçambique.”

MillenniuM biM assina parceria coM a intercar

anadarko apoia capacitação de professores eM técnicas de leitura

“Estimular o gosto pela leitura e a capacidade de interpretação de textos por parte dos estu dantes, assim como melhorar o processo de ensino e apren dizagem”. É este o propósito do apoio concedido pela empresa petrolífera Anadarko, para a ca pacitação de 33 professores da Escola Secundária de Palma, na província de Cabo Delgado, em técnicas de leitura, A iniciativa implementada pela Associação Progresso e a CODE, pretende que os conhecimen tos reforçados e partilhados pelos professores durante a capacitação “se traduzam na melhoria da qua lidade do seu ensino na região.”

phc lança nova ferraMenta de gestão eMpresarial

“Dar reposta aos desafios da gestão de empresas” é o objec tivo anunciado do lançamento de uma nova geração do planea mento de recursos corporati vos (o ERP- Enterprise Resource Planning), um sistema que inte gra todos os dados e processos de uma empresa num único sis tema. A aplicação recentemente lançada pela multinacional tec nológica PHC, engloba mais de 50 novas funcionalidades que permitem trabalhar em qualquer dispositivo assim como poten ciar a melhoria da competitivida de das empresas, “tornando-as mais rápidas e eficientes.”

a instituição bancária e a entidade representante da Kia Motors em Moçambique assinaram, no final de Outubro, um acordo que irá permitir aos clientes do bim uma série de condições especiais de financiamento através de leasing para a aquisição de automóveis da Kia. Assim, o Millennium bim disponibliza condições especiais de financiamento aos seus clientes que pretendam adquirir au tomóveis da marca sul-coreana, bem como usufruir de con tratos de leasing com rendas mensais que incluem o valor do seguro de responsabilidade civil e danos próprios. Enquanto isso, a Intercar assegura um preço abaixo do custo de venda ao público em geral para os clientes do banco, e garante ainda, de forma gratuita, a manutenção das viaturas durante um período de 36 meses.

Para os representantes das duas instituições, “esta iniciativa insere-se na estratégia do Banco no apoio às empresas com vista a dar o seu contributo para o desenvolvimento do país.”

vodacoM lança 4ª edição de prograMa de graduados

O BIM

O Millennium bim está presente em todas as províncias do país, com mais de 300 agentes bancários e 2 500 colaboradores que servem mais de 1,8 milhões de clientes.

O programa de integração de jo vens moçambicanos recém -graduados em universidades nacionais, designado “Discover Graduate Programme” foi desen volvido para identificar novos líde res na organização da operadora móvel, e consiste na contratação, por tempo indeterminado, de jo vens recém-formados. Esta é a 4ª edição do programa de graduados no qual são seleciona dos jovens de nacionalidade mo çambicana que tenham concluído o grau de licenciatura ou mestra do no ano lectivo de 2017 e todos aqueles que irão concluir até Dezembro do presente ano.

megafone Novembro 2018 50
banco pretende facilitar acesso a leasing automóvel aos seus clientes

Clareza de Contas é fundamental

mário sitoe Bastonário da OCAM

a criação da Ordem dos Contabilistas e Auditores de Moçambique (OCAM) em 2013, procurava fazer jus ao nome e colocar alguma or dem num ramo de actividade em franca expansão, fruto do crescimento económico dos primeiros anos da década. De então para cá, muita coi sa mudou, mas continuam a ser inúmeros os desafios que ainda permanecem ao nível da formação, da clare za de regras ou da própria forma de muitas empresas encararem a importância da contabilidade e da auditoria. Mário Sitoe, bastonário da OCAM, fala à E&M sobre isso.

Em que ponto está hoje o mercado da contabilidade e auditoria, ao nível dos meios e recursos existentes? Quando iniciámos activida de, haviam pouco mais de 450 contabilistas registados e aproximadamente 20 au ditores autorizados. Actual mente, temos cerca de 5 000 membros, dos quais 80 são auditores certificados, sen do os restantes contabilistas certificados. A massificação da formação dos profissionais de contabilidade tem sido o maior desafio, no sentido de promover a sua qualidade.

Fala-se muito em desorga nização na contabilidade de inúmeras empresas de

capital nacional, uma preo cupação muitas vezes colo cada no centro dos obstá culos que estas enfrentam, sobretudo dificuldades de acesso ao financiamento. Como é que a OCAM se tem posicionado para lidar com este problema?

De há três anos a esta parte, para a constituição de uma empresa, seja ela de que di mensão for, a administração fiscal exige ao requerente que apresente o nome do con tabilista certificado como con dição para a obtenção da De claração de Início de Activi dade e o NUIT. Esta exigência decorre de um trabalho con junto entre a OCAM e a Auto ridade Tributária (AT) no es forço de educar o empresá rio para que tenha nota de que a contabilidade deve fa zer parte da sua vida como empresário.

A Ordem actua também com outros parceiros internos neste sentido?

A OCAM fez-se parceira do Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME), da CTA, da Associação das PME (APME) e estabele ce relações de trabalho com o Ministério da Indústria e Comércio (MIC) para instruir, a partir do Balcão de Aten dimento Único (BAU), a neces sidade de a empresa que se regista ter um compromisso

cvcurriculum vitae

Mário Sitoe é administrador financeiro da Petromoc, docente na Universidade Unitiva e no instituto Superior de Contabilidade e auditoria de Moçambique (iSCaM) e é, desde 2012, bastonário da oCaM, cumprindo neste momento o segundo mandato.

formação

firme em ter um contabilista a assessorar a sua actividade. Estas parcerias relevam o esforço da OCAM em contri buir para que a sociedade e o mercado tenham a cultura de apresentação de informa ção financeira em observân cia às normas, salvaguardan do os princípios da legalidade, clareza, objectividade, sin ceridade, entre outros, como contributo para melhoria do ambiente de negócio.

A OCAM foi criada para dis ciplinar a classe dos seus profissionais através da

observância de normas e padrões de ética. Que ava liação faz do cumprimento dos seus objectivos?

A formação contínua e a pro moção de cidadania fiscal são cruciais para o alcance destes objectivos. No cumprimento da sua missão e contribuição, criámos uma plataforma in formática denominada ‘Con sultório Técnico’, onde os téc nicos contabilistas e fiscalistas podem colocar dúvidas que são esclarecidas por especia listas competentes na maté ria. Resultante da compilação dos materiais de formação contínua e obrigatória, em 2017, publicámos um livro de nominado ‘Guião do IRPC’, dis ponível no mercado. Depois, em observância às normas in ternacionais de funcionamen to das ordens profissionais, realizamos exames de ad missão para as duas classes e treinámos os candidatos para o seu melhor desempenho, e dispomos ainda de uma biblio teca especializada em maté rias de contabilidade, fiscali dade, ética, economia e gestão.

O que se pode dizer rela tivamente à qualidade da formação existente?

Temos promovido a capacita ção em vários domínios, (eco nómico, fiscalidade e gestão financeira) em fóruns, confe rências e acções de formação.

O objectivo é mobilizar a socie dade e os empresários para a importância destas matérias.

Quais são os principais de safios da classe?

A filiação ao IFAC (Federação Internacional dos Contabilis tas) é um dos desafios mais im portantes que institucional mente a OCAM deve cuidar.

Com esta filiação, Moçambi que passa a ser reconhecido no mapa mundial das ordens profissionais regidos por nor mas internacionais.

figura
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do mês
texto Hermenegildo langa fotografia Jay garrido

FORMAÇÃO

A massificação da formação dos profissionais é o maior desafio para promover a sua qualidade

Novembro 2018 53
sociedade Novembro 2018 54

MOÇAMBIQUE SEM PEDAL PARA ACOMPANHAR CICLISTAS

São cada vez mais os praticantes do ciclismo recreativo em Maputo. Um crescimento num contexto onde falta quase tudo – equipamentos acessíveis, vias decentes e, talvez mais importante, o civismo dos que andam na estrada

suados, cansados, mas satisfeitos no termo da jornada de 75 quilómetros que os levou para lá de Marracuene, despedem-se os ciclistas de fatos colean tes e cores berrantes com a promessa de novo encontro dali a uma semana.

Entre tantos – serão quase 30, todos ho mens, todos maduros – ninguém falha aos fins-de-semana. Porque pedalar tornou-se um vício. “Isto é pelo convívio. Primeiro, vimos por desafio dos amigos em passeios de recreio”, diz Nuno Batista, imigrante português na capital do país há meia dúzia de anos. “Depois, a conti nuidade dá-se pelos benefícios que traz à saúde”, explica o empresário ligado à construção civil.

Como a saúde não tem preço, justifica-se o investimento que a modalidade exige. Porque há bicicletas para quase todos os gostos e bolsas (ver infográfico). “A minha vale 200 mil meticais. E está esti madinha”, garante Batista. Não obstante o primor com que a trata, não há como eludir a manutenção periódica, cuja verba anual ronda “cerca de 50 mil me

ticais”. E a bicicleta de Batista, sendo boa, não é um luxo, porque há máquinas cujo quadro pode chegar ao meio milhão de meticais.

São raras, essas. Apesar de uma ou ou tra extravagância, em Moçambique o mercado ainda não tem pedalada para acompanhar as exigências dos prati cantes do ciclismo recreativo. Lamenta Batista que “as opções são escassas e, por isso, os preços também não são competi tivos”. E é no preço que assenta o domí nio das marcas indianas e chinesas nas ciclovias moçambicanas. As europeias, de qualidade superior, são demasiado caras. E nacionais não existem.

Betinho, uma referência acidental Ora, foi na escassez da oferta e na dá diva providencial de ferramentas que João António Cuambe, conhecido por Be tinho pelos clientes, encontrou o nicho de mercado que lhe deu a independência fi nanceira. Hoje, é o mecânico de bicicletas mais especializado – e requisitado – da capital, empregando sete colaboradores

distribuídos por duas lojas da Betinho Bi kes, uma em Maputo, na Avenida Kwa me Nkuruma, e outra na Matola. “Aprendi mecânica na loja de bicicletas onde comecei, em 2001. Em 2008, com o projecto BikeTown Africa (que oferece bicicletas a prestadores de saúde na re gião sub-Saariana) fui a Chokwé montar 250 bicicletas para doar. Quando o projec to acabou”, recorda Betinho, “a BikeTown deu-me todas as ferramentas”. Como na loja onde trabalhava não se vendiam peças nem acessórios, Betinho procurou capitalizar a experiência e o material ofertado. “Decidi ter o meu negócio”. “Vendi o meu carro por 40 mil meticais e, com esse dinheiro, abri uma oficina. De pois comecei a ir à África do Sul, de cha pa, buscar acessórios para os clientes”. Nesses excursos, aprendeu muito: “Fui vendo como funcionavam as lojas de lá e tentei implementar cá”, confessa.

Correu bem: com a organização regular de passeatas desde 2014 às quais Betinho garante assistência, os praticantes da modalidade aumentaram e, logo, a clien

Novembro 2018 55
CAPACETES 3850 20 000 ÓCULOS 2500 40 000 SAPATOS 8500 30 000 CAMISOLA 3500 30 000 CALÇÃO 5500 30 000 LUVAS 1000 2500 PNEUS 750 6 000 GARFO 1000 30 000 SELIM 750 1 000 PEDAIS 550 11 000 CORRENTE 450 5 000 GUIADOR 1350 4 850 CREMALHEIRA 850 10 000 TRAVÃO DE DISCO 450 2 500 MANETE 750 3 850 QUADRO 3000 200 000 CARRETO 250 5 500

tela. “Fixos, tenho 600 clientes. Muitos ex patriados, mas a maioria é classe média moçambicana”, diz. “Num ano bom, vendo 60 bicicletas. Podiam ser mais, mas não há apoios”, lamenta Betinho. Nem à mo dalidade nem à mobilidade.

Memórias da indústria falida O que será bizarro num país onde, apesar do salto na motorização com a abertura do mercado à importação de veículos usados – o parque automóvel, segundo o INATTER, inflacionou em 832% o número de viaturas registadas entre 1990 e 2012 – a mobilidade está ainda muito dependente da bicicleta. Um es tudo, também de 2012, por exemplo, con cluía que, na Área Metropolitana de Ma puto, 45,9% das deslocações diárias eram realizadas a pé ou de bicicleta. Apesar de hoje ninguém a fabricar...

Ao tempo colonial, a Fábrica de Bicicle tas de Moçambique (FBM), do Grupo João Ferreira dos Santos, produzia “gingas” que distribuía pelo país e que apoia vam a mobilidade nos meios rurais. Mas, com a independência, sobreveio o declínio da FBM, e, apesar da parceria

A CAPITAL DAS DUAS RODAS

Quelimane é duplamente capital: por via administrativa, ao presidir à província da Zambézia, e por via popular, por ser a urbe do país com mais bicicletas em circulação. Segundo estimativas recentes, 35% das deslocações são por bicicletas-táxi, e só 17% por automóveis, calculando-se que, para cada carro, haja 20 “gingas” a pedalar em Quelimane. A sua importância é tal para a economia local que, na última campanha das eleições autárquicas, os candidatos principais – o edil Manuel Araújo (Renamo) e Carlos Carneiro (Frelimo) – disputaram o eleitorado de forma inusitada: à oferta do primeiro de pelo menos um pneu a cada um dos milhares de operadores de “táxi bicicleta” da cidade, Carneiro respondeu prometendo “não uma roda, mas financiamento para quem quiser adquirir a sua própria bicicleta”. Ganhou Araújo.

com a portuguesa Miralago para revi talizar as linhas de produção, sob patro cínio do Banco Mundial, nos anos 1980, o encerramento tornar-se-ia inevitável. Sobraram as instalações, monumen to histórico ocupado entretanto pela Mozambikes.

O meio é a mensagem É, hoje, a única firma a construir bici cletas em Moçambique. Na fábrica da Matola trabalham cerca de 30 pessoas, divididas por equipas de pintura, mon tagem de quadros e de rodas. São todas formadas pela Mozambikes, a qual tem um perfil particular – trata-se de uma empresa social, cujo objectivo não é o lu cro, mas sim facilitar a mobilidade das pessoas de baixa renda nas zonas ru rais através da distribuição gratuita de bicicletas.

Um conceito diferente do das ONG: “Essas vivem de fundos que, quando acabam, levam à extinção dos projectos. A Mo zambikes tinha de ser sustentável, para poder funcionar mesmo que os fundado res não estejam cá”, diz Rui Mesquita, o homem que consolidou a ideia em 2011 com uma voluntária norte-americana, Lauren Thomas, a qual se tornaria, nes se compasso, esposa e mãe dos seus dois filhos.

Para a doação de bicicletas, a Mozambi kes trabalha com ONG implantadas no terreno, como a HELPO, as quais identi ficam os receptores elegíveis: “Pessoas que vivam com menos de um euro por dia ou escolas, orfanatos, entidades re ligiosas, etc”, diz Mesquita, gestor por formação. E a Mozambikes é sustentável porque, no fundo, as bicicletas oferecidas pagam-se a elas próprias ao converte rem-se em veículo publicitário.

“São as branding bikes, que as empresas privadas adquirem para fazerem pu blicidade, premiarem os trabalhadores, promoverem produtos ou usarem nos projectos de responsabilidade social”, conta. A própria UNICEF usou o quadro das bicicletas para fazer campanha con tra o casamento precoce das raparigas. “Nas bicicletas customizadas, as mensa gens chegam a sítios onde não há televi são, jornais, internet ou outdoors”, subli nha Mesquita.

Bicicletas marginalizadas Uma “ginga” Mozambikes fica por 7 700 meticais, descendo para 6 825 se a en comenda for grande. Baratas, “porque o modelo de negócio foi concebido para não ultrapassar certo preço”. O baixo

sociedade Novembro 2018 56
João António Cuambe, da Betinho Bikes, em Maputo, é ‘o homem’ quando o assunto são bicicletas

custo também se explica pela selecção de fornecedores: “Cada bicicleta tem cer ca de 70 componentes importados da Chi na, e os pneus vêm de Taiwan”.

Apesar do custo controlado, “no início, não chegava às 100 bicicletas e quase fechamos as portas”, recorda Mesquita. Sobreviveram, mas ainda falta pedalar muito para chegar à meta prevista: “Até agora, entre comercialização e distribui ção, dadas ou compradas em projectos de responsabilidade social, já processamos acima de 20 mil bicicletas, mas a nossa estimativa era cerca de 20 mil por ano”, confessa Mesquita. Com 2017 a bater as 500 bicicletas ofertadas, o melhor ano de sempre, o volume de negócios pode che gar aos 350 mil dólares.

Mais escassas ainda são as condições para a prática do ciclismo em Moçambi que, tanto recreativa como utilitária. Na capital há só uma faixa exclusiva para as duas rodas, no passeio da Avenida Marginal que debrua a baía. Assinalada a vermelho, é sistematicamente igno rada pela voragem dos automobilistas,

Na fábrica da Matola trabalham cerca de 30 pessoas, divididas por equipas de pintura, montagem de quadros e de rodas. São todas formadas pela Mozambikes, uma empresa social, cujo objectivo não é o lucro, mas sim facilitar a mobilidade das pessoas de baixa renda nas zonas rurais

com os famigerados “chapa 100” à cabe ça. Essa atitude, de uma displicência que, por vezes, resulta assassina, conjugada com a falta de infra-estruturas, é a gran de preocupação dos ciclistas de Maputo.

Em 2013, ainda houve esperança, com o Plano Director de Mobilidade para a Área Metropolitana de Maputo a cogitar uma ciclovia na esteira do BRT (Bus Ra pid Transit, corredor exclusivo para au tocarros). Mas o BRT morreu entretanto e, com ele, as ciclofaixas imaginadas. Isto quando a tendência global das cida des, dada a saturação automóvel e cor relativa poluição ambiental, é fomentar o uso da bicicleta, proporcionando condi ções de uso. Mesquita tem ideias: “No dia em que a cidade estiver preparada, po deríamos implantar o sistema de bicicle tas partilhadas. Temos o know-how, mas falta a infra-estrutura. E o civismo”, diz. Não será fácil. Nem uma nem outro.

texto Elmano madaíl FotoGRAFiA Vasco célio & Jay Garrido

Desigualdade e sua influência no Desenvolvimento Económico

a procura da igualdade é uma emoção humana perfeita mente natural e tem sido um poderoso catalisador da história Humana, tendo sido um dos ideais por detrás da Revolução Francesa, cristalizado no lema “liberdade, igualdade e frater nidade”. Muitas das greves industriais, manifestações, revo luções e inúmeros conflitos humanos nunca teriam acontecido sem a procura da igualdade e do bem-estar. Os defensores das políticas do mercado livre advogam que não se baixe quem se encontra mais alto só para que sejamos todos iguais, explicando que a desigualdade é o resultado inevitável das diferentes produtividades de diferentes pessoas. O aforis mo “a maré alta levanta os barcos todos”, atribuído a John Ken nedy, tem sido o pregão favorito. Economistas como Milton Friedman, autor de “Liberdade de Es colha”, postula que quando os ricos têm mais dinheiro à sua dis posição, eles investem mais e criam mais rendimentos para os outros, contratam mais trabalhadores para os seus negócios e estes compram mais aos fornecedores, além de que tendo mais rendimentos, os ricos vão gastar mais e criar mais rendimen tos para as empresas que vendem. Desta forma, se houver mais rendimentos no topo, haverá mais que acaba por “gotejar” para o resto da economia, deixando todos mais ricos que antes. A cren ça no efeito do “trickle-down” levou muitos governos a promover políticas pró-ricos ou, pelo menos, deu-lhes cobertura política. Simon Kuznets, Prémio Nobel de Economia em 1971, defendeu que à medida que um país se desenvolve economicamente, a desigualdade começa por aumentar e depois diminui, ou seja, à medida que o país se industrializa e cresce, temos cada vez mais pessoas a trocar a agricultura pela indústria e serviços, onde os salários são mais elevados. É bem verdade que a hipó tese de Kuznets não resistiu ao escrutínio, pois alguns países ri cos e industrializados, como os EUA e o Reino Unido, registaram um aumento da desigualdade na década de 1980.

Existe uma corrente de pensamento que argumenta que de sigualdade a mais é má, não só eticamente, mas também sob o ponto de vista económico, referindo que a elevada desigual dade reduz a coesão social, aumenta a instabilidade política e desencoraja os investimentos. Richard Wilkinson & Kate Pickett, autores de “O Espírito da Igualdade”, e Joseph Stiglitz, que escre veu a obra “O Preço da Desigualdade”, referem que países com maior desigualdade apresentam piores resultados em termos de mortalidade infantil, desempenho educacional, esperança de vida, homicídio e detenção, saúde mental e obesidade. Há indícios, segundo Há-Joon Chang (no seu livro “A Economia”), de que a maior desigualdade produz resultados económicos e sociais mais negativos. O “milagre económico” dos anos 1950 e 1980, no Japão, Coreia do Sul e Taiwan, evidencia claramente um contexto de crescimento económico rápido num ambiente de menores desigualdades sociais. Muitos estudos estatísticos mostram uma correlação negativa entre o grau de desigualda de de um país e a sua taxa de crescimento económico. Isso não significa que quanto mais reduzida a desigualdade, me lhor. Se houver muito pouca desigualdade de rendimentos, isso pode desencorajar as pessoas de se esforçarem ou de criarem coisas novas para ganhar dinheiro. Parece defensável que não é bom termos nem demasiada nem muito pouca desigualdade. Se for excessivamente elevada ou baixa, a desigualdade pode atrapalhar o crescimento económico e criar problemas sociais. Existem diversos tipos de desigualdade, e a desigualdade de rendimentos é apenas um tipo de desigualdade económica. Existe também a desigualdade em termos de distribuição de riqueza, de capital humano e desigualdades não económicas, como as baseadas na origem social, casta, etnia, religião, raça, género, sexualidade ou ideologia.

Para medir a desigualdade é comum usar o Coeficiente de Gini, baptizado em honra do estatístico italiano do início do século XX,

Desde a década de 1980, a desigualdade subiu em muitos países, com destaque para os EUA e Reino Unido, e abrandou um pouco depois dos anos 2000, sobretudo na América Latina, em decorrência de intervenções nas políticas como, por exemplo, o aumento dos impostos para os ricos, aumento do salário mínimo e maior fatia do orçamento para a segurança social

OPINIÃO Novembro 2018 58
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique

Corrado Gini, em que os dados são obtidos através de inquéritos sobre o consumo, que desde 1997-98 Moçambique tem realiza do de 5 em 5 anos, através dos Inquéritos ao Orçamento Fami liar (IOF). Segundo dados do último inquérito, a desigualdade aumentou de 2008-09 para 2014-15, de 0,42 para 0,47, devido ao aumento da desigualdade nas áreas urbanas (e na zona sul do País), que passou de 0,48 para 0,55, mantendo-se estável nas áreas rurais, ao nível de 0,37.

As sociedades menos desiguais do mundo são Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Áustria, Alemanha e França, que são países capitalistas europeus com um Estado Social forte. Entre os países muito desiguais contam-se Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Honduras, Panamá, Paraguai, Costa do Mar fim, Mauritânia, Ruanda, Cambodja, Filipinas e Tailândia. Desde a década de 1980, a desigualdade subiu em muitos paí ses, com destaque para os EUA e Reino Unido, e abrandou um pouco depois dos anos 2000, sobretudo na América Latina, em decorrência de intervenções nas políticas como, por exemplo, o aumento dos impostos para os ricos, aumento do salário mínimo e maior fatia do orçamento para a segurança social.

A desigualdade continua presente no mundo e em muitos paí ses, mas com políticas adequadas pode viver-se em sociedades menos desiguais e onde o grosso da população tenha condições de vida apropriadas para viver em dignidade e para a plena realização do seu potencial humano.

As populações da Noruega, Finlândia, Suécia e Dinamarca já vivem praticamente livres das perversas e aberrantes desi gualdades sociais, o que “per se”, é um sinal de que é possível e desejável conjugar crescimento e desenvolvimento eco nómico com cada vez mais reduzidas desigualdades sociais.

A redução de gritantes desigualdades sociais e económicas em Moçambique deve ser, também, um objectivo específico da sociedade e não só por razões éticas, já que ela tem influência no combate à pobreza e no crescimento económico inclusivo. Há que mudar o paradigma que advoga que o crescimen to económico contribua automaticamente para eliminar as desigualdades sociais e a pobreza, fazendo com que as políti cas activas para reduzir as desigualdades sociais e a pobre za ajudem a promover o crescimento e o desenvolvimento económico inclusivo.

A nossa própria experiência, e de outros países, mostra que isso pode ser feito por via de programas como o “Bolsa Família”, me didas de planeamento familiar eficaz, lanche escolar, combate à desnutrição crónica, apoio multiforme à agricultura familiar, microcrédito para pequenos empreendedores, implantação de infra-estruturas com uso de mão-de-obra intensiva, e expansão das iniciativas de promoção da saúde e educação, bem como de abastecimento de água, electrificação, habitação de baixa ren da e assistência social.

Os economistas são por vezes acusados de não tomarem posi ções firmes sobre a distribuição do rendimento.

Alguns deles dizem que é melhor viver numa sociedade rica, onde poucas pessoas são muito mais ricas que as restantes, do que numa sociedade pobre, onde todos são iguais mas se vive com pouco. Parece consensual que muita da economia moder na se baseia mais na eficiência do que na distribuição, embora essa tendência se esteja a alterar nas últimas décadas. Thomas Piketty, autor de “O Capital do Século XXI” defende que a desigualdade é, em parte, o resultado de escolhas que as so ciedades fizeram. E é importante pensar bem nisso.

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Oslo, capital da Noruega. Um dos países com mais elevado índice de igualdade social

Uma África (ainda) por descobrir

O continente atrai turistas de todo o mundo pela diversidade da sua vida selvagem e pelas paisagens naturais que permitem um turismo de aventura inigualável. Porém, ainda não consegue tirar o maior proveito do seu potencial

apesar do enorme potencial turístico, África continua a perder tanto em ter mos de receitas quanto em número de visitantes para a Europa, Ásia-Pacífico e América que, em 2017, receberam mais de mil milhões de turistas. O continente africano, com 62 milhões de visitantes em 2017, o equivalente a menos de 100 mil milhões de dólares, esteve apenas à frente do Médio Oriente, que contabili zou 58 milhões de turistas. Em 2017, sector do turismo no continente africano cresceu apenas 1,0% em termos de visitas e 3,5% em receitas. A Organi zação Mundial do Turismo estima que o sector registe, em termos globais, uma desaceleração em 2018, depois de ter crescido 7% em 2017, atingindo 1, 3 mil mi

NtShoNa

S i S a

lhões de pessoas. Em 2018, o crescimento ficará entre os 4% e 5%, ajustando-se à recuperação da economia de vários paí ses, especialmente os emergentes (7,9%) e desenvolvidos (5,7%).

Sisa Ntshona defendeu a capacitação sustentável das empresas comunitárias do sector do turismo, pois trata-se de uma oportunidade única, na medida em que se vive “numa era global em que os viajantes estão à procura de uma imersão automática em experiências memoráveis”.

Preocupado com a participação do con tinente no turismo global, o Secretaria do da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) prometeu, em Outubro do ano passado, em Gaboro ne, apoiar de forma activa a RETOSA, a Organização Regional de Turismo da África Austral, no estabelecimento de parcerias que permitam um aumento da participação da SADC de 2% para 5% no turismo global dentro de uma década. Já o ministro sul-africano do turismo, Derek Hanekom, defendeu uma maior

60 Novembro 2018 lá fora

intervenção dos governos africanos na criação de um ambiente de negócios que propicie uma maior integração e inter câmbio continental neste domínio, dando espaço aos investidores privados para apresentarem produtos turísticos ajus tados aos consumidores locais.

Na cerimónia de abertura da feira in ternacional de turismo “Africa´s Travel Indaba 2018”, decorrida em Maio, Derek Hanekom afirmou que “o crescimento do turismo e a partilha dos seus ganhos con tribui para a substituição da pobreza e do desespero pela prosperidade e pela espe rança”, o que representa uma oportunida de para África, na medida em que é um “sector que cresce mais rápido em relação a outros”, contribuindo cada vez mais para a economia global. “Na África do Sul, o tu rismo já contribui com cerca de 8% para o Produto Interno Bruto (PIB) do país e em prega 6,5% da mão-de-obra”, informou.

As tradicionais visitas à vida selvagem africana estão a tornar-se cada vez menos atractivas para os turistas, que anseiam por novas opções de diversão e experiências turísticas que incluam mais aventura, segundo operadores sul -africanos do sector.

Para o responsável, a marca “Africa´s Travel Indaba” representa uma oportu nidade para as indústrias de viagens do continente africano cooperarem.

Por sua vez, o director-executivo da South African Tourism (SAT) defendeu a capacitação sustentável das empresas comunitárias do sector do turismo. Para Sisa Ntshona, trata-se de uma oportuni dade única, na medida em que se vive “numa era global em que os viajantes es tão à procura de uma imersão automáti ca em experiências memoráveis”.

remar contra a maré De acordo com a presidente da RETOSA, Lily Rakorong, os Estados-membros da SADC têm a importante tarefa de acti var a Unidade de Coordenação do Tu rismo na região, o que representa um passo importante para a transformação do sector. “Devemos lembrar-nos que a nova prioridade da RETOSA é assegurar parcerias inteligentes com os operado res privados, de modo a que se promova a região como um destino turístico, com base num plano de marketing bem ela borado”, defende a responsável. Para a RETROSA, o desenvolvimento do turismo intra-regional “é essencial para garantir uma maior contribuição do sec tor para a economia da região. Entretan to, o sector do turismo na SADC continua

‘indústria da paz’ gera 9,9% de empregos no mundo

O sector do turismo é tido como um dos mais importantes na economia do mundo, sendo que serve de impulso às exportações e é um factor de combate à pobreza em muitos países. Segundo o World Travel & Tourism Council, o turismo é responsável por 10,4% do PIB global e por 313 milhões de empregos, ou 9,9% do emprego total, em 2017. Na região da OCDE, por exemplo, o sector foi responsável por 4,1% do PIB, 5,9% do emprego e 21,3% das exportações de serviços. No entanto, apesar das oportunidades óbvias apresentadas pela trajectória de crescimento esperada, de acordo o relatório “OECD Tourism Trends and Policies 2018”, o turismo enfrenta uma série de desafios, a começar pela complexidade do desenvolvimento da política de turismo devido à sua natureza transversal, multinível e fragmentada e prioridades políticas competitivas e orçamentais, passando por restrições, pelo impacto de factores externos no turismo, incluindo condições macroeconómicas, taxas de câmbio, segurança e protecção e desastres naturais, pela mudança global para uma economia eficiente em recursos e terminando na contínua transformação dos serviços turísticos ligados às tecnologias emergentes e à digitalização da economia.

Ainda assim, “quando construído com base no engajamento amplo das partes interessadas e nos princípios do desenvolvimento sustentável”, o turismo “pode contribuir para um crescimento mais inclusivo através da oferta de emprego e de oportunidades de desenvolvimento económico em áreas urbanas e rurais”, promovendo a integração social, segundo se lê no documento. O turismo também pode aumentar a consciencialização de valores culturais e ambientais e ajudar a financiar a protecção e a gestão de áreas protegidas e a preservação da diversidade biológica.

a remar contra uma maré de incerte zas, quer económicas, quer políticas.

De acordo com análises internacionais, as perspectivas económicas para a Áfri ca Austral são cautelosas, sendo que a actividade económica de base ampla de verá recuperar a um ritmo lento, dados os padrões de crescimento divergentes das economias da região. Os países de renda média-alta apresentaram taxas de crescimento baixas e declinantes. En quanto isso, economias de transição de baixa renda registaram um crescimen to moderado e melhorado, embora a ta xas reduzidas”.

De resto, e apesar da melhoria, o desempe nho económico permanece moderado, com vários países a enfrentarem altas taxas de desemprego, redução do preço das commo dities no mercado internacional, pressão fiscal, o aumento da dívida e da inflação.

Estima-se que o PIB real da região tenha crescido a uma média de 1,6% em 2017, aumentando para 2,0% nas projecções de 2018. O crescimento da SADC, segundo relatórios a que a E&M teve acesso, de verá ser impulsionado principalmente pelas expectativas de aumento do inves timento em sectores não petrolíferos, como electricidade, construção e tecnolo gia, em grandes projectos de infra-estru turas e na mineração.

Turismo responsável Durante três dias, a feira “Africa’s Tra vel Indaba 2018”, que contou com a pre sença de mais de 1 100 expositores, dos quais 661 de fora do continente, promo veu uma série de discussões sobre o tu rismo em África.

Durante uma sessão de debate, subor dinada ao tema “Turismo Responsável”, o líder da SAT defendeu que os sectores privado e público deveriam, ambos, pro mover mudanças, incluindo as comuni dades nos seus projectos.

“Quando as pessoas são excluídas dos projectos, destroem-nos, mas quando participam e são candidatas, são as pri meiras a protegê-los”, disse Sisa Ntshona, que, ao encerrar o painel de debate, de safiou cada um dos participantes a pro curar soluções.

“Devemos deixar de ser vítimas. O mundo está a olhar para nós. Pode mos mostrar que somos capazes de melhorar a gestão e o nosso comporta mento”, afirmou, tendo acrescentado: “O mundo olha cada vez mais para Áfri ca como um continente vibrante, onde pode moldar memórias de viagens duradouras. Juntos, queremos que a

61 Novembro 2018

A Organização Mundial do Turismo estima que o sector registe, em termos globais, uma desaceleração em 2018, depois de ter crescido 7% em 2017, e chegado a 1,3 mil milhões de pessoas

economia do turismo ajude a escrever a história da prosperidade de África”. A “Africa’s Travel Indaba 2018” contou ainda com sessões de publicidade rápida (Speed Marketing), que cobriram várias áreas de interesse turístico, como patri mónio, história e cultura, e vida selva gem e aventura.

Gastos de visitantes devem crescer perto dos 4% até ao final de 2018 O continente africano esteve repre sentado no evento por 23 países, com destaque para o Lesoto, Zimbabué, Tan zânia, Egipto, Botsuana e Namíbia, que expuseram produtos turísticos diversos. Questionado sobre o acesso a cartões Visa em alguns países, em entrevista à imprensa, o ministro sul-africano do turismo anunciava que tudo tem sido feito para tornar mais facilitada a vida dos visitantes e turistas na Áfri ca do Sul, mas que “nem tudo” depende do seu país. Derek Hanekom lamen tava ainda que “não tenha sido mais positivo” o impacto dos vistos recípro cos em alguns destes países africanos. Em 2017, África gerou 48,7 mil milhões de

dólares em gastos de visitantes e espera que esse valor cresça 4,1% em 2018, um ano em que a região poderá atrair até 74 milhões de turistas internacionais. O dinheiro gasto por visitantes estran geiros nos países que visitam é uma componente essencial da contribuição directa do turismo na economia.

Até 2028, as chegadas de turistas in ternacionais a África devem totalizar 118.114.000, gerando despesas de 78,5 mil milhões de dólares, um aumento de 4,5% ao ano, de acordo com o relató rio “Travel & Tourism, Economic Impact 2018 Africa”, da World Travel & Tourism Council. Ainda de acordo com o mesmo documento, o segmento de “Viagens & Turismo” no continente africano deve rá ter atraído investimentos na ordem dos 28,2 mil milhões de dólares em 2017 e poderá aumentar 2,6% já em 2018, e depois a uma cadência de 4,6% ao ano ao longo da próxima década, chegando aos 45,5 mil milhões de dólares até 2028.

TExTO andrade lino e SebaStião vemba fOTOgrAfIA iStockphoto

62 Novembro 2018
lá fora
FONTE ROECD Tourism Statistic Database Total das receitas Total das despesas UM
qUe vAle
Em milhares de milhões de dólares Indústria
2012 2014 2016 11,2 10 8,9 7,1 6,3 5,3 8,1 2,8 mil milhões
Valor
mil milhões de dólares Despesas com transporte de passageiros
cArTãO de visiTA
Milhões
perdeu fulgor mas, ainda assim, é lucrativa para a economia sul-africana
de dólares
das viagens internacionais
victoria Falls, Botsuana, um dos mais procurados cenários turísticos de África

A juventude e o foco desfocado

o mês passado foi de eventos que marcam com alguma pro fundidade as transformações que se devem assistir nos pró ximos dias na vida da nação, desde as eleições autárquicas, cuja transparência divide opiniões e suscita sérios debates, até à alteração das tarifas a serem cobradas pela aquisição ou renovação da carta de condução (que foram agravadas em mais de 500%), passando pelo anúncio de mais investimentos no gás natural.

E, exactamente no calor destes importantes acontecimentos, surge uma notícia em que, simplesmente, não acreditaria se alguém me contasse que viria a ganhar destaque na socieda de moçambicana. Mas ganhou, infelizmente. Nas redes sociais, manifestações que questionavam aspectos “anormais” que ocorreram nos diferentes círculos eleitorais, sobretudo na Matola, e as que tentavam buscar esclarecimen tos sobre a razão do agravamento das tarifas de obtenção e renovação da carta de condução, foram substituídas por um incrível excesso de preocupação com aspectos da vida pessoal de um cantor da praça. Ou seja, tudo o que era verdadeira mente relevante, foi literalmente esquecido e o foco passou a ser um breve desabafo que um jovem músico fez nas redes sociais, sobre aspectos particulares que não levam a qualquer transformação na vida da sociedade. Jovens que, nem sequer sabiam quem governaria as suas autarquias (os resultados ainda não tinham sido divulgados), nem em que se transformaria o seu habitat com a nova go vernação municipal, de imediato, dividiram-se em opiniões sobre o caminho que o cantor deve seguir. Era já o maior pro tagonista da história de uma sociedade. Uns solidarizavam-se e outros faziam troça dele, mas todos pareciam desfocados do essencial. Uma cegueira de todo preocupante, já que do Jovem espera-se, sempre e em toda a parte, que assuma protagonis mo no processo de mudança para um país melhor. Desiludiu-me a postura da maioria dos jovens nas redes so ciais, em Outubro. Em pouquíssimos dias, acontecimentos im

portantes para o país viraram “cinza”, também “murchou” o papo mais apetecível do dia… e no fim das contas, todos nós ain da jovens perdemos mais uma oportunidade de assumirmos a posição que se espera de nós.

E ainda veio mais uma prova de que o fútil é o que mais atrai. Depois de a “poeira ter baixado”, nas redes sociais, o jornalista Marcelo Mosse relançou a reflexão sobre a importância e o que está na origem da revisão das tarifas relativas à carta de condução, numa postagem através do WhatsApp. A avaliar pela quantidade de reacções que recebo no meu telemóvel, em comparação com a que recebia (e ainda recebo) sobre os assuntos mais mediatizados (e irrelevantes, diga-se), é normal que só pelo título muitos não se tenham interessado em ler. Há quem defenda que este hábito de consumo de informação tem ocasionado certo aproveitamento político, no sentido de que inspira alguns grupos a inventarem escândalos sociais para desviarem a atenção da sociedade sempre que há acon tecimentos ou decisões polémicas do Governo. Verdade ou não, fica evidente que tal é possível. Mas esta não é apenas realidade nossa. No Brasil, por exemplo, a revista “Fórum” questiona: “Que juventude é essa que vota no Bolsonaro?” … e o argumento traz aspectos curiosos sobre os hábitos de consumo de informação dos jovens brasileiros: “… é uma molecada (juventude) que não lê jornal impresso, se informa primordialmente pelas redes sociais e, dentro desta esfera digital, é consumidora assídua de canais do YouTube, que, como bem sabemos, está repleto de personagens com mi lhões de seguidores que são alvos de processos por racismo e declarações odiosas aos homossexuais”. A revista conclui ain da que “este dado é preocupante pois revela uma geração que está a formar-se com base numa mentalidade que não tem apreço pela democracia.”

Não pretendo entrar em questões da política brasileira, mas elucidar a pressão que se exerce sobre os jovens, cuja posição é determinante para a prosperidade (ou não) de uma nação.

As redes sociais são, hoje, o melhor termómetro para medir a consciência dos jovens em relação ao que é, e não é relevante para a estabilidade de um país, ou de uma sociedade. E as evidências a que vamos assistindo neste capítulo, infelizmente, têm sido deveras decepcionantes

OPINIÃO Novembro 2018 64
Celso Chambisso • Jornalista da Revista Economia & Mercado

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

66

Nesta edição, encaminhamos a Viagem pelo tentador destino da Beira, que apela a qualquer alma viajante

g e

Um outro tipo de viagem, esta gastronómica, pelos sabores do Pho Viet, um restaurante vietnamita em Maputo

A escolha da Adega, recai este mês na maior nota alguma vez alcançada por um espumante português. Prove-o, e aprove-o

69
68

Beira

um tentador desafio

à alma do viajante

numa obra publicada já de pois da sua morte, intitulada “Anatomia da Errância”, Bruce Chatwin, cujos livros inaugu raram (ou re-actualizaram?) todo um género literário no qual a “viagem” se apresenta como contraponto e negação do “turismo”, como que sinte tiza, a posteriori, aquilo que na sua perspectiva define a “alma do viajante” e que cons titui, a bem dizer, o seu “projec to de vida” (expresso em livros célebres como “Na Patagónia” ou “O Vice Rei de Ajudá”).

Ao contrário do “turista”, preso de itinerários pré-definidos, o “viajante” reencarna a figura do nómada que, pela sua aber tura à errância, ao acaso dos encontros, a uma constante disponibilidade para a escuta do “Outro” e uma insaciável curiosidade pelo mistério que cada lugar ou indivíduo com porta, transforma a viagem numa descoberta, sem fim, da

essência do mundo e num des vendamento de si. A cidade da Beira é um daque les casos em que o apelo à nos sa “alma de viajante” se torna indispensável. Não que seja desprovida de “interesse turís tico”, bem pelo contrário. Mas uma excessiva “pulsão turís tica” arrisca-se, muito prova velmente, a deixar o visitante preso de sentimentos contradi tórios e impressões equívocas porque esta é uma cidade que desafia um desvendamento paciente. Uma deambulação apressada impedirá esse tra balho de escuta – das gentes, das ruas, dos espaços – que a cidade exige e merece. Na verdade, a cidade impõe -nos uma “arqueologia do olhar”, isto é, que não nos atenhamos distraidamente pela superfície do que nos é dado ver mas convoquemos antecipadamente tudo aquilo que nos pode ajudar a “ler” a

sua história. A começar pelo incontornável texto de Ilídio do Amaral – “Beira, Cidade e Porto do Índico” – através do qual não aprendemos ape nas como a cidade da Beira nasceu de uma expedição militar portuguesa saída de Chiloane, composta por cer ca de 30 soldados e 10 operá rios, embarcados em quatro lanchas, e que aportaram na Ponta Chiveve, a 19 de Agosto de 1887, e “aí instala ram, no dia seguinte, o Posto de Aruângua, num lodaçal e língua de areia de cotas muito baixas e de contornos constantemente modificados pelas marés, na foz dos rios Púngué e Búzi…” e que “...assim principiou a nova povoação, baptizada com o nome de Bei ra, em homenagem ao Prínci pe D. Luís Filipe, nascido nesse ano”. Aprendemos também, de forma detalhada e minu ciosa, como esta cidade se er gue em permanente desafio com uma Natureza difícil e se constrói e reconstrói, ao longo

Novembro 2018 68
Sena Hotel Av. Mártires da Revolução, nº 189; +258 23311070 e-mail booking@ senahotel.net Beira e

do tempo, presa de um inces sante e complexo jogo em que a sua geografia é refém de interacções históricas, sociais e económicas que se movi mentam muito para além das suas fronteiras.

Há, portanto, que “construir um olhar” para poder atra vessar os diversos sedimen tos de que se compõe este centenário tecido urbano.

Mesmo se a deambulação “turística” se faz em mera obediência a um itinerário pré-determinado por “suges tões” avulsas do que é suposto ver, existe hoje toda uma lite ratura disponível que, se há também no visitante, mesmo de forma subtil ou apenas em potência, essa “alma de via jante”, convirá previamente consultar. É algo que se torna particularmente evidente quando o visitante se con fronta com o património ar quitectónico da cidade.

Uma rápida e incompleta resenha do que, desde o ano 2000 se tem vindo a publicar, é suficiente para compreen der a natureza de edifícios icónicos da cidade, como a Es tação dos Caminhos-de-Ferro, o Grande Hotel da Beira, o ac tual Palácio dos Casamentos, a Casa dos Bicos ou, num outro plano, a Igreja da Manga, que se filiam no Movimento Mo derno que marcou a arqui tectura das décadas de 50 e 60 do século XX.

Se o exercício de uma “ar queologia do olhar” é o epi centro do desvendamento a que o viajante se deve entre gar para poder desconstruir as “aparências cenográficas” que se lhe oferecem, e que nessa deriva de “pequenas narrativas”, construídas a partir de uma interrogação sobre o mistério que a infância é (um lugar? Um tempo?), se deixe “perder” e “encontrar” na errância de uma viagem que remete, no limite, para a insondável “alma de viajan te” que existe em todos nós.

roteiro

coMo iR

A LAM tem vôos frequentes para a cidade da Beira, como destino assim como em trânsito.

onde doRMiR

A nossa escolha vai para o Sena Hotel, alvo de uma renovação recente que o transformou numa das melhores unidades hoteleiras disponíveis.

onde coMeR

Se está pelo centro da cidade, aconselhamos o incontornável 2+1: cozinha variada e de boa qualidade por preços muito razoáveis. Mas para uma degustação mais descontraída, contemplando o mar e saboreando uns mariscos, a opção passa pelo Beira Mar.

o Que FaZeR

Descubra o património arquitectónico, inspirado pelo Movimento Moderno que marcou as décadas de 50 e 60 do século xx e a igreja Catedral.

Novembro 2018 69
texto Rui TRindade fotogrAfiA Vasco célio
a cidade da Beira é um daqueles casos em que o apelo à nossa “alma de viajante” se torna indispensável.

não se deixe iludir pela aparência discreta e modesta do espaço. a experiência vale mesmo a pena

a crescente diversidade da oferta gastronómica na ci dade de Maputo é um facto que tem de ser devidamente realçado. Mas não apenas a diversidade. Mais importan te, como é óbvio, é a sua qua lidade. Para quem gosta de “viajar pelos sabores”, a nossa sugestão deste mês é uma vi sita ao Pho Viet.

O ambiente é acolhedor, a ementa variada e a degusta ção convida a voltar pois há muito que fica por saborear apenas numa visita. É frequente desconsiderar a culinária vietnamita como sendo similiar à chinesa, um equívoco que resulta do pou co conhecimento que temos sobre ela. É um facto que exis te uma forte influência chine sa na culinária vietnamita. Nem outra coisa seria de es perar se tivermos em conta que os chineses colonizaram o país durante quase onze sé culos. Mas ela distingue-se da chinesa de diversas manei

pho viet

ras: emprega, por exemplo, bem menos gordura, faz uso intenso de ervas aromáticas e especiarias e as receitas vietnamitas levam normal mente mais ingredientes crus, quer sejam vegetais ou animais. Por outro lado, a colo nização francesa influenciou também o preparo da comida mas, apesar destas influên cias, a gastronomia vietna mita soube preservar uma identidade própria que se di vide em três culinárias: a do Sul (à base de ervas frescas e pratos tropicais bastante elaborados), a do Centro (com tendência a ser mais condi mentada, e em que se utiliza muito o pimentão e a pasta de camarão) e a do Norte, bas tante parecida com a cozinha chinesa, com o uso frequente de vegetais em conserva em

o vietname

aqui em maputo

vez de ervas frescas, cogu melos, e pimenta preta em vez de pimentão. Por ter um litoral tão extenso, peixes e frutos do mar são facilmente encontrados por quase todo o país, como também pato, frango, porco e carne verme lha, servidos em combinações exóticas. A base de uma re feição tradicional vietnamita é o arroz branco, acompa nhado de legumes ou carne ou peixe. Os esparguetes de arroz são, também, um dos in gredientes principais do pho, prato conhecido e apreciado em todo o Vietname. Trata-se de uma sopa de esparguete de arroz com pedaços de car

ne de frango ou carne bovi na, enriquecida com ervas (geralmente hortelã e man jericão) limão, vegetais, feijão, cebola e pimenta.

A Xalach Dia (salada de ervas frescas), os vegetais verdes, os rebentos de bambu e os vegetais em vinagre são ser vidos como acompanhamento em quase todas as refeições.

Os molhos e condimentos vie tnamitas são também extre mamente variados. O mais conhecido é o Nuoc Mam ou Nuoc Cham, um molho de pei xe salgado diluído em sumo de limão ou vinagre, tempe rado com alho e pimentões esmagados, com um toque de açúcar, que se pode usar para temperar arroz, cre pes, carnes grelhadas, ou ainda para adicionar à sopa. Caracterizada pelo seu equi librio de sabores e aromas, a cozinha vietnamita é so fisticada, delicada e subtil. Existem portanto motivos de sobra para a experimentar.

Novembro 2018 70
Av. Vladimir Lenine 2052 Aberto de 3ª feira a Domingo (encerra à 2ªfeira) Horário: 7h às 22h
g

quinta dos aBiBes espumante Bruto reserva rosé 2016

País: Portugal

Região: Bairrada casTas: Baga coR: Rosado com bolha muito fina aRoMa: Elegante com predominantes notas de frutos vermelhos frescos PaladaR: Cremoso, com boa mousse, frescura apelativa, frutado Final: Envolvente e sedutor TeoR alcoólico: 12,5%

plano B espumante Bruto 2015

País: Portugal

Região: Bairrada casTas: Baga coR: Rosado suave, bolha fina e persistente aRoMa: Delicado e harmonioso, revela notas de frutos vermelhos e silvestres PaladaR: Frutado, jovem e fresco, tem bom volume e cremosidade Final: Longo e sedutor TeoR alcoólico: 12,5%

ameias espumante rosé Brut nature

País: Portugal

Região: Palmela casTas: Castelão e Arinto coR: Rosado, com bolha fina e persistente aRoMa: Elegante, com notas frutadas, com morangos, groselhas e cerejas em destaque PaladaR: Vivo, crocante e envolvente, a pedir gastronomia requintada Final: Prolongado e seco TeoR alcoólico: 12,5%

País Portugal Região Douro casTas Pinot Noir coR rosa leve, bolha muito fina e elegante aRoMa fresco com com acidez vivificante PaladaR Cremoso com boa mousse Final requintado e prolongado TeoR alcoólico 12,5%

vértice pinot noir 2007:

as épocas do ano

já lá vai o tempo em que os espumantes eram sobretudo consumidos em dias festivos. Nos últi mos anos, a variedade e, sobretudo, a qualidade da oferta fez com que eles sejam cada vez mais des frutados de forma regular nas mais diversas oca siões e mesmo acompanhando as refeições diárias. Acompanhando esta tendência, os espumantes portugueses têm vindo a ganhar uma projecção internacional que estava predominantemente re servada à produção proveniente de países como a França, ou a Itália. E um bom exemplo desta nova realidade é a forma como os espumantes “Vértice” (para referir apenas um caso) têm vindo a ser dis tinguidos pelos críticos internacionais da especiali dade. Pelo segundo ano consecutivo, Mark Squires, crítico norte-americano e provador oficial da pres tigiada publicação e Robert Parker/Wine Advocate, voltou a destacar os espumantes Vértice. Desta vez, a sua análise focou-se no Vértice Pinot Noir 2007, que conquistou 94 pontos, a mais alta pontuação de sempre entre espumantes portugueses.

Na sua nota de prova, Mark Squires afirma que se trata de um vinho “extraordinário, elegante e com plexo, com uma surpreendente fruta com esta ida de”, chegando mesmo a perguntar “como é possível não querer encher a garrafeira com um espuman te desta qualidade a tão bom preço?”.

O crítico aprova ainda o consumo imediato, mas recomenda, para “quem preferir um toque de Champagne mais maduro, esperar uma déca da para abrir a garrafa”. Seja qual for a decisão, pode esperar-se um vinho “delicioso e muito sério”. Dez anos após a colheita, o Vértice Pinot Noir 2007 valida, com sucesso, uma estratégia arrojada do produtor, que decidiu lançar um espumante pro duzido à base de uma das castas mais tempera mentais do mundo. O objetivo foi demonstrar a expressão desta casta clássica de Champagne na região do Douro, mais concretamente na sub -região do Cimo Corgo, no planalto de Alijó, onde as vinhas atingem uma altitude média de 550 metros.

Novembro 2018 71
texto Rui TRindade fotogrAfiA d.R
um espumante para todas
vértice pinot noir 2007
acompanhando esta tendência, os espumantes portugueses têm vindo a ganhar uma grande projecção internacional

• em destaque

liteRAtAS – ReviStA de ARteS e letRAS de MOçAMBique

Para celebrar o seu sexto ano de existência, a “Lite ratas – revista de Artes e Letras de Moçambique” acaba de lançar um núme ro especial comemorativo da data. Actualmente, a “Li teratas” – dirigida pelo jornalista e escritor eduar do Quive - apenas tem uma presença online mas, com o apoio do festival Mapu to fast forward, foi possível assinalar a efeméride com uma edição em papel. o tema desta edição es pecial é “Pensar futuro” e inclui um número varia do de textos e entrevistas. Participam, entre outros, o cineaste Lícinio de Azeve do, a historiadora de arte Alda Costa, a actriz Lucré cia Paco e a vocalista da banda granMah, regina dos Santos.

deZAine – ReviStA de deSign, CRiAtividAde e inOvAçãO

Dirigida pelo designer Mé lio tinga, a revista “DeZAi Ne” é a única do género publicada em Moçambi que. Um projecto am bicioso e inovador mas até ao momento só tem ti do existência online. Com o apoio do festival Mapu to fast forward foi possí vel à “DeZAiNe” ter agora uma edição impressa que foi lançada a 25 de outubro passado no espaço “oran ge Corners” (na embaixada da Holanda). em destaque nesta edição, uma reflexão sobre o futu ro do design em Moçam bique feita por rui Batista, Lourenço Pinto e João ro xo, a entrevista de Daniel tinga a Nuno Lima, Ceo da Dalima, e um texto do do cente e pesquisador Sérgio Jeremias Langa.

exposiçÕes

“O BAiRRO POlAnA CAniçO nA viSãO dA PRóxiMA geRAçãO de ARquiteCtOS MOçAMBiCAnOS ” (CuRAdORiA: MáRCiA OliveiRA)

“FutuROS dA MAFAlAlA” (CuRAdORiA: JOHAn MOttelSOn e ReMígiO CHilAule)

exPOSiçõeS integRAdAS nO PROgRAMA dO FeStivAl MAPutO FASt FORwARd 2018

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de exposições inauguração: 6 de Novembro Hora: 18h30

“quiMeRA” quitO teMBe, CHRiS BROwn e geRAldine dARPOux exPOSiçãO integRAdA nO PROgRAMA dO FeStivAl MAPutO FASt FORwARd 2018

inStidOC – CiClO dO dOCuMentáRiO inStituCiOnAl (5ª ediçãO)

Centro Cultural

Franco-Moçambicano Auditório

De 13 a 17 de Novembro Hora: 17h e 19h géneSiS live COnCeRtO COReOgRáFiCO AllAn e ídiO CHiCHAvA COM BAndA dugê, CASe BuyAkAH, JR new JOint e ednA JAiMe

música filmes livros

cinema

Espaço Criativo 16 Neto (Av. Agostinho Neto 16) inauguração: 7 de Novembro Hora: 18h “ vAgAndO MAPutO” de AuRORe vinOt dOCuMentáRO inCluídO nO PROgRAMA dO FeStivAl MAPutO FASt FORwARd

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório 5 de Novembro Hora: 19h entrada: 150 Mt

“dJAMBO” de CHiCO CARneiRO e CAtARinA SiMãO

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório 12 de Novembro Hora: 19h entrada: 150 Mt

Centro Cultural

Franco-Moçambicano

Sala grande 9 de Novembro Hora: 19h

COnCeRtO AluSivO AO diA inteRnACiOnAl dO HiP HOP

Associação dos Músicos Moçambicanos (r. Magiguana 710) 10 de Novembro Hora: 18h

5ª SéRie xiquitSi – teMPORAdA de MúSiCA CláSSiCA de MAPutO

Galeria Kulungwana (Pr. Dos Trabalhadores – CFM) 16 e 17 de Novembro

mÚsica literatura

lAnçAMentO dO livRO “MAtéRiA PARA uM gRitO” de álvARO tARuMA

Camões - Centro Cultural Português em Maputo 29 de Novembro Hora: 18h

lAnçAMentO dO livRO “FutuROS dA MAFAlAlA” de JOHAn MOttelSOn e ReMígiO CHilAule

Fundação Fernando Leite Couto 1 de Novembro Hora: 18h

Novembro 2018 72

sunday nood

‘new oBject of desire’

em exibição na galeria Ma chamba Criativa até ao pró ximo dia 18 de Novembro, “Sunday Nood/New Object of Desire” constitui o novo projecto expositivo do jovem artista visual moçambicano Hugo Mendes. Nascido em Maputo, Hugo Mendes tem vindo progres sivamente a afirmar-se como um dos mais promissores ar tistas visuais da sua geração. Tendo começado como ilustra dor, Hugo Mendes participou, em 2017, na exposição colecti va “Desconstruções”, que teve lugar no Espaço Criativo 16 Neto, e já este ano fez parte de outra exposição colectiva, “Ligados pelo Indico”, apresen

tada no Centro Cultural Fran co-Moçambicano, que juntou artistas da Ilha da Reunião e de Moçambique.

Sobre esta exposição indivi dual, Julia Sarmento, a cura dora escreve: “Sunday Nood é uma série de trabalhos que representam um exercício de memória em torno de uma história de amor.”

Os momentos íntimos que ficaram após uma difícil se paração resultaram numa série de retratos que regis tam lembranças evanescen tes. Os lânguidos e longos Do mingos passados com pouca roupa, enrolados nos lençóis da cama, como era vontade “dela”, trouxeram a motiva

ção para o artista criar ima gens de sensualidade des contraída, encapsuladas em quadrinhos, a serem vistos como numa” trip” voyeurís tica emocional, tentando re criar as sensações tingindo o papel com tinta-da-china. Para se reconciliar com “ela” e com as suas memórias, deci de expôr os seus sentimentos e esta série de ilustrações nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, acompanhando cada post/obra com o hashtag #sundaynood.

Este trabalho está profun damente relacionado com a Internet e as redes sociais, co meçando pela palavra “nood” alternativa ao Inglês “nude”, que deriva do “calão” comum mente usado para signifi car nudez. Para esta “série”, N.O.O.D deve também ser lido como o acrónimo de “new ob ject of desire” que significa “novo objecto de desejo”, o que revela uma mensagem se creta e reflecte artisticamen te a sensualidade natural “de sejada” na privacidade”.

sunday nood ‘new oBject of desire’

3ª edição do Maputo Fast Forward Machamba Criativa (Edifício do Centro Cultural Franco Moçambicano em Maputo)

Segunda a Sexta das 10h às 19h Sábados das 9h às 13h

Novembro 2018 73
nascido em maputo, hugo mendes tem vindo progressivamente a afirmar-se como um dos mais promissores artistas visuais da sua geração

Modelo NV300; e-NV200 Camper

coModidades

Sala de estar para até quatro pessoas, minicozinha completa com frigorifico, lava-louça, gás e água corrente

coMbusTíVel Diesel e eléctrico

como o movimento #vanlife

o design automóvel está a influenciar

se dúvidas houvesse, bas taria ir a #VanLife, na rede social Instagram, para perceber a dimensão que este mo vimento atingiu nos últimos anos. Na verdade, são cada vez mais aqueles que deci diram adoptar um estilo de vida “móvel”. E independen temente de referências lite rárias (“Pela Estrada Fora”, de Jack Kerouac) ou cinema tográficas (“Ao correr do Tem po”, de Wim Wenders), o facto é que a escala do movimen to #VanLife levou já alguns constructores automóveis, como a Nissan ou a Volkswa gen, a investirem no design de modelos especificamente orientados para este novo segmento.

Num artigo dedicado ao tema, a revista Fast Company subli nhava que no recente Salão Automóvel de Madrid 2018,

a Nissan declarou que dois modelos em exposição, o NV300 e o e-NV200, tinham sido desenhados tendo em mente este novo movimen to. E enquanto a Volkswa gen apostou forte no modelo Grand California, a Mercedes -Benz mostrou o seu excelen te Winnebago Revel. Todas estas propostas têm so bretudo em mente o facto de uma percentagem significati va dos adeptos do movimen to “Van Life”pertencerem à geração dos chamados mil lennials (nascidos entre 1980 e 2000). Uma das caracterís ticas desta geração é a sua busca por “autenticidade” e, nesta perspectiva, os constru tores automóveis começam a tentar corresponder às suas aspirações que se pren dem, igualmente, com um estilo de vida “móvel”, o qual

tem pouco a ver com o ideal “campista” e de “vida saudá vel” de gerações anteriores.

Por isso, os modelos da Nissan, como o NV300 e o e-NV200 camper (totalmente eléctri co), incorporam uma série de comodidades que têm em vista este “estilo de vida”: sala de estar para até quatro pes soas, mini-cozinha completa (com frigorifico, lava-louça, gás e água corrente) e, na hora de dormir, possibilidade de transformar o veículo num “quarto” com uma confortável cama para duas pessoas. Ou tro bom exemplo de como as construtoras estão atentas a este novo mercado é o modelo Grand California da VW. Com seis metros de comprimento, a marca alemã inclui cama dupla, uma cozinha funcional e casa de banho de grandes dimensões, com acesso a um tanque de água de 110 litros. Em torno do movimento #VanLife surgiram, entre tanto, inúmeras empresas que apostam na adaptação e customização de carrinhas e caravanas e, para além de blogues e livros, existe já uma revista especializadaa VanLife Magazine - para todos aqueles que procuram um estilo de vida alternativo.

Novembro 2018 74
vindependentemente de referências literárias, a escala do movimento #vanlife influencia construtores
nissan

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