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Predileção pelos pães alemães e pela cerveja
from Meu Itinerário Espiritual - Compilação de relatos autobiográficos de Plinio Corrêa de Oliveira vol 1
by Nestor
Achei aquilo interessante de ver, mas não podia tomar álcool, sobretudo aquele licor, que era muito doce. Olhei um pouquinho e uma pessoa que estava perto me disse: “Faça o seguinte: abra a garrafa e apenas cheire o que tem dentro”. E eu: “Et ne nos inducas in tentationem”, mas abri a garrafa e cheirei. Era um cheiro do outro mundo, de um licor de framboesa. A pessoa sabia que eu gostava muito de framboesa. Era a framboesa levada a uma quintessência, a uma destilação, a uma finura extraordinária. Tapei a garrafa sem sequer molhar os meus lábios no líquido proibido. Mas tive muito a noção de como é superior o produto da framboesa trabalhada pela civilização em relação à framboesa que se colhe no mato e se come. Embora eu goste muito da framboesa fresca do mato, a civilização trabalhando a framboesa evoca um estado de espírito especial181 .
Predileção pelos pães alemães e pela cerveja
Tenho loucura por pães. Verdadeira loucura. Muitas vezes, quando antigamente eu ia jantar na cidade, se o restaurante era alemão e eu encontrava um pão muito bom e uma manteiga atraentíssima, eu jantava pão com manteiga. Não entraria nem em charcuterie182: era pão com manteiga no duro183 . Tem-me ocorrido várias vezes, de passagem, a ideia de ir a uma cidade onde esteja havendo um concurso de gastronomia, em que uma parte fosse destinada a peixes e frutos do mar, outra a carnes, outra a massas e outra só a pães. O meu gosto natural pelos pães poderia levar-me ao ponto de preferir os pães a toda e qualquer outra coisa. Bem entendido, pães com queijo ou com manteiga. Puro pão não vai. Pão sem manteiga pode-se tirar o til: fica “pao”184 . No pão, o contraste entre o fermento e a massa que não está inteiramente fermentada, o sabor da coisa com fermento e sem fermento, o papel do fermento naquele negócio, suponho que seja o que me faz encontrar um charme especial no pão. Suponho, digo eu, pois não estou inteiramente
181 Chá SRM 15/10/92 182 “Charcuterie” é uma palavra francesa que, em português, se traduz por frios. 183 Chá SRM 1/3/94 184 Almoço EANS 27/9/90
certo. Já tenho procurado explicitar, mas não chego inteiramente a uma conclusão185 .
Havia em São Paulo umas padarias que faziam pães alemães, por exemplo, roscas circulares e vazias no centro, um pão trançado com o que em alemão se chama Rosinen colocadas pelo meio e com fermento de cerveja. Era o chamado Streuselkuchen. Eu comia bandejas daquilo. Se hoje o meu apetite é o que é, imaginem aos 15 anos o que era diante do olhar enormemente comprazido de mamãe. Mas eram toneladas, com regozijo e uma paz de alma depois de ter comido, uma coisa extraordinária! Comer muito pacifica, comer pouco agita186. Comer bem é só com o espírito despreocupado187 . Se os senhores pensam que eu me arrependo do que eu comi outrora, os senhores se enganam. Eu sei e vejo pelas fotografias que cheguei a ficar gordíssimo. Para mim, um sistema certo de engordar é trabalhar. Tenho a impressão de que, se eu trabalhasse menos, eu emagrecia. Preocupar engorda uma barbaridade. Eu ganho penando o que perco jejuando. Esta é minha vida188 . *
Gosto muito de cerveja189 não brutalmente gelada, mas bem gelada sim. Prefiro cerveja clara. O tipo de cerveja daqui de São Paulo, no tempo em que eu a tomava, eraa “Antarctica”. Não compreendia que se tomasse cerveja “Brahma”, que na época era uma cervejota ordinária. A “Antarctica” era a verdadeira cerveja190 . Quando o médico me liberou do “cárcere” em que jazia há trinta anos, isto é, da dieta, veio uma cerveja, eu tomei, mas ela e eu já não éramos a mesma coisa191 .
185 Chá PS 12/11/90 186 Almoço 21/1/80 187 Chá 22/8/80 188 Almoço 21/1/80 189 Conversa EANS 6/7/94 190 Chá SRM 1/3/94 191 Conversa EANS 6/7/94