E&M_Edição 46_Fevereiro 2022 • 2022, Tempo de Investir

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MOÇAMBIQUE

RENOVÁVEIS GLOBELEQ ANTEVÊ NOVOS INVESTIMENTOS E INÍCIO DA PRODUÇÃO DE ENERGIA EM 2022 DESENVOLVIMENTO BRUNO DIAS, PARTNER DA EY, DEFENDE CAPITALIZAÇÃO DAS OPORTUNIDADES DO GÁS FIDELIDADE-ÍMPAR CARLOS LEITÃO, CEO DA SEGURADORA, PROMETE NOVOS PRODUTOS E SERVIÇOS INOVAÇÕES DAQUI COMO A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL AFECTA E TRANSFORMA O MERCADO DE TRABALHO

2022

TEMPO DE INVESTIR Como multiplicar dinheiro numa era em que a tecnologia evolui à velocidade da luz e os mercados estão mais voláteis do que nunca?

EDIÇÃO FEVEREIRO - MARÇO 15/02 a 15/03 • Ano 05 • Nº 46 2022 • Preço 250MZN



SUMÁRIO

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OBSERVAÇÃO

Rússia vs Ucrânia Iminência de Guerra já Ameaça a Estabilidade Económica Global Sobretudo nos Países Mais Pobres

10 OPINIÃO

65ÓCIO 66 Escape À Descoberta Dos Encantos da Katembe, o Outro Lado da Baía de Maputo 68 Gourmet Ao Sabor do Polvo da Chef Gilda Langa, do Restaurante Shamwari 69 Adega Quais os Vinhos Mais Sustentáveis: os Biológicos, os Biodinâmicos ou os Naturais? 71 Arte A “Antologia de Guerra”, a Forma Inovadora de Contar Uma História Conhecida: a do Conflito dos 16 anos 72 Ao Volante do Tão Esperado e Futurista Tesla Cybertruck

MDR Advogados “Central de Registo de Garantias

Mobiliárias: um Passo em Frente”, Paula R. e Mara L.

13 ESPECIAL ENERGIAS RENOVÁVEIS 14 Centrais Térmicas O Country Director da Globeleq, Samir Salé, Garante o Início da Produção de Electricidade em 2022 18 Explicador O Top 10 dos Países Que Mais Investem na Criação de Tecnologias Energéticas Com Baixo Teor de Carbono 20 Souce Energia Um Empreendimento Que Aposta na Diversificação das Fontes de Energia Dentro e Fora da Rede Nacional

24 OPINIÃO BIG “Como e Onde Investir em 2022”, Líria Nhavotso, Directora de Tesouraria e Mercados do Banco Big

28 NAÇÃO OS INVESTIMENTOS DA ACTUALIDADE 28 Negócios Especialistas Apontam As Áreas Mais Rentáveis e os Factores Críticos do Crescimento 36 Absa “Saiba Onde Investir em 2022”, Alberto Pitoro, Director de Tesouraria do Absa Bank Moçambique 38 Desenvolvimento O Partner Advisory da EY, Bruno Dias, Defende Investimentos de Longo Prazo 42 Panorama Global Os Negócios Caminham para o Terreno Virtual Com o Metaverso a Assumir Destaque

www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020

46 BAZARKETING Thiago Fonseca, Director da Agência Golo, Fala do Papel dos Influencers na Estratégia de Marketing das Marcas

49 ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI 50 Inteligência Artificial O Avanço da Robótica Está a Mudar o Mercado de Trabalho Com Sérias Ameaças ao Emprego 54 Fintechmz João Gaspar Fala do Espaço Que o Mercado Ainda Tem Por Explorar e Dos Desafios Das Startups Nacionais

58 OPINIÃO “Caminhos Para Industrialização: Podem os PAVD Ser Competitivos?”, João Gomes, Partner @ JASON Moç.

60 MERCADO E FINANÇAS Carlos Leitão, CEO da Fidelidade-Ímpar, Promete Novos Produtos e Serviços de Seguro Num Futuro Breve

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EDITORIAL

Celso Chambisso Editor da Economia & Mercado

Onde e Como Investir na Actualidade?

T

endencialmente, quando o ano começa, estudiosos olham para o panorama geral das economias e fazem previsões baseadas na conjuntura actual. Desse exercício nascem as projecções que vão orientar as sociedades a tomarem as melhores decisões em todas as vertentes – social, política e económica. Na presente edição, a E&M faz o mesmo exercício, mas com foco no contexto empresarial: quais são os grandes business da actualidade? Aqueles que não só vão assegurar a rentabilidade dos investimentos, mas que têm também potencial transformador rumo ao crescimento e desenvolvimento de Moçambique? Em que condições de estabilidade macroeconómica os potenciais investidores estarão expostos ao decidirem expandir os seus empreendimentos ou entrar para o mundo dos negócios? Em princípio, não há grandes novidades relativamente às áreas de actividade elegíveis para garantir a sustentabilidade dos negócios. Nem há muitas dúvidas quanto ao potencial que o País dispõe para transformar recursos em empreendimentos competitivos e transformadores, quer ao nível dos grandes, quer dos pequenos investimentos. Mas falta muita coisa para explorar esse potencial na sua plenitude. E aqui colocam-se questões estruturais, institucionais e de mentalidade dos investidores. Obstáculos que se impõem mesmo quando as ideias de negócios são bem concebidas. Por exemplo: Estruturalmente, como é já do conhecimento de todos, os canais de finan-

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ciamento não estão preparados para garantir flexibilidade na assistência aos empreendedores. As taxas de juro médias do sistema financeiro nacional em torno dos 25% são a principal adversidade que os empresários encontram no mercado. Institucionalmente, é necessário o aprimoramento dos mecanismos de tributação, não só no sentido de reduzir a carga fiscal, como para agregar transparência e rapidez dos processos de cobrança, sem falar da necessidade de salvaguardar a competitividade do empresariado nacional em relação à concorrência estrangeira. São tarefas do Estado. Quanto à mentalidade dos potenciais investidores, falta a cultura de busca e aposta nos meios alternativos de financiamento, como o mercado de capitais, ainda pouco explorado. É também necessária a noção da aposta em empreendimentos de longo prazo que, segundo alguns especialistas, são os mais sólidos e sustentáveis. Aos investidores também se exige que cultivem a capacidade de pesquisa das melhores práticas de disciplina empresarial, principalmente em África, para replicar. De um modo geral, e em termos de sectores, existe um potencial de crescimento em todas as áreas da Tecnologia, Energias (principalmente as renováveis), Transportes e Logística, Agro-negócio, Banca e Seguros. Leia e fique a saber como estas áreas podem ser, de facto, impactantes ao nível da rentabilidade dos próprios negócios e do desenvolvimento económico de um modo geral.

15 FEVEREIRO | 15 MARÇO 2022 • Nº 46

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos pedro.cativelos@media4development.com EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso JORNALISTAS Hermenegildo Langa, Ricardo David Lopes, Rogério Macambize, Rui Trindade, Yana de Almeida PAGINAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Mariano Silva REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos ÁREA COMERCIAL Nádia Pene nadia.pene@media4development.com CONSELHO CONSULTIVO Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Narciso Matos, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Media4Development Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com IMPRESSÃO E ACABAMENTO Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEM 4 500 exemplares EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2022



OBSERVAÇÃO

Rússia e Ucrânia 2021

Mundo Teme Nova Crise Global Já está a acontecer o que mais se temia: a tensão entre a Rússia e a Ucrânia resvalou para uma guerra efectiva, que intensifica o alerta das grandes potências mundiais e económicas face à possibilidade de o mundo testemunhar mais uma grande guerra mundial. Especialistas em todo o mundo já equacionavam a possibilidade do agravamento do preço do barril do petróleo ao patamar dos 100 dólares, o que pressionaria ainda mais os preços da gasolina, do diesel e do etanol no mercado internacional. A confirmarse, a situação terá um impacto negativo também sobre a economia moçambicana, por via da inflação importada. Além disso, as grandes praças financeiras do mundo, como a S&P500, já relatam o avanço do preço das commodities e uma corrida ao dólar que leva a uma acelerada valorização, acrescentando o risco de instabilidade da economia global, com peso adicional sobre as que estão em vias de desenvolvimento como Moçambique. Pior ainda, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já veio a público avisar que um eventual conflito entre as forças norte-americanas e russas (lembrar que os EUA se desdobraram em apelos para que a Rússia não invadisse a Ucrânia) resultará em mais uma guerra mundial. FOTOGRAFIA D.R.

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RADAR

Ajuda externa

Moçambique pode ter novo programa financeiro do FMI até meados de 2022 Moçambique poderá ter um novo programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI) até final de Junho se as reuniões em curso desde segunda-feira tiverem sucesso. “Se as negociações forem concluídas com êxito nas próximas semanas, acreditamos que possa haver uma aprovação pelo Conselho Executivo do FMI antes do meio do ano”, disse à Lusa uma fonte oficial do Governo. Na mesa das discussões com Moçambique está “uma série de reformas previstas nas áreas de gestão

dos recursos naturais, governação e melhorias na gestão das finanças públicas”, adiantou a fonte. O FMI foi um dos parceiros a suspender o apoio directo a Moçambique em 2016 na sequência da descoberta das dívidas que não tinham sido declaradas. Mais tarde, as injecções financeiras para os cofres do Governo seriam retomadas em forma de ajuda pós-ciclones em 2019 e para enfrentar a pandemia provocada pelo novo coronavírus em 2020.

Clima

Bruxelas reitera apoio a Moçambique Macroeconomia

aos moçambicanos mais vulneráveis, especialmente em Cabo Delgado, e sublinhamos a nossa disponibilidade para apoiar a construção da resiliência da população”. Estas promessas foram feitas no quadro da recente visita do Presidente da República, Filipe Nyusi, à Bélgica, numa ocasião em que manteve também contacto com a comissária que dirige a pasta das Parcerias Internacionais, Jutta Urpilainen.

Oxford Economics prevê subida das taxas de juro em Moçambique este ano A consultora Oxford Economics Africa prevê que o Banco de Moçambique venha a aumentar a principal taxa directora em 75 pontos percentuais para 14% este ano, impulsionado pelas condições globais de crédito e subida da inflação. “Dado que, recentemente, aumentámos a nossa previsão para a inflação em Moçambique de forma significativa, de 5,4%, para 7,3%, e considerando a previsível política monetária mais restritiva este ano, antevemos que o Banco de Moçambique vá aumentar a taxa de juro directora em 75 pontos, para 14%, em 2022”, lê-se num comentário sobre política monetária moçambicana. O aumento da taxa directora principal – a taxa MIMO - resultaria no agravamento das taxas de juro praticadas pelo sistema financeiro no mercado, o que acabaria por reduzir investimentos e o emprego. Recentemente, o Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu manter a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, em 13,25%. “Esta decisão é sustentada pela ligeira melhoria das perspectivas de inflação doméstica no curto e médio prazo, não obstante o agravamento dos riscos e incertezas”, justificou o Banco Central em comunicado, apresentando como principais riscos a pressão fiscal, choques climáticos no País e o aumento dos preços do petróleo e dos bens alimentares no mercado internacional.

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A Comissão Europeia reiterou o compromisso de continuar a ajudar Moçambique em diversas áreas. Segundo o comissário responsável pela Gestão de Crises daquele organismo, Janez Lenarcic, “garantimos apoio humanitário contínuo da UE

Do encontro resultou também a perspectiva de ampliação da cooperação noutros domínios: “Trocámos pontos de vista sobre uma série de prioridades comuns, que incluem a resposta à pandemia, cooperação em matéria de segurança e oportunidades para uma parceria reforçada”, adiantou a comissária.

Energia

EDM quer estender rede para a Tanzânia A empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM) está a elaborar um estudo de viabilidade para expandir a sua rede eléctrica para a Tanzânia, país vizinho. “A nossa intenção é fazer a ligação regional com a Tanzânia, que vai estar também associada a outras fontes de produção além da rede nacional”, declarou Daniel Guambe, director de Electrificação e Projectos da EDM. Embora os custos e as datas sejam ainda desconhecidos, Daniel Guambe disse que o estudo de via-

bilidade está em curso, frisando que o projecto se enquadra na ambição de continuar a fazer a “expansão da espinha dorsal” da rede eléctrica em resposta aos novos desafios económicos que o país atravessa com a exploração dos recursos minerais. “A nossa posição geográfica permite-nos usar os nossos corredores para a integração regional e este projecto vai contribuir para o nosso objectivo: transformar Moçambique num pólo de produção de energia”, esclareceu. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


Comércio

Governo dissemina mecanismos de apoio às exportações O Ministério da Indústria e Comércio (MIC), em coordenação com os Governos provinciais e o sector privado, e em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), está a formar formadores para a disseminação das ferramentas de apoio às exportações e comércio regional, nas cidades da Beira, Nampula e Maputo. Segundo o MIC, esta acção tem como objectivo garantir que Moçambique tire maior proveito das vantagens de acesso ao mercado regional, visando o aumento e diversificação das exportações com impacto na balança comercial. “Esta for-

mação enquadra-se nos esforços do Governo em promover o acesso aos mercados (Regional e AGOA), para exportação de cadeias de valor nacionais, criando e fortalecendo a capacidade institucional das Direcções Provinciais de Indústria e Comércio e os Serviços Provinciais de Actividades Económicas em literacia e inteligência de mercado”, refere o MIC. AGOA ou Lei de Oportunidades e Crescimento de África é uma lei norte-americana que oferece aos países elegíveis da África Subsaariana tratamento preferencial em termos de direitos aduaneiros e quotas no acesso ao mercado dos EUA.

Gás

Total vai formar mais de 2500 jovens no âmbito do projecto Mozambique LNG

Mais de 2500 moçambicanos, com destaque para jovens da província de Cabo Delgado, vão beneficiar de www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

formação em várias especialidades, com vista a garantir empregabilidade no sector energético, no âmbito da implementação do projecto Mozambique LNG, na Bacia do Rovuma. Para o efeito, o Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) e a TotalEnergies, concessionária do projecto, assinaram, recentemente, um memorando de entendimento, que formaliza a colaboração entre as duas partes para o desenvolvimento de iniciativas no âmbito da implementação do Programa Único de Conteúdo Local. Com o documento ora assinado, a Total procurará empregar moçambicanos que possuam qualificações adequadas, a todos os níveis da sua organização, incluindo especialistas em cargos de complexidade técnica e de gestão.

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OPINIÃO

Central de Registo de Garantias Mobiliárias: um Passo em Frente

O Paula Duarte Rocha e Mara Rupia Lopes • MDR Advogados

A utilização de bens móveis (veículos, máquinas, equipamentos, stock, etc.), como garantia na obtenção de crédito é valiosa para empresas de qualquer dimensão, mas é especialmente para as PME

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sistema de garantias moçambicano nasceu e foi-se desenvolvendo dentro de um modelo disperso. No âmbito legislativo, o Código Civil é a lei geral que rege as relações de crédito e garantias. Contudo, a legislação moçambicana contém diversas leis específicas regulando diferentes tipos de garantias, que estão submetidas a requisitos de constituição, registo e execução diferentes, os quais, por sua vez, estão associados a um sistema de registo perante várias entidades diferentes (entre elas, as conservatórias de registo de entidades legais, conservatórias de registo predial, conservatórias do registo de automóveis, Instituto Nacional dos Transportes Terrestres e o Instituto Nacional da Marinha). Em consequência, o sistema que vigorava até recentemente configurava, até pelas limitações de comunicação e transporte, um sistema complexo e pouco ordenado, gerando discussão e insegurança entre os seus operadores, e acarretando bastante morosidade e altos custos para a estruturação de quaisquer operações. As dificuldades começavam nas conservatórias, que não são interconectadas e não cruzam dados sobre os seus registos, tornando necessária a solicitação de uma infinidade de certidões em processos de due diligence, sem os quais o credor não conseguiria ter segurança de que uma garantia a seu favor não tinha concorrência de terceiros. Acresce que cada pedido é feito separadamente, seguindo uma tramitação própria e sujeito ao pagamento dos respectivos emolumentos ou custas e um prazo para emissão distinto. Confirmando o esforço que tem vindo a ser desenvolvido no sentido de

atrair mais investimento e de contribuir para a sustentabilidade do mercado moçambicano, no seguimento do novo regime jurídico de utilização de coisas móveis como garantia de cumprimento de obrigações (aprovado pela Lei n.º 19/2018 de 28 de Dezembro, posteriormente regulamentada pelo Decreto n.º 7/2020, de 10 de Março), foi criada a Central de Registo de Garantias Mobiliárias (CRGM). A CRGM, plataforma electrónica na qual toda a informação relacionada com o registo de garantias mobiliárias será centralizada, entrou em funcionamento no dia 29 de Dezembro de 2021. As suas competências incluem: i. assegurar o registo electrónico de informações relativas às garantias sobre todas as coisas móveis, de qualquer natureza, e às cessões de crédito convencionais definitivas; ii. centralizar e disseminar a informação sobre privilégios creditórios mobiliários do Estado e garantias judiciais e convencionais registadas nas respectivas conservatórias sobre veículos automóveis, veículos ferroviários, aeronaves, embarcações e participações sociais; iii. garantir o acesso público das informações registadas. Com a aprovação do novo regime de utilização de coisas móveis como garantia de cumprimento de obrigações, e com a criação da CRGM, procurou-se racionalizar e modernizar as garantias mobiliárias, de modo a facilitar o seu uso e o acesso ao crédito. A utilização de bens móveis (veículos, máquinas, equipamentos, stock, etc.) como garantia na obtenção de crédito é valiosa para empresas de qualquer dimensão, mas é especialmente benéfica para médias, pequenas e microempresas, cujo património é composto, em granwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


A implementação de um registo centralizado traria institutos inovadores também ao nível da jurisdição moçambicana

de parte, por bens deste tipo, até então pouco utilizados como garantia, em grande medida devido ao sistema de registo moçambicano, extremamente intrincado e defasado. A implementação de um registo centralizado, tal como a CRGM, resolveria, em teoria, vários desafios. Num primeiro momento, um registo central significaria uma base única a que se conectariam todas as unidades de serviços do País, implicando também a padronização e eliminando-se o tratamento diferenciado para as garantias mobiliárias. Por outro lado, sendo permitido acesso directo a certidões e informações, as operações seriam mais céleres, com menos custos de due diligence, acelerando a análise de riscos pelo cedente do crédito e aumentando a segurança jurídica, inclusive em regiões distantes ou de difícil acesso. Adicionalmente, esta reforma traz institutos inovadores na jurisdição moçambicana, tais como a previsão de garantias flutuantes que podem ser repostas (como os inventários de produtos), ou os self-help remedies, importados do direito anglo-saxónico. Quanto a estes últimos, note-se que antes da entrada em vigor da Lei n.º www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

19/2018, era permitida a execução judicial e extrajudicial de garantias, ainda que a última fosse de difícil aplicação prática. Ao abrigo do novo regime, o credor garantido pode, em caso de incumprimento e verificadas as condições exigíveis, apropriar-se do bem e proceder à venda directa sem necessidade de recorrer aos tribunais, sujeito aos limites previstos na lei, o que configura uma novidade bastante favorável aos credores garantidos. Não obstante as vantagens para os credores garantidos decorrentes deste novo regime, levantam-se algumas dificuldades práticas: 1. Desde logo, verificam-se dificuldades na harmonização com outros diplomas, nomeadamente o Código Civil. Em matéria de ordem de prioridade e execução de garantias de qualquer espécie, o regime acolhe uma norma de resolução de conflitos de prioridade, nos termos da qual a prioridade das garantias concorrentes sobre a mesma coisa móvel é determinada pelo momento em que cada garantia se tornou oponível a terceiros, sendo que, no caso de garantias sobre coisas móveis sujeitas a registo, prevalecerá o momento da publicidade resultan-

te do respectivo registo na conservatória sobre a publicidade realizada de qualquer outra forma, mesmo que anterior. Para além da regra geral, o Regulamento dispõe ainda de regras específicas de conflitos de prioridade consoante o objecto das garantias em causa. O Regulamento contém ainda um conjunto de regras destinadas a regular conflitos relativamente à lei aplicável à criação e execução de uma determinada garantia mobiliária 2. Verificam-se dificuldades na operacionalização da CRGM, bem como da transição para esta dos dados entretanto registados pelas entidades já existentes. Aliás, o próprio Decreto n.º 7/2020 admite que a CRGM «interliga-se com as conservatórias e outros serviços de registos de garantias especializados, gradualmente, conforme disponibilidade técnica» (destaques nossos). 3. Por fim, notamos que a experiência limitada na operação de uma plataforma exclusivamente electrónica e o uso de instrumentos sofisticados como assinaturas electrónicas poderão constituir, inicialmente, outro constrangimento prático.

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especial energias renováveis 14

INVESTIMENTO EM CENTRAIS TÉRMICAS

O Country director da Globeleq Moçambique, uma das líderes na instalação de projectos de produção de electricidade a partr de fontes limpas em África, Samir Salé, ambiciona investimentos de grande impacto na expansão do acesso a energia no País. Conheça-os

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EXPLICADOR

Conheça Os Países Que Mais Investem na Transição Energética

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SOURCE ENERGIA

Uma Empresa Que é Fonte de Energias Renováveis e de Negócios

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PANORAMA

As Notícias Sobre Energias Renováveis no País e lá Fora


ranking

“Vamos Começar a Produzir Energia em 2022” Quem tem gás e recursos hídricos tem as melhores condições de eliminar o défice energético e fazer uma transição energética sustentável. Não há aqui qualquer novidade, mas a relevância desta teoria está no facto de já estar a transitar para a realidade, de acordo com o Country Director da Globeleq Moçambique, Samir Salé, que antevê grandes investimentos a este nível, além das centrais eléctricas de Temane e de Cuamba TEXTO Pedro Cativelos • FOTOGRAFIA D.R.

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Globeleq Moçambique começou a operar no ano passado em Moçambique e pertence à Globeleq Africa Ltd., uma empresa com base em Londres, Reino Unido, e que pertence a dois fundos de investimento de dois governos, algo incomum, diga-se, nomeadamente o fundo de investimento britânico, que detém 70% da empresa, e o Norfund (Noruega), o maior fundo de investimento do mundo, que tem os restantes 30%. O seu grande foco é, essencialmente, desenvolver, construir e operar centrais eléctricas com foco exclusivo em África, estando presente também em países como a Costa do Marfim, Camarões, Quénia, África do Sul, Tanzânia e, desde o ano passado, no Egipto e em Moçambique. No País, a oportunidade está no facto de ter bastante população sem acesso a electricidade (a taxa de electrificação é de cerca de 35%). Mas há também uma série de desafios. Oportunidades à parte, Samir Salé também faz menção a uma série de desafios que o mercado impõe, que são a dispersão populacional e o custo das infra-estruturas necessárias para a transmissão e distribuição de electricidade. Ou seja, é preciso admitir que para fazer chegar a electricidade a todo o País é necessário algum esforço, também na engenharia comercial. Mas, onde está o potencial do País, quais são e para onde nos vão levar os projectos de produção de electricidade através das renováveis?

São parceiros da Electricidade de Moçambique (EDM) nos projectos que desenvolvem e parece que estão preocupados também com os aspectos da sustentabilidade desta empresa. Vocês têm também de pensar nisso ou

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só se focam em produzir?

Nós temos de pensar nisso porque é um aspecto que cria risco comercial. Porquê? Se, por exemplo, eu vendo electricidade à EDM e esta não consegue cobrar porque os consumidores não conseguem pagar, em última instância tenho prejuízo. Então, temos de pensar nisso. Mas a grande vantagem que temos é que, como os nossos stakeholders têm foco no desenvolvimento, assumimos mais um pouco do risco comercial comparado com outros developers de elec-

O projecto âncora é o da central térmica de Temane, com 450 MW, através do gás produzido nos campos de Inhassoro e Temane, e que será consumido primeiramente em Moçambique tricidade que, provavelmente, não assumiriam o risco, como os privados que têm interesse apenas comercial.

Em Moçambique há vários projectos em análise, mas há um maior que é a central térmica. Queria que me falasse um pouco mais desse mapa e sobre as oportunidades que traz… O foco da Globeleq Moçambique é, essencialmnente, renováveis e gás a curto e médio prazo. Moçambique tem potencial para ambos: tem muito gás na bacia

do Rovuma, que fará sentido considerar para monetizar através da produção de electricidade, e depois há uma série de oportunidades na área das renováveis. A nossa entrada dá-se com dois projectos: o projecto âncora é o da central térmica de Temane na província de Inhambane, com 450 MW, através do gás produzido nos campos de Inhassoro e Temane, e que será consumido primeiramente em Moçambique. E esse projecto é transformador para o País por algumas razões. Primeiro, é o maior projecto de geração de electricidade desde a independência, depois de Cahora Bassa. Segundo, com base nele, Moçambique conseguiu atrair fundos concessionais do Banco Mundial e de outros fundos de desenvolvimento para a construção de uma linha de transmissão de Maputo a Temane, para poder evacuar e distribuir electricidade pelo sul do País. Terceiro, Moçambique cria também o maior projecto consumidor de gás local com este projecto. A maior parte do gás que o País produz é exportado, e este é o maior projecto que vai conseguir consumir gás e vai começar a criar um mercado para o gás adicional. Se posteriormente fizer sentido expandir a central térmica de Temane, já temos uma base industrial criada para fazer a atracção de mais gás para aquela zona.

E quem são os parceiros destes empreendimentos ao nível interno?

Os nossos parceiros são a EDM e a Sasol. Nós temos cerca de 65% do capital do projecto, a EDM tem 20% e a Sasol 15%. E são estes três parceiros que estão envolvidos nos três projectos desta cadeia de valor da central térmica de Temane. Temos o projecto de desenvolvimento dos campos de gás que é feito pela Sasol, temos o da central que está a ser gerido por nós e temos também o projecto de transmissão que está a ser gerido pewww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


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la EDM. Então, os três parceiros estão envolvidos na central térmica e cada um de nós toma conta de uma das partes da cadeia de valor. Esse é o nosso projecto âncora e foi com ele que a Globelec decidiu abrir a plataforma em Moçambique. Envolve cerca de 620 milhões de dólares dos quais cerca de 70% a 75% são por financiamento externo e 25 % de capitais próprios das empresas. A sua construção já começou e esperamos ter electricidade em produção a partir do terceiro ou quarto trimestre de 2024.

Também consta que há um forte envolvimento da Globeleq Moçambique no Niassa. Qual é a natureza dos projectos que estão a desenvolver naquela província?

O de Cuamba é um dos nossos projectos, mas é relativamente mais modesto. Prevê abranger cerca de 22 mil consumidores. Tem uma capacidade de 15 MW, e é de produção solar fotovoltaica, com uma bateria - o primeiro projecto com bateria em Moçambique. A atracção deste projecto vem, principalmente, do facto de www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

fazer parte das renováveis, é importante para nós e para os nossos accionistas que nos convidam a investir em projectos de desta natureza. Há três factores críticos neste projecto: o primeiro é de ser fonte renovável; o segundo é o facto de ser o primeiro a usar bateria em Moçambique e então teremos de fazer um estudo de caso sobre baterias que, acredito, serão cada vez mais importante à medida que se vão criando sites renováveis no País; e o terceiro é a redução de perdas da EDM porque, neste momento, esta empresa produz electricidade fora daquela zona e coloca-a na linha de transmissão para chegar até lá. Mas há muitas perdas. Então, é benéfico para a EDM também gerar electricidade naquela zona para deixar de transportá-la de Nampula e Nacala, que é onde se gera neste momento, e depois levada para Cuamba. Assim, a electricidade que é perdida pode ser vendida noutras zonas no Norte.

Falou na bateria. Qual é a sua função? Armazena energia e depois distribui, é isso? O que acontece é que a produção de elec-

tricidade com renováveis é um pouco diferente dos outros padrões de consumo. Tipicamente, as pessoas consomem mais electricidade no princípio e no final do dia porque, geralmente, estão em casa. As indústrias, por norma, operam 24 horas e os escritórios consomem menos electricidade. O grande problema com as renováveis é conseguir consistência de fornecimento porque há dias em que há menos sol. Nesses dias, gera-se pouca energia. E a forma de resolver o problema de consistência é com baterias. Mas estas são caras, então é preciso fazer-se uma análise de custo e benefício. Já com o vento é diferente, a geração eólica ajusta-se melhor aos padrões de consumo.

No Niassa chegaram a ter problemas devido aos ataques de insurgentes, que se estenderam para esta zona?

Por enquanto não há problemas e esperamos que continue assim. Não houve questões dessa natureza por lá. Houve dois ou três ataques no norte do Niassa, mas foi imediatamente contido. A cons-

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trução deste projecto também começou em Dezembro do ano passado e vai levar cerca de 12 meses para ser finalizada. É mais pequeno e também menos complexo, estamos a falar de instalação de painéis solares e da sua integração na rede de distribuição.

Fala-se muito pouco de energia eólica em Moçambique comparando com outros cantos do mundo. Existem, no País, projectos de geração de energia eólica de grande dimensão?

Nós temos dois projectos que estamos a considerar com a EDM na área do vento. Diria que, dentro de três ou quatro anos, poderemos ter mais nessa área. Mas, nesta fase, em Moçambique, o mais importante é gerar electricidade de forma consistente e sustentável ao nível comercial porque, se criar projectos que não sejam sustentáveis, em algum momento alguém vai ter de subsidiar outrem e isso vai criar problemas de sustentabilidade para o próprio projecto.

O projecto do solar é interesante porque há várias zonas em Moçambique com características apropriadas para a sua implementação. O vosso crescimento é mais por aqui ou é direccionado para projectos energéticos de grande dimensão?

Diria que as duas coisas são importantes. O projecto de Cuamba, pela sua natureza, é mais reduzido. Mas temos projectos maiores, a partir de 60 MW, e estamos confortáveis com projectos de 60 MW, 300 MW a 400 MW. O de Temane está num outro extremo, demasiado grande para nós. Neste momento, produzimos cerca de 1600 MW em África e temos 2000 MW em desenvolvimento, o que signica que ou está em fase de obtenção de financiamento, confirmação do business case, etc. ou em fase de construção. Então, Cuamba e Temane já estão na fase de desenvolvimento, mais concretamente na fase de construção.

A solução para os problemas de da electricidade em Moçambique passa por apostar mais em projectos pequenos, como o de Cuamba, ou grandes, como o de Temane? É preciso que se pense no balanço disto. É aí que entra a EDM, o planeamento para a operação da rede que tem, por-

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O lançamento da primeira pedra da futura central de Temane está prevista para finais de Março próximo

que o que se quer fazer é optimizar o fornecimento de electricidade e minimizar as perdas na rede. E, provavelmente, há muitos locais em Moçambique em que faz sentido ter projectos mais pequenos de renováveis, assim como haverá também locais (provavelmente ao nível costeiro ou zonas industriais, como Nacala, Beira, Maputo, etc.), onde faz sentido ter centrais maiores. A central de Temane está onde está por ser perto do recurso.

Haverá, em Cabo Delgado, algum projecto grande como o de Temane, vosso ou de outro player, ligado ao LNG?

Neste momento não, mas fazia sentido que houvesse e isso faz parte do nosso foco de crescimento, que é continuar a avaliar e considerar centrais eléctricas no País. Por exemplo, há um programa de leilão de energias renováveis para o qual submetemos uma proposta e estamos à espera da resposta do regulador para saber se fomos ou não seleccionados como empresa preferida para avançar. Trata-se do projecto solar do distrito de Dondo, província de Sofala. Vamos continuar a considerar oportunidades destas, mas também vamos continuar a trabalhar com a EDM identificando sites que façam sentido potencialmente para um posterior planea-

mento da rede e outras questões, ao nível de tarifas, para avançar. Temos também dois sites no sul que estamos a avaliar se faz sentido expandir Temane e aceder a mais gás naquela zona, e confirmar se se pode expandir electricidade. Faria também sentido replicar o projecto de Temane para Nampula, Cabo Delgado, etc., para criar duas ou três centrais mais estruturais para Moçambique com base em recursos locais.

Há muita competição nesta área?

Nas renováveis há, sim, alguns developers que têm tentado desenvolver projectos. Isso é benéfico para Moçambique e para a EDM, visto que pode seleccionar e priorizar com base num rol de projectos maior.

Nota-se um dinamismo crescente da área das renováveis nos últimos quatro a cinco anos. Será por haver facilidades de implementação dos projectos ou nem por isso?

Acredito que este dinamismo seja reflexo de dois grandes factores. Um é que os custos para a geração de electricidade de baixa escala cairam drasticamente, ou seja, o equipamento (painéis solares, baterias, etc.) tiveram o preço a cair exponencialmente e abriram a possibilidade www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


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de energia tal como Moçambique também tem. Então, é só continuar a desenvolver estes projectos e criar infra-estruturas à base não só do mercado nacional, mas também do exterior. Por exemplo, o projecto M’panda Nkuwa, que foi lançado, já é uma oportunidade para solidificar a posição de fornecedor de energia limpa, sustentável e consistente para a região. E como este projecto há-de haver outros. Além disso, há países à nossa volta que podem ajudar-nos a financiar o desenvolvimento das nossas próprias infra-estruturas tanto para o consumo interno como para a exportação, porque há quase uma garantia de que o que se produzir ou vai ser consumido localmente ou vai ser exportado.

ca porque já tomaram a decisão de não continuar com o carvão. Olham, assim, para o nuclear como alternativa. É verdade que a produção nuclear, quando feita correctamente, é limpa. O problema está em fazer a gestão dos resíduos de forma responsável. Mas há países que têm frotas nucleares e que estão a gerir sem grandes problemas, como o Japão e a França. Isso faz sentido no contexto de transição energética e não sentido de acesso à energia, em que é mais fácil usar os recursos que se tem como o gás, para Moçambique.

Quando é o lançamento da primeira pedra para Temane?

Em princípio está para a última semana de Março. O foco da Globeleq Moçam-

A oportunidade que o País tem é o facto de ser, provavelmente, o que tem maior potencial de energia limpa e sustentável na região Austral

de criar sistemas sustentáveis de projectos energéticos. O outro factor é que há um maior interesse da comunidade doadora para olhar para os sistemas com base em energias renováveis, ou seja, há muitos fundos à procura de dar financiamento a developers para encorajar esse tipo de projectos. Além disso, Moçambique é um país em que se emprega este tipo de coisas porque há muitas aldeias com pouca densidade populacional, daí que faça mais sentido criar sistemas pequenos de distribuição do que fazer lá chegar um pouco de electricidade.

Onde é que Moçambique pode ser, de facto, diferenciador ao nível da região? É no solar, eólico? A oportunidade que o País tem é o facto de ser, provavelmente, o que tem maior potencial de energia limpa e sustentável na região. África do Sul tem grande potencial solar, mas Moçambique tem potencial solar, hídrico e tem o gás que, a médio prazo, a nosso ver, também tem um papel importante para resolver questões de acesso a energia. Então, para nós, Moçambique há-de posicionar-se como pólo energético da região. E já faz isso: exporta electricidade para a África do Sul, Zimbabué, Maláui, e todos esses países têm défice www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

Aqui notam-se mais projectos solares do que eólicos e outras fontes renováveis. Há alguma razão específica para isso?

É porque os projectos eólicos são mais complexos, até em termos de logística de construção. Os equipamentos (turbinas) são enormes e só o transporte é muito difícil. Por isso, são também mais caros. A meu ver, Moçambique deve investir em gás e recursos hídricos que é, para mim, o grande diferencial do País com o resto da região, porque não há nenhum outro à volta com mais gás. Então, produzir energia, tanto em forma de electricidade quanto em forma de gás para exportar, vai criar muita riqueza e oportunidades para o País.

Há um pensamento de que o nuclear não é renovável, mas é quase limpo. Que comentário faz sobre isso?

É difícil ter uma opinião. Acho que falam isso é no âmbito da transição, ou seja, ao passar de carvão para uma alternativa que seria gás ou energia nuclear. Normalmente o gás todo vem dos Estados Unidos, da Rússia ou da Noruega e há problemas de gás entre a Rússia e a Europa, então eles estão a olhar para outras alternativas à procura de diversificar a matriz energéti-

bique é gerar electricidade e também entender que nós não podemos operar sem parceiros fortes. Em Moçambique nós temos esse conforto. A EDM é um parceiro muito forte, que gere uma rede há 40 anos, e já tem capacidade de definição do que realmente precisa. E é importante operar num ecossistema em que há um alinhamento de agendas. A construção levará cerca de 34 meses, de Janeiro até provavelmente Outubro ou Novembro de 2024, mas esperamos que até um pouco antes disso comecemos a produzir electricidade em fase de testes. Mas até Novembro de 2024 estaremos em fase de operações.

Qual é o vosso objectivo estratégico para daqui a cinco anos? Será tornar-se líder das renováveis, por exemplo?

O nosso objectivo é crescer de forma sustentada. Vamos entrar numa fase de construção dos nossos projectos em Moçambique. Por isso, o nosso primeiro grande objectivo é garantir que construimos, de forma segura, dentro dos prazos e custos. Isso são os nossos planos para os próximos três anos e não há nada mais importante que isso. Depois, podemos começar a olhar para frente e tentar duplicar o tamanho da nossa capacidade.

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EXPLICADOR

O Top 10 de Quem Mais Investe na Transição Energética Chin

Mais de 130 países estabeleceram ou estão a considerar um objectivo de emissões net zero até 2050, mas a obtenção desse objectivo à escala global requer 125 biliões de dólares em investimento climático, de acordo com as estimativas da ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC). Embora esse nível brutal de investimento ainda não tenha, de longe, sido atingido, está a crescer exponencialmente. Em 2021, o mundo gastou 755 mil milhões de dólares no desenvolvimento de tecnologias energéticas com baixo teor de carbono, mais 27% do que no ano anterior. Este gráfico destaca os 10 principais países por investimento em energia com baixo teor de carbono em 2021, utilizando dados da BloombergNEF.

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Investimento em energias de transição não renováveis Inclui hidrogénio, nuclear, captura de carbono, rede eléctrica, térmica, armazenamento de energia, materiais sustentáveis.

A China acrescentou, em 2021, 48 GW em energia eólica e 53 GW em solar, aumentando a capacidade agregada em 19%.

Investimento em energias renováveis

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Coreia do Sul

O top 10 dos países vale 74% do total mundial de investimento na transição energética.

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Os países europeus investiram colectivamente 2198 dólares na transição energética

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FONTE BloombergNEF

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OPINIÃO

Peter Blenkinsop • Administrador Delegado FNB Moçambique

A

pós alguns anos marcados por alguma degradação de serviços e da rentabilidade, os últimos tempos desencadearam uma reflexão profunda para o FNB Moçambique. Impôs-se a necessidade de definir uma estratégia sobre a melhor forma de nos posicionarmos e sermos o Banco de eleição para os nossos sectores-alvo, focados em sermos, não necessariamente o maior, mas o melhor Banco no nosso mercado. Tanto o Grupo FirstRand, grupo financeiro sul africano do qual o FNB Moçambique é parte integrante, como o FNB estão empenhados em expandir a presença do Banco em Moçambique e impactar de forma positiva a economia e as comunidades em que opera. Alcançar este objectivo implica um foco constante e consciente nos nossos Clientes e, também, na digitalização dos nossos produtos e serviços. No que toca a servir os nossos Clientes, fazemos questão de relembrar os nossos profissionais que, mais do que trabalhar para o Banco, prestam serviços directamente ao Cliente e que todas as decisões devem ser centradas nele. Esta abordagem é alavancada em metas ambiciosas, que passam pelo crescimento transaccional, interacção com o Cliente, reequilíbrio do balanço e da rentabilidade. O alcance destas metas requer uma compreensão profunda dos nossos sectores-alvo e o desenvolvimento de soluções que se adaptem às suas necessidades, e não apenas daquelas que se alinham à oferta do Banco. Voltamo-nos para os bons velhos princípios básicos - simplicidade na interacção com o Cliente, eficiência operacional e segurança, uma abordagem aparentemente simples, mas que requer clareza estratégica, compreensão cultural em todo o Banco e processos e infra-estruturas adequados para o fazer de forma sustentável. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

FNB Moçambique Empenhado no Desenvolvimento da Banca Digital Orientada Para o Serviço ao Cliente Os sectores Corporate e Commercial são o nosso foco principal, porém também contamos que o Retalho surpreenda positivamente tanto os Clientes como a nós próprios. Embora a nossa presença no mercado moçambicano seja ainda relativamente jovem, somos parte de um Grupo maior, o que nos dá acesso ao know-how necessário para trazer as melhores soluções aos nossos Clientes. O desenvolvimento digital do FNB Moçambique representa, para nós, um importante catalisador estratégico. Um inquérito revelou categoricamente que o FNB Moçambique não é percepciona-

Acreditamos que a cultura do Banco e a colaboração interna representam um factor diferenciador fundamental para o Cliente, num mercado com reduzida diferenciação de produtos do como um Banco inovador nem orientado para soluções, e está aquém da esperada compreensão do mercado. Esta percepção contraria a cultura do Grupo FirstRand pelo que fizemos da abordagem a estes desafios uma prioridade. Actualmente o FNB opera em todo o país, com presença na maioria das províncias, mas é preciso expandir esta presença e estar mais próximo dos nossos Clientes, o que implica foco e investimento em serviços digitais, daí a nossa plataforma operacional encontrar-se também a atravessar um processo de mudança, estando previstas alterações muito positivas na frente digital, até ao final do ano, que simplificarão, substancialmente, a actividade bancária. Iremos trabalhar, de per-

to, com os nossos Clientes na jornada de transição para uma experiência bancária digital, que será uma mais-valia tanto para o Cliente como para o Banco. Acreditamos que a cultura do Banco e a colaboração interna representam um factor diferenciador fundamental para o Cliente, num mercado com reduzida diferenciação de produtos. Temo-nos empenhado profundamente no alcance deste objectivo (com progressos significativos até ao momento). O nosso processo de recrutamento encara este factor como um requisito fundamental, a par da contratação de recursos altamente qualificados. Aspiramos ser o empregador bancário de eleição nos próximos dois anos, uma meta exigente considerando a existência de bons bancos entre os nossos concorrentes. Porém, acreditamos que iremos consegui-lo. Entre as nossas maiores inovações, tanto para os nossos Clientes como para os Colaboradores, destacamos o facto de podermos contar com profissionais cuja actividade não se limita ao local de trabalho, estando estes preparados e capacitados para interagirem, presencial e directamente, com a nossa base de Clientes. Vivemos um momento de recuperação da economia moçambicana, com boas perspectivas para o desenvolvimento do sector financeiro e do panorama empresarial. Como Banco, procuramos apoiar tanto os orgãos reguladores como as grandes empresas para viabilizar o desenvolvimento de um cenário financeiro e de mercados de capitais positivo, nos próximos 3 - 5 anos. Acreditamos, assim, que vamos criar instrumentos de investimento alternativos para os investidores, tal como contribuir para a sustentabilidade da economia a longo prazo. Estamos profundamente empenhados em transformarmo-nos para transformar a economia, continuando a colocar as questões complexas. A viagem está em curso.

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ranking

SOURCE ENERGIA

Uma Fonte de Energia e Negócios Renováveis Formada em 2015, a Source Energia é uma empresa de consultoria centrada na actividade de investimento em energia e no private equity com foco nos países de língua portuguesa TEXTO Hermegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva

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uando, a meio da década passada, a Source Capital (grupo onde se enquadra a subsidiária dedicada à Energia) entrou no mercado, o futuro parecia ainda longínquo e assente em perspectivas que demorariam anos a ser consumadas. Desde então, esta consultora de investimento tem-se dedicado a desenvolver projectos na área da energia, primeiramente em Moçambique, mas também na África do Sul e Angola. “Na área do On Grid (dentro da rede), desenvolvemos projectos de energia na sua totalidade para vender à Eletricidade de Moçambique (EDM). Trata-se de projectos de energia do tipo solar e eóli-

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ca, mas também estamos focados no off grid, nomeadamente nas energias para auto-consumo e na electrificação rural, através da aposta em sistemas solares residenciais que já são bastante comuns em Moçambique. É importante referir que estamos perto de investir nas primeiras mini-Grid privadas”, explica o empresário Pedro Coutinho, Administrador-delegado da Source Energia em Moçambique. Este último ponto é, para o gestor, um dos focos de um sector em rápido desenvolvimento. “Em relação ao auto-consumo, estamos a desenvolver projectos direccionados para consumidores privados ou públicos que, hoje, dependem da rede de transmissão eléctri-

ca ou de fontes poluentes, e que através de, por exemplo, uma central de energia solar dedicada instalada nas suas casas, passam a dispor de energia inesgotável, barata e completamente limpa”, acrescenta. Sabendo-se que, em 2020, pouco mais de um terço da população moçambicana tem acesso a energia, e havendo um grande investimento para que, até 2030, através da iniciativa governamental ProEnergia (Programa Energia para Todos) o acesso à energia seja universal a todos os moçambicanos, as renováveis têm muito espaço para crescer. Até por isso, ou sobretudo por esse facto, Pedro Coutinho não tem dúvida www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


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EMPRESA Source Energia ADMINISTRADOR DELEGADO Pedro Coutinho FUNDAÇÃO 2015 TRABALHADORES 12 directos e 60 indirectos INVESTIMENTOS REALIZADOS 45 milhões de dólares

de que “este é o lugar certo para se investir”. Até porque, continua, “o mercado nacional reúne condições únicas para o desenvolvimento desta actividade, especialmente para a energia solar, por possuir uma excelente radiação solar, um quadro regulamentar apetecível e favorável ao sector privado e por apresentar uma baixa taxa de electrificação, ou seja, a rede de energia chega, actualmente, a cerca de 40% da população”, argumenta. E a actividade da Source Energia reflecte isso mesmo. Ao longo dos sete anos de atividade, já promoveu, desenvolveu ou projectou o investimento para vários projectos marcantes na área das renováveis, como o das unidades www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

de produção de energia solar de Cuamba (desenvolvida pela Globeleq) e da Ignite, ambas avaliadas em 30 milhões de dólares cada, ou do maior de todos, a central eólica da Namaacha, um projecto de 250 milhões de dólares. Cândida Macurra, gestora de projectos na Source Energia, especifica: “Na Electrificação Rural temos uma empresa que já equipou cerca de 20 mil casas e estamos a crescer na ordem das 2500 habitações por mês. Já ao nível do auto-consumo, fizemos a instalação de pequenas centrais solares on grid, de que é exemplo o investimento na Central Eléctrica de Tetereane, em Cuamba. Juntando todos, chegamos aos cerca de 45 milhões de dólares

em financiamento”, assinala a gestora. Actualmente com 12 trabalhadores directos e 60 indirectos, através de algumas das suas participadas, os gestores da Source Energia consideram que Moçambique “tem ainda desafios pela frente, da falta de know-how em alguns quadros de instituições à crise económica acentuada pela pandemia, factores que têm impedido a entrada massiva de investimento externo, o que complica o amadurecimento pleno de uma área fulcral para o desenvolvimento económico e social do País. Apesar de tudo, a verdade é que Moçambique está no caminho certo para se tornar num dos grandes players ao nível da região Austral de África”.

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PANORAMA POWERED BY

Investimento

Governo garante estar em busca de recursos para viabilizar projectos de energias renováveis No fim da sua visita de trabalho à União Europeia, o Presidente da República, Filipe Nyusi, disse haver necessidade de se apostar em energias produzidas através de fontes renováveis, ante a problemática de mudanças climáticas, nos últimos anos. Filipe Nyusi observou, na mesma ocasião, que o País é um exemplo na região no que diz respeito ao uso de energias renováveis, por isso, o Governo está a mobilizar recursos financei-

Energia solar

EDM desenvolve estudos de viabilidade para construção de uma central solar flutuante em Manica A empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM), em parceria com a Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER), lançou um concurso para os estudos de viabilidade para a construção da central solar flutuante na barragem de Chicamba, província de Manica. Segundo a EDM, os serviços incluídos neste projecto, que tem o apoio do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), irão permitir a realização de um estudo de viabilidade completo que engloba a avaliação de impacto técnico, financeiro, económico, ambiental e social, incluindo o modelo financeiro e estudo de integração da rede. O projecto inclui, igualmente, a avaliação do impacto ambiental das infra-estruturas das centrais eléctricas e das linhas de interconexão, bem como o impacto ambiental das barragens e do ecossistema marinho e os aspectos socioeconómicos do projecto solar flutuante proposto para orientar a EDM e outras partes interessadas no seu processo de tomada de decisão. O objectivo geral da apresentação da Opção Solar Flutuante deve-se à necessidade de geração de energia adicional e à utilização das superfícies de águas abertas existentes para a produção de energia e para salvar terras aráveis para fins agrícolas. A plataforma contribuirá, igualmente, para uma melhor regulamentação hidrológica e a atribuição deverá ser apoiada por uma avaliação preliminar do impacto ambiental e social.

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ros junto dos seus parceiros, para continuar a materializar iniciativas do género, lembrando que a maior parte das iniciativas de expansão de fontes limpas de energia é feita por investimentos privados. Ainda segundo o Chefe do Estado, outra aposta do Executivo moçambicano é a gestão de água que, na época chuvosa, mata e destrói, mas que por falta de infra-estruturas hidráulicas se perde totalmente para o mar.

Expansão

Distrito de Mueda já dispõe de uma central fotovoltaica

A infra-estrutura foi recentemente inaugurada pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, no Posto Administrativo de Ngapa, distrito de Mueda, província de Cabo Delgado, num investimento equivalente a cerca de dois milhões de euros (144 milhões de meticais) financiados pelo Fundo Nacional de Energia (FUNAE). Das mais de 800 ligações

previstas até ao final do projecto, foram efectuadas numa primeira fase 400 ligações, entre domiciliárias e a instituições públicas e privadas existentes naquele ponto do País. O acto, segundo nota da Presidência, enquadra-se no programa do Governo, que visa a conclusão da electrificação de todos os postos administrativos do País no presente quinquénio, de modo a garantir o acesso à energia eléctrica nas zonas rurais. O Presidente da República reafirmou, na ocasião, que o seu Governo vai continuar a electrificar os postos administrativos e localidades, com vista a impulsionar o desenvolvimento socioeconómico do País, e acrescentou que dos 600 megawatts que o Governo se comprometeu a gerar no presente ciclo de governação 25% serão na base de energias limpas.

Lá fora

BAD fornece um milhão de dólares para apoiar a transição energética no Botsuana O Fundo de Energia Sustentável para África (SEFA), gerido pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), aprovou uma subvenção de 1 milhão de dólares para facilitar a transição do Botsuana para a energia limpa. O projecto de assistência técnica apoia o Governo daquele país a colmatar as lacunas críticas nos quadros político, regulamentar e legal, identificadas no Africa Energy Market Place (AEMP 2019). Estes incluem a introdução de planeamento de menor custo, redução dos impactos ambientais adversos e apoio ao aumento da participação do

sector privado nos investimentos de geração de energia renovável (RE). Alguns dos resultados notáveis do projecto incluem um Código Nacional da Rede, Estudo do Custo dos Serviços de Electricidade (CoSS) e quadro de licenciamento para regular as actividades do sector energético. Os resultados do projecto contribuirão para a implementação do primeiro Plano Integrado de Recursos (PRI) do Botsuana, facilitando, assim, investimentos em nova capacidade de geração solar fotovoltaica e eólica, no montante mínimo de 100MW e 50MW, respectivamente, até 2030. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


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OPINIÃO

Como e Onde Investir em 2022

N Líria Nhavotso • Directora de Tesouraria e Mercados do Banco Big

Em 2022, aliada à perspectiva da subida das taxas de juros, recomendase aumentar a exposição à dívida pública em moeda local no mercado primário em obrigações de taxa variável que conferem maior protecção

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os últimos dois anos, em que a economia global esteve imersa na pandemia do Covid-19, o mundo enfrentou vários desafios de ordem social, económica e sanitária. As restrições como forma de contenção da pandemia levaram a um abrandamento da actividade económica global, os baixos níveis de consumo registados traduziram-se num ambiente deflacionário, assistindo-se a uma queda nos preços ao longo de toda a cadeia de valor. Com a reabertura das economias e a recuperação dos níveis de consumo e o emprego, num ambiente em que as empresas se deparavam ainda com uma capacidade produtiva limitada e um forte aumento da procura, a segunda metade de 2021 foi marcada pelo regresso da inflação na economia global, levando os bancos centrais a adoptar medidas monetárias restritivas, com o FED a indicar que seguirá as mesmas medidas em 2022. Desempenho dos mercados 2021 Para o mercado de dívida, notou-se uma tendência de aumento das yields das Obrigações ao longo de 2021 nos mercados desenvolvidos. As taxas de juros soberanas incrementaram como resultado do aumento da inflação e da recuperação económica, factores que levaram o mercado a antecipar uma contracção do estímulo monetário. Ao nível do mercado doméstico, as taxas dos Bilhetes do Tesouro (BT’s), bem como as yields das obrigações do tesouro, aumentaram significativamente com o movimento das taxas de referência. O mercado de dívida teve um forte crescimento em 2021, quer em emissões no mercado primário, quer no mercado secundário onde o volume transaccionado foi 2,3x superior que o do ano de 2020. Os principais mercados accionistas internacionais apresentaram uma forte valorização dada a melhoria nos resultados das empresas cotadas nas principais bolsas. O mercado de acções de Moçambique representou apenas 0,3% do volume total transaccionado em Bolsa no mercado secundário. Em 2021, assistiu-se a uma desvalorização generalizada do preço das acções cotadas

na BVM, sendo a CMH a única empresa cujos preços tiveram uma valorização positiva. O mercado accionista tem-se mostrado muito volátil nos últimos meses, registando spreads de bid e offer cada vez maiores para as acções mais líquidas. Posicionamento para 2022: Inflação e Crescimento Económico Com as melhorias no cenário económico actual, em particular no que concerne aos desenvolvimentos relacionados com a pandemia, espera-se que haja uma recuperação ao nível da actividade económica, abrindo espaço para maiores taxas de crescimento económico quando comparadas com o ano anterior, tanto ao nível mundial como doméstico. Ao nível internacional, espera-se que as pressões inflacionárias persistam no curto prazo, podendo abrandar na segunda parte de 2022. Internamente, as pressões para a subida de preços mantêm-se, tendo em conta o contínuo aumento de preços das principais commodities energéticas (por exemplo, combustível, gás e carvão) e as alimentares. Mercado obrigacionista doméstico Após aumentos constantes das taxas de juros em 2021 é expectável a manutenção desta tendência durante 2022. Com a materialização das expectativas de inflação para o curto prazo, as obrigações de taxa variável e as indexadas à inflação deverão apresentar um melhor desempenho neste horizonte temporal. No entanto, a monitoria de todos os indicadores e a gestão activa da carteira é fundamental para a actuação oportuna face à evolução destes factores. As obrigações de taxa fixa poderão ocupar uma menor proporção do portefólio dos investidores e servir de elemento de diversificação e fonte de maior duração para um cenário de menor da inflação e taxas de retorno. Mercado accionista Depois da desvalorização do mercado accionista em 2021, as acções da CDM encerraram o ano com uma indicação de valorização. No primeiro mês de 2022, a sua volatilidade aumentou, tendo chegado a valorizar mais de 30%. A www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


Para uma melhor decisão de investimentos é necessária uma observação rigorosa dos indicadores de conjuntura internos e externos

CMH deve continuar a sua tendência de valorização com o avançar dos projectos de gás no norte do País. Recomendações As taxas dos BT’s subiram em 6 pontos percentuais no início do ano passado, o que os torna um investimento alternativo aos depósitos a prazo, apresentando rentabilidades mais atractivas e relativa liquidez. Em 2022, aliada à perspectiva da subida das taxas de juros, recomenda-se aumentar a exposição à dívida pública em moeda local no mercado primário em obrigações de taxa variável que conferem maior protecção, uma vez que, na eventualidade das taxas de juros subirem, as obrigações com taxa de cupão variável terão um melhor desempenho que as obrigações com taxa de juro fixa, visto que o cupão a ser pago ajusta consoante a evolução de uma taxa benchmark/indexante. Existem, no mercado, títulos emitidos pelo Tesouro nos últimos anos para diversas maturidades indexadas aos BT’s que permitem esta exposição a uma taxa variável. No mercado secundário estão disponíveis também títulos indexados à inflação, que poderão ser incluídos na carteiwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

ra uma vez que a sua rentabilidade estará em linha com a inflação e poderá servir de mecanismo de cobertura da carteira para o risco inflacionário. As actuais tendências macroeconómicas acatam um elevado nível de incerteza, sendo necessário uma estratégia que seja adequada para diferentes cenários. Num cenário em que a inflação acabe por arrefecer de forma natural a curto ou médio prazo, e para que o investidor não saia prejudicado, é importante que o mesmo não altere a totalidade da composição da sua carteira como resposta a um potencial cenário inflacionário. Assim, a longo prazo, títulos de taxa fixa com yiel-

ds interessantes podem fazer sentido como parte da exposição do portefólio. Há uma visão positiva sobre a Dívida Corporativa considerando o alargamento do spread em relação à Dívida Pública, apesar da limitada oferta nesta classe de activos. A longo prazo, as acções são a classe de activos que apresenta uma rentabilidade mais atractiva, apesar da sua volatilidade, pelo que serão um componente essencial de uma carteira de investimento com objectivos a longo prazo. Abaixo o quadro resumo das nossas recomendações de alocação dos investimentos:

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NÚMEROS EM CONTA

O Peso da Dívida Global, por País, Com Moçambique Perto do ‘Top 10’ Desde que a pandemia da Covid-19 começou a sua propagação pelo mundo em 2020, a economia global foi posta à prova com perturbações na cadeia de abastecimento, volatilidade dos preços das mercadorias, desafios no mercado de trabalho e declínio das receitas do turismo. Fruto de tudo isso, o Banco Mundial estima que quase 97 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza extrema como resultado da pandemia. A fim de se ajustar perante um cenário nunca visto, os governos de todo o mundo tiveram de aumentar as suas des-

pesas para lidar com custos de saúde mais elevados, desemprego, insegurança alimentar e, para ajudar as empresas a sobreviver, assumiram novas dívidas para fornecer apoio financeiro a estas medidas, o que resultou nos níveis de dívida global mais elevados em meio século. Para analisar a extensão da dívida global, apresentamos os dados da dívida para o PIB por país a partir do mais recente relatório das Perspectivas Económicas Mundiais do FMI. Vejamos os dez principais países em termos de dívida para com o PIB.

O Rácio da Dívida face ao PIB Os CBDCs a retalho dos Bancos Centrais estão disponíveis para o público em geral enquanto os CBDCs a retalho têm venda restrita a instituições financeiras.

SINGAPURA CANADA

CHIPRE

MALDIVAS

MOÇAMBIQUE

SUDÃO

GRÉCIA

BARBADOS

U.S

BELGICA

JAPÃO SURINAME

ERITREIA

FRANÇA

ITÁLIA

PORTUGAL

CABO VERDE

ARUBA

BUTÃO

BALIZE

BARÉM ESPANHA

Moçambique nos lugares cimeiros Se o Japão é o país no mundo que tem o maior rácio da dívida face ao PIB, de 257% (já em 2010 ele estava na casa dos 200%), Moçambique era, em 2021, o 11º país no mundo com maior percentagem de dívida, com 134%.

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O rácio dívida/PIB é uma métrica simples que compara a dívida pública de um país com a sua produção económica. Ao comparar quanto um país deve e quanto produz num ano, os economistas podem medir a capacidade teórica de um país para pagar a sua dívida. Fonte World Economic Outlook Report (2021), Visual Capitalist

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NAÇÃO | NEGÓCIOS


Os Grandes Business da Actualidade Os mercados vivem uma era em que uma regra válida hoje pode cair em desuso amanhã. Um empreendimento rentável de manhã pode dar prejuízos à tarde… Tudo acontece de forma tão rápida que requer atenção redobrada e conhecimento sólido sobre qualquer passo que se pretenda dar no mundo dos negócios. E isso nem sempre está ao alcance dos potenciais empreendedores, sobretudo em países como Moçambique, com défice de capital humano, capital financeiro e tecnologia. Então, como identificar os empreendimentos transformadores? Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

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NAÇÃO | NEGÓCIOS

E

specialistas já identificaram os sectores de actividade capazes de provocar mudanças importantes rumo ao desenvolvimento do País. Unânimes, apontam para grandes possibilidades de sucesso dos negócios ao nível dos Transporte e Logística, Energia, Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), Mercado de Capitais, Agro-negócio, Banca, Seguros e Têxtil. Se for verdade que a imprensa ajuda a identificar “negócios do momento” em função do número de vezes que os sectores de actividade são citados em notícias, então fica mais uma vez confirmado o potencial da banca, seguros e sector energético, segundo Pedro Correia, Country Manager da Flying Submarine, empresa que faz a monitorização da audiência da media (televisão, rádio e imprensa escrita). Há um contexto específico que coloca cada um destes sectores entre os pilares da disrupção que se projecta para o País, quer ao nível da rentabilidade dos negócios, quer da própria transformação estrutural que se vislumbra na economia. Em comum, será o facto de todos estes sectores estarem ao alcance dos investidores nacionais em termos de potencial, além de terem um mercado consumidor interno e global bastante amplo, segundo o economista e presidente da Associação dos Economistas de Moçambique (AMECON), Pedro Cossa. O Agro-negócio Com um crónico défice de produção alimentar – o País importar tudo o que consome –, e com uma população a crescer a um ritmo próximo dos 2,5% ao ano, o agro-negócio tem se notabilizado entre as áreas mais promissoras, seja para os pequenos ou para os grandes empreendedores. O destaque vai para a produção do frango, por exemplo, que foi multiplicada de 6000 unidades, há uma década, para os actuais 100 000 por ano, nível muito próximo de cobrir o consumo interno e que já faz os produtores sonharem com excedentes para a exportação num futuro próximo. O investimento na produção da banana é também uma grande mais-valia da actualidade. No ano passado, chegou a assegurar 40 milhões de dólares só em exportações de apenas 22 empresas da cadeia Bananalândia,

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que empregam cerca de 2500 pessoas. Relativamente nova, a produção da macadâmia é também tão rentável e exposta aos mercados internacionais que vê aumentar consideravelmente o interesse dos investidores nacionais e estrangeiros (principalmente holandeses e sul-africanos), espalhados por vários pontos de produção do norte ao sul do País. Ao mesmo tempo, Moçambique assiste ao aumento de iniciativas que visam dar força ao potencial do sector do agro-negócio, com destaque para a GAPI-SI que, só em 2017, investiu cerca de 500 milhões de meticais financiando, em 80 distritos, mais de 300 negócios de pequenas empresas, tendo outras beneficiado de assistência técnica em vários domínios. Ainda nesta área, há espaço para investir com sucesso na cadeia de processamento (basta olhar para a

projecção do investimento português Sumol+Compal), que está actualmente em défice. Energia O défice de acesso a energia em Moçambique, estimado em cerca de 70%, abre um mercado que desperta cada vez maior interesse dos investidores nas renováveis. O contexto é oportuno, por ser dominado pelo processo de transição energética imposto pela comunidade internacional em nome do equilíbrio ambiental. Hoje assiste-se a uma espécie do fim do monopólio da empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM), com a entrada de muitos provedores privados, parte dos quais parceiros da própria EDM. A E&M tem contado a história das empresas do ramo das renováveis no caderno Especial Energias Renováveis e a experiência mostra que, mesmo www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


O défice de acesso a energia em Moçambique, estimado em cerca de 70%, abre um mercado que desperta cada vez maior interesse dos investidores nas renováveis sendo empresas de pequena dimensão, com 10 a 50 funcionários, apostam em investimentos que variam entre 500 mil e 1 milhão de dólares (conforme a dimensão do projecto). E porque são fornecedores de energia (sobretudo solar) às populações mais pobres, criam facilidades de pagamento faseadas que variam entre 300 e 700 meticais mensais por períodos que vão até dois anos e meio. Ainda assim, relatam benefícios financeiros substanciais, porque o mercado ainda é virgem. Banca e Mercado de Capitais Um dos sinais de que o mercado de capitais cresce a olhos vistos e constitui uma oportunidade de investimento a tomar em consideração na actualidade é o rápido crescimento da capitalização bolsista da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), que cresceu de 61,8 mil www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

milhões de meticais para 126 mil milhões de meticais em 2021. Sobre as opções de investimento neste mercado, o Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), Salim Valá, fez menção à possibilidade de realizar empreendimentos de sucesso nos diversos produtos negociados em bolsa, nomeadamente acções, obrigações e papel comercial. Valá referiu-se também à possibilidade de diversificação dos investimentos, vantagens fiscais e prestígio pessoal de ser accionista de grandes empresas e/ou grandes projectos. Ou seja, qualquer pessoa pode tornar-se empreendedora e investir em empresas rentáveis que garantam retornos importantes. Por exemplo, hoje, quem pretender investir no capital da Cervejas de Moçambique, onde cada acção es-

tá avaliada em 2 meticais, se comprar 5000 acções vai gastar 10 000 meticais. Mas se o valor das acções, por hipótese, duplicar em resposta ao aumento das vendas, no fim do exercício este investidor recebe, em dividendos, 20 000 meticais. Apesar de rentável, este mercado tem riscos associados, obviamente. “Trata-se de uma possibilidade real que o mercado moçambicano já oferece, apesar de a BVM ser de reduzida dimensão, com pouca liquidez e profundidade. Mas não podemos perder de vista que tem, por isso, muito espaço para crescer, inovar e expandir-se nos próximos 20 anos”, argumentou o PCA da BVM. Em relação aos riscos, Valá aconselha os potenciais investidores do mercado de capitais a informarem-se, antes de avançar, sobre aspectos como o comportamento dos mercados accionista e obrigacionista, compra de acções cotadas na bolsa, monitoramento da execução da sua ordem, penalizações no caso de desinvestimentos, principais tendências das empresas cotadas na bolsa, etc. “Há empresas que estão em franco crescimento num contexto de crise económica, como as ligadas à saúde, tecnologia, produção alimentar, logística de produção e distribuição e serviços financeiros”, enfatizou Salim Valá, elucidando as grandes oportunidades de investimento que há neste mercado. Entre as grandes empresas cotadas na BVM, além da Cervejas de Moçambique (CDM), destaca-se a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH) e a Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE). À semelhança do mercado de capitais, a banca é tida como canal de financiamento, mas é, também, uma oportunidade de negócio rentável em Moçambique. Prova disso é o facto de os bancos apresentarem balanços estáveis mesmo em tempo de crise. Por exemplo, em Junho do ano passado, em pleno tempo de pandemia, o activo total do sector bancário moçambicano ascendeu a 797,9 mil milhões de meticais, um crescimento de 1,48% e 11,43%, em relação a Dezembro e Junho de 2020. Será também por isso que se assiste, nos últimos anos, à entrada de novos operadores bancários no mercado, como aconteceu com o antigo Banco Único (agora NedBank) e o Acess Bank que comprou o BancABC.

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NAÇÃO | OUTLOOK 2022

OS INVESTIMENTOS DISRUPTIVOS Segundo alguns especialistas, o País tem muito a ganhar se mantiver foco nas seguintes áreas de actividade, algumas das quais já a apresentarem desempenho visível:

TRANSPORTE E LOGÍSTICA É transversal, associada à indústria do gás, a outros recursos naturais, à agricultura, entre outras áreas. É de difícil implementação por exigir grande capacidade financeira e investimentos públicos em infra-estruturas de mobilidade.

ENERGIA As renováveis são o grande motor do crescimento por causa do ainda elevado défice de acesso e da necessidade de acelerar a cobertura até atingir toda a população moçambicana dentro de oito anos.

TIC É o negócio do momento. Uma aposta séria dos jovens, e até pública, lembrando que o Parque de Ciência e Tecnologia da Maluana está apostado em tornar-se numa verdadeira incubadora das TIC.

AGRO-NEGÓCIO Com muita gente por alimentar, perante a fraca capacidade de produção interna, o espaço está aberto e começa a ser já explorado com alguma agressividade, principalmente por privados. Mas ainda há muito por explorar.

BANCA É um dos sectores mais resistentes à crise e que oferece muitas oportunidades de crescimento em economias carentes de desenvolvimento como Moçambique. É um canal de financiamento, mas é também uma grande oportunidade de negócio.

SEGUROS É ocasionada pelo aumento da área dos serviços e da expansão da literacia financeira, num País ainda com fraca penetração dos serviços de seguros. A concorrência tem crescido a olhos vistos e os investimentos garantem retornos.

TÊXTIL O País já teve uma indústria têxtil pujante. Agora não há grandes investimentos na cadeia de valor, apesar do potencial de produção de algodão. A revitalização necessita de investimentos altos, mas há mercado para o sucesso.

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Transportes e Logística, e as TIC Investir em Transporte e Logística é oneroso, mas com muito espaço para crescer graças à cadeia da indústria do gás que já dá sinais de avanço em Cabo Delgado, segundo o Partner Advisory da consultora Ernst & Young, Bruno Dias. Estando também relacionada com o eventual aumento da produção alimentar, o grande obstáculo aqui é, no entanto, a disponibilidade de infra-estruturas de mobilidade, nomeadamente estradas, pelo que o Governo é chamado a fazer a sua parte para o crescimento deste sector. Já as TIC são o futuro, basta olhar para o suporte que dão à eficiência dos serviços em todas as áreas, incluindo os novos investimentos em startups que revolucionam a forma de estar das empresas e da sociedawww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


QUANDO É QUE UM NEGÓCIO É CONSIDERADO BOM? A resposta é simples: quando é rentável. Mas o que parece uma pergunta desnecessária por ter resposta fácil, cuja maioria das pessoas acredita que sabe, é capaz de esconder aspectos complexos para se chegar à conclusão sobre o potencial de um determinado business. O que quer isto dizer? A ciência explica que “um negócio lucrativo nem sempre é rentável. Há diferença entre lucratividade e rentabilidade”. Em termos de cálculos, para chegar à rentabilidade, basta dividir o lucro da empresa num determinado período pelo valor do investimento inicial. O resultado em percentual representará a rentabilidade do empreendimento no período correspondente. Por exemplo, se em fase de planeamento, com estimativa de facturação bruta mensal de 25 mil meticais e lucro líquido de 1250 meticais, o cálculo será 1.250,00/25.000,00. Portanto, o lucro líquido equivale a 5% da facturação, ou seja, a lucratividade mensal desse negócio é de 5%. Se o investimento inicial total for de 80 mil meticais e o resultado final do fluxo de caixa anual for de 3,2 mil meticais, calcula-se 3200,00/80 000,00. Assim, a rentabilidade anual desse empreendimento é de 4% ao ano. É possível, ainda, aferir que o prazo de retorno seria de 25 meses, dividindo o valor do investimento inicial total pelo resultado médio mensal do fluxo de caixa. Neste caso, o empreendimento é lucrativo e rentável.

O agro-negócio é uma das janelas que oferecem grande oportunidades de multiplicar ganhos de investimentos em Moçambique, graças a um mercado de consumo que cresce a olhos vistos de, cuja aposta já move o Parque da Ciência e Tecnologia da Maluana a ambicionar tornar-se no novo pólo de investimentos num futuro breve. Ainda na área das TIC, e de olho na nova dinâmica da actividade empresarial, a consultora Ernst & Young (EY) está a capacitar jovens informáticos que já trabalham em projectos de peso dentro e fora do País. A E&M conversou com Lázaro Júnior, jovem formado em engenharia informática e que integra o quadro técnico da EY www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

nessa área. Explicou que ele e os seus oito colegas moçambicanos fornecem serviços de análise de dados, ciber-segurança e robótica, sendo que, neste momento, um dos seus maiores clientes de peso é o Governo de Portugal, para o qual estão a desenvolver meios que ajudam a gerir os fundos relacionados com o combate à pandemia do covid-19. Garante que a sua prestação tem merecido uma apreciação positiva do Executivo português. Patrícia Marques, da EY, esclare-

ceu que, em Moçambique, “ainda não há muito mercado para serviços desta natureza, mas vai começar a haver. E é por isso que a equipa de novos técnicos de tecnologias está a crescer e estamos preparados para atender à crescente demanda do mercado”. E ao nível micro? Porque a economia não é feita apenas na perspectiva dos grandes empreendimentos, existem estudos que, baseando-se nas características dos mercados de consumo em Moçambique, publicam ideias de investimento que podem ser transformadoras ao nível dos negócios de pequena dimensão. As áreas mais consensuais, em todas as publicações disponíveis, aconselham os potenciais pequenos empreendedores a olharem para actividades como serviços de beleza,

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serviços gráficos (empresa de design gráfico para fornecer panfletos, anúncios digitais, pósteres e outros materiais visuais para pequenas e médias empresas), serviços de criação de empresas (muito procurados por pessoas que as querem abrir, mas não têm tempo nem paciência para tratar da burocracia), serviços de contabilidade, de limpeza, catering, escola de línguas, etc. Mas há também que destacar uma tendência recente dos jovens moçambicanos. Começam a manifestar interesse e até a investir em mercados financeiros novos e com retornos elevadíssimos, como o Forex e as criptomoedas, uma área controversa por razões relacionadas com riscos de se-

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gurança e falta de regulação e, por isso, desaconselhada pelo Banco de Moçambique. Apostar, sim! Mas Fazer Bem o ˈTrabalho de Casa'ˊ Estruturalmente, como País, é preciso adicionar na equação do desenvolvimento outros elementos que vão fazer dos negócios a chave da mudança, defende João Gomes, líder da Jason Moçambique. O especialista introduz este debate questionando: porque é que em concursos como o das 100 Maiores Empresas de Moçambique, da KPMG, são sempre as mesmas empresas no TOP 10 em termos de rentabilidade? Que tipo de investimento os países ri-

cos estão a desenvolver, mas que os pobres não? O responsável explica que, eventualmente, se vai concluir que os países ricos (com o PIB per capita acima de 15 mil dólares) falharam muito até lá chegar e percorreram um caminho em que aprenderam muito com os erros. Mas, do lado oposto, os países pobres não têm demonstrado capacidade de aprender com os erros. O que quer isto dizer? Enquanto os países ricos disseminam, guardam e partilham a informação sobre os processos bem e mal-sucedidos do seu percurso, os menos desenvolvidos não têm instituições que o façam. “Tudo isto quer dizer que o papel do conhecimento é www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


Há que destacar uma tendência recente dos jovens, marcada pelo interesse de investir em mercados financeiros novos e com retornos elevadíssimos, como o Forex e as criptomoedas relevante no mundo do investimento em negócios, ao criar condições para que gerações seguintes de investidores minimizem os riscos de falhar”, esclareceu. Entretanto, é errado pensar que se deve enveredar pelo caminho do Copy-Paste. O correcto é escolher bem quem imitar. “Se há projectos de sucesso em Moçambique ou na África Austral, é preciso identificáwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

-los, olhar para eles com atenção e tirar lições, mesmo que isso signifique a espionagem industrial, o que implica ser agressivo e buscar a informação a todo o custo. É por isso que os investimentos, sejam a título individual ou institucional, devem ser feitos a longo prazo e não para amanhã. É por isso que os empresários mais bem-sucedidos no mundo são os

que investiram depois de estudarem muito e de acompanharem, durante muitos anos, a performance das companhias na cadeia de valor, tal como fizeram os chineses”. Para João Gomes, o segredo está em conseguir relacionar os três pilares do grande negócio, nomeadamente a actividade agrícola, a transformação e exportação. Como? Buscando a vantagem comparativa natural, acrescentar-lhe conhecimento e depois exportar, como fez, por exemplo, a Etiópia, uma referência de produção e exportação de um produto natural “completamente fora de caixa: flores”. No caso de Moçambique, a matriz de oportunidades vai muito além da agricultura.

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OPINIÃO

Saiba Onde Investir em 2022

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Alberto Pitoro • Director de Tesouraria do Absa Bank Moçambique

Depósitos bancários, geralmente disponíveis para maturidades até 1 ano, não têm acompanhado da mesma forma os aumentos da taxa de política

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olvidos mais de dois anos de convivência com a pandemia da COVID-19, e perante sinais de recuperação da economia global, da remoção progressiva das anteriores restrições à mobilidade de pessoas e bens e o consequente aumento do apetite pelo risco, mostra-se oportuno reflectir sobre as oportunidades e factores a considerar nas decisões de investimento. Em 2020, devido aos impactos da COVID-19, a economia global sofreu uma recessão de 3,1%. O apetite pelo risco entre os investidores baixou. Os esforços dos bancos centrais para estimular o crescimento económico, através de medidas de política e injecções monetárias, conduziram, de forma generalizada, à queda das taxas de juro. Na mesma onda, o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) baixou a taxa de política (MIMO) em 150 pontos base em Abril, e em 100 pontos base em Junho. Mesmo assim, a economia moçambicana registou uma recessão de 1,3%. No ano passado, a vacinação massiva, sobretudo nos países desenvolvidos, e o consequente alívio das restrições contribuíram para a recuperação da economia global, que cresceu em 5,9%. Para 2022, o FMI (World Economic Outlook, Janeiro de 2022) espera que o crescimento da economia global abrande para 4,4%, acompanhado de taxas de inflação elevadas devido às interrupções na cadeia de suprimentos e aos altos preços de energia e combustíveis. Para o mesmo período, a economia Moçambicana poderá crescer em 3,9%, com uma inflação de 8,5% (Absa Research), após um crescimento de 1,9% e uma inflação de 6,74% em 2021. Em Janeiro de 2021, face às pressões

inflacionárias que se anteviam, o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique aumentou a MIMO em 300 pontos base para os actuais 13,25%. Com efeito, desde Abril de 2021, as taxas de juro dos Bilhetes do Tesouro rendem, em média, cerca de 13,35%. Desta forma, os investimentos nestes instrumentos têm oferecido taxas de juro reais positivas e atractivas (6,5%) comparativamente a outras economias – África do Sul (-1,9%), Estados Unidos da América (-6,75%), Zona Euro (5%). Esses retornos são acompanhados por uma taxa de câmbio estável entre MZN63,00 e MZN64,00/USD desde o segundo semestre. Em Janeiro último, a inflação anual foi de 7,8% contra 6,7% no mês anterior. Assim, espera-se que o CPMO aumente a taxa MIMO em 50 pontos base para 13,75% em Março próximo (Absa Research), o que, com uma inflação de 8,5%, continuará a proporcionar retornos reais atractivos. Entretanto, os depósitos bancários, geralmente disponíveis para maturidades até 1 ano, não têm acompanhado da mesma forma os aumentos da taxa de política. Em 2021, situaram-se em torno dos 7% a 8% ao ano, para depósitos a prazo de um ano, resultando assim em taxas de retorno reais baixas, comparativamente aos Bilhetes do Tesouro. No Mercado de Capitais, as Obrigações do Tesouro têm oferecido retornos entre 15% a 16%. Em 2022, o Governo pretende emitir cerca de MZN53 mil milhões em Obrigações do Tesouro. Para os investidores existe ainda a possibilidade de investimento através do mercado secundário (prazos de 2, 3, 4, 5 e 6 anos). As principais acções transaccionadas na Bolsa de Valores de Moçambique registaram desempenhos mistos deswww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


No Mercado de Capitais, as Obrigações do Tesouro têm oferecido retornos entre 15% e 16%. Em 2022, o Governo pretende emitir MZN53 mil milhões em OTs

de a eclosão da pandemia. As acções da Cervejas de Moçambique (CDM) e da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) caíram quase 50%, entre Dezembro de 2019 e Fevereiro de 2022, enquanto as acções da Emose e da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH) subiram 76% e 52%, respectivamente. Ao nível global, o desempenho foi positivo e estudos revelam que, a longo prazo, o desempenho das acções supera consideravelmente o dos depósitos e títulos governamentais. O ouro, uma commodity procurada como reserva de valor, registou uma escalada do preço em 2020, ao passar de cerca $1.500/onça, em Dezembro de 2019, para o pico de $2.000/onça em Julho de 2020. Neste momento, o ouro ronda os $1.800,00/onça, o que rewww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

presenta uma queda em relação ao pico anterior, mantendo, porém, um crescimento de quase 20% relativamente a Dezembro de 2019, e mais de 40% para os últimos cinco anos, constituindo-se, assim, uma alternativa de investimento que deve merecer atenção, sobretudo para investimento de médio e longo prazos. No sector imobiliário, a pandemia da COVID-19 estimulou, ao nível global, a implementação de modelos de trabalho baseados na tecnologia (o teletrabalho), uma tendência que poderá influenciar a organização do trabalho no futuro, mesmo após a pandemia. Esta dinâmica poderá resultar numa menor demanda por espaços para escritórios, pois as organizações e os seus colaboradores privilegiarão cada vez mais

o teletrabalho. Mesmo assim, de acordo com a Statista (empresa alemã especializada em estudos de mercado), desde o surto da pandemia da COVID-19, os mercados imobiliários em todo o mundo estão a crescer. O corte generalizado das taxas de juro tornou os empréstimos mais acessíveis e, apesar do esperado aumento das taxas de juro para conter a inflação em 2022, espera-se que o sector continue a crescer. De acordo com a PropertyWheel, o stock de imóveis está num nível historicamente baixo em alguns dos principais mercados e as novas construções estão atrasadas devido à pandemia e às disrupções nas cadeias de distribuição. Outra alternativa de investimento que merece atenção.

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NAÇÃO | INVESTIMENTOS

É Necessária Uma Perspectiva de Longo Prazo Para Criar um Bom Negócio” Não há melhor do que uma consultora de negócios para falar com legitimidade sobre os segredos de um bom investimento. A EY fê-lo através do seu Partner Advisory, Bruno Dias, que vê, sem surpresa, a cadeia do gás como o principal ‘gancho’ dos futuros investimentos Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva

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obre os obstáculos a fazer negócios no País, não há grandes novidades, eles são sobejamente conhecidos de todos. Mas quanto às formas de os ultrapassar e às áreas que vão dominar o panorama económico e, especialmente, fazer crescer novos negócios a partir de 2022, há dados que interessa explorar. Bruno Dias, Partner Advisory da EY, uma das ‘big five’ do mundo da consultoria, aborda à E&M as áreas-chave onde há potencial real de crescimento. Quando uma entidade, individual ou institucional, que pretende investir num determinado negócio e ter sucesso, olhar para o panorama geral de Moçambique ao nível macroeconómico, para a estrutura produtiva e outros aspectos de mercado - como identificar potenciais interessados para os seus produtos ou serviços -, o que é que vê na sua frente? Mais dificuldades do que oportunidades ou vice-versa? E em que áreas estão as oportunidades? O panorama dos últimos anos não foi animador, especialmente tendo em conta as expectativas criadas. Sabemos que houve um ano de recessão económica que não estava previsto. Mas, olhando para o futuro, há várias coisas que me surpreendem em Moçambique. Para já, há uma camada empreendedora que não vejo noutros países africanos, ao nível das Micro, Pequenas e Médias Empresas, além de iniciativas interessantes como o Programa Emprega, recentemente lançado pelo Governo, e que visa captar e financiar pequenos empreendedores. Ao nível

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do tecido das empresas de pequena dimensão há muita vontade de fazer coisas diferentes e crescer. Relativamente aos grandes investimentos, os últimos anos foram atípicos, mas, porque sou optimista, acredito que as coisas vão novamente entrar nos eixos. Quanto aos sectores promissores que temos visto, o destaque vai para os que estão à volta da cadeia de valor do gás, nomeadamente Transporte e Logística, onde vai, de certeza, haver muito investimento independentemente de ser rodoviário, ferroviário ou fluvial, incluindo investimentos ao nível dos portos. E já há movimentações de empresas internacionais para investimentos nessa área. Outro sector interessante é o da Energia. Além do mega-projecto de Mpanda Nkuwa e dos mega-investimentos do gás, tem havido investimentos importantes ao nível das centrais de energias renováveis, nomeadamente solares. Na matriz dos negócios da actualidade e do futuro está também o das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que incluem as Startups, de onde algumas empresas aparecem com iniciativas de negócio interessantes. O mundo está em constante mudança e as formas de fazer negócios vão sofrendo alterações muito rápidas, acompanhando a evolução tecnológica. Num país com muitas carências de ordem financeira e de disciplina empresarial, será ou não justo aferir que há, neste aspecto, barreiras para investir num negócio competitivo? Há aqui um paradigma engraçado, mas que eu vejo com total tranquilidade. Por exemplo, quando começou

o Covid-19, confesso que me assustei porque ficámos todos em casa e não sabia como íamos conseguir trabalhar. Mas, felizmente, tudo correu bem. Na nossa empresa, particularmente, conseguimos que as pessoas tivessem meios para fazer o trabalho remoto. Mas como muitas outras não tinham as mesmas condições, na altura assustou-me muito. Contudo, como disse, acabou por correr muito melhor do que aquilo que todos estávamos à espera. Ou seja, quando as pessoas são postas à prova sabem dar a volta às adversidades. E, em África, incluindo em Moçambique, há coisas de cariz tecnológico muito mais desenvolvidas do que noutras partes do mundo. Exemplo disso são o Mpesa e os sistemas de pagamento móveis, que estão muito mais desenvolvidos do que no mercado europeu. Além disso, os currículos académicos dos jovens que saem das universidades, como os que estão a ser formados pela EY, se calhar não são como os europeus, mas estão a trabalhar em produtos de clientes de www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


Como instalar um negócio lucrativo? Quais são os principais ingredientes que a EY aconselharia às empresas de uma economia como a de Moçambique? O primeiro ingrediente é ter uma linha de liderança e de chefia preparada, que saiba o que é gerir uma empresa e que tenha uma visão de médio a longo prazo. Tenho a percepção de que é isso que por vezes falha aqui em Moçambique. Olha-se muito para o curto prazo e as pessoas não estão preparadas para gerir um negócio. Em segundo lugar, ter uma empresa bem estruturada e organizada nos procedimentos, nas certificações, na transparência e com alguma dimensão que seja auditável é muito importante, porque isso dá credibilidade à empresa. Por fim, o segredo está no capital humano, isto é, recrutar pessoas com as competências apropriadas para a actividade que se pretende desenvolver. Estes ingredientes vão, seguramente, compor uma boa empresa.

“Quando as pessoas são postas à prova, sabem dar a volta às adversidades... em Moçambique, há coisas de cariz tecnológico mais desenvolvidas do que noutras partes do mundo”, Bruno Dias primeira linha em Angola, Portugal e noutros países europeus, integrados em equipas multidisciplinares. Portanto, é possível correr em paralelo com a velocidade da tecnologia e o mercado está a prová-lo. Enquanto consultora com muita experiência no mercado nacional, como é que a EY vê as soluções para instalar negócios bem-sucedidos num país com estrutura produtiva fraca, com quase tudo em falta, incluindo mão-de-obra qualificada, passando pela dificuldade de acesso aos canais de financiamento? Como se resolvem estes problemas? Moçambique faz muito bem uma coisa, www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

que é captar financiamentos multilaterais e há vários programas desse âmbito a financiarem a classe empresarial, o que é, por si, muito importante. Depois, acredito que tudo o que for Conteúdo Local nos grandes programas de gás também vai ser importante nas indústrias transformadoras. Isto diz-nos que vai haver a necessidade de capacitar os moçambicanos em vários domínios, não só das TIC, mas que também tem de se dar profundidade à formação em vários tipos de job roles, que são de nicho actualmente, e a questão da Lei de Conteúdo Local é muito importante por ser uma forma de financiar o crescimento da economia.

Sente que existe consciência da necessidade de busca destes ingredientes por parte dos empresários moçambicanos, grosso modo? A maioria dos empresários moçambicanos ainda não estão preparados porque têm empreendimentos muito tradicionais, por vezes até familiares com foco no curto prazo, e não têm os processos montados. Mas já há alguns exemplos que começam a aparecer que contrariam esta tendência. Com liderança visionária, na sua maioria jovens que constroem um plano de negócios no princípio da operação, vão buscar financiamento estruturado com esse plano de negócios, recrutam mão-de-obra, não em quantidade mas em qualidade, e estão preocupados pela forma como vão estruturar as suas empresas. Então, eu acho que é um caminho que se está a fazer paulatinamente. Nota-se, nos últimos anos, uma corrida dos jovens para investirem em negócios considerados controversos e até desaconselhados por alguns especialistas por serem considerados perigosos para o equilíbrio do mercado monetário. Refiro-me a investimentos financeiros conhecidos como Forex ou as criptomoedas, entre outros. Qual é a percepção da EY a este respeito? É um fenómeno recente e creio que, como em qualquer investimento financeiro, os investidores desta área tinham de ter formação e conhecimen-

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NAÇÃO | OUTLOOK 2022

“Quanto aos sectores promissores que temos visto, o destaque vai para os que estão à volta da cadeia de valor da exploração do gás natural” to dos produtos que, como se sabe, são muito complexos e arriscados. Mas é preciso admitir que são produtos que vieram para ficar, num ambiente em que, infelizmente, há uma grande falta de regulação nesses domínios. Mas estes investimentos existem e vão aparecer mais tal como as blockchains, etc. Mas não é aconselhável investir em produtos que não se conhecem. O investidor deve-se informar e perceber como funciona antes de investir em criptomoedas. Em Moçambique, a EY já teve alguma experiência de lidar com investimentos deste tipo? Não. Em Moçambique não temos experiência de trabalho nesses domínios. Fora, sim, mas não é uma área em que eu esteja particularmente à vontade para abordar. O certo é que investimentos a este nível são uma realidade por toda a parte.

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Pelo mundo, e principalmente em África, tomando como base a experiência e o conhecimento dos mercados pela EY, quais são os tipos de investimento que considera replicáveis em Moçambique pela sua lucratividade e capacidade de gerar um boom na empregabilidade, disciplina empresarial e desenvolvimento? Acredito que todos os temas que têm que ver com o comércio electrónico podem ser muito práticos para Moçambique, sobretudo nos tempos pós-pandemia do covid-19 em que todos nós tivemos de recorrer a ambientes de trabalho remoto. Como disse no princípio, os sectores que vão crescer mais são os de Transportes e Logística, alguns subsectores de Energia, como as renováveis, etc.. Depois, tudo terá que ver com a digitalização dos negócios tradicionais, lembrado que em

Moçambique há aceleradores desta tendência como os concursos de empresariado, como o exemplo do que foi lançado recentemente pelo Standard Bank, sem falar no Projecto Emprega, a que já me referi anteriormente. Se a EY tomasse decisões sobre o que tem de mudar estruturalmente no sentido de abrir espaço a favor dos investimentos que considera transformadores, que obstáculos elegeria para remover? O acesso ao financiamento é o primeiro e isso resolve-se pelos programas transversais das multilaterais, criar planos de negócio que atraiam mais financiamentos. Mas o financiamento directo pela banca em Moçambique tem juros muito altos e esse é um problema complicado. Também é um grande problema ter acesso a pessoas formadas com qualidade. Por isso, Moçambique ainda tem muito trabalho a fazer na Educação, que é o pilar de qualquer economia. Mas a EY tem tido surpresas muito boas na sua experiência interna com a sua equipa, o que já é sinal de que as coisas estão muito melhores do que há uns anos. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


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NAÇÃO |OUTLOOK 2022

No Mundo, os Negócios Caminham para o Terreno Virtual A ideia de que o futuro do investimento passa pelo Metaverso está cada vez mais presente e o mundo já avança nesse sentido. Em relação ao ambiente de investimentos, os mercados estão fortemente ameaçados pela prevalência de inflação elevada. A BlackRock Investment Institute fala dos riscos e oportunidades Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

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m artigo de análise recentemente publicado pelo analista financeiro português Jorge Duarte faz uma interessante abordagem sobre os corredores em que se irão mover os negócios do futuro – mesmo que já no presente – na era do metaverso. Claro, países em vias de desenvolvimento, nesta fase, serão meros espectadores da nova realidade, mas terão de acompanhar esta evolução para não perderem o barco da digitalização. Metaverso, que significa “além do universo”, refere-se a um mundo virtual no qual as pessoas têm a possibilidade de interagir, como na vida real, através de um avatar (um cibercorpo inteiramente digital, uma figura gráfica de complexidade variada que empresta a sua vida simulada para o transporte identificatório de cibernautas para dentro dos mundos paralelos do ciberespaço) e com recurso a dispositivos de realidade virtual. Numa primeira fase, espera-se uma nova versão das redes sociais, cujo âmbito ainda muito está por definir. Será uma versão moderna do jogo Second Life, uma simulação virtual da sociedade que surgiu nos anos 2000, mas que nunca vingou realmente, em parte devido às limitações tecnológicas da época. Agora, o contexto é mais favorável com headsets que permitem uma melhor imersão em mundos virtuais, maior poder de processamento dos computadores e transmissão de dados digitais mais rápida (fibra óptica, 5G). Que ligações tem com o mundo dos investimentos? Para as empresas de videojogos, a evolução está em curso e algumas já

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estabeleceram as bases de um metaverso. O exemplo emblemático é o Fortnite, onde os participantes evoluem num mundo virtual no qual, além de jogar, podem até assistir a concertos. Por seu turno, a plataforma Roblox permite a 47 milhões de utilizadores criarem os seus próprios mundos e videojogos. Hoje, faz parte do mundo popular que atrai grandes marcas. Por exemplo, a Nike está presente no Roblox e no Fortnite, onde vende sapatos e roupas virtuais para os avatares. As marcas de luxo também estão muito interessadas nestas novas interfaces para realizarem publicidade e vendas. Na plataforma de realidade aumentada open source OVR, lançada em 2018, são vendidas parcelas de terreno totalmente virtuais. A longo prazo, imagina-se universos com múltiplas aplicações em que as empresas poderão interagir, partilhar e colaborar com os seus fornecedores e clientes, recorrendo a ferramentas de simulação e desenvolvimento, lojas virtuais para e-commerce, etc.

volve câmaras e software usado para captar imagens 3D, sobretudo para visitas virtuais a edifícios. O grupo ainda não gera lucros e as acções são consideradas demasiado arriscadas.

A corrida para o metaverso e o valor no mercado de acções O analista português entende que, neste momento, é cedo para saber se o metaverso será uma realidade. Contudo, há empresas que serão as beneficiárias do seu desenvolvimento. E a lista de exemplos práticos é extensa: o gigante americano dos videojogos, Activision Blizzard, conhecido pelo Call of Duty e World of Warcraft, está na vanguarda na renderização e animação 3D. As acções são consideradas como sendo de qualidade e com uma valorização atractiva. A Matterport, empresa americana recentemente cotada em bolsa, desen-

O metaverso passou a estar também no centro da estratégia do gigante das redes sociais, Meta Platforms (antigo Facebook), tendo criado uma divisão dedicada, a Reality Labs. Planeou investimentos na ordem dos 10 mil milhões de dólares, em 2021, apenas no metaverso. A aquisição, em 2014, dos headsets de realidade virtual da Oculus lançou as bases para a sua nova estratégia. O grupo ambiciona alcançar mil milhões de utilizadores do metaverso em 2030, momento em que pode tornar-se lucrativo. Desde 9 de Dezembro do ano passado, os americanos têm acesso à Horizon Worlds, uma plataforma de www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


Pode demorar até 10 anos para que as principais características do metaverso se tornem comuns… seriam precisos processadores 1000 vezes mais potentes do que os actuais para gerar metaversos atractivos

realidade virtual e a primeira versão da sua visão do metaverso. As suas acções são de qualidade e a valorização em bolsa já está elevada. A gigante do software, Microsoft, pretende criar um metaverso para o mundo empresarial. No presente ano, prevê lançar o Mesh para o Teams com a capacidade de interagir com os colegas através de um avatar num universo 3D. Além disso, o seu jogo Minecraft, por exemplo, já permite que os utilizadores criem e visitem universos virtuais. Também está activa nos headsets de realidade virtual. Dada a sua presenwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

ça na cloud, a Microsoft também pode beneficiar do volume de dados para armazenar e gerir. Tem acções de qualidade e valorização razoável, tendo em conta os importantes trunfos do grupo. A Nintendo, empresa japonesa de videojogos, colabora em realidade aumentada com a Niantic, editora do conhecido jogo para telemóveis Pokémon Go. Também tem acções de qualidade no mercado de capitais e já está muito valorizada. Nvidia, líder mundial em processadores gráficos (GPU), necessários para a renderiza-

ção gráfica de mundos virtuais, já está presente no metaverso através da plataforma de código aberto Omniverse, lançada em 2020. Permite que os utilizadores construam mundos virtuais, a reunir num universo virtual comum. As acções da empresa têm qualidade e perspectivas favoráveis. Real, mas, ao mesmo tempo, incerto O novo mercado está repleto de promessas. De acordo com a Bloomberg Intelligence, o potencial pode atingir 800 mil milhões de dólares até 2024. E, a longo prazo, tudo parece possível de acordo com a evolução tecnológica. Para o CEO da Nvidia, Jen-Hsun Huang, a economia do metaverso poderá um dia eclipsar a do mundo real. Esperam-se evoluções, em particular ao nível dos headsets, que ainda não

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NAÇÃO | OUTLOOK 2022

permitem uma verdadeira imersão em mundos virtuais. O analista Jorge Duarte entende que, por mais atractivo que possa parecer, o novo universo levanta muitas questões. E avança como evidência as dúvidas que os mercados lançam a este respeito: quando é que se tornará uma realidade? Existirá um único metaverso ou vários irão coexistir? O que acontecerá aos dados pessoais, segurança informática, etc.? O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, estima que pode demorar 5 a 10 anos até que as principais características do metaverso se tornem comuns. A Intel também indicou que seriam precisos processadores 1000 vezes mais potentes do que os actuais para gerar metaversos atractivos. Todo um enquadramento e infra-estrutura devem ser criados incontornavelmente com recurso a especialistas em software de design 3D. E quanto ao ambiente geral dos mercados, o que esperar? Em relação aos investimentos que poderão marcar o ano ao nível global, os analistas do BlackRock Investment Institute – empresa norte-americana criada em 1988, especializada na ges-

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As melhores oportunidades de investimentos, ao nível global, estão nos mercados de tecnologias e financiamento da resiliência energética, ou seja, que estão na origem da corrida para a transição energética

tão de activos, que fornece informações sobre a economia global, os mercados, a geopolítica e a afectação de activos a longo prazo e que gere 9 biliões de dólares (isso mesmo “biliões”) – acabam de apresentar um overview que vale a pena abordar. Segundo aqueles especialistas, as melhores oportunidades de investimentos, ao nível global, estão nos mercados de tecnologias e financiamento da resiliência energética, ou seja, relacionados com a questão das mudanças climáticas e que estão na origem da corrida para a transição energética (que estabelece emissão de carbono zero até 2050). Esta mudança de paradigma, segundo a BlackRock Investment Institute, também estará na origem da aposta, no presente ano, no mercado de veículos eléctricos, que é um dos mais prósperos da actualidade no sector automóvel. Já o comportamento do sector imobiliário

será o mais difícil de descortinar, visto que continua a verificar-se uma vasta divergência entre um sector que é favorável - o da Logística (que exerce forte influência sobre o imobiliário) - e sectores como o dos escritórios, que é desfavorável. A BlackRock Investment Institute também manifesta grande preocupação em relação aos níveis de inflação que permanecerão elevados em 2022 (no patamar dos 4,5% de acordo com o Banco Mundial), podendo levar os bancos centrais a adoptarem políticas restritivas, que terá como resultado a subida das taxas de juro. Nos investimentos, esse cenário traduz-se em empresas que crescerão menos, o que não é positivo mau para as acções e para os custos fixos. Somam-se aos juros altos e estímulos menores as novas variantes do covid-19 e a crise de energia global. São incertezas que sinalizam a perda de ímpeto das economias. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


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BAZARKETING

Influente Ser.

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nfluencer é uma palavra incontornável hoje no marketing. Ser influente já é outro assunto. Os influencers influenciam a escolha e decisões de planos de media dos principais anunciantes. Verbas de marketing anuais são decididas a contar com esse aspecto. E por isso, este assunto merece uma reflexão, sobre a influência que os chamados influencers tem nas estratégias de comunicação e no sucesso das marcas.

Thiago Fonseca • Sócio e Directo de Criação da Agência GOLO Moçambique CEO Grupo LOCAL de Comunicação SGPS, Lda.

Uma das coisas mais importantes a aprender com os influencers é que começam genuinamente puros nos seus conteúdos. As pessoas escolhem seguir esses influencers porque gostam disso. Simpatizam com eles

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Mas o que é um influencer? São pessoas que criaram uma grande base de fãs nas redes sociais que não são necessariamente os seus amigos pessoais. Isto está a ser acelerado pela febre digital e o crescimento exponencial do mobile. Existem hoje em Moçambique cerca de doze milhões de smartphones activos. Pense bem. São doze milhões de câmeras na mão de quase metade da população do País. São também doze milhões de novos meios de disseminação e partilha de conteúdos nas mãos da população economicamente activa. O principal target das marcas. Não foi há muito tempo que Moçambique tinha apenas um canal de televisão e meia dúzia de câmeras. O acesso aos smartphones vai continuar a crescer. Vai continuar a crescer também a audiência digital no mobile. E a influência local de quem cria conteúdo que cria seguidores. Moçambique tem os seus influencers.. Alguns dos principais influencers no País já têm centenas de milhares de seguidores. E rivalizam muito as audiências de muitos meios tradicionais como a imprensa e a rádio. Apesar de Maputo ter a maior parte dos grandes influencers, é preciso olhar localmente e ver como, no Niassa, por exemplo, influencers locais falam mais para o público local. Estes seguidores seguem-nos e supos-

tamente as pessoas são influenciadas em consumir uma determinada marca porque eles, os influencers, o fazem. Os influencers com maior audiência estão a chegar a quase um milhão de seguidores. Os Anunciantes e as Agências de comunicação influenciados por este fenómeno correm para contratá-los. Mas até que ponto um influencer influencia? Para isso temos de analisar o que são e o que fazem. Os influencers criam seguidores de uma forma orgânica inicialmente. Usam o humor, a música, dança, o entretenimento para chamar a atenção. Uma das coisas mais importantes a aprender com os influencers é que começam genuinamente puros nos seus conteúdos. As pessoas escolhem seguir esses influencers porque gostam disso. Simpatizam com eles. E sabem que vão ver mais conteúdos desse tipo. Ficam sempre na expectativa do próximo post ou story. A essência de existirem espectadores é a expectativa. Talvez a maior verdade seja que proporcionam um momento de diversão, de distracção da vida normal. Uma pausa do dia-a-dia da sociedade. Um escape à realidade. E isso desvenda como deve ser a venda. Uma lição para os criadores de conteúdos publicitários. Os laços emocionais. Essa sempre foi a fórmula de quem quer chamar a atenção. O entretenimento é uma moeda de troca. É o troco que se dá para quem dá troco a si. Há várias aprendizagens que o mundo do marketing tem a fazer com este fenómeno. A primeira é que o consumidor procura entretenimento. Não procura vendedores que nos aborrecem com as suas promoções. E esse pode ser o ponto fraco dos influencers. O preço da sua própria fama. A partir do momento em que uma empresa ou marca contrata um influencer para divulgar o seu produto ou marca a força do influencer diminui. A ganância pode influenciar o influencer a mudar o playlist de conteúdos gewww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


Ilustração de Maisa Chaves

nuínos por uma espécie de publicidade muito mal feita. As audiências não são ignorantes. Percebem quando algo está a ser forçado. E apesar da importância do tamanho da visibilidade as marcas devem pensar na profundidade do alcance. Ou seja, tudo aquilo que tornou o influencer bem sucedido começa a enfraquecer quando ele se compara a um mero vendedor porta-a-porta. Para compensar o influencer tem de se esforçar mais. E fazer de tudo para conseguir manter a audiência e aumentar os seguidores. Nesse momento tudo pode acontecer. E as marcas não estão em controle. A influência no marketing. As marcas sempre se associaram a figuras de sucesso. Celebridades. Mas nunca esquecer que isso cria associação. “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.” Outro aspecto é se os anunciantes eswww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

tão a acompanhar tudo isto ou simplesmente a aplicar as mesmas velhas fórmulas de media. Ou seja, escolher o meio pela sua audiência. O canal que tiver maior audiência tem mais publicidade por causa do alcance. Não se pode aplicar essa lógica da media tradicional no caso dos influencers. Porque na media tradicional, o intervalo publicitário, quem cria e controla o conteúdo são as marcas. Produzem os anúncios. No caso dos influencers o conteúdo está fora do controle das marcas. Quem garante como o influencer se vai comportar. Ou que tipo de mensagens irá passar. Com uma associação negativa o preço a pagar pode apagar uma marca. O critério para escolher um influencer não pode ser apenas o tamanho da sua audiência. Tem de ser feito com base nos valores e propósito da marca. Sempre que há uma revolução tecnológica acontece uma euforia no marketing. E cometem-se erros. Já aconteceu

quando a rádio foi inventada. Depois a televisão. A febre da internet e os portais. E agora as redes sociais. Mas a essência das marcas de sucesso nunca dependeu da tecnologia apenas. E sim do lado humano que humaniza e cria laços fortes para as marcas. E promove a consistência do seu posicionamento e valores. A verdade maior é que a influência sempre existiu. E desde há milhares de anos que a humanidade é influenciada. Há boas e más influências. E influencers sempre existiram. Quantas centenas de milhões Nelson Mandela influenciou e continua a influenciar? Os nossos Pais e familia influenciam-nos logo cedo. O ambiente onde vivemos. Os amigos. A vida que vivemos é o que mais nos influencia. Há muito para escrever sobre influência, mas enquanto este tema evolui, uma coisa é certa: o maior influencer deve ser a própria marca.

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especial inovações daqui 50

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Os robôs estão a ocupar cada vez mais espaço no mercado de trabalho, e o seu domínio deve impor grandes mudanças na maneira de produzir das

organizações. Quais?

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Associação das Fintech de Moçambique Fala dos Desafios e Oportunidades do Mercado Nacional

56 PANORAMA As Notícias da Inovação em Moçambique, África e no Mundo


INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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Artificial vs Orgânico: Falamos de Inteligência e Sim, Vamos Perder a Batalha (e o Emprego) A Inteligência Artificial é o maior disruptor do mercado de trabalho e, porventura, a grande mudança social e económica que irá marcar as próximas décadas. Fala-se pouco dela e dos seus efeitos, nomeadamente ao nível do trabalho e de como se está a preparar um futuro onde empregos altamente qualificados serão desempenhados... por computadores TEXTO Pedro Cativelos • FOTOGRAFIA Istock Photo, D.R

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á poucas semanas, tornou-se notícia que o próximo craque do clube de futebol brasileiro, o Atlético Mineiro, vai ser escolhido por um robô, porque este clube que actualmente é campeão do Brasil quer que, a partir de agora, seja a Inteligência Artificial (IA) a prever qual será o futuro craque da equipa e não o tradicional ‘olheiro’, que os clubes utilizam para descobrir jovens talentos com base na experiência e feeling humanos. No último ano, um jovem da formação do Atlético Mineiro realizou o im-

ele decidiu que o uso de dados era o caminho do futuro. E antes mesmo de assumir a liderança do clube, já pesquisava soluções de inteligência artificial. “Fazemos um investimento elevado, principalmente nos atletas da formação. Se conseguirmos uma análise mais abrangente, diminui o risco de perda e traz eficiência para o investimento. Você usa melhor seus recursos no mais importante para o público: o futebol”, diz. Agora, três anos após começarem os testes iniciais da IA, eles concordam que é um sucesso. A inteligência artificial transforma em ciência o que os melho-

O robô é treinado para reconhecer os gestos, a linguagem e forma de se expressar dos atletas, através de teorias e pesquisas sobre psicologia... possível: saiu do grupo de atletas que seriam dispensados e tornou-se no goleador que levou a equipa à vitória no campeonato sub-15. Parece a trajectória de um herói de cinema, mas foi um dos resultados de sucesso da implementação de uma ferramenta de inteligência artificial na formação dos jogadores entre 14 e 20 anos, a tecnologia do Watson da IBM. O CEO do Atlético Mineiro, Plínio Signorini, traz para o clube uma visão de gestor que quer garantir que seu investimento nos talentos trará o melhor retorno. Como outros líderes modernos, www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

res olheiros e técnicos conseguem fazer: perceber um potencial escondido nos jovens. A tecnologia consegue, depois, fazer isso em grande escala. O robô é treinado para reconhecer os gestos, a linguagem e forma de se expressar dos atletas. Essa aprendizagem da máquina é feita com uso de teorias e pesquisas sobre psicologia e linguística. Como os bons resultados no ramo de inteligência artificial dependem da boa qualidade de dados oferecidos, o Speck Champs (sistema utilizado tendo por base o Watson) também foi alimentado com informações sobre os perfis dos atletas

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mais cobiçados do mundo, grandes nomes como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. A máquina encontra características relevantes nos atletas que vão determinar o seu desempenho na carreira. No futuro, o objectivo é ter uma base de dados com parâmetros concretos para a selecção de novos profissionais, com a possibilidade de construir a sua curva de crescimento desde o início.

Não é só no desporto

Com o impacto da automação e novas tecnologias no mercado, o Fórum Económico Mundial prevê que 50% da força de trabalho global vá precisar de algum nível de requalificação nas próximas décadas e a inteligência artificial será a solução para ajudar na formação da mão de obra. Para lá do desporto, as profissões mais vulneráveis à inteligência artificial podem ser as relacionadas com marketing, consultoria financeira ou a programação informática, de acordo com um estudo da Brookings. Ou seja, todos os profissionais que estejam em áreas de trabalho em que a análise e interpretação de dados seja um factor crucial, e que agora são desempenhadas por humanos, passarão a ter na IA uma ameaça séria ao seu posto de trabalho. Na última década, quando se argumentava que a IA era uma séria ameaça aos trabalhos de colarinho branco de humanos, isso era desvalorizado e visto como uma impossibilidade, porque às máquinas “falta a criatividade” e a “intuição de um trabalhador humano”, pensámos todos, salvo o exagero que não andará longe da verdade. Mas nos últimos anos, especialmente durante a pandemia, com a IA a automatizar a economia de uma forma muito mais subtil do que o esperado, as máquinas já não são apenas utilizadas pelas empresas em que o trabalho é manual e começam a usar softwares baseados em IA para a escrita de conteúdos, serviço ao cliente, contabilidade e uma série de outros serviços profissionais. Por exemplo, a Rytr, uma popular aplicação de copywriting AI com 600 mil utilizadores, está a ajudar as empresas com textos que são indistinguíveis da escrita humana. Ao contrário dos criadores de conteúdos, esta aplicação não tem horários e pode gerar uma quantidade ilimitada de conteúdo diariamente por um custo baixo. Da mesma forma, o serviço ao cliente alimentado por IA está lentamente a tomar conta do mercado. Nos Estados Unidos, estima-se que 85% da interacção com os clientes já está a ter lugar

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As profissões mais vulneráveis à IA podem ser as relacionadas com marketing, consultoria financeira ou a programação informática com ferramentas suportadas por IA. Dado o ritmo acelerado com que tais ferramentas estão a ganhar popularidade, haveria enormes implicações para quase três milhões de trabalhadores do serviço ao cliente empregados nos EUA. Outro exemplo é o dos robo-tradutores. Um artigo de investigação de 2020, publicado na revista Nature, mostrou como os sistemas de ‘deep learning’ superam os tradutores humanos. Os salários e a procura de tradutores humanos irão certamente diminuir à medida que a tradução de IA se tornar mais comum.

A paisagem mudou claramente. As empresas que não utilizam ferramentas de IA estão em desvantagem. O seu custo de entrada é mais elevado e o seu produto (ou serviços) é provavelmente inferior ao dos seus congéneres que utilizaram tecnologias modernas. Embora as novas áreas apoiadas pela IA sejam uma bênção para nações como o Japão, onde a mão-de-obra está a envelhecer, podem levar a uma enorme perturbação económica e social em países africanos, ou na China e Índia, onde milhões de pessoas entram no mercado de trabalho todos os anos. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


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Uma ferramenta ou um profissional artificial?

Num novo livro sobre como a tecnologia irá afectar os trabalhadores, os especialistas do MIT explicam como a inteligência artificial está, ainda assim, bastante longe de substituir os seres humanos. A maioria dos sistemas de IA implantados hoje, embora inovadores e impressionantes, ainda se enquadram na categoria do que o membro da task force, pioneiro da IA, e director do Laboratório de Informática e Inteligência Artificial do MIT, Daniela Rus, chama “IA especializada”. Ou seja, são sistemas que podem resolver um número limitado de problemas específicos. Analisam grandes quantidades de dados, extraem padrões e fazem previsões para orientar acções futuras. “Existem soluções de IA para uma vasta gama de problemas específicos”, escreve Rus, professor da Escowww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

la MIT SloanThomas Malone, e Robert Laubacher do Centro de Inteligência Colectiva do MIT, “e podem fazer muito para melhorar a eficiência e produtividade dentro do mundo do trabalho”. Tais sistemas incluem o sistema Watson da IBM (usado no Atlético de Mineiro), ou o programa AlphaGo da Google, que também é o melhor jogador humano no jogo de Go. Os sistemas que exploramos em seguros e cuidados de saúde pertencem todos a esta classe de IA, embora variem em diferentes classes de aprendizagem de máquinas, visão por computador, processamento de linguagem natural, ou outros. Outros sistemas em utilização também incluem sistemas mais tradicionais de “IA clássica”, que representam e raciocinam sobre o mundo com lógica formalizada. A IA não é uma coisa única, mas sim uma variedade de diferen-

tes IA, no plural, cada uma com características diferentes, que não reproduzem necessariamente a inteligência humana. Este é um problema para quem é seu defensor. Os sistemas especializados de IA, através da sua dependência de dados largamente gerados pelo homem, primam pela produção de comportamentos que imitam o comportamento humano em tarefas bem conhecidas. E incorporam também os preconceitos humanos. Continuam a ter problemas de robustez, capacidade de executar consistentemente em circunstâncias variáveis (incluindo o ruído intencionalmente introduzido nos dados), e confiança, a crença humana de que uma tarefa atribuída será executada correctamente de cada vez, exacerbada pelo problema da explicabilidade, uma vez que os actuais sistemas especializados de IA não são capazes de revelar aos humanos como chegam às suas decisões. E a capacidade de adaptação a situações inteiramente novas continua a ser um enorme desafio para a IA e para a robótica e uma razão chave para as empresas continuarem a depender de trabalhadores humanos para uma variedade de tarefas, sendo que os humanos ainda se destacam na interacção social, capacidades físicas imprevisíveis, senso comum e, claro, inteligência geral. De uma perspectiva de trabalho, os sistemas especializados de IA tendem a ser orientados para tarefas. Por exemplo, a leitura de radiografias é uma parte fundamental dos trabalhos dos radiologistas, mas apenas uma das dezenas de tarefas que executam. A IA, neste caso, pode permitir aos médicos dedicar mais tempo a outras tarefas, tais como a realização de exames físicos ou o desenvolvimento de planos de tratamento personalizados. Na aviação, os humanos há muito que confiam nos pilotos automáticos para aumentar o seu controlo manual do avião, mas os sistemas de IA ainda não foram certificados para pilotar aeronaves comerciais. A inteligência geral artificial, a ideia de um cérebro verdadeiramente artificial semelhante ao humano, continua a ser um tema de profundo interesse de investigação, mas um objectivo que os especialistas concordam estar ainda bastante distante. O que nos dá tempo para a enquadrar no nosso mundo, em vez de a deixarmos moldá-lo. Estando mais ou menos próximo a verdade é que o presente da IA tem, e muito, que ver com o futuro do trabalho. Estamos preparados?

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FINTECH

FINTECH

A Vez das FinTech Ganharem Voz A realização da Semana das FinTech, já na sua terceira edição, traz os bastidores de uma área que já conquistou o mercado, mas que ainda tem muito por crescer e se impor. O presidente da Associação das FinTech de Moçambique, João Gaspar, fala do caminho a percorrer para lá chegar TEXTO Celso Chambisso • FOTOGRAFIA Marino Silva

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3ª edição da Semana das FinTech, entre os dias 21 e 24 de Fevereiro deste ano, é a clara manifestação da intenção de ampliar o âmbito de um mercado que já provou a sua importância no mercado financeiro, que tem potencial para crescer e impulsionar a economia, mas que clama por mais espaço e enfrenta barreiras de ordem financeira. Como mudar esta realidade? O próprio contexto da realização da Semana das FinTech explica parte do problema, a começar pela definição dos seus stakeholders. A ideia, de acordo com o presidente da Associação das FinTech de Moçambique, João Gaspar, é mobilizar quatro targets desta nova etapa do desenvolvimento tecnológico do sector financeiro, nomeadamente incentivar as empresas ou startups de jovens inovadores que saem das universidades para que comecem a pensar em ideias para lançar negócios com soluções tecnológicas na vertente dos serviços financeiros. O outro alvo são os reguladores cuja importância está no facto de se tratar de um sector novo, num contexto em que a Lei que regulamenta os novos de serviços de pagamento saiu em 2020 e só a partir daí as empresas começaram a legalizar-se ou a submeter os seus processos de licenciamento, que demoram tempo, sendo por isso que a Associação trabalha com o Banco Central e outros reguladores para serem mais ágeis na legalização e supervisão dos novos players do mercado. O terceiro são os investidores, visto que esta é uma área nova, que requer investimentos, mas que no início não são rentáveis. Ou seja, há muito poucas FinTech no mundo que têm cinco anos de existência, e pouquíssimas ainda conseguem ser rentáveis, pelo que vivem mais com base no apoio de investidores e de subsídios. E é neste “atraso muito grande no lança-

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mento e no desenvolvimento das FinTech” que entra o quarto alvo da iniciativa: o Estado. “Temos vários exemplos de iniciativas que começaram com protótipos em 2018 e 2019, mas que ainda não estão no mercado por razões de ordem regulatória e, principalmente, económica. Muitos destes empreendedores acabam por abraçar outras áreas de negócio. Também assistimos à vinda de empresas estrangeiras para o mercado moçambicano. Se isso for bom por ampliar a oferta de serviços financeiros, torna-se mau porque condiciona o desenvolvimento das empresas e soluções nacionais, já que os estrangeiros têm melhor capacidade financeira e conquistam facilmente o mercado”, observou o responsável. Por isso, lança um apelo ao Estado para que crie incentivos financeiros de acesso a capitais para ajudar as empresas moçambicanas a desenvolverem soluções, que permitam que entrem para o mercado em igualdade de oportunidades com os grandes players internacionais. Quanto à necessidade de assegurar maior abrangência às FinTech nacionais, a Associação fala de uma evolução assinalável no acesso a ideias e ao que de melhor se faz neste mercado. Ao longo dos quatro dias do evento, em que cada um terá quatro painéis, os temas versam sobre pagamentos digitais de e para o Governo (por exemplo, subsídios às pessoas ou comissões ao Estado), assinatura de protocolos de cooperação com uma associação congénere portuguesa para uma troca de experiências e acordos com a Visa internacional. Também são tratados temas relacionados com o desenvolvimento dos microbancos, carteiras móveis, seguros digitais, green finance, green bonds e muitos outros temas que incluem as redes de pagamentos que envolvem a SIMO e as redes similares de Maláui, Angola e Nigéria.

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ENTIDADE Associação das FinTech de Moçambique FUNDAÇÃO 2016 ASSOCIADOS 22 Empresas PRESIDENTE João Gaspar

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PANORAMA

Transportes

Opibus Lança o Primeiro Autocarro Eléctrico Projectado e Desenvolvido em África

Ciências biológicas

Governo capacita mulheres em matérias de Biotecnologia e Biociência Trata-se de uma acção organizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) através do Centro Nacional de Biotecnologia e Biociências (CNBB), com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que têm como grupo-alvo mulheres que actuam na área da Saúde, Nutrição, Agricultura, Cosmética e Reciclagem de Resíduos. A ideia é criar condições para que o País disponha de capital humano especializado para a implantação de infra-estruturas dotadas de capacidades para buscarem soluções científicas baseadas na Biotecnologia. O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Daniel Nivagara, sublinhou que a capacitação vai permitir a promoção do desenvolvimento de produtos, serviços e/ou modelos de negócios inclusivos e inovadores. Nesse contexto, orientou o CNBB a planificar e empreender todos os esforços ao seu alcance por forma a que estas formações se expandam à escala nacional e beneficiem mais mulheres de todo o País, com vista à dotação de capacidades para o desenvolvimento da pesquisa, da inovação e de soluções científicas baseadas na Biotecnologia. A Biotecnologia e as Biociências são importantes para a melhoria dos cuidados de saúde, para o desenvolvimento da Indústria, para a sustentabilidade ambiental e para os desafios do desenvolvimento nos sectores da Agricultura, Saúde, Pescas, Recursos Marinhos e Florestais e do Ambiente.

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A Opibus, empresa de tecnologia sueco-queniana que está a revolucionar o mercado dos veículos eléctricos em África, acaba de lançar o primeiro autocarro eléctrico projectado e desenvolvido no continente, em Nairobi, no Quénia. O autocarro é produzido localmente e, em comparação com o seu homólogo a diesel, tem um melhor desempenho e requer menos 80% de custos em manutenção e menos 50% de despesas operacionais, segundo a marca. Assim, torna-se uma alternativa mais sustentável, econó-

mica e que potencia o desenvolvimento da economia local. De acordo com Dennis Wakaba, coordenador do projecto, o primeiro autocarro eléctrico deve ser lançado comercialmente em meados deste ano. Depois, a plataforma será testada em escala através da implantação comercial de dez autocarros no segundo semestre de 2022. “Assim, garantimos uma recolha de feedback valioso para continuarmos o desenvolvimento do produto e fazermos um ajuste optimizado ao mercado.” Referiu.

Aviação

Rolls-Royce anuncia aviões comerciais eléctricos entre 2025 e 2027

De acordo com o presidente da Rolls-Royce Holdings, Rob Watson, o primeiro avião eléctrico da fabricante terá uma potência de cerca de 600 kw, levará entre oito e 18 passageiros, percorrerá trajectos de 150 km, e poderá começar a voar já em 2025. Além disso, os avanços

tecnológicos posteriores que melhorarão as baterias, bem como o desenvolvimento de todos os sistemas electrónicos e de segurança, permitirão aumentar o alcance para 400 km, em 2030. A Rolls-Royce duvida que seja possível electrificar aviões que operem viagens de longo curso com centenas de passageiros. Todavia, para voos regionais, a fabricante acredita que os aviões eléctricos poderão ser a solução, representando um importante papel na descarbonização da indústria da aviação, que é um dos sectores que mais emissões representa. “Estamos confiantes na tecnologia. Agora precisamos de a aumentar de modo a que possa ter um impacto económico significativo. Penso que é aí que se verá a mobilidade aérea urbana e a mobilidade aérea regional com aeronaves até 18 lugares tornar-se uma possibilidade real nos próximos três a cinco anos.’’Disse Rob Watson.

Comunicações

Google anuncia mudanças no Android para proteger a privacidade dos utilizadores Ao longo dos próximos anos, a empresa vai alterar a ferramenta de identificação de utilizadores do seu sistema operativo móvel Android para uma maior protecção da privacidade nos dados partilhados com empresas para a publicidade. A empresa adianta que ainda está a desenvolver tecnologias, que reduzam o risco de haver aplicações que recolham dados dos utilizadores de forma encoberta e garan-

te que o objectivo é melhorar a privacidade dos utilizadores “sem colocar em risco o acesso a conteúdos e serviços gratuitos”, já que o preço que os internautas pagam, em muitos casos, para aceder a esses serviços é precisamente a cedência consciente ou inconsciente dos seus dados pessoais. Especificamente, procura-se limitar o uso partilhado de dados dos utilizadores com terceiros. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


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OPINIÃO

Caminhos para Industrialização: Podem os Países Africanos em Vias de Desenvolvimento ser Competitivos?

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João Gomes • Partner @ JASON Moçambique

Os PAVD, no exacto momento em que enfrentam múltiplas falhas de mercado, os seus governos não dispõem nem de maturidade institucional, nem dos recursos para fazer face à “dupla guilhotina”

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em este artigo a propósito da série1 que tenho dedicado ao tema da industrialização2 em África, e com o intuito de partilhar, com os meus car@s leitores possíveis respostas para a pergunta: Em que condições podem os Países Africanos em Vias de Desenvolvimento (i.e. com rendimento anual per capita < USD 1.000) competir3 industrialmente com os países de médio (i.e. >= USD 1.000 e < USD 12.000) e alto (i.e. >= USD 12.000) rendimento? Na procura das respostas socorrer-me-ei de uma pequena fábula. Em viagem, o grande panda, transportando o pequeno dragão no seu dorso, perguntava “o que é mais importante, pequeno dragão, o caminho ou o destino?” Ao que o pequeno dragão ripostou: “a companhia, meu caro amigo, a companhia!”. Vejamos sucessivamente: 1- O destino da viagem para a industrialização competitiva dos Países Africanos em Vias de Desenvolvimento (adiante PAVD). 2- Os (im)possíveis caminhos das políticas industriais nos PAVC. 1. O destino da viagem para a industrialização competitiva dos PAVD. Uma primeira observação dramática: o gap de produtividade4 que separa hoje os PAVD dos países industrializados é muito maior do que a lacuna que os países industriais, agora desenvolvidos retardatários (i.e. USA; Alemanha), tiveram que superar, no século XIX, para alcançar a Grã-Bretanha (Chang 2003)5. Ou seja, os PAVD para efectuarem os estágios de transição de uma indústria baseada na agricultura (Estágio 1: Orientada para os factores naturais), para uma indústria baseada na manufactura (Estágio 2: Orientada para a Melhoria da Eficiência), e mais para além no horizonte,

para uma indústria baseada no conhecimento (Estágio 3: Orientada para a Inovação [Indústria 4.0]), encontram a linha da meta colocada muito mais à frente! E a nossa dupla da fábula vai ter de percorrer uma distância maior para poder chegar lá! Sendo que o lá (o destino da viagem) é infinitamente mais volátil, incerto, complexo e ambíguo6. Deste modo, as políticas industriais, visando a riqueza das nações dos PAVD, têm hoje que considerar a necessidade de incluir paragens em estações extra que Adam Smith, quando escreveu a famosa obra “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”7, jamais sonharia, tais como: - A inclusão dos mais pobres, do género e das minorias; - A inclusão da resiliência às alterações climáticas, e a revolução verde; - A inclusão digital; - A recuperação dos efeitos da pandemia COVID19; - E tudo a desenrolar-se a uma velocidade vertiginosa, numa arena muito maior que o espaço estreito das fronteiras nacionais: no mercado regional e no mercado global. O que acima se acaba de dizer pode ser um bom teste, e uma grelha de leitura crítica, dos documentos de política e estratégia industrial dos PAVD8: saber até que ponto neles foram consideradas as cinco paragens/dimensões acima referidas como o “destino” da industrialização? 2- Os (im)possíveis caminhos das políticas industriais nos PAVD. Sabido que a linha da meta para a jornada da industrialização dos PAVD, comparativamente ao século XIX, foi drasticamente empurrada para a frente, vamos cuidar de saber se o caminho da dupla da nossa fábula, do grande panda e do pequeno dragão, será duro e espinhoso? www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


Simultaneamente, os PAVD, no exacto momento em que enfrentam múltiplas falhas de mercado, os seus governos não dispõem nem de maturidade institucional, nem dos recursos para fazer face à “dupla guilhotina”. Consequentemente, o caminho possível para a industrialização dos PAVD passa por estes, simultaneamente, lançarem mão de políticas que neutralizem quer as falhas críticas de governação, quer as falhas críticas do mercado. Até lá, e para fechar a nossa fábula, o grande panda carregará o pequeno dragão e ambos desfrutarão da companhia um do outro. Os desafios da industrialização em África são muito mais complexos do que os dos países hoje avançados GOMES, João “Localização Industrial - Uma ferramenta de competitividade”. Revista E&M Outubro de 2021. GOMES, João “O Link(age) Perdido”. Revista E&M - Março 2021. GOMES, João “Servicificar, um salto de gigante”. Revista E&M - Fevereiro 2021. 2 Definição de industrialização: é um tipo de processo histórico e social através do qual a indústria se torna o sector dominante de uma economia, mediante a substituição de instrumentos, técnicas e processos de produção, resultando em aumento da produtividade dos factores e a geração de riqueza. 3 Definição de competitividade: significa a obtenção de uma rentabilidade igual ou superior aos rivais no mercado. 4 Definição de produtividade: como sendo o quociente obtido pela divisão do produzido por um dos factores de produção. Dessa forma, pode-se falar da produtividade do capital, das matérias-primas, da mão-de-obra, materiais, energia, etc.. Por isso, associa-se a produtividade à eficiência e ao tempo: quanto menor for o tempo levado para obter o resultado pretendido, mais produtivo será o sistema. 5 Chang, H.-J. (1996): “The political economy of industrial policy”, second edition, Houndmills et al. 6 Acrónimo VICA - Volátil, Incerto, Complexo, Ambíguo. 7 Publicada em 1776, composta por cinco livros, é a obra mais famosa do filósofo e economista britânico. 8 Por exemplo, em Moçambique: “PEI - Política e Estratégia Industrial 2016-2015”, Ministério da Indústria e Comércio (2016). 9 OQUBAY, Arkebe “Made in Africa – Industrial Policy in Ethiopia”, Oxford University Press. 10 ALTENBURG, Tilman “Industrial Policy in Developing Countries – Overview and lessons from seven country cases” German Development Institute. 11 GOMES, João “Suca daqui, a maldição dos recursos”. Revista E&M - Setembro 2020. 12 Explorando efeitos de agregação, através da facilitação de linkagens activas (Backward e Forward) e promovendo a eficiência colectiva. 13 GOMES, João “Síndrome da Substituição de Importações”. Revista E&M - Dezembro 2021. 14 Quando, por sua vez, os países mais avançados, apostam em produtos manufacturados, com tendência crescente de rendimentos. 1

Atalhando uma discussão longa sobre o tema da direcção da industrialização nos PAVD: nos estudos9 efectuados sobre experiências10 de industrialização (mal e bem sucedidas) constata-se uma generalizada falha simultânea nos dois principais mecanismos de alocação de recursos escassos: A Governação + o Mercado. Chamarei a esta falha a “dupla guilhotina da competitividade industrial dos PAVD”. O caminho inteligente e possível dos PAVD, de modo a evitarem a “dupla guilhotina”, e aproximá-los dos países industrializados, implica, na minha opinião: a) Por uma lado, superar falhas críticas da Governação através i) Do co-desenho e co-implementação com a iniciativa privada (para todos os efeitos, o motor da industrialização), e da avaliação independente dos seus efeitos, ii) de um programa nacional visionário e inspirador para uma transformação industrial inclusiva, iii) que seja “puxa-corda” (que não megaprojectos!11) e agregador de projectos em fileiras industriais12 promissoras, em termos de criação de emprego jovem, iv) e da exportação de produtos inovadores, com valor acrescentado (mas que sejam, por ora, baseados em tecnologias convencionais) para nichos de mercado, iv) e com efeito de protecção degressiva (mas que não seja por via da substituição de importações!13), qualificação e integração dos produtores nacionais em cadeias de valor globais, v) e na direcção do “destino” (ver secção acima). Assim, por exemplo na Etiópia, a indústria das flores de corte; no Chile, a indúswww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

tria do salmão; na Coreia, a indústria automóvel; no Brasil, a indústria aeronáutica. b) E por outro, superar falhas críticas do mercado através i) Da substituição da prática centenária da exportação de matérias-primas (Orientação para os factores naturais) sem prévia transformação), ii) evitando eternizar a manutenção da “armadilha da pobreza”: i.e., especializar na exportação de commodities, com rendimentos decrescentes, no comércio internacional14, iii) e diminuindo a grande exposição ao mercado doméstico, tipicamente pouco exigente em termos de standards de qualidade, diversidade e níveis de serviço, puxando pouco pela capacidade de inovar das empresas sediadas nos PAVD, iv) indústrias essas com alto nível de latitude para falhar prazos de entrega, níveis de qualidade, entrega de serviços de assistência técnica pós-venda que os mercados exportadores, por natureza muito competitivos, raramente toleram, v) tornando os PAVD destinos muito pouco atractivos para o IDE - Investimento Directo Estrangeiro, vi) e reduzindo drasticamente a oportunidade daqueles procederem à importação/transferência de know-how. Em conclusão Os Países Africanos em Vias de Desenvolvimento (PAVD) enfrentam desafios de direcção/destino das suas políticas industriais muito mais complexos que os hoje países avançados encontraram nos seus Estágio 1 “Orientação para os factores naturais”, originando entre eles um alargado “gap de produtividade”.

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MERCADO & FINANÇAS

“Temos de Olhar Para o Que a Banca Está a Fazer e Chegar a Mais Pessoas” Naquele que foi um dos maiores negócios dos últimos anos no sector Segurador, poucas semanas após a confirmação da aquisição da seguradora Ímpar pela Fidelidade no último dia de 2021, Carlos Leitão, CEO da Seguradora que agora ocupa um lugar no ‘top 3’ do mercado, explica a estratégia, fala dos desafios e revela o que vai mudar com esta operação Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva

A

31 de Dezembro de 2021, surgia a confirmação oficial de um negócio que já era, há meses, conhecido — a Fidelidade Seguros anunciou a compra, por 46,8 milhões de euros, ao grupo Millennium bcp (detentor do Millennium bim), e de 70% do capital da então quarta maior seguradora moçambicana, a Seguradora Internacional Moçambique, S.A. (SIM), que vinha operando sob a marca Ímpar. Com a aquisição da Ímpar, que detinha 9,4% de quota de mercado em 2020, a Fidelidade-Ímpar passa a figurar nas três das maiores seguradoras do País e dá um ‘abanão’ num sector que, nos últimos anos, não tem mostrado um grande dinamismo. Carlos Leitão, CEO desta ‘nova’ seguradora, explica à E&M o que vai mudar no mercado e, especialmente, para o impacto da operação para os clientes.

Como ponto de partida, seria importante explicar, de forma breve, o longo processo de aquisição dos 70% do capital da Ímpar pela Fidelidade, até para perceber o que vai mudar, de facto, com esta operação. Desde a sua entrada no mercado, a Fidelidade fez uma grande aposta em Moçambique. Tivemos um primeiro momento que foi de desenvolvimento orgânico e construído pelas sucursais da Fidelidade em Moçambique, mas, ao fim de algum tempo aqui pareceu-nos claro que para ganharmos outro tipo de dimensão teríamos de avaliar a possibilidade de crescer por via de aquisições. Desde o início, a Ímpar sempre nos pareceu a seguradora mais interessante no mercado. Portanto, o processo (de aquisição) foi um processo natural, apesar de ter demorado algum tempo, cerca de dois anos ou um pouco mais.

Uma operação deste género é sempre disruptiva e, nesse sentido, podemos dizer que estamos na pre-

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sença de uma nova seguradora? E o que é que cada uma dá à outra, sendo que, em termos de dimensão, havia uma diferença entre ambas? Não a vejo como uma nova seguradora, mas mais como tendo entrado num novo ciclo de vida da Ímpar, agora juntando também a marca Fidelidade, e daí o nome com que nos apresentamos ao mercado que é Fidelidade-Ímpar. Como disse, no fundo, é um novo ciclo de vida de uma empresa que foi a primeira seguradora privada em Moçambique e que tem uma história da qual os colaboradores se devem orgulhar e encarar o futuro de forma muito positiva, pois será um ciclo em que a Fidelidade pode trazer, de facto, algumas condições adicionais que permitam estarmos mais fortes no mercado.

Nesta nova etapa, o que é que muda efectivamente? Sabemos que haverá mudanças estruturais ao nível da empresa, mas que novidades efectivas se podem esperar? Acima de tudo, muda a capacidade de actuação da própria seguradora no mercado, ou seja, já hoje a Ímpar era uma das seguradoras de referência, daí a nossa apetência em olharmos para ela. Depois, junta-se a experiência de mais de 200 anos da Fidelidade, a grande experiência que temos em mercados africanos e, portanto, iremos aumentar a própria capacidade da Ímpar neste novo ciclo da empresa, com o reforço dos meios por parte da Fidelidade. Um dado interessante em relação à questão do aumento da capacidade é que a Ímpar, por si só, já antes era a única empresa em Moçambique da área seguradora com Rating, ao qual se junta agora o próprio Rating da Fidelidade que é ilustrativo da solidez do Grupo.

Isto terá impacto nos produtos e serviços que vão ser criados? Em relação aos níveis e qualidade dos serviços, penso que tanto a Fidelidade

como a Ímpar já eram consideradas seguradoras que melhores serviços prestavam aos seus clientes. Nesse sentido, diria que vamos reforçar o que já existia e melhorar no que for possível, porque há sempre possibilidade de melhorar, mas, claramente, vamos manter aquilo que o mercado já sentia. Em termos de produtos, creio que aumentámos notoriamente a capacidade para agora começarmos a pensar noutro tipo de soluções. Penso que temos uma oportunidade acrescida para podermos fazê-lo. É um dos temas que temos em mente, até porque uma das características que a Fidelidade tem, enquanto grupo, é ser inovadora nos mercados onde está. Como tal, acredito que existe algo que pode ser feito a este nível.

Fica a ideia de que esta é uma aposta muito grande da Fidelidade, obviamente baseada no potencial que tem e no bom posicionamento da Ímpar no mercado, conforme já referiu. Mas por outro lado o mercado segurador ainda está, pensando na banca, por exemplo, bastante distante de atingir a plena maturidade... Aqui olhou-se claramente a esse potencial de crescimento? Há um potencial claro no mercado, senão não adquiriríamos esta empresa para depois ficarmos limitados com aquilo que já temos. Sabemos que o mercado é incipiente ainda, com uma taxa de penetração dos seguros ainda bastante baixa, e isso representa um potencial tremendo por explorar. E, depois, também acreditamos que a própria economia moçambicana vai permitir esse mesmo crescimento, porque será possível explorar os grandes projectos que estão em curso e que poderão potenciar outro nível de necessidades ao nível da área seguradora que, até ao momento, não existiam. Apostamos claramente na evolução e desenvolvimento da economia moçambicana, isso é um facto. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


“Mesmo em segmentos mais informados da sociedade ainda não é fácil as pessoas se sentirem confortáveis com o tema dos seguros”

Na sua opinião, onde é que o mercado de seguros em Moçambique pode crescer mais nos próximos anos? Eu penso que pode crescer em dois níveis: um decorrente deste novo ciclo económico que o País irá ter com o aparecimento de novos projectos, e com tudo o que daí será dinamizado, e de empresas que terão de trabalhar para lá estarem. Será um ciclo novo e com muitas oportunidades. Mas também penso que o grande desafio para as seguradoras passa por conseguir chegar a uma camada da população que, hoje em dia, ainda não conhece os seguros, não vê necessidade de recorrer a um seguro ou não tem a capacidade financeira para os adquirir. Portanto, o grande esforço que eu acho que as seguradoras têm de fazer – e que não é só o esforço da Fidelidade-Ímpar, mas de todo mercado – será encontrar algumas soluções que nos permitam chegar a outros segmentos da população, com outro tipo de produtos mais abrangentes e com outras características que perwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

mitam, a pouco e pouco, ir alargando as necessidades para mais e maiores faixas da população.

Mas, na prática, como se chega a esse ponto de maturidade do mercado? Depende um pouco da visão e dos objectivos de cada seguradora. Se, de facto, pensarmos numa óptica de que o mercado deixe de ser incipiente e comece a ser massificado, as seguradoras terão de chegar a esses outros grupos ou outros sectores, porque senão estaremos todos a concorrer sempre para o mesmo grupo de clientes. Para evitar isso, algo que tem de ser feito. Agora, admito que cada seguradora pode e deve criar a sua própria estratégia. Pode haver operadoras que estão confortáveis, que olham só para o mercado que existe e centram-se nele. Eu penso que em termos de País, em termos de desafio do sector, teremos de olhar para o potencial não só daquilo que existe ou do que poderá existir, mas também alargar as necessidades. Isso é

muito necessário. E um dos exemplos para aí chegar é o que foi feito pela banca no que diz respeito à promoção da literacia financeira, que é tão necessária na área seguradora. Mesmo em segmentos mais informados da sociedade civil ainda não é muito fácil as pessoas sentirem-se confortáveis com o tema dos seguros. Assim, este é um desafio que as próprias seguradoras têm de assumir. E, em relação a este aspecto eu reforço o exemplo do grande esforço que a actividade bancária tem feito para se dar a conhecer ao público e com sucesso.

Como passa a ser a relação com o Millennium bim, que continua a fazer parte da estrutura de capital da Ímpar? Não falei nisso no início e a pergunta é oportuna. É claramente uma das razões por que olhámos para esta operação com interesse desde o início, e logo com o intuito de ter acesso a uma rede de distribuição que é, indiscutivelmente, das maiores ao nível nacional, porque é uma rede que está habituada a vender seguros e que o tem feito com sucesso. O que aconteceu, tendo em conta que o Millennium bim continua a fazer parte do capital do SIM, foi um acordo de distribuição de longo prazo, em que garantimos que a rede de distribuição continuará a disponibilizar os produtos da Ímpar.

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MERCADO & FINANÇAS

SITUAÇÃO PÓS-FUSÃO A Fidelidade tinha um sonho quando comprou a Ímpar. A avaliar pelos saltos nos números e pela ambição, o objectivo não estará longe de alcançar Fidelidade Moçambique

Ímpar

Quota de mercado 4,3%

TOTAL

14,1% 9,8%

Clientes 8755 TOTAL

330 000 320 282

Colaboradores

46

TOTAL

197

151

Apólices 11 500 TOTAL

435 000 423 697

Estrutura accionista 8%

70% 22% Fidelidade Moçambique

Bim

Outros minoritários FONTE Fidelidade

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“Se os consumidores tinham essa referência de que a Fidelidade é flexível e responde às suas necessidades, é obvio que vão continuar a ter...” Havendo várias fórmulas para operações do género, gostaria de saber como nesta, em concreto, se vão fundir as identidades corporativas das empresas e que efeito isso terá ao nível da operação, da marca, dos processos e dos produtos. Volto a referir aquilo que disse no início: vamos entrar num novo ciclo sem perder nada do bom que já existe tanto de um lado como do outro. Portanto, se o exemplo de que os consumidores tinham era a referência de que a Fidelidade é flexível e responde às suas necessidades, é obvio que o vão continuar a ter. O que pretendemos é que sintam melhorias nessa flexibilidade, dando ao mercado acesso a outro tipo de seguros que agora, do nosso lado, podemos começar a agregar ao que já existia, devido à junção das duas empresas e à dimensão que criámos. Posso garantir que tudo o que de bom era feito, fosse ao ní-

vel da Ímpar ou das sucursais da Fidelidade, vai ser potenciado e não alterado. Ao nível interno, também posso dizer que todos os colaboradores se mantêm e os órgãos de gestão continuam os mesmos, portanto, a Fidelidade está a tentar potenciar o que de melhor há nos dois grupos.

E quanto aos segmentos alvo das seguradoras, no vosso caso, e pela dimensão do País, em que tipo de segmentos estão focalizados? Quer a Ímpar como a Fidelidade já tínham actuação em todos os sectores, numa óptica de negócio directo – que é o facto de a própria seguradora a ir ao mercado e a contratar –, quer numa óptica de canais de mediação, onde se concentram os intermediários (corretores e mediadores), quer seja na área na relação com os bancos. Assim, vamos manter e reforçar tudo isto no mesmo ponto. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022


Tendo em conta o avanço da tecnologia a vários níveis, a inovação é uma das formas para chegar a cada vez mais população, especialmente na realidade nacional. Como é que a tecnologia pode ajudar a desenvolver o sector e o que é que é realista pensar a este nível? É um desafio mas, como referia há pouco, se quisermos chegar a cada um dos segmentos da população temos de criar soluções inovadoras. Face à dimensão que existia nas sucursais era difícil chegar a esse mercado, mas com a dimensão da Ímpar, é claramente um desafio que temos pela frente. Depois, podemos aqui aproveitar a grande experiência que temos enquanto grupo, porque, por exemplo, temos operações na América do Sul, onde se trabalha muito e bem na área dos micro-seguros, por exemplo.

Se dermos um salto no tempo para daqui a um ano, o que é que mudaria nesta nossa conversa? O que eu gostava mesmo era de, nessa altura, estar a falar de uma seguradora que, hoje, já é a referência em termos de rentabilidade, que o continuasse a ser e que fosse cumprido, igualmente, o objectivo de crescimento. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

OP



ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

66 Uma visita aos encantos da Katembe, o outro lado da Baía de Maputo

g

e 68 Shamwari, ao sabor quase que exclusivo da esparguete de polvo da chef Gilda Langa

69 Entre os biológicos, biodinâmicos e naturais, conheça os vinhos mais sustentáveis


Maputo

Katembe, na Rota Das Cavernas KATEMBE

Uma aventura por uma terra virgem, mas com muitos encantos e História

e

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a ponte maputo-katembe é uma árvore que emerge das águas a juntar duas margens do mesmo território. Quem lança os olhos a Katembe do alto dos prédios da cidade de Maputo pode, a início, pensá-la uma ilha, corpo de terra jogado ao mar como é Inhaca, Xefina ou dos Portugueses, ou tantas outras que fazem do Índico uma rota cheia de paragens. Mas Katembe é extensão da cidade, afastado por um golpe geográfico para nos introduzir ao mar. Antes da ponte, havia ferryboats e pequenas embarcações a que popularmente chamamos mapapais, que partiam da Ponte-Cais, permitindo esta experiência da cidade a minorar-se, a tornar-se ilha enquanto Katembe se torna terra viva. Mas a travessia pelo mar dependia sempre do tempo, este composto de ventos que torna o mar num campo ainda mais movediço. A ponte tornou a ligação mais rápida e mais práti-

ca e deu mais um cartão de visita. Afinal, os cerca de três quilómetros fizeram dela a maior ponte suspensa de África. Chegámos ainda o sol se escondia entre as nuvens, pássaros ao alto a testar a sorte dos fotógrafos, que podiam tentar captar esta imagem de postal que são as revoadas com a ponte a fazer de fundo. Praia dos Amores era o destino. O nome é sugestivo e o que não se diz dela é ainda mais. “De onde chega?” - perguntámos aos pescadores com a curiosidade natural dos forasteiros que exigem significado para tudo. Mas a pergunta surpreende-os. Apesar de conhecerem a Praia, nunca se propuseram a pensar na origem do nome, como se o ouvissem desde sempre e pensassem que fosse sempre substantivo e adjectivo, conceito e definição. Mas deixam-nos a descrição: cavernas, terra, mar, céu e a cidade ao fundo.

Terminam a indicar quem nos possa dizer mais. O bairro é Malhanpfane. O caminho é de terra, lama e poças de água que nos obriga a deixar o carro a meio do caminho e seguir a pé. E quem precisávamos encontrar é Ana Mboissa, uma anciã já a esticar a vida para perto dos 70 anos de idade, todos eles vividos naquela Katembe marcada pelos ventos da Praia dos Amores. O nome é antigo, conta, mas não tem a exacta origem. “Crescemos a saber que é Praia rha Lirandzo”, diz-nos. “Lirandzo” é o equivalente a “Amor” e debatemo-nos para perceber nesta tradução o que precede e o que procede. E então percebemos que a precedência será sempre uma luta identitária. Os portugueses chamavam “dos Amores” e os nativos de “rha Lirandzo”. E fala de um tempo em que havia uma profusão de carros e de gentes que se punham nas cavernas feitas

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alpendres, mesmo em frente à praia, em grandes celebrações do que é a vida, que podia durar por dias. Despedimo-nos e voltámos a embrenhar-nos pelos trilhos com árvores a fazer de margens para depois nos deixarem ver o mar em toda a sua plenitude. As grandes rochas esculpidas pelo escopro-mar e martelo-tempo são cavernas em que a luz sempre chega. Parados ali, é como se o tempo estivesse suspenso, como se os ventos das evoluções que levaram homens e mulheres por mãos próprias a erguer paredes e tectos para o abrigo, ao longo dos séculos, não tivessem soprado por ali. Restam algumas médias cavernas, que continuam a ser ameaçadas pelo mar. Quem está mais habituado a estas andanças diz que já foram mais e mais profundas, foram já corroídas pelas águas do mar e as rochas agora lembram o monte Rushmore. O “Amores” a que se cola à Praia pode tanto ser pelas celebrações de que Ana nos falara como pelas cavernas que sugerem leitos de um período pré-histórico e tudo o que o leito sugere. Mas pode ser também sobre o silêncio rompido pelo milagre da natureza que é o mar a crescer um pouco cada vez que uma onda chega à margem. E a cidade no horizonte, como se os prédios também estivessem a flutuar sobre as águas. E entre o nascer e o pôr-do-sol, pensamos que talvez o dia pudesse ser eterno. Mas o sol ensina-nos o que os actores e actrizes de Teatro personificam: o segredo não está na eternidade da actuação, mas como se sai de cena. E o pôr-do-sol visto da Praia dos Amores é este espectáculo: o laranja lusco-fusco ao fundo, como a bola de fogo a extinguir-se, e réstias de luz reflectidas entre as gotas que sobram do vaivém das águas sobre as rochas mais adiantadas, quase um caleidoscópio. TEXTO Elton Pila FOTOGRAFIA D.R. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

“Pensamos que talvez o dia pudesse ser eterno. Mas o sol ensina-nos o que os actores e actrizes de Teatro personificam: o segredo não está na eternidade da actuação, mas como se sai de cena” ROTEIRO COMO IR Da cidade de Maputo é uma viagem de carro de perto de 25 minutos em estrada alcatroada e mais 15 por terra batida. A meio do caminho, pode seguir a pé não por muito mais do que outros 15 minutos, o que vale também pela imersão no verde. O QUE FAZER Um piquenique na caverna evoca a memória de outros tempos. Assistir ao nascer e ao pôr-do-sol é também uma experiência inesquecível. E pode sempre deixar-se ficar apenas, sem compromisso com o olhar turístico, quase uma meditação. ONDE COMER Levar o que comer pode sempre ser uma boa alternativa. Mas em Katembe há uma infinidade de restaurantes. ONDE DORMIR Há várias estâncias hoteleiras. Mas Massala-Mar, que tem uma porta de acesso à Praia dos Amores, pode ser sempre uma boa opção.

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SHAMWARI

Localizado no número 171 da Rua Mateus Sansão Mutemba, cidade de Maputo, segue na sua segunda vida… vivida com intensidade

g de ouvido o nome demora a ser fixado. Trocamos as letras neste processo inconsciente de tentar tornar a pronúncia em algo que nos seja mais verosímil. Precisamos chegar para o absorver: Shamwari. Localizado no número 171 da Rua Mateus Sansão Mutemba, cidade de Maputo, segue na sua segunda vida e, como acontece também às pessoas, a segunda vida dos espaços é vivida com maior intensidade. Talvez o exemplo maior, se quisermos personificar, encontremos em Gilda Langa, a chef de cozinha que prepararia a Esparguete de Polvo que provaríamos. Bem faladora e com um porte físico a lembrar uma lutadora de boxe, mas com a delicadeza que diz muito dos seus pratos, é a alma mater do Shamwari. Fala com a confiança de quem sabe o que faz, dos ingredientes e da quantidade, a mania do pormenor tão necessária

Shamwari, na cozinha de autor, sem medo que lhe roubemos a receita. “O segredo está na sensibilidade do cozinheiro”, diz-nos. Quando o prato nos chega à mesa, o sabor maior vai dando lugar ao menor, como se fosse uma espécie de matrioskas, sentimos a esparguete, a nata e o parmesão, os mexilhões e o polvo, o toque do vinho branco, o alho… E terminamos, com o garfo e a faca sobre o prato na posição horizontal, a fazer nascer um novo mito: o polvo só se deixa (bem) cozinhar por mulheres. Mas quais são, então, os segredos do polvo, por aqui classificado como o sabor dos recifes? Os nutricionistas descrevem o polvo como uma boa fonte de proteína e de aminoácidos essenciais, entre eles a leucina,

Quando o prato nos chega à mesa, o sabor maior dá lugar ao menor, como se fosse uma espécie de matrioskas...

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Cozinha de Autor

que não é produzida pelo corpo humano. Esse aminoácido é usado como fonte de energia e sintetizar proteínas. Acredita-se ainda que ajuda a reduzir a perda de massa muscular associada ao envelhecimento. O polvo é também uma boa fonte de magnésio, potássio, ferro e gorduras poli-insaturadas. É também rico em colesterol (48 mg/100 g). O facto de o molusco se alimentar de muitas outras espécies marinhas também aumenta a probabilidade de contaminação por substâncias tóxicas. Na cozinha, a maior dificuldade é deixar a sua carne bastante saborosa, no ponto certo. Uma dica é comprar polvos menores, que são mais macios. A outra forma de amaciar a carne é congelar previamente o molusco.

Sobre a sua exploração, há muito que se diga sobre o polvo que guarda segredos sobre Shamwari e outros restaurantes pelo País. A tradição fala da captura quando a maré é baixa, nas madrugadas dos meses de Março, Maio, Julho e Dezembro. Mas desde 2007, tanto em Moçambique como na Tanzânia, Comores, Seychelles e Quénia, teve de ser reduzida a quantidade do pescado para protecção da própria espécie. Os biólogos descobriram que o polvo, que significa “muitos pés”, é extremamente inteligente, tendo uma capacidade de retenção de memória e de aprendizagem, habilidades desenvolvidas para a sua própria sobrevivência. Das prováveis 700 espécies presentes em todos os oceanos da Terra, abundantes sobretudo em águas tropicais, pesam entre três e 40 kg; algumas chegam a três metros de comprimento, sendo também por isso chamadas de “monstros dos mares”.

TEXTO Elton Pila & Leonel Matusse Jr. FOTOGRAFIA D.R

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Nos cerca de 80 exemplares em prova, que incluem o Vinho do Porto, são de destacar o facto de as amostras recebidas serem oriundas de praticamente todas as regiões de Portugal, contandose pelos dedos de uma mão os vinhos que apresentaram defeitos

Biológicos, Biodinâmicos existem vários pontos em comum entre eles, outros que podem ou não ser coincidentes, mas, no fundo, todos estes modos de produção de vinhos estão centrados num único conceito: sustentabilidade. Lida nas suas múltiplas dimensões – ambiental, social e económica –, será capaz de integrar e respeitar não apenas o meio ambiente e os ecossistemas, mas, igualmente, de assegurar o bem-estar dos produtores, das comunidades e, claro, do negócio propriamente dito. São várias as condicionantes destes modelos de produção, que incluem aspectos como a redução de emissões de dióxido de carbono (CO2), a não utilização de produtos fitossanitários de síntese na vinha, a prioridade dada à luta biológica contra pragas e doenças, entre muitas outras variáveis. Em resumo, seguindo as directrizes de António Dias Cardoso, – pedagogo, investigador e enólogo, considerado o “senhor do vinho” –, o vinho biológico combina as melhores práticas em matéria ambiental e climática, elevado nível de biodiversidade, preservação dos recursos naturais e a observância de normas exigentes em matéria de produção, de acordo com o estatuído no Regulamento n.º 2018/848 do Parlamento Europeu e do Conselho, que regula a produção biológica. Por sua vez, a biodinâmica acrescenta uma camada filosófica e holística aos processos, visando a auto-sustentabilidade da produção, ligando todos os elementos da exploração agrícola a influências cósmicas e corpos celestes. Não existe ainda regulamentação deste modo de produção que pode, no entanto, ser certificado por entidades como a Demeter e a Biodyvin. A tudo isto, ainda sem regulamentação comunitária, juntam-se os vinhos ditos naturais ou, melhor dizendo, vinhos de intervenção mínima. Podendo ser ou não biodinâmicos, terão de cumprir as normas da viticultura em modo de produção biológica, livre de quaisquer produtos químicos e com intervenção mínima na adega (mas espera-se cuidado máximo).O emprego de leveduras indígenas e a quantidade de sulfitos utilizada (muitas associações de produtores defendem um total de sulfitos de 30 mg./lt. para tinwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

e Naturais. Quais São os

Vinhos Mais Sustentáveis? tos e máximos de 40 mg./lt para brancos e espumantes) estão entre as principais variáveis de discussão em torno destes vinhos. Categoria transversal Nesta prova temática, em que vamos habitualmente tomando o pulso ao segmento no início de cada ano, não fizemos, propositadamente, distinção entre vinhos biológicos, biodinâmicos e “naturais”. Quisemos, antes, dar relevo a uma realidade que surge com mais força junto do consumidor, cada vez mais atento e sedento destes vinhos, os quais, por sua vez, se apresentam cada vez mais aprimorados, bem feitos e aprazíveis. Nos cerca de 80 exemplares em prova, que incluem Vinho do Porto, são de destacar o facto de as amostras recebidas serem oriundas de praticamente todas as regiões de Portugal, contando-se pelos dedos de uma mão os vinhos que apresentaram defeitos – os quais, na maioria, se deveram a problemas de rolha. Por outro lado, é justo enaltecer a enorme qualidade, sentido de lugar, equilíbrio e frescura dos vinhos verdes brancos das categorias, facto ainda mais impressionante quando sabemos que o clima da região dificulta sobremaneira este modelo de produção, com os vinhos brancos e tintos, da Beira Interior, a merecerem igualmente forte protagonismo, o que demonstra o percurso que a região tem feito, a montante, neste domínio. Assim, desfeitos quaisquer preconceitos, devemos, sobretudo, atentar numa única característica destes vinhos: a sua qualidade.

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LITERATURA

A obra reúne 15 escritores moçambicanos distribuídos em igual número de criações literárias ao longo de 139 páginas

“Escrever a Guerra” quando o som das armas

procurava melodias para o fazer ecoar, choros e gritos encontravam moradia na vida de milhares de moçambicanos. O medo e a revolta espalhavam-se, mas os amantes das palavras procuravam sempre desviar o rumo das lágrimas “escrevendo a guerra”. Fugindo das balas da morte, a arte procurou viver no meio do conflito civil em Moçambique, conhecido como “a guerra dos 16 anos”. Contornando a dor, diversos escritores moçambicanos retrataram esta guerra por meio da literatura. Cada um viveu, sentiu , imaginou e no final “escreveu a guerra” da forma como a sua alma artística ordenou. O tempo passou e reduziu-se o volume do som das armas, mas a memória continua viva. Tão viva que ordenou que tais textos deviam ser reunidos numa obra. E foi nesta perspectiva que a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) e a Alcance Editores lançaram, recentemente, no Centro Cul-

Para Anunciar a Paz tural Português, o livro intitulado “Antologia de Guerra”. A obra de 139 páginas reúne 15 escritores moçambicanos distribuídos em igual número de criações literárias inspiradas na guerra dos 16 anos. “O dia em que explodiu Mabata-Bata”, de Mia Couto, “A Orgia dos Loucos”, de Ungulani Ba Ka Khosa, “Era Uma Outra Guerra”, de Lília Momplé, e “O BTR Longe dos Campos de Batalha”, de Juvenal Bucuane, são alguns dos textos que marcam presença nesta antologia. Na visão do Secretário-Geral da AEMO, Carlos Paradona, a explicação para o surgimento da obra é única: perpetuar a memória. “Para que os tempos difíceis que foram vividos jamais possam apagar-se e para que as novas gerações saibam de onde vieram”, disse na sua introdução. Coube a Juvenal Bucuane fazer a apresentação da obra, em representação dos escritores que deram vida à “Antolo-

O tempo reduziu o som das armas, mas a memória continua viva...foi neste contexto que se lançou a “Antologia de Guerra” www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022

gia de Guerra”. “Esta obra não é um tratado de guerra, muito pelo contrário. Trata-se de uma revisitação à nossa História guiada por alguns escritores moçambicanos e cada texto tem alma. Mostra como cada um traz a sua visão sobre o desenrolar do conflito que assolou Moçambique num intervalo temporal de cerca de 16 anos”, acrescentou o escritor. Presente na ocasião, o Vice-ministro da Cultura e Turismo, Fredson Bacar, desafiou as editoras do País a “abraçarem iniciativas do género” para a elevação da cultura nacional. Por sua vez, a Alcance Editores reiterou o seu compromisso com o desenvolvimento de iniciativas para alavancar a literatura nacional. A “Antologia de Guerra” reúne uma diversidade de textos de incontestável valor literário, desde reflexões sobre a sociedade moçambicana até textos dramáticos, passando por aqueles que são simplesmente hilariantes, mas todos com um epicentro: a guerra.

TEXTO Yana De Almeida FOTOGRAFIA Mariano Silva

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TESLA CYBERTRU Musk e a sua equipa de engenheiros projectaram, no lugar dos espelhos retrovisores, peças fáceis de remover caso possam ser, futuramente, substituídas por câmaras

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Elon Musk Confirma Lançamento da Tesla Cybertruck já foi adiado várias vezes, frustrando os interessados em comprar a pick up eléctrica da montadora de Elon Musk. Contudo, durante a divulgação dos seus resultados financeiros, a 27 de Janeiro passado, a Tesla confirmou alguns detalhes sobre o lançamento de futuros veículos. O CEO da empresa, Elon Musk, confirmou oficialmente o que já era esperado: o aguardado Cybertruck será lançado apenas em 2023. A previsão inicial era de que as primeiras unidades seriam entregues ainda no início de 2022. Nas imagens postadas no fórum Cybertruck Owner’s Club, a camioneta futurista é mostrada na sua possível versão de produção, sem qualquer disfarce e algumas mudanças em relação ao protótipo revelado em 2019. Uma delas é a presença do limpador de pára-bri-

o lançamento

do Tesla Cybertruck Para 2023 sa em peça única e posicionada na vertical. A peça enorme, que havia aparecido somente em patentes da fabricante, fica do lado do motorista e parece ser capaz de estender-se por todo o pára-brisa, agora ligeiramente curvado em vez de totalmente plano, como no conceito. O uso de um sistema de limpador electromagnético não está descartado. Outro equipamento revelado no vídeo e nas fotos feitas durante um evento com trabalhadores da fábrica da Tesla é o retrovisor externo da Cybertruck. Musk e a sua equipa de engenheiros queriam um veículo sem espelhos laterais, algo não permitido pelos reguladores de segurança, mas projectaram peças fáceis de remover caso possam ser, futuramente, substituídas por câmaras.

A Tesla tinha anunciado que a versão final iria reconhecer o proprietário quando este se aproximasse e abriria a porta sem necessidade de mexer na maçaneta

Além disso, as maçanetas das portas não aparecem nas imagens, reforçando uma ideia antiga da fabricante. Há algum tempo, a companhia disse que a versão final do veículo iria reconhecer o proprietário quando este se aproximasse e abriria a porta automaticamente, sem necessidade de mexer na maçaneta. Vale a pena destacar ainda as rodas com design semelhante ao usado no Model 3, sem as tampas aerodinâmicas mostradas no protótipo e algumas pequenas mudanças na dianteira. Entre elas, há um capot mais curto e um pára-choques de plástico aparentemente maior, protegendo a camioneta de pequenos impactos. Anunciada em 2019, a pick up eléctrica foi um sucesso de reservas, mas a Tesla espera um desempenho ainda maior após a resolução de alguns obstáculos — incluindo o preço ainda alto (inicialmente fixado em 39 mil dólares) e dificuldades na fabricação de baterias.

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