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CAP 1: CARREIRA E FAMÍLIA, DUAS MÃOS JUNTAS
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CARREIRA E FAMÍLIA, DUAS MÃOS JUNTAS.
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Escolher entre carreira e família. A mulher já nasce com complexo de punição. Se escolhermos entre carreira vamos nos culpar em não ter tido uma família e vice-versa. O que fazer para reduzir a culpa diante desta realidade? Afinal, o que é família hoje em dia? Sem querer entrar em conceitos sociológicos e antropológicos, uma definição linda de família que escutei no meu grupo de Escrita Terapêutica de uma colega foi: “Família é para onde voltamos”. Na hora eu pensei: “É isso mesmo”. Simples e bonito. Você pode trabalhar fora, pode viajar demais, fazer coisas que te levem sempre para o “exterior”, mesmo estando em casa. Mas uma hora vai querer voltar, ou ter que voltar. Voltar para onde? Para o seu porto seguro. Para uma “terra” que você se reconheça. Para um derredor que te diga “pode relaxar, você está em casa”. É a esse sentimento de pertencimento que chamo de família. Penso que não precise ser grande em quantidade de membros ou ao contrário, que seja pequena, ela deve ter o tamanho que queremos dar. Hoje em dia, com o derrubar das fronteiras, podemos escolher a quem posso chamar de família. Pode ser uma comunidade com os mesmos ideais, podem ser amigos de infância ou pessoas criadas conosco. O importante é que neles eu reconheço esse sentimento de pertença, todos estejam dispostos a doar aquilo que nos é mais importante, o tempo, nem que seja um pouco, para manter esse sistema saudável e que nos fortalece. Tempo para conversar, tempo para olhar no olho e reconhecer que as coisas não vão bem, tempo para falar besteira sim, por que não? Tempo para fazer coisas juntos. É no fator tempo que nos perdemos. Na minha cabeça, antes, tempo era sinônimo de quantidade, mas hoje tenho certeza que não é. Poucos minutos por dia, no final do mês fazem diferença. Eu estou disposta a doar meu tempo às
noites em casa sem o celular para conversar com meu marido. Emergência é outra história, mas quanto tempo perdemos estando em redes sociais para conhecidos e mortos em casa para os nossos? Família não se faz sem tempo, definitivamente. Outra coisa que eu penso quando se fala nesse tema é: A minha família MESMO é de onde eu vim ou a que eu vou formar? Não se enganem, não é fácil responder a essa questão. Podem até ser as duas, eu não tenho essa resposta. Mas vou falar o que todas passamos como profissionais de saúde, infelizmente o tempo é escasso para oferecer à minha família de origem, pai, mãe e irmãos, como será então, com a família que eu quero formar? Mas o caso é que SIM, somos mulheres e como tal, uma hora a necessidade de ter filhos bate à porta. Pelo menos para algumas. Essa discussão é tão doída para certas mulheres que até falar sobre isso incomoda. Conheci em São Paulo uma residente que teve seu primeiro filho na residência de clinica médica, tenho certeza que ela é a boa mãe que seu filho precisa dentro dos padrões atuais. Mas entre um paciente e outro me confessou que seu filho de dois anos não a reconhecia quando chegava e casa, após uma jornada de plantões. Parou de falar enquanto se encarregava de outro paciente, quando terminamos a conversa meio sem graça, as duas, ela enfatizou ao sair que pretendia dar um irmãozinho ou irmãzinha para a criança. E logo. Isso significa que ela iria engravidar na residência de nefrologia onde estava atualmente. Quando uma mulher quer ter um filho, só outra mulher que quer ter um filho é que sabe.
PARA RELAXAR:
Em um Congresso que não me lembro qual, conheci uma médica que tinha acabado de ter um bebê. A criança teria uns 3-4 meses no máximo. E ouvi com muita admiração o que ela disse: - Lucianna, ninguém te diz a verdade. Que ter um bebe não é a coisa mais romântica no mundo. Você vira uma vaca leiteira. Você não importa mais. Você
está drogada de sono, mas tem que levantar para dar de mamar ao seu rebento. Por várias vezes tive que apoiar na cama para não deixar ele cair. Você está um lixo e tem certeza que seu esposo nunca mais olhará para você com desejos. E a amamentação? Você jura que é a coisa mais natural do mundo como fazer suas necessidades. Mas não é. É um exercício físico que vocês dois desenvolvem em um ritmo único. E rezar para você ter um bico bom, senão... Perguntei o que sempre pergunto para todas as mães:
- Você se arrepende? E ela mais que espontânea e adorando desabafar com outra mulher que não a estava julgando, disse: - Claro que sim! Mas não posso voltar o bebê para o útero, o que se vai fazer? E caímos todas em uma gargalhada.
Isso hoje pode parecer normal, mas no início dos anos 2000 ouvir isso foi chocante e ao mesmo tempo humano. Claro que eu não vou falar de todas as coisas boas que é quando se tem filhos, isso vocês sabem melhor do que eu. Isso todos sabem. O que quero dizer é, a profissão na saúde exige muito e saber o que queremos, quando e com quem, é essencial. E quem te prepara para essas respostas é o local para onde você volta quando tem todos esses pensamentos. É o que você chama de família. Quando fiz minha opção de não ter filhos, ainda muito nova, nunca escondi de ninguém. Não coloquei culpas, não procurei desculpas. Era eu, sem rodeios. Não me arrependi até hoje, sempre digo isso. Ninguém nunca me julgou, ou se o fez, o fez para si, o que para mim não interessa. Nunca fiz ninguém mudar de ideia e acho imprudente fazer. Dentro de cada um de nós há uma “bússola” que aponta qual é o nosso caminho. Agora, conversar sobre isso e buscar ajuda é altamente importante e evita muita dor mais para frente.
FIQUE DESCALÇA E ESCUTE-SE!
Saber a hora de formar uma família, se antes ou depois da faculdade, ou se na faculdade, é escolha de cada uma. Saber se é a hora de nos retirarmos de uma profissão em nome da família, também. Podemos fazer algumas coisas ao mesmo tempo, afinal somos mulheres. Não muitas coisas, algumas. Escolha qual será o tipo de malabarismo que você quer fazer e vá em frente.