REVISTA Publicação da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa
Ano 1 | n° 4 | Novembro / Dezembro / Janeiro 2021
Lutgardes Freire
Professor, sociólogo e caçula de Paulo Freire rememora o período no exílio e fala do centenário de nascimento do pai.
PLANTAS AQUÁTICAS Professora da UFPA conquista prêmio internacional
ZÉLIA AMADOR DE DEUS Uma Vida inteira dedicada à educação
NOVAS CEPAS DA COVID-19 Laboratório de Genética do ICB/UFPA realiza monitoramento de variantes
ÍNDICE
EXPEDIENTE
DIRETORIA Roberto Ferraz Barreto Diretor Executivo Alcebíades Negrão Macêdo Diretor Adjunto Lutgardes Freire Foto: Renato Parada
Editorial
PG 03
Marina Matta Fellipe Pereira Assessoria Jurídica
Pesquisa COVID
PG 04
Socorro Souza Executiva de Negócios
Tecnologia
PG 06
Raquel Lima Compras e Importação
Memória Interiorização
PG 08
Moisés Martins Concursos e Seleções
Perfil Zélia
PG 10
Capa
PG 12
João Carlos Oliveira Pena Consultoria e Desenvolvimento Institucional
Premiação Internacional
PG 15
Marcelo Moraes Financeiro e Contábil
Opinião
PG 16
Natália Raiol Gestão de Projetos
Memória FADESP
PG 18
Institucional
PG 19
Cláudia Coelho Recursos Humanos
Por dentro da FADESP
PG 22
Davi Frazão Tecnologia da Informação Elilian Carvalho Secretaria Geral Lorena Filgueiras Imprensa e Comunicação
CONSELHO EDITORIAL
EXPEDIENTE REVISTA
Editora-chefe Lorena Filgueiras (Ascom/FADESP) MTb/DRT-PA 1505 Reportagens Brena Marques - Ascom/FADESP Lorena Filgueiras - Ascom/FADESP Flávia Ribeiro Thamyris Assunção
Prof. Dr. Doriedson do Socorro Rodrigues - CUNTINS/UFPA Prof. Dr. Marcos Monteiro Diniz - ICEN/UFPA Profa. Dra. Maria Ataíde Malcher - NITAE2/UFPA Prof. Dr. Roberto Ferraz Barreto - FADESP/UFPA Lorena Filgueiras - ASCOM/FADESP
A Revista FADESP é uma publicação trimestral institucional da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa/Editora FADESP. Sua distribuição é gratuita. É proibida a reprodução parcial ou total sem prévia acordância da FADESP e sem citação da fonte. Os artigos publicados na Revista FADESP são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião editorial da Instituição.
Projeto gráfico e diagramação André de Loreto Melo
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Revisão Fabrício Ferreira
Sugestões, elogios, reclamações: revistafadesp@fadesp.org.br
Analista de TI Raphael Pena Tiragem 1.500 exemplares
Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa Rua Augusto Correa s/n • Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto / UFPA Guamá - Belém/PA | Cep 66075-110 Telefone geral: (91) 4005.7440 / E-mail geral: centraldeatendimento@fadesp.org.br
EDITORAL
Resistir é brotar do mais improvável chão Chegamos à última edição da Revista FADESP deste seu primeiro ano de vida, um período muito emblemático para nós e sensível para a humanidade. No primeiro editorial, ainda em fevereiro, exaltamos a necessidade imperiosa de respeito às Instituições Científicas nacionais que somente o conhecimento, a pesquisa e a solidariedade/empatia poderiam nos tirar deste momento tão difícil que atravessamos. Estamos aqui, existindo, resistindo e nos preparando para voos mais altos. É nossa missão e compromisso apoiar, trabalhar pelos melhores resultados, difundir, divulgar o conhecimento científico feito na Amazônia, mesclando com assuntos de interesse nacional, como o centenário de nascimento do patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire. Decidimos trazer o assunto na última edição do ano para que pudéssemos falar mais de outras iniciativas revolucionárias no universo da educação, portanto, nas páginas a seguir, conversamos com Lutgardes Freire, filho caçula de Elza e Paulo Freire, um educador igualmente sensível e que nos presenteou com uma entrevista cheia de afeto e significados. Também trazemos a primeira reportagem de uma série sobre a Interiorização da Educação Superior no Brasil e, em especial, no estado do Pará. E ainda no tocante ao tema, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido pela professora Thaisa Michelan, do ICB/UFPA, que acaba de receber uma premiação inédita. “Espero que esse prêmio estimule as meninas, mulheres, pesquisadoras, que desejam fazer Ciência no Brasil”, ela disse. Partilhamos do sentimento e esperamos poder contribuir um pouco mais para que esse desejo seja uma realidade cada vez mais frequente. Ainda neste número, homenageamos a professora Zélia Amador de Deus, por seus 70 anos e uma vida inteira dedicada à educação. Um belíssimo documentário, realizado também pela Lei Aldir Blanc, estreou esse ano e é um fidedigno retrato de uma ativista que lutou muito por equidade e pela valorização da Arte. Por fim, estamos resgatando um pouco da história da FADESP que nesse novembro completa 44 anos de vida, respeitando este chão e trabalhando para que ele seja solo cada vez mais fértil às Thaisas, Zélias, Elzas, Ândreas que ainda virão. Uma excelente leitura a todos! Um abraço, Roberto Ferraz Barreto Diretor executivo da FADESP
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PESQUISA COVID
Por Thamyris Assunção Foto: Brenda Marques
foto: Freepik
Monitoramento incansável Nas primeiras horas do mês de novembro, o mundo tomou conhecimento de um triste número: atingimos a marca de 5 milhões de mortos em decorrência da COVID-19 em todo o planeta. Apesar da dura realidade da perda de tantas pessoas, temos, do outro lado da “trincheira”, uma verdadeira batalha pela vida, liderada por entidades e organizações que buscam realizar um trabalho de excelência no estudo aprofundado sobre o novo coronavírus e suas implicações na vida humana. No Pará, o Laboratório de Genética Humana e Médica, que integra o Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal do Pará, realiza, desde 2020, a identificação e o monitoramento das cepas/linhagens e variantes que circulam entre os moradores de Belém e região metropolitana.
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or ser um vírus novo, sistêmico e que precisa de novas estratégias e informações detalhadas, por meio do sequenciamento genômico do SARS-CoV-2 (coletado a partir de exames RT-PCR realizados em pacientes com suspeita da doença), o Laboratório de Genética Humana e Médica e a Rede Genômica coordenada pelo Instituto Tecnológico Vale (Belém) ampliam, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (SESMA), o conhecimento e a vigilância sobre as cepas, suas linhagens e seus potenciais danos. O Laboratório, juntamente com a Rede Genômica, foi um dos primeiros a identificar no Brasil, ainda no ano passado, por exemplo, a circulação da variante Beta, como frisa sua coordenadora e professora titular da UFPA, Ândrea Ribeiro dos Santos. “A parceria com a prefeitura de Belém vem desde 2020, junto com o professor Cláudio Salgado, que é Diretor do Departamento de Vigilância à Saúde da SESMA/DEVS e também professor do ICB. As aná-
lises são feitas a partir da extração do material genético do vírus (a molécula de RNA) e do RT-qPCR, que é o exame que avalia a presença ou a ausência do SARS-CoV-2 e o sequenciamento propriamente dito para fazer a avaliação das cepas, linhagens e variantes que estão presentes na cidade de Belém”, afirma. O trabalho, por si desafiador, envolve profissionais, estudantes de mestrado e doutorado e demonstra um imenso comprometimento com a Ciência local, regional, nacional e os seus avanços. “O principal desafio encontrado foi ter que nos adequar, física e estruturalmente, para receber essas cepas/linhagens e variantes sem que os profissionais que estão trabalhando no laboratório se contaminem, uma vez que, enquanto a população se esconde do vírus, a gente o ‘convida’ a entrar no laboratório”, diz Ândrea. “Para isso a Administração Superior, desde o diretor do Instituto de Ciências Biológicas ao Reitor desta Instituição, foram incansáveis e fundamentais”, prossegue.
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Ainda segundo ela, os estudos desenvolvidos conseguiram identificar, até agora, aproximadamente 30 variações, sendo três delas classificadas como variantes “de preocupação” (COV). “Essas variantes são importantes porque estão sendo investigadas por órgãos competentes do mundo todo, incluindo o Ministério da Saúde, como variantes de maior transmissibilidade que, consequentemente, podem ocasionar maior gravidade. Mas também identificamos aquelas que não são tão impactantes do ponto de vista do adoecimento”, afirma. No Estado, foram contabilizados até o início deste mês, de acordo com dados atualizados do Ministério da Saúde e do Consórcio Nacional de Imprensa, 599 mil casos confirmados e 16.747 mortes ocasionadas pela COVID-19. A atuação conjunta da comunidade científica nacional e regional com as entidades de saúde responsáveis pelo monitoramento da população, como a SESMA e a Secretaria de Estado de Saúde
Pública do Pará (SESPA), são táticas importantes e salutares para a identificação das novas cepas/ linhagens e variantes, além da adoção de medidas para conter a contaminação. Nesse sentido, a aplicação das vacinas em adultos e adolescentes, em mais de 70% da população brasileira (vacinada com as duas doses do imunizante), já traz bons frutos. O cenário da COVID-19 em Belém, hoje, diz a pesquisadora Ândrea Ribeiro dos Santos, é mais animador, porém ainda requer muitos cuidados, uma vez que, ao contrário do que se vê nas ruas da cidade, a pandemia ainda não acabou. “Nós temos uma melhora significativa, principalmente na diminuição dos óbitos, mas a sociedade tem que entender que ainda estamos em uma pandemia. Precisamos fazer as medidas não-farmacológicas como o uso obrigatório de máscaras, a lavagem das mãos com sabão, o uso do álcool em gel e tentar, ao máximo, manter o distanciamento, além de evitar aglomerações. Essas são as melhores medidas que sempre teremos que tomar até a pandemia ‘acabar’ ou ‘diminuir’ para que esse cenário de melhoria possa seguir dentro da nossa cidade”, afirma. Além do combate ao vírus SARS-CoV-2, por meio da informação levantada nas pesquisas sobre cepas/linhagens e no detalhamento aprofundado das variantes, outros dois “confrontos” diários foram impostos aos profissionais do Laboratório de Genética Humana e Médica da UFPA: o combate ao negacionismo e à queda drástica dos investimentos em Ciência. “Sem Ciência e Tecnologia, um país não avança. Ele ficará estagnado e dependerá dos outros países. Apesar de tudo o que vem sofrendo com a negação da ciência e a diminuição dos recursos, acho que a sociedade científica brasileira respondeu muito bem aos desafios impostos, ajudando, atuando, respondendo, orientando. A sociedade precisa entender! Não só em Belém, mas na maioria das cidades do Brasil, observamos as pessoas já sem máscaras, aglomeradas, fazendo festas... Essa é
uma situação muito delicada, pois ainda estamos em uma pandemia. Em locais fechados, precisamos ter ainda mais cuidados. Ainda não é hora de ter liberação para 100% de público nesses locais. Precisamos orientar principalmente as crianças e os jovens na volta às aulas. Ter cuidado com os idosos, que estão em casa e têm mais dificuldade de responder à doença. Estamos indo bem, com calma. Só precisamos de um pouco mais de paciência”, afirma a pesquisadora. Sobre o futuro, em relação à pandemia em Belém, embora as perspectivas sejam melhores, ainda não é possível prever uma realidade tão diferente quando se fala em circulação do novo coronavírus. As medidas de proteção seguem necessárias e, nesse sentido, contar com o bom senso e a consciência da população ainda é fundamental. “Se você está doente, está com sintomas gripais, fique em casa. Não saia. Essa é uma medida muito salutar, pois você não vai transmitir o vírus para os seus colegas e nem a sua família. Devemos continuar com o uso de máscaras, sim. Eu acredito que até o final de 2022, tenhamos que manter algumas dessas medidas, mesmo que seja apenas o distanciamento social para prevenir algum surto localizado. Acredito que estaremos em um cenário bem melhor, mas diante dos estudos que estão sendo realizados, precisaremos sempre manter a vacinação como se mantém outras vacinações como as da gripe, por exemplo”, explana. E sim, devemos estar atentos e preparados: a Ciência nos diz que poderemos enfrentar novas epidemias, caso não haja um controle efetivo, especialmente na Amazônia, sobre os impactos socioambientais ocasionados por atividades predatórias realizadas na região. “Aqui na nossa região amazônica, as cidades vivem em um limite muito próximo à floresta e continuamos a agredir o ambiente para fazer assentamentos, pastos e plantações. Toda vez que causamos um desequilíbrio socioambiental, isso traz consequências muito importantes do ponto de vista da saúde. Temos que ter en-
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tendimentos maiores e melhores, novas estratégias para lidar com as próximas epidemias que virão”, enfatiza a pesquisadora. Após quase dois anos, não só na capital paraense, mas como em todo o país, a pandemia trouxe importantes e doloridos ensinamentos. Algumas delas perpassam pela necessidade de enxergar e investir na valorização da Ciência feita na Amazônia e na educação para o cuidado coletivo. “A primeira lição que a COVID-19 nos deixa é sobre o quanto a Ciência é importante e o quanto devemos educar muito bem nossos alunos, nossos filhos, no sentido de que eles zelem, não só pelo ambiente, mas também pelo próximo. A segunda lição que temos é a de que a Ciência que se faz no Brasil e na Amazônia é uma ciência de ponta, de vanguarda que, às vezes, dentro do próprio país, é discriminada. Muitas vezes, não se acredita que um trabalho de monitoramento genômico como esse venha de uma região tão simples, bela e misteriosa como a Amazônia. E a outra lição, não só para cientistas, mas para a população como um todo, é a de que cada um tem que fazer a sua parte para que possamos ter um mundo melhor. Precisamos agir não pensando mais em nós mesmos, mas sim em nossa comunidade, no bem-estar do próximo. É isso que nos torna humanos”, conclui.
Prof. e coordenadora do Laboratório de Genética Humana e Médica da UFPA, Ândrea Ribeiro dos Santos.
TECNOLOGIA
Por Thamyris Assunção Fotos: divulgação
Qualidade no tanque Parceria entre UFPA e ANP, para monitoramento de combustíveis, tem como objetivo garantia de boas procedências e desempenho otimizado. A FADESP apoia a iniciativa.
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tilizar um combustível de qualidade é, comprovadamente, um dos fatores que garantem a maior durabilidade de um veículo. Melhorar o desempenho do motor, ampliar o rendimento diário, reduzindo emissões de gases poluentes; ajudando no equilíbrio do consumo são algumas das vantagens de abastecer um carro ou caminhão com gasolina, etanol ou diesel de reconhecida procedência. Pensando na melhoria da qualidade do combustível ofertado aos consumidores, a Universidade Federal do Pará, em parceria com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), irá novamente integrar o Programa de Monitoramento da Qualidade de Combustíveis (PMQC) e o Programa de Monitoramento de Lubrificantes (PML), que avaliam, nas regiões Norte e Nordeste, respectivamente, a qualidade dos combustíveis, biocombustíveis e óleos lubrificantes ofertados pelos diversos agentes econômicos. Com a cobertura mínima de monitoramento de 70% nos municípios dos Estados do Pará e Amapá, serão coletadas pelo projeto, nos agentes econômicos de cada município abrangido (quando disponí-
veis) amostras de etanol, gasolina (comum ou aditivada) e óleo diesel (S10 ou S500) para que pesquisadores possam colaborar na identificação de não-conformidades e no fortalecimento de ações de fiscalização e controle de registros da Agência Nacional do Petróleo (ANP). As amostras deverão atender às demandas, em termos de análises físico-químicas, de órgãos conveniados à ANP, como Ministério Público, Procon, Secretaria de Fazenda, entre outros. Apoiada pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP), a iniciativa é defendida pelo coordenador do projeto e professor titular do Instituto de Ciências Exatas e Naturais da UFPA, prof. Dr. Geraldo Narciso. Segundo ele, o programa visa garantir maior segurança, ao consumidor, na utilização desses combustíveis. “Os monitoramentos asseguram aos consumidores a proteção de seus interesses, garantindo a comercialização de combustíveis, biocombustíveis e lubrificantes, de acordo com as especificações da ANP e, com isso, conferindo credibilidade à qualidade dos produtos consumidos no Brasil. Todos os resultados analíticos gerados pelo PMQC e
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PML são disponibilizados em relatórios mensais emitidos pela ANP. A consulta é pública e pode ser realizada diretamente no site da Agência”, comenta.
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Os monitoramentos asseguram aos consumidores a proteção de seus interesses, garantindo a comercialização de combustíveis, biocombustíveis e lubrificantes, de acordo com as especificações da ANP e, com isso, conferindo credibilidade à qualidade dos produtos consumidos no Brasil.”
Com previsão de duração de 12 meses, o programa abrangerá fases distintas. O PMQC compreenderá as seguintes etapas: planejamento mensal da logística de coleta, com definição dos municípios (regiões) a serem monitorados, sorteio mensal, no sistema LIMS (Sistema de Gerenciamento de Informações Laboratoriais) da ANP, dos postos revendedores, coleta de amostras de combustíveis (etanol, gasolina e óleo diesel) nos postos sorteados, armazenamento e transporte das amostras coletadas para o laboratório, análises físico-químicas das amostras e envio dos resultados analíticos para a ANP, através do sistema LIMS. Já o PML compreenderá as etapas de coleta de amostras de lubrificantes nos postos revendedores sorteados, transporte das amostras para o laboratório e envio dessas amostras coletadas para o Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas da ANP (CPT-ANP), em Brasília/DF, para serem analisadas. A parceria entre a ANP e a UFPA terá reinício até o final deste ano e, além de trazer vantagens aos consumidores, pretende contar com a ajuda destes no combate às supostas irregularidades que possam ser identificadas ainda nas bombas dos postos de gasolina. “Os consumidores podem ser parceiros desses programas, denunciando diretamente à Superintendência de Fiscalização da ANP (SFI-ANP) possíveis não conformidades observadas em combustíveis comercializados pelos agentes econômicos. Normalmente, a partir dessas denúncias, a SFI-ANP desenvolve campanhas de fiscalização, visando averiguar as possíveis não conformidades”, explica o coordenador. O projeto proporcionará também ganhos para a Universidade, uma vez que irá colaborar para a formação de recursos humanos com expertise na área de controle de qualidade de combustíveis e biocombustíveis, visando atender às necessidades do mercado local e nacional. Dependendo do veículo e de sua
O Programa de Monitoramento da Qualidade de Combustíveis – PMQC e o Programa de Monitoramento de Lubrificantes – PML – foram instituídos pela ANP e regulamentados pela Resolução ANP nº 8 de 10/02/2011, de modo a dar cumprimento às atribuições do órgão, especialmente ao disposto no artigo 8º da Lei 9.478/97, que trata da proteção dos interesses dos consumidores quanto à qualidade dos derivados do petró-
finalidade de uso, os combustíveis utilizados, por terem origens e características específicas, podem ser diferentes. E os estudos desenvolvidos a partir de parcerias como a realizada entre ANP e UFPA buscam, cada vez mais, possibilitar aos motoristas a oferta de produtos que sejam capazes de atingir um alto padrão de eficiência e performance. E, embora se discutam, em todo o mundo, novas fontes de abastecimento mais duradouras e sustentáveis, no Brasil, de acordo com a ANP, os tipos mais consumidos de combustíveis são a gasolina, o etanol hidratado – derivado da cana de açúcar – e o diesel. Ainda segundo a ANP, nos Estados do Pará e Amapá os mais utilizados são gasolina e óleo diesel.
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leo e dos biocombustíveis. Coordenados pela Superintendência de Biocombustíveis e de Qualidade de Produtos (SBQ), esses programas de monitoramento buscam abranger todo o território nacional. O PMQC foi instituído pela ANP no ano de 1998. Já o PML teve sua implantação em 2006. Nos Estados do Pará e Amapá, o PMQC iniciou suas atividades em março de 2005 e o PML, em 2006.
Prof. Dr. Geraldo Narciso
MEMÓRIA INTERIORIZAÇÃO
Por Lorena Filgueiras Fotos: Acervo pessoal e ASCOM/FADESP
A revolução da educação – parte I No já longínquo ano de 1987, quando a interiorização da educação superior foi iniciada, o projeto era, no mínimo, ousado, em face dos inúmeros desafios, de todas as ordens, que se interpunham para a graduação e formação de docentes.
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e a interiorização da educação superior pública, em alguns lugares do país, ainda hoje, representa a única possibilidade de cidadãos e trabalhadores poderem cursar uma graduação, imaginemos a extensão do caminho a ser pavimentado em meados da década de 80. Por natureza, projeto desafiador e complexo, à época, sua concretização era uma ousadia sem tamanho. Embora muitos anos nos separem daquele período, as lembranças são vívidas para a professora Leila Mourão, cuja figura foi essencial ao desenvolvimento do sonho. “Na década de 70, eu estava em São Paulo, compondo a equipe do Centro Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal para a Formação Profissional, CENAFOR, que fora instituído pelo Governo Militar, em 1969. Neste período, dos anos 70, dada a importância da região amazônica aos projetos governamentais, algumas atividades iniciais foram startadas junto com a UFPA, mas eram pontuais, temporárias, como a formação de professores – que sempre foi um problema gra-
víssimo”, relembra. Segundo dados da época, entre 1980 e 1984, dos 2.500 professores atuantes nas redes públicas estaduais e municipais, apenas 150 tinham formação superior. “Era uma situação tão extremamente complexa, que era dificílimo encontrar um Secretário municipal de educação ou diretor de URE que tivesse ensino superior completo!”, no interior do estado do Pará, complementa. Leila Mourão atenta para um detalhe: tal realidade era reconhecida desde meados da década de 70. “A situação era tão drástica, que o estudo realizado pelo MEC de 1985, com todas as regiões do país, mostrava essa situação para a região Norte. Na verdade, no início dos anos 80, o Anuário Estatístico Brasileiro também já apontava na mesma direção. Só para se ter uma ideia, aqui no Norte, havia uma Universidade federal (UFPA); as demais eram fundações e somente uma faculdade federal, a FCAP no Pará. Nos outros locais havia núcleos, que ofertavam cursos pontuais, temporários e com estruturas curriculares muito limitadas
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e em períodos intervalares, com cursos de curta duração, o que não atendia às necessidades daquele momento, no sentido de ampliar, democratizar o acesso ao ensino universitário. O acesso era muito difícil! Se não pelas longas distâncias, pela dificuldade de acesso!”, enfatiza.
Professora Leila Mourão
Leila Mourão afirma ainda que mesmo naquele período, as universidades viviam seus processos internos de estruturação, em função de seus curtos tempos de existência: a UFPA havia nascido em 1957 e a do Amazonas foi fundada em 1962. Programa de ampliação de acesso ao ensino superior Mourão rememora que, ao longo de 1985, vários encontros foram realizados, de modo a consolidar um projeto que se chamou “Processo de Interiorização das Universidades Amazônicas”, que contou com todos os dirigentes superiores e, a partir daí, surgiu a proposição de um Programa de Interiorização da Região Norte, que deveria ser incentivado pelas Instituições Federais de Educação do Norte. Na época, o reitor era o professor José de Seixas Lourenço e Nilson Pinto de Oliveira, pró-reitor. Ambos abraçaram a causa. Em 1989 Nilson Pinto assumiu a Reitoria deu continuidade consolidando o Projeto de Interiorização da UFPA. “A interiorização foi um ato de coragem, ousadia e teimosia” Assim a professora Leila Mourão definia o momento todo, revela entre risos. Já como coordenadora da interiorização, pela Universidade Federal do Pará, ela promoveu reuniões em todos os polos de desenvolvimento, mobilizando prefeituras, secretarias de educação, diretores de URES, para implantação do primeiro programa de interiorização. Inicialmente previsto para ocorrer em oito campi, a formação contemplava áreas básicas de formação de pessoal. “Foi uma loucura! Mas aí foi-se delineando o projeto de interiorização da UFPA”, diz. “Chegávamos aos locais de rabeta, barquinho, barcos e até de avião da FAB. Tivemos uma preocupação bem grande com os parâmetros fundamentais que nos orientavam: legitimidade da oferta e sua legalidade, além da participação da comunidade universitária nesse grande proje-
to!”, complementa. Para viabilizar, financeiramente, foi preciso pactuar pagamentos dos professores e todas as condições necessárias, junto aos entes envolvidos. “Vivíamos entre a cruz e a espada!”, ela segreda também entre risos. “Não era fácil porque a cada quatro anos havia eleições e, muitas vezes, os compromissos de campanha esvaíam-se, até porque havia os eleitos e os derrotados. Foi um aprendizado importantíssimo, pelo menos para mim, mas durante 11 anos, não tive um único final de semana livre”, finaliza. O novo sempre vem Então aluno da segunda turma de Letras (interiorização) do Campus Tocantins da UFPA, seu ex-coordenador e doutor em Educação, Doriedson do Socorro Rodrigues, relembra o momento em que ingressou no Ensino Superior. Era 1993, ou seja, poucos anos depois desde o começo efetivo do projeto de interiorização da UFPA. “O Campus Cametá começou a existir na escola Maria Cordeiro de Castro, em Cametá, que era muito distante do centro da cidade e que ficava nas proximidades de resquícios de uma mata e onde funcionava o estande de Tiro de Guerra, a partir do que se constituiu o Bairro da Matinha. Em 1987, lembro de ver as pessoas indo de bicicleta ou numa Kombi branca, que, posteriormente descobri ser o veículo que promovia a locomoção dos professores até a escola. Ganhei uma bolsa de magistério e quando terminei o curso, o que o mundo me oferecia era conseguir uma vaga, em algum lugar para dar aula ou mamãe conseguir um ‘balcão’ de comércio em que eu pudesse trabalhar. Tentei, ‘sem parentes importantes e vindo do interior’ fazer escola técnica e não passei. Posso dizer, que graças! Aí, surgiu o vestibular e eu me inscrevi! Fiz e passei e cursei períodos modulares, intervalares. Faltava energia no município e eu lembro, claramente, de transitar, de um bairro para o outro, para poder estudar.
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Professor Dr. Doriedson do Socorro Rodrigues
O máximo de tecnologia, à época, era retroprojetor. Às vezes, faltava lâmpada ou o pincel, as lâminas de acetato, mas os professores eram muito envolvidos, insistentes, apaixonados!”, recorda. “As casualidades importam muito e preciso mencionar que hoje o Campus de Cametá, por exemplo, tem um conjunto de professores que são fruto daquela fase da interiorização”. Segundo ele, ao olhar para trás, há que se ressaltar a importância de todos que abraçaram esse movimento. A FADESP foi um deles, a partir do estabelecimento de parcerias com o Estado.
Foto atual do campus de Cametá
Na próxima edição da Revista FADESP, que circulará a partir de fevereiro de 2022, acompanhe a segunda parte dessa viagem que levou educação superior pública e de qualidade aos quatro cantos do Estado.
PERFIL
Por Flávia Ribeiro Fotos: Naiara Jinknss
Inquietude,teu nome é Zélia.
Arte, ativismo e educação marcam a vida de Zélia Amador de Deus. Sua trajetória foi homenageada em um curta-metragem.
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nquieta, questionadora, insatisfeita. Foi assim que a professora Zélia Amador de Deus se definiu. Ela recebeu a equipe em sua casa, na semana em que fez aniversário e recebeu um prêmio internacional em reconhecimento por suas ações para os direitos humanos. Ela também se tornou tema de documentário e será homenageada por uma escola de samba de Belém. E tudo isso não foi conquistado à toa. A vida da ativista-artista-professora é voltada para e marcada pela educação. “Eu não saberia ser outra coisa na vida, sem ser professora. Eu gosto de ser professora. Sempre gostei. Eu tive a oportunidade de fazer Direito, mas optei por fazer Letras. Fiz Teatro. Não me arrependo de nada e faria tudo de novo!”, afirma Zélia. Mas tudo começou com o ativismo e ainda na infância. Nascida em Soure, cidade do arquipélago do Marajó, ela veio para Belém por decisão e esforço da avó, Francisca. “Aprendi com ela que eu era preta e que eu não era pior do que ninguém e ninguém era melhor que eu. Ela dizia: ‘tu és preta e vais estudar’. Ela fez toda a movimentação para que eu saísse de lá. Ela dizia que não queria para mim o mesmo destino da minha mãe. Quando nasci, minha mãe tinha acabado de fazer 15 anos
de idade. Aprendi desde cedo o que era ser preta e acredito que foi uma grande sorte. Porque, normalmente, as pessoas criavam crianças negras, sem dizer que elas eram negras e que por isso, elas passariam por situações ruins”, analisa. Mas do aprendizado com avó veio também muita observação e experiências, que marcariam a vida da professora. “Sempre fui uma pessoa intrinsecamente questionadora; questionava desde cedo. A minha avó dizia que eu não podia fazer algo. Aparentemente, eu acatava, mas eu ia por trás fazendo a minha experiência. De coisas simples como ‘não pode comer manga e tomar a açaí’. ‘Não pode tomar vinho de cupuaçu e tomar açaí’. Embora uma questionadora assim: parecia que eu acatava, mas eu ia experimentar depois”, diverte-se. Como estudante secundarista, começou a se envolver no movimento estudantil. Por essa época, já tinha experiência escrevendo, produzindo e dirigindo peças para a paróquia. “Tudo surgiu dessa minha inquietação, desde cedo. Eu era muito pobre e questionava a pobreza. Não achava que seria pobre para sempre. Não achava que a pobreza era justa. Eu era insatisfeita com a vida que tinha. Insatisfeita sempre! Até hoje sou uma pessoa in-
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satisfeita. O que faço é lutar para que a minha satisfação minimamente se conforme. O que é mais interessante é que nesse processo de insatisfação, tu consegues dar um passinho. Aí, queres mais sempre. Acho que isso sempre fez parte de mim, por isso nunca parei”, explica Zélia, que atualmente está na coordenação da Assessoria de Diversidade e Inclusão Social da UFPA. Devido à rotina, ela diminuiu o tempo dedicado ao Teatro, mas pontua que esse é um âmbito importante de sua vida. “O Teatro me ajudou muito a ser quem eu sou. Já fazia teatro de paróquia. Mas no primeiro ano da graduação em Letras, entrei também na escola para ser atriz e foi uma espécie de terapia para mim, para que eu me afirmasse como uma mulher negra, para que eu cada vez mais afirmasse o meu corpo”, pontua. Co- fundadora do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), ela continua inteira e entregue às lutas coletivas. “O movimento tem tido vitórias porque nunca age uma pessoa única. É sempre um trabalho coletivo, é sempre um trabalho que junta a resistência de todas as pessoas negras, que, em um determinado momento, tomaram consciência de que têm que lutar para recuperar a humanidade que foi arrancada. Desde o porão
mas não era enxergado. Só passou a ser visto quando o movimento negro vem para a cena com a reivindicação de cotas para negras e negros”, analisa a intelectual, explicando que, ao contrário de outros estudiosos, não usa o termo branquitude, para que não seja confundido como o antônimo de negritude. “A negritude é um processo de luta, já a branquidade está posta desde a colonização. Nenhum branco precisou lutar para se afirmar como branco”. dos navios negreiros, esse trabalho já iniciava, e temos a tarefa de continuar com ele”, afirma a ativista. Zélia tornou-se professora da UFPA em 1978 e é uma das fundadoras do Grupo de Estudos Afroamazônico (Geam), que foi o responsável pelo projeto de cotas raciais na Instituição. “Nós temos que estar na universidade e a nossa presença tem forçado a universidade a mudar. Hoje, todas as universidades falam em descolonizar a educação, em saberes outros para além dos de origem europeia. Isso graças aos que estavam historicamente longe das universidades, que não entram sozinhos; você carrega no corpo, histórias, memórias. Por isso as cotas são importantes. Quando você entra sozinho é mais fácil subsumir, mas com um grupo maior é mais fácil se afirmar”, destaca a professora emérita da Instituição, que adota a reserva de vagas desde 2013. Seu nome é uma referência quando se debate políticas afirmativas no Brasil, e para ela, essa é uma das grandes vitórias para a sociedade. “A aprovação da lei de cotas é fruto de uma luta histórica do movimento negro. A branquidade racializou os negros, os indígenas, mas ela não tem raça, ela não precisa de raça, é algo que não diz respeito a ela. É nessa hora que a branquidade começa a pensar em raça e começar a falar. É quando sai do seu silêncio secular. Para falar e garantir o que historicamente era direito exclusivo dela: as vagas em universidades públicas. E ainda descobrem o branco pobre, que estava secularmente na sociedade brasileira,
Amador, Zélia Foi a atriz Zélia Amador quem primeiro tocou o jornalista Ismael Machado. Ele ainda era adolescente quando começou a frequentar o Teatro Waldemar Henrique e a conheceu. Como estudante universitário, ele a encontrou no espaço acadêmico, como professora da UFPA. Depois, como profissional, ela se tornou fonte de matérias. “Eu tive uma matéria indicada ao prêmio Abdias Nascimento, em que Zélia foi uma das entrevistadas. Ela deixou de ser só uma fonte e passou a ser alguém mais próximo, por quem sempre tive respeito e admiração”, confessa o jornalista e roteirista paraense. No ano passado, em meio à pandemia, ele, ao lado de outros profissionais, iniciaram uma produtora, a Floresta Urbana. A empresa submeteu um projeto e foi contemplada no edital de cultura afro da Lei Aldir Blanc, viabilizado pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP), em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura (Secult). “Já fizeram matérias e vários trabalhos sobre ela, mas nunca houve um documentário. Antes de começar, eu liguei para ela e pedi autorização. E nunca vou esquecer a resposta dela: pode, só não sei se vai dar caldo”, diverte-se o jornalista. Em pouco mais de 22 minutos, a trajetória de Zélia foi contada, desde o Marajó até os dias de hoje. Machado comenta que começou o roteiro, mas no meio achou que “estava chato” e reescreveu. Os recursos do edital proporcionaram a remuneração de 15
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pessoas. “Isso tudo deu sentido social para o que fizemos e estamos felizes com o resultado. Só na noite de lançamento foram mais de três minutos de aplausos. O trabalho tem repercutido não só no Pará, mas em outros estados e até fora do país. Não era para ser polêmico; era para ser uma homenagem, e conseguimos em uma linguagem que não ficou cansativa. A Zélia tem uma importância muito grande nos espaços por onde anda, porque ela abre caminhos. Na universidade, por exemplo, ela acaba servindo de espelho e de referência”, destaca. O documentário está disponível gratuitamente no site com o mesmo nome do curta e no Youtube.
Acesse o QR ao lado para ver o documentário.
CAPA
Por Lorena Filgueiras Fotos: Renato Parada / Acervo familiar
Paulo Freire vive e se reinventa!
No ano que a sociedade celebra o centenário de nascimento de Paulo Freire, a revista FADESP convidou seu filho caçula, o sociólogo, professor e coordenador do Arquivo Paulo Freire, Lutgardes Freire, para ser a entrevista principal desta última edição de 2021. Gentil, cativante e muito sorridente, nosso entrevistado especial rememorou a mãe e épocas distintas da vida familiar, marcada pelo exílio [longos 16 anos]. Sem perder a doçura, talvez um dos legados emocionais mais fortes da mãe, Elza, e do pai, Paulo, Lutgardes se emocionou, falou do cenário histórico tão difícil, das ofensas à memória do patrono da educação brasileira e revela as últimas frases do educador que mudou, para sempre, a visão sobre alfabetização, educação integradora, reforçando – talvez – uma inspiração que veio de seu maior Mestre: é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Revista FADESP: Gostaria de começar essa entrevista pelo que entendo ser o começo de toda uma trajetória muito aguerrida, que foi a prisão do Paulo [o educador foi preso, em 1964, e ficou em cárcere por 72 dias, acusado de subversão e de querer implantar o comunismo no país]. Li, em um relato dele, que seus pais decidiram omitir a prisão de Joaquim e de você, que era o menor de todos. Posteriormente, já no exílio, ele revelou o encarceramento, com detalhes. Você lembra desse momento, especificamente, dessa conversa? Lutgardes Freire: Eu tinha 4 ou 5 anos. Era uma criança e meu irmão era dois anos mais velho que eu, ou seja, muito jovem também. Minha mãe achou melhor não contar para a gente, porque ela achava, primeiro, que não entenderíamos e, em segundo lugar, que poderíamos ficar traumatizados com isso, chocados. Quando, mais
tarde, viajamos para o Chile, eu já estava com quase 7 anos e Joaquim, 9, nosso pai revelou a prisão. Durante a prisão dele, achávamos que ele estava viajando, porque era o que nossa mãe nos dizia... mas também víamos ela chorar pelos cantos da casa. A gente sabia que havia algo estranho, mas não sabíamos exatamente o que era, tanto que quando chegamos ao Chile, eu achava que estava no Brasil e falava Português com as outras crianças. Eu dizia: “vocês são loucos, porque não entendem o que digo!”, enquanto eles diziam: “louco é você que não entende o Espanhol!”. [ele ri]. Demorou um tempo até assimilar que morávamos em outro país. Revista FADESP: Sempre que ouço ou leio matérias relacionadas a esse período da vida de vocês, percebo que sua mãe, Elza, era considerada a espinha dorsal da família, ao pas-
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so que você se refere ao exílio como uma “grande fratura emocional”.... Lutgardes Freire: Meu pai sempre dizia: “Elza é minha infraestrutura e eu sou a superestrutura da família”. O papel de minha mãe é enorme para nossa sobrevivência desde a época do exílio e até mesmo antes dele. Quando se casaram, em 1944, eles tinham uma vida um tanto quanto pobre, difícil, mas eles foram melhorando e meu pai quis ser advogado, formando-se em Direito no Recife. Sua primeira causa foi defender os interesses de um credor junto a um dentista. Chegando à casa do dentista, que era muito humilde, meu pai disse que ele teria de pagar a dívida, ao que o dentista disse que teria de vender seus instrumentos de trabalho. “Mas, aí, como eu vou viver? O senhor pode levar esse tapete, o sofá, aquela mesa... mas a minha vida o senhor não vai levar”. Meu pai ficou tão chocado com aquilo, sabe, Lorena,
“ que ele voltou para casa e disse: “Elza, eu não sou mais advogado!”. Minha mãe, que já era professora primária no Recife, respondeu: “mas eu já sabia que você não prestava para a Advocacia! Seu dom é a educação!”. Felizmente, ele não seguiu a carreira de advogado! [e ri] No exílio, minha mãe foi uma pessoa fundamental à manutenção dos nossos equilíbrios psíquico, mental e sobrevivência! Ela cuidava de todos nós, cozinhava... e teve uma importância sem igual durante o tempo em que viveu com meu pai. Há quem diga que ela foi uma “educadora silenciosa” de papai. Ela foi a primeira leitora dele, a primeira pessoa a ler a “Pedagogia do Oprimido” e tem muito dela na obra! Ela era uma mulher muito forte! Revista FADESP: Qual a maior herança emocional que você tem dela, professor? [Lutgardes fica em silêncio
Elza Freire
por um tempo, está emocionado. Até que começa a responder aos poucos] Lutgardes Freire: Essa pergunta me deixa um pouco emocionado. É difícil dizer, mas acho que a maior lembrança que tenho é ela, no Chile [primeiro país em que a família viveu, já no exílio], servindo aquele peixe de forno maravilhoso todos os domingos para nós! Nossa casa vivia cheia de pessoas: chilenos, estudantes chilenos, brasileiros exilados e não-exilados. Meu pai cativava muito as pessoas e aonde quer que fosse, a porta de casa estava sempre aberta para quem quisesse entrar. Ele gostava muito de conversar e era impressionante porque ele era hipnótico. Ainda criança, eu olhava e pensava “o que será que meu pai tem, que chama tanta gente? Que mágica será essa?”.
Meu pai começou a pensar que não precisava ir à Igreja para ter esse contato com Deus. Ele dizia: ‘Deus está dentro de mim! Meu corpo é o templo de Deus!’. O próprio Leonardo Boff disse que meu pai ‘foi o precursor da Teologia da Libertação’ e meu pai dizia: ‘se o próprio Leonardo Boff disse isso, quem sou eu para desdizer?’”
Revista FADESP: E descobriu a mágica? Lutgardes Freire: Ah, sim, claro! O que ele falava era tão cativante, porque era sobre a própria educação, mas seu aspecto óbvio, lógico da educação. Tanto que na América Latina ou na Europa, já não me lembro, cunharam um termo sobre ele: “andarilho da obviedade”! O que ele falava era óbvio, mas não era tanto assim! Isso atraía demais as pessoas. Revista FADESP: Neste ano, em que celebramos o centenário de nascimento de seu pai, atravessamos ainda um momento difícil, e a memória e o legado do Paulo foram muito atacados por defensores da extrema-direita. Como você vê a crescente ascensão, que não é só brasileira, mas global, do ultraconservadorismo e qual o sentimento diante da afirmação deles de que é “necessário expurgar a ideologia de Paulo Freire da educação brasileira”? Lutgardes Freire: Acho isso um absurdo, porque meu pai, >>>
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Paulo Freire
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sileiros, chilenos. Eles celebravam a missa em casa, eu lia a Bíblia. Era tudo muito bonito, e eu compreendi que meu pai não estava sendo desrespeitoso ou coisa do tipo, muito ao contrário, ele comungava conosco o contato com Deus, com Cristo.
em primeiro lugar, estava acima dos partidos! Até sua última obra, “Pedagogia da autonomia”, ele dizia que o livro não era apenas para aqueles que tinham uma ideologia de esquerda; mas para todos os professores, fossem eles de direita, centro-direita, centro-esquerda ou esquerda. São pontos básicos da educação! Meu pai era um intelectual que refletia sobre a filosofia da educação e sua obviedade. É uma lástima que as pessoas não entendam isso até hoje! Há quem diga que ele era comunista e meu pai não era. Ele costumava dizer: “olha, Lute, eu nada tenho contra o Comunismo, mas para mim, há um momento anterior da estadia do homem sobre a Terra!”. Meu pai acreditava em Deus, era muito católico. Sua mãe era católica. Meu pai perdeu o pai dele muito cedo, fato que impactou muito na vida dele. Sinto pena de quem não compreende a importância de meu pai para a educação brasileira e mundial! Agora sobre a ascensão, acho que estamos passando momentos históricos bastante complicados. Penso que os surgimentos dessas tendências neofascistas são empurrados pelo aspecto econômico das sociedades! O mundo inteiro está vivendo um período difí-
cil, não somente pela pandemia, mas pela própria utilização da terra. A Terra está clamando para que cuidem dela! Não podemos continuar destruindo o planeta em que vivemos e a extrema-direita está também se aproveitando disso, o que é uma lástima! Revista FADESP: Você falou de seu pai ser muito católico e me lembrou aqui algo que li, dito pelo próprio Paulo, de que, depois que ele conheceu a Teologia da Libertação, em algum momento, com muito jeitinho, ele comunicou à sua mãe que não comungaria mais na Igreja... Entretanto, o padre, em pessoa, foi à casa de vocês, compartilhar o pão. Lutgardes Freire: [ele cai na gargalhada] Ah, que lembrança maravilhosa! Isso foi no Chile, quando ainda éramos muito crianças. Meu pai começou a pensar que não precisava ir à Igreja para ter esse contato com Deus. Ele dizia: “Deus está dentro de mim! Meu corpo é o templo de Deus!”. O próprio Leonardo Boff disse que meu pai “foi o precursor da Teologia da Libertação” e meu pai dizia: “se o próprio Leonardo Boff disse isso, quem sou eu para desdizer?!?” [e ri novamente] No Chile, nossa casa era frequentada por padres bra-
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Revista FADESP: Como você acha que ele observaria esse momento de cortes na educação, altas nos preços, aumento do mapa da fome, exclusão, cortes na Pesquisa, fake news, ministro da educação dizendo que universidade é para poucos... ao mesmo tempo em que falamos mais abertamente sobre sexualidade, gênero, racismo, inclusão? Lutgardes Freire: Ele ficaria abismado com tudo isso! Penso que Deus faz as coisas certas.... mas meu pai era uma pessoa muito forte. Certamente, ele escreveria uma obra, que seria voltada para a Cultura, a Ecopedagogia... talvez um livro que recuperasse a terra, o mundo, a “Pedagogia da Ecologia”. Ele faria o que sempre amou fazer: ler, escrever, visitar as universidades. Ele tinha um amor louco pela vida! Tanto que, antes de morrer, ele dizia que queria ser lembrado como um homem que amou: as árvores, as plantas, as flores, os homens, as mulheres, o mundo! Ele foi fabuloso, um visionário! Revista FADESP: Para finalizar nossa conversa, nesse centenário de vida de Paulo Freire, como você gostaria que seu pai fosse cultivado? Lutgardes Freire: Olha, Lorena, preciso ser bem franco com você: meu pai não gostaria de ser “cultivado” [Lutgardes ri um pouco mais]. Ele dizia e acho que essas foram suas últimas palavras: “não quero ser imitado, venerado. Quero ser lembrado como alguém que vocês têm de reinventar! A melhor forma de me seguir é não me seguir”.
PREMIAÇÃO INTERNACIONAL
Por Lorena Filgueiras Foto: ASCOM/FADESP
Vida nas águas amazônicas A professora e cientista Thaisa Michelan foi agraciada, recentemente, com uma premiação nacional para Mulheres na Ciência da L’Oreal, em parceria com a Unesco e Academia Brasileira de Ciências, que destaca sua pesquisa sobre plantas aquáticas amazônicas e como podem impactar no futuro da humanidade.
“A
inda não encontrei palavras para expressar minha felicidade”, explica a pesquisadora e professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA Thaisa Michelan, quando perguntada sobre a premiação. “Receber o prêmio é conseguir mostrar para as alunas que estamos no caminho certo, que estudar conservação em um país que, apesar de atualmente não estar se preocupando com a biodiversidade, com as mudanças climáticas e com os impactos do homem no ambiente, ainda é uma linha de estudo valorizada, [e que] esse tipo de pesquisa é importante sim!”, complementa. O reconhecimento, pelo trabalho desenvolvido ao longo dos anos (e de parcerias estabelecidas no decorrer da vida científica), afirma Thaisa, é, sobretudo um “incentivo para todas as pesquisadoras da UFPA e do ICB”. O trabalho prevê ainda uma expedição pela Amazônia, para identificar as espécies em cada região e entender como as atividades humanas (tais como agricultura e agropecuária) podem impactar na reprodução dessas plantas. Os exemplares aos quais professora Thaisa Michelan se refere são habitualmente empregados no cotidiano das comunidades ribeirinhas, sejam na alimentação, ornamentação ou no conhecimen-
to tradicional. “Atualmente existe a necessidade de realizar estudos que sumarizem o conhecimento e que façam avaliações de como mudanças ambientais podem alterar a distribuição das macrófitas [plantas que podem ser vistas a olho nu] aquáticas”. O projeto, em questão, quer identificar ainda as lacunas existentes para esses organismos, realizando estimativa de distribuição potencial das espécies para suprir essa falha no conhecimento das macrófitas (com foco em espécies de interesse da comunidade) e concomitantemente, serão ainda avaliados os efeitos dos múltiplos usos do solo sobre a diversidade dessas plantas no Pará. “O desequilíbrio ambiental vem afetando não só as plantas aquáticas, mas todo o ecossistema aquático, infelizmente. A mudança abrupta da paisagem pelo desmatamento afeta a riqueza, abundâncias das espécies e isso causa um desequilíbrio das plantas e animais que vivem no local. Não é possível agora falar quantas espécies foram extintas ou estão no processo de extinção, isso porque as pesquisas na Amazônia ainda não são suficientes para se conhecer o que temos antes mesmo do impacto acontecer, por isso é tão importante trabalhos de biodiversidade como esse”, explica Michelan.
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Além da expedição, atualmente, outros três projetos em andamento e um em fase de contratação, são gerenciados pela FADESP. “Neles fazemos reconhecimento da biodiversidade e experimentos para identificação das espécies, que pode nos ajudar no melhoramento da qualidade dos ambientes aquáticos que nos cercam. Já que água é vida, e não nos restará muito sem a preservação dos corpos d’água”. “A FADESP é fundamental para administração dos projetos que possuímos no grupo e para execução de parcerias e convênios internos e externos, tantos públicos como privados. Temos todo o apoio legal e burocrático para o desenvolvimento dos nossos trabalhos”. “Sempre digo que trabalhamos para e pela sociedade. Não temos nenhum objetivo diferente do que fazer pesquisa e ensino de qualidade, com resultados que possam ser revertidos para melhorar a qualidade e as condições de vida das pessoas – é isso que me move como cientista e professora. Torço para que esse e que os próximos prêmios de mulheres na ciência possam servir de inspiração para nossas meninas, e esse projeto em especial que também leve a importância das plantas aquáticas e da biodiversidade para a população”, finaliza.
OPINIÃO
Políticas públicas, bem-estar social e desenvolvimento econômico: a trindade possível e urgente. As políticas públicas voltadas ao bem-estar social podem se constituir um verdadeiro motor do desenvolvimento econômico no Brasil. Para isso, Estado brasileiro deve colocar a Constituição e os direitos sociais no centro do orçamento. Trata-se, aqui, de articular a universalização dos direitos sociais e o desenvolvimento econômico em uma visão integrada da dimensão econômica e social, que supera o debate ortodoxo da economia apenas como alocação recursos escassos. O desenvolvimento, conforme definia o maior economista brasileiro do século XX, Celso Furtado, é o processo de transformação social pelo qual as necessidades humanas são atendidas através de um intenso processo de introdução de inovações tecnológicas no sistema econômico nacional. Nesse contexto, a economia brasileira deve começar a servir à população brasileira. Essa visão incorpora para além das políticas assistenciais, a relação virtuosa entre desenvolvimento econômico e políticas públicas voltadas para o bem-estar social. Se as políticas públicas são um conjunto de ações e decisões tomadas pelo Estado, visando assegurar direitos de cidadania garantidos na Constituição; o papel da economia nas políticas públicas é buscar justiça e bem-estar social. Quando deslocadas desse objetivo central e dessa abordagem, as decisões em torno apenas da alocação dos recursos públicos perdem sentido, tornando-se, assim, soluções técnicas que não levam em conta a realidade humana e social. A pandemia atual acentuou a importância desta perspectiva que
articula os direitos sociais (e ambientais) com a base cientifica, tecnológica e produtiva nacional. Essa é a abordagem do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), desenvolvida no início dos anos 2000. O compromisso de acesso universal em um país de dimensões continentais gera uma demanda proporcional ao desafio de garantir promoção, prevenção e atenção à saúde em escala nacional, que mobiliza um sistema econômico, produtivo e tecnológico, envolvendo setores industriais de base química e biotecnológica (fármacos, medicamentos, imunobiológicos, vacinas, hemoderivados e reagentes) e de base mecânica, eletrônica e de materiais (equipamentos mecânicos, eletrônicos, próteses, órteses e materiais). Esses setores industriais estão sendo revolucionados >>>
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Quando deslocadas desse objetivo central e dessa abordagem, as decisões em torno apenas da alocação dos recursos públicos perdem sentido, tornando-se, assim, soluções técnicas que não levam em conta a realidade humana e social.” 16
Foto: divulgação
Por Carlos Gadelha*
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(...) o Sistema Único de Saúde (SUS) — a principal política pública do Estado brasileiro — é um imenso patrimônio nacional. Sobretudo porque é a expressão prática de um direito humano e constitucional, capilarizado por todo território nacional, mas também porque se trata de uma potência econômica, que no Brasil responde por 9% do PIB, por pelo menos 15 milhões de empregos diretos e indiretos e por 30% da pesquisa brasileira.”
no contexto de emergência de novas tecnologias de informação e conectividade e relacionam-se com os serviços de saúde (hospitais, serviços de saúde e de diagnóstico) em dinâmica permanente de interdependência e de interação com a sociedade e o Estado na busca de oferta de serviços e produtos em saúde. No caso da produção de vacinas para o novo coronavírus, a articulação do mundo social, tecnológico, produtivo e da inovação como elementos embutidos em uma estratégia em que o conhecimento em saúde resulta em bens e serviços concretos, permitiu apreender a mútua determinação econômica e social (e ambiental) do desenvolvimento e a urgência de uma visão integrada de políticas públicas que articule essas dimensões de forma endógena, no âmbito de um projeto nacional de desenvolvimento. A análise integrada das dimensões econômicas e sociais permite afirmar, de modo analiticamente consistente, que Saúde é desenvolvimento no sentido mais nobre do termo, pois alia a garantia de um direito com criação de demanda econômica variada.
É por isso que o Sistema Único de Saúde (SUS) — a principal política pública do Estado brasileiro — é um imenso patrimônio nacional. Sobretudo porque é a expressão prática de um direito humano e constitucional, capilarizado por todo território nacional, mas também porque se trata de uma potência econômica, que no Brasil responde por 9% do PIB, por pelo menos 15 milhões de empregos diretos e indiretos e por 30% da pesquisa brasileira. A armadilha de insular políticas econômicas, de um lado, e as políticas sociais e de bem-estar, de outro, tem levado ao baixo crescimento econômico e trancado a sociedade brasileira na reprodução de uma estrutura produtiva insustentável e pouco dinâmica, que perpetua desigualdades sociais e limita direitos de cidadania à grande maioria da população. Ao contrário das políticas públicas com a marca setorial e muitas vezes capturadas por interesses particulares, temos que aprender um novo padrão de política pública que, ao mesmo tempo, seja sistêmico e comprometido com as demandas de nossa
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sociedade para garantir o bem-estar. Sistêmico, uma vez que o foco nas necessidades, como na saúde, envolve a articulação entre diferentes indústrias e serviços de saúde. Comprometidos com as demandas da sociedade porque, contrariamente a um desenvolvimentismo vulgar, não cabe apenas apoiar setores produtivos se esses não estiverem vinculados às necessidades sociais. Não apenas as políticas setoriais, mas também as ditas orientadas por missões precisam se inserir em realidades histórico-concretas das necessidades das pessoas que, afinal, financiam o Estado, o fomento e o poder de compra público. Com isso, tem-se a visão integrada do desenvolvimento, aliando o social e o econômico e orientando o debate político sobre o padrão de desenvolvimento desejado para nosso País. É para a sociedade real brasileira que as políticas econômicas, de desenvolvimento produtivo e de inovação devem estar direcionadas. A perspectiva do CEIS propõe uma abordagem passível de ser generalizada para viabilizar um padrão de desenvolvimento norteado pela equidade e sustentabilidade, pelo dinamismo econômico e tecnológico de um dos sistemas produtivos mais importantes e estratégicos do mundo e pela soberania para implementar políticas sociais para que possamos atender às necessidades de nossa sociedade e não deixar as pessoas vulneráveis pela irracionalidade de uma visão de desenvolvimento míope que opõe os direitos sociais à economia. Os direitos sociais e o direito à vida não apenas cabem no PIB, mas são parte essencial da solução, constituindo uma alavanca para a superação estrutural da crise. *Carlos Gadelha é coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho.
MEMÓRIA FADESP
Por Lorena Filgueiras Fotos: ASCOM FADESP / Acervo pessoal
FADESP apresenta identidade visual atualizada No mês em que comemora 44 anos de existência, a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa apresenta seu logotipo modernizado, em valorização à história do protagonismo da FADESP e revelando uma história cheia de carinho por trás da criação de seu símbolo.
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or trás de todo símbolo, há inúmeras histórias: são inspirações, contextos históricos, homenagens. A lista é extensa e pode surpreender. Com o logotipo da FADESP não foi diferente. Após sua criação ser autorizada pelo Conselho Universitário da Universidade Federal do Pará, conforme resolução apresentada em reunião do dia 12 de novembro de 1976 (parecer número 17 da Câmara de Legislação e Normas no processo número 010.759), a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa – FADESP – nascia um ano depois, em 18 de novembro de 1977. “(...) com finalidade precípua de incentivar e apoiar pesquisa científica, podendo mesmo ampliar essa finalidade em outros campos da ciência, pesquisa e cultura em geral”, conforme descrita em sua escritura pública, a FADESP foi fundada pela UFPA e pela Associação Comercial do Pará – ACP. À época, a constituição do patrimônio ficou assim dividida: “a primeira Outorgante, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, concorre com a doação de CENTO E CINCOENTA MIL CRUZEIROS (Cr$150.000,000); e a segunda Outorgante, ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PARÁ concorre com CINCOENTA MIL CRUZEIROS (CrS 50.000,000)”, como conta também na escritura pública, que foi lavrada na presença do então reitor da UFPA, Aracy Amazonas Barreto e do presidente da ACP à época, Affonso Gadelha Simas. “O primeiro local que abrigou a sede da FADESP foi o pavilhão do curso de Geociências”, conta João Carlos Pena, coordenador de Consultoria e Desenvolvimento Institucional e um dos colaboradores com mais tempo de casa. Era final da década de 70. “O primeiro time de pesquisadores, professores a compor a FADESP era de pessoas muito apaixonadas pelo que faziam”, relembra Albertina Fortuna, professora aposentada da UFPA e que foi uma das primei-
Capa do relatório de gestão da FADESP, em 1979. No documento, aparece o ícone pela primeira vez.
ras coordenadoras da Área de Projetos da FADESP. Aos 83 anos e morando em Brasília, a professora conta, saudosa, que os primeiros anos exigiram muita dedicação. “Eu que reunia com os pesquisadores, professores, com o intuito de angariar mais recursos para a Fundação e, naquele começo, era necessário ter um relatório, uma prestação de contas, para mostrar que tínhamos novidades e que estávamos crescendo. Meu pai, contaminado por meu entusiasmo e empolgação, decidiu criar um ícone para compor o nome da Fundação e nasceu esse desenho”, complementa. O pai de professora Albertina era o cartógrafo e desenhista Maÿr Fortuna, responsável também pela criação do primeiro brasão da Universidade Federal do Pará. Maÿr Fortuna era maranhense de nascimento e sempre teve um notável talento para desenho a mão, segundo Albertina nos conta. “Ele era de 1904 e durante a Segunda Guerra Mundial, morou por um tempo no Museu Goeldi, onde era responsável por reproduzir, em desenho, os artefatos indígenas que os cientistas e pesquisadores traziam. Os desenhos constituíam-se em inventários”, afirma. O prato ou a “mandala amazônica”, na definição do ex-diretor da Fadesp, Marcos Ximenes Ponte, ficou pronto seis meses depois de Maÿr começar a desenhá-lo. “Ele era muito cuidadoso, estudioso das culturas 18
indígenas e fez cada traço com enorme cuidado. Ele fez numa cartolina e seis meses depois, quando o levei para a FADESP, o desenho foi afixado numa placa de madeira”, diz Albertina. Atualizado para o futuro Com o desgaste natural do tempo, alguns traços da mandala amazônica não mais estavam visíveis. Diante da proximidade do aniversário de 45 anos da FADESP, seu diretor executivo Roberto Ferraz Barreto topou a ideia de preservar o original, atualizando e reforçando todo o grafismo. Entrava em campo uma equipe composta pela Assessoria de Comunicação da Fundação e do publicitário/designer Aurélio Oliveira, cuja proposta de modernização da marca foi a ganhadora. “Valorizamos os grafismos, ressaltando todos os detalhes e o resultado foi rico, surpreendente, porque há vários círculos dentro do círculo maior. Uma roda da fortuna, da vida e de prosperidade”, declarou Oliveira, que também é o responsável pela nova tipografia da FADESP – cujas letras ganharam cantos mais arredondados e ar nostálgico da década de 70, em homenagem à década em que a Fundação nasceu.
Na próxima edição, continuamos a viagem pelos 44 anos da FADESP. Até lá!
INSTITUCIONAL
Por Brena Marques Foto: divulgação
Lei Aldir Blanc incentiva cultura no Pará
Somente pela FADESP, a lei de auxílio emergencial à cultura contemplou 139 projetos indígenas e afro-brasileiros da região. A Lei Aldir Blanc tem como objetivo fomentar trabalhadores do setor cultural, por meio de auxílio emergencial, para diminuir os impactos sociais e econômicos sofridos pelos artistas e agentes da área, durante a pandemia da Covid-19. A Secretaria de Estado de Cultura do Pará (SECULT), em parceria com a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP), divulgou dois editais: Culturas indígenas e afro-brasileiras, contemplando valores entre R$ 10mil e R$ 40mil. O professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenador técnico dos dois editais pela FADESP, Flávio Barros, afirma a importância da valorização da produção cultural paraense, através dos editais, em específico desses grupos. “Historicamente, esses coletivos foram e são negligenciados em termos de políticas públicas de fortalecimento de suas culturas, que são tão ricas e fundamentais para o estado do Pará, o qual deve valorizar e proteger esse patrimônio cultural material e imaterial”, ressalta. Ao todo, foram 40 prêmios para o edital de culturas indígenas e 99 para o edital de cultura afro-brasileira, permitindo apoio para várias atividades, como produção de artesanatos; fortalecimento da
cultura alimentar; divulgação de expressões culturais como festas, danças, cantos, histórias e rituais; combate ao racismo, preconceitos e intolerância religiosa; dentre outras. “A cultura está presente em todos os territórios, ou seja, no interior das florestas, rios, mangues, nas várzeas, aldeias, quilombos, terreiros, cidades, bairros e periferias”, afirma Barros, ao dizer que o estado do Pará conseguiu driblar desafios, em face de sua extensão de dimensões continentais e por ser geograficamente complexo, em que as condições materiais, de logística, de transportes, escoamento e comunicação são distintas, a depender da região. “Considerando esse aspecto, nosso estado saiu na frente, uma vez que ampliou a visão da cultura, valorizando a diversidade, os territórios, os modos de saber, criar e fazer dos povos indígenas, comunidades tradicionais, e coletivos afro-brasileiros. ”, disse. O resultado foi satisfatório, houve muito engajamento entre os premiados e as equipes que acompanharam os projetos, desde o início das contratações, até a entrega dos relatórios de atividade. “Sem esse acompanhamento de perto, dadas as condições de logística e comunicação (falta de energia elé-
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trica, ausência de internet, rede de telefonia precária) e especificidades dos grupos sociais (sociedades de tradição oral, cosmologias específicas, tempo da natureza, tempo do santo), todo esse trabalho com resultados fantásticos não teria sido possível”, conta Flávio. Cerca de 99% dos premiados cumpriram com a entrega dos relatórios, um resultado considerado excelente pelo coordenador, que ainda agradeceu todos que ajudaram na coordenação. “O time de consultores ad hoc, formado por professores doutores e a equipe de colaboradores, foi fundamental nesse processo. Os profissionais da FADESP, e da Secult, também foram essenciais para que nossos propósitos fossem alcançados com êxito”, finaliza.
Professor Flávio Barros
INSTITUCIONAL
Sefa assina contrato com FADESP para realização de concurso público No dia 6 de outubro, a Secretaria da Fazenda (Sefa) assinou contrato com a FADESP, banca que ficará responsável pela elaboração e realização do concurso. Serão 110 vagas, sendo 10 imediatas para fiscais de receitas estaduais com remuneração de R$11.910,51, e 38 vagas imediatas para auditores fiscais de receitas estaduais com salário de R$15.076,58, além de 62 para cadastro reserva. O concurso será realizado nos municípios de: Altamira, Belém, Marabá, Santarém, Itaituba e Redenção.
FADESP divulga Relatório de Gestão 2020 O documento, que tem como temática “Ciência e Solidariedade”, é um compilado de informações orçamentárias, financeiras, operacionais, bem como resultado de gestão de projetos, relacionado a ensino, pesquisa e inovação, foi concluído e seguiu para aprovação do CONSUN/UFPA (não realizada até o fechamento desta edição). Este é um documento que serve de norteador de ações e prestação de contas junto à sociedade civil e às instituições pela FADESP apoiadas.
A Bienal Amazônia 2022 já tem sua primeira edição programada e ocorrerá entre os meses de março a dezembro. A capital paraense será o centro da convergência de ações do evento e contará com atividades em diversos espaços públicos, além de museus e galerias de Belém. As curadoras responsáveis pelo trabalho são: Flavya Mutran, que atua no campo da Arte e Comunicação desde 1989, doutora em Artes Visuais; Keyna Eleyson, diretora artística do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ); Sandra Benites, curadora adjunta do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP); e Vania Leal, coordenadora da Curadoria Educacional do Projeto Arte Pará, desde 2007. A Bienal tem patrocínio do Instituto Cultural Vale e Mercado Livre, e a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) é parceira do evento, contribuindo para o fomento à arte e livre criação na região.
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Foto: Walda Marques
FADESP apoia a Bienal das Amazônias
Curadoras: Sandra Benites, Flavya Mutran, Keyna Eleyson e Vania Leal.
Gestão de projetos tem nova coordenadora
Círio 2021
Na manhã do dia 8 de outubro, colaboradores da FADESP reuniram-se, em uma benção à céu aberto, em celebração a mais um Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Pelo segundo ano, conforme determinações das autoridades públicas, em função da pandemia do Coronavírus, a procissão não foi realizada. Conscientes do momento e de que o Círio é, sobretudo, um estado de espírito, a Fundação realizou um ato para conectar a todos – respeitando o distanciamento e demais protocolos de biossegurança.
Manual do Sistema de Comunicação de Venda de Veículos do DETRAN O livreto elaborado pela FADESP possui 6 passos autoexplicativos com o objetivo de orientar na navegação do novo Sistema de Comunicação de Venda de Veículos – SCVV, criado por meio do Termo de Cooperação Técnica entre a Associação dos Notários e Registradores do Estado do Pará (Anoreg/PA) e o Departamento de Trânsito do Pará (Detran/PA). O manual será utilizado no treinamento presencial dos cartórios com os tabeliões, para que possam assim, realizar o processo de comunicação da venda de veículo de forma correta, otimizada, diminuindo o risco de fraude e facilitando a vida do cidadão.
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A administradora, com pós-graduação em Gestão Púbica, Natália Raiol é a nova coordenadora do Setor de Projetos da FADESP. Área de extrema importância e de alta demanda, o setor de Projetos não é desconhecido a Natália, que já o coordenou, no fim da década de 90. “Trabalhei na FADESP de 1994 a 2011. Destes 17 anos, cinco foram como analista de projetos; quinze anos como coordenadora da área, que me proporcionou grande experiência na gestão de projetos e me possibilitou levar esse conhecimento para outras instituições voltadas ao gerenciamento e fomento da pesquisa, como foi o caso da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (FAPESPA); Pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação/UFPA e DETRAN. Em 2020, retornei à FADESP para compor a equipe do setor de concursos”, conta ela. Feliz por estar de volta, a nova coordenadora afirma estar motivada, por ser uma atividade que é sua paixão. “A cada dia nos deparamos com um universo de situações que nos motivam a buscar o conhecimento e esse é o grande desafio. E para a coordenação do setor de projetos é buscar alternativas inovadoras no atendimento dos objetivos da Fundação, possibilitando maior competitividade e sucesso na nossa prestação de serviços junto à comunidade acadêmica e nossas instituições apoiadas”, finaliza.
POR DENTRO DA FADESP
FADESP retoma certames presenciais No dia 3 de outubro, a FADESP realizou as provas para o processo seletivo da Prefeitura de Cametá - cargo de agente comunitário de saúde. O certame, organizado e executado pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, contou com 4.662 candidatos disputando 135 vagas. O concurso ocorre depois de um período de adiamento, em função da fase mais dura da pandemia de Covid-19. Com o avanço da vacinação, Prefeitura de Cametá e a Fadesp decidiram retomar o processo, sem abrir mão de todos os protocolos de biossegurança.
A prova foi aplicada em 23 escolas e instituições – visando a garantir distanciamento social seguro para todos os envolvidos: candidatos, colaboradores e equipe da Fadesp. Na entrada dos locais de prova todos tiveram temperatura aferida e mãos higienizadas. A segunda etapa ocorreu no dia 31 de outubro e reuniu 152 candidatos. Não houve faltosos nesta reta final. Todos os detalhes sobre o setor de Concursos e Seleções, bem como resultados correlatos podem ser conferidos em www.portalfadesp.org.br.
Processo Seletivo da Prefeitura Municipal de Igarapé-Açu São 137 vagas para Agentes Comunitários de Saúde, sendo 18 vagas imediatas e 119 para cadastro reserva, os cargos são para ensino médio. A 1° etapa da prova será dia 12/12/2021, e a segunda no dia 16/01/2022. A responsável pelo planejamento e elaboração do Processo Seletivo é a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP).
FADESP e Prefeitura de Marabá finalizam concurso da Câmara Municipal
FADESP realizou Processo Seletivo da Prefeitura de Abaetetuba
O certame contou com 5.031 inscritos para o preenchimento de 120 vagas imediatas, além de 65 cadastros reservas para o cargo de Agente Comunitário de Saúde (ACS) da Prefeitura de Abaetetuba. A responsável pelo planejamento e elaboração do certame é a FADESP, que investiu em treinamento e reforçou os protocolos sanitários de
prevenção contra Covid-19, garantindo a segurança dos fiscais e candidatos. A primeira etapa foi realizada no dia 10 de outubro e contou com 30 questões. A segunda ocorreu no dia 14 de novembro com 20 questões. Para o preenchimento do cargo é exigido que o candidato tenha o ensino médio completo, a idade mínima de 18 anos e residir na região onde pretende atuar. 22
A Câmara Municipal de Marabá realizou no dia 26 de setembro, a prova prática da última etapa do concurso público para o cargo de técnico de tradução e interpretação de Libras. Conduzido pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP), o certame contou com 11 candidatos na fase final e uma complexa estrutura de vídeo para os testes dos candidatos. Todo equipamento, montagem e operação ficaram a cargo do NITAE². A banca avaliadora foi composta por professores da UFPA. A coordenação do concurso autorizou a abertura do portão de acesso às dependências da Câmara Municipal de Marabá, local de realização da prova prática final, às 7h. Todos os finalistas foram conduzidos à sala de espera, após checagem de temperatura e higienização das mãos com álcool em gel. Também foi solicitado que todos desabilitassem alarmes dos celulares, desligassem os aparelhos, para guardá-los nos sacos com lacre de proteção.
Páginas de conhecimento, história e cultura: 1 ano da Revista Fadesp!
A Revista Fadesp é uma produção da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa - FADESP, por meio da Editora Fadesp.
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Agir pelo futuro é cuidar do agora. Esse é o compromisso do Plano de Gestão da Biodiversidade Vale, que atua de forma significativa para manter o equilíbrio entre o crescimento econômico aliado à proteção ao meio ambiente e ao desenvolvimento social, contribuindo para a conservação da fauna e flora brasileira. Entenda a importância de cuidar de um dos maiores biomas do mundo em “Um olhar sustentável para a Amazônia”, uma websérie em 5 episódios.
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