Trindade Esquecida - James R. White

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Nenhuma doutrina é mais fundamental à fé do que a doutrina da Trindade. E não há uma explicação tão breve, clara, bíblica e prática da Trindade quanto há nestas páginas.

Dr. Norman L. Geisler, apologeta cristão

James White tem a notável habilidade de dizer coisas importantes e complexas de maneira compreensível. Ele faz isso outra vez em Trindade esquecida, um olhar vital para uma doutrina “esquecida” nas igrejas evangélicas.

Dr. John H. Armstrong, presidente da Reformation & Revival Ministries

Trindade esquecida aponta uma estrada iluminada em direção a um relacionamento íntimo com a Trindade. O livro afasta os leitores da Trindade como uma noção abstrata e nos conduz inteligentemente ao objetivo do livro, que é a adoração: “Santo, Santo Santo! És Deus Triúno, excelso criador!”.

Kerry D. McRoberts, pastor principal da Kings Circle Assembly of God, autor de “The Holy Trinity”, em Systematic Theology: A Pentecostal Perspective

O argumento claro de White demonstra que a histórica doutrina cristã da Trindade é completa e inescapavelmente bíblica. As refutações a mórmons e Testemunhas de Jeová são muito úteis.

A Trindade é uma doutrina em que o erro é especialmente mortal. -

tarianismo, examinando suas nuances e seu lugar na história da igreja. Sua lúcida apresentação ajudará tanto pastores quanto leigos. Recomendo fortemente.

Dr. John MacArthur , pastor principal da Grace Community Church

O Dr. James White deve ser celebrado por sua completa e meticulosa refutação dos ensinos de mórmons e de Testemunhas de Jeová.

Dr. Gleason L. Archer, professor de Antigo Testamento e Línguas Bíblicas na Trinity International University

Rio de Janeiro, RJ

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

White, James R.

Trindade esquecida : resgatando o coração da fé cristã / James R. White ; tradução João Paulo Aragão. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Pro Nobis Editora, 2023.

Título original: The Forgotten Trinity

ISBN 978-65-81489-36-6

1. Jesus Cristo - Pessoa e missão 2. Trindade 3. Vida cristã 4. Vida espiritual I. Título.

23-153903

Índices para catálogo sistemático:

1. Santíssima Trindade : Teologia cristã 231.044

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

Trindade esquecida: Resgatando o coração da fé cristã

Traduzido do original em inglês: The Forgotten Trinity: Recovering the Heart of Christian Belief

Copyright © 1998 James White

Publicado originamente por: Bethany House Publishers, uma divisão da Baker Publising Group.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220

1ª edição: 2023

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte. Impresso no Brasil / Printed in Brazil

CDD-231.044

Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada, salvo informação em contrário.

Conselho Editorial

Judiclay Santos

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Leandro Peixoto

Gerência Editorial

Judiclay Silva Santos

Tradução: João Paulo Aragão

Preparação de texto: Pedro Marchi

Revisão de provas: Cinthia Turazzi

Capa: Filipe Ribeiro

Diagramação: Marcos Jundurian

ISBN: 978-65-81489-36-6

Tel.: (21) 2527-5184 contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br

A comunhão cristã constitui um pequeno vislumbre do céu aqui na terra. Irmãos queridos no Senhor são um tesouro que não deve ser menosprezado. Um desses irmãos que veio a

é Chris Arnzen. É com alegria que eu dedico esta obra a um homem de Deus, um irmão no amigo precioso para mim. Obrigado, Chris, por ser um homem cristão que ama o Senhor, e que

Ora, agora a verdade, que foi placidamente mostrada, deve ser defendida de todas as calúnias dos ímprobos; e ainda que o zelo esteja sobretudo incumbido de que tenham um ponto de apoio correto os que mantêm os ouvidos propícios e abertos ao Verbo de Deus. Certamente aqui, como sói com os mistérios recônditos da Escritura, -

ração, tomando também muito cuidado para que nem o pensamento nem a língua avancem

Deus. De fato, de que modo a mente humana,

de Deus se nem pode estatuir ao certo qual seja o corpo do Sol, ao qual, no entanto, vê cotidianamente com os olhos? Ou melhor, de que modo, por si só, penetrará no exame da substância de Deus aquela que minimamente alcança a sua própria? Portanto, deixemos livre para Deus o conhecimento de si. Na verdade, somente ele, como diz Hilário [de Poitiers], é o único testemunho de si, o qual não é conhecido a não ser por si. Ora, deixamos para ele tal conhecimento se também o concebemos tal qual ele se manifesta para nós, e não nos informamos sobre ele senão por meio de seu Verbo.1

João Calvino, A instituição da religião cristã, I.XIII.21 1 João Calvino, A instituição da religião cristã (São Paulo: UNESP, 2008).
Sumário Prefácio à edição brasileira...................................... 13 1. Por que Trindade “esquecida”? ....................... 29 2. O que é a Trindade? ....................................... 43 3. Deus: Uma breve introdução ......................... 55 4. Uma obra-prima: O prólogo de João .............. 73 5. Jesus Cristo: Deus em carne humana ............. 103 6. Eu sou .............................................................. 147 7. Criador de todas as coisas .............................. 165 8. Carmen Christi: O hino a Cristo como Deus ... 187 9. Senhor dos Exércitos ...................................... 201 10. Não entristeçais o Espírito Santo .................. 213 11. Três Pessoas .................................................... 229 12. Um olhar mais atento .................................... 239 13. Das névoas do tempo ...................................... 257 14. Tudo isso realmente importa? ......................... 277 Índice de nomes e assuntos ..................................... 283 Índice de referências bíblicas .................................. 291

PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA

A doutrina da Trindade: A pérola confiada à igreja

“Um só Deus é a Trindade.”

— XI Concílio de Toledo (675)2

“Ela [Trindade] é, em certo sentido, a mais excelsa e a mais gloriosa de todas as doutrinas, a coisa mais espantosa e estonteante que aprouve a Deus revelar-nos sobre si mesmo.”

— D. Martin Lloyd-Jones3

Bavinck (1854–1921) acentua a importância da doutrina da Trindade ao longo da história:

O artigo sobre a santa Trindade é o coração e o núcleo de prazer e o conforto de todos aqueles que verdadeiramente creem em Cristo.

2 XI Concílio de Toledo (675), em Coleccion de Cánones de la Iglesia Española (Madrid: Imprenta de D. Anselmo Santa Coloma y Compañia,1850), Tomo II, p. 433.

3 D. M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997), p. 114.

13 TRINDADE ESQUECIDA

E sta doutrina é tão surpreendente que jamais poderia ter sido inventada pelo homem; ela é resultado da revelação especial de Deus, que nos foi concedida para que conheçamos o Trino Deus e o adoremos.

O Espírito esquecido

No entanto, é possível que, no estudo da Trindade, o Espírito Santo seja aquele que mais sofreu desvirtuamento nas abordagens teológicas ao longo dos séculos. Elementos que podem ter contribuído para isso perpassam a mera super-

e, também, pressuposições apressadas que obstaculizavam uma aproximação mais bíblica e humilde do tema.

Em alguns momentos da história, talvez por temer pelo menos uma das questões acima e, ao mesmo tempo, escapar de uma concepção triteísta (que seria a negação da unicidade de Deus), o Espírito passa a ser apenas uma premissa de umanentes a isso. Nesse caso, peca-se pela omissão, banalizando a revelação do Trino Deus.

Esses desvios são resultantes de uma falta de conhecimento bíblico adequado, associada àquilo que queremos impor às Escrituras, à revelia de seus ensinamentos.

Seja como for, o tema Espírito Santo com certa frequência foi desfocado de sistemas teológicos pela incompreensão de sua natureza e ministério.

4 Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4. ed. (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984), p. 145.

Prefácio à edição brasileira 14 4

TRINDADE ESQUECIDA

Por essas e outras razões podemos dizer que a Pessoa e obra do Espírito Santo têm sido esquecidas! Talvez os últimos pouco mais de cem anos tenham sido um dos períodos mais omissos quanto ao Espírito Santo. Paradoxalmente, quando consultamos catálogos de livros evangélicos, ou “navegamos” por listas de editoras e mesmo adentramos em livrarias de material evangélico, nos surpreendemos com a quantidade de livros, opúsculos, sermões, cursos, “CDs”, “DVDs”, “vídeos”, “e-books”, sites, e outros meios semelhantes, sobre o Espírito.

O Espírito tem sido colocado em esquecimento porque os discursos modernos sobre ele parecem não ser “elaborados” nele, nem em submissão. Parece-me que a tentação humana é de ir “além” do que o Espírito vai; e, portanto, além do que requereu de nós.

Curiosamente, essas tentativas são permeadas por um discurso “libertador” do Espírito. No entanto, todas as vezes que tratamos do Espírito à parte do seu próprio desejo — conforme registrado nas Escrituras —, nós, na verdade, nos esquecemos dele. Assim, o Espírito passa a ser o tema de nossas cogitações, mas não da sua revelação. Por isso, repito: temos nos esquecido do Espírito!

A perspectiva cristocêntrica

O ministério do Espírito só pode ser compreendido e avaliado de modo correto dentro da perspectiva cristocêntrica. Um enfoque sem esta consideração consiste num esquecimento do Espírito, por maior que seja o nosso desejo de “reabilitá-lo” à igreja.

Há o perigo de enfatizarmos erradamente o Espírito em detrimento do Filho — o que, sem dúvida, assinalaria mais uma vez o ostracismo do Espírito em nossas elaborações.

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Prefácio à edição brasileira

O Espírito — visto ser Deus — deve ser estudado dentro da perspectiva da sua Palavra, em harmonia com os seus propó-

esquecer o Espírito e fugir à sua vontade.

Lembremo-nos, pois, do Espírito, considerando-o tão somente a partir da sua revelação, dentro do dimensionamento dado por ele mesmo a respeito de si. O limite do nosso tentar ultrapassá-los, além de infrutífero, é loucura (Dt 29.29). Do mesmo modo, ignorar o que foi revelado implica banalizar a revelação (Jo 5.39).

Quando, então, compreende adequadamente quem é Cristo e o seu ministério, a igreja honra o Espírito, porque este conhecimento pela fé só pode ser alcançado por obra de Deus (Mt 11.27, 16.17), e é o Espírito de Deus quem nos conduz à verdadeira compreensão de Cristo.

Quando Cristo é compreendido dentro da dimensão do da igreja é, de certa forma, a glória da Trindade: “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai , o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” , disse Jesus Cristo. (Jo 15.26, 14.26, 16.13-15; 1Co 12.3, ênfase minha.)

Por outro lado, deve ser observada com seriedade a constatação de Packer (1926-2020):

É extraordinário que aqueles que demonstram tanta preocupação a respeito de Cristo tenham tão pouco interesse e conhecimento sobre o Espírito Santo. [...] Não será uma grande impostura dizer que honramos a Cristo quando ignoramos, e deste modo desonramos, aquele que Cristo nos enviou como seu representante, para tomar o seu lugar

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TRINDADE ESQUECIDA

e cuidar de nós como ele o faria? Será que não devemos nos concentrar mais no estudo do Espírito Santo do que temos feito até aqui?5

Exposições históricas concernentes à Trindade

As exposições concernentes à Trindade estão relacionadas à compreensão equivocada da Pessoa de Cristo e do Espírito Santo. O desenvolvimento da compreensão cristológica por parte da igreja foi determinante na evolução da teologia do Espírito Santo, e essa contribui para aquela de forma retroalimentadora.

Pelikan (1923-2006) chega a dizer que “o dogma da Trindade foi desenvolvido como a resposta da igreja à questão sobre a identidade de Jesus Cristo”.6 Novamente: “O auge do desenvolvimento doutrinal da igreja primitiva foi o dogma da Trindade”.7 -

munha que a igreja de Deus, espalhada por toda face da terra, declarava a sua fé trinitariana — conforme recebera dos discípulos —, a saber: “a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo, que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus”.8

5 J. I. Packer, O conhecimento de Deus (São Paulo: Mundo Cristão, 1980), p. 58. Do mesmo modo, veja: Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit (Chattanooga: AMG Publishers, 1995), p. xv-xvi.

6 Jaroslav Pelikan, A Tradição Cristã: Uma história do desenvolvimento da doutrina: O surgimento da tradição católica 100-600, v. 1 (São Paulo: Shedd Publicações, 2014), p. 235.

7 Jaroslav Pelikan, A Tradição Cristã , p. 185.

8 Irineu, Irineu de Lião (São Paulo: Paulus, 1985), I.10.1., p. 61-62.

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Ainda segundo ele, esta pregação era comum na igreja: “Unanimemente as prega, ensina e entrega, como se possuísse uma só boca”.9

Orígenes (c. 184-254), a despeito de outros equívocos subordinacionistas, reconhece a divindade trinitária: “Por isso, tudo o que for uma propriedade do corpo, não pode pertence à natureza da divindade é comum ao Pai e ao Filho”.10

O Credo Apostólico, ao ser analisado estatística e teologicamente, evidencia de modo contundente que as declarações a respeito da Pessoa e obra de Cristo são mais expressivas e mais completamente elaboradas do que as referentes ao Pai e ao Espírito.

De semelhante modo, o Credo Niceno (325) procede: após falar do Pai e mais exaustivamente do Filho, diz: “(cremos) no Espírito Santo”.

Este quase silêncio quanto à doutrina do Espírito Santo 11 pode ser explicado: 1) pelo fato de que, nos primórdios da história da igreja cristã, poucos movimentos levantaram questões consideradas sérias a respeito da sua Pessoa e Divindade,12

9 Irineu, Irineu de Lião, I.10.2, p. 62. Sobre a obra trinitária, veja: Ibid., IV.20.1,3; V.6.1.

10 Orígenes, Origen de Principiis, I.1.8, em Alexander Roberts e James Donaldson (eds.), The Ante-Nicene Fathers, 2. ed. (Peabody, Massachusetts: Eerdmans, 1995), v. 4. p. 245.

11 Notemos que o “silêncio” era quanto a uma doutrina do Espírito mais elaborada, não à sua realidade, presença e direção. (Veja, por exemplo, Clemente de Roma, Epístola aos Coríntios, XXII.1; Didaquê, VII.1; Inácio de Antioquia, Carta aos Magnésios, IX.2; XIII.1-2, XV; Carta Introdução, VII.1-2; Carta aos Efésios, IX.1; XVIII.2; Irineu, Contra as Heresias, III.11.9, 12.1-2, 17.1-4, 19.2).

12 Kelly diz que, mesmo o Credo Niceno declarando “simplesmente” a sua crença no Espírito Santo, “transcorreriam muitos anos antes que houvesse alguma controvérsia pública acerca de sua posição

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TRINDADE ESQUECIDA

menos ainda a respeito do Pai; 2) outro motivo foi a necessidade de o tema ter sido amadurecido na igreja pelo seu estudo e vivência cristã — era necessário que os fundamentos das doutrinas fossem melhor sedimentados na igreja em sua gradativa compreensão e sistematização da Palavra, o que ocorreria na Reforma do século 16.13

Retomando o primeiro argumento, para ser mais preciso, podemos mencionar Orígenes (c. 184-254), que, inspirando-se em Tertuliano (c. 155-220), foi mais longe do que este, dizendo que o Filho era subordinado ao Pai e o Espírito, subordinado ao Filho.

Algumas heresias e condenações

Por volta de 360, encontramos Atanásio (c. 296-373), bispo de Alexandria (328-373), combatendo um grupo de cristãos egípcios, que ele chamou de “tropicianos” (derivado -

pretar as Escrituras.

apenas local, com uma hermenêutica tendenciosa de Amós 4.13, Zacarias 1.9 (LXX) e 1Timóteo 5.21, cria ser o Espírito

na Divindade” (J. N. D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã: Origem e desenvolvimento (São Paulo: Vida Nova, 1993), p. 190). Adiante acrescenta: “Embora o problema do Espírito não tenha sido levantado em Nicéia, percebe-se a partir daí um aumento de interesse pelo assunto” (Ibid., p. 192). Boettner (1901-1990) comenta: “Tão absorvido esteve o Concílio com a formulação da doutrina d a Pessoa de Cristo, que omitiu fazer uma declaração formal a respeito do Espírito Santo” (Loraine Boettner, Studies in Theology, 9. ed. (Philadelphia: The Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1970), p. 127-128.

A Obra do Espírito Santo (São Paulo: Cultura Cristã, 2010), p. 35-38.

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meramente um anjo hierarquicamente superior aos outros.14 Ainda no século 4, apareceu o macedonismo, uma das facções do arianismo, ensinando que o Espírito Santo era uma criação do Filho, que se destinava a atuar em nós e no mundo — sendo, desta forma, subordinado ao Filho.

O Espírito é Deus

A heresia mencionada nas últimas linhas foi condenada pelo Concílio de Constantinopla, em 381, que estabeleceu

o Credo Niceno e o ampliou. Na cláusula sobre o Espírito,

15 e que juntaatravés dos profetas....”.16

14 Cf. J. N. D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã: Origem e desenvolvimento, p. 193-194. Escrevendo ao seu amigo Serapião, bispo de Tmuis, no delta do Nilo, Atanásio comenta a respeito destes hereges: “[...] fomentam pensamentos hostis contra o Espírito Santo, pretendendo-o não apenas criatura mas até um dos espíritos servis, distinto dos anjos tão somente por grau” (Atanásio, 1. Carta a Serapião, em C. Folch Gomes, Antologia dos Santos Padres, 2. ed., revista e aumentada (São Paulo: Paulinas, 1980), p. 209.

15 A expressão “e do Filho”, em latim “Filioque”, foi acrescentada no III Concílio Local de Toledo (589) e, ao que parece, posteriormente esta cláusula já havia sido usada no Primeiro (400) e Segundo (477)

pensamento de Agostinho (354-430), que enfatizou com propriedade a unidade da Trindade ( A Trindade (São Paulo: Paulus, 1994, II.5.7; IV.20.29.; XV.17-20; 26-27)), ainda que não exclusivamente (cf. J. N. D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 425) — marca de forma

enfatizando a unidade essencial do Pai e do Filho bem como a procedência do Espírito como sendo de ambos.

16 Quanto a maiores detalhes a respeito destes credos primitivos, bem como a sua transcrição integral, veja Hermisten M. P. Costa, Eu Creio

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Entre o Concílio de Niceia (325) e o de Constantinopla (381), a declaração explícita de que o Espírito é Deus foi apenas sugerida, porém não declarada. Em 372, Basílio Magno (c. 330-379), defensor ardoroso da divindade do Filho, também sustentou a divindade do Espírito, porém não foi tão incisivo

17 Mesmo posteriormente (373), quando ampliou o seu pensamento, declarou que o Espírito deve ser honrado juntamente com o Pai e com o Filho.18 Gregório de Nissa (c. 335-c.394), outro dos “pais capadócios”, seguiu os passos de seu irmão Basílio, sem, contudo, apresentar maior contribuição, enfatizando apenas a unicidade das três Pessoas.19

O terceiro destes pais, Gregório de Nazianzo (329-390), amigo de ambos, foi, segundo expressão de Daniélou (19051974), “o pensador trinitariano por excelência”. De fato, com ele a divindade do Espírito é declarada com todas as letras: Sem confusão, existem Três Pessoas na Única natureza e dignidade da Divindade.

Por conseguinte, o Filho não é o Pai (é um só o Pai), mas é exatamente aquilo que o Pai é. Nem o Espírito é o

no Pai, no Filho e no Espírito Santo (São Paulo: Edições Parakletos, 2002).

17 Basil, Letters, 113 e 114, em P. Schaff; H. Wace (eds.), Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church (Second Series) (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1978), v. 8, p. 189-190. Veja Gregório de Nazianzo, Epístola, 58.

18 Basil, Letters, 125.3; 159.2, em P. Schaff e H. Wace (eds.), Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church (Second Series), v. 8, p. 195-196, 212.

19 Oração Catequética, §3. Gregório de Nissa, no entanto, foi de grande relevância na questão da procedência do Espírito (cf. Contra Eunômio, 1.42; Contra Macedônio, 2.10,12,24), ainda que tenha deixado aberta uma fresta para a compreensão equivocada de que o Espírito procede do Pai através do Filho.

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Filho, por vir de Deus (um só é o Unigênito); é, porém, exatamente aquilo que o Filho é. Estes três são um pela Divindade, e, na unidade, são três por suas propriedades. Desse modo não são o Um de Sabélio nem os três da péssima divisão de hoje (modalismo).

— Quê, então? O Espírito é Deus?

— Perfeitamente, sem dúvida alguma.

— E é consubstancial?

— Sim, já que é Deus.20

Agostinho (354-430), em 393, escreveu:

Numerosos são os livros que homens sábios e espirituais escreveram sobre o Pai e o Filho. [...] O Espírito Santo, entretanto, não tem sido estudado com tanta abundância e cuidado pelos doutos e grandes comentaristas das divinas Escrituras, de tal sorte que resultará igualmente fácil compreender seu caráter próprio: que faz com que não possamos chamar-lhe nem Filho nem Pai, senão unicamente Espírito Santo.21

Além do mais, não devemos nos esquecer de que as Escrituras falam mais “do” Filho do que “do” Espírito — o que é perfeitamente natural, considerando, obviamente, a encarnação do Verbo e o seu ministério entre os homens.

20 São Gregório de Nazianzo, Discursos Teológicos (Petrópolis, RJ.: Vozes, 1984), XXXI.9-10. p. 98. Gregório entende que a doutrina do Espírito deveria mesmo ser formulada por último, obedecendo a uma espécie de revelação progressiva (Ibid., XXXI.26). Ainda que não detalhe o assunto, McGrath considera que a formulação dos pais capadócios é “uma forma atenuada de triteísmo” (cf. Alister E. McGrath, à teologia cristã (São Paulo: Shedd Publicações, 2005), p. 383-384.

21 Agostinho, On Faith and the Creed, em Philip Schaff, Nicene and PostNicene Fathers of the Christian Church, 2. ed. (First Series) (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1995), v. 3, p. 328, 329.

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A nat ureza do Espírito — e não poderia ser diferente seu ministério, que consiste, após a ascensão de Cristo, em dar testemunho dele. A obra do Filho reclama as operações do Espírito; e estas amparam-se naquela. A nossa teologia, Palavra, não o seu “complemento”; ela é o estudo da revelação pessoal de Deus conforme registrada nas Escrituras Sagradas.

A teologia como serva

A teologia como a sistematização do que nos foi revelado na Palavra visa tornar mais compreensível a plenitude da revelação. A teologia, portanto, nada tem a dizer além das Escrituras. Ela não a substitui nem a completa; antes, deve ser a sua serva. A teologia brota dentro da intimidade da fé daqueles que cultuam a Deus e comprometem-se com o nosso pensar, falar e viver. Desse modo, a teologia sempre será demonstrativa existencialmente. de nossa limitação e de nossa condição de criatura. Portanto, a teologia nunca é um edifício completo em todas as suas das Escrituras, rogando a indispensável assistência do Espírito (Sl 119.18), e, por isso mesmo, sempre aberta à correção e ao aperfeiçoamento provenientes do estudo das Escrituras, acompanhado pela essencialidade da iluminação do Espírito.

Ainda que descendentes de Adão e Eva, já não estamos no devemos nos lembrar de que pensamos e vivemos teologia em meio a um mundo aguardando e gemendo por sua restauração.

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Prefácio à edição brasileira

“A teologia é serva da igreja.”22 Este serviço será relevante se, antes, a teologia for serva da Palavra. O teólogo deve ser um servo da Palavra (At 6.4), lutando contra o orgulho natural, que rejeita este modelo e coloca-se como senhor.

(1Co 4.2). O teólogo não pode ter outro propósito senão o Escrituras e em seu ensino ao povo de Deus. Somos responsáveis diante de Deus pelo que ensinamos. Biblicamente, ensinos da Trindade, e não à sua criatividade em detrimento cultuam e adoram”, sintetiza McGrath.23 Por isso, o teólogo sem maiores compromissos. Antes, podemos compará-lo a um peregrino em busca do melhor caminho que o conduza Deus, por meio de seu conhecimento, ensino e obediência. Nesse propósito, como igreja militante, ela elabora uma “teologia de peregrinos”,24 como uma direção humilde para os peregrinos que vivem neste mundo criado por Deus buscando

22 Alister E. McGrath, Paixão pela verdade: A coerência intelectual do evangelicalismo (São Paulo: Shedd Publicações, 2007), p. 16.

23 Alister E. McGrath, Teologia histórica: Uma introdução à história do pensamento cristão (São Paulo: Cultura Cristã, 2007), p. 15. Da mesma forma: “A teologia cristã é a doutrina acerca de Deus, como ele é conhecido e adorado para a sua glória e para a nossa salvação” (Johannes Wollebius, Compêndio de teologia cristã (Eusébio, CE.: Peregrino, 2020), p. 23.

24 que militam ainda nessa vida de “teologia dos peregrinos” (Johannes Wollebius, Compêndio de teologia cristã (Eusébio, CE.: Peregrino, 2020, p. 23)).

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TRINDADE ESQUECIDA

compreender e vivenciar de forma autêntica as etapas de sua jornada, caminhando juntos em procissão até que cheguem ao seu destino (Rm 8.29-30) e o Senhor Jesus volte para nos conduzir em absoluta segurança para o lugar que ele mesmo foi-nos preparar (Jo 14.1-6). No céu, na Cidade de Deus, teremos uma “teologia dos benditos”.25 Estaremos de volta à nossa terra natal.

Deus deseja que partilhemos da intimidade da relação da Trindade, dirigindo-nos ao Pai pela mediação do Filho sob a direção iluminadora do Espírito.26 Lembremo-nos de que Trindade é habitualmente o nome cristão para Deus, fazendo, portanto, parte do cerne de nossa fé.

Curiosamente, foi a busca da igreja pela compreensão do mistério do Cristo encarnado que a fez desenvolver e precisar o conceito de Trindade. E a igreja estava certa. O que Deus

adoremos em obediência (Dt 29.29). Desta maneira, sabemos que a Trindade nos deu a Trindade. Sem a ação trinitária, jamais conheceríamos o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É por eles que conhecemos o Deus Triúno e nos relacionamos com ele em santa adoração.

Por conseguinte, é preciso que entendamos que não compete à igreja explicar o mistério da Trindade. Ela, partindo da Escritura, apenas o descreve de forma mais ou menos sistemática, formulando a doutrina de tal forma que evite os erros e as heresias. O mistério permanece em todo o labor teológico.

25 Cf. Johannes Wollebius, Compêndio de teologia cristã (Eusébio, CE.: Peregrino, 2020), p. 30.

26

“O propósito original de Deus foi que o ser humano partilhasse a intimidade familiar jubilosa da Trindade” (J. I. Packer, O plano de Deus para você, 2. ed. (Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005), p. 125).

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Prefácio à edição brasileira

Isso nos humilha e, ao mesmo tempo, deve nos conduzir em humilde e alegre gratidão a cultuar a Deus.

Devemos considerar que nada na Escritura é ocioso (At 20.27; 2Tm 3.16). Ocioso e ingrato27 é deixar de considerar todo o desígnio de Deus28 ou mesmo tentar ultrapassá-lo.

Com tudo isso em mente, tenho o prazer de dizer que a obra do Dr. James White é de excelência e profundamente bíblica. O autor, valendo-se frequentemente de habilidade, consistência e profunda exegese, procura discorrer de modo preciso e claro sobre a fundamentação bíblica da doutrina da Trindade, dedicando maior espaço à divindade do Filho, e,

Pessoa do Espírito. Depois, ele demonstra alguns equívocos ocorridos ao longo da história na tentativa de formulação da doutrina, bem como desvios modernos que se afastaram das elaborações clássicas fundamentadas na Palavra. Diante destas elaborações, White dá explanações exegéticas e com arcabouço histórico, trazendo o leitor de forma branda e segura ao direcionamento bíblico, evidenciando a necessidade que a igreja tem de considerar com alegria e reverente temor a bendita Trindade — a qual, ainda que envolta

nos relacionarmos com o Deus Trino, descartando conceitos heréticos, especialmente os sustentados pelas “Testemunhas de Jeová”. Assim, White, com amplitude bíblica, demonstra a relevância dessa doutrina para a vida cristã.

27 Cf. João Calvino, As Institutas, III.21.4.

28 Aqui, Calvino também tem algo dizer: “A Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual, como nada é omitido só se necessário, mas também proveitoso de conhecer-se, assim também nada é ensinado senão o que convenha saber” (João Calvino, As Institutas, III.21.3).

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TRINDADE ESQUECIDA

Esta obra certamente concilia erudição bíblica, histórica e teológica, apelo apologético, bem como simplicidade e coração pastoral. A Pro Nobis Editora está de parabéns por mais este lançamento. Recomendo a sua leitura com grande atentamente. Deus o abençoe.

Hermisten Maia Pereira da Costa, pastor presbiteriano, professor, teólogo calvinista, autor de muitos livros, entre eles Creio: no Pai, no Filho e no Espírito Santo

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