Departamento de Línguas «A gente faz o que quer Daquilo que não é nada, Mas falha se não o fizer Fica perdido na estrada.» In Obra Poética, Fernando Pessoa.
CRÓNICA No âmbito da sequência 1 - “Texto Narrativo e Outras leituras”, foi lançado um desafio aos alunos de duas turmas do 9º ano: redigir uma crónica seguindo o modelo da crónica de António Lobo Antunes “A consequência dos semáforos”, analisada na aula. À semelhança desse texto, os alunos deveriam manifestar o seu desagrado em relação a algum acontecimento atual ou aspeto do seu dia a dia. O tema deveria ser abordado com humor.
Acordar de manhã Acordar de manhã é uma pequena amostra do Inferno. Importante será referir que acordar tarde, por outro lado, é uma das experiências mais satisfatórias que o ser humano já viveu. Quando temos de acordar cedo e ainda queremos ter algumas horas de sono, simplesmente não conseguimos adormecer, o que é irónico, visto que, quando gostamos de ficar acordados até tarde, o João Pestana vem logo a correr fechar-nos os olhos. Após uma luta intensa com pensamentos pesados que nos fazem questionar a própria existência, conseguimos finalmente adormecer para acordar cinco horas depois. É basicamente assim: estou a andar sobre o mar e a comer cachorros-quentes, quando começo a ouvir um som assustador, perturbador e até diabólico. É, obviamente, o som do alarme a acordar-me do meu melhor sonho, como quem me avisa “andor, toca a levantar que já estás sem tempo”. Resignado, abro os olhos, fecho os olhos, esfrego os olhos, tento abrir os olhos novamente, consigo finalmente abri-los e salto da cama antes que os feche outra vez. A diferença de temperatura é enorme, parece que mudei do Algarve para o Porto num clique. Vou abrir a janela para dizer “olá” ao mundo que, neste caso, são só uns infelizes que tiveram de se levantar ainda mais cedo que eu e um céu cinzento, o que é excelente para motivação matinal. O outro problema das manhãs são as pessoas que, por alguma razão, decidem falar comigo enquanto ainda estou a processar o facto de já estar acordado e acaba por soar mais ou menos assim: “Então, dormiste bem?”, eu “– Não, não tenho fome”. Em suma, proponho o cancelamento das manhãs e manifesto o meu enorme respeito pelos apresentadores dos programas da manhã, da rádio e da televisão, porque, para além de terem de ouvir outras pessoas, ainda têm de falar para meio país. Francisco Carvalho, nº8 (9ºE) Janeiro 2022 | Nova Onda | 19