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NOS CHAMANDO

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CARREIRA E VIDA SOCIAL, DUAS MÃOS NOS CHAMANDO.

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Escolher entre carreira e vida social. Como manter as relações de amizade, se divertir, vivenciar outros sonhos que não estão ligados à profissão, isso é possível? Quando pensei nesse tópico, estava pensando na minha trajetória e se eu tinha vida social no meio de tantos anos de profissão. Quando completei uma idade que entendia as coisas, ou seja, o que podíamos fazer com o dinheiro ou o que deixávamos de fazer, eu gostava dos domingos, pois com ele e a rotina da minha mãe, eu já estava garantida. Ela levantaria e tomaria o café lendo o jornal que eu gostava. Não lia nada, mas lá tinha uma coluna que se chamava ‘Férias em Portugal”. E claro, na ausência das redes sócias de hoje, rápidas, uma das formas de se anunciar para o mundo uma viagem naquela época, eram as colunas sociais. Ficava horas vendo e lendo que a “família tal, com mais os amigos tais” visitaram Lisboa e posaram com seus casacos na Torre de Belém. Dentro de mim pulsava a admiração por eles terem conseguido ir tão longe! E sonhava... mais ainda, prometi, naqueles domingos, que eu também um dia conheceria Portugal. E fui além. Prometi que “quando eu crescesse” iria conhecer vários países, leria livros em inglês e escreveria outros tantos. Isso aconteceu mais ou menos na mesma época que entendi que faria medicina. Os sonhos são assim. Nascem de desejos, de admirações, de promessas na infância que não queremos saber se vamos cumprir ou não. O cérebro ditou e o consciente registrou, pronto! Na infância não queremos saber o COMO. Queremos saber o QUE. Isso é bom. Muitas vezes o cérebro realiza coisas que não sabemos como foi, só sabemos que chegamos. Ou quantas vezes você não se viu em uma situação e disse

“como isso aconteceu”? E foi assim que depois de uma certa estabilidade na profissão, eu podia me entregar ao meu outro sonho, uma vida social de cultura. De conhecer como outras pessoas viviam, como falavam e o que comiam e sua geografia e tempo. A cada novo país conhecido nas tão esperadas e planejadas férias anuais, eu me encontrava com aquela menina e dizia para mim mesma “consegui, é isso mesmo!”. Coloquei aqui uma parte de vida social que se mistura com sonhos e que requerem um planejamento mais detalhado. Mas existe uma vida social que não requer tanto planejamento assim. Muitas vezes é o seu querer e o aparecimento da oportunidade. Foi assim meu encontro com a escrita. Sempre gostei de livros e tinha esse ideal de um dia escrever algo meu, mas eu sabia que não seria um livro médico. Para tal literatura já tinham as pós-graduações. Tive que esperar um bom tempo para “desarquivar” esse outro sonho. Quando apareceu a oportunidade, não deixei escapar. Então assim, passado um pouquinho da idade da balzaquiana que eu não vou dizer qual é, comecei a escrever. Tudo isso foi sem sofrimento. Claro que não precisa aparecer um “curso” para começar a escrever, ou para começar a falar inglês ou tocar piano. Tudo isso já tem na internet. Mas eu gosto do entrosamento, das relações que se constroem e acima de tudo, conhecer a história da pessoa. Tem horas que precisamos ouvir outras opiniões. Ouvir e respeitar. Isso é vida social. Sei melhor do que ninguém que aquela que se envereda na profissão de saúde tem que estar disposta a se doar. Se doar significa dar o melhor de si e não esquecer de si. Não esquecer de si é se perguntar, “isso faz sentido para mim?”, e se a resposta for sim, você estará feliz no que está fazendo e por isso mesmo, vai querer fazer com mais força e garra, apesar do nosso sistema político. Muitas vezes, o que fazemos na vida social dá suporte para continuarmos sendo boas profissionais. Escrever para mim, organiza a mente e após construir um texto, me sinto mais viva, mais pertencente ao planeta que vivo. Outra coisa que eu poderia dizer sobre vida social benéfica, ela nos faz crescer. A mesma coisa poderia dizer dos amigos que fazem a vida

social mais interessante. Amigos são prolongamentos de família. Você pode ter “mil amigos” ou um, não importa. O que importa é que você haja correspondência, que você possa contar com ele e ele possa contar com você ATÉ nas horas maravilhosas! Por que horas ruins tem muitas. Não, você não precisa falar o que ele quer porque senão vai perder a amizade. Isso não é amizade. É apenas um companheirismo de momento. Meu antigo chefe da Infectologia, um homem sábio que considero até hoje nos falou uma vez: - Amigo não é aquele que você não briga, mas aquele que sabe fazer as pazes. Você só vai saber se é amigo se você conviver. E para conviver, temos que ter vida social. Sair para somente um “chá de comadres” também é importante. Jogar conversa fora e rir. Minha mãe dizia que o elástico não pode ficar o tempo todo esticado, tem que relaxar de vez em quando. Ela dizia isso porque na faculdade eu não tinha vida social alguma. Na verdade, era próximo a zero. Tinha minhas amigas do curso de medicina, mas não nos encontrávamos fora da faculdade com frequência. Hoje me arrependo de não as ter conhecido mais, mas ainda bem que podemos nos conectar agora pelas redes sociais. Estamos tirando um pouco do atraso, tudo bem. O amigo também entende o momento. Se você está com provas ou com algum trabalho importante para entregar que necessite da sua dedicação, uns dias sumida não mata ninguém.

FIQUE DESCALÇA E ESCUTE-SE!

Mas também vida social requer disciplina. Caso queiramos nos dedicar a outros sonhos fora da profissão de saúde, a mesma disciplina de estudos e dedicação de tempo também tem que haver. Digamos que você queira falar francês em um ano, no início que tudo é uma novidade, será fácil pois você está em contato com o novo, é a “lua de mel” onde se estuda sem fazer esforço. Com o tempo, com tudo caindo na rotina, a vontade de estudar

vai desaparecendo. Os plantões vão tomando conta, o cansaço vai ganhando espaço...não deixe! Nosso tempo é curto e por mais que o grupo no whatsapp esteja bombando, você tem uma meta a cumprir. Não seja distante, pois conversas para descontração são bem-vindas, mas não fique muito tempo. Podemos nos perder dos nossos objetivos. E lá vem outro plantão, outra especialização e assim os anos passam e você só se dedicou a carreira, e a culpa é só sua.

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