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A ética ambiental

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A cidade complexa

A cidade complexa

Ética ambiental

Considerando a situação que se encontra o nosso planeta e suas riquezas naturais, bem como a incerteza sobre o futuro, é fundamental o deslocamento para um caminho mais consciente, nos tornando mais responsáveis por nossas atitudes e possíveis riscos. Defendemos essa escolha não para a volta a um estado natural e intocado da natureza, o que parece ser a proposta de alguns movimentos ecologistas, mas para a escolha de prioridades que possibilitem a vida para gerações futuras e uma relação harmoniosa enquanto parte da natureza.

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Pensar esse novo caminho implica repensar nossa visão relacional com o meio no qual vivemos, as cidades. Tanto o ponto de vista da filosofia de Espinosa, que supera o antropocentrismo, quanto o da ecologia, que nos enxerga como parte de um ecossistema, indicam para uma nova configuração dessa relação.

Seguimos atrelados à antiga concepção que coloca o homem em relação de dominação com a natureza. Não conseguimos entender a cidade enquanto espaço de todos, nem nos aproximar da noção de que também conformamos a cidade e somos parte dela, podendo construí-la e reconstruí-la continuamente, entendendo nosso lugar nesse meio.

A pretensão de um domínio absoluto sobre a natureza através do desenvolvimento tecnológico mostra-se cada vez mais uma ilusão. Não podemos mais pensar que os nossos

infindáveis problemas contemporâneos são mal necessários. Poluição do ar, da água e sonora, agrotóxicos, acidentes de trânsito, mortes por arma de fogo, pobreza, desigualdade etc são vistas como problemas que serão resolvidos através da técnica, com a criação de alguma tecnologia, por exemplo, que nos livrará desses males.

Entretanto, de acordo com as ideias aqui expostas, não se trata de uma questão puramente técnica ou econômica, mas de uma questão ética de vontade de fazer. Portanto, reforçamos, é preciso escolher um caminho que compreenda nossa inserção na natureza, deixando de lado a lógica de dominação para um entendimento que nos percebe enquanto semelhantes aos demais elementos da natureza. É a aposta na transformação socioambiental das cidades nos colocando como parte integrante dela.

Não basta ultrapassar o antropocentrismo, o qual Espinosa critica, e passar a colocar a natureza em um lugar de exaltação, pois isso perduraria a dualidade homem-natureza. Da mesma forma, não é possível seguir dentro da mesma lógica de exploração. É preciso entender, como analisa a Ecologia, que estamos inseridos em um ecossistema e todas suas relações são importantes para um equilíbrio ecológico.

A lógica relacional dos ecossistemas nos remete à ideia de Espinosa acerca da importância de outros corpos para um corpo. Isto é, que os corpos se fortalecem na presença de outros corpos devido, justamente, à possibilidade de trocar, compondo um sistema, ou ainda, um ecossistema de afecções corporais. Ainda nesse sentido, Espinosa destaca que o interesse surge na relação com o mundo e que, portanto, o homem sempre tende ao mundo, para aquilo que lhe é útil. Assim, reforça a importância de identificarmos aquilo que nos é necessário, caminhando no sentido de maior

potência e, assim, aumentando nossa positividade que se afirma pela força da vida. Essa visão oporia-se àquele utilitarista da natureza como provedora infinita de recursos à disposição do homem.

Pensando nessa questão da necessidade em Espinosa relacionada com a questão ecológica se faz necessário, hoje, rever o nosso modelo de desenvolvimento e pensar em alternativas mais sustentáveis para que possamos não só evitar o fim maior, mas reparar os problemas socioambientais já existentes e muito danosos para uma parcela da população.

Para isso, precisamos construir um outro olhar para a relação do homem com a natureza. Em Espinosa enxergamos uma rica fonte teórica para pensar o porquê se faz necessário uma ética ambiental, no sentido que conjuga a cooperação entre as partes como peça indispensável para a continuidade da vida ativa que se integra ao ecossistema. Na Ecologia, por sua vez, reside a possibilidade de pensar o como essa nova ética se dá, transpondo os conceitos ecológicos para as relações na cidade.

Diante da enorme incerteza sobre o futuro, é preciso fazer uso do pensamento espinosano e ecológico como ferramentas transformadoras de nossas vidas na cidade. Criando espaços que respondam às nossas novas necessidades e aspirações enquanto coletividade. Da mesma maneira que Risério propõe uma nova configuração de cidade partindo paradoxalmente da Amazônia01, que possamos pensar em uma ética ambiental urbana que parta das grandes cidades, como São Paulo, especificamente das regiões de maior vulnerabilidade sócio-ambiental.

01 Ver: RISÉRIO, Antonio. A cidade numa nova configuração amazônica. In: RISÉRIO, Antonio. A Cidade no Brasil. São Paulo: Editora 34, 2013.

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