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Saúde e Segurança do trabalhador Digital — o futuro está cada vez mais próximo (1ª Parte)

Duarte Dias & Susana Rodrigues - INES-TEC

Já não é mais ficção científica: a monitorização constante de trabalhadores em atividades de risco, como nos filmes, é uma realidade graças à utilização combinada de dispositivos vestíveis e inteligência artificial. A Indústria 4.0 trouxe a digitalização para processos e ativos, mas o humano, o recurso mais valioso de qualquer organização, ainda estava à margem dessa transformação. A Indústria 5.0, com o foco no ser humano, procura mudar essa realidade.

É nesta área que temos vindo a focar o nosso trabalho, a qual denominamos de “saúde ocupacional quantificada” (QoH – Quantified occupational Health), onde a saúde e os processos do trabalhador também são digitalizados para benefício próprio e do negócio.

SAÚDE OCUPACIONAL QUANTIFICADA (QOH) — UMA ABORDAGEM MAIS PRECISA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO

O INESC TEC é um motor de inovação em Portugal, que impulsiona o avanço científico e tecnológico e gera valor social e económico. Através de centros como o C-BER (Centro de Investigação em Engenharia Biomédica), dedicado à área da saúde, desenvolve tecnologias disruptivas que atendem às necessidades da indústria, da saúde e da sociedade.

O C-BER lidera a vanguarda da saúde ocupacional quantificada (QoH), uma abordagem inovadora que combina métodos científicos e tecnológicos para monitorizar, de forma precisa, a saúde dos trabalhadores. Sabemos que o estudo de processos como o stress, o burnout e a fadiga, pelo seu grau de complexidade, deve ser realizado numa perspetiva interdisciplinar. A QoH representa assim uma evolução na forma como avaliamos a saúde e gerimos os riscos dos trabalhadores. É uma abordagem que permite monitorizar, de forma mais objetiva, robusta e eficaz, o estado de saúde dos trabalhadores e o respetivo impacto da exposição diária dos mesmos, a diversos agentes nocivos (gases tóxicos, produtos químicos, elevadas temperaturas, etc.). A quantificação da saúde ocupacional envolve diversas técnicas e instrumentos, que através da psicofisiologia, combinando uma abordagem qualitativa (ex., através de questionários, entrevistas, diários…) e quantitativa (ex., monitorização de sinais vitais, desenvolvimento de algoritmos, extrair indicadores de dados raw…).

Deste modo, a QoH é uma abordagem fundamental para garantir ambientes de trabalho seguros e saudáveis, permitindo, numa vertente individual, dar aos trabalhadores a possibilidade de monitorizarem a sua saúde, ganhando um maior “awareness” relativamente ao seu estado físico e psicológico e, simultaneamente, desenvolverem estratégias personalizadas de autogestão emocional para melhor gerirem situações complexas do seu dia-a-dia. Numa vertente organizacional, esta abordagem permite às organizações atuar numa lógica preventiva, sinalizando situações de maior risco e agindo de forma mais rápida e precisa, permitindo também a criação de políticas laborais facilitadoras e mais orientadas para a promoção da segurança e bem-estar dos trabalhadores. Não esquecendo que trabalhadores mais saudáveis, e saúde não é só ausência de doença, são trabalhadores mais motivados e consequentemente mais produtivos.

A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR PARA DESENHAR O FUTURO DA QOH

A investigação na área da saúde ocupacional quantificada, exige uma abordagem multidisciplinar, combinando conhecimentos de engenharia, psicologia, informática, medicina e outras áreas. No C-BER, reunimos uma equipa de investigadores de diversas áreas para desvendar os mistérios do corpo humano e transformar dados em informações úteis. A colaboração com a indústria é essencial para que possamos desenvolver soluções personalizadas e criar um impacto real na vida das pessoas, e em especial dos trabalhadores e gestores, promovendo ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis.

QUAIS OS PRINCIPAIS SETORES DE INVESTIGAÇÃO NA QOH?

O C-BER iniciou a sua atividade nesta linha de investigação com um dos grupos de operacionais que estão em maior risco, os Bombeiros. Através de diversos projetos, desenvolveu tecnologias para monitorizar, em tempo real, parâmetros fisiológicos e de exposição ambiental, permitindo uma gestão mais eficiente das equipas. Expandindo esta investigação, o C-BER aplicou a mesma abordagem a polícias e controladores de tráfego aéreo, introduzindo a psicofisiologia para avaliar estados cognitivos.

A combinação de dados fisiológicos e psicológicos permitiu identificar padrões de stress e fadiga em situações de risco.

Atendendo à versatilidade da solução, a tecnologia está também a ser adaptada para os setores industrial e agrícola, com resultados promissores. Atualmente, o C-BER utiliza dispositivos vestíveis, inteligência artificial e IoT para monitorizar a saúde de diversos grupos ocupacionais, com o objetivo de lançar no mercado a solução WeSENSS. Essa solução inovadora permite identificar precocemente sinais de risco, contribuindo para a prevenção de acidentes, a melhoria da tomada de decisão e a promoção da saúde e segurança no trabalho.

PROJETOS E TESTES EM CURSO E FUTUROS?

A próxima edição da revista Proteger contará com uma secção especial que irá descrever, em maior detalhe, as inovações tecnológicas do C-BER que estão a revolucionar quatro setores industriais. A publicação apresentará também os projetos em curso nesta área, os resultados dos mais recentes testes e os próximos passos. Descubra como o INESC TEC está a utilizar a tecnologia para construir um futuro mais sustentável e competitivo na área da saúde ocupacional. •

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