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ENTREVISTA. Luciana Casagrande e a busca pela cultura paranaense

RESPIRANDO ARTE

LUCIANA CASAGRANDE É SUPERINTENDENTE DA CULTURA NO PARANÁ. ARQUITETA, ESTEVE POR ANOS À FRENTE DA BIENAL DE CURITIBA E SE ACOSTUMOU A VER A CIDADE COMO PALCO PARA A CULTURA. AGORA, VIVE O DESAFIO DE AJUDAR O SETOR A SE RECUPERAR DA PANDEMIA E ENCONTRAR FORMAS DE DIVULGAR O “FEITO AQUI” POR AÍ

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O SETOR CULTURAL FOI UM DOS MAIS IMPACTADOS DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19. MAS HÁ MUITA COISA BOA SENDO FEITA. COMO ELAS CHEGAM AO CONSUMIDOR FINAL?

Nunca arte e cultura foram tão importantes. Elas nos ajudaram a sobreviver a este tempo. Mesmo sem perceber, consumimos arte, cada um de nós na linguagem de afinidade e isso nos manteve em pé. A arte nos traz conforto emocional. É hora de retornar com energia e com um conteúdo diferente para um público mais amplo, carente de formatos novos. Uma das novidades é que criamos uma plataforma de streaming do estado, em que está registrado quase tudo o que foi produzido no Paraná nos últimos meses. São mais de 1.300 vídeos de dança, literatura, filmes, música, registros de comunidades tradicionais. É uma produção plural, que mostra a nossa diversidade. A cultura do Paraná estará no seu celular, de graça.

É A ARTE DA NOVA GERAÇÃO?

A experiência solitária na tela, quem diria, nos aproximou do consumo de arte. Não deixaremos de consumir pela tela, mas queremos a experiência híbrida.

QUAL O PAPEL DA CIDADE NESTE PROCESSO?

O potencial da cidade de acolher é enorme. A arte estimula o viver a cidade, o caminhar e o prestar a atenção e se apropriar, sem percebê-la apenas como espaço de passagem. A cidade é um espaço de vanguarda, de contracultura, de inovação e a ocupação dos espaços urbanos por artistas e pela população só vai aumentar, inclusive por causa da insegurança em frequentar lugares fechados. Por outro lado, a arte na rua é uma oportunidade para quem ainda não frequenta espaços culturais formais. Quando as pessoas começam a consumir arte e cultura, elas mudam, se transformam.

SUA EXPERIÊNCIA NA BIENAL DE CURITIBA FOI UM ENSAIO PARA ISSO?

Fui diretora da Bienal por dez anos e a nossa ideia era tirar a arte dos museus e ocupar a cidade, por meio da multilinguagem, com poesia no ônibus, instalações pelas ruas. A cidade é espaço de ocupação.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O CONSUMO DE ARTE NOS MEIOS E ESPAÇOS CONVENCIONAIS E O CONSUMO QUE ACONTECE INFORMALMENTE NA CIDADE?

A curiosidade é estimulante e a arte é transformadora. Quando a pessoa sente que faz parte daquilo que até então não se achava apta a frequentar, é tomado por emoção e cresce a sensação de pertencimento.

COMO CHEGAR EM LUGARES DISTANTES?

Grande parte dos equipamentos da cultura no Estado estão em Curitiba. Então, como se reconhecer paranaense? Resolvemos então realizar um ciclo de diálogo com os municípios, para estimular parcerias, para saber como vamos levar, por exemplo, o Teatro Guaíra para Rolândia, como fazer intercâmbio do acervo do Museu Paranaense para os centros culturais dos municípios. Trazemos os temas para a conversa, vêm as ideias, a cultura vai se tornando cada vez mais vibrante, os sistemas municipais de cultura se fortalecem, independentemente do gestor que entra ou sai. Fazemos o diagnóstico e o prognóstico, levantamos as potencialidades e vamos nos apoiando. Um ajuda o outro, como rede, e isso fortalece a relação entre os municípios.

O Bale Teatro Guaíra é o mais antigo em atividade no Brasil

E O QUE É SER PARANAENSE?

A resposta virá quando nos apropriarmos e entendermos quem somos, reconhecermos o que é feito no Paraná como sendo nosso, do litoral caiçara ao Oeste. Vamos olhar para os nossos festivais, por exemplo. O Filo de Londrina está com 50 anos, o Festival de Teatro de Curitiba vai fazer 30, tem o Festival de Música de Cascavel, o Festival de Inverno de Antonina. São expressões riquíssimas e que ainda não divulgamos com a força que merecem, nem temos a sensação de que são nossos. Quando as pessoas vão a Edimburgo, onde acontece um festival multicultural, colocam lá #edimburgo. Precisamos colocar luz no que fazemos. Vamos aproveitar o que já temos e repercutir isso. Se uma peça da Itália vem pro Filo e vai embora, podemos pensar em colocar os festivais nessa rede e levar a apresentação para outras cidades. É uma forma de nos fortalecermos e também estimular o turismo cultural.

PARA TEMPOS DE PANDEMIA, QUAL SUA SUGESTÃO DE ROTEIRO CULTURAL POR CURITIBA?

Começaria pelo centro histórico, pelo casario, e caminharia até as ruínas, iria ao Museu Paranaense. Viria à nossa superintendência, que é sede do Museu de Arte Contemporânea. Ao lado tem este grafitte do Rimon. Seguiria até o marco zero na Praça Tiradentes, depois ao Teatro Guaíra. Acho que terminaria a tarde no Museu Oscar Niemeyer. Ou iria ainda até a Prudente de Moraes, que reúne muita coisa boa e nova da cena cultural, gastronômica, de design e de moda da cidade.

Cena de peça no Festival de Teatro de Londrina, o Filo; e apresentação de Fandango, dança e música típica do litoral do Paraná

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