Revista Desassossegos vol 4 (ISSN 2595-6566)

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OLHOS SOBRE A TELA

O QUE É A VIDA? Cena do filme Esta noite encarnarei no teu cadáver

por José Aparicio Silva

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o filme “The House That Jack Built” (A casa que Jack construiu), obra de Lars Von Trier de 2018, o personagem Jack é obstinado por realizar a sua arte. Como engenheiro, que pensa ser arquiteto, quer construir a sua casa. Seu argumento nos diálogos com (Vergi) Virgílio é que, para se ter a arte perfeita, é necessário encontrar o material ideal, e ele o encontra. Material esse que aqui não vou expor para garantir a surpresa do espectador ao assistir.

Com esse argumento é possível uma reflexão: não importa o tipo de arte, qual modelo ou segmento dela, o mais importante é a matéria. Encontrar a matéria ideal que sirva para efetivar a sua arte. Deve ter sido assim com tantos outros artistas renomados. Ao pensar na arte cinematográfica de José Mojica Marins, cineasta brasileiro, percebo que este encontrou a sua matéria na construção do personagem Zé do Caixão. Essa criação rendeu à Mojica o diferencial de sua carreira como ator, diretor, produtor, a

ponto de o personagem ser confundido com a sua pessoa. O que é a vida? É o princípio da morte. O que é a morte? É o fim da vida. O que é a existência? É a continuidade do sangue. O que é o sangue? É a razão da existência. Essas perguntas e respostas de cunho reflexivo e filosófico sobre o sentido da vida bem poderiam ser parte dos diálogos entre o protagonista Jack e o coadjuvante Virgílio. Mas, não! Essas reflexões não são de Lars Von Trier, e sim de José Mojica Marins, ou melhor, de

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