Acho que todo vinho bom é muito mais do que a cerveja, a ponto de não se poder comparar. É outra categoria. Entre os vinhos, a champagne tem a preeminência. E reconheço a superioridade da champagne sobre qualquer outra bebida. É uma superioridade por assim dizer, para usar a expressão francesa, “par droit de conquête et par droit de naissance”192. Gosto mais da champagne doce do que da champagne dita seca. Mas vejo teoricamente, que a seca é superior à doce. Não tenho muita certeza, mas ao menos se pode sustentar isto. Reconheço também a superioridade dos licores sobre a cerveja. A cerveja é a boa plebe, gordalhona e simpática, das bebidas alcoólicas; ela não é a nobreza das bebidas alcoólicas.
* À vista de tudo isto, deveria ser normal que eu gostasse mais dos vinhos do que da cerveja. E pareceria até uma contradição eu gostar mais de cerveja. Mas uma coisa é eu reconhecer teoricamente a superioridade de algo, e outra coisa é eu de fato gostar mais desse algo193. Uma bebida muito de minha predileção era o Kümmel. Kümmel eu não tomo há não sei quantos anos, porque me faz mal, mas eu gosto muito de Kümmel. Como também gosto da semente de Kümmel em pão. Essas coisas todas acho de primeira ordem! Outra coisa que eu acho de primeira ordem é o gin. É uma coisa! Acho uma dessas bebidas que pegam e em relação às quais a cerveja, que é uma bebida muito apreciável, é “baixa de nível”194. Alimentos de que se gosta ou se rejeita por razões físicas ou metafísicas Em princípio, a razão pela qual uma pessoa não gosta de determinado alimento é uma incompatibilidade entre a impressão que aquilo produz nas papilas degustativas da língua, e o modo de ser do organismo da pessoa.
192 Por direito de conquista e por direito de nascimento. 193 Chá SB 14/11/90 194 MNF 16/6/89 1ª PARTE – O MENINO PLINIO 93