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Época de Miguel Oliveira
from Obrigado Miguel
MOTOGP A ÉPOCA DE MIGUEL OLIVEIRA
TEXTO: Bernardo Matias
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A confirmação de Oliveira
na segunda época
Em 2020, Miguel Oliveira completou a segunda temporada da carreira no Mundial de MotoGP, novamente ao serviço da Red Bull KTM Tech3. Como para todos, foi um ano muito atípico, curto, mas que ficou marcado pela confirmação do seu potencial depois das indicações promissoras da época de estreia.
Depois da ausência da ponta final de 2019 por lesão, o começo deste ano ficou marcado por algumas incógnitas – como estaria Oliveira depois de uma fase complicada e de muitos meses fora de ação? As primeiras indicações animadoras surgiram em fevereiro, quando foi o 12.º dos testes de Sepang a 0,415s do topo no seu regresso à moto. Dias depois, nos ensaios do Qatar as coisas foram um pouco mais complicadas, com o 19.º posto a 1,150s do topo. Seguir-se-iam os longos meses de pausa devido à pandemia antes do arranque da época em Jerez. Na quarta-feira anterior ao GP de Espanha, que marcou o começo da ação competitiva, houve um dia de testes em Jerez, no qual Oliveira terminou a meio da tabela (11.º) a 0,633s. Deixava assim a prometer uma época positiva desde o começo.
GP DE ESPANHA : INÍCIO A IGUALAR O MELHOR RESULTADO
Dia 17 de julho de 2020 e a temporada do MotoGP começou oficialmente com os primeiros dias de treinos livres do GP de Espanha. O início foi discreto para Oliveira, que nos treinos livres teve algumas dificuldades para ir além da zona recuada da tabela. Tendência que continuou na qualificação. Apesar de um dos homens da KTM, no caso concreto Pol Espargaró, ter acedido à Q2, Oliveira não conseguiu ir além do 17.º posto ficando a praticamente sete décimas do apuramento. Não se antecipavam facilidades para a corrida, apesar da experiência do #88 em Jerez. O warm-up foi um pouco mais animador com a 12.ª marca. No domingo, 19 de julho, Oliveira enfrentou a primeira corrida de 2020. Foi uma prova em sentido ascendente desde o começo, até que na volta 22 das 25 o português chegou à oitava posição em que terminou. Não ficou muito longe do sétimo, Francesco Bagnaia (Pramac Racing/Ducati), a pouco mais de quatro décima. De qualquer modo, Oliveira igualava o seu melhor resultado até ao momento, num arranque de época que o deixou naturalmente agradado. Assim foi a sua visão dos acontecimentos em comunicado, sustentando que foi um resultado
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merecido: ‘Foi um fecho de fim de semana muito, muito feliz. Depois de algumas dificuldades nos treinos, acho que merecemos este bom resultado. Começar a época com um top dez é melhor do que esperávamos. Estou satisfeito com a minha prestação, a forma como a minha equipa recuperou depois de uma qualificação difícil, por isso estou verdadeiramente feliz por dar este resultado à equipa. Eles merecem’.
GP DA ANDALUZIA: FRUSTRAÇÃO COM ABANDONO NA PRIMEIRA CURVA
Continuando em Jerez de la Frontera e sem qualquer pausa, o GP da Andaluzia estreou-se no calendário (enquanto designação, uma vez que o local, Jerez, estava muito longe de ser uma novidade). Desde cedo que Oliveira começou mais forte do que na ronda inicial, mas não evitou nova passagem pela Q2 – foi sexto no FP1, mas nunca mais figurou do top dez. Na Q1, Oliveira ditou o ritmo por 0,157s. Assim, consumou a sua primeira presença na Q2 e, só por isso, o GP da Andaluzia já tinha contornos históricos. Na segunda fase da qualificação, Oliveira obteve um quinto lugar que lhe abria perspetivas de uma boa corrida. Ficou a apenas 0,337s da pole position e a menos de duas décimas da linha da frente. Após o 13.º registo no warm-up, Oliveira começou a corrida de quinto. A posição na grelha dava perspetivas de combater pelo top cinco e até pelo pódio. Porém, tudo se resumiu ao arranque. Oliveira perdeu algumas posições na saída e, a caminho da curva um, levou um toque de traseira de Brad Binder (Red Bull KTM) ficando fora da prova desde logo. No seguimento da corrida, Oliveira analisou citado pelo site Motorsport.com: ‘Há sempre diferentes versões do que aconteceu, mas é muito difícil dizer quando se está na perspetiva de um piloto. Mas olhando para todas as filmagens, acho que o Brad foi demasiado otimista a entrar na primeira curva’. Já em comunicado, o #88 não escondeu o seu desapontamento, mas assegurou que não podia ter feito nada de diferente: ‘Foi um fecho de fim de semana desapontante seguramente. Depois de ver a corrida, podia ter ficado facilmente no top cinco ou até no pódio, acho arriscado dizer, por isso é desapontado nem ter podido começar a corrida com o incidente na primeira curva. Fui a pessoa infeliz nesta posição, mas não havia nada que pudesse fazer para evitar o acidente’.
GP DA REPÚBLICA CHECA: OLIVEIRA SUPEROU O SEU MELHOR
Depois de um intervalo de duas semanas, o MotoGP deixou Jerez para trás e rumou ao Masaryk Circuit em Brno para o GP da República Checa em pleno mês de agosto. Era o começo da primeira sequência de três rondas seguidas. Nos treinos livres, Oliveira ainda chegou a ser terceiro no FP2, mas acabou fora do top dez combinado. De regresso à Q1, falhou o apuramento para a discussão do top 12 por muito pouco: foi terceiro a 0,037s do apuramento. Assim, ficou relegado à 13.ª posição à partida e via a sua vida na corrida um pouco mais complicada, tendo de recuperar para repetir o top dez. O 14.º tempo no warm-up não deixava antever uma corrida fácil. Mas, sem virar a cara à luta, Oliveira conseguiu fazer uma corrida sólida, sempre a recuperar, e com um ritmo forte. Esteve constantemente em luta por posição e terminou no sexto lugar a 7,969s do vencedor. Ficava mesmo a sensação de que, com uma posição mais avançada na grelha de partida, seria possível um resultado ainda melhor. De todos os modos, Oliveira tinha obtido a sua classificação mais forte até ao momento e no balanço não escondeu a natural satisfação: ‘Foi um bom fecho de fim de semana. Tivemos uma boa corrida, sinto que fizemos um bom trabalho todo o fim de semana. Olhando para a corrida, a nossa posição de partida custou-nos um resultado melhor, mas precisamos de viver com isso’.
GP DA ÁUSTRIA: SEGUNDO ABANDONO EM QUATRO CORRIDAS
A caravana dos Mundiais MotoGP seguiu, sem paragens, para o Red Bull Ring e para o pitoresco cenário do Red Bull Ring, com o GP da Áustria. Uma pista que dava boas perspetivas a Oliveira, já que em 2019 lá somou o seu melhor resultado da época de estreia ao ser oitavo. Presença constante no top dez dos treinos livres, foi com naturalidade que chegou diretamente à Q2 pela primeira vez – foi o sétimo classificado no cômputo geral das três primeiras sessões, as que contam para o acesso à Q2. Porém, uma vez na
qualificação o piloto nascido no Pragal não foi além de 11.º, sem argumentos para avançar mais na grelha. Acabou a 0,489s da pole position e a 0,402s do top três. No warm-up, o #88 realizou a 21.ª marca. A corrida foi dividida em duas partes, devido a um aparatoso acidente que motivou bandeiras vermelhas. Nas oito voltas antes da neutralização, Oliveira recuperou até quinto. Com um novo arranque, bom ritmo e mais 20 voltas, tudo indicava que Oliveira podia fazer um resultado forte em Spielberg, mas acabou por cair num polémico incidente com Pol Espargaró (Red Bull KTM) que o tirou da prova. O episódio deu que falar nos dias seguintes, com uma troca de palavras via imprensa que acabou por ser apaziguada por ambos no GP seguinte. Para a história do campeonato ficou mesmo o abandono, difícil de aceitar para Oliveira como o próprio confidenciou em comunicado: ‘Este é um resultado duro. Decerto mostrámos muita velocidade e acho que teríamos sido capazes de obter um resultado muito bom para a equipa. Infelizmente, o Pol estava com dificuldades para parar a moto e vi que ele ia largo em algumas curvas, por isso na curva quatro vi que ele foi mesmo muito largo e fui pelo lado de dentro. Normalmente, quando um piloto vai por fora tentas obter vantagem disso e de alguma forma ele voltou muito rápido e colidimos. Não vejo forma de ter podido evitar o acidente’.
GP DA ESTÍRIA: O HISTÓRICO SURPREENDENTE PRIMEIRO TRIUNFO
Uma semana depois do GP da Áustria, o MotoGP manteve-se no Red Bull Ring para a primeira edição do GP da Estíria. Ávido de dar a volta por cima ao abandono de dias antes, Oliveira esteve de novo constantemente no top dez dos treinos livres acedendo diretamente à Q2. Desta feita, conseguiu um melhor lugar de arranque: rubricou a oitava marca da fase decisiva da qualificação a apenas 0,217s da pole position. A partir da terceira fila da grelha, Oliveira podia almejar a um bom resultado, até porque tinha ritmo muito próximo do dos líderes. Uma penalização de um rival à sua frente promovê-lo-ia a sétimo na grelha. Após o 18.º tempo do warm-up, Oliveira começou a corrida a manter-se no top dez, rodando consistentemente entre sétimo e oitavo. Um acidente de Maverick Viñales (Monster Energy Yamaha) obrigou à neutralização da prova. No reatar, Oliveira tinha mais 12 voltas. Assentou-se na quarta posição e esteve sempre no grupo da frente. Chegou aos lugares de pódio depois de deixar Joan Mir (Team Suzuki Ecstar) para trás e, a assistir de poltrona ao duelo pelo topo entre Jack Miller (Pramac Racing/Ducati) e Pol Espargaró (Red Bull KTM), esperou o erro destes na última curva para os ultrapassar e levar de vencida. Um resultado histórico e surpreendente numa exibição de grande quilate. Foi um dos pontos altos da temporada, que fez A Portuguesa soar pela primeira vez no pódio do MotoGP. No comentário final, Oliveira não cabia em si de satisfação, como ficou notório: ‘Estava totalmente focado na frente. Quando passei na última volta, vi que o Pol começou a manter uma trajetória muito defensiva e pensei que ambos podiam perder muito tempo, por isso aproveitei isso. Na última curva deixei-os lutar e simplesmente fui por dentro. Quando vi a bandeira de xadrez e ninguém à volta, foi pura alegria. Estou muito feliz por dar a esta equipa a primeira vitória deles. É um grande grupo de seres humanos, muito profissionais, e merecem isto. Merecemos esta vitória depois de todas as lutas que tivemos desde o ano passado’.
GP DE SAN MARINO: TOP DEZ ESCAPOU POR POUCO
O GP de San Marino foi o primeiro da segunda sequência tripla, com a tradicional visita ao Misano World Circuit Marco Simoncelli – onde dias antes Oliveira tinha testado com a KTM. Depois de ter ficado em último no FP1, Oliveira fez progressos, mas falhou o acesso direto à Q2, até porque não foi capaz de fazer um bom ataque ao tempo no FP3. A verdade é a Q1 foi bem mais positiva, com Oliveira a acabar em segundo a 0,148s para aceder à Q2. Na fase decisiva, o #88 não conseguiu fazer melhor do que o 12.º registo a 0,912s do topo, ficando assim nessa posição no arranque. Após o top dez, do warm-up, Oliveira começou a corrida a estabelecer-se no fim da zona pontuável, em 15.º lugar. Foi fazendo uma recuperação gradual ao longo da prova, até que chegou a décimo. Porém, nas últimas duas voltas não teve argumentos para se impor a Pol Espargaró e cortou a meta em 11.º. No rescaldo, Oliveira assumiu que a escolha de pneus pode não ter sido a mais acertada: ‘Foi uma corrida árdua. Para ser honesto, foi muito difícil recuperar posições, especialmente no começo da corrida. Tivemos vários pilotos com escolhas de pneus diferentes, o que tornou a nossa vida muito difícil, mas tivemos um bom ritmo, simplesmente demasiado longe’.
GP DA EMÍLIA ROMANA: QUINTO LUGAR APÓS RECUPERAÇÃO DESDE 15.º
Misano foi outro dos palcos visitados por duas vezes pelo MotoGP este ano. A segunda ronda foi o GP da Emília Romana, realizado depois de um teste oficial entre provas. Depois de uma sexta-feira passada no top dez, Oliveira não se conseguiu lá manter no FP3 e foi relegado à Q1. Uma vez na qualificação, Falcão pareceu ter argumentos para se bater pelo acesso à Q2. Porém, não foi além da quinta marca e, assim, ficou-se pelo 15.º posto à partida que não facilitava a tarefa na corrida. Acabou a 0,282s do topo da tabela da Q1, inclusive atrás do seu colega Iker Lecuona – algo pouco habitual em 2020. O warm-up teve Oliveira em 11.º.
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Horas mais tarde realizou-se a corrida. Desde início que começou a progredir na classificação e viria a chegar à quinta posição na volta 21 – depois do abandono de Francesco Bagnaia (Pramac Racing/Ducati). Até ao fim, ainda teve o quarto posto em vista, mas acabou mesmo em quinto a 7,368s do vencedor, Maverick Viñales (Monster Energy Yamaha). Um resultado com que Oliveira se deu por satisfeito por ter alcançado a meta a que se propôs, como afirmou no fim da corrida em comunicado: ‘Estou feliz com a corrida. Começámos muito atrás e fomos capazes de ganhar algumas posições, beneficiando também de alguns acidentes. O nosso potencial existiu, tivemos um ritmo muito bom. Senti-me muito bem com a moto e não cometi erros, por isso mantive-me concentrado toda a corrida, o que não foi fácil. Mas conseguimos acabar com um top cinco, que era o nosso objetivo desde o começo, além de somar pontos importantes para o campeonato’.
GP DA CATALUNHA: ABANDONO INGLÓRIO NA LUTA PELO NONO LUGAR
Nova paragem clássica no campeonato para a ronda nove – o GP da Catalunha no Circuito de Barcelona-Catalunha. Apesar de não se esperarem facilidades para a KTM, a verdade é que Oliveira conseguiu o terceiro registo dos três primeiros treinos livres acedendo desde logo à Q2. Porém, a qualificação não foi fácil para o almadense. Não teve ritmo nem velocidade suficientes para ir além do 12.º registo da Q2. Ficou, assim, nessa posição na grelha de partida – tendo sido mesmo o único a mais de um segundo do autor da pole position, Franco Morbidelli (Petronas Yamaha SRT).
Horas antes da corrida, Oliveira foi 15.º no warm-up num frio dia de domingo, 27 de setembro. Na corrida, o piloto teve de lutar com todas as forças para chegar ao top dez com o pneu médio e até alcançou o nono lugar. Contudo, a escolha de pneus arriscada – era difícil de manter a temperatura no médio – ditou o abandono. A seis voltas do fim Oliveira foi apanhado de surpresa pelo seu pneu dianteiro frio e não evitou a queda. Era, assim, um novo e inglório abandono. Assim foram as explicações de Oliveira acerca do incidente, em comunicado: ‘É triste acabar a corrida assim. Tivemos condições muito desafiadoras e esperávamos ser competitivos e por isso precisámos de usar o pneu médio dianteiro. A temperatura estava muito baixa, por isso demorou uma volta sem cone de aspiração para o pneu arrefecer e quando fui para o lado esquerdo, não havia forma de poder evitar a queda. É uma pena, porque embora tenha ido lento, isto foi pior, portanto as condições foram complicadas para usar o pneu médio mas precisávamos dele para sermos um pouco mais competitivos. São as corridas’.
GP DE FRANÇA: NOVO TOP CINCO FUGIU EM CIMA DA META
Com o campeonato a aproximar-se do fim, o GP que se seguiu foi em casa da equipa de Oliveira, a Red Bull KTM Tech3. As condições foram complicadas desde início, com chuva e tempo frio em Le Mans. Na primeira sessão seca, o FP3, Oliveira mostrou argumentos com o segundo registo que o levou diretamente à Q2. Porém, como já tinha acontecido noutras ocasiões, a qualificação foi árdua para o luso. Mais uma vez não conseguiu ir além da 12.ª marca da fase decisiva da sessão. Desta feita ficou a 0,694s do topo – ocupado por Quartararo – e a pouco mais de três décimas da linha da frente. No warm-up, Oliveira foi 13.º. A corrida foi disputada com a chuva a fazer sentir a sua presença. Enquanto outros tiveram dificuldades, e mesmo sendo a sua primeira corrida verdadeiramente à chuva no MotoGP, Oliveira foi constante ao longo de toda a prova, subindo gradualmente na classificação. O quinto lugar esteve muito perto, mas nas últimas curvas foi superado por Johann Zarco (Esponsorama Racing/Ducati) e teve de se contentar em ser sexto. Pode não ter sido a melhor forma de acabar a corrida, mas mesmo assim o resultado foi do agrado de Oliveira, assumindo à imprensa que chegou a ter expectativas de pódio: ‘Claro que estou desapontado por não ter feito o pódio, porque senti que era o meu lugar, mas fomos competitivos e não corremos sozinhos’. Quanto ao facto de ter perdido o quinto posto em cima do fim, o luso comentou: ‘Estava a tentar ultrapassar o [Andrea] Dovi na última volta e abri a trajetória para entrar por dentro a seguir, e basicamente o Zarco estava a chegar e não pude evitar perder o quinto lugar’.
GP DE ARAGÃO: RONDA ÁRDUA ACABOU COM 16.º LUGAR
A MotorLand Aragón foi a paragem que se seguiu no calendário, com o GP de Aragão a ser o primeiro de dois naquele traçado. Treinos livres discretos de Oliveira, que com o 11.º após o FP3 falhou por 0,101s o acesso direto à Q2. Relegado à Q1 com nomes de peso também lá presentes, Oliveira tinha de se empenhar a fundo para tentar seguir em frente. E, apesar de o fazer, não teve argumentos para fazer melhor do que o oitavo registo numa pista difícil para a KTM. Iria partir de 18.º lugar. No warm-up, Oliveira rubricou a 11.ª marca, antes de na corrida ter dificuldades para ser competitivo. Depois de arrancar de 18.º, passou grande parte da prova em 16.º. Ainda chegou a rodar em 15.º, numa luta com Danilo Petrucci (Ducati Team) e com Lecuona, mas não se conseguiu impor ao colega de equipa e cortou a meta em 16.º. As lacunas da prova foram identificadas, conforme comentou Oliveira à imprensa: ‘O que temos de melhorar é a aderência atrás e a forma como desgastamos o pneu’. Por outro lado, o #88 explicou: ‘Foi uma corrida muito difícil. As últimas dez voltas foram especialmente complicadas, não tinha pneu do lado esquerdo e foi um bocado um resumo dos problemas que tivemos de certa maneira todos os dias aqui. […]. Todas as KTM estiveram longe do seu melhor aqui’. E Oliveira não teve dúvidas - este era o pior desempenho da época até ao momento: ‘Este foi, sem dúvida, o pior fim de semana da temporada, acabámos a corrida, mas simplesmente não conseguimos ser competitivos. Diria que foi o nosso pior desempenho deste ano’.
GP DE TERUEL: REGRESSO AO TOP CINCO ESCAPOU POR 0,053S
Ciente das dificuldades da ronda 1 de Aragão, Oliveira não virou a cara à luta nem deixou de ser ambicioso para o GP de Teruel. E desta feita até conseguiu entrar na Q2 diretamente, graças ao oitavo registo estabelecido no FP3 – mais tarde do que o habitual devido ao frio. Na qualificação, Oliveira esteve novamente apto a lutar. Acabou com a oitava marca a 0,627s da frente,
sendo mesmo o melhor homem da KTM – Pol Espargaró terminou logo atrás em nono a dez milésimas de distância. O 17.º tempo no warm-up não serviu de exemplo para o que seria a corrida. Oliveira manteve-se constantemente no top dez e, depois de inicialmente perder posições, começou a recuperar muito gradualmente ao longo da prova. Chegou ao sexto posto final mesmo colado ao top cinco – encerrado por Zarco apenas 0,038s à sua frente. No encontro com os jornalistas após a corrida, Oliveira assumiu que teria mais ao seu alcance, não tivesse perdido demasiado tempo em duas lutas: ‘Estou satisfeito. Acho que podia ter conseguido mais, mas perdi muito tempo a ultrapassar o Fabio Quartararo e o Johann Zarco. Creio que perdi nesses momentos, de certa forma, a oportunidade de lutar por uma posição melhor. Estive na luta, dei o meu melhor e posso estar satisfeito com esta posição e passar de zero pontos para um top seis acaba por ser bastante bom’.
GP DA EUROPA: QUINTO LUGAR EM NOVA CORRIDA SÓLIDA
A fase final da época, com a última sequência tripla, começou com o GP da Europa – uma designação de regresso ao calendário no bem conhecido Circuito Ricardo Tormo, em Valência. Oliveira acabou os treinos de sexta-feira fora do top dez e não teve chances de melhorar sábado no FP3 devido ao piso molhado. Desta forma, teve de passar pela Q1. Apesar das condições complicadas, com piso molhado e frio, conseguiu o primeiro registo e, assim, entrar na Q2. Nessa fase, conseguiu obter o oitavo posto à partida a 0,894s de Pol Espargaró que regressou às pole positions. Uma penalização a Aleix Espargaró (Aprilia Racing Team Gresini) promoveu Oliveira ao sétimo posto da grelha. No warm-up, Oliveira fechou o lote dos 15 primeiros. Na corrida, forte arranque do piloto de Almada, que se colocou rapidamente em quarto lugar. Durante parte da prova, esteve em luta pelo top quatro, mas o ritmo do português acabou por quebrar a partir do meio da corrida – com dificuldades na distribuição do peso na moto. Acabaria por ser ultrapassado por Takaaki Nakagami (LCR Honda) e teve de se resignar com o quinto posto – o qual conseguiu obter. Apesar do bom resultado, Oliveira revelou à imprensa que o desfecho bem podia ter sido outro: ‘Escolhemos o pneu duro à frente porque vimos que a temperatura da pista estava a aumentar e não queríamos arriscar. Creio que a escolha de pneus foi boa, apenas comecei a ter problemas nas últimas oito ou nove voltas com a distribuição de peso na moto, não consegui transferir peso suficiente para a frente. Para ser sincero foi complicado porque estive para cair algumas vezes e tive de abrandar um pouco para conseguir acabar a corrida’.
GP DA COMUNIDADE VALENCIANA: SEXTO LUGAR À FRENTE DO NOVO CAMPEÃO
O Circuito Ricardo Tormo recebeu a meio de novembro a penúltima jornada da época, o GP da Comunidade Valenciana. Mais uma vez, Oliveira conseguiu o top dez depois dos primeiros três treinos livres, apresentando-se sólido, para conseguir alcançar a Q2 diretamente. Com piso seco na qualificação, Oliveira ambicionava a fazer mais um resultado que lhe permitisse sonhar com uma boa classificação final na corrida. Acabou por rubricar a décima marca, à frente de dois rivais que então ainda lutavam pelo título – Fabio Quartararo (Petronas Yamaha SRT) e Joan Mir (Team Suzuki Ecstar), o líder do Mundial. Depois do décimo tempo no warm-up, chegou a corrida. Um arranque canhão colocou Oliveira no top cinco logo no início, chegando mesmo a batalhar na quarta posição. No entanto, não conseguiu manter o ritmo e cedeu gradualmente terreno: chegou a ser sétimo, antes da queda de Nakagami. Viria a terminar em sexto, batendo em duelo direto Mir – que com o sétimo posto se sagrava campeão. Em comunicado, Oliveira explicou que a tração lhe criou dificuldades a partir do meio da prova: ‘Estou contente com a corrida. O meu arranque foi muito bom, embora tenha encontrado dificuldades para manter o ritmo a meio da corrida. Não conseguia encontrar uma boa tração. Não era muito, mas à volta de um décimo
e meio em dois locais, isso fez-me perder a minha posição e, assim, basicamente não consegui estar próximo do top cinco’.
GP DE PORTUGAL: DOMÍNIO CASEIRO E TRIUNFO INDISCUTÍVEL
O GP de Portugal era mais do que o encerrar de época para Oliveira – era a chance de competir em casa e num Autódromo Internacional do Algarve que bem conhece. E desde início que Falcão voou alto em Portimão, com o melhor tempo do FP1 e a segunda marca do FP3 que o colocou diretamente na Q2 – no FP2 foi 13.º, poupando pneus para as sessões decisivas. No FP4, mostrou um ritmo muito constante e forte, lançando a sua candidatura definitiva à vitória. A qualificação, a 21 de novembro, foi de emoções fortes. Mesmo na sua derradeira volta, Oliveira rubricou um novo recorde ao rodar em 1m38,892s. Bateu Morbidelli por 0,044s e estava em primeiro lugar. Manteve a posição até ao fim e obteve a sua primeira pole position da carreira – depois de Pol Espargaró ainda ameaçar superá-lo. O warm-up foi discreto, com Oliveira em 11.º. A corrida seria muito diferente. A arrancar da pole position, o #88 fez o holeshot e mais ninguém o viu. Falcão voou na montanha-russa do circuito de Portimão e foi gradualmente distanciando-se da concorrência com um ritmo avassalador – foi um dos dois a rodar no 1m39s – para acabar com um triunfo mais do que merecido. Miller e Morbidelli foram sempre os seus principais perseguidores. Mas Oliveira exerceu um domínio pouco comum de ver com pole position, vitória, volta mais rápida e liderança do princípio ao fim para ganhar sem deixar margens para dúvidas. Em conferência de imprensa, Oliveira falou das emoções sentidas com este triunfo caseiro: ‘Longa, isso descrevê-la-ia bem. Tive diferentes emoções porque na Áustria foi a ultrapassagem na última volta, estive no pódio, mas a emoção é diferente, houve muita adrenalina. Aqui não houve lutas, comecei e acabei em primeiro e foi gerir as emoções ao longo da corrida. Ser capaz de o fazer é muito bom’. Sobre se ficou surpreendido por ter conseguido um avanço considerável, o #88 explicou a sua abordagem: ‘Não quis olhar para o quadro nas primeiras três voltas, só quis ser capaz de fazer o meu ritmo e as minhas trajetórias, e tentar ver se alguém ia para um ataque por dentro. Já a minha primeira volta foi 1m40,0s e pensei que seria uma boa referência para ver o quão mais longe podia ir, o quão mais rápido e o quão mais lento. Depois tinha vantagem de meio segundo e daí em diante tentei alargar aos poucos e entrar nas últimas dez voltas com algum avanço para gerir’. Questionado acerca da importância do conhecimento profundo da pista que tem, Oliveira desvalorizou: ‘Concordo que tinha um conhecimento diferente desta pista em termos de pilotar com o vento. Mas não consigo dizer quanta vantagem é porque tivemos muito tempo para treinar no sábado. A moto é muito diferente do que uma superbike de série – só a forma de pilotar é tão diferente que não consigo mesmo dizer se a experiência… o Franco [Morbidelli] pilotou aqui há muitos anos e está no pódio, o Jack [Miller] não competiu aqui, só fez algumas voltas em outubro. E outros pilotos, com muita experiência acabaram atrás e pilotos que não conheciam a pista terminaram na frente. Acho que foi um GP normal’. Com o triunfo no Algarve, Oliveira conseguiu terminar a temporada na nona posição a 46 pontos do campeão Mir. Nos independentes ascendeu ao quarto lugar final a 33 pontos do ‘campeão’ Morbidelli.