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MEMÓRIA. A arquitetura retumbante de Paulo Mendes da Rocha
GIGANTE MODERNISTA
PAULO MENDES DA ROCHA, UM DOS MAIS IMPORTANTES ARQUITETOS DO BRASIL, PERSEGUIA A DIMENSÃO PLURAL E COLETIVA EM SUAS OBRAS
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PINACOTECA DE SÃO PAULO
Construído na última década do século dezenove para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios, o prédio que abriga a Pinacoteca de São Paulo passou por reformas em 1905 e, em 1998, foi desenvolvido por Paulo Mendes da Rocha uma obra de adequação do edifício às necessidades técnicas e funcionais. Duas operações ficaram bem evidentes na reforma da edificação. A rotação do eixo principal de visitação, que foi possível graças à manobra sutil de cruzar as pontes com os espaços vazios dos pátios internos. Outra foi a instalação de claraboias que recobrem os pátios internos, o que protegeu as estruturas e trouxe luminosidade.
Um dos últimos gigantes da arquitetura nacional, Paulo Mendes da Rocha tinha os olhos voltados para o espaço público, que permitisse os encontros e a vida coletiva. Arquitetura, segundo ele, não é para ser vista, mas para ser vivida. Coisa da formação, afinal, ele era um dos representantes da geração dos modernistas da Escola Paulista, que teve Vilanova Artigas à frente do movimento, marcado pelo discurso social, pela ênfase na técnica construtiva, pela adoção do concreto armado aparente e pela valorização da estrutura. O arquiteto capixaba, que formou uma geração de profissionais centrados nas cidades, faleceu em maio.
Ele recebeu prêmios internacionais na arquitetura, como um Leão de Ouro de Veneza, o Prêmio Imperial do Japão, uma Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos e um Pritzker - o prêmio de arquitetura mais importante do mundo. Fora ele, só Oscar Niemeyer.
Paulo Mendes da Rocha via nas cidades a maior riqueza. Explicava que no chão não deveriam haver casas nem escritórios. Esses seriam verticalizados e adensados, para que, embaixo, a vida seguisse seu curso normal, as pessoas andassem de transporte públi-
SESC 24 DE MAIO (SP)
O projeto de Paulo Mendes da Rocha recuperou e transformou um antigo imóvel do centro da cidade. Entre as mudanças, a criação de uma praça sob o edifício existente, com caráter de galeria de passagem livre; transformação do antigo subsolo de garagem em Café e Teatro; criação de um novo sistema de circulação vertical; criação de uma praça na cobertura, com piscina; mudança na fachada de forma a expor as atividades realizadas no interior do prédio e se relacionar com a cidade.
co, fossem ao mercado, à livraria, ao cinema, tomassem café. “Eu digo que o objeto supremo da arquitetura é amparar a imprevisibilidade da vida. Se eu sei que o metrô passa no mesmo lugar a cada três minutos, eu não tenho pressa de encontrar meu amigo. Eu vou no botequim tomar uma cerveja. Isso está ligado à liberdade das decisões. É uma vida ativa altamente criativa. Outra resposta: qual é o objeto da arquitetura? É permitir que conversemos”, publicou certa vez.
Defendia o uso racional da natureza, de forma a permitir o melhor funcionamento da vida em grupo e torná-la habitável. Andava pensando até em expandir seus projetos para o espaço. Enquanto não acontecia, o arquiteto sugeria, por exemplo, a navegabilidade dos rios brasileiros. “Depois de projetar tantos edifícios em concreto e aço, meu pai foi projetar galáxias com as estrelas!”, escreveu o filho Pedro Mendes da Rocha nas redes sociais.
A seguir, conheça algumas de suas obras mais emblemáticas.
MUSEU NACIONAL DOS COCHES (PORTUGAL)
Museu dos Coches, na região de Belém, em Lisboa, Portugal, inaugurado no início do ano: espelho d’água reflete a luz natural que entra pelos domos e simplicidade dos volumes contrasta com a complexidade do entorno histórico.
MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA (SP)
O projeto original de Paulo Mendes da Rocha e Pedro Mendes da Rocha prevaleceu como partido da reforma, portanto, as grandes intervenções concebidas anteriormente no edifício, assim como o próprio conceito, foram mantidos. Entre as novidades, está a integração com a Estação da Luz, que se tornará mais permeável visual e fisicamente. Outra foi a introdução de quatro elevadores nas torres, que remite uma visita ao museu mais livre.
MUBE (SP)
O Museu Brasileiro da Escultura não emerge do espaço como uma caixa fechada. Suas fachadas se desdobram em múltiplos planos e seus dois pavimentos formam duas praças. Na parte mais baixa do terreno, a praça de entrada é revestida com mosaico branco, que se contrapõe ao concreto. Na mais alta, um espelho d’água no ângulo extremo do lote, recorta o piso da praça superior. As dependências subterrâneas contêm grandes salões para exposições, rampas, escadas e aberturas zenitais e laterais que oferecem luz natural ao interior da construção. Na parte externa, paisagismo de Burle Marx.