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Alimentos de que se gosta ou se rejeita por razões físicas ou metafísicas
from Meu Itinerário Espiritual - Compilação de relatos autobiográficos de Plinio Corrêa de Oliveira vol 1
by Nestor
Acho que todo vinho bom é muito mais do que a cerveja, a ponto de não se poder comparar. É outra categoria. Entre os vinhos, a champagne tem a preeminência. E reconheço a superioridade da champagne sobre qualquer outra bebida. É uma superioridade por assim dizer, para usar a expressão francesa, “par droit de conquête et par droit de naissance”192 . Gosto mais da champagne doce do que da champagne dita seca. Mas vejo teoricamente, que a seca é superior à doce. Não tenho muita certeza, mas ao menos se pode sustentar isto. Reconheço também a superioridade dos licores sobre a cerveja. A cerveja é a boa plebe, gordalhona e simpática, das bebidas alcoólicas; ela não é a nobreza das bebidas alcoólicas.
À vista de tudo isto, deveria ser normal que eu gostasse mais dos vinhos do que da cerveja. E pareceria até uma contradição eu gostar mais de cerveja. Mas uma coisa é eu reconhecer teoricamente a superioridade de algo, e outra coisa é eu de fato gostar mais desse algo193 . Uma bebida muito de minha predileção era o Kümmel. Kümmel eu não tomo há não sei quantos anos, porque me faz mal, mas eu gosto muito de Kümmel. Como também gosto da semente de Kümmel em pão. Essas coisas todas acho de primeira ordem! Outra coisa que eu acho de primeira ordem é o gin. É uma coisa! Acho uma dessas bebidas que pegam e em relação às quais a cerveja, que é uma bebida muito apreciável, é “baixa de nível”194 .
Alimentos de que se gosta ou se rejeita por razões físicas ou metafísicas
Em princípio, a razão pela qual uma pessoa não gosta de determinado alimento é uma incompatibilidade entre a impressão que aquilo produz nas papilas degustativas da língua, e o modo de ser do organismo da pessoa.
192 Por direito de conquista e por direito de nascimento. 193 Chá SB 14/11/90 194 MNF 16/6/89
Mas há certos alimentos que a pessoa gosta ou rejeita por razões de mentalidade. Essas razões de mentalidade têm um nexo com razões de doutrina195 . Desde o começo da vida, a pessoa pode ter repulsa em relação a alguma coisa por uma série de razões que só mais tarde ela vai conhecer. Por exemplo, eu era muito menino quando me deram pela primeira vez mandioca cozida. Olhei para a mandioca desconfiado. Puseram-me na boca, não engoli, rejeitei. Por quê? Porque aquela ambiguidade da massa da mandioca, e aqueles barbantes que enovelam a língua e que exigem certo esforço para cortar me davam certa sensação de que eu estava comendo goma arábica. Assim, quando vi e cheirei a mandioca, nasceu uma repulsa. Até agora, e até morrer, eu não comi mais mandioca. Aliás, eu não podia ver mamãe comer mandioca (ela gostava muito de mandioca) sem que eu fizesse uma brincadeira com ela a respeito. Ela tentava se defender, mas eu era formado em Direito, mais habituado a argumentar do que ela. Então esmagava o partido da mandioca afetuosamente, gracejando196. Se fosse preciso, eu ia até comprar mandioca para ela. Mas essa era a minha reação pessoal. Compreendo que outrem goste, é uma coisa livre197 .
Há então essas incompatibilidades primeiras em relação a algumas coisas. Elas não são intrinsecamente más, elas são boas, mas a nós, por causa de alguma coisa que nos é peculiar, se apresentam como fundamentalmente rejeitáveis198 . Eu não tomo álcool nunca. Não é por virtude que não tomo. Eu até acho que não tomar álcool por virtude é burrice. Mas é porque não me faz bem, me desagrada ao organismo, não vou bem com o álcool199 . O vinho, por exemplo, é essencial para uma boa gastronomia. E concordo com o dito francês: “Un repas sans vin est comme un jour sans soleil”. Não bebo vinho por um defeito de meu paladar ou do meu organismo. Desde os meus primeiros goles de vinho em menino, eu senti que me fazia
195 Chá SB 6/2/90 196 CM 15/11/87 197 Chá PS 1/7/94 198 CM 15/11/87 199 Chá SRM 10/1/93