Contrarregra
CONTRARREGRA
O CORPO COMO ESCALA ESPACIAL por Joseli Maria Silva e Marcio Jose Ornat
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á quinze anos nós trabalhamos como voluntários em uma Organização Não Governamental chamada Renascer. Esta instituição tem como uma de suas mais importantes ações, a luta pelos direitos humanos e cidadania LGBTTQ+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queers e outrxs). Durante este tempo pudemos observar como o corpo é um dos elementos mais importantes para a constituição de identidades, bem como para o conforto social e psicológico dos seres humanos. Todas as pessoas vivem por meio de um corpo, mas apenas aquelas cujo corpo é percebido como algo que está ‘fora da ordem’ sentem o peso das marcas corporais que carregam. O corpo das pessoas, nesse sentido, é sempre relacional, já que é por meio da leitura social dos corpos que determinadas pessoas são posicionadas socialmente e economicamente. Quando nascemos passamos a fazer parte de uma organização social de valorização hie-
rárquica de padrões de beleza, inteligência e outros atributos que não dependem de nós, mas de elementos de outras escalas que não controlamos. Ninguém é responsável pelas características corporais com as quais nascemos, mas seremos todos nós enquadrados a partir delas. Ter esta consciência é importante, porque temos que reconhecer a nós e aos outros como fazendo parte dessa matriz de poderes articulados que determinam posições de privilégios e prejuízos assimetricamente distribuídos socialmente. É muito comum as pessoas privilegiadas na matriz de poderes sociais não questionarem seus corpos. Algumas vezes escutamos pessoas dizerem: “Não tenho culpa de ter nascido assim, um homem, branco, heterossexual e, portanto, não sou responsável pelas desigualdades sociais e econômicas!” Certamente, ninguém é responsável pelas características com as quais nasce e se constitui. Contudo, esta mesma pessoa também não fez ab-
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