cowork
uM sEgMEnto quE não párA dE crEscEr EM MAputo
o ‘apagão’ da simo o quE sE pAssou, coMo sE rEsolvEu E o quE vAi MudAr
doing business o quE AindA nos fAltA pArA MElhorAr no rAnking
mercado comum livrE circulAção AindA é só uM sonho AfricAno
Verdadeiro ou falso? Verdadeiro ou falso? A E&M AnAlisA o MErcAdo dos MEdicAMEntos
moçambique
DezemBRo 2018 • ano 01 • no 09 Preço 200 mzn
Observação
A Ponte a imagem do primeiro dia em que as duas margens de uma mesma cidade se uniram
Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País
Macro
14 ‘O apagão’ a história dos cinco dias sem rede sImo, o que não se contou e o que vai mudar 18 Cowork Um segmento a crescer em Maputo e que está a mudar o mercado dos escritórios
nação
MediCAMentOs
26 A saúde não tem preço mas... a e&M olha para o mercado dos fármacos e explica de onde vêm os medicamentos falsos e de baixa qualidade que entram em Moçambique 34 na voz de... Lukusa Pierre, presidente da associação Nacional de Farmacêuticos
38 ProvÍNcIa
nampula o corredor por onde passa o desenvolvimento que parece estar a chegar... e vem para ficar
Mercado e FINaNças
doing Business Moçambique melhorou a sua classificação, pela primeira vez em anos, mas ainda falta muito
PMe ipanema a história singular da única indústria de calçado em Moçambique 50 MegaFoNe
Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora
67 ócio
52 fIgUra do MÊs
Mff
raquel Nobre, directora-geral da Quideia, organizadora do Maputo Fast Forward
Um novo (ou nem tanto assim) fenómeno em crescimento exponencial no país e no continente
60 lÁ Fora espaço Único Africano o que falta para a criação de um espaço de livre circulação de pessoas, bens e capitais em África
Dezembro 2018 3 Sumário
6
8 Radar
14
26
44 48 eMPresas
70
71
68 escape os encantos da Lagoa doce e salgada do bilene
Gourmet Uma viagem pelas Índias no Moksha
Adega o Porto vintage mais pontuado do ano 72 Agenda Música, livros, filmes 73 Arte Uma reflexão sobre os assentamentos informais 74 Ao volante o luxo do Lexus Ux 54 socIedade Airbnb
Doing Business, subimos mas ainda não o suficiente
uma das apostas estratégicas de Moçambique, nos últimos tempos, no quadro da promoção do investimento nacional e estrangeiro é a melhoria do ambiente de negócios, através da aprovação de políticas, reformas e adopção de procedi mentos, que visam a simplificação e facilitação dos vários processos para fazer (bons) negócios no país.
Em consequência da materialização de algumas novas leis e procedimentos, por parte do Governo de Moçambique, constantes da matriz negociada com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que tem por objectivo, a remoção de um conjunto ainda alargado de barreiras ao investi mento, foi possível, pela primeira vez em vários anos, melhorar a pontuação no conjunto dos dez indicadores que demonstram a capacidade de um determi nado mercado servir como destino de negócios, divulgada recentemente pelo Banco Mundial, através do ranking anual do Doing Business.
As reformas nas áreas da electricidade, comércio além-fronteiras e pagamen tos de impostos foram determinantes para a subida da economia nacional de três posições, de 138 para 135, num conjunto de 190 países avaliados. Muito recentemente, foi realizado o 43º Conselho Consultivo do Banco de Mo çambique em que foram apresentados estudos sobre o crescimento das Zonas Económicas Especiais, versus zonas econónomicas especiais e zonas francas industriais de alguns países africanos, tendo-se concluído que o País tem ain da muitos desafios que requerem coragem e ousadia para puder atrair mais e melhores investimentos estrangeiros (a título de exemplo, a necessidade de disponibilização de terras sem muita burocracia e constrangimentos, o acesso e redução do custo de energia, a facilitação de permissão e visto de trabalho, entre outros procedimentos burocráticos). Estas são também algumas das quei xas dos investidores no país que devem continuar a ser melhoradas. Dada a relevância destas matérias, este tema é tratado com alguma profundi dade nesta edição, pois ‘quem lê sabe mais’.
Dezembro 2018 • Nº 09
PROPRIEDADE Executive Moçambique
DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba
COnsElhO EDITORIAl
Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo DIRECTORA EDITORIAl
GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGInAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Executive Moçambique PUBlICIDADE DEPARTAmEnTO COmERCIAl Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique. com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal)
ADmInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com DElEGAÇÃO Em lIsBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; iona@iona.pt ImPREssÃO E ACABAmEnTO Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEm 4 500 exemplares númERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018
Dezembro 2018 4
Iacumba Ali Aiuba
Director da revista Economia & Mercado Editorial
Maputo,
de 2018 Uma nova passagem “aérea” para o fUtUro
Cinco anos, 800 milhões de dólares e muitas polémicas depois, a Ponte Maputo Katembe foi inaugurada com pompa… mas por entre demasiadas circunstâncias que fizeram desta a maior obra infra-estrutural, em quase tudo (até por ter sido anunciada como a que tem o maior tabuleiro suspenso em toda a África), da capital do país. Uma ponte sobre um mar que parece um rio a ligar duas margens desiguais: a cidade maior e o campo por explorar ao longo de mais de 100 quilómetros até à fronteira com a vizinha África do Sul.
Espera-se que o comércio se dinamize com a facilidade dos novos acessos e possa criar uma alternativa viável à sobrelotada fronteira de Ressano Garcia, e antevê-se que o turismo se desenvolva ao longo de uma costa (parte é reserva natural e marinha) que tem na frente a Ponta do Ouro, um lugar que, com o tempo passará a ser cada vez mais o destino de fim-desemana de muitos moçambicanos. Se o futuro é incerto, a todos os níveis, certezas há que se podem ter desde já. Os terrenos valorizaram e na Katembe, e toda a faixa sul, nada mais será como dantes, não sendo de estranhar que, dentro de alguns anos, as duas margens sejam uma só grande cidade.
Dezembro 2018 6
observação
NoveMbro
fOtOGRafia Jay Garrido
Dezembro 2018 7
ECONOMIA dá (bONs) sINAIs dE rEtOMA ANCOrAdA NAs ExtrACtIvAs
PIB. A economia melhorou ligeiramente o seu desem penho no terceiro trimes tre do ano, em comparação com o período homólogo. O PIB registou um cresci mento de 3,2%, (melhoria de 1,8% face ao trimestre de Ju lho a Setembro de 2017), o que consolida a ideia da recupe ração que se vem sentindo, ainda que de forma ténue, em alguns dos principais indicadores macroeconó micos do país. Já em relação ao trimestre anterior (Abril a Junho), o PIB desacelerou em 0,2 pontos percentuais.
O bom desempenho da ac tividade económica é atri buído em larga medida ao sector primário que cresceu 6,3%, com maior destaque para o ramo da indústria de extracção mineira, com um peso de 15,4%.
Para o próximo ano, a eco nomia nacional deverá re gistar um crescimento no intervalo de 4% a 4,7%, sen do que a taxa de inflação prevista rondará os 6%, de acordo com a missão técnica do FMI liderada por Ricardo Velloso que recentemente visitou Maputo .
ECONOMIA
Financiamento. A agência norte-americana de notação financeira Moody’s acredita “num retorno do pacote de financiamento” do Fundo Mo netário Internacional (FMI) a Moçambique, congelado des de Abril de 2016, na sequên cia do escândalo das dívidas ocultas. “Moçambique pode rá, em breve, ver desblo queado o congelamento dos fundos externos directos ao OE,” referem os analistas da Moody’s. Uma visão baseada no recente princípio de acor do entre Governo e detento res dos títulos da dívida da EMATUM, avaliada em mais de 726 milhões de dólares, e na expectativa positiva do FMI, na recente visita ao país.
Tributação. A Autoridade Tri butária (AT) anunciou um conjunto de “irregularidades” no processo de marcação de combustíveis por parte da Petromoc. Segundo a presi dente da AT, Amélia Nakha re, “uma das constatações resulta da diferença entre o que vem confirmado pelas alfândegas e o que vem efec tivamente indicado na fac tura, o que significa que, há diferenças ao nível da factu ração entre o que se declara e a receita real”, explica. Por seu turno, a maior distribui dora de combustíveis do país, desvaloriza estas acusações e encontra no processo de car ga de combustíveis, as razões para o desencontro de contas. “O acontece é que as alfân degas efectuam um registo prévio ao carregamento dos combustíveis e no acto do carregamento as quantida des que passam para os ca miões não são taxativamente as mesmas do que as declara das em manifesto de carga. Serão essas diferenças, mas que não comprometem aquilo que é o processo de venda de combustíveis”, explica Vicen te Fringe, Director de Logísti ca e Operações da Petromoc.
Estradas. O Governo revelou ter investido cerca de 7 mil milhões de meticais na rea bilitação de estradas ao longo deste ano, valor que o Fundo de Estradas considera “muito escasso para alcançar as me tas definidas”.
O Presidente do fundo de Es tradas, Ângelo Macuácua, diz que as infra-estruturas rodoviárias são de custo ele vado, e “sem uma manuten ção adequada e bem planifi cada, o país pode vir a pagar mais caro ainda pela sua reabilitação”.
Neste momento, o Fundo de Estradas está a mobilizar parceiros, empresas e outras formas de contribuição como “taxas de portagens, de com bustível e rodoviárias”, para arrecadação de receitas para cobrir o valor necessário para a reabilitação de estradas.
Negócios. Empresários de vá rias startup africanas esta beleceram parcerias de ne gócios em Maputo, através de bolsas de contactos com em preendedores iniciantes, du rante a 6ª edição de Angel Fair Africa, evento que se realiza desde 2013 e que se anuncia como “referência” no continente.
Maputo foi a sexta capital deste evento que antes te ve lugar no Quénia, Costa do Marfim, Nigéria, Gana e Áfri ca do Sul. A iniciativa já resul tou “em cerca de 23 milhões de dólares em investimentos nos países que já acolheram o evento”. A escolha de Moçam bique deveu-se “aos recen tes desenvolvimentos na in dústria de hidrocarbonetos”, anunciou a organização.
Emprego. Cerca de 33 iniciati vas de geração de rendimen to para jovens moçambicanos serão financiadas pelo Gover no em 2019, um número que representa cerca de 50% dos projectos juvenis apoiados em 2018. Em termos de dis tribuição dos projectos, a pro víncia e cidade de Maputo deverá absorver o maior nú mero das iniciativas a serem
RADAR 8 Dezembro 2018
financiadas (seis projectos). As restantes regiões do país te rão o mesmo número de pro jectos a receber auxílio do Go verno (três cada).
Ao todo, e segundo o PES-2019, o financiamento vai benefi ciar 1 369 jovens.
Empreendedorismo. Jovens em preendedores lançam apelo para “revisão em baixa das taxas para a legalização de empresas”, por forma a esti mular o empreendedorismo. Este desejo foi manifestado durante a 6ª Conferência Na cional de Empreendedorismo, organizada pela Associação Nacional de Jovens Empre sários (ANJE). Para a associa ção, a redução dessas taxas permitiria criar uma “maior oportunidade para reduzir a taxa de desemprego e au mentar a competitividade.”
Energia. A electrificação das 152 capitais de distrito ficou concluída, em Novembro, com a ligação de Luabo, na provín cia central da Zambézia, e de Doa, em Tete, à rede eléctrica nacional. A electrificação de todas as capitais de distrito foi um projecto do anterior go verno de Armando Guebuza, tendo ficado agora concluído.
ExtrACtIvAs
Logística. A Base Logística de Pemba, em Cabo Delgado, pre para-se para receber navios a partir de Janeiro de 2019. A informação foi avançada pe lo director operacional da em presa Portos de Cabo Delgado, José Daúde.
Daúde disse à Rádio Moçam bique que ainda estão em fa se de conclusão os trabalhos de construção de um pontão com 375 metros, um arma zém e a vedação de um terre no com cerca de 13 hectares, que fazem parte da primei ra fase do projecto, cujo cus to está orçamentado em 150 milhões de dólares.
Vale. O grupo brasileiro anun ciou que pretende alcançar, em Moçambique, uma produ ção anual de 20 milhões de to neladas de carvão até 2021. No entanto, no relatório de produção e venda divulgado recentemente, a multinacio nal refere uma segunda bai xa da expectativa de produ ção de carvão para 2018, re vista em baixa de 15 para 12 milhões de toneladas. O grupo já havia anunciado, em Maio passado, estar a prever uma produção de 15 milhões de to neladas de carvão, face à me ta de 16 milhões que havia es tabelecido para este ano, de vido às intempéries que asso laram a zona de produção. Marcelo Tertuliano, director financeiro da Vale Moçam bique, disse que “a empresa quer aumentar a produção”, e vai precisar de “condições de mercado favoráveis” e uma estrutura de custos que ga ranta a sua sustentabilidade.”
Sasol. A companhia petroquí mica sul-africana anunciou o pagamento de 500 milhões de dólares em impostos, des de que iniciou suas operações em Moçambique, há mais de uma década. O anúncio sur ge na sequência das críticas que vem recebendo por par te das várias organizações da Sociedade Civil que apontam o fraco impacto dos grandes projectos na economia do país. Numa troca de correspondên cia com o jornal “O País”, a di recção da Sasol em Maputo diz que pretende “expandir as suas operações”, e conse quentemente, garantir “mais receitas para o Estado nos próximos anos.”
Que o ano 2019 seja um ano de consolidação
A Presidente do Conselho de Administração Victória Daniel Paulo
Maputo, Bairro da Coop - Rua E, Nº
Telefone: + (258) 21902503 - (258) 843203371 Email: info@bmm.co.mz
Dezembro 2018
13
Nesta quadra festiva a BMM deseja a todos os seus colaboradores, parceiros, produtores, operadores da bolsa e público em geral, um Feliz Natal e Próspero Ano Novo
de intermediação de commodities por via da BMM
Hidrocarbonetos. O Governo assinou, em Novembro passa do, um memorando de enten dimento com o governo de França, à luz do qual mais de 20 técnicos nacionais vão fre quentar cursos de mestrado na área de hidrocarbonetos naquele país europeu a título de bolseiros do Estado francês. Ao todo, as bolsas estão ava liadas em 700 mil euros (perto de 50 milhões de meticais ao câmbio actual) e serão garan tidas pela Agência Francesa de Desenvolvimento.
Grafite. A Syrah Resources anunciou a assinatura de dois novos contratos de venda de grafite a extrair na mina de Balama, no norte do país, um dos quais com a empresa chi nesa Qingdao Freyr Graphi te Co., Ltd, informou a empre sa australiana em comunica do ao mercado. O contrato as sinado com a Qingdao Freyr Graphite (empresa com se de em Qingdao, província de Shandong, especializada na produção de grafite ex pandida) para o fornecimen to de 6 000 toneladas de gra fite ao longo dos próximos 12 meses, é o primeiro assina do com uma empresa chinesa para o fornecimento de flocos grosseiros.
O segundo negócio teve lu gar no mercado à vista com a venda a uma empresa ja ponesa de grafite com 98% de carbono, a primeira vez que a Syrah comercializa a matéria-prima com tal grau de pureza.
A Syrah está envolvida no projecto de extracção de gra fite em Balama, Cabo Delgado, e desde o início da exploração
e processamento, em Novem bro de 2017, já produziu mais de 160 mil toneladas de grafi te, exportada através do por to de Nacala.
Areias pesadas. O projecto de exploração de areias pesadas do Chibuto deverá mesmo en trar em funcionamento no primeiro semestre de 2019. A empresa chinesa Dingsheng Minerals já instalou a unida de de processamento com ca pacidade para processar 10 mil toneladas diariamente.
PrOvíNCIAs
derno condomínio residen cial composto por 38 aparta mentos, prontos a habitar, in tegralmente equipados com cozinhas modernas, de tipo logias T1 a T4, e duas lojas, num investimento de cerca de seis milhões de dólares.” O empreendimento faz par te da estratégia de capitaliza ção das oportunidades de ne gócio relacionados com o sec tor do gás na bacia do Rovu ma onde, nos últimos quatros anos, o Grupo investiu cerca de 10 milhões de dólares.
foi divulgada em Novembro, em Quelimane (província na Zambézia) no encerramen to da reunião do 43° Conselho Consultivo do Banco de Mo çambique na qual foi apre sentado um estudo em que se revela que, desde a sua cria ção, a ZEE atraiu apenas 36,5 milhões de dólares de investi mentos, num total de sete em presas. Estava prevista, tam bém, a criação de 470 postos de trabalho, tendo apenas si do criados cerca de 260.
Beira. A Cornelder Moçambi que anunciou o investimento de 290 milhões de dólares no Porto da Beira, de acordo com o plano de investimento pa ra a infra-estrutura recente mente aprovado pelo Gover no. Para permitir que a con cessionária recupere este in vestimento, o Governo deci diu alargar por mais 15 anos, até 15 de Julho de 2038, o pe ríodo de validade inicial do contrato de concessão.
A Cornelder anuncia que pre tende “reforçar a capacidade de processamento de carga” naquele porto, que passa pe lo “alargamento do cais e par ques, terminais, armazéns e outras instalações relaciona das com o funcionamento da infra-estrutura.”
Pemba. O Grupo Entreposto inaugurou um novo edifício multiusos em Pemba. Chama -se LATITUDE e fica no centro da capital provincial de Cabo Delgado. “Trata-se de um mo
Ibo. A União Europeia anun ciou que desembolsou cerca de 900 mil euros para projec tos de desenvolvimento turís ticos na ilha do Ibo, na provín cia de Cabo Delgado. Denominada ‘Redes Ibo’, a ini ciativa visa “promover o tu rismo, a conservação da na tureza e da cultura” daquela que já foi a capital da provín cia. A ‘Redes Ibo’ teve início em 2016 e já realizou quase meta de do plano concebido. O Embaixador da União Euro peia, António Sanchez Gaspar, aproveitou a sua primeira vi sita à província de Cabo Del gado para fazer o lançamen to oficial do projecto. Além da União Europeia, o Ibo ainda vai receber apoio do governo de Espanha, para a reabilitação do património histórico da ilha. Com 257 anos de existência, a Ilha do Ibo é considerada, a vila mais anti ga de Moçambique.
Lá FOrA
Cooperação. Moçambique e Quénia renovaram o com promisso de cooperação em vários domínios, com desta que para a área económica, durante a visita de trabalho que o Presidente da Repúbli ca Filipe Nyusi efectou àquele país, em Novembro passado. Num encontro entre empre sários moçambicanos e que nianos os dois presidentes anunciaram a disponibilida de para gerar acordos que “facilitem a realização de ne gócios entre ambos os países” e desafiaram ainda os em presários a “aproveitarem essa oportunidade.”
O Quénia aproveitou a oca sião para também manifes tar “interesse em tornar-se cliente do gás” que começará a ser explorado na Bacia do Rovuma, a partir de 2022.
Mocuba. A Zona Económica Es pecial de Mocuba continua a registar baixos índices de crescimento. A informação
CE-CPLP. Salimo Abdula, em presário moçambicano, foi reeleito Presidente da Confe deração Empresarial da Co munidade dos Países de Lín gua Portuguesa (CE-CPLP), em Assembleia-Geral, realiza da a 13 de Novembro passa do, na cidade da Praia, em Ca bo Verde. Salimo Abdula foi eleito por consenso pelos membros da agremiação em presarial dos países da CPLP e deverá cumprir mais qua tro anos (até 2022) à frente dos destinos da Confederação.
RADAR Dezembro 2018 10
Cultura e turismo, pontes para a paz, progresso e aproximação entre nações
o turismo é parte integrante dos estilos de vida do nosso tempo, em que a mobilidade geográfica e o usufruto cultural desempenham um papel central. E ao mesmo tempo, em mui tos países e regiões, constitui um sector económico essencial, porque dele depende, muitas vezes, o crescimento. Foi, aliás, deste modo que as políticas na área do turismo se tornaram veículos decisivos para políticas económicas sustentáveis. Numa resolução de 2017, as Nações Unidas reconhecem que o turismo sustentável é “um instrumento positivo para comba ter à pobreza, proteger o meio ambiente, melhorar a qualida de da vida e tornar mulheres e jovens economicamente au tónomos e protagonistas, além de contribuir com as suas três dimensões, particularmente nos países em desenvolvimento”. Neste sentido, são promovidas a sustentabilidade “ecológica”, que procura não alterar os ecossistemas, a “social”, que pros pera em harmonia com a comunidade que a acolhe; e a “eco nómica”, que dá impulso a um crescimento inclusivo. A cultura não se prende apenas com as actividades de uma elite, seleccionada e educada para formular juízos estéticos a respeito do sistema de valores, tradições e modos de vida de uma comunidade específica. A cultura é também a vida e os interesses das pessoas comuns. A cultura é não apenas o passado e a tradição (história e património), assim como as expressões criativas (obras de arte, performances), mas tam bém os modos de vida das pessoas, os seus hábitos e costumes. Esta tendência das políticas económicas sustentáveis, articula -se com o desenvolvimento de uma sociedade orientada para a prestação de serviços avançados, em que as tecnologias de comunicação e informação (TIC) desempenham um papel fundamental. É, de facto, através das TIC que os destinos mais remotos podem tornar-se acessíveis. E ao facultarem espaços virtuais, que podem ser consultados previamente, as TIC po dem até concorrer para criar novas oportunidades de atrac ção de turistas a áreas periféricas ou longínquas. Esta solidariedade manifesta-se, em primeiro lugar, no res peito pela dignidade pessoal da população local, pela sua cul tura e pelos seus costumes, numa postura dialogante que visa promover o desenvolvimento integral de cada indivíduo. Na
(II)
viagem turística, esta atitude torna-se ainda mais exigente, porque é mais palpável a diversidade entre as civilizações, as culturas, as condições sociais e as religiões. O impacto das tecnologias de comunicação configura um aspec to a ter em conta nesta reflexão. Com efeito, as tecnologias de comunicação constituem o principal motor de incentivo ao pro cesso de co-criação entre públicos, tanto turistas como locais. O sector turístico tem, assim, a potencialidade de promover encontros entre comunidades locais e visitantes, como estra tégia para manter vivo o património material e imaterial. À medida que as práticas turísticas levam os povos a entrar em contacto uns com os outros e se estabelecem relações en tre as populações, logo emergem as questões da identidade e da alteridade. E as questões que se colocam são até que ponto os indivíduos que vivem nos lugares visitados pelos turistas são influenciados, nas suas práticas culturais e artísticas e nas representações que têm de si mesmos, pelas experiências que dos turistas? De que modo estes absorvem, transformam e in corporam o que vêem e experimentam? Quais os impactos culturais, sociais e económicos desta relação? Estudos realizados salientam a capacidade das populações lo cais, hoje compreendidas como sujeitos activos, que constroem representações da sua cultura para os turistas, baseadas nos seus próprios sistemas de referência, ou no modo como estes interpretam os desejos dos turistas, num contexto em que a relação entre o local e o global mudou radicalmente. Com efeito, sendo de complexidade crescente o mundo con temporâneo, o desenvolvimento do turismo e a proliferação de redes translocais e transnacionais ilustram uma nova rea lidade que impede o local de se cumprir num espaço confina do, mas ligado a outros espaços por inúmeras redes. Assim, o local é doravante dependente do mundo exterior. Que conse quências isto traz? Outro elemento de reflexão tem a ver com a forma como o turismo influencia o modo como o grupo re constrói a sua identidade e em que medida igualmente, pode ser utilizado para afirmar uma determinada pertença iden titária. Cabe-nos exaltar a ponte não utópica que a Cultura e o Turismo podem estabelecer para a paz e o desenvolvimento.
Com efeito, as tecnologias de informação e comunicação constituem o principal motor de incentivo ao processo de co-criação entre públicos, sejam eles turistas ou locais
OPINIÃO Dezembro 2018 12
Professor Narciso Matos • Reitor da Universidade Politécnica e membro do Conselho Editorial da E&M Aurélio Ginja • Mestre em Educação e docente na Universidade Politécnica
macro
a história completa do apagão. terá sido a primeira ou a última vez?
No dia 16 de Novembro, o sistema bancário estremeceu com o desligar da ficha do sistema gerido pela SIMO, e o dinheiro passou a estar mais longe. Agora, o futuro da rede interbancária pode estar comprometido
sexta feira, 16 de Novembro, logo cedo, pela manhã. A mensagem já circula nas redes sociais. “Não há dinheiro”, lê-se. E não havia mesmo. As caixas automáticas e os diversos pontos de pagamento de car tões ‘secaram’, e com eles, o acesso direc to às contas bancárias de cerca de 3,5 mi lhões de cidadãos e empresas nacionais. O ‘apagão’ aconteceu sem aviso prévio aos utentes e de forma completamente inesperada para todos... ou quase. E assim, os dias seguintes viriam a mos trar isso mesmo. Que afinal, de inespe rado esta situação não teve assim tanto. E passariam vários dias até o sistema voltar a funcionar em pleno, na quarta -feira seguinte, dia 21 de Novembro, o cul minar de uma semana cheia de história.
30milhões de meticais
O prejuízO directO dOs bancOs durante Os seis dias que durOu O ‘apagãO’ da rede interbancária. Mas O custO tOtal seria cOnsideravelMente MaiOr e afectaria tOda a ecOnOMia
a rede interbancária
A ideia de criar a Sociedade Interbancá ria de Moçambique, hoje uma empresa participada pelo Banco de Moçambique (BM) em 51% e pelos bancos comerciais em 49%, surgiu no final da década pas sada, como consequência do amadureci mento da economia e de um sistema fi nanceiro com duas dezenas de bancos.
A ideia é simples: criar uma entidade responsável por um ‘ecossistema’ ban cário que unifique o acesso através dos terminais ATM (“automated teller ma chines”) e POS (“points of sale”), com van tagens óbvias ao nível da facilida de de acesso aos serviços disponíveis e da redução dos custos por operação, É essa a matriz inicial da Interbancos,
Dezembro 2018 14
extinta formalmente há cerca de dois meses, para dar lugar à SIMO, a Socie dade Interbancária de Moçambique. Com o tempo, todos os operadores (com excepção do Millennium bim) acabaram por aderir ao sistema desenhado pela Bizfirst (Business First Consulting S.A.), a provedora do software utilizado na rede interbancária. A tecnológica portuguesa é, ao contrário do que se diria mais tar de, responsável pela rede interbancá ria de Cabo Verde, por exemplo, e tem vários clientes em Angola e em outros pontos do globo.
O resto é história, já se sabe. Na transição da Interbancos para a SIMO, os contratos previamente existentes não foram ac tualizados e a licença para utilização do sistema nunca foi renovada em nome da nova entidade que o geria, a SIMO.
A esse respeito, com o decorrer dos dias o tom das acusações aumentou de parte a parte. Primeiro, foi a PCA da Socieda de Interbancária, Gertrudes Tovela, que, ao terceiro dia do apagão, num domingo, dizia que “a SIMO pagou tudo o que esta va previsto no contrato para poder usar a aplicação”, e acrescentava não ter dú vidas sobre “a ausência de qualquer dí vida quanto ao direito de utilização do software.”
No próprio dia, o comunicado da Bizfirst, desmentia esta versão, lamentando “a indesejada situação” e assegurando “não ter qualquer responsabilidade no ocor rido, bem pelo contrário, pois tudo fez, em mais de dois anos, para evitar o ac tual ‘status quo’, única e lamentavelmen te imputável às entidades competentes.”
Mais horas passariam até Rogério Zan damela falar de “ataque cibernético nu clear”, expressão que redundava na inflexibilidade total para “reatar con versações com a empresa fornecedora do serviço”, posição assumida em plena Assembleia Nacional.
Só que, por esta altura, o problema já lhe tinha “fugido” das mãos, diz-nos uma fon te ligada ao processo.
algo nunca visto
À margem de tudo isto ficaram os clien tes do Milenium bim, que nunca che gou a aderir à rede interbancária ge rida pela SIMO (da qual é, no entanto, um dos accionistas), e manteve sempre a sua própria rede, fornecida pela Euno net, uma multinacional que já havia con corrido (e perdido devido ao ‘factor pre ço’), em 2010, o concurso público então lançado para desenhar a solução tecno lógica que viria, à época, a ser atribuí
Através da Associação Moçambicana de Bancos, Paulo Sousa, o PCE do BCI (e antigo PCA da Interbancos, que precedeu à SIMO) terá assumido a dianteira do processo e negociado, com o aval do poder político, directamente com a Bizfirst
da à SIBS, por 10 milhões de euros. Mas era esta a solução de Zandamela para resolver o problema criado pela SIMO. E assumiu-o publicamente na mesma sessão parlamentar, revelando que até “já estaria a caminho” uma equipa da Euronet para implementar um novo sistema interbancário.
No entanto, de acordo com João Gaspar, um dos engenheiros que chegou a Mo çambique no início da década, para im plementar o sistema que hoje conhe cemos, “esta solução poderia levar, no mínimo, dois meses. E o mais natu ral, seria que se arrastasse por meio ano ou até mais, o que teria custos bru tais para a economia e graves efeitos ao nível do crescimento do PIB previsto para o próximo ano. Seria insustentável para a economia nacional ter milhões de pessoas sem poderem transaccionar capitais”, diz à E&M.
Assim, no mesmo dia em que Zandame la falava no Parlamento, os bancos (que perdiam diariamente cerca de 5 mi lhões de meticais de forma directa e um valor substancialmente superior em custos indirectos), já para não falar da fuga de clientes para o bim, faziam um forcing junto do primeiro-ministro, Car los Agostinho do Rosário, para poderem assumir o problema (a dívida), e reatar a normalidade das suas operações. Ao que se sabe, o PM terá dado o seu aval posi tivo, e foi desta forma que o problema se começou a resolver.
Através da Associação Moçambica na de Bancos, Paulo Sousa, o PCE do BCI, (e ex PCA da Interbancos que precedeu a SIMO) assumiu a dianteira do proces so e terá sido ele próprio a encetar ne gociações com a tecnológica portuguesa, alcançando já na madrugada de quarta -feira um princípio de acordo.
O contrato de fornecimento de serviço da Bizfirst passou para os 3 milhões de euros (quando o montante inicial de ne gociação era de 5 milhões de euros), e foi fixado um fee anual de manutenção de 500 mil euros, também abaixo do inicial mente estipulado.
Rogério Zandamela, em Tete, diria entao que teria sido “impossível a qualquer fornecedor reactivar os sistemas sem a colaboração do Banco Central”. E falava de um trabalho “intenso de todos para que isso acontecesse”. No entanto, junto da banca, estas afirmações não terão caí do bem. E ao mesmo tempo, o Governador do BM dizia que mesmo assim, “nem to dos os bancos” estariam alinhados com a solução daquele provedor e que estaria
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que durou a “crise” cerca de 3,6 mil mi lhões de meticais deixaram de ser movi mentados e os rácios de operabilidade dos bancos foram severamente afectados. Este, é o primeiro custo directo. Depois, a indisponibilidade dos meios electrónicos de pagamento afectou, e de que manei ra, os negócios de muitas empresas cuja facturação terá caído entre os 70% e os 90% no retalho, e nos estabelecimentos hoteleiros e de restauração.
Para o sistema bancário o prejuízo diá rio estimado terá sido de aproximada mente 5 milhões de meticais por dia, 30 milhões ao longo dos seis dias.
Depois, muitas empresas tiveram de re programar as suas actividades (os ban cos estenderam o período de funciona mento, por exemplo), e todo o retalho sentiu drasticamente o impacto nos flu xos de caixa. Quanto aos custos indirec tos, a redução da produtividade nas em presas, principalmente as que registam o pico de procura no fim-de-semana, e a quebra de confiança entre os clientes e os provedores de serviços são os mais preocupantes.
“Rede serve para impulsionar a bancarização da economia e a massificação da utilização dos instrumentos financeiros. Foi um grande passo, mas o processo deveria ter sido mais sério”
“a trabalhar juntamente com os bancos comerciais para procurar um provedor que não demonstre vulnerabilidades, nem apresente risco e precariedades tal como ocorreu com a Bizfirst”, disse. O problema resolveu-se, é certo. Mas, as posições da SIMO e da Bizfirst não se aproximaram, tal como também aumen tou a distância entre os bancos e o BM. E há até, ao que apurámos, uma indicação expressa no memorando de entendimen to assinado entre a AMB e a Bizfirst em que esta se nega a trabalhar sob a alça da da SIMO, tutelada belo Banco Central. A rede interbancária partiu de uma boa ideia inicial. Celeste Banze, do CIP, admite isso mesmo, “porque servia para impul sionar a bancarização da economia e a massificação da utilização dos instrumen tos de pagamento electrónico alternati vos ao numerário. Foi um grande passo para o alcance da inclusão financeira. Mas o processo poderia ter sido trata do de forma mais séria e rigorosa”, diz.
A verdade é que, de acordo com as vá rias fontes que a E&M ouviu junto da banca, a desconfiança está instalada. Claro que a mão pesada do Banco Cen tral junto dos maiores bancos ao nível das multas que têm sido ‘passadas’ ao sector financeiro não ajudou em nada a moderar o clima de crispação e descon fiança mútua que se tem vindo a agu dizar no último ano e meio. E claro que também não terá contribuído o facto de a banca já saber que, de há meses a esta parte, o BM tem procurado alter nativas à Bizfirst e que a Euronet se ria uma das opções em cima da mesa. A verdade é que a situação se resolveu, pelo menos por um ano.
Quanto custou ‘o apagão’ Em Moçambique, registam-se em média, diariamente, 465 mil transacções a nível doméstico e 14 mil a nível externo, num movimento aproximado de 600 milhões de meticais. Ou seja, ao longo dos 6 dias
o fim da rede? É este, de resto, o menos quantificável de todos os custos, não sendo difícil de pre ver que seja também o mais avassala dor para a credibilidade do sistema fi nanceiro, com sérios riscos de minar todos os esforços de inclusão financeira. “O projecto da rede interbancária foi im plodido e tenho sérias dúvidas que se venha a reerguer, tal como estava ini cialmente pensado. Os bancos perde ram a confiança em quem gere o sis tema e quem o faz, perdeu o apoio dos seus actores principais. Penso que es tamos em risco de evoluir novamen te para um sistema em que cada ban co terá a sua rede própria”, diz-nos uma fonte que lidou de perto com o processo. O que pode vir a ser implementado em Moçambique é um sistema em que a in teroperabilidade entre operadores de banca é mais efectiva. Uma tendência vista até em mercados financeiros mais evoluídos, que estarão a seguir neste sentido, muito ‘por culpa’ das novas solu ções ‘propostas’ pelas operadoras de car teira móvel, apostando cada vez mais na interoperabilidade, por forma a aco modar as necessidades dos utentes das várias plataformas bancárias.
gArrido
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texto Armindo mAnguAne fotografia JAy
Banco Central está no centro de uma questão essencial: Como pode o sistema recuperar a confiança?
cowork e Business centres, quando o Barato sai mesmo mais… Barato
O mercado dos escritórios partilhados é a prova viva de como um conjunto de problemas, como a redução dos preços do imobiliário, o abrandamento económico e a diminuição do poder de compra podem ser oportunidades
o crescimento do sector dos serviços trouxe, inevitavelmente, novos desen volvimentos ao nível da oferta, claro. E o conceito mais tradicional do que é um escritório também sofreu alterações. O espaço físico reduziu-se na medida em que a importância do digital aumentou e, com ele, diminuíram também os custos e cresceu a interactividade entre opera dores de diferentes ramos. Há muitos exemplos que demonstram que as crises inspiram, de facto, a criati vidade. E o segmento dos escritórios é um exemplo vivo dessa realidade, em que o
60%
presença num business centre permite, em média, uma poupança considerável às empresas ao nível dos custos operacionais
abrandamento económico levou gran de parte das empresas, especialmente PME, a ter de cortar nos custos, nomea damente das suas operações (renda, energia, limpeza e logística de escritó rio), o que acabou por se revelar uma oportunidade interessante para o sur gimento de uma série de espaços de cowork (espaço partilhado) e business centres (salas dedicadas) no mercado nacional, que floresceram pelo simples facto de permitirem uma poupança de custos operacionais entre os 50% e os 60%. Esta é uma realidade não apenas
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macro
nacional, mas que representa uma tendência global com especial incidên cia em África. Segundo dados de 2017 da organização Coworking Africa, no espaço de uma década surgiram, no con tinente africano, mais de 250 espaços de coworking sendo que 80% deles abriram nos últimos três anos. O Egipto é actual mente o país com o maior número destes espaços (76), sendo um dos mais recentes (“The District”) no Cairo, frequentemente citado como “um modelo de excelência a nível internacional.” Como seria de espe rar, a África do Sul ocupa também um lugar no topo desta lista, com 67 espaços de coworking sendo que, mais de meta de, estão situados em Capetown. Outro mercado onde se tem verificado um surto deste novo tipo de espaços de trabalho partilhado é a Nigéria. Só nos últimos meses, novos empreendimen tos como o Lagos Cowork, o Redahalia Workspace e o Leadspace abriram por tas para concorrer com aquele que, até agora, tinha uma posição dominante, o Co-Creation Hub.
Para lá de África, o Brasil é um dos paí ses que assume a dianteira e, em 2017, haviam ali registados cerca de 810 espa ços, segundo um estudo feito pela Global Market Perspective que evidenciava um crescimento de 114% em relação ao ano de 2016. Em alguns dos princi pais mercados imobiliários globais, como Londres, Nova Iorque e Chicago, estes espaços estão a crescer 20%. Segundo o mesmo estudo estima-se que existam hoje, em todo o mundo, mais de 13 mil es paços de trabalho compartilhados. Em Moçambique, embora seja difícil fa zer as contas a quanto representa este segmento de mercado, uma coisa é cer ta: o ritmo de abertura de novos espaços não deixa de relevar quão promissor ele é, mesmo apesar dos seus principais players se mostrarem ainda cautelosos quanto ao seu real valor e tendência de crescimento. “É uma nova fase que ain da estamos a experimentar, de certa forma, com um pouco de receio, porque basicamente, surgiu muito recentemen te”, explica à E&M Celso Cossa, da Regus Moçambique.
os novos players de um novo mercado A Regus é uma multinacional que ac tua em mais de 120 países de todo o mundo e que opera no mercado mo çambicano, onde detém três business centres, há já vários anos. “Esta tendên cia no segmento de escritórios surgiu da necessidade da busca de profissiona
Os preçOs dO mercadO
A E&M foi visitar alguns dos escritórios partilhados do mercado e mostra-lhe os preços praticados
Preços mensais por pessoa ou secretária, em meticais
3 650
Cowork Lab Regus Moçambique
12 000 12 000 5 280 Maffura Business Office
Iber Office Business Center
31,7
dólares por metro quadrado Preços do mercado dos escritórios são inacessíveis à maioria das PME que têm migrado para espaços partilhados. Por isso, os cerca de 200 mil metros quadrados de escritórios existentes em Maputo, têm uma taxa de ocupação estimada em apenas 50%.
fonte Rec; emPResas
lização dos empreendedores nacionais e da obrigatoriedade de tornar os seus projectos credíveis e mais eficientes. O conceito do empreendedorismo é novo no país, mas está a ganhar expressão. Aliado a essa tendência, os serviços de coworking são cada vez mais apelativos para quem, anteriormente, trabalhava a partir de casa”, assinala. Perfilhando a mesma posição, Pedro Ferreira, gestor da Cowork Lab Moçam bique, uma empresa que também tem crescido nos últimos meses ao nível da oferta de espaços na cidade de Mapu to tendo já cinco centros de escritórios na capital, explica que foi o empreen dedorismo a chave mestra para o crescimento do negócio. ”Quando enve redámos por este segmento, foi mesmo para sermos uma solução para esses profissionais e PME. Os nossos business centres surgiram pela necessidade de criar uma espécie de solução ideal pa ra o momento económico actual em que cada vez mais empresas pretendem re duzir os seus custos operacionais.”
Paga pouco pelo muito que usa Há vários tipos e formas de funciona mento deste tipo de escritório partilhado, assim como há igualmente diferentes seg mentos. Existem nestes business centres espaços de escritórios independentes e outros que funcionam em regime de coworking (muitos deles enquadrados também em business centres que pro porcionam ambas as soluções, de acordo com o critério e necessidades do cliente), em que a empresa paga uma renda por posto de trabalho, mesa ocupada ou es critório próprio, mas em que a alocação de equipamentos de escritório, serviços administrativos ou escritórios virtuais (para empresas não domiciliadas no país, por exemplo), ficam a cargo da gestão do business centre e são incluídos nos vá rios pacotes de renda disponibilizados. Irene Piñera, gestora da Iber Office Bu siness Center, empresa que entrou há poucos meses no mercado, não hesita em afirmar que, “o negócio está a crescer uma vez que estes espaços permitem que as empresas estejam 100% focadas no seu negócio, e num único pacote pos sam ter todos os serviços necessários ao seu funcionamento.” E a gestora não vê esta tendência a recuar, pelo contrá rio: ”Existe uma perspectiva moderada de crescimento porque os moçambica nos são empreendedores por natureza e com a melhoria do desempenho eco nómico do país, este segmento tenderá a sofrer mais procura.”
Pme e não só Mas não são só os pequenos empreende dores que procuram este tipo de solução. Embora, de acordo com o que a E&M apurou, micro e PME (até 5 trabalhado res) sejam responsáveis por cerca de 90% de ocupação destes espaços, exis tem também profissionais que visitam o país em deslocações de curta duração e que ali encontram o local ideal para se diar temporariamente a sua actividade, mas também empresas de consultoria, instituições financeiras e até grandes corporações têm optado por business centres e espaços de cowork.
Inovação, competitividade, flexibilidade e redução de custos são palavras caras no meio empresarial e quando se trata de tornar barata a despesa mensal, ne nhuma empresa fica indiferente. “Hoje em dia, as pessoas falam de bu siness centres e de coworking em Moçambique mas, há seis anos, o merca do era pouco conhecido, e ninguém sabia nada sobre ele”, considera o empresário
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Pedro Ferreira que viu neste, um bom ni cho para fazer crescer um bom negócio. Dados apurados pela E&M, e também confirmados por muitos dos operadores do mercado, indicam que se há seis anos existiam nas cidades de Maputo e Mato la apenas três espaços compartilhados, hoje, esse número aumentou considera velmente e existirão perto de 20 espaços do género, um número pouco exacto, uma vez que não existe uma entidade reguladora do mercado que possa facul tar o registo de dados estatísticos com maior acuidade.
Existem várias razões para que se tives se formado um ‘ecossistema’ ideal para este negócio, quer para os operadores como para os clientes. Se para muitas PME, por um lado, o elevado peço por me tro quadrado de escritórios na cidade de Maputo tornava inviável a contratuali zação de espaço próprio (ao que teria de associar todos os custos operacionais), já do lado dos operadores, o crescimento de uma lógica em que o empreendedorismo começou a ganhar espaço na economia (ainda que pequeno), aliado à redução de quadros de muitas empresas e à bai xa de preços do mercado imobiliário (visível na quebra dos valores das ren
é número de business centres que existem só nas cidades de maputo e matola. Há seis anos, eram apenas três
das de imóveis de habitação em muitos casos a rondar os 50% (de acordo com um estudo da consultora REC), fez com que es tes espaços pudessem ser rentabilizados por este novo segmento que surge como resposta perfeita (e mais em conta) às necessidades de uma procura crescente.
Proximidade é uma vantagem Outra das grandes vantagens da par tilha de escritório é a proximidade, que potencia a troca de serviços complemen tares entre empresas ou profissionais de diferentes ramos de actividade. De acordo com os operadores, criam-se ali “verdadeiras redes de networking e que de facto potenciam a concretização de negócios.” Danilo Mohamed, gestor do Mafurra Business Office, acentua esse “acréscimo de competitividade das empresas ou empreendedores que par tilham o mesmo espaço porque se gera a interacção e a troca de experiências en tre empresas e isso é fundamental para que possam trabalhar juntas e fornecer melhores serviços aos seus clientes.”
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langa fotogrAfiA d.r. macro
tExto Hermenegildo
celso cossa, no escritório da regus moçambique, no millennium park, em maputo. Uma das empresas líderes deste segmento no país
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Números em conta
Tempo de férias, e (porque não?) de escolher o próximo desTino de Trabalho
o tempo das férias, da praia e do descanso é, muitas vezes, aproveitado por inúmeros profissionais para planear os passos se guintes da sua carreira desafios. Mudar de empresa, área profissional ou de país até, migrando em busca de novos caminhos pro fissionais, condições salariais mais atraentes e diferentes estímulos pessoais. Claro que factores como a estabilidade social, política e macroeconómica são factos importantes a ter em conta, bem como a segurança, o nível do custo de vida, o crescimento económico do mercado e a taxa inflação, ou o regime de tributação e os benefícios do pacote salarial, entre tantos outros. A E&M, foca-se num dos decision makers: o salário. E revelamos onde se ganha mais, e onde é melhor para viver. E nem sempre, como é o caso, ambos coinci dem no lugar.
no mundo...
Estudo global da HSBC mostra que trabalhar no estrangeiro aumenta o rendimento médio anual do trabalhador em 21 000 dólares
1ª Zâmbia
17 784 $
A Zâmbia é o destino mais atraente para profissionais que procuram um lugar para encontrar empregos bem remunerados em África. O país testemunhou um crescimento médio anual de 7,3% desde o início do século e o PIB per capita subiu 4,3%. Apesar da desaceleração económica registada nos últimos três anos, o salário mensal médio líquido na Zâmbia é de 1 482 dólares por mês. As carreiras mais bem pagas na Zâmbia são: gestão (1 925 dólares), banca (1 350 dólares), assistência médica (1 310 dólares) e ONG (1 250 dólares), em média.
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2ª estados unidos 185,2
155 emirados árabes unidos 185,2 estados unidos 131,8 índia 178,7 hong kong 128 indonesia 172,7 china 127,4 japão 162,2 singapura 125,8 austrália
Em milhares de dólares por ano 202,9 suíça
2ª África do sul 15 240 $
É, como se sabe, uma das econo mias mais vibrantes do continente e por isso um importante cen tro para profissionais de todo o mundo. Com uma média mensal de salário líquido a rondar os 1 270 dólares por mês, as profissões mais bem pagas são as relaciona das com engenharia de software, arquitectura e as da área do oil and gas que podem facilmente chegar aos 5 000 dólares por mês, gestores de TI (3 600 dólares) e controladores de tráfego aéreo (3 500 dólares por mês).
As conclusões de um estudo global de 2018 do Banco HSBC so bre os melhores destinos do mundo para viver e trabalhar mostra que na Suíça, famosa pelas montanhas, bancos, chocolates mas também pelos preços elevados, o aumento anual de rendimentos face ao an terior posto de trabalho chegou em média aos 61 000 dólares. Mas, ainda assim, há outros factores relevantes na escolha do melhor destino (rácio entre salário, custo de vida, inflação) e nesse aspecto, Singapura, o quinto mercado com os melhores salários para expatria dos é, no entanto, e pelo quarto ano consecutivo, o melhor lugar do mundo para se estar.
sinGapura o lugar para se estar .. e em África
Continente está longe dos lugares cimeiros deste ranking mas, ainda assim, há mercados atraentes
3ª namíbia 9 036 $
A economia namibiana dependa extração e processamento de minerais (está entre os 5 maiores produtores mundiais de urânio). Com um crescimento económico médio na casa dos 5% nos últimos anos, o salário líquido médio na Namíbia é de 753 dólares por mês. E também ali, uma das indústrias mais que melhor remunera é a da aviação (gestores auferem em média 2 972 dólares por mês), enquanto pilotos e capitães podem chegar aos 6 700 dólares por mês.
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1ª suíça 202,9 3ª hong Kong 178,7 4ª china 172,7
FONTE
survey 5ª singapura 162,2
Valores em milhares de dólares por ano de 12 meses
HSBC Expat Explorer
Selo sem sê-lo, eis a questão
Hugo Gomes • Administrador da Cervejas de Moçambique
no ano de 2017, por decisão governamental, foi iniciado o processo de selagem das bebidas alcoólicas (cervejas, RTD´s, vinhos e espirituosas), cujo objectivo principal passa por com bater a evasão fiscal e garantir receitas para o Estado.
O que à partida parece ser uma medida consensual e com grandes benefícios para todos, deixa de o ser quando nos de dicamos a compreender as especificidades de cada indústria e como o processo da selagem apresenta diferentes contor nos para as cervejas e bebidas tipo RTD´s (bebidas alcoólicas prontas a consumir) em contraposição aos vinhos e bebidas espirituosas por exemplo.
Vamos por isso, compreender de forma objectiva a realidade, colocando algumas questões que necessitam de urgente re flexão: custo dos selos e preço de venda; o índice de evasão fiscal que, no subsector nas cervejas, é muito baixo (falamos de menos de 1%), se comparado com as bebidas espirituosas e vinhos, que ultrapassa os 60%, uma diferença demasiado sig nificativa para ser ignorada.
A cerveja é uma bebida de massas, logo, milhões de garrafas e latas são produzidas anualmente.
Os custos de adaptação da maquinaria presentemente exis tente e os custos de aquisição dos selos em si, representariam um enorme encargo financeiro para as empresas deste sector. Não podemos esquecer que falamos de produtos que são ven didos ao público por relativo baixo preço.
Primeira pergunta: haverá pertinência e terão as empresas deste subsector viabilidade para investirem nos selos, quando a taxa de evasão fiscal neste sector é quase inexistente?
No que diz respeito à quebra de produtividade e receitas há também grandes diferenças no que diz respeito ao enchimen to e embalamento das garrafas de vinho, espirituosas e das cervejas: em média, a velocidade das máquinas de enchimento das cervejas, varia entre os 40 000 e 90 000 unidades por hora. Com a aplicação dos selos, assistiremos muito naturalmente a uma redução do volume de produção na ordem dos 40%.
Consequências?
Um previsível sub-abastecimento do mercado, menos produ to disponível, menos vendas e daí uma redução do contributo fiscal, social e económico das empresas.
Segunda pergunta: Não estamos desta forma a contrariar aque le que é o propósito maior do projecto da selagem de bebidas alcoólicas? Após a apresentação dos dois primeiros argumen tos, será fácil de compreender que também os consumidores serão afectados.
Porquê? O elevado custo da operação e o investimen to das empresas nos selos irá forçá-las a repassar es te custo para o consumidor, incrementando o preço da cerveja, o que tradicionalmente gera uma redução do volume de vendas.
São consequências que a Indústria já conhece bem e que po dem levar à reestruturação do modelo de funcionamento das empresas, com o desemprego como uma das consequências. A Diageo e a própria CDM (com as unidades de vinho e espiri tuosas) já passaram por este processo e o mesmo é sobejamen te conhecido das autoridades locais.
O que à partida parece ser uma medida consensual e com grandes benefícios para todos, deixa de o ser quando nos dedicamos a compreender as especificidades de cada indústria e como o processo da selagem apresenta diferentes contornos para as cervejas e outras bebidas
OPINIÃO Dezembro 2018 24
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medicamentos
Nação
O preçO da saúde… e da vida
De onde vêm os medicamentos falsos e de baixa qualidade? Como entram em Moçambique e quem os vende? E como distinguir os contrafeitos dos genuínos? Ninguém consegue responder com precisão a estas questões que, parecendo meramente sociais, têm sérios impactos económicos. Sem capacidade para certificar a sua qualidade, nem para fiscalizar o que está no mercado, Moçambique vai engrossando as estatísticas mais assustadoras: 43% de todos os medicamentos reportados como “falsos ou de qualidade inferior” estão em África e são responsáveis por 100 mil mortes todos os anos
tornou-se comum, na sociedade mo çambicana, alguém que padece de uma enfermidade deparar-se com pelo me nos três realidades indesejáveis: não ter acesso aos medicamentos prescritos pelo médico; não poder comprá-los por serem caros; e ter de tomar medicamentos ba ratos... e continuar doente.
Não há qualquer estudo que já tenha sido realizado ou tornado público sobre o que se passa no mercado de medica mentos em Moçambique, mas o contacto com entidades do sector permite abrir caminhos que podem ajudar a entender o complexo corredor por onde este mer cado se move.
Como se sabe, em Moçambique, é o Estado quem suporta a quase totalidade da fac tura em medicamentos para os cidadãos. No sistema de saúde pública, a prescrição médica de três a quatro medicamentos
43%
A estAtísticA é dA OrgAnizAçãO MundiAl de sAúde e revelA que quAse MetAde de tOdOs Os MedicAMentOs fAlsOs Ou cOntrAfeitOs nO MundO, sãO AdMinistrAdOs A dOentes eM ÁfricA
custa cinco meticais, um valor que, sem essa subsidiação, não chegaria para ad quirir os medicamentos receitados. E é assim que chegamos à primeira e mais crua realidade: como Moçambi que não tem a capacidade financeira de outros países mais desenvolvidos para importar medicamentos de melhor qualidade para toda a população – que serão os fornecidos pelos grandes labo ratórios mundiais – o primeiro critério dos concursos públicos para contratar fornecedores de medicamentos em nú mero suficiente é o do preço mais baixo das propostas. E este é, de acordo com os operadores do mercado dos fárma cos no país, o primeiro factor que abre um espaço indesejado para a circulação de muitos medicamentos de baixa qua lidade no país, muitos deles falsificados, até em relação aos princípios activos,
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e aos benefícios que anunciam conter. Liliana Proença, country manager do gru po farmacêutico português Bluepharma, considera que o problema de encomen dar medicamentos mais baratos está “na elevada exposição ao risco de ter um mercado cada vez mais infestado de produtos de pouca qualidade, que ge ralmente são de muito baixo custo, pelo que o preço também deve ser tomado como factor de desconfiança”, explica. “A contrafacção e a entrada de medi camentos sem qualidade existem em Moçambique como noutros países, in cluindo os não africanos, mas a verdade é que os estudos comprovam a elevada incidência que existe em África a este nível”, revela a gestora, que coloca a tó nica no controlo de qualidade que deve existir no mercado: “o preço baixo, por si só, não é suficiente para se concluir que se está diante de um medicamento con trafeito, uma vez que existem produtos baratos, mas de boa qualidade”, suge rindo o aprimoramento da capacidade de testagem dos medicamentos que são comercializados no mercado. Vários são os operadores (laboratórios e operado res) contactados pela E&M que o suge rem, de igual forma, mas já lá vamos.
“A contrafacção e a entrada de medicamentos sem qualidade existem em Moçambique como noutros países, incluindo os não africanos, mas a verdade é que os estudos comprovam a elevada incidência que existe em África a este nível”
Para Liliana Proença, a falsificação de medicamentos atrapalha o negócio da Bluepharma em Moçambique, mas co loca a probreza como o principal pivô. “A maioria da população não tem poder de compra para adquirir produtos de qualidade e acontece que entram me dicamentos que custam cinco meticais, que estão mais acessíveis à população, enquanto que os que nós, e outros labo ratórios grandes a nível mundial, dispo nibilizamos podem custar 100, 200, 1 000 meticais ou mais”, constata.
Concordando com esta ideia, Jorge Ri beiro, director-geral da Medimport, a primeira companhia importadora de medicamentos do país, apresenta uma sugestão: perante a incapacidade do Es tado em buscar o melhor que existe das indústrias farmacêuticas, há um pon to de equilíbrio que poderia ser válido para ajudar a conseguir melhores resul tado com menos recursos: “Muitos países optaram por não adjudicar os contratos de compra de medicamentos a valores mais baixos.” E até dá um exemplo: “ha vendo dez empresas a fornecer a preços diferentes, estes países compram o que esteja próximo do preço mais baixo, por suspeitarem que o menor custo pode
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medicamentos
Nação
Mão cheia de nada. São inúmeros os casos de doentes que compram medicamentos baratos, mas cujo efeito é completamente nulo. E isso tem várias causas
o mercado dos medicamentos
Vários estudos têm sido publicados com informações sobre a indústria farmacêutica. no entanto, em muitos países em desenvolvimento não existe informação precisa sobre o que se passa. apesar de tudo, a organização mundial de saúde (oms), as nações Unidas ou o Fórum económico mundial, conseguem disponibilizar dados que permitem olhar a verdade dos vários mercados de medicamentos do continente africano. Recorrendo aos resultados, procuramos responder às questões que eles levantam.
30 500 000 000 100 000 10,5%
de dólares Volume de negócios anual de medicamentos falsificados em África estimado pelas nações Unidas, em novembro de 2017.
mortes de africanos por tomarem medicamentos falsificados, anualmente.
contrafeitos ou seja, um em cada dez medicamentos em África é falso.
42%
das denúncias de medicamentos falsos no mundo e 11 dos 13 alertas emitidos pela oms provêm de África.
De onde vêm a maioria dos medicamentos que estão em Moçambique?
Quais são os medicamentos mais falsificados em África?
Anti-malária (como o Coartem) e antibióticos vários.
Qual o preço de uma receita médica em Moçambique no sector público?
... O que faz com que o critério para a importação de medicamentos no sector público seja...
O preço mais baixo.
Isso pode colocar em risco, a qualidade dos princípios activos do medicamento?
Ao nível do controlo de qualidade, quantos laboratórios existem em Moçambique para testes de medicamentos?
Índia (maior parte), China, Europa, África do Sul, Brasil. Apenas um.
Quanto tempo demora, em média, a sua certificação e aprovação de utilização por parte dos doentes?
1 7 8 4 5
6 2 3 9 10
Quantas empresas importadoras de medicamentos existem em Moçambique?
Pode levar meses, ou até mais, de acordo com várias fontes contactadas. Cinco meticais... Mais de 60.
Quem domina o mercado mundial de medicamentos?
Os EUA são o maior fabricante mundial.
Qual é o medicamento mais vendido em Moçambique?
De acordo com a OMS, sim. O Paracetamol.
Porque é que tudo isto acontece?
Os medicamentos de qualidade inferior ou falsificados aparecem sobretudo em locais onde há má governação ou falta de capacidade técnica. Esses factores afectam principalmente os países de baixo e médio rendimento, onde se incluem muitos países africanos Pernette Bourdillon, analista da OMS
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Nação
estar relacionado com lotes de medica mentos sem qualidade”, diz. Na sua opi nião, esta medida “não resolveria tudo”, mas garantiria “alguma qualidade nos produtos que se importam”, considera.
O barato sai caro… há erro de estratégia? Para facilitar a aquisição de medica mentos às populações mais pobres, o Es tado decidiu, em 2005, reduzir de cerca de 100 meticais para 5 meticais o custo da receita de medicamentos no Sistema Nacional de Saúde. A medida sempre foi criticada pelos farmacêuticos, que a consideraram como “uma das principais causas” da ineficiência dos serviços de saúde no país. “O custo dos medicamen to fornecidos é exageradamente baixo. A medida que se tomou há uns anos foi bem intencionada, mas não sei se será a mais indicada porque me parece difícil colocar uma receita médica de três ou quatro tipos de medicamento a cinco me ticais”, defende.
Liliana Proença, da Bluepharma, deixa pistas para uma possível solução: “O ca minho poderia ser a partilha de custos entre o Estado e as famílias, no sentido destas comparticiparem com uma per centagem razoável (maior que os ac tuais cinco meticais), e o Estado subsidiar a outra parte”. Este é, de resto, um mo delo aplicado com sucesso em Portugal e noutros países (e até em Moçambique, para quem tem seguro de saúde, por exemplo) em que as farmácias fazem descontos imediatos permitindo acesso ao medicamento mediante pagamen to de parte do custo da receita médica, recebendo depois o reembolso do rema nescente pelo Estado.
Controlo de qualidade, a maior das fragilidades Se foram as fragilidades financeiras do próprio sistema (algo que é comum a quase todos os países em desenvolvi mento) que tornaram norma corrente a entrada de medicamentos baratos no sistema de saúde pública, isso também aconteceu devido a uma outra questão – o deficiente controlo de qualidade das referências que entram no mercado.
Com quase 29 milhões de habitantes, Moçambique dispõe de apenas um la boratório público para testar e aprovar a qualidade dos medicamentos antes de entrarem no mercado, que é tutelado pelo Ministério da Saúde (MISAU).
A E&M foi a este laboratório na Cidade de Maputo e conversou com um técnico que preferiu o anonimato e exigiu bre vidade. Em cinco minutos de interacção,
Moçambique dispõe de apenas um laboratório público para testar e aprovar a qualidade dos medicamentos
“A falsificação de medicamentos é o mais rentável dos negócios ilícitos. Um investimento de mil dólares pode gerar até 500 mil dólares.” Num relatório de 2015, o Fórum Económico Mundial diz que África é o continente onde este fenómeno mais ocorre
revelou uma realidade preocupante: “não temos equipamentos suficientes para realizar testes de forma flexível. Algumas vezes ocorre que antes que lancemos os resultados da amostra, os medicamentos em causa já estejam a ser vendidos nas farmácias, porque levamos muito tempo para divulgar os resulta dos”, disse a fonte, que optou em remeter -nos à Direcção Nacional das Farmácias, a instituição que, até à data, não respon deu à solicitação de entrevista pela E&M. Sem isso, permanece a sensação sobre a incapacidade para testar tudo o que entra no país, e o perigo de não se sa ber bem se os medicamentos que se to mam, são verdadeiros, falsificados, ou só ineficazes. Com tudo o que isso implica.
Com a saúde não se brinca Pela dimensão das dificuldades no con trolo da qualidade, o Presidente da As sociação dos Farmacêuticos de Moçam bique (AFARMO), Lukusa Nkunda Lucien Pierre, defende uma “diminuição do papel social do Estado, para dar maior atenção aos medicamentos, procurando nos serviços farmacêuticos uma pre ciosa ajuda” para combater o problema, “Isso poderia reduzir gastos e atribuir maior atenção ao controlo da qualidade.” Paralelamente, sugere a colocação de laboratórios de controlo de qualida de também no Centro e Norte do país, numa primeira fase, mesmo que sejam laboratórios privados.” Ainda assim, e enquanto isso não acontece, prossegue,
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dezembro 2018 medicamentos
“o Ministério da Saúde deveria reforçar a inspecção de medicamentos nas far mácias onde, muitas vezes, estão medi camentos sul-africanos que geralmente resultam de uma importação informal, foram trazidos sem acondicionamento devido, não sabemos as validades, e que não pagaram os respectivos impostos. Isso tem custos também para o próprio Estado”, lamenta Jorge Ribeiro. Toda esta dinâmica, teve ainda um outro resultado: o desinteresse dos grandes laboratórios no país. Como? “Os grandes laboratórios têm cá um country mana ger que reporta constantemente que nas farmácias há medicamentos sul -africanos semelhantes aos dos seus la boratórios, mas ao questionarem as au toridades sobre isso, nada acontece. Por isso, e também pela dimensão reduzida do mercado, muitos deles, ou foram em bora, ou abandonaram os seus planos de investimento e crescimento para o país. O que é pena, porque estas grandes marcas globais, têm comprovadamente
uma enorme preocupação com a salva guarda da vigilância da qualidade dos seus produtos”, explica Jorge Ribeiro.
a lógica dos preços Liliana Proença explica que, “dentro da cadeia de criação de medicamentos existem os chamados originadores, que são os que descobrem novas moléculas e novos tratamentos (mais caros porque comportam todos os custos para os colo car no mercado num processo que passa por descobri-lo, desenvolvê-lo, testá-lo em humanos, assegurar a sua eficácia e segurança) e existem os genéricos, que surgem após os primeiros (que por norma são mais baratos).” Até aqui, ne nhum problema. A questão é que um ge nérico de origem europeia é, em média, mais caro do que o de origem indiana e chinesa, por exemplo, porque o medi camento europeu tem um controlo de qualidade rigorosíssimo e caro, feito na Europa onde as leis a este respeito são, de facto, muito restritivas. Já o mesmo não
“o mercado nacional é extremamente pequeno devido ao fraco poder de compra, não sendo, por isso, atractivo aos investimentos dos grandes laboratórios mundiais”, assim considera a Bluepharma. em angola, por exemplo, a empresa consegue facturar o triplo do que acontece em moçambique. mas admite que, para uma empresa média como a Bluepharma, “é importante estar em moçambique” apesar da pequena dimensão do sector, por ser um mercado adicional de venda dos seus lotes a par de outros mercados como o Brasil, Venezuela, correia, irão, entre outros. Por causa disso, de acordo com Jorge Ribeiro, “houve já vários laboratórios que investiram em moçambique e que acabaram por sair ao fim de dois ou três anos”. Para estes operadores, e apesar de o grande cliente ser o sector público, é o privado que assegura a garantia de continuidade, ou seja, os fornecedores orçamentam todas as actividades, incluindo os investimentos, com base nas receitas do sector privado.
acontece em relação a muitos medica mentos que não passam este circuito (Eu ropa ou Estados Unidos).”
Nestes casos, o teste de qualidade tem de ser feito no mercado de destino, e está aqui um dos pontos frágeis do sistema e a razão para os tais 42% de todos alertas sobre falsos medicamentos reportados à OMS anualmente, serem provenientes de África (principalmente na Subsaaria na onde as taxas em alguns países, como a Nigéria, chegam aos 70%), onde o risco de consumir medicamentos impróprios é de facto mais elevado, dadas as fragilidades da avaliação de qualidade já referidas. E é também por isso que, de acordo com o re latório ‘Sistema de Vigilância e Moninori zação Global da OMS para Produtos Médi cos de Qualidade Inferior e Falsificados’ de Novembro de 2017, morrem anualmente cerca de 100 mil pessoas em África.
A comercialização de medicamentos fal sos é, de há muito tempo a esta parte, um problema global, que sobrecarrega frequ entemente as capacidades de cada país.
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MOçaMbique, uM MerCadO “MuitO pequenO”
Ou seja, de acordo com a perita da OMS, Pernette Bourdillon Esteve (em decla rações à agência DW), “é preciso agir a todos os níveis.” No combate imediato aos medicamentos falsos, prossegue, é necessário educar as populações. “Primeiro que tudo, é preciso que as pes soas estejam informadas sobre os riscos de usar estes medicamentos. E os casos devem ser reportados às autoridades.”
equívocos sobre a indústria asiática Muitas vezes a Ásia (principalmente Ín dia e China) é conotada com a indústria que produz medicamentos de baixa qua lidade transaccionados, sobretudo em África, onde a capacidade de controlo de qualidade é menor e a pobreza possibili ta a comercialização a baixo custo. No entanto, é preciso cuidado para não cair no preconceito, advertem os espe cialistas na área. “A Índia, por exemplo, tem uma das melhores indústrias far macêuticas do mundo. Em termos tecno lógicos é um país avançado nesta área. E nos mercados mais desenvolvidos do mundo, como os Europeus, importam-se muitos medicamentos produzidos na Ín dia”, esclarece Liliana Proença. O posicionamento é partilhado pelo Di rector-geral da Medimport, que até im porta medicamentos daquela região do globo: “Há medicamentos indianos muito
Ao contrário do que acontece noutros mercados africanos, como em Angola, por exemplo (apontado com um mau exemplo a este nível), o de Moçambique “é extremamente regulado”, revelam especialistas à E&M
bons mas também há os muitos fracos. O que está a faltar, será uma fiscalização mais rigorosa”, defende Jorge Ribeiro.
Legislação, o melhor que temos Ao contrário do que acontece noutros mercados africanos, como em Angola, por exemplo (apontado com um mau exemplo neste aspecto), o de Moçambi que “é extremamente regulado”, reve lam especialistas consultados pela E&M. Aqui, as importações são sujeitas a um registo prévio, e é compilado um dossier de registo de todas as características de cada medicamento. Trata-se de um do cumento elaborado pelo laboratório que fabrica o produto e que, depois, é enviado para os importadores que o submetem ao Ministério da Saúde para aprovação. É este o factor que determina (ou não) a importação.
E os elogios à formulação do sistema, a este propósito, vêm de todo o lado. Se gundo o presidente da AFARMO, “para um medicamento circular em Moçambi que tem de ser registado, o que compro va que antes de tudo, entrou ao mercado com o conhecimento da Direcção Nacio nal das Farmácias (DNF) ao nível do pla no técnico-farmacêutico e da composição desse mesmo medicamento. Isso permi te, se o sistema funcionar devidamente, diminuir em 99% a contrafacção”, diz. No entanto, há uma falha a este respei to, tantas vezes encontrada entre a boa intenção das leis e a sua difícil aplicabili dade, assume Lukusa Nkunda: “as nossas fronteiras não têm farmacêuticos nem inspectores, daí que entrem produtos ilegais não controlados no mercado.”
Liliana Proença considera que, além do rigor com os dossiers de importação, é necessário reformar “o controlo de qua lidade das amostras que são enviadas ao laboratório nacional”, e “visitar periodi camente os distribuidores seleccionando aleatoriamente um conjunto de amos tras de produtos para serem analisados. É Isto pode prevenir casos em que a qua lidade da amostra enviada para o teste é diferente da qualidade (baixa) que é posta a circular”, defende.
Os medicamentos mais falsificados são, de acordo com o mesmo estudo da OMS do ano passado, usados no tratamento da malária e antibióticos diversos. E isso tem consequências graves (os tais 100 mil doentes que morrem anualmente de forma directa e indirecta, pelo uso de medicamentos com efeitos nefastos para a saúde, ou porque pura e simplesmente não curam as doenças para as quais es
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medicamentos
Nação
Solução inovadora: a mPedigree é uma aplicação que determina a qualidade de um medicamento de forma fácil
tão a ser utilizados). Até porque a malá ria já é curável há muito tempo, e a este nível, por exemplo, Moçambique con tinua a ser o país com a terceira maior percentagem (5%) de casos de malária no mundo e o oitavo onde a doença mais mata (3% do total de vítimas), de acordo com o relatório anual da OMS sobre a doença, divulgado há alguns meses.
tecnológica do Gana encontrou a solução Sendo este um problema de saúde púlica que afecta todo o continente, uma nova empresa ganesa encontrou uma solução que promete resolver grande parte do problema. Com sede em Accra, a mPe digree apresenta-se como “líder glo bal na utilização de tecnologias digitais para detectar produtos contrafeitos”. A apresentação, diz quase tudo. E assim, a empresa desenvolveu um sistema que ajuda as farmacêuticas a fabricar pro dutos à prova de falsificação, criando uma forma de também os pacientes con seguirem ter como distinguir os medica mentos falsos dos verdadeiros. Para isso,
Os medicamentos mais falsificados são, de acordo com o mesmo estudo da OMS do ano passado, os do tratamento da malária e antibióticos diversos. E isso tem consequências graves na saúde pública e no aumento das taxas de mortalidade
basta ter um telemóvel, explica o estra tega da mPedigree, Selorm Branttie. “O sistema é muito simples. As pessoas com pram um remédio, raspam um código na caixa, enviam-no para um número espe cífico via SMS e, entre cinco a sete segun dos, recebem uma confirmação sobre se o produto é falso ou verdadeiro”, afirma. Hoje, a empresa já opera em 12 países africanos e é uma poderosa ferramenta que até vai ao encontro de uma solução proposta num documento recente do Fó rum Económico Mundial, que abordava este problema, assumindo como “um erro grave enfrentar os desafios de saúde de alto impacto, como a prolifera ção de drogas falsas ou inferiores com incidência nas sociedades em desen volvimento, com as soluções dos países desenvolvidos”.
Há que procurar novos remédios, para no vos males. E verdadeiros, de preferência.
texto Celso Chambisso FotogRaFia stoCk Photos
Na voz de... Dezembro 2018 34 MedicaMentos
“Temos de rever as políTicas dos medicamenTos e das farmácias”
lukusa nkunda lucien pierre Presidente da Associação dos Famacêuticos de Moçambique
o profissional da farmácia é, por norma, o último con tacto com o paciente após o diagnóstico e atendimento médico. Mesmo que o médico faça um trabalho brilhante, se o farmacêutico não entre ga o medicamento correcto, no momento certo e nas doses apropriadas, todo o esforço é reduzido a zero.
Lukusa Nkunda Lucien Pier re, presidente da Associação dos Farmacêuticos de Mo çambique (FARMO) fala à E&M do papel do farmacêutico em toda a dinâmica da saúde e enumera preocupações a se rem analisadas, debatidas e corrigidas pelas autoridades e por toda a sociedade. Na visão deste farmacêutico de origem congolesa (Repú blica Democrática), “a prio rização do negócio em detri mento da saúde pública” por parte dos investidores nesta área tem implicações “nega tivas na qualidade dos ser viços prestados e prejudica o próprio Estado”. E isso tem efeitos visíveis na falta de medicamentos em número suficiente para as necessida des do país, muitos deles com baixos níveis de qualidade
devido à falta de certificação de qualidade, o que promove a existência de falsificações, um mal endémico do conti nente africano. Problemas estruturais que, de acordo com Nkunda, não “devem ser entendidos e mudados não só para lavar a imagem do far macêutico, mas para que o país tenha as condições ade quadas para prover serviços de saúde de qualidade.”
Quais são hoje as grandes preocupações da FARMO?
A associação nasceu em 2005 porque havia a necessida de de criar uma ordem dos farmacêuticos, mas não ha via um número suficiente de profissionais (na altura eram apenas 11 os farma cêuticos), e decidiu-se pela criação de uma associação profissional que defendesse os interesses da classe em busca da profissionalização. hoje, temos 100 membros ins critos, dos 580 farmacêuticos existentes em todo o país, e mantemos o objectivo de criar a Ordem dos Farmacêu ticos de Moçambique. será ela a chave para nos tor narmos mais actuantes nas
A cRiAçãO DA ORDEM DOs FARMAcêuticOs
DE MOçAMbiquE sERá A chAvE PARA NOs tORNARMOs MAis ActuANtEs NAs POLíticAs DE MEDicAMENtOs
A sEREM DEsENhADAs E iMPLEMENtADAs PELO GOvERNO
políticas de medicamentos desenhadas e implementa das pelo Governo. A falta de uma ordem leva a que não haja uniformidade no cur rículo formativo dos farma cêuticos (formados em cinco universidades do país), pelo que pretendemos que haja um modelo único de forma ção. E isto é essencial porque num país como Moçambique o papel do farmacêutico pode ser absolutamente decisivo na vida dos pacientes. Pode salvar vidas como também pode ser fatal e irreversível se prescreverem medica mentos errados.
Os farmacêuticos estão a ser formados com padrões de conhecimento diferen tes pelas instituições do país. Como avalia a compe tência técnica da classe, de uma forma genérica?
Em traços gerais, as universi dades conseguem transmitir conhecimento. Mas há uma base universal que tem de ser seguida, com disciplinas que devem ser obrigatórias, para que ao fim dos quatro ou cinco anos de formação o profissional tenha requisitos
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MuitOs DistRitOs sEM FARMáciA EM quE PARA ObtER uM
de qualidade internacionais que qualquer profissional que chega ao mercado deve preencher. são estes os re quisitos que não existem aqui. O farmacêutico tem de sa ber preparar medicamentos, mas, sem laboratórios ao ní vel do ensino, este profissio nal não chega a manipular um só medicamento. como tal, não é um verdadeiro farma cêutico. É isto que temos de mudar e tem de começar logo na universidade.
Não há então profissionais com a qualidade desejada? Penso que temos um défice de qualidade, isso é verdade. Para atenuar, enquando asso ciação profissional, tentamos acrescentar conhecimentos à formação que lhes foi dada através dos cursos de pós -graduação. temos de acom panhar a tendência do que se passa no mundo porque o far macêutico não servirá ape nas para entregar o medica
5milhões de meticais É, de acordo com o presidente da associação dos farmacêuticos, o valor mínimo para a criação de uma farmácia “em condições” que possa efectivamente ser fiável ao nível dos medicamentos que disponibiliza aos utentes
mento, mas deve integrar o corpo médico, formando uma equipa pluridisciplinar com melhor capacidade de aten dimento dos pacientes e que é composta por enfermeiro, médico e técnico de labora tório. O farmacêutico tem de começar a participar nos comités de terapêutica nos hospitais. Nós, farmacêuticos, temos de desenvolver a ca pacidade de perceber erros na combinação dos medica mentos nas receitas médicas, ligar para o clínico, rectificar e, com isso, podermos ser uma mais-valia para os doentes.
Quais são para si, os efeitos mais negativos de tudo isto? De facto, quem sofre não é só o doente, mas é o próprio Es tado quem perde, meios, di nheiro, e responsabilidades. Precisamos de farmacêuticos com habilitações de gestão de medicamentos, o que se conseguiria se o profissional tivesse bagagem de conheci
mentos suficiente para pres crever a medicação correcta e em doses apropriadas. hoje, isso não acontece, o que acaba por contribuir negativamen te para os elevados gastos de milhões de dólares que se fazem em medicamentos.
Cerca de 580 profissionais para uma população de 29 milhões de habitantes, portanto, um farmacêutico está para 50 mil habitan tes… É pouco não é?
Estamos, de facto, muito dis tantes do número ideal. A política adequada para lidar com este défice deveria pas sar por estender os serviços de farmácia às comunidades. há muitos distritos sem far mácia, em que para obter um simples Paracetamol, as pessoas são obrigadas a per correr longas distâncias até ao hospital. quanto a nós, esta situação que se repete por muitas zonas do país, repre senta um grave erro estru tural. Não é aceitável que só as cidades de Maputo e Ma tola tenham uma concentra ção incrível de farmácias e quando se chega a Namaacha ou Ressano Garcia, aqui bem perto, já não haja farmácias e se há, é apenas uma. temos de rever as nossas políticas de medicamentos, das farmá cias e de como estarem pre sentes para toda a população.
Como se pode fazer isso, ao nível dos meios, e com eficá cia, num território com a ex tensão do de Moçambique? bem, deveria ser um serviço complementar ao do Minis tério da saúde. A prioridade deveria passar por formar mos poucos técnicos, mas bem formados. E não a mera criação de muitos farmacêu ticos pouco habilitados que, no fundo, não conseguirão dar a resposta de que as popula ções carenciadas precisam. há uma enorme necessidade de medicamentos e o que de vemos pensar é em levá-los a essas pessoas. O Estado po
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há
siMPLEs PARAcEtAMOL tEM DE sE PERcORRER LONGAs DistâNciAs AtÉ AO hOsPitAL. issO É uM ERRO EstRutuRAL
Melhores farmácias e farmacêuticos podem ser decisivos para uma melhoria dos cuidados de saúde no país
deria, através de concursos públicos, por exemplo, pro mover a existência de mais operadores privados a abrir farmácias em zonas onde elas ainda não estejam.
O que explica a grande disparidade da qualidade dos medicamentos, quer mesmo dos preços no mer cado, preços que até es tão tabelados e deveriam ser os mesmos em todo o território?
Antes de se olhar a farmácia e o seu papel na ordem da saúde pública, ela deve ser vista como uma empresa, o que não tem mal nenhum. Mas é uma empresa que in terfere com a saúde das pes soas, e isso também não pode ser esquecido. A verdade é que hoje encontramos no mercado farmácias e ‘farma citas’. Alguém que não tem dinheiro, não tem formação, mas porque terá ouvido que a farmácia é um negócio ren tável, decide abrir uma. É ou tro problema estrutural da saúde no país. uma farmácia verdadeira e na qual se pode confiar precisa de uma estru tura empresarial, represen ta um investimento sério e deve servir para dar supor te ao que o sector de saúde do Estado não cobre. O mínimo para a criação de uma far mácia em condições, é de cin co milhões de meticais. Agora, pergunto-lhe: acredita que a maior parte das farmácias que vemos ou frequentamos custaram isso?
Não, de facto. Que requisi tos e condições desejadas são essas e quais são as implicações da falta dessas condições?
Por exemplo, na rotunda da Avenida Eduardo Mondla ne, em Maputo, temos oito farmácias! É preciso que nos perguntemos a quem ven dem estas farmácias, que tipo de produtos e serviços têm, e com que qualidade os vendem. E serão rentáveis?
Penso que a resposta a tudo isto é negativa. Para se criar uma farmácia, por Lei, deve -se ter um espaço com três salas, que comporte a sala de atendimento, o laboratório e um pequeno armazém refri gerado, bem como as devi das instalações sanitárias. Do ponto de vista de pessoal tem deve haver um director téc nico que é um farmacêutico, e outros cinco trabalhadores, no mínimo. Nada disto se ve rifica na grande maioria dos casos e isto tem implicações graves e representa um pro blema de saúde pública.
Como se resolve isto?
A Lei é clara e a regulamen tação existe. temos a nova Lei de Medicamentos e o gran de problema é que precisa mos de colocar cada um na sua área. A saúde, não pode atrair quem só pensa em di nheiro. temos de tirar isso da cabeça. O primeiro propósito de uma farmácia é o de saúde pública. O país que queremos não é este em que vemos loji nhas em cada esquina a fun cionarem como farmácias.
Esta “desordem” de que fala, tem implicações na capaci dade de oferecer medica mentos certos para as pes soas que dependem deles... hoje, quando se levanta a voz sobre a resistência aos antibióticos, é habitual culpa rem-se as farmácias porque são detidas empresários que olham, primeiro, para a re ceita do seu investimento. E pode não se preocupar em salvaguardar questões re lacionadas com a saúde pú blica. Mas um farmacêutico tem outra forma de pensar e agir que tem a ver com a sua formação. Além da receita fi nanceira, quer salvaguardar a saúde pública. A liberaliza ção não é má, mas tem de ser disciplinada.
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texto Celso Chambisso fotografia Jay Garrido
A provínciA onde todos os cAminhos
ApontAm pArA o desenvolvimento
Economicamente poderosa, Nampula ganhou o seu lugar como a capital do Norte. Vestida com as cores tradicionais da capulana, caminha sobre os carris de um futuro assente no corredor de desenvolvimento do Norte que transporta com ele todo um novo mundo de investimentos na agro-indústria, pescas e logística
a província de Nampula (a capital tem o mesmo nome) é sinónimo de (hi per) actividade. Porque é ali que se cruza o Norte, em fronteira com as províncias vizinhas de Cabo Delgado e do Niassa. Mas Nampula é também o lugar onde se abre uma janela para o Índico descoberto ao interior fecha do e distante, agora bem mais perto. Social e economicamente, Nampula é forte no sector agrícola, quer crescer na produção e transformação industrial, promete apostar nas pescas e quer, de finitivamente, solidificar a sua posição de referência cimeira na logística ma rítima e de transportes, principalmente
prOvíNcia Nampula
capital Nampula área 79 010 km2 DiStritOS 23 pOpulaçãO 6,1 milhões DeNSiDaDe DeMOGráFica 74,8 hab/km2
através do crescimento (em capacidade de processamento e, por essa via, im portância económica nacional) do porto de Nacala, por onde é escoada para o mundo, a maior parte da produção de carvão, ‘colhido’ às toneladas nas minas de Moatize, na Província de Tete.
Agricultura a diversificar A este respeito, importa recuar um pouco na História, mas não muito. Nampula é reconhecida como a pro víncia do caju, sendo que, de acordo com o INE, ali estão contabilizados cer ca de 14 milhões de cajueiros que ali mentam todo um sector que emprega
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Nampula
província
cerca de 12 mil pessoas, na região. No entanto, há outras culturas a acon tecerem, que se tornam visíveis, por exemplo, no distrito de Malema, no ex tremo norte das fronteiras provinciais. Ali, têm vindo a ser introduzidas a soja (na qual o Brasil é o maior produtor mundial e a China o maior consumidor) que se desenvolve pela vontade do his tórico grupo moçambicano JFS. O projec to deverá aproximar-se dos 2 mil hec tares de terra produtiva e, de acordo com Francisco Ferreira dos Santos, esta cultura de rendimento “tem escoamen to da produção garantido”, explica, para complementar que o grupo, não só pro duz, como semeia. “A nossa actividade olha à comunidade local, trabalhando com ela. Neste caso, fornecemos também apoio técnico e distribuição de insumos a crédito”, releva.
Uma outra cadeia produtiva que se vai reerguendo é a do sisal. Conhecido como ‘ouro verde’, é na localidade de Muche lia que mora hoje um dos pólos de desen volvimento da produção desta matéria -prima utilizada na produção de estofos, pasta para indústria de celulose, tapetes, remédios, biofertilizantes, ração animal e adubo orgânico. Por ali, estarão perto de mil hectares que produzem, em mé dia, perto de 96 toneladas por época, des de que a Companhia Agrícola JFS relan çou a produção, em 2012.
têxteis ancorados na capulana É quase como uma segunda pele para muitas mulheres moçambicanas. Ainda assim, Moçambique não tem uma verda deira indústria de produção de capula nas que, na sua maioria, são importadas da Índia e da China. Mas, nos últimos anos, em Nampula, a Nova Texmoque (que sucede à velha Texmoque, que chegou, em tempos, a ser a maior fábrica têxtil do país até abrir falência há algumas décadas) retomou a produção. A empresa pertence ao grupo tanzaniano METL, e chegou em 2006. “Ha via aqui uma oportunidade. Comprámos a fábrica mas ainda demorámos dois anos a reabilitá-la, tal era o grau de de gradação das instalações, das máquinas... esteve inactiva durante cerca de 14 anos. Apenas começámos a produzir em 2009, mas rapidamente o negócio expandiu”, conta Ajit Kulkari, que representa o gru po multinacional em Moçambique.
O gestor revela um investimento inicial de 10 milhões de dólares na recuperação, reabilitação e aquisição de maquinaria, mas admite aumentar o investimento.
milhões de dólares
Foi lançada, a 3 de outubro deste ano, a primeira pedra para a reabilitação do porto de nacala. o projecto, que compreende as Fases i e ii da inFra-estrutura, terá a duração de 36 meses, e promete colocar nacala no mapa dos portos mais competitivos da região, com uma capacidade de manuseamento de contentores acima dos 250 mil por ano, Face aos actuais 170 mil
273“Sabemos que vamos ter de chegar aos 24 milhões para podermos crescer cada vez mais”, adianta. Com a matéria-pri ma importada da Tanzânia e desenhos ‘made in’ Moçambique, falar em retor no total do investimento “ainda é prema turo”, diz, “até porque existe ainda muita concorrência dos produtos importados”, observa.
Por falar em investimentos com mais ou menos retorno, ainda recentemente, o governador de Nampula, Victor Bor ges, sublinhava a importância de um conjunto de “investimentos grande vul to” que têm sido feitos na província, em sectores como o da agricultura e pescas, destacando até a implementação de um projecto de 100 milhões de dólares, por empresários chineses, que visa a pro moção da aquicultura e pesca no distrito de Moma, (sendo que cerca de 20 milhões de dólares se destinam à aquicultura e 80 milhões para pesca industrial e semi-industrial.)
por terra, ar e mar Essencial para o desenvolvimento de qualquer região com a importância es tratégica de Nampula, são as vias aé reas. Inaugurado em 2015, o aeroporto internacional de Nampula (obra a cargo da construtora brasileira Odebrecht), dispõe de uma pista de 3,5 quilómetros, e tem capacidade para receber mais de 500 mil passageiros por ano. O preço da obra fez jus às dimensões da mesma, e rondou os 200 milhões de dólares. Conti nua longe do potencial máximo, ao nível dos voos, passageiros, carga transporta da e utilização. Mas, com o paraíso cos teiro de que a província dispõe e com as oportunidades abertas pelos inves timentos no porto de Nacala, talvez o caminho-de-ferro e o turismo venham a encher a maré de visitantes. E o aero porto de viajantes.
Por falar em ar e mar, é no chão da ferro via que têm desenhado as linhas do cres cimento da província nos últimos anos. Nesse campo, a locomotiva tem um nome: CDN, ou Corredor de Desenvol vimento do Norte, uma sociedade que enquadra a gestão e reabilitação das infra-estruturas do Porto de Nacala (está a ser ampliado ao nível da capa cidade de manuseamento de contento res para 250 mil por ano, num projecto orçado em 273,6 milhões de dólares fi nanciado pela JICA, a Agência Inter nacional de Cooperação do Japão) e da rede ferroviária do Norte do país, que faz ligação com o Malawi e a Zâmbia.
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É este o carril por onde é escoada grande parte da produção de carvão provenien te das minas da Vale, na província de Tete. No entanto, se os caminhos-de-ferro es tão em alta, os de asfalto estão em bai xa e, ao percorrer parte da rede de es tradas, ela apenas se parece com uma rede, por causa dos muitos buracos. Apenas 14% dos caminhos são asfaltados, muito poucas para a União Europeia, que recentemente anunciou um pacote de 320 milhões de euros (que abrangem também a província da Zambézia) para a construção e melhoria dos acessos.
turismo não quer férias
A costa da província é confortada por areias brancas e águas de muitos azuis, em baías escondidas, que se mostram numa beleza serena. O Baixo Pinda, em Menda, a norte, é um pequeno paraí so que parou no tempo em que ainda havia faroleiro. Vale a pena trepar a meia centena de escadas e ir lá aci ma para assistir ao horizonte. Numa das ‘pontas’ que entra mar adentro, vê-se estacionado o Nuarro Lodge, todo construído com produtos da terra. Lá em cima, vai ser possível imaginar
Em Nampula, se os caminhos-de-ferro estão em alta, os de asfalto estão em baixa e, ao percorrer parte da rede de estradas, ela apenas se parece com uma rede, por causa dos muitos buracos. Mas já há um pacote financeiro da UE assegurado que promete resolver o problema
como será esta costa vista de frente, após os investimentos anunciados para aque la região, que já recebe perto de 150 mil turistas que se distribuem anualmente por 580 estabelecimentos de toda a pro víncia. Grande parte, rumam à Ilha de Moçambique, claro, o lugar que congre ga as atenções dos turistas que ali vão. Mas há mais por explorar. Recentemente, o Instituto Nacional de Turismo (Inatur) anunciou estar em busca de financiado res (e de 365 milhões de dólares) para fazer avançar os projectos turísticos das ilhas Crusse e Jamali, no distrito de Mos suril, que incluem a exploração do que de melhor a região tem. Recursos natu rais plenos e localização perfeita. E só para relembrar o que por ali há, basta imaginar a Reserva e o Lago do Niassa, navegar nas várias ilhas, de Moçambique, Crusse e Jamali, dar um mergulho para norte até às Quirimbas, passar em Pemba, de regresso a Nacala. Nampula parece ter tudo. Espaço, tempo e vontade para ser cada vez maior.
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província
Nampula
Aeroporto de Nacala, Linha do Norte e Porto de Nacala. As maiores infra-estruturas de Nacala são logísticas, a base para o crescimento económico que se espera na região
texto Pedro Cativelos & Cristina Freire fotografia istoCkPhoto
Gapi alavanca neGócio do moleiro de montepuez
Producers assisted by GaPi are reachinG out to the markets
crédito de dois milhões de meticais e apoio técnico ampliam machamba de 500 hectares e consolidam moageira que emprega 12 pessoas em montepuez
Two million meticais credit and technical support extend farmland of 500 hectares and consolidate a mill that employs 12 people in Montepuez
o engano é quase impossível a quem inquirir pela Agro Fatar Vano no bairro urbano de Napai, na cidade de Monte puez, em Cabo Delgado. Porque a azáfama produtiva é evi dente a quem chega. Da casa onde se aloja a moagem de Rodrigues Dobles Martins, promana o zumbido da ma quinaria em rotação que dois homens, de máscara e fardamento, alimentam de milho. E do moinho retiram farinha branquíssima~que sete mulheres empa cotam, todos os dias e com gestos ágeis, em 50 embalagens de 10 quilogramas cada. Com tal actividade, não há, pois, que enganar...
Nem sempre foi assim. Antes do finan ciamento da Gapi, em 2017, a produção era bem mais lenta e escassa, reconhece Martins: “As moageiras que tinha eram pequenas, só davam 50 quilos de farinha por hora; estas, umas novas e outras re cuperadas com o financiamento da Gapi, dão uma tonelada”, realça o empresário de 45 anos e pai de oito crianças. Martins, que começou camponês de pou ca monta, produzindo algodão, milho e feijão, enveredou pela farinação em 2005, após aventura frustrada no ramo dos transportes. “Em 2000, comprei qua tro carros para fazer ‘chapa’ em Monte puez. Mas, com tanta avaria e despesa, não estava a conseguir; então mudei para as moageiras, que é mais certo”, recorda. Martins moía para terceiros, e só depois para ele próprio.
Pequenas quantidades, num e noutro caso, que a pequenez dos moinhose do orçamento para cereais não lhe permi tiam mais ambição. “Moía 80 toneladas de farinha, quase tudo para outros pro dutores da região. Então decidi ter o meu milho”, diz. “Mas, só com dinheiro meu, o máximo que podia comprar eram 10
It’s almost impossible for someone to miss Agro Fatar Vano in Napai’s urban neighborhood in the town of Montepuez, in Cabo Delgado province. Because the productive bustle is pal pable for all of those who arrive the re. From the house where the milling of Rodrigues Dobles Martins is lodged, there is the buzz of rotating machinery that two men, in masks and uniform, feed on corn. And from the mill, they remove white flour that seven women pack, every day and with agile gestu res, in 50 packs of 10 kilograms each. With such activity, there is no reason to deceive... The flower powder is powering. But It was not always like this. Before Gapi’s financing in 2017, production was much slower and scarce, says Martins: “The mills they had were small, they only gave 50 kilos of flour per hour; the se, some new and recovered with the financing of Gapi, give a ton, “said the 45-year-old businessman and father of eight children.
Martins, who began as a small peasant producing cotton, corn and beans, went through the breading in 2005, after a frustrated adventure in transporta tion. “In 2000, I bought four cars to make ‘chapa’ in Montepuez. But, with so much malfunction and expense, i was not suc ceeding; so I moved to the mills, which is more certain“, he recalls. Martins grounded for third parties, and only later for him. Small quantities first, because the smallness of the mills and the cereal budget did not allow it any more ambition. “I milled 80 tons of flour, almost everything for others farmers from the region. So it was time do move on, and start having my own corn“ he tells. “But with my own money, the most I could buy was 10 tons of corn” he recalls.
toneladas de milho”, recorda. Era pouco ainda para o potencial. Hoje, tudo mudou graças ao apoio da Gapi, orçado em dois milhões de meticais. Com terreno de 500 hectares a 130 qui lómetros de casa, em Jamira, no Posto Administrativo de Kuékué, na fronteira com Niassa, dos quais 120 já capinados, Martins volveu aos tempos de agricul tor. Mas noutra escala. “Produzo ger gelim e milho para farinar. Só quando acaba a minha produção – 15 toneladas, que a machamba ainda é nova –, é que compro grão a outros”, afirma.
Financiamento que muda vidas E, foi com o financiamento garantido pela Gapi que comprou 30 toneladas. Somadas ao milho próprio e ao dos que lhe pedem moagem, resultou, em 2017, numa pro dução total de 150 toneladas de farinha (130 dele, cerca de 20 dos camponeses aos quais cede insumos a crédito que, na época das colheitas, reverte em grão).
O apoio da Gapi alavancou ainda o lado comercial da Agro Fatar Vano: “Comprei
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It was too short, too little, at that time. But today, everything has changed thanks to the support of Gapi, estimated at 2 million meticais. With land of 500 hectares 130 kilometers from home, in Jamira, at the Administrative Post of Kuékué, on the border with Niassa pro vince, 120 have already been weeded, And Martins came to be a farmer again. But a successful one. “Yes, i can produce sesame and corn to flour. Only when I fi nish my production - 15 tons, that the field is new - is that I buy grain from others.“
life-changing financing
With Gapi’s funding, he bought 30 tonnes. In addition to the corn and grinding mi lls, Marting produced 150 tons of flour in 2017 (130 of them, 20 of the peasants to whom it gives inputs on credit which, at the time of harvesting, reverts to grain). And Gapi support also boosted the com mercial strategy of Agro Fatar Vano: “I bought a lot more sesame seeds, with a much better price range”, tells the miller. Martins points out, however, that Gapi is
muito mais gergelim, com preço muito melhor”, conta o moleiro. Martins realça, no entanto, que a Gapi não se limita ao crédito; para ele, o apoio técnico foi tão ou mais importante: “Par ticipei em muitas capacitações e todas muito úteis. Ensinaram técnicas de tra balho, de armazenagem e como ter a contabilidade em dia”, recorda. Satisfeito com a parceria, o moleiro já pensa na renovação dos acordos: “Com os lucros do apoio da Gapi comprei um trac tor e aumentei a machamba; agora, vou pedir novo crédito para comprar um ca mião. com mais carga, diminuo custos e aumento lucros”.
rodrigues dobles martins viu o negócio aumentar com a formação e o financiamento prestado pela Gapi
rodrigues dobles martins saw the business increase with the training and financing provided by Gapi
not limited to credit; for him, the techni cal support was as or more important: “I participated in so many formations, workshops, and what i can tell is that they were all decisive for us, by teaching work and storage techniques, or how to keep the accounts up to date“ he recalls. Happy with the partnership, the Monte puez miller is already thinking of the re novation of the partnership agreements: “With the profits of Gapi’s support I bou ght a tractor and increased the farm and the jobs; now, I’m going to ask for new credit to buy a truck and continue to grow.. Now with more cargo and lower costs i can create work for more people.
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TexTo & FoTograFia Gapi para a E&M
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gapi To e&M
by
mercado e finanças
Doing business, um puzzle Difícil De montar mas com as peças no lugar
O ranking demonstra uma ligeira melhoria do ambiente de negócios em Moçambique, o 135º em 190 países avaliados pelo Banco Mundial. Só que, depois de anos a cair, ainda não é o suficiente para fazer crescer os negócios
já há muito que as autoridades vêm expressando a ambição de tornar Mo çambique num dos mercados de con vergência de grandes investidores de todo o mundo, o que se consegue tam bém colocando a economia nacional no ‘mapa mundo’ através dos melhores resultados no ranking anual do Doing Business. Divulgado pelo Banco Mundial, revela, através da pontuação num con junto de dez indicadores, a capacidade de um determinado mercado servir como lugar de bons (ou maus) negócios. Dada a importância de uma boa classifi cação no ranking, o governo tem tentado levar a cabo um conjunto de reformas direccionadas a cada um desses indica dores o que tem, pela primeira vez em vários anos, uma repercussão nos resul
135º
Economia nacional mElhorou três posiçõEs no ranking doing BusinEss, com as rEformas nas árEas da ElEctricidadE , comércio além -frontEiras E pagamEnto dE impostos a sErEm os pontos quE alavancaram a mElhoria da pontuação alcançada
tados obtidos. Assim, a economia nacio nal subiu três posições, de 138º para 135º em 190 países avaliados. Esta variação não parece demasiado relevante, até porque Moçambique ainda permanece numa zona ‘desconfortável’ em termos globais. Por isso, existe um plano tra çado para atacar a maior parte dos 10 indicadores que são avaliados no Doing Business, que deverão assegurar que, na próxima classificação, Moçambique possa dar um salto mais significativo na classificação global.
Vêm aí reformas
De acordo com o director nacional de Apoio ao Desenvolvimento do Sector Privado no Ministério da Indústria e Co mércio, um gabinete inter-ministerial
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o Que É o Doing business
Publicado desde 2003, o estudo do Banco Mundial mede o grau de facilidade para abrir e gerir um negócio através da análise dos dez passos do ciclo de vida do empreendedor — abrir uma empresa; adquirir as licenças de construção; obter electricidade; registar a propriedade; aceder ao crédito; assegurar a protecção dos investidores; pagar os impostos; comprar ou vender produtos nos mercados internacionais; fazer com que os contratos sejam respeitados; e pedido de insolvência
Ranking Mundial:
135º lugar (entre 190 países)
Pontuação: 55,53
Variação: +3 lugares; +1,78 pontos
Ranking África Subsaariana: 16º (entre 48 países)
Melhor de África: Maurícias (20.º)
Pior de África: Somália (190.º)
Melhor critério: Acesso à electricidade
Pior critério: Abertura de empresa
DesempenHo comparaDo
Moçambique é o 16.º classificado da África Subsaariana
munDo
10 MELHORES
1.º Nova ZelâNdia 2.º SiNgapura 3.º diNamarca 4.º HoNg KoNg 5.º coreia do Sul 6.º georgia 7.º Noruega 8.º eStadoS uNidoS 9.º reiNo uNido 10.º macedóNia
10 PIORES 181.º cHade 182.º Haiti 183.º r. ceNtro africaNa 184.º rep. dem. coNgo 185.º Sudão do Sul 186.º líBia 187.º yémeN 188.º veNeZuela 189.º eritreia 190.º SomÁlia
CPLP (8 países)
34.º portugal 82.º África do Sul 131.º caBo verde 135.º Moçambique 170.º São tomé 173.º aNgola 175.º guiNé BiSSau 177.º guiNé equatorial 178.º timor leSte
*Pontuação varia dos 0 aos 100, sendo a Nova Zelândia a melhor (86,59) e a Somália a pior (20,04). A pontuação deste ano foi ajustada tendo em conta a variação do número de países analisados e outras alterações metodológicas de acordo com o Banco Mundial.
que se ocupa precisamente de zelar para que os principais focos de análise do ranking sejam melhorados ao nível dos ministérios, Nicolau Sululo, garante que “há um conjunto de reformas que deverão estar aprovadas até Abril do próximo ano, e que vão precisamente no sentido de melhorar a nossa posição na classificação global do Doing Business”, garante à E&M.
Uma dessas mudanças tem a ver com a conclusão da revisão do código comer cial para melhor facilitação do registo de sociedades comerciais, que continua a ser o ‘calcanhar de Aquiles’ da economia nacional, de acordo com o Doing Business. No indicador que afere a ‘Abertura de negócio’, regista-se a pior pontuação do país no ranking (67,56 pontos, com uma
tério do Trabalho para buscar a licença. Estas medidas vão trazer impacto po sitivo no indicador de abertura de em presas, indicador no qual Moçambique regrediu na classificação actual.
pedido de insolvência… Depois, “e o mais breve possível”, o Exe cutivo pretende regulamentar a Lei de Insolvência, que foi aprovada há cer ca de cinco anos. A regulamentação irá permitir que, em caso de insolvência, em vez de garantir o valor do credor, tam bém se garanta que o investidor recu pere o seu empreendimento de modo a garantir que os trabalhadores vejam os postos de trabalho mantidos.
SADC (15 países) 20.º mauríciaS 82.º África do Sul 86.º BotSwaNa 87.º ZâmBia 96.º SeycHelleS 106.º leSotHo 107.º NamíBia 111.º malawi 117.º eSwatiNi 135.º Moçambique 144.º taNZâNia 155.º ZimBaBwe 161.º madagÁScar 173.º aNgola 184.º rdc
quebra de 12,3 face ao ano anterior, caindo 37 lugares, para 174.º do mundo). Ironia é que, a nível da região, Moçambi que seja o 40º em 48 países na facilidade de abrir negócios, mas apenas o 8º me lhor, nos procedimentos de insolvência...
A este respeito, está em cima da mesa um conjunto de novas normas que visam flexibilizar o funcionamento Balcão de Atendimento Único (BAÚ), no sentido de ali aglutinar todos os requisitos necessá rios para o registo de empresas, já que actualmente o empresário está sujeito a vários procedimentos burocráticos e com custos elevados: tem de ir à con servatória registar a empresa, a seguir formaliza procedimentos com o BAÚ, de pois requer o NUIT junto da direcção da área fiscal e, por fim, segue para o Minis
Pretende-se também acelerar o sistema electrónico de registo predial, recente mente aprovado pelo Governo, em subs tituição do actual registo que é manual e por isso, muito pouco flexível. Esta inter venção vai melhorar o indicador de re gisto de propriedade; O passo a seguir, garante-nos, “será ace lerar a aprovação da Lei de Registo e Ga rantias Imobiliárias, que implica a cria ção da chamada Central de Informação de Crédito (que irá recolher e sistemati zar informações sobre pagamentos defe ridos de um leque variado de utentes que usufruem de bens e serviços a crédito).”
A proposta de Lei já foi aprovada pelo Conselho de Ministros, mas a sua valida ção é da competência da Assembleia da República e ainda aguarda a delibera ção final deste órgão. A aprovação desta reforma vai melhorar o indicador sobre obtenção de crédito, onde a pontuação de Moçambique caiu também.
… obtenção de electricidade Também se projecta acelerar a revisão da Lei de Electricidade, cujo fundamento é o de assegurar a cobertura universal do acesso a energia eléctrica até 2030, cumprindo com o estabelecido na Agen da para o Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de uma reforma adicional a este indicador que teve o melhor de sempenho na classificação do Doing Bu siness 2019, com um salto de 50 posi ções no ranking global (de 150 para 100) em que conta como reforma, a introdu ção de um sistema de monitoria e ges tão de cortes de energia pela Electrici dade de Moçambique (EDM). Para tal, a EDM começou a recolher dados estatís ticos através de dois índices específi cos, nomeadamente, o da Duração Mé dia da Interrupção do Sistema (SAIDI, si gla em inglês) e o Índice da Frequência
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mercado e finanças
Abertura de negócio 1
O QUE MEDE
O processo legal para abrir uma empresa, desde o número de procedimentos ao tempo e custo (o total e o valor mínimo a depositar antes do registo).
Pontuação: 67,56 (-12,3)
Ranking mundial: 174.º (-37)
Ranking África Subsaariana: 40.º
2
Licenças de construção
O QUE MEDE
Procedimentos, tempo e custo para erguer um estabelecimento desde as licenças prévias às inspecções e aos pedidos de água, saneamento e telecomunicações.
Pontuação: 72,57 (-0,23)
Ranking mundial: 64.º (-8)
Ranking África Subsaariana: 7.º
Obtenção de electricidade 3
O QUE MEDE
Procedimentos, índice de burocracia e a extensão do período de tempo e custos para obter a ligação eléctrica permanente junto do fornecedor do serviço.
Pontuação: 71,02 (+18,48)
Ranking mundial: 100.º (+50)
Ranking África Subsaariana: 7.º
Registo de propriedade 4
O QUE MEDE Procedimentos, tempo e custo para adquirir uma propriedade a outra empresa e para proceder à transferência para o nome do respectivo comprador.
Pontuação: 52,94 (-6,33)
Ranking mundial: 133.º (-29)
Ranking África Subsaariana: 25.º
5
Acesso ao crédito
O QUE MEDE
Qualidade dos sistemas de informação de crédito (análise do histórico financeiro e do risco) e os direitos legais de emprestador e beneficiário.
Pontuação: 52,94 (-6,33)
Ranking mundial: 133.º (-29)
Ranking África Subsaariana: 25.º
Média da Interrupção do Sistema (SAIFI).
Ainda assim, estas intervenções são in suficientes para uma fiabilidade total da rede, como muitos dos habitantes que vi vem em Maputo e arredores poderão comprovar.
Visto assim, Moçambique poderia até ter conseguido uma melhor classificação global mas, uma vez mais, tem de me lhorar o indicador da ‘Abertura de ne gócio.’, apesar de terem sido, lê-se, “rea lizadas reformas importantes neste as pecto, caso do licenciamento simplificado de empresas introduzido no ano passa do, mas que pecou por elevar os custos de registo dos estatutos da empresa no Boletim da República.”
Nicolau Sululo crê que essa quebra se deveu “à falta de coordenação institu cional que temos tido e precisamos de melhorar. Os colegas (Ministério da Eco nomia e Finanças e Ministério da Justi ça) aumentaram os custos dos registos dos estatutos na Imprensa Nacional e is to contou negativamente”, assumiu Nico lau Sululo, que classifica esta medida co mo “negativa”.
Correcta ou não, o certo é que desconhe cendo os motivos desta decisão, não se cria espaço para avaliar os seus custos e o benefícios. Ou seja, não se pode saber se a vantagem que se pretende com o agra vamento do custo do registo de empre sas é maior que a possibilidade de acres centar valor ao ambiente de negócios. Por falar em custos, a CTA partilhou com a E&M a sua visão sobre o desempenho
da economia nacional no último relató rio, onde conclui que “a variável custo, em quase todos os indicadores, não con tribui positivamente para a melhoria no ranking global.”
No documento, o empresariado avança mesmo alguns exemplos: “Em Abril últi mo, a CTA chamou a atenção para o fac to de, entre 2015 e 2018, o custo de abrir e registar uma empresa em Moçambique ter subido 468%, saindo dos então 7 835 para os 36 629 meticais”.
E deixa um apelo ao Governo no sentido de “rever o modelo de reajustamento e a introdução de taxas em diversos servi ços que têm impacto negativo e significa tivo no ambiente de negócios.”
No entanto, a CTA reconhece que o aumen to dos custos “terá sido muito influenciado pelo processo de consolidação fiscal em curso no país, que levou a reajustamen tos dos preços de serviços públicos, bem como à subida ou introdução de taxas di versas”, para fazer face ao défice que foi criado pela interrupção do apoio externo ao Orçamento do Estado em Abril de 2016.
combater a corrupção... é solução
O Centro de Integridade Pública (CIP), uma das vozes activas da Sociedade Ci vil, chama precisamente a atenção pa ra a necessidade de “contínuos esforços de combate à corrupção.” A economista e pesquisadora Inocência Mapisse, enten de que, “a par dos instrumentos mera mente económicos, os investidores inter nacionais estão atentos a informações
Em três anos, o custo para aBrir uma EmprEsa suBiu dE 7 835 para 36 629 mEticais
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468%
Aquisição de energia facilitada ‘alavancou’ melhoria
Protecção dos investidores 6
O QUE MEDE
A força da protecção aos pequenos investidores de modo a que eles possam impedir que os gestores usem o património da empresa em proveito próprio.
Pontuação: 41,67(=)
Ranking mundial: 140º (-2)
Ranking África Subsaariana: 24.º
7
Pagamento de impostos
O QUE MEDE
O valor das contribuições pagas pelas empresas ao Estado (sobre os lucros, o trabalho e outros impostos) assim como o esforço burocrático associado.
Pontuação: 64,04 (-2,09)
Ranking mundial: 125.º (-8)
Ranking África Subsaariana: 18.º
8
Comércio internacional
O QUE MEDE
Procedimentos, tempo e custos (bancários, alfandegários, logísticos ou de transporte) para exportar e/ou importar um conjunto de vários produtos.
Pontuação: 73,84 (+6,59)
Ranking mundial: 91.º (+18)
Ranking África Subsaariana: 6.º
Execução de contratos 9
O QUE MEDE
Os passos processuais exigidos para resolver uma disputa comercial através dos tribunais, em número de procedimentos, dias e custo.
Pontuação: 39,78 (+12.46)
Ranking mundial: 167.º (+17)
Ranking África Subsaariana: 37.º
Pedido de insolvência 10
O QUE MEDE
O tempo e o custo associado a um pedido de insolvência assim como a taxa de recuperação (em percentagem do valor em dívida).
Pontuação: 46,89 (-1,31)
Ranking mundial: 84.º (-9)
Ranking África Subsaariana: 8.º
sobre a transparência na actuação de pessoas e de instituições, onde o posicio namento de Moçambique, a nível global, não é favorável.” O facto é que Moçam bique é o 157º país mais corrupto num ranking que comporta 183 países, segun do dados do Índice de Percepção da Cor rupção de 2018, divulgados em Feverei ro deste ano no relatório da organização Transparência Internacional (TI), e como se sabe, este não é um indicador que cha me por investidores. Pelo menos aqueles
Se no Doing Business houve uma melhoria de alguns indicadores no que diz respeito à facilidade de negócios, o mesmo não aconteceu com o Relatório de Competitividade Global de 2017-18 do Fórum Económico Mundial, que classifica a economia moçambicana como “a segunda economia menos competitiva do mundo”, só melhor que a do Yémen, numa avaliação que inclui cerca de 137 países. Com uma pontuação global de 2,9 (máximo é de 7 pontos), em nenhum dos 12 indicadores avaliados há resultados satisfatórios e o desempenho mais crítico tem a ver com o ambiente macroeconómico com 1,9 pontos.
de que a economia nacional precisa, pa ra se desenvolver de forma sustentável.
força eléctrica no Doing business 2019
A infografia (caixa no topo da página) faz um retrato que, embora resumido, traz alguma precisão na leitura dos princi pais aspectos numéricos do desempenho de Moçambique na classificação, que o relatório do Doing Business 2019 consi dera como sendo de “uma melhoria no tável no ambiente de negócios” em Mo
çambique. Atentando nos aspectos mais relevantes, importa referir que esta melhoria foi impulsionada por reformas realizadas nos indicadores sobre o aces so a electricidade, pagamento de impos tos e comércio internacional. Contraria mente, evidencia-se que as reformas realizadas no indicador sobre a abertu ra de empresas tiveram um efeito ad verso e, de certa forma, representaram um impedimento para uma subida mais pronunciada no ranking global. A seguir ao indicador sobre o ‘Acesso a electricidade’, que apresentou o melhor desempenho devido à redução do núme ro de procedimentos para aquisição de electricidade (de cinco para quatro) e da redução do tempo de aquisição de electri cidade (de 68 para 40 dias); os outros dois indicadores onde Moçambique registou melhorias foram ‘Comércio internacio nal’ (subida de 18 posições) e ‘Execução de contratos’ (melhoria de 17 posições). Num ano em que 128 governos de todo o mundo introduziram 314 reformas be neficiando pequenas e médias empresas e estimulando o investimento privado, Mark Lundell, representante do Banco Mundial no país mostra-se satisfeito com a evolução: “este ano metade da lista das dez economias a nível mundial que mais reformaram o seu ambiente de negócios é composta por países africanos.”
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Entre parêntesis a variação da pontuação e da posição no ranking face a 2017 FoNtE: Estudo Doing Business 2019, Banco Mundial
competitiViDaDe global... Quase zero
tExtO Pedro
Cativelos & Celso Chambisso FOtOGRAFiA istoCk
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empresas
Ipanema, uma empresa sempre bem calçada
Produzir localmente com padrões de qualidade internacionais é o objectivo de um grupo a actuar num segmento ímpar, mas que funciona aos pares
falar da existência de uma verdadei ra indústria de calçado em Moçambique é um tema quase tabu porque, na verdade, ela nunca existiu verdadeiramente en quanto tal. Daí que surja quase como um oásis num deserto descalço, a fábrica de calçado da Ipanema, a única que conse guiu erguer-se, subsistir e crescer, até ca minhar pelo próprio pé. O percurso de mais de duas décadas da Ipanema foi feito, e porque é de sapatos que se fala aqui, passo a passo. A família Bourguignon, com origens no Brasil, está em Moçambique desde meados da década de 1990, quando Edson Bourguignon em presário brasileiro adquiriu a fábrica de calçados, carteiras e cintos, que funciona va nas antigas instalações da Nelfa. Deu -lhe o nome de Ipanema, para avivar as memórias da sua terra natal, e por ali per maneceria até 2004, quando inaugurou as então novas instalações, investindo numa moderna linha de produção como meio de fazer crescer uma marca, agora cada vez mais assumida no mercado nacional. Com o tempo, uma nova geração chegou à Ipanema. Primeiro Edson Bourguignon Jr., o filho mais velho, depois a mais nova, Giselle. A actual directora de new busi ness da Ipanema fala de uma marca com “assinatura nacional, mas com aroma a Brasil, um país irmão de Moçambique.” Foi com esta base que a Ipanema foi evo luindo. Dos modelos mais simples que for necia aos ministérios do início do século, até às linhas de hoje, com design comercial e objectivos mais ambiciosos no mercado. Mudanças no perfil apenas, não na identi dade, de uma empresa que se mantém fiel ao que sempre foi. “O nosso boom surgiu no início da década, quando a economia come çou a acelerar e foi aí que a empresa fir mou os seus primeiros contratos substan ciais, conseguiu ampliar a rede de lojas e redefiniu todo o seu modelo de negócio”, afirma a gestora que, desde muito jovem
conviveu com a realidade de uma empre sa ímpar no panorama industrial nacional. Um dos momentos determinantes do cres cimento da Ipanema de Moçambique foi quando começou a comercializar a marca de chinelos de praia da Ipanema do Brasil. Uma conjugação feliz. No nome e, ainda mais, ao nível do impacto no negócio do grupo no país. “Sem dúvida, foi a concre tização da tal irmandade entre duas na ções, através da nossa família que tem um pouco destas duas culturas no seu sangue. O meu pai conseguiu garantir a comer cialização dos Ipanema que importamos e distribuímos pela nossa rede de pon tos de venda em Maputo, Inhambane, Ponta do Ouro, Beira, Nampula e Pemba.” Da fábrica à gestão de lojas, a dinâmica da Ipanema divide-se em segmentos e objec tivos. “Neste momento, temos várias áreas, que vão da produção à importação, da venda no retalho em loja própria, à dis tribuição pelos nossos parceiros, e tudo isto representa uma logística assinalável. Os objectivos passam por continuar a re configuração das lojas, e por apostar em segmentos mais premium, razão pela qual estamos a lançar uma nova linha em que apostámos forte no design e na qualidade.” Depois, um novo segmento, um tanto ou quanto diferente, para a dinâmica da Ipa nema. Os perfumes. “Sim, em 2015 firmá mos um contrato de exclusividade com ‘O Boticário’ para sermos representantes da marca no país. Isso implicou criar uma rede de lojas próprias... foi complicado no início, mas depois de um trabalho de reor ganização interna, é hoje, sem dúvida, um dos motores do nosso crescimento. Sabe, a Ipanema é uma empresa grande, mas mantém uma gestão familiar, e creio que é por isso que temos a nossa identidade. Uma marca com orgulho nacional.” texto Pedro Cativelos & Hermenegildo langa fotografia
BemPresa grupo ipanema Fundação 1995 direCtora new Business giselle Bourguignon
Produção 26 000
unidades produzidas anualmente. É a capacidade de produção instalada da fábrica de maputo.
emPrego 100
trabalhadores
o grupo ipanema emprega, de forma directa e indirecta, uma centena de funcionários entre fábrica, lojas e distribuição.
Pontos de venda 7
lojas
número de pontos de venda do grupo só na cidade de maputo, tendo um distribuidor na Beira.
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produzirlocalcomorgulhonacional
Jay garrido
GemfieldS lança campanha GloBal ‘every piece UniqUe’
A líder mundial em pedras pre ciosas coloridas de origem res ponsável (detentora do capi tal da Montepuez Ruby Mining), lançou uma campanha publi citária global, em parceria com a Gutenberg Global e a adam & eveDDB, com o objectivo de sensibilizar para a extracção responsável de pedras precio sas coloridas e promover rubis nacionais. “Queríamos dar vida às muitas histórias por detrás do fornecimento responsável de pedras preciosas em África”, ex plica Emily Dungey, directora de marketing e comunicação do grupo. A Gemfields trabalhou com o Gübelin Gem Lab, da Suí ça, no lançamento de uma tec nologia inovadora chamada Pro venance Proof, que possibilita a rastreabilidade das pedras.
o centro Cultural Moçambicano-Alemão (CCMA), em par ceria com o Gabinete para o Fomento Económico Moçambi que-Alemanha (AHK) e a Embaixada da Alemanha, lançou, na Incubadora de Negócios do Standard Bank, uma iniciati va que visa o fomento do empreendedorismo e a criação de startups inovadoras e sustentáveis.
De acordo com um estudo rea lizado recentemente pela IDC, líder mundial na área de “ma rket intelligence”, baseado nu ma amostra representativa de 350 empresas com actividade em Moçambique, sobre a utili zação de software informático para a gestão de negócios, de monstra-se uma evolução sig nificativa do número de empre sas que nos últimos cinco anos implementaram um ERP (Enter prise Resource Planning), espe cialmente desde 2015, altura a partir da qual 20% das empre sas inquiridas implementaram um sistema de gestão empre sarial.
total moçamBiqUe lança o ‘deSafio StartUpper’
Após o sucesso da primeira edição, realizada em 2015, em mais de 30 países africanos, a Total traz de volta este Desafio. Realizado pela Total Moçambi que, a iniciativa irá apoiar e pre miar jovens empreendedores nacionais em diversos sectores de actividade.
Assim, nos inúmeros mercados africanos em que a Total marca presença, haverá um júri local que incluirá gestores, especia listas de incubadoras, líderes empresariais e organizações da comunidade local que irão se leccionar os três vencedores.
Denominada “Indústrias Criativas”, a iniciativa, conta com o apoio do Standard Bank, IdeiaLab e MozDevz, prometen do juntar jovens das várias indústrias criativas para que, em conjunto, desenvolvam ideias de negócio com base no digi tal. Através desta iniciativa, o CCMA, AHK e demais parcei ros pretendem promover “uma cooperação entre os jovens moçambicanos, levando-os a desenvolver ideias inovadoras e criativas que possam aliar a cultura às ferramentas digitais, de modo a gerar visibilidade, impacto e maior dinâmica no movimento cultural nacional.
Para o representante do Standard Bank, Pedro Magaia, este projecto, associado à experiência da Incubadora de Negó cios, “vai potenciar o empreendedorismo, em particular na área das indústrias culturais, capacitando e transmitindo aos jovens um conjunto de ferramentas para criarem negócios, assim como uma ajuda na fase inicial, que é a mais crítica.”
Incubadora de Negócios do Standard Bank Inaugurada em 2017 é um espaço onde têm sido desenvolvidos um conjunto de programas de capacitação de empreendedores, para além da realização de eventos como o Seedstars Maputo, o Google Startup ou Semana de Empreendedorismo.
A tecnologia mais utilizada nas empresas em Moçambique é da tecnológica portuguesa PRIMA VERA BSS, presente no país há mais de 15 anos e cuja quota de mercado actual é de 48%.
José Simões, country mana ger da PRIMAVERA em Moçam bique e Angola, explica que es te crescimento demonstrado se deve “a três factores que o es tudo da IDC veio realçar. Se por um lado, o ERP PRIMAVERA res ponde a todas as exigências fis cais e legais do país, por ou tro, com o grande investimento que os nossos clientes fizeram na formação dos seus quadros, e com a melhoria da prestação de serviços da nossa rede de parceiros, demonstram satisfa ção e 94% deles recomendam mesmo a marca PRIMAVERA. Is to reforça cada vez mais a nos sa notoriedade neste mercado”, assinala o responsável.
megafone Dezembro 2018 50
Standard Bank lança plataforma para indúStriaS criativaS
incubadora de negócios vai acolher projectos disruptivos na área digital
75% daS empreSaS Utiliza SiStema informatizado de GeStão
MFF veio uniFicar todos os actores da criatividade
raquel nobre Directora-geral da Qideia
no final de mais uma edi ção do Maputo Fast For ward, o balanço é “muito po sitivo”, sendo que a platafor ma de divulgação, debate e junção de agentes das indús trias criativas atingiu, este ano, uma dimensão invulgar para a realidade nacional. Raquel Nobre, fundadora da Qideia, que produz o MFF des de a sua primeira edição, ex plica à E&M como se cria o su cesso de um festival singular como este, e antevê qual será o seu futuro.
Fundou a QIDEIA num mo mento de quebra do mercado e alcançou notoriedade com um festival de indús trias criativas… Isto tinha tudo para dar errado, mas não deu, pois não?
Passei pela Rio Tinto, onde cresci muito profissionalmen te, e quando começou a crise, em 2015, decidi fazer o meu próprio caminho, reunindo o que aprendi numa grande multinacional, mas tentando dar um toque pessoal às coi sas, algo que falta muitas ve zes nestas áreas, e que se sen te na comunicação externa e interna, se ela for bem feita. Isso pode fazer toda a diferen ça na percepção que temos de uma empresa, de uma mar ca. Depois, inesperadamen te surge o MFF. Acabávamos de juntar toda a equipa e fa
cv
curriculum vitae
raquel Nobre é directora-geral da Qideia, uma agência de comunicação vocacionada para a estratégia e implementação de produtos de comunicação e fundadora do Maputo fast forward. antes, trabalhou vários anos na multinacional rio tinto.
MFF
actores da criatividade. A se gunda edição ganhou já um certo embalo e comecei a pensar, enquanto gestora, que provavelmente haveria aqui um potencial tremendo, a vá rios níveis. Nesta terceira edi ção, e com um modelo de ne gócio já mais definido, conse guimos transformar o Mapu to Fast Forward numa plata forma mais complexa de di vulgação, criação e lança mento de novos projectos.
Tendo atingido este ano uma dimensão assinalá vel, promovendo ciclos de exposições, conferências e workshops simultaneamen te em galerias, cinemas e centros culturais de Ma puto, para onde evoluirá o MFF?
tos pelo MFF ao longo de todo o ano, fazendo um link entre os agentes da inovação, insti tuições de ensino e as diver sas audiências.
Seguindo esse caminho, quais são as perspectivas para os próximos anos?
lámos da possibilidade de ce lebrar o Dia Mundial da Cria tividade. E de uma coisa bas tante simples, em que organi zámos um dia de conferências com cerca de dez conversas a acontecer em simultâneo, em dois espaços da Fundação Lei te Couto, mas que teve um im pacto tão forte em quem lá es teve, e em nós próprios, sur giu a ideia de fazer algo mais.
Nasce assim o MFF… Sim. Decidimos criar a plata forma para que fosse um es paço para unificar todos os
Há toda uma evolução no sen tido de Maputo se tornar um ponto de referência em ter mos de capital de criativida de. Vejo o MFF a evoluir co mo plataforma que expõe a criatividade de Moçambique no mundo. E começo a ver um modelo de negócio sustenta do na participação cada vez mais próxima e efectiva dos nossos parceiros comerciais em toda esta dinâmica que estamos a criar, e a apontar em direcções cada vez mais inovadoras e disruptivas. A próxima etapa será o desenvolvimento de projec
Pretendemos tornar este, num acontecimento de refe rência nesta região de Áfri ca. Somos bastante abrangen tes ao nível da programação desenhada pelo Rui Trindade e a restante equipa que assu me o projecto durante todo o ano. O MFF ainda não está po tenciado ao limite como mo delo de negócio, mas os nossos principais parceiros, como a Embaixada da Suíça ou o Bar clays Bank Moçambique, sa bem que estamos a consolidar a marca e a criar um novo mercado. Todo este segmento das indústrias criativas tem, depois, um valor inestimável para o próprio país. Agora é uma questão de fazer cres cer a abrangência e a forma de nos relacionarmos com os parceiros. Este ano, por exem plo, um dos nossos convidados para uma conferência veio do Reino Unido porque ouviu fa lar de nós e queria ver in loco a capacidade de fazermos al go do mesmo género, em par ceria, na Europa. A esse res peito, ainda recentemente fe chámos uma parceria com a Southern Africa Arts e conse guimos entrar numa rede de cinco festivais deste género, na região.
Depois de quatros anos de uma “nova vida”, era isto o que imaginava?
Sem dúvida, não me vejo a fa zer outra coisa da vida senão gerir a QIDEIA e poder fazer crescer este nosso, porque já é de todos nós, Maputo Fast For ward. Não consigo imaginar outro caminho.
figura
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do mês
fotografia Jay garrido
texto
Pedro Cativelos Hermenegildo langa
criatividade
“Vejo o MFF a evoluir como plataforma que expõe a criatividade de Moçambique no mundo. E começo a ver um modelo de negócio sustentado na participação cada vez mais próxima dos nossos parceiros”
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MoçaMbique no top do airbnb eM África
O mercado de alojamento temporário está a mudar em todo o mundo e Moçambique não é excepção. Após a especulação desenfreada dos primeiros anos da década, há um novo fenómeno (ou já nem tanto assim) com um crescimento exponencial no país e no continente, amplificado pelo plataforma Airbnb
desde que se lançou à conquista de Áfri ca, a Airbnb, startup tecnológica norte -americana que permite às pessoas pes quisarem, anunciarem e reservarem quartos ou casas inteiras na internet, registou para cima de 130 mil anfitriões (“hosts”) no continente, os quais acolhe ram mais de 3,5 milhões de visitantes. A maioria dos forasteiros chegou apenas no ano passado, como uma erupção súbi ta que catapultou, num ápice, sete países africanos para o seio dos territórios onde as dormidas aumentaram, no último ano, mais de cem por cento. De tal modo que, no clube restrito dos dez países que mais cresceram dentro da Airbnb a nível pla netário se encontram, além da Nigéria e do Gana, o improvável Moçambique, cuja ocupação via Airbnb aumentou, no primeiro semestre do ano, 136 por cento. A aventura conjunta de Maria Cristina Gouveia e Patrícia Tomás, crismada de Amo Maputo – House & Experience e já com nove casas listadas na plataforma Airbnb, é contribuinte líquida para o êxito moçambicano da startup de via gens sediada em San Francisco, Califór nia. E o inverso também ocorre, porque a relação entre a Airbnb e a Amo Mapu to, fundada em Agosto de 2017 por Gou veia e Tomás, tem sido proveitosa para
todos: “No Airbnb, os hóspedes avaliam -nos e nós a eles, o que protege os ‘hosts’ de pessoas indesejáveis. E a resposta da Airbnb às nossas dúvidas e solicitações é imediata e focada no problema, porque o objectivo de todos é que tudo corra pelo melhor”, alega Gouveia. Tem corrido. Desde logo, para a Airbnb, cuja estatística é esmagadora: criada em 2008 por três jovens estudantes – Brian Chesky, Joe Gebbia e Nate Blecharczyk –, os quais alugaram, via internet, um quarto na casa partilhada para conse guirem pagar a renda, está hoje pre sente em 191 países (31 com escritórios) e tem mais de 5 milhões de anúncios de alojamento cobrindo virtualmente o Mundo inteiro, com um número médio de dormidas por noite orçado em mais de dois milhões de hóspedes.
Serventia no trabalho e no lazer E esses, no caso da Amo Maputo, são tipi camente “pessoas que vêm a trabalho, viajantes profissionais, por temporadas relativamente curtas. Depois, e principal mente em Agosto e Dezembro, e ainda um bocadinho pela Páscoa, temos os turistas, que vêm visitar Moçambique ou fami liares dos expatriados que cá estão mas não têm casa capaz de os acolher a todos”,
informa Patrícia Tomás. Com preços mais acessíveis do que os hotéis e sem as res trições daqueles, as casas da Airbnb são a opção mais interessante, tanto do ponto de vista económico como de acomodação, para os visitantes que dispensam mordo mias e tutelas.
Segundo dados do primeiro semestre des te ano, a “maioria dos hóspedes que têm fi cado nas mais de 1 200 ofertas listadas na Airbnb em Moçambique (casas ou apenas quartos, em proporções iguais) é prove niente de África do Sul, seguida dos EUA e do Reino Unido. Os viajantes internos são o quarto maior grupo”, contabiliza Velma Corcoran, Directora da Airbnb de África do Sul e supervisora da região austral. A experiência de Henrique Granjeia, resi dente em Moçambique desde 2001 e liga do ao sector bancário, confirma a estatís tica: com casa de três quartos situada na Ponta do Ouro – a estância balnear mais cobiçada no sul de Moçambique –, os seus hóspedes principais “são de África do Sul, do Botswana, europeus e norte-america nos que se encontram no país ao serviço de multinacionais e das ONG”, diz.
Tal como no caso de Granjeia, os viajan tes internos africanos são os que melhor aproveitam as vantagens da Airbnb. Embora usada por estrangeiros que vêm
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à descoberta do continente, ao expandir o leque de opções de estadia para lá dos hotéis e resorts de luxo, o alojamento a preços acessíveis oferecido pela Airbnb alivia alguns padecimentos aos viajan tes internos que enfrentam, por toda a África, desafios significativos devido à complexidade processual dos vistos e aos voos dispendiosos.
toque de Midas e trabalhos de Hércules Mas, se bem serve os viajantes, a Airbnb mais apraz aos “hosts”, num conúbio pro veitoso para todos. Pelos cálculos de Vel ma Corcoran, “no continente Africano, os ‘hosts’ já ganharam mais de 400 milhões de dólares desde a fundação da Airbnb”. Alheio às contas dos outros, Granjeia sa lienta o acréscimo financeiro que a casa na Ponta do Ouro, “ocupada practica mente a tempo inteiro”, proporciona: “A determinada altura, precisei de dinheiro e coloquei a casa na plataforma; passado ano e meio, dá-me mais um ordenado por mês”, diz o bancário que, “se tivesse mais casas para alugar, colocava-as todas no Airbnb”, sublinha.
Há quem o faça, dada a soma de rendi mentos, o que justifica o crescimento ex ponencial da oferta listada em Moçam bique. No entanto, nem todos conhecem o êxito da Amo Maputo ou de Granjeia; neste negócio, não há lugar ao milagre do mítico Midas, cujo toque converte lixo em ouro. Pelo contrário, o esforço envolvido para alcançar o estatuto de “superhost” – o anfitrião que, reconheci do pela excelência de serviço, se torna mais recomendável na plataforma Airb nb – é, não raro, hercúleo. “Dá resultados, mas também dá muito trabalho”, alerta Granjeia. “É necessário ter um bom em pregado, que seja eficiente e de confian ça. E a manutenção é fundamental, temos de estar sempre em cima”, refere o único “superhost” da Ponta do Ouro. “Não sei se a concorrência tem os mesmos parâmetros de exigência que nós, tanto do ponto de vista dos serviços oferecidos, como do ponto de vista fiscal e legal”, co gitam Maria Gouveia e Patrícia Tomás, as empresárias que, na área da capital, ostentam o mesmo estatuto que Granjeia e com ele partilham a filosofia do cuida do impoluto. “Temos quatro colaborado res permanentes para manutenção das casas e outros tantos eventuais em caso de necessidade. Porque a qualidade da manutenção – além de ofertas comple mentares, como guias bilingue da cidade e do que ela tem para usufruir, além de bicicletas disponíveis para excursos sem
Penthouse em Central Cape Town, um dos muitos destaques do Airbnb, na África do Sul
pressas, por exemplo –, é um requisito fundamental no Airbnb”, dizem. “Faze mos sempre uma vistoria exaustiva no check-in e no check-out dos hóspedes. Nunca facilitamos”. E o reconhecimento dos hóspedes reflecte-se nos encómios ao conforto das casas e à simpatia eficaz das empresárias, que enchem a caixa de co mentários da Amo Maputo...
Hotelaria de topo ignora concorrência Mas não há bela sem senão, e algumas zonas do globo também começam a não facilitar a vida à Airbnb e respectivos “hosts”. Não obstante, o crescimento ex ponencial que tem conhecido e o contri buto para os cofres municipais de muitas cidades por via da tributação especial aos hóspedes, algumas urbes, como Bar celona, em Espanha, e Berlim, a capital alemã, vedaram as operações à startup californiana. Para não prejudicar sec tores já estabelecidos da economia, ale garam. Como a indústria hoteleira. Em África começam a levantar-se algumas vozes nesse sentido, como são os casos da Namíbia e da Tanzânia, onde a platafor ma do Airbnb tem enfrentado proble
mil casas
É o número de habitações que actualmente estão registadas na plataforma airbnb no continente africano
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mas de regulamentação e licenciamento. Em Moçambique, essa conversa ocorre ainda em surdina. O entendimento, pelo menos dos hotéis de topo, é o de que há espaço para uma coexistência pacífica. “Temos de definir muito bem o produto de que estamos a falar. Os hotéis de cinco estrelas e o alojamento do Airbnb encon tram-se em universos completamente diferentes e nada concorrenciais entre si. No Serena Polana Hotel não oferece mos alojamento apenas, mas antes uma série de serviços com garantia de exce lência; oferecemos, no fundo – e é isso que nos move – toda uma experiência”, alega Abhishek Singh Negi, director do hotel de cinco estrelas mais famoso de Maputo. O discurso de Negi encontra eco no direc tor de operações do Grupo VIP Hotels em Moçambique. “Eu próprio sou utilizador da Airbnb, mas estamos falar de seg mentos de mercado absolutamente dis tintos. Quem recorre ao Airbnb é mais o turista mochileiro, que nunca teve a in tenção, nem o interesse, de ficar num ho tel de cinco estrelas”, afirma Dado Gula mhussen. “As pessoas que recebemos no VIP Grand Hotel Maputo são homens de
Airbnb COM CreSCiMenTO bruTAl eM ÁfriCA ... e MOçAMbique
Contactado pela E&M, o Airbnb forneceu dados exclusivos sobre o crescimento do número de chegadas e alojamentos locais disponibilizados na plataforma
MOçAMbique nO ‘TOP 3’ AfriCAnO de ChegAdAS
Em percentagem de crescimento de check-in no sistema no primeiro semestre de 2018
nigéria gana moçambique costa do marfim argélia egipto zimbabué
OferTA de AlOjAMenTOS lOCAiS ‘exPlOde’
2014 2015 2016 2017 2018 15 28 61 99 130
3º 191%
É a média de crescimento anual do número de alojamentos incritos no Airbnb em toda a África. Desde 2014, cresceu 766%
negócios que não pretendem só um sítio para dormir, mas sim todos os serviços que estão associados, como salas prepa radas para reuniões, por exemplo”.
Maná turístico Numa retórica convergente com os seus pares de outras latitudes, Negi e Gula mhussen alertam, porém, para a neces sidade de regulamentar a nova reali dade do mercado: “Porque se nós somos taxados – e não é pouco – não vejo razão para que plataformas como a Airbnb não o sejam também e pela mesma medida”, defende Gulamhussen. Negi concorda. “É necessário regulamentar e não tentar impedir. Porque as pessoas estão mais alertadas para os preços do alojamen to, fazem pesquisa antes de viajar, e é uma questão de oportunidade e de gos to”, diz. E, com a lucidez dos homens via jados e atentos às novas tendências, não tem dúvidas de que “fenómenos como o da Airbnb não vão parar. Pelo contrá rio – vão crescer cada vez mais”, afirma. “Mas vai haver lugar para todos”. E todos vão ser muitos, porque no hori zonte da Airbnb o continente africano
constitui uma alavanca poderosa para os negócios do futuro. “Estamos a inves tir, em África e até 2020, um milhão de dólares em projectos de turismo lidera dos pelas comunidades”, afirmou Velma Corcoran. Como paradigma desse inves timento alocado pela Airbnb, referiu o Africa Travel Summit, conferência que decorreu em Cape Town, África do Sul, e organizada pela startup californiana. Um movimento de antecipação, porque o continente conhecido por ser o fornece dor, há centúrias, das matérias-primas que alimentam as indústrias ocidentais e asiáticas, começa agora a explorar um novo filão entretanto inaugurado: o Tu rismo. Com a vantagem de ser sustentá vel, está entre os sectores que mais cres cem em África, tendo contribuído com quase 178 mil milhões de dólares (cerca de 8,1%) para o PIB do continente em 2017, de acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo. E a tendência é não parar de crescer. Até quando?
tExto Elmano madaíl fotogrAfiA Jay Garrido
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Em milhares de casas registadas no sistema 213 141 136 113 105 104 104 FONTE AIrbnb
Em 2018, Moçambique está no ‘top’ dos mercados africanos com maior crescimento de check-in no Airbnb
Pobreza, Crescimento Económico e Preocupações com o Bem-Estar
de Moçambique
a temática da riqueza das Nações e da distribuição do ren dimento tem raízes longínquas no pensamento económico, mesmo tendo em conta que a sua abordagem não se impôs sem profundos e controversos debates. Nos anos 1970, foi reco nhecido que o crescimento económico só por si não reduziria a pobreza com uma rapidez aceitável e de forma abrangente, tendo feito com que organismos como o Banco Mundial e as Nações Unidas tomassem a sério as abordagens para a supe ração da pobreza.
A redução da pobreza tem sido um dos principais objectivos constantes nos programas de governação de diversos países, e no passado foi muito relacionada com a falta de rendimen tos, em dinheiro ou espécie, visando a satisfação das necessi dades básicas. Mas como a pobreza é um fenómeno multidi mensional, é volátil e não uma fatalidade, a definição numa perspectiva monetarista não permitia incorporar as diversas perspectivas da pobreza, com ênfase para o acesso aos servi ços básicos, o consumo, posse de activos duráveis, entre outros. Hoje se reconhece, mesmo para o caso de Moçambique, que não obstante os avanços alcançados desde a viragem da dé cada 1990, o progresso não tem sido uniforme, variando em função de cada zona e do tipo de indicador usado. Desde a segunda metade dos anos 1990, que Moçambique en veredou pelos programas estratégicos de redução da pobre za, uma iniciativa do Banco Mundial orientada para os países menos desenvolvidos, e iniciou a implementação do Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA), na sua primeira geração (2001-2005) e segunda geração (2006-09), e mais tarde implementou o Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARP), cobrindo o período 2011-14, e sem a explicita ção de absoluta. Com base nos Inquéritos aos Orçamentos Fami liares (IOF), feitos com uma periodicidade quinquenal, o índice de pobreza na óptica do consumo foi de 69,7% (1996-97), 52,8% (2002-03), 51,7% (2008-09) e 46,1% (2014-15). Como é evidenciado, regista-se uma redução da pobreza, exceptuando o período en
tre 2002-03 e 2008-09 (em que houve na prática uma estagna ção do índice de pobreza, pois a subida foi insignificante), mas essa redução tem-se situado aquém das projecções, já que no PARPA II previa-se que a incidência da pobreza seria de 45% em 2009, e no PARP seria de 42% em 2014, ou seja, planificaram -se reduções da pobreza mais significativas do que as que efec tivamente ocorreram (Cf. PARPA II, 2016; PARP, 2011 e IOF, 2015). Hoje, é já um dado adquirido que as abordagens de combate à pobreza devem ser feitas com uma forte combinação com o crescimento económico e o desenvolvimento do capital huma no, este último sendo simultaneamente um fim e um meio do progresso económico, incluindo a educação, saúde, nutrição e redução da fertilidade. Muito embora os diversos países difiram entre si na priori dade que atribuem aos objectivos distributivos, parece haver consenso quanto à necessidade de reduzir e, até certo ponto, eliminar a pobreza absoluta, sobretudo porque ela é uma con dição de vida caracterizada pela má nutrição, analfabetismo e doença, que está abaixo de qualquer definição de nível de decência humana.
Os pobres são um grupo heterogéneo, alguns vivendo razoa velmente e outros estando no limiar da sobrevivência. Uma boa colheita, uma semente nova, remessas de familiares imi grantes ou a oportunidade de trabalhar num projecto de cons trução de estradas nas redondezas podem contribuir para elevar o rendimento da família camponesa. Além dos seus baixos rendimentos, os pobres tem algumas características em comum: vivem em famílias numerosas e com elevado nú mero de dependentes, mais de 2/3 vivem nas áreas rurais ou nas zonas peri-urbanas, muitos deles dependem da agricul tura de baixa produtividade e rendimento para a sua sobre vivência, diversificam pouco os seus rendimentos, 4/5 do seu rendimento é usado para a obtenção de alimentos, a sua dieta alimentar é monótona e limitada, a sua habitação é precária e não oferece adequado conforto, padecem frequentemente
A longo prazo, é mais avisado apostar em três tipos de políticas que se reforçam mutuamente: a melhoria da distribuição da riqueza, a aceleração do crescimento e, por fim, o controlo das variáveis demográficas que influem, e de que maneira, no desenvolvimento
OPINIÃO Dezembro 2018 58
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores
de doenças evitáveis e a grande maioria dos adultos é anal fabeta. Pelo que foi exposto, os pobres possuem um elevado grau de vulnerabilidade, que suscita a precaução e a aver são ao risco e não são resilientes aos choques económicos e climáticos.
Quer a pobreza seja avaliada pelo rendimento baixo, por re duzida esperança de vida ou pelo analfabetismo, há uma forte correlação entre a prevalência da pobreza num país e o seu PNB per capita, o que sugere que parte da solução para a po breza está no crescimento económico. Estudos empíricos têm mostrado, igualmente, a importância estratégica de factores como a distribuição adequada de rendimento pelas popula ções mais desfavorecidas, o crescimento económico elevado num período longo (não abaixo de três décadas), a acumulação de capital humano e o aumento da produtividade no uso dos recursos disponíveis.
Autores como Edelman & Chenery (1977) recomendam que, mesmo que a curto prazo, se fique com a tentação de escolher entre o crescimento e a distribuição, é mais provável que no longo prazo seja mais avisado apostar em três tipos de polí ticas que se reforçam mutuamente, a saber: (i) melhoria da distribuição; (ii) aceleração do crescimento; (iii) controlo das variáveis demográficas que influem no desenvolvimento. Na mesma perspectiva se posiciona Irma Adelman (1975) ao estudar o processo de desenvolvimento em países como Ja pão, Coreia do Sul, Israel, Singapura e Taiwan, mostrando que eles seguiram uma sequência dinâmica de estratégias simi lares: (a) redistribuição radical, algumas vezes acompanhada por taxas negativas de crescimento; (b) acumulação maciça de capital humano e formação especializada muito além da
procura do momento, e; (c) políticas económicas dirigidas ao rápido crescimento económico intensivo em trabalho (incluin do tecnologias apropriadas e promoção do comércio externo). Segundo a autora, a estratégia desses países não foi “cresce agora, redistribui e educa depois”, como ocorreu em algumas economias ocidentais capitalistas, mas “redistribui e educa agora e cresce depois”. Na verdade, essa forma de abordagem é esquemática, mas enfatiza a necessidade da redistribuição estar sempre presente nos processos de desenvolvimento. O economista indiano Amartya Sen (2003) sempre se preocu pou em compreender a situação económica dos mais desfavo recidos e porque eles vivem à margem do que se considera bem-estar. A curiosidade filosófica de Sen levou-o a questio nar os pressupostos mais básicos de economia, perguntando insistentemente, “afinal é pobreza de quê?” A resposta da eco nomia convencional era “é pobreza de dinheiro, de comida e abrigo, ou seja, as pessoas são realmente pobres quando lhes faltam bens materiais.”
Para A. Sen, o problema é muito mais vasto do que isso. Ter uma vida boa implica uma série de capacidades, como ter boa alimentação, ser saudável, ter instrução, ser parte de uma comunidade, viver num ambiente democrático, estar seguro, ter informação, e assim por diante. Para o autor, o desenvolvi mento da sociedade é a expansão de capacidades, no domínio económico, mas também nas esferas cultural, social, política, institucional e ambiental. A. Sen postula que o verdadeiro de senvolvimento se refere ao crescimento da própria liberda de, que coloca o crescimento económico como condição neces sária, mas não suficiente, exigindo a superação da pobreza e o alcance do verdadeiro bem-estar.
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É um dado adquirido que as abordagens de combate à pobreza devem advir da combinação entre crescimento económico e desenvolvimento de capital humano
lá fora
Sonho da livre circulação em África continua a Ser Só iSSo, um Sonho
Um relatório do BAD mostra que é mais fácil aos estrangeiros obterem diferentes vistos do que aos habitantes do continente africano. Um dos sinais de que algo está errado na maratona para criar um espaço de circulação comum
ciku kimeria é uma escritora queniana apaixonada por viagens que mantém um blogue chamado “The Kenyan Ex plorer” onde vai registando episódios e reflexões suscitadas pelas suas frequen tes deslocações pelo continente africano. Detentora de uma verdadeira “alma de viajante”, Ciku Kimeria aprecia, ao con trário do “turista”, preso a itinerários pré-definidos, a “errância”, o acaso dos encontros e desencontros, isto é, entende a “viagem” como o escritor inglês Bruce Chatwin a descreveu nos seus livros, como uma “descoberta de si e dos outros”. Para Chatwin, o “viajante” reencarna a figura do nómada, alguém que, em cada
viagem, está aberto à imprevisibilidade e ao inesperado e age em conformidade. Muda o seu itinerário. Prolonga uma es tadia. Improvisa o destino.
itinerância invejável e inviável Mas será esta “errância” possível no continente africano? Num depoiamento publicado inicialmente em “SuluZulu”, e depois reproduzido na revista norte -americana “Quartz”, Ciku Kimeria des creve como é díficil ser “viajante” em África: “Uma vez estava na Costa do Marfim e comecei a tratar dos vistos para uma viagem que pretendia fazer e implicava passar pelo Burkina Faso,
pelo Togo, pelo Benim, voltar à Costa do Marfim e daí regressar ao Quénia. É-me difícil descrever a incredulidade dos funcionários quando lhes expliquei que não ia visitar familiares ou amigos nesses países. Pretendia apenas conhe cer os países... Explicaram-me então que para obter os vistos precisava de apre sentar as reservas dos hotéis onde ia ficar nesses países. Reservas de hotéis? Como explicar-lhes que indo eu viajar de autocarro, sem um plano definido de quanto tempo iria querer demorar-me em cada um dos locais, era impossível apresentar qualquer tipo de “reser va de hotéis”? Foi nesse momento que
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percebi que para o “viajante” em África não há espaço para a espontaneidade. O facto é que mesmo que eu fosse visitar amigos e familiares nesses países teria de, para obter os vistos, apresentar, an tecipadamente, cartas-convite de cada um deles e um documento comprovativo da sua residência carimbado pelas auto ridades locais. Ou seja, para um africano viajar em África é preciso ter sempre um plano detalhado e definido.”
Para além destas dificuldades, Kimeria refere ainda várias outros factores adi cionais de desmotivação: o custo excessi vo dos vistos, a sua curta duração (sendo que os vistos para múltiplas entradas têm, muitas vezes, custos proibitivos), a dificuldade em obter informações (os websites de muitas embaixadas e con sulados não são regularmente actuali zados e contêm, por exemplo, números de contacto que já não existem ou os funcionários simplesmente não respon dem aos emails que são enviados), uma inflexibilidade burocrática que gera, muitas vezes situações surreais e absur das - como quando pediram a Ciku Ki meria que apresentasse, para obtenção do visto, os bilhetes de autocarro que iria tomar ao longo da travessia de um de terminado país sendo que, para além da impossibilidade prática de o fazer, o seu objectivo era viajar sem um plano pré -definido – para já não falar da “ambi guidade” que envolve, em muitos casos, a concessão do visto (como se a sua obten ção estivesse, de algum modo, dependen te de variáveis conjunturais cuja lógica não é perceptível e parece arbitrária). Na mesma altura em que o testemunho de Ciku Kimeria era publicado, em 2016, um relatório do African Development Bank (AfDB) – “Visa Openness Report” - fa zia um levantamento da situação por ela descrita revelando que os africanos pre cisavam de vistos para entrar em 55% dos países do continente. Apenas em 20% dos países lhes era possível, nessa altura, entrar sem visto e só em 25% dos países podiam obter o visto à entrada no país.
estrangeiros circulam melhor O relatório notava que era mais fácil aos estrangeiros obterem vistos do que aos habitantes do próprio continente afri cano. Por exemplo, os norte-americanos só precisavam da obtenção de visto em 45% dos países, podiam obter vistos à chegada em 35% dos países e não pre cisavam de visto em 20% dos países. O relatório sublinhava ainda o facto de que naqueles países que tinham adopta
MoçAMBiqUe BeM colocADo
O ranking do BAD, que enumera a facilidade de pedido e concessão de vistos em África, mostra Moçambique num lugar entre os primeiros ao nível da facilidade de entrada no país Em 54 países africanos uganda
do uma política mais aberta em relação à concessão de vistos essa abertura ti nha tido um impacto directo benéfico nas actividades económicas. Por exemplo, no Ruanda, a diminuição nas restrições à obtenção de vistos traduzira-se, entre 2014 e 2015, num aumento das receitas do turismo de 4% (305 milhões de dólares). E ao estabelecer um acordo com o Qué nia e com o Uganda, que possibilitou aos seus habitantes viajarem com um “vis to turistico único”, isso significou um au mento de 17% no número de visitantes. Para além disso, o Ruanda aboliu a ne cessidade de obtenção de vistos de tra balho para os indivíduos provenientes da comunidade de países da África Oriental o que lhe permitiu atraír um número crescente de “talentos qualifica dos”. Os três países também acordaram em que os seus cidadãos possam atra vessar as fronteiras apenas com o res pectivo bilhete de identidade o que teve como consequência um aumento de 50% nas relações comerciais.
ainda assim, há uma evolução Um relatório publicado em 2017 pelo AfDB dava conta de uma evolução posi tiva, apesar de ainda longe de genera lizada. O Senegal, por exemplo, passou a dispensar a necessidade de vistos para indivíduos provenientes de 42 países africanos quando, em 2015, esse número não ia além dos 16. A Tunísia eliminou a necessidade de visto para 21 países, e São Tomé e Príncipe permite agora a cidadãos de 13 países a entrada sem vis to quando, dois anos antes, todos eram a obrigados a obtê-lo. Outros países, como o Quénia, a Nigéria e a Namíbia, indicavam no relatório a sua intenção de, a partir de 2018, simplificar os procedimentos para a obtenção de vistos ou permitir a ob tenção de vistos à entrada, na sequência do que o Gana e o Benim já tinham feito. A avaliação feita mostrava, no entanto, que o objectivo traçado pela União Afri cana, no sentido de, no final de 2018, os cidadãos africanos poderem circular, à semelhança do que acontece na União Europeia, sem necessidade de vistos, não iria ser atingido. Este objectivo tinha sido definido aquando da Cimeira da União Africana, realizada em 2016 em Kiga li (Ruanda), e era entendido como um primeiro passo em direcção à emissão, em 2020, de um passaporte electrónico “único” que permitiria a livre circulação através do continente. Esta medida inte grava-se numa estratégia mais ampla cuja meta é estimular o desenvolvimen
61 Dezembro 2018
84 18 16 14 16 17 8 8 26 6 0 36 38 40 37 35 46 46 22 47
Sem Visto Visto de chegada Visto prévio
0 0 0 0 1 2 0 0 6 1 seychelles
guiné bissau cabo verde gana
FONTE Africa Visa Openness Report 2017
togo
moçambique mauritânia maurícias ruanda
- BAD
as três fases de implementação da livre circulação estiverem concluídas, este será um cenário do passado
to do continente por via de uma progres siva integração das diversas economias regionais através da facilitação da circu lação de pessoas, bens, serviços e capitais. No entanto, apesar do acordo de princí pio subscrito pela totalidade dos países membros da União Africana em relação a estes objectivos, muitos manifestaram, desde logo, o seu cepticismo quanto à viabilidade de, a curto prazo, estes vi rem ser concretizados. Países com eco nomias mais fortes, como a África do Sul, mas nos quais as taxas de desemprego são altas, temem que a abertura de fron teiras e a consequente chegada de imi grantes potencie novos focos de tensão social. Outros, com economias menos de senvolvidas mas onde existem “bolsas” de recursos altamente qualificados, re ceiam que esta abertura de fronteiras estimule uma “fuga de talentos” para os países com maior poder económico. Outros ainda receiam o potencial au mento de instabilidade política e social decorrente desta “abertura” tendo em conta a multiplicidade dos conflitos que se verificam em muitas regiões (Boko Haram, Al Shabaab, etc.). E há, final mente, aqueles que temem a possibili dade da ocorrência de crise sanitárias (como a do vírus ébola) ou humanitá rias (devido ao elevado número de po pulações de refugiados ou deslocados existentes no continente) se se verifi car uma abertura total de fronteiras. A própria União Africana está cons
4%
no Ruanda, a diminuição nas RestRições à obtenção de vistos tRaduziu-se, entRe 2014 e 2015, num aumento das Receitas do tuRismo de 4%, ceRca de 305 milhões de dólaRes
ciente das dificuldades existentes, e reconhece que muitos países não estão preparados para lidar com todas as implicações que resultam de uma polí tica de livre circulação no continente. E refere, nomeadamente, o facto de, em vários países, o processo de emissão de passaportes carecer de “integridade”, a gestão das fronteiras ser “ineficiente” e os procedimentos de controle e segu rança estarem aquém da exigência miníma exigível.
três fases decisivas Face a esta situação, a União Africana definiu três fases para a implementa ção dos processos de livre circulação: a primeira deve passar pela abolição dos vistos de entrada, e a atribuição de di reitos de residência e de permanência (o que inclui a possibilidade de criar ne gócios e fazer investimentos). As fases dois e três (que aprofundam os mecanis mos anteriores) só avançarão quando for concretizada a primeira fase. Mas mesmo para a implentação da primei ra fase tem havido relutância por parte de vários países, sobretudo aqueles com economias mais desenvolvidas, que de fendem que sem a existência de acordos prévios entre os Estados em relação a vários pontos - no que toca, por exem plo, ao alinhamento das políticas e dos procedimentos relativos à imigração, à gestão das fronteiras, aos mecanismos de reconhecimento das qualificações académicas e profissionais ou às condi ções de acesso aos benefícios da segu rança social – não será possível avançar. A complexidade que este tipo de nego ciações envolve sugere que o ideal da li vre circulação no continente não se con cretizará, certamente, no curto prazo. Mas, para os mais optimistas, iniciativas como a recente liberalização do espaço aéreo no continente, são um indicador importante de uma vontade política em caminhar na direcção pretendida. Com o crescimento, em anos recentes, de uma classe média africana com um significa tivo poder aquisitivo, a expectativa é que esta liberalização do mercado aéreo, com a consequente abertura de novas rotas dentro de continente e uma baixa nos preços das viagens, estimule não apenas o turismo interno mas funcione como factor de pressão no sentido de acelerar a implementação da livre circulação.
62 Dezembro 2018 lá
fora
quando
textO Rui TRindade fOtOgrAfiA iSTockphoTo
Sector informal, a bússola de milhares de agregados familiares
a discussão sobre o comércio informal no país, sempre foi mo tivo de controvérsia. Porém, não há dúvidas de que por aqui que a maioria da população moçambicana ganha a sua renda. Aliás, muitas famílias no país têm no sector informal de comér cio o seu ganha-pão, contrastando com o que acontecia antes da abertura a economia de mercado em que a venda até de um simples rebuçado da rua era considerada candonga. Quantos ditos candongueiros se viram obrigados ‘a comer o pão que o diabo amassou’, só pelo simples facto de haverem sido apanhados na altura a comerciar produtos fora do circuito considerado formal. Mas hoje não causa estranheza esse facto, tanto porque em quase todas as esquinas das cidades moçambi canas é notável a presença de vendedores disputando espaços com transeuntes e automobilistas, o que não raras vezes resul ta em acidentes e prejuízos incalculáveis.
Na cidade de Maputo por exemplo, a Avenida Guerra Popular é bem elucidativa do que acontece um pouco por todo o país, se não em todo o continente africano, com os passeios abarrotadas de gente vidas de quase todos os cantos deste belo Moçambi que, no afã de conseguir algum dinheiro para suprir as suas necessidades do quotidiano. Entretanto, não podemos menosprezar o papel e a contribuição do sector informal para debelar a falta de emprego formal que enferma a economia nacional, com muitas empresas a fechar as portas, pondo em risco de desemprego muitos pais, mães e famílias.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa de de semprego no pais flutua entre 22% e 27%, sendo as mulheres e os jovens das áreas urbanas os mais afectados, calculando-se que a economia formal gere 700 000 empregos. No entanto, a maior parte da força de trabalho, aproximadamente 11 milhões de pessoas, vê-se forçada a procurar a sua subsistência numa variedade de actividades da chamada economia informal.
Dados do Ministério do Trabalho e Segurança Social estimam que a economia informal contribua com 40% para o PIB, não existindo, contudo, dados formais pormenorizados sobre a eco nomia informal. Por outro lado, o trabalho infantil é também uma prática comum na economia informal, onde mais de 2% dos trabalhadores e operadores económicos informais se si tuam na faixa etária até aos 14 anos e quase 10% têm menos de 20 anos.
Ainda assim, a economia informal continua a ser uma impor tante fonte de rendimento e sustento também para os idosos, perante a inexistência de formas alternativas de segurança de rendimento, pensões ou assistência social, pese embora o Ins tituto Nacional de Segurança Social (INSS) tenha aberto, muito recentemente, a oportunidade de os trabalhadores informais contribuírem para a Segurança Social onde são os chamados de Trabalhadores por Conta Própria (TCP).
Um estudo feito pelo economista Carlos Nuno Castel-Branco, em 2016, referia que, “nos centros urbanos, o rendimento pro veniente do trabalho informal, considerado complementar no passado, tornou-se essencial para a sobrevivência dos agrega dos familiares.”
Mas em consequência do preconceito de género na elaboração das políticas, o trabalho informal, e em particular as activida des associadas ao trabalho das mulheres, são frequentemente tratados como não constituindo empregos, retratados como exi gindo menos competências que as actividades na economia for mal e, por conseguinte, merecedoras de menos protecção social. Esta é apenas uma discussão sobre o dilema de combater ou estimular o sector informal. E de que forma se deve proceder para o formalizar, mantendo o respeito pela sua importância na grande economia da vida de milhões de moçambicanos. A verdade é que o comercio informal tem contributo para a economia do pais.
Não podemos menosprezar o papel e contribuição do sector informal para debelar a falta de emprego formal. Até porque é aqui que se faz, em larga medida, a economia real do país
OPINIÃO Dezembro 2018 64
Hermenegildo Langa • Jornalista da Economia & Mercado
ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
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O escape de Verão desta edição da E&M passa pela magnífica Lagoa do Bilene 70
g e
O Moksha é um verdadeiro mosaico gastronómico para quem gosta de viajar pelos sabores 71
A maior pontuação dada pela “Wine Spectator” foi para o Quinta do Noval Porto Vintage Nacional 2016 (99 pontos em 100). Conheça-o
lagoa e mar aberto… poesia
deitada na areia
a pouco mais de 180 quiló metros de Maputo e já na província de Gaza, a poesia deita-se na areia. E ali fica até chegar ao mar. Existe algo de poético na Lagoa do Bilene, ou Lagoa Uembje para não faltarmos ao verdadeiro nome que poucos usam. Este lugar de fugas rápidas, para quem vive na capital é, des de há muito tempo, sinónimo de relaxe. Por aqui a vida anda descalça e comprome tida com o sal da água que nos lava os sentidos. A lagoa transparente, temperada de calor e de sal, tem cerca de 27 quilómetros de comprimento. É puro deleite para não fa zer nada, ou para accionar os músculos através de uma canoa, prancha de paddle ou de windsurf, se o vento es tiver por lá. Neste lugarejo
tranquilo, só vai mesmo en contrar a canoa, tudo o resto terá de levar consigo. Mas a lagoa permite mais ainda. Pode andar e andar, sem dei xar de sentir a areia. A gran de profundidade, só mesmo lá longe, onde a água ganha o azul mais escuro.
Ao redor de tanta água, guar dada por casuarinas e pal meiras, existem inúmeros locais para ficar, petiscar ou deliciar-se com uma refeição mais composta. O peixe e o camarão são dali mesmo. To dos os dias chegam frescos às mãos dos chefs para os apri morar de sabor.
eChegar a esta poesia em estado puro, é fácil. A par tir das províncias acima de Gaza pode viajar de avião até Maputo, depois alugar um carro, ali mesmo no ae
roporto. Aconselhamos um 4X4. Depois é seguir pela EN1 para norte da cidade capital. A estrada está em boas con dições, só é preciso respeitar escrupulosamente os limites de velocidade. A viagem de mora pouco mais de 90 minu tos. Depois de passar Manhi ça vai encontrar Palmeira. Conta-se que o nome ficou devido a uma gigantesca pal meira que durante anos foi referência para quem por ali viajava. Um dia um relâm pago levou-a ao chão. Agora, no lugar dela está uma placa que lhe guarda a memória. Mais à frente, a cerca de 15 quilómetros do destino, está Macia. Nesta vila à beira da estrada, está toda a fruta de Moçambique. Amadurecida calmamente pelo sol, é doce e suculenta. Aqui as mangas, as papaias e as lichias têm outro sabor e deixam-nos na boca um paladar perfumado.
Dezembro 2018 68 Nghunghwa Lodge Contacto +258 844 200 828 bilene
bilene
Para pernoitar tem muito por onde optar. Pode dormir em confortáveis tendas no Villa N’ Banga ou no Nghunghwa Lodge, no fim da lagoa, mas há mais por onde escolher.
A vila tem tudo o que precisa. Na loja do “Bilas”, o mais antigo café do Bilene, pode encomen dar deliciosos pastéis de nata, pão e se lhe faltar o gelo, tam bém por lá encontra. Se gosta de caju, natural, doce ou pi cante, pode comprá-lo ao ven dedor que todos os dias vai ao Palmeiras Lodge, ou então encomendá-lo. Já agora, peça também os famosos rissóis que andam na boca de todo o mundo, dizem- nos que não há visitante que lhes resista. Há também artesanato que pode comprar. A maioria das gentes que por aqui vive tem baixa renda e uma ajuda é sempre bem-vinda. Para lá da Lagoa fica a praia e entrar nas ondas só mesmo para bons nadadores. Como não precisa de nadar em tão grandes ondas, pode só pas sear. Para ir até lá, pode com binar com os pescadores, de pois de acertar o preço, são 10 minutos até ao banco de areia que separa a lagoa do mar. Depois de apreciar tão gran de presente da natureza, é o momento de ver as tartaru gas. Para as encontrar é só virar à direita no banco de areia que separa a lagoa do mar, junto ao penhasco, co nhecido como Rocha das Tar tarugas. O mês ideal para as ver é Fevereiro, mas é fre quente aparecerem nos me ses seguintes. Mas o melhor desta poe sia chega quando o sol flamejante e veloz par te para outros horizontes. O dia apaga-se no céu e mi lhares de estrelas brilham só para nós. É um planetário a céu aberto, onde se distin guem inúmeras constelações e os planetas mais distantes ficam quase ali.
CRIstIna fReIRe FOTOgrAFIA MauRO PIntO
COMO IR
Ideal será um 4X4. Deve seguir pela EN1 até à vila de Bilene.
O que fazeR Observar as tartarugas, pesca desportiva e snorkeling. Pode fazer longas caminhadas à beira da Lagoa, que é ideal para crianças já que não tem quase profundidade e a água é sempre morna. À noite é obrigatório observar as estrelas e acender a fogueira, mesmo que estejam 40 graus de temperatura. Faz parte da poesia do local.
Onde dORMIR e Onde COMeR
O Nghunghwa Lodge (nas imagens) é constituído por casas, com quartos independentes e uma cozinha comum. Tem várias actividades para que mantenha a boa forma física. E a vista é deslumbrante.
O preço, em época alta, é de 5 175 meticais por noite/pessoa.
O pequeno-almoço está incluído.
Dezembro 2018 69
este lugar de fugas rápidas, para quem vive na capital, é desde há muito tempo sinónimo de descanso real
é tão bom
roteiro
chegar
TEXTO
ga jornalista gastronómica
Jeanine Lewis disse um dia que a pretensão de descre ver exaustivamente a “culi nária indiana” é quase tão complicada como tentar ex plicar as leis da termodinâ mica a um leigo. Ao longo dos mais de 5 mil anos da sua his tória, a Índia incorporou uma multitude de influências pro venientes dos muitos povos e tradições que passaram pelo país. Dos mongóis aos britâ nicos há um extenso legado histórico que é preciso ras trear para se compreender a extrema diversidade da sua gastronomia. Por isso, não é possível falar em “culinária indiana” sem compreender o papel das religiões (Hindu e Muçulmana) na definição e elaborações das práticas ali mentares. Alguns exemplos “regionais” ajudam a com preender esta diversidade. Assim, se olharmos para a
restaurante moksha indiana
“cozinha do Punjab”, que mui tos estudiosos acreditam ser de origem Mongol, vemos que ela é marcada sobretu do pelo estilo tandoori (termo que provém do forno de bar ro usado). Nesta cozinha, são principalmente empregues carnes marinadas (galinhas, peixes) e naans (pães feitos com leite, manteiga, iogurte e ovos). Embora a influência Mongol – povo que ocupou a Índia durante um longo pe ríodo – esteja amplamente disseminada pelo país, há re giões, como em Delhi, onde ela é particularmente notória.
A “cozinha Mongol” define -se pela sua sofisticação, com o uso de molhos elaborados, temperos complexos como o curry e o consumo de carnes diversas em que o molho de
ao longo dos mais de 5 mil anos da sua história, a Índia incorporou uma multitude de influências provenientes dos muitos povos e tradições. descubra-as no moksha
um mosaico da gastronomia
gengibre está sempre pre sente. Da shorba (sopa sim ples de caldo de galinha ou carne) à sopa de pétalas de rosas (kulfi), a comida mongol é uma das mais difundidas internacionalmente. Se nestas “cozinhas” há uma indelével marca muçulmana, já a “cozinha de Goa” reflecte, por via da presença portu guesa, uma clara influência cristã. E a confecção de muitos pratos reflecte elementos da culinária portuguesa. O uso da carne de porco preparada à moda vindaloo (molho de pi mentas vermelhas, vinagre, pimenta do reino, sementes de cominho, coriandro, gen gibre, alho, açúcar mascavo) e o apimentado sarapatel (co zido de carne, língua, fígado e coração de porco, gengibre, sementes de cominho, alho, pimentas, cinamomo, vina gre, cebolas, sal, e sangue de
porco) são disso um possível exemplo. A população de ori gem religiosa hindu prefere as carnes de cordeiro, en quanto os cristãos são gran des consumidores de carne de vaca. Uma sobremesa de liciosa é a bebinca, elaborada com leite de coco, farinha de trigo e açúcar.
A sul, a “cozinha de Andhra Pradesh”, Estado que tem como capital a cidade de Hyderabad, é conhecida como a mais condimenta da e picante de toda a Índia. São empregues muitos con dimentos exóticos, frutas desidratadas, castanhas e amêndoas. Nesta “cozinha” um destaque especial deve ser dado aos biryanis (arroz misturado com carnes e ve getais) e aos chutneys produ zidos com vegetais e frutas. No Moksha, depara-se com a possibilidade de ter uma ex periência multifacetada e um leque de pratos de todas estas raízes culturais confecciona dos com apuro e sofisticação.
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941, Av. Julius Nyerere, Maputo Contacto +258 21 498 333
restaurante moksha
doW’s vintage porto 2016
País: Portugal
RegIãO: Douro
Castas: Touriga Franca, Touriga Nacional e Sousão
aROMa : Ameixas pretas e pó de xisto com notas de alecrim e violetas PaladaR: Volumoso com boa concentração fInal: Elegante e prolongado teOR alCOólICO: 20 %
a maior pontuação dada pela “Wine spectator” foi para o quinta do noval porto vintage nacional 2016 (99 pontos em 100)
porto vintage 2016 um dos melhores anos das últimas décadas
a prestigiada revista norte-americana “Wine Spectator”, ao destacar recentemente 21 vinhos do Porto Vintage de 2016, veio confirmar aquilo que os produtores já tinham afirmado: este foi um dos me lhores anos das últimas décadas.
A maior pontuação foi para o Quinta do Noval Porto Vintage Nacional 2016 (99 pontos em 100). O mesmo produtor obteve ainda uma alta pontuação pelo seu Quinta do Noval Vintage Porto 2016 (98 pontos).
quinta do noval porto vintage nacional 2016
País Portugal RegIãO Douro
quinta do vesúvio porto vintage capela 2016
País: Portugal
RegIãO: Douro
Castas: Sousão e Alicante Bouschet aROMa: Perfume luxuriante e muito sedutor. Notas de rosmaninho, esteva e eucalipto PaladaR: Volumoso, fresco e refinado fInal: Elegante e prolongado teOR alCOólICO: 20%
A casa Symington teve cinco vinhos classificados com 98 pontos: o Graham’s Stone Terraces, o Dow’s, o Graham’s, o Quinta do Vesúvio Capela e o Warre’s. “Nunca esta publicação tinha atribuído 98 pontos a cinco vinhos de uma só empresa, numa só ocasião”, sublinharam, na altura da divulgação das pontua ções, os responsáveis da Symington.
croft vintage porto 2016
País: Portugal
RegIãO: Douro
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional
COR: Rubi com bordo roxo brilhante aROMa: Frutado de morangos maduros e groselha preta e notas resinosas de ébano e eucalipto
PaladaR: Frutas silvestres suportado por uma densa teia de taninos fInal: Elegante e perfumado teOR alCOólICO: 20%
O vinho do Porto é produzido na acidentada zona montanhosa do Alto Douro, uma das mais antigas áreas vitivinícolas do mundo onde se faz vinho há pelo menos dois mil anos (e desde 1756, a primeira área demarcada no mundo). Da mesma forma que todos os outros grandes vinhos clássicos, o Porto deve as suas características a uma associação úni ca de clima, solo, casta e tradição. O terroir ímpar da região do Douro e os seus excelentes vinhos não podem ser reproduzidos em qualquer outro lugar. As uvas, de variedades específicas como a Touriga Nacional, a Touriga Francesa ou a Tinta Barroca, são cultivadas nas encostas íngremes e rochosas que bordeiam o rio Douro e os seus afluentes. Muitas das mais antigas, agora classificadas como Patrimó nio Mundial, estão plantadas em socalcos estreitos apoiados por muros de pedra construídos à mão. Um dos aspectos fascinantes do vinho do Porto é a sua variedade de sabores característicos, desde o intenso frutado de um Reserva ou de um Late Bot tled Vintage (LBV) à opulência e complexidade de um Tawny, ou à imponência sublime de um Vintage. O Quinta do Noval Porto Vintage Nacional 2016, é um daqueles que vai impressionar os apreciadores ao longo de décadas. É um vinho maciço, fechado, profundo, com o aroma centrado nas notas de este va, ervas do campo, muitas especiarias e bagas ma ceradas. O seu enorme poder tânico é domado por uma sólida estrutura, mas ao mesmo tempo polido, impactante na garra e presença.
Castas Tinta roriz, Touriga Franca e Nacional COR Escura e opaca aROMa Floral, chocolote preto e silvestres PaladaR Boa concentração fInal Seco e prolongado teOR alCOólICO 19,5%
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TEXTO RuI tRIndade
música filmes livros
eXposições
Wire Wars
exposição de escuLturas de arame com tecNoLogia mecaNizada, iNspirada Numa das mais embLemáticas histórias do ciNema: “guerra das estreLas”. as obras Foram produzidas ao LoNgo de um Workshop do FestiVaL maputo Fast ForWard em cooperação com o projecto suL-aFricaNo “aFricaN robots”.
Fundação Fernando Leite Couto
Inauguração: 5 de Dezembro Hora: 18h
“o bairro poLaNa caNiço Na Visão da próxima geração de arquitectos moçambicaNos” (curadoria: márcia oLiVeira)
“Futuros da maFaLaLa” (curadoria: johaN motteLsoN e remígio chiLauLe)
exposições iNtegradas No programa do FestiVaL maputo Fast ForWard 2018
Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de exposições Patente até 14 de Dezembro
“espaços” – rodrigo betteNcourt “oLhares” – NeLLy guambe
Camões - Centro Cultural Português em Maputo Patente até 14 de Dezembro Entrada livre
the big smaLL exposição coLectiVa – 11 artistas /100 obras
• em destaque
VisuaL Voices susaN WakhuNgu-githuku ed. FootpriNts press
kuriNguisa hi kumahae teNtar Fazer NWaNa mutchaNgaNa (NuNes chichaVa) & baNda uNaNga
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 6 de Dezembro Hora: 18h
“géNesis LiVe – coNcerto coreográFico” de aLLaN e ídio chichaVa com: baNda dugê, case buyakah, jr NeW joiNt e edNa jaime
literatura
DEAL – Espaço criativo r. José Mateus 265 Entrada Livre LaNçameNto de aNtoLogia de poesia “soLetras esse Verso” editada peLa associação kuLembas
Camões - Centro Cultural Português em Maputo Dia 6 de Dezembro 17h30
LaNçameNto do LiVro “matéria para um grito” de áLVaro taruma
Camões - Centro Cultural Português em Maputo Dia 12 de Dezembro 18h maputo eLectróNico eLectro chico: smadj + chico aNtóNio / boogz broWN + NaNdeLe / mr. Freddy / tushimitsu / daNNy g / dj biL / dubNakaVe
A “Visual Voices”, coor denado por Susan Wakhungu-githuku e editado pela Footprints Press, é um livro de mais de 600 páginas sobre a arte contem porânea do Quénia. Incluindo mais de 400 obras de 57 ar tistas quenianos, “Vi sual Voices” é um li vro imprescindível pa ra quem quer conhe cer a cena artística do país. Nairobi é hoje, a par com Joanesburgo e Cape Town, na Áfri ca do Sul, Lagos, na Ni géria e Accra, no gana, cidade com uma vida cultural intensa onde se destacam colectivos como Brush Tu e The Nest, espaços criati vos como o goDown Arts Centre e artistas como Ng’endo Mukii ou Jim Chuchu que já têm projecção inter nacional. Entre os ar tistas incluídos desta camos aqui Michel Soi, Peter Ngugi e Jospeh Bertiers.
música
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Jardim e sala grande Dia: 1 de Dezembro Hora: 16h às 23h
LaNçameNto do soNgbook FaNNy pFumoe
Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório
Dia: 4 de Dezembro Hora: 18h
Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala grande Dia: 7 de Dezembro Hora: 19h
teatro
o NataL de josé e maria (teatro iNFaNtiL)
texto e eNceNação: gigLioLa zacara iNterpretação: heLeNa tembe, buaNamade amade e saLomão NhambuLe música: céLia madime
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 8 de Dezembro Hora: 11h
mar me quer grupo de teatro girassoL uma história de coNquista, à beira mar, eNtre a beLa e dura LuarmiNa e o despreocupado pescador zeca perpétuo, persoNageNs do romaNce de mia couto.
adaptação e eNceNação: joaquim mataVeL (maNo quim) eLeNco: horácio mazuze, aLbertiNa guiLaze, raFaeL ViLaNcuLos Luz e ceNograFia: abíLio massiNgue
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 12 de Dezembro Hora: 18h30
Dezembro 2018 72
uma refleXão sobre o futuro dos assentamentos informais
em paralelo com a exposi ção foi lançado um livro, com o mesmo título, que explica o contexto e o âmbito do projecto. De acordo com Johan Mot telson e Remígio Chilaule, “o projecto delineia três hipoté ticos cenários futuros de de senvolvimento urbano para uma mesma área, visando assim discutir as qualidades espaciais e as deficiências urbanas das diferentes abor dagens ao desenvolvimento urbano de assentamentos informais.
Os três cenários futuros fo ram desenvolvidos como expressões radicais de três abordagens distintas ao de senvolvimento urbano que se pode imaginar para os bair ros informais em Maputo.
O objectivo era esclarecer, comparar e discutir as con sequências dessas diferen tes abordagens, e não tanto delinear projectos realistícos de curto prazo para o bair
ro. Portanto, embora as ma quetes possam parecer pro vocativas ou exageradas a princípio, a sua intenção é desencaderar um debate que mostre os extremos de dife rentes posições no discurso do desenvolvimento urbano. Assim, o projecto procura dis cutir como os assentamentos informais devem ser desen volvidos e abordados pelas autoridades públicas, pelo sector privado e pela socie dade civil, e que modelos ur banos são adequados para o futuro dos assentamentos in formais em Maputo.
Ademais, o projecto visa for necer uma avaliação qua litativa geral de diferentes modelos urbanos, útil para os
a eXposição “futuros da mafalala”, da autoria dos arquitectos Johan mottelson e remÍgio chilaule, é uma das iniciativas do mff
residentes de assentamentos informais, decisores políticos e profissionais envolvidos no desenvolvimento urbano. África está a urbanizar-se num ritmo acelerado e gran de parte do desenvolvimento urbano é informal. Existem poucos exemplos de desen volvimento bem-sucedido de áreas urbanas informais. Este projecto discute, por um lado, os problemas associados à falta de intervenção públi ca em assentamentos infor mais e, por outro, as aborda gens interventivas actuais para o re-desenvolvimento dessas áreas urbanas. Por fim, o projecto descreve possíveis formas de desen volver assentamentos infor mais para bairros urbanos sustentáveis, adequados às normas socioculturais que definem essas comunidades. inovação essa que é necessá ria e indispensável para um futuro sustentável das cida des africanas”.
Patente
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Onde Centro Cultural FrancoMoçambicano Sala de exposições
até 14 de Dezembro Entrada Livre
futuros da mafalala
leXus uX
MOtORIzaçãO
UX 250h equipado com um sistema híbrido self-charging, também disponível com tracção Integral
UX 200 disponível com o motor gasolina de elevado desempenho
PReçO a partir de 45 mil dólares
uma proposta luXuosa
depois de um primeiro pro tótipo ter sido apresentado em 2016, o novo crossover compacto Lexus UX fez a sua estreia no recente Salão Au tomóvel de Genebra de 2018. O segmento dos SUVs compac tos de luxo está recheado de boas propostas, como é caso do BMW X2, do Jaguar E-Pace ou do Volvo XC 40, mas o Lexus UX tem todos os ingredien tes para disputar um lugar de destaque neste segmento sempre muito competitivo. O novo UX, direccionado para “o explorador urbano moder no”, conta com um chassis e suspensão totalmente novos que lhe conferem um baixo centro de gravidade, propor cionam agilidade e uma con dução divertida. Estão ainda disponíveis duas opções de motorização: o UX 250h, equi pado com um sistema híbri do self-charging, ou o UX 200,
para competir no segmento dos suvs
disponível com motor gasoli na de elevado desempenho. As tecnologias inovadoras como o monitor de visão pa norâmica e o sistema áudio surround premium Mark Le vinson representam alguns equipamentos que se juntam ao avançado sistema de segu rança de série Lexus Safety System+. Este sistema inclui o sistema de pré-colisão com de tecção de peões; assistência à demarcação da faixa de roda gem para o ajudar a manter -se no trajecto; e cruise control adaptativo que regula a velo cidade do veículo em função da viatura à sua frente. O UX é, ainda, o primeiro Lexus a ser construído sobre a nova
plataforma de Arquitetura
Global GA-C, a base para o seu desempenho dinâmico, e cujo desenvolvimento teve como prioridade conferir uma res posta ágil e instantânea às so licitações do condutor. Mesmo sendo um modelo de entrada, a Lexus não faz con cessões em termos de quali dade e de requinte. Um dos objetivos da equipa de desen volvimento foi procurar a eliminação das fronteiras en tre design exterior e interior. Este conceito é mais evidente a partir do banco do condu tor, onde a parte superior do quadro de instrumentos parece projetar-se além do pára-brisas.
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vnovo crossover compacto leXus uX fez a sua estreia no recente salão automóvel de genebra de 2018