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Harmonia entre contemplação e ação

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ÍNDICE DE LUGARES

ÍNDICE DE LUGARES

Por detrás desta cena havia um raciocínio, e um raciocínio brandido polemicamente, à maneira de arma: isto é assim, isto é assim, isto é assim92 . *

Quanto ao meu modo de falar, minha pronúncia bastante clara obedece a todo um modo de ser feito para servir a causa católica, empurrando cada coisa para o seu lugar e no seu termo. Sabendo que tinha que tratar muitas vezes com pessoas más que não queriam reconhecer as coisas, era preciso martelar a clareza bem direito, para fazê-los engolir o que eu estava dizendo. Faço, portanto, um uso de minha voz ligado aos objetivos de nossa vocação. Mas julgo que mais ou menos todo o mundo modela a voz de acordo com o que está querendo dizer. Isto é uma coisa instintiva. O que pode acontecer é que eu faça isto mais acentuadamente, mais empenhadamente, de modo mais frisante, de modo mais marcante, de modo mais contra-revolucionário. Então carrego as palavras e as frases por perceber que o revolucionário não vai querer admitir e então lhe meto aquilo adentro93 .

Harmonia entre contemplação e ação

Sou eminentemente e antes de tudo contemplativo. Não se diria. Mesmo quem conversa comigo não teria ideia de que sou uma pessoa sobretudo contemplativa. Mas de fato, contemplo o tempo inteiro. E contemplo coisas um pouco sui generis. Sou antes de tudo contemplativo no sentido de que, no fundo, tenho sempre uma apetência pelo absoluto, e todo o meu movimento de alma toma como referência esse absoluto. E considero muito vivamente, e de modo muito sentido, que o absoluto não seja respeitado, não seja amado como deveria ser, e que, por isto, é preciso combater para impor uma determinada ordem. No meu modo de ser já entra algo de pugnaz, porque já sei a priori que estou contemplando durante uma batalha, em função da batalha e para ganhar a batalha.

92 MNF 11/11/94 93 Chá SRM 9/2/95

Um exemplo disto é a seção “Ambientes-Costumes-Civilizações”, da revista “Catolicismo”: é uma pura contemplação e ao mesmo tempo uma pura luta, por apresentar uma análise das coisas como elas são. É uma forma de contemplação que as pessoas em geral não admitem que seja contemplação. Porque, para boa parte delas, a contemplação começa por ser uma abstração. E para nós, não: ela começa por ser uma imersão no concreto. Então, o meu apelo era: 1º) imerja no real; 2º) dê vida ao princípio em função do qual este real se ordena; 3º) julgue-o; 4º) trabalhe contra isto. São quatro posições que de algum modo repetem o “ver, julgar e agir”94 de São Tomás de Aquino95 .

Uma pessoa que tem inteligência especulativa é aquela que, por exemplo, vendo armamentos, é levada a pensar em guerras que foram conduzidas com outro tipo de armamento, de outras maneiras. Depois compara os tipos de guerra, e nota as analogias como nota também as diferenças. Começa então a especulação: “O que é uma guerra? O que há de comum em todos os modos de combater, a ponto de se chamar guerra? Qual é a essência da guerra? O que faz com que a guerra não seja guerrilha?” Depois disso, ele põe a pergunta: “A guerra é boa ou é má?” Depois de definir bem essas coisas, aquilo é como uma pessoa que entra na minha vida: gosto ou não gosto? Há um feitio de inteligência que é muito dado ao amor ou ao ódio à coisa abstrata. Amor à guerra legítima, ato de ódio à guerra ilegítima, ou ato de ódio a toda e qualquer guerra. Amor a todas também. Então, há gente que toma a coisa em abstrato e se toma de entusiasmo por isso. São os espíritos contemplativos. Agora, há os espíritos operativos. Não lhes basta acumular contemplação sobre contemplação, mas são muito sensíveis ao que se passa em torno deles. Querem que as coisas se passem de acordo com aquilo que a contemplação ensinou. Então, são pessoas que tomam posição, operam, atuam.

94 Essa trilogia condensa os três momentos do exercício prático da virtude da prudência. 95 CM 9/5/93

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