Opiniões jun-ago 2007
Gladys Margarita Mogollón Briceño
Chefe do Laboratório Nacional de Produtos Florestais da Universidad de Los Andes, Venezuela Transferência da produção de celulose e papel para o hemisfério sul: Entre o céu e o inferno? Nos últimos anos, o mercado mundial de madeira e celulose vem expandindo-se aceleradamente. Isso levou os países do norte, especialmente os da América do Norte (EUA e Canadá) e da Europa, como Finlândia, Suécia, Espanha e Portugal, entre outros, a dirigirem suas vistas para desenvolver suas indústrias em direção aos países do sul, especialmente, os da América do Sul, como Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. Levaram em conta o fato da produção nessas regiões oferecer mais vantagens comparativas, em relação ao hemisfério norte, em virtude desses países apresentarem uma infra-estrutura de vias, portos, telecomunicações, mas, sobretudo, água abundante e condições favoráveis de terreno, além dos grandes espaços disponíveis, o rápido crescimento das árvores e a mãode-obra barata. Mas, por outro lado, também no hemisfério norte apresentam-se grandes limitações, devido às poderosas e duras exigências das agências de controle do meio ambiente, assim como a escassez de terrenos aptos ou disponíveis para o estabelecimento de plantações que alimentem a indústria de produção de polpa. Junto a isso, a situação de estagnação econômica, que se deu até muito poucos anos, em algumas regiões da América do Sul, fez com que se visse a implementação dessas plantas, como uma oportunidade para sair de tal estagnação, levando-se em conta que estas se converteriam em geradoras de “progresso” nas zonas on-de estão assentadas, uma vez que constituem fontes de emprego e de desenvolvimento econômico.
O que fez com que a idéia da constituição ou formação dessas plantas nos países da América do Sul tenha sido aceita com beneplácito pela maioria dos habitantes longínquos às zonas nas quais se veio implantando tais plantas e, em outros casos, tenha propiciado uma enorme disputa entre Argentina e Uruguai, pela instalação, neste último, de duas plantas de celulose. Com efeito, o Uruguai, que possui plantas de celulose e papel de mediano tamanho, conta, a partir de 2007, com a gigantesca Botnia de Finlândia, que investirá US$ 1,2 bilhão para elaborar até 1 milhão de toneladas de pasta de celulose anualmente, com previsões de exportações para a China, a Europa e os Estados Unidos. A segunda planta é da empresa espanhola Ence,
Gladys Mogollón
Toda monocultura, seja de espécies florestais, agrícolas ou pastagens, pode aumentar a extração seletiva de nutriente, menor retenção de água no solo e sazonalidade de trabalho. Garantir que as nossas plantações florestais sejam, também, sustentáveis sob o ponto de vista socioecológico é, assim, o grande desafio do setor. Sob este aspecto, é importante considerar que, talvez, a ampliação da oferta de madeira na região centro-sul do país dependa de um novo modelo de desenvolvimento do setor florestal, baseado na incorporação das pequenas propriedades rurais na cadeia produtiva da madeira. Atualmente, apenas 16% da madeira consumida pelas empresas florestais associadas a ABRAF são produzidas por terceiros, incluindo os programas de fomento. Por ser uma atividade relativamente nova, de maneira geral, os proprietários rurais não tiveram oportunidades de ter qualquer formação técnica, relacionada com o cultivo de espécies florestais de rápido crescimento. Acesso ao material genético melhorado é outra dificuldade normalmente observada. Assim, é importante estabelecer políticas públicas mais efetivas, em nível de pequenas e médias propriedades rurais, disponibilizando material genético melhorado e ampliando a assistência técnica, por instituições oficiais e privadas de extensão florestal, estabelecidas por parcerias entre o governo e as indústrias florestais. Isso possibilitaria criar mais trabalho no campo, diminuir os impactos que grandes maciços florestais provocam na paisagem e melhorar o reconhecimento do papel das plantações florestais altamente produtivas, pela sociedade em geral. Propostas nesse sentido, como o Projeto de Lei nº 1546/03, que cria o Fundo Nacional de Apoio às Florestas Plantadas, aprovada pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, no dia 30/05/2007, devem ser apoiadas fortemente pelo setor. Essa proposta prevê: a expansão da área de plantações florestais em áreas degradadas, com espécies de rápido crescimento, destinadas à produção de madeira; incentivos para os produtores que promoverem a restauração de áreas florestais com espécies nativas da região; submete os projetos de reflorestamento ao licen-ciamento ambiental; e determina que as plantações florestais sejam enquadradas como atividade agrícola.
49