COSMOS

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Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM | Turma DSG 3A | 2022.1 Curso de Graduação em Design com habilitação em Comunicação Visual e ênfase em Marketing Projeto integrado do 3º semestre Projeto III- Cultura e Informação: Marise de Chirico Produção Gráfica: Marcos Mello Cor e Percepção: Paula Csillag Ergonomia: Matheus Alves Passaro Finanças Aplicadas de Mercado: Alexandre Ripamonti Marketing Estratégico: Leonardo Aureliano Projeto editorial e gráfico Allan Takara | Antonio Carvalhal | Bianca Telles Gabriel Lemos | Henrique Bloj

Pra você que está se sentindo perdido com o rumo que a sustentabilidade no Brasil está indo e precisa de um guia pra se reconectar com a natureza e o mundo ao seu redor, te apresentamos a COSMOS. Uma bússola no meio dessa desconexão existente na sociedade atual, que te guia por meio de processos inovadores dentro de diversas áreas criativas. Uma revista criada para ser a voz da reconexão entre a natureza e a sociedade. A COSMOS é o meio que vai te guiar nesse processo de reconexão e vai te auxiliar a entender a sustentabilidade por meio de processos inovadores nas áreas de design, moda e arquitetura. A gente começa pelo eixo Eu sou o outro você, onde a fotografia é a linguagem principal. Vamos te apresentar à natureza e consequentemente à alguem que nos inspira em cada edição. Já no Eu sou vamos conhecer um pouco sobre o lifestyle sustentável, apresentando dicas de como ter o seu próprio ambiente natural, para poder estar mais perto da natureza. Agora no eixo Eu sinto a gente passa pelos processos de inovação sustentáveis, entrando dentro desse universo. Em seguida vamos para Eu entendo, onde introduzimos problemáticas e projetos na área do design, pensando na preocupação dos designers com a natureza e em como podemos nos reconectar com ela. No eixo Eu reflito vamos conhecer processos sustentáveis na moda, estilistas que praticam a inovação pois se preocupam com a natureza, além de aprender a customizar as suas próprias roupas de uma maneira sustentável. E por fim, em Meu eu, vamos conhecer projetos na área de arquitetura. Além disso, teremos recomendações de livros, filmes e séries para você se aprofundar nesses temas. A COSMOS, então é o encontro do ser com a natureza, de modo que possamos nos reconectar com ela e entender que somos iguais a ela. Esperamos que você se sinta reconectado e tenha uma experiência única.



COLABORADORES

tamer gahed Diretor de fotografia | Narrador visual entre Dubai / Cairo com paixão por uma fotografia de rua

Marcos mello Designer, tipógrafo e letterpress printer, hoje é professor na ESPM e na FAAP, sócio diretor da Oficina Tipográfica São Paulo – OTSP, ONG voltada à pesquisa da memória tipográfica.

marcelo soubhia Fundador da Agência FOTOSITE, especializada em desfiles de moda, Marcelo Soubhia desenvolve, há mais de 20 anos, trabalhos de fotografia e edição de imagens para clientes dos mercados editorial e corporativo.

Myrthe Giesbers Fotógrafa nascida em Amsterdã e que atualmente redide em New York. Trabalha com fotografia de moda.



SUMÁRIO

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14 EU SOU O OUTRO VOCÊ

EU SOU

26 Quem sou eu?

30 Qual prioridade o B rasil (não) dá à mobilidade urbana sustentável? 36 Plano de Metas 44 Brasil constrói sua 1º cidade 100% inteligente e sustentável 48 Re-use 50 Coluna


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EU ENTENDO

EU REFLITO

MEU EU

60 Prêmio Design Sustentável promove visibilidade durante Femur

78 Como o metaverso está transformando a moda

120 Como pensar na arquitetura de forma sustentável?

64 Projeto na Rocinha fabrica skates usando tampinhas plásticas

84 Slow Fashion e Fast Fashion

124 Dia da Terra 2022

70 Design sustentável: o que é e a bordagens 54 Se integra: afinal existe design sustentável 68 Cultura Cosmos 74 Coluna

90 Moda Circular 94 Coleção "Roots of Rebirth" 106 Sustentabilidade na Indústria da Moda 98 EcoFashion 100 Se integra: Ronaldo Fraga enquanto artista

134 Arquitetura Sustentável melhora qualidade de vida residencial em Brasília 116 Se integra: Bárbara Miranda 128 Se integra: Michele Olivieri 138 Coluna 140 Cosmos Zodíaco 144 Cosmos na arte


RESUMINHO

Brasil constrói sua 1ª cidade 100% inteligente e sustentável Ela está chegando e já tem até nome: Croatá Laguna EcoPark. Trata-se da primeira cidade 100% inteligente e sustentável a ser construída no Brasil, com apoio das companhias italianas Planeta Idea e SocialFare e da StarTAU, nome do Centro de Empreendedorismo da Universidade de Tel Aviv, em Israel. O empreendimento está sendo erguido no Ceará e deve se tornar referência para outros municípios do Brasil, assim que for inaugurado (ainda em 2017, segundo prometem os envolvidos no projeto).

Afinal, existe design sustentável? Christian Ullmann tem se dedicado ao design socioambiental desde 1996 e atualmente leciona no Istituto Europeo di Design (IED Brasil), onde também é coordenador do Centro de Inovação, além de atuar em sociedade com Tania de Paula no escritório iT Projetos. Nesta entrevista, ele fala sobre o papel do design e dos profissionais da área na busca pela sustentabilidade.

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Como o metaverso está transformando a moda Nova York, Londres, Milão, Paris e, em 2022, o universo virtual. As mais prestigiadas grifes de roupa do mundo agora desfilam suas criações também no metaverso, o novo destino “it” da moda. Um dos marcos recentes dessa empreitada foi o Metaverse Fashion Week, da plataforma de realidade virtual Decentraland, um mundo virtual aberto que funciona no blockchain de Ethereum, que aconteceu no fim de março.

O Brasil busca se transformar em referência mundial em construção sustentável Para saber mais sobre o tema construção sustentável, conversamos com a arquiteta urbanista Patricia O’Reilly. Graduada pela Universidade Belas Artes São Paulo, Patricia é titular do Atelier O’Reilly Architecture & Partners, com sede em São Paulo, escritório composto por uma equipe de profissionais especializados em arquitetura, urbanismo, paisagismo, meio ambiente, sustentabilidade e energia.

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EU SOU O OUTRO VOCÊ



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EU SOU O OUTRO VOCÊ



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EU SOU O OUTRO VOCÊ


QUEM SOU EU? 26

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EU SOU O OUTRO VOCÊ

Aílton Krenak Ailton Alves Lacerda Krenak (Itabirinha de Mantena, Minas Gerais, 1953). Escritor, pesquisador, ambientalista e líder indígena. Na década de 1980, passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 1985, fundou a organização não-governamental Núcleo de Cultura Indígena. Através de emenda popular, garantiu sua participação na Assembleia Nacional que elaborou a Constituição Brasileira de 1988. Foi em discurso na tribuna que pintou o rosto com a tradicional tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na luta pelos direitos dos índios brasileiros. Neste ano ainda, participou da fundação da União dos Povos Indígenas, de alcance nacional. Em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta, cujo objetivo era o estabelecimento de reservas naturais na Amazônia onde fosse possível a subsistência econômica através da extração do látex da seringueira e de outros produtos naturais. Desde 1998, a UPI realiza, na região da Serra do Cipó (MG), o Festival de Dança e Cultura, que integra as tribos indígenas brasileiras que resistiram aos massacres que começaram com a colonização e estendem-se até hoje. Em 2016, a Universidade Federal de Juiz de Fora concedeu a Krenak o título de Professor Doutor Honoris Causa em reconhecimento às muitas lutas políticas que abraçou. É na ufjf professor de Cultura e História dos Povos Indígenas e Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais. Foi assessor especial do Governo de Minas Gerais para assuntos indígenas de 2003 a 2010. Participou das coletâneas Tempo e história e A outra margem do Ocidente.

Por conta de seus longos anos de luta na preservação dos direitos indígenas sobre suas terras, línguas, culturas e vidas, Ailton se tornou uma das mais conhecidas lideranças indígenas, não apenas como ativista, mas também como escritor. Em 2020 ganhou o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, oferecido pela União Brasileira de Escritores. Publicou livros como “Ideias para adiar o fim do mundo” (2019), “A Vida Não é Útil” (2020) e “O amanhã não está à venda” (2020), e é autor de uma das cartas do livro “Cartas para o Bem Viver” (2021). Dentre suas produções está Ideias para adiar o fim do mundo (2019), no qual o escritor aborda a relação dos homens com a natureza e os desastres ambientais causados pelo modo de viver e produzir, desconectados de sua preservação através da reunião de conferências e entrevistas realizadas pelo autor entre 2017 e 2019, entre Brasil e Portugal. Mais recentemente, Ailton Krenak retornou à sua aldeia no Vale do Rio Doce, junto ao seu povo. Prossegue sendo um importante representante na luta pelos direitos dos povos indígenas, principalmente do Povo Krenak, que tiveram seu território atingido pelo rompimento da barragem de Mariana, em 2015. Nos últimos dois anos, têm sido voz importante na luta pelo reconhecimento e visibilidade dos impactos que a pandemia da COVID-19 tem nas comunidades indígenas, como pode-se observar em seu livro O amanhã não está à venda, onde faz reflexões sobre a insustentabilidade do capitalismo e seu impacto à natureza, à vida humana (principalmente a vida dos povos indígenas), e à mãe terra.

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ilustrado por: JUAN GATTI



QUAL PRIORIDADE O BRASIL (NÃO) DÁ À MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL?

CADA VEZ MAIS, O MUNDO ESTÁ DE OLHO EM TUDO O QUE PODE SER RESPONSÁVEL POR AGRAVAR O EFEITO ESTUFA. E, AO FALARMOS SOBRE MOBILIDADE URBANA, A ATENÇÃO QUE RECAI SOBRE O ASSUNTO É AINDA MAIOR. texto

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PÂMELA SILVA| fotos NIC CHIRO

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De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), os automóveis de passeio são responsáveis por 62% das emissões de monóxido de carbono, enquanto os ônibus somam cerca de 2%. Ironicamente, as cidades seguem incentivando políticas de aquisição de veículos particulares, uma vez que o Estado brasileiro é sócio e refém da indústria automobilística. Como se não bastasse, a sociedade carrega a tradição do carro próprio como símbolo de poder e status. E o problema não para por aí.

AUTOMÓVEL PARTICULAR: O LOBO EM PELE DE CORDEIRO

O espaço físico ocupado pelos automóveis particulares é absolutamente desproporcional quando comparado ao transporte coletivo. Em 2017, o sistema viário da cidade de São Paulo era composto da seguinte maneira: 3,7 milhões de pessoas eram transportadas por uma frota de 17 mil ônibus; 2,7 milhões de pessoas eram transportadas por uma frota de 4 milhões de automóveis individuais. Em síntese, os carros utilizavam uma frota de 250 vezes maior para transportar um número de pessoas 27 vezes menor em relação ao transporte público coletivo. Não à toa, os automóveis ocupam cerca de 80% da malha viária e os ônibus apenas 6%, demonstrando a falta de democratização das vias públicas.

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Na contramão de países desenvolvidos, o Brasil prioriza o transporte individual ao invés do coletivo: o diesel, que representa cerca de 1/4 do custo total da tarifa no transporte público, subiu 250% nos últimos 19 anos; A gasolina, principal combustível utilizado nos veículos individuais, no mesmo período sofreu um reajuste de 56,4%. Além disso, segundo um estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte (cnt), o país soma 1.062 km de linhas de metrôs e trens, contando com um déficit de 850 km. Para transportar 25 mil pessoas, um trem precisaria dar 9 viagens e um automóvel quase 14 mil viagens. Alguma dúvida de que o modal errado está sendo priorizado? No Brasil, o transporte público praticamente não conta com subsídios do poder público, ou seja, todos os custos são cobertos pela tarifa paga pelos passageiros. Com valores crescentes de passagem, a superlotação e horários irregulares, mais gente se vê obrigada a recorrer aos automóveis particulares ou aos percursos a pé.

Os hábitos das pessoas no dia a dia possuem grande impacto no ambiente ao seu redor, de modo individual ou coletivo, por isso devem repensar suas ações em suas rotinas.


foto by Nicola Markelov

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O IMPACTO DAS BICICLETAS ELÉTRICAS

foto by Oli Woodman

A bicicleta é o meio de transporte mais sustentável e que, justamente por isso, deveria ser fomentada. Governos que já se conscientizaram a repeito da proeminente crise climática que estamos enfrentando, têm buscado estimular seu uso. Como exemplo, podemos citar Finlândia, Itália e França que financiam e oferecem subsídios de até 16 mil reais para motoristas que trocarem os carros por bikes. Em São Paulo, porém, pesquisas apontam que a falta de segurança impede os paulistanos de adotar a bicicleta como meio de transporte principal. Vale ressaltar que pintar uma faixa e chamá-la de ciclovia não basta, é preciso que haja planejamento urbano e mudança de paradigmas. A propósito, falando em mudança, diversas montadoras de veículos ao redor do mundo têm anunciado

a substituição de suas frotas por modelos elétricos, que são menos agressivos ao meio ambiente. Sem dúvida, a decisão representa um avanço na sociedade. Contudo, se a partir de hoje, todos os novos carros vendidos no mercado passassem a ser elétricos, ainda levaria de 15 a 20 anos para substituir completamente a frota mundial de carros movidos a combustível fóssil. Além do mais, continuar extraindo recursos naturais e descartando pneus, óleos e carcaças não parece uma estratégia muito revolucionária. A solução não está em tornar os carros mais verdes, mas sim em frear sua existência. Para tanto, é preciso pensar na expansão dos modais sustentáveis de forma acessível e segura, bem como estar atento à demanda de calçadas niveladas e sem buracos. Afinal, 1/3 das viagens realizadas nas cidades brasileiras é feita a pé ou em cadeiras de roda.

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SOLUÇÃO DEFINITIVA DO PÚBLICO-COLETIVO

Transformar o cenário atual exige limitar a lotação dos ônibus e ampliar as frotas para que eles passem com maior frequência nos pontos. É crucial também, que a acessibilidade seja adequada e planejada corretamente para incluir pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Políticas de incentivo ao transporte sustentável já existem e são adotadas: Barcelona oferece passagem gratuita por três anos a cidadãos que vendem seu veículo antigo; a prefeita de Paris, por sua vez, busca a redução dos automóveis aumentando zonas restritas a pedestres. Embora o problema seja difícil de ser resolvido, não é, nem de longe, impossível. Aos poucos, a cultura tem mudado e o automóvel deixado de ser o sonho de consumo das pessoas com maior consciência ambiental. Lentamente, esse desejo passado de geração em geração, perde força e para que isso ocorra de forma rápida e definitiva, o caminho é claro: priorizar o transporte público coletivo, que é dever e direito de todos.

O governo pode influenciar de diversas maneiras as mudanças para se chegar em uma proposta de meios de transportes sustentáveis.

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PLANO DE METAS

INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO AUXILIA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA A DEFINIR AS PRIORIDADES DE GOVERNO, OBJETIVOS, PRAZOS E COMPROMISSOS DO EXECUTIVO MUNICIPAL. texto PÂMELA SILVA |fotos EZRA JEFFREY

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Metas expressam prioridades, ajudam a orientar caminhos e dão uma dimensão dos desafios que devem ser enfrentados. Elas apontam para o futuro, para o lugar a que se quer chegar, mas também são determinantes para se definir o que é preciso fazer no momento presente, no curto prazo - dos pequenos passos às grandes ações. Isso é fundamental na gestão pública por diversos motivos: para o bom funcionamento do Estado, para a articulação entre governo e sociedade, e para a perenidade de políticas que garantam acesso a bens e serviços públicos de qualidade. De modo geral, metas devem representar uma visão de futuro que integre os vários arranjos setoriais, no planejamento de curto, médio e longo prazo. De modo prático, devem atender às necessidades da população e do território, considerar a capacidade e execução do governo e ser estipuladas com base em dados e informações consistentes e confiáveis. Estabelecer metas claras, mensuráveis e compatíveis com a realidade exige, também, um amplo conhecimento dos fatores que influenciam o cotidiano de uma cidade. Pressupõe entender as relações sociais e econômicas entre os diversos atores locais, assim como contemplar os processos de participação social para acolher as demandas da população.

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Esses são os aspectos essenciais para a elaboração de um bom Plano de Metas, um instrumento de planejamento e gestão que nasceu de uma iniciativa da sociedade civil organizada, em 2007, na cidade de São Paulo. A proposta virou lei na capital paulista no ano seguinte e estabeleceu que todo prefeito eleito tem de apresentar o Plano de Metas no início da gestão. Hoje, mais de 50 municípios brasileiros já aprovaram uma legislação semelhante. Ao estabelecer objetivos concretos, ações estratégicas e previsões orçamentárias para os quatro anos de mandato, o Plano de Metas preenche uma lacuna importante em termos de gestão e planejamento. Ele traz elementos complementares ao Plano Plurianual (ppa), estimula a integração de áreas técnicas e secretarias, serve de apoio a outros instrumentos urbanísticos e dá um sentido mais tangível para propostas muitas vezes generalistas ou imprecisas.

O Plano de Metas pode auxiliar o governo a criar medidas que façam a diferença para alcançar as metas e medidas necessárias para uma sociedade causar menos impactos negativos no meio ambiente.


EU SOU

O QUE É PLANO DE METAS?

foto by Jonas Denil

O Plano de Metas é um instrumento de planejamento e gestão que auxilia as prefeituras a definir prioridades e ações estratégicas do governo ao longo dos quatro anos de mandato. Trata-se de um documento que consolida as propostas de campanha e apresenta os principais compromissos da admnistração municipal, com a oferta e melhoria de equipamentos e serviços oferecidos à população, considerando como critérios básicos a promoção do desenvolvimento sustentável, a inclusão social, o respeito aos direitos humanos, a igualdade de gênero e o respeito ao meio ambiente... O Plano de Metas também promoUm bom Plano de Metas não ve a participação, a transparência e apresenta objetivos genéricos. Se a ampla corresponsabilização social a intenção for melhorar a educação, em relação às políticas públicas deé preciso dizer, por exemplo, quan- finidas. Sua elaboração pelo Poder tas vagas em creches serão abertas. Executivo municipal significa, anSe a saúde for prioridade, é preciso tes de tudo, investir no aperfeiçoquantificar e mostrar de que forma amento da administração pública, as filas de atendimento nos hospi- na modernização democrática e na tais serão reduzidas. Moradia de- busca pela eficiência e qualidade cente para a população? Quantas dos serviços prestados à população. famílias devem ser beneficiadas? Como e com quais recursos? São respostas a esse tipo de pergunta que se espera do documento...

foto by Jeremy Thomas

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Nesse sentido, o plano traz benefícios e economias importantes para a administração pública. Ele contribui para a boa execução orçamentária, proporcionando maior previsibilidade, supressão de desperdícios e ganhos de produtividade. Isso permite ampliar o potencial de realização da gestão, o que, em última instância, pode resultar em reconhecimento público. Atualmente, o Plano de Metas é uma obrigação legal do Executivo municipal em dezenas de cidades brasileiras. Algumas também elaboram de forma voluntária, a partir da adesão ao Programa Cidades Sustentáveis (pcs). Em ambos os casos, o pcs oferece uma série de orientações para auxiliar os gestores públicos nessa tarefa, incluindo uma plataforma web em que disponibiliza conteúdos e Outro ponto importante do Plano ferramentas para a construção de de Metas é a vinculação das pro- diagnósticos locais e para o acompostas da campanha eleitoral a um panhamento de indicadores, entre programa efetivo de governo. Ou outros recursos e funcionalidades. seja, é uma forma de comprometer os prefeitos com suas promessas e de estimular a elaboração de planos mais consistentes pelos candidatos ao executivo municipal. Ao longo dos últimos dez anos, esses e outros benefícios contribuíram para consolidar o Plano de Metas como um instrumento de gestão municipal e para fortalecer a administração pública em sua função mais elementar: oferecer bens e serviços de qualidade à população, de forma eficiente e transparente.

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foto by Jonas Denil

EU SOU

Sem um Plano de Metas coeso e consistente, medidas que realmente funcionem não serão criadas.

QUAIS SÃO OS GANHOS PARA A CIDADE

foto by Ezra Jeffrey

Em termos de gestão, o Plano de Metas pode dar uma contribuição importante para a elaboração do planejamento municipal, uma vez que reúne as prioridades das diferentes áreas da esfera pública e traz um olhar mais abrangente sobre a cidade. Para a sua elaboração, é importante considerar o cruzamento de informações e a análise conjunta das ferramentas de planejamento, como o Plano Diretor e o Plano Plurianual (ppa), das leis municipais (de uso e ocupação, leis orçamentárias, etc). e dos planos setoriais existentes (Plano de Mobilidade Urbana, Plano de Habitação, Plano de Saúde, Plano de Mudanças Climáticas e Plano de Educação, entre outros). Com um plano de metas bem executado, o município pode aumenrar

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a eficiência administrativa e apresentar propostas e ações em consonância com a realidade orçamentária. Também pode ampliar a inserção de representantes da sociedade civil como atores do processo, orientar o servidor público no exercício de seu trabalho e, principalmente, valorizar a continuidade de políticas públicas. Destaque-se ainda que o Plano de Metas permite ampliar a divulgação dos objetivos e ações do executivo, uma vez que recebe grande cobertura da imprensa. Com isso, dá maior visibilidade às políticas públicas implementadas e, por consequência, a própria gestão.

Você já pensou em aplicar um Plano de Metas no seu dia a dia? Que tal tentar?

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BRASIL CONSTRÓI SUA 1ª CIDADE 100% INTELIGENTE

ECOPARK. TRATA-SE DA PRIMEIRA CIDADE 100% INTELIGENTE E SUSTENTÁVEL A SER CONSTRUÍDA NO BRASIL, COM APOIO DAS COMPANHIAS ITALIANAS PLANETA IDEA E SOCIALFARE E DA STARTAU, NOME DO CENTRO DE EMPREENDEDORISMO DA UNIVERSIDADE DE TEL AVIV, EM ISRAEL. texto PÂMELA SILVA

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| fotos MARKUS SPISKE YUM

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Entre outros benefícios, o empreendimento terá: • corredores verdes ao longo de toda a cidade; • ciclovias de ponta a ponta O empreendimento está sendo erdo município; guido no Ceará e deve se tornar re• aproveitamento de ferência para Ela está chegando e já águas pluviais; tem até nome: Croatá Laguna outros • coleta inteligente de resíduos; municípios do Brasil, assim que for • produção de energia inaugurado (ainda em 2017, segundo solar e eólica; prometem os envolvidos no projeto). • praças com equipamenEm sua primeira fase, a cidade tos esportivos que geram contará com espaço residencial energia por meio dos para 150 casas, além de um porto movimentos (que até 2025 deve ser o segundo dos cidadãos; maior do Brasil) e áreas destinadas • monitoramento da qualidaao lazer, comércio, serviços públicos de do ar e da água; e indústria. • Redes inteligentes de eletricidade e água; • iluminação pública inteligente; • aplicativos para serviços de mobilidade compartilhada como carros, motos e bikes; • hortas compartilhadas espalhadas por toda a cidade; • infraestrutura digital com wi-fi grátis para todos os moradores.

Croatá Laguna EcoPark

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foto by JAnnie Spratt

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Incentivar a chegada de novos empreendimentos em São Gonçalo do Amarante também é um compromisso do Governo Municipal. Entre as instalações, está a primeira cidade inteligente inclusiva do mundo, a Smart City Laguna, no distrito de Croatá.

E MAIS!

A população poderá saber tudo o que acontece na cidade, em tempo real, por meio de aplicativo, que funciona como uma espécie de painel de controle do Croatá Laguna EcoPark. Quem aí já quer começar a fazer as malas para mudar para o local? Uma casa por lá custará cerca de R$ 24.300, segundo os idealizadores, que podem ser pagos em até 120 vezes, exatamente para serem uma alternativa à população de baixa renda. Já pensou se todas as cidades do Brasil fossem reformuladas de acordo com o modelo?

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RE - U S E

Como fazer puff de pneus com baú Para você fazer a sua reciclagem de pneus e transformar o seu em um puff lindo, vamos ensinar a seguir um passo a passo de como fazer puff de pneus. E o melhor de tudo é que, seguindo nosso tutorial, você vai ter um puff de pneus baú, assim você poderá usar o interior dele para guardar suas coisas.

MATERIAIS NECESSÁRIOS 1 pneu velho

12 arruelas

1. Meça a parte de cima do pneu; 2. Faça dois círculos com essa medida na chapa de MDF e corte-os; 3. Marque o meio de um dos círculos de MDF e faça um X sobre ele; 4. Parafuse os pés sobre esse X;

6 porcas

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Chapa de MDF de 6mm a 9 mm 4 pés palito com chapa/base para fixar 22 parafusos

Tecidos Manta acrílica Fibra siliconada Velcro Tesoura Furadeira Parafusadeira Grampeador de tapeceiro Mini serra ou lixadeira

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PASSO A PASSO DE COMO FAZER O PUFF COM BAÚ

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Coloque o MDF sobre o pneu e faça seis furos ao redor dele, furando também o pneu; 6. Coloque nesses furos parafusos com arruela; 7. Na parte de dentro, feche com arruelas e porcas; 8. Enrole a manta ao redor do pneu; 9. Encape a manta com uma tira de tecido, prendendo-o ao MDF na parte debaixo e ao pneu na parte de cima com o grampeador; 10. Coloque o outro tecido abaixo do outro círculo de MDF e corte um círculo um pouco maior; 11. Coloque a fibra siliconada sobre o MDF, o círculo de tecido sobre ela e prenda-o na parte debaixo com o grampeador; 12. Serre ou lixe os parafusos que ficaram salientes na parte de dentro do puff e use velcro no tampo e no pneu.


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Como fazer COMPOSTAGEM doméstica passo a passo Muitas pessoas se perguntam como fazer compostagem. E não é à toa, afinal, esse método permite reciclar os resíduos orgânicos e transformá-los em um adubo de alta qualidade para as plantas. Com apenas alguns minutos no dia a dia, é possível manter uma composteira e diminuir significativamente os resíduos orgânicos na natureza. Para isso, saiba como fazer compostagem passo a passo logo abaixo.

COMO FAZER COMPOSTAGEM COM MINHOCAS

Existem dois métodos de como fazer uma composteira, sendo com ou sem minhocas. No primeiro modelo, é possível ter a composteira em casas, apartamentos e outros locais, e o processo de compostagem é acelerado pelas minhocas. Saiba como fazê-lo.

1. LEVANTE OS ITENS NECESSÁRIOS

Para produzir uma composteira como essa, você vai precisar dos seguintes materiais: 3 caixas plásticas escuras, sendo uma com tampa; Resíduos orgânicos- cascas de frutas, verduras egumes, etc; Folhas secas ou serragem; 100 minhocas próprias para fazer compostagem.

2. PERSONALIZE CAIXAS PARA A COMPOSTEIRA

O segundo passo de como montar uma composteira é fazer algumas adaptações nas caixas. A tampa da primeira caixa deve receber alguns pequenos furos para a ventilação de ar.

3. MONTE A COMPOSTEIRA 1.

Pegue a primeira caixa (com tampa) e coloque os materiais. Comece a camada inicial com as folhas secas e a serragem, que vão fazer a drenagem dos líquidos; 2. Em seguida, insira as minhocas e a terra em cima da camada inicial, distribuindo uniformemente. Agora é hora de colocar os resíduos orgânicos. Você pode adicioná-los em um canto da caixa acima da camada de terra; 3. Para evitar maus odores e facilitar o processo de compostagem, cubra os materiais orgânicos com mais uma camada de folhas secas ou serragem. Depois, é só adicionar os materiais orgânicos diariamente e cobri-los; 4. Após 30 dias ou quando a caixa um estiver cheia, esta deve ser trocada de lugar com a caixa dois, que terá parte do adubo orgânico produzido em três meses. Desse modo, o processo recomeça. Esse adubo pode ser adicionado aos vasos de planta para fortalecê-las e favorecer seu crescimento.

• Além disso, o fundo das caixas um e dois devem ter alguns furos, para que os resíduos possam ser transpassados de uma caixa para a outra. Faça também alguns furos nas laterais para facilitar a ventilação. • Lembrando que: a última caixa não deve ser furada, já que ela vai abrigar o chorume produzido pela compostagem- líquido fertilizante para ser diluído em água e regar as plantas. Nela, você poderá inserir uma torneira para facilirar a coleta desse líquido.

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COLUNA

Bonito sim, e importante pra vida por Elke Schuch Borges | ILUSTRAÇÃO TIDE HELLMEISTER

E

u sempre gostei de escrever. Sempre fui meio romântica nesse lance de juntar as palavras e dar a elas um certo sentido. Dois livros que eu lia, aos sonhos que sonhava para o futuro. Lembro-me de uma das primeiras vezes em que participei de um programa de rádio. Na ocasião, os entrevistados éramos nós, calouros da turma de Comunicação Social de 94. Quando a pergunta “por que vocês escolheram o jornalismo?” foi lançada ao centro da mesa, todos que estavam ali, de

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alguma forma quiseram participar. Integrando aquela mesa de madeira com vários microfones, na minha vez, respondi sem hesitar: “por que acho bonito e importante pra vida”. Confesso que não lembro direito quem era o apresentador, mas lembro da resposta dele para o meu comentário “é...um Jornalismo romântico”. O romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico que surgiu na Europa. que durou por grande parte do século xix. Tinha uma visão de mundo contrária ao racionalismo. Mesmo sem tentar

ser muito histórico, acho que o apresentador sugeria que eu estava enxergando aquela profissão que começava a se descortinar pra mim, de uma forma idealista ou poética. Vindo de alguém com experiência, é bem compreensível. Hoje, posso dizer que tenho experiência e que ainda sou assim. Mesmo a experiência não me fez perder esse tom idealista romântico. Não é fácil, admito. No cotidiano, nos deparamos com doses cavalares de realismo que é difícil pensar diferente. Basta prestar um pouco


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de atenção nas principais notícias que recebemos neste início de ano. Às vezes, para quem escreve e tenta enxergar o lado bom de todas as coisas, há algumas lacunas de inspiração. A gente precisa recobrar o fôlego diante de tantas notícias ruins, e continuar acreditando, nutrindo a esperança. Quando falo e escrevo sobre simplicidade, por exemplo. É claro que busco despertar nas pessoas um olhar para dentro de si. A partir de situações e coisas que observo e outras que eu vivo, procuro abordar atitudes e posicionametos que

simplificam a vida, tornando-a mais leve e melhor de viver. Seria esta a função de um jornalista, contribuir por tornar a vida mais palatável, ou ele precisa estar posicionado sempre diante de fatos de difícil digestão? Acho que as duas coisas. Manter-se firme na missão de informar, mas também, inspirado na missão de relembrar ao ser humano qual é a sua essência. Sou feliz com minha profissão, apesar das pautas sem planejamento, da necessidade constante de polivalência e multifunções (o que até é positivo), da desproporção

trabalho x resultados. Isso é indiscutível quando, do outro lado da balança a gente encontra valores como aprendizado diário, não à rotina, criatividade e o frescor da vida acontecendo bem diante dos seus olhos. Se aquele apresentador me perguntasse de novo por que escolhi o Jornalismo, o que você acha que eu diria? Novamente, e novamente, romanticamente sem hesitar, eu diria: “porque acho bonito e importante pra vida.

Elke Schuch Borges @elkejornalista

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ilustrado por: JUAN GATTI

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SE INTEGRA

CHRISTIAN ULLMANN 54

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EU ENTENDO

AFINAL, EXISTE DESIGN SUSTENTÁVEL? Professor de design para sustentabilidade e inovação social, o argentino radicado no Brasil Christian Ullmann desmitifica a economia circular, questiona a formação dos designers e os provoca a repensarem seu papel na construção de um mundo mais verde por

Winnie Bastian

Microrrevolucionário. Crítico elíptico. Maker pré-digital.” A maneira como Christian Ullmann se define em seu LinkedIn dá uma idéia de sua personalidade. Inquieto e provocador, tem se dedicado ao design socioambiental desde 1996 e atualmente leciona no Istituto Europeo di Design (iedBrasil), onde também é coordenador do Centro de Inovação, além de atuar em sociedade com Tania de Paula no escritório iT Projetos. Nesta entrevista, ele fala sobre o papel do design e dos profissionais da área na busca pela sustentabilidade. “As coisas têm de mudar, e nós estamos no meio disso. A Ellen MacArthur Foundation escolheu os designers como agentes de mudanças, ao lado dos gestores públicos”, ressalta. O que é sustentabilidade para você? Uma vontade, um objetivo a alcançar como designer e minha maior motivação para acordar todos os dias. Há 4 bilhões de anos a natureza evolui e otimiza seu modelo. E nós negamos essa referência e fazemos tudo errado, inclusive colaborando com a sua destruição. Como vê a relação entre design e sustentabilidade hoje? Ela já acontece, porém não estamos olhando para o que é necessário. Por exemplo: em Heliópolis [comunidade na zona sul de São Paulo] há uma gestão da pandemia da Covid-19 bem melhor do que em muitos bairros nobres da cidade. Aí tem design estratégico, tem projeto, tem construção de alternativas. Com muito pouco, eles conseguem olhar para a comunidade, entender suas diferenças, se comunicar, construir pontes e resolver. E nós? Sequer conhecemos o vizinho. Organizamos nosso dia a dia e nossa vida de um ponto de vista individual, não coletivo. Ampliando a escala, as empresas pensam no seu negócio e não consideram os possíveis impactos ambientais e sociais negativos. Por vezes nos comparamos com as realizações da Europa. Esta comparação está correta? É justa? Ah, eles reciclam 70% das embalagens e nós, apenas 5%. Mas nosso problema vai além de investir em tecnologia de reciclagem.

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É aí que entra a economia circular? Sim, mas tem de ficar claro que a economia circular não existe: assim como a sustentabilidade, ela é um desejo – à exceção, a meu ver, da produção agroflorestal, que de forma orgânica e cíclica aproveita todo recurso natural disponível. A Ellen MacArthur Foundation, formuladora desse conceito, se descreve como instituição que promove a aceleração da transição da economia linear para a circular. Em tese, a economia circular segue três princípios: eliminar o conceito de lixo, manter os materiais no ciclo produtivo, regenerar o ecossistema natural. Quem faz isso? Ninguém. Cadê a eliminação do lixo? Não basta reduzir 10%. E o ciclo contínuo do material? Há 40 anos, as garrafas de cerveja retornáveis funcionavam bem porque eram todas iguais e tinham um custo. Agora, cada marca adota um modelo. Você mencionou o fato de nos compararmos com a Europa. Como pensar soluções alternativas deste lado do mundo? Estamos atrasados em algumas coisas e não valorizamos os casos em que poderíamos reivindicar um pouco de vanguarda. Um exemplo: devido à realidade socioeconômica, projetos com design social do Brasil sempre foram referência. No início dos anos 2000, Tania, eu e tantos outros colegas viajamos pelo país para trabalhar com comunidades. Isso tornou-se senso comum, mas, na época, a academia não aceitava e o mercado só recebia bem se o produto parecesse industrializado. Muitas vezes é preciso romper com esses padrões de perfeição. Morando em Brasília, visitei um marceneiro que executava uma cadeira para mim e, de cara, vi que os pés estavam todos diferentes, cada um com uma altura. Discuti com ele, mas me diga: que piso de sala no Brasil é nivelado o suficiente para exigir quatro pés iguais? Precisamos adotar uma visão sistêmica, levando em conta três esferas concêntricas: do indivíduo, do negócio e do planeta. Quando penso no meu umbigo, cobro exatidão do marceneiro; quando penso no negócio, aceito uma variável do mercado; mas quando conecto como ecossistema, entram em jogo questões sociais, ambientais e de desenvolvimento local. O rigor europeu não se aplica aqui, e, se consideramos os processos produtivos industriais disponíveis, a precisão gera muito descarte.

Como parar de repetir o que não está funcionando? A mídia e o público em geral podem expandir seu olhar, abrir um novo espaço para esse design, que normalmente não dá capa de revista, mas vem ganhando escala e novos mercados. E ainda é bom, melhora, ajuda, constrói e questiona. Por que não tirar proveito disso?

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ESTAMOS AGINDO ERRADO HÁ QUANTO TEMPO? UMA HORA VEM A CONTA


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Como você percebe a indústria nesse contexto? Novamente, há três pontos de vista: o individual, o do negócio e o do ecossistema. No livro Design for the Real World [Design para o Mundo Real, em tradução livre, Editora Thames & Hudson, 394 págs.], Victor Papanek já abordava essa questão em 1971. Na introdução, o arquiteto e designer Richard Buckminster Fuller conta que, em algum lugar dos Estados Unidos, observava vagões de trem entrando numa fábrica de aviões com centenas de chapas de alumínio e outros tantos saindo com elas sem o miolo. Isso porque a indústria utilizava apenas o núcleo, parte mais homogênea e com a melhor distribuição de cargas. Ele já se preocupava com o aproveitamento de material. Em sala de aula, questiono alunas e alunos: muito bem, você criou essa peça, agora pense na relação entre a matéria-prima original e o produto pronto. O rendimento nunca alcança 50%. Esta pergunta os obriga a imaginar novas estratégias. Qual o papel das escolas de design nesse caminho? O mundo acadêmico sempre tratou com carinho o tema do respeito ambiental. Mas a forma de ensinar também deve mudar para que cheguemos a um lugar diferente. Nós, designers, sabemos lidar com máquinas, não com pessoas. Nossa formação é técnica, não humanista. Sempre pergunto a alunas e alunos: qual a primeira coisa que precisamos fazer antes de criar uma cadeira de madeira? A resposta é plantar uma árvore – se você não planta, não tem matéria-prima e não tem cadeira. Eles ficam pasmos: como assim? Tenho que me preocupar com isso? Sim, alguém deve se preocupar. Como você avalia a questão do ciclo de vida dos produtos? Como melhorar? Importa pensar na segunda vida deles, depois do descarte, e, se possível, na terceira, quarta e quinta vidas. Um exemplo bom, fabricado por uma empresa brasileira, é a Muzzicycles, única bicicleta do mundo cujo quadro emprega 100% de plástico reciclado. Outra iniciativa muito bem-sucedida nisso, a holandesa Precious Plastic, propõe soluções para lidar como lixo plástico por meio da reciclagem. Eles desenvolveram maquinário e passaram a fornecer ferramentas e a ensinar técnicas para que as pessoas iniciem um negócio e ganhem dinheiro reciclando e transformando a matéria-prima gerada em produtos, além de disponibilizar pontos de coleta, espaços de trabalho equipados e plataformas virtuais.

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Como você avalia a questão do ciclo de vida dos produtos? Como melhorar? Importa pensar na segunda vida deles, depois do descarte, e, se possível, na terceira, quarta e quinta vidas. Um exemplo bom, fabricado por uma empresa brasileira, é a Muzzicycles, única bicicleta do mundo cujo quadro emprega 100% de plástico reciclado. Outra iniciativa muito bem-sucedida nisso, a holandesa Precious Plastic, propõe soluções para lidar como lixo plástico por meio da reciclagem. Eles desenvolveram maquinário e passaram a fornecer ferramentas e a ensinar técnicas para que as pessoas iniciem um negócio e ganhem dinheiro reciclando e transformando a matéria-prima gerada em produtos, além de disponibilizar pontos de coleta, espaços de trabalho equipados e plataformas virtuais. Qual sua opinião sobre conceito de lixo zero? Acho muitíssimo importante e urgente. Tanto que o What Design Can Do [organização internacional que defende o design e a criatividade como instrumentos para promover mudanças sociais] e a Ikea Foundation estão promovendo o No Waste Challenge, e convocam designers do mundo todo a propor soluções inovadoras que reduzam o lixo. Mas zerar de fato o resíduo na fabricação de um produto ainda é um desafio. Dois anos atrás, a empresa yvy Reciclagem procurou o cried [Centro de Inovação ied Brasil] buscando um projeto que unisse empreendedorismo e design circular. Eles atendiam a enel [distribuidora de energia elétrica de São Paulo e mais três estados] e recolhiam todos os postes que ela trocava na capital paulista. Assim surgiu o labmob, uma ação com alunas, alunos, ex-alunos e profissionais para desenhar mobiliário com esse material. O problema é que todos acabavam raciocinando a partir de processos convencionais e gerando resíduo. Decidi, então, trabalhar em uma alternativa mais sustentável e circular possível desde a fase de planejamento, e surgiu o banco Pino: 100% upcycling e zero waste. Isso quer dizer que não comprei matéria-prima nenhuma, todas as peças usadas pertencem ao sistema do poste – cruzetas, parafusos, barras rosqueadas, argolas e porcas quadradas, até os mesmos furos que já existiam nelas. Essa iniciativa e interesses comuns me aproximaram da marcenaria compartilhada Fabriko e montamos uma collab: Fernando Iasz Marcenaria, Fabriko e eu criamos e produzimos enquanto o Refúgio Design, um marketplace de jovens designers, comercializa. O que aprendemos com isso? Que para fazer este tipo de design não podemos olhar só para o nosso umbigo, precisamos inventar ecossistemas com novos modelos de negócios. Costumo dizer: mude para mudar. Uma frase simples, mas ao lê-la duas ou três vezes percebemos a dificuldade de modificar nosso comportamento para que as coisas realmente se transformem.

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PRÊMIO DESIGN SUSTENTÁVEL PROMOVE VISIBILIDADE

LANÇADO NA EDIÇÃO DE 2016 DA FEMUR, O PRÊMIO “DESIGN SUSTENTÁVEL” É REALIZADO PELO INTERSID, EM PARCERIA COM A SIMBIOSE AMBIENTAL, A UEMG E SENAI.

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NATALIA CONCENTINO | fotos TERZA SANTOS

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prêmio “Design Sustentável” busca incentivar atitudes e projetos que diminuam o impacto ambiental causado pela indústria moveleira. Sucesso desde a sua primeira realização, a premiação do próximo ano vem com novas regras que prometem movimentar a disputa pelo troféu em 2022. Agora, os projetos vão ser desenvolvidos por grupos de estudantes da área de design, e cada empresa pôde inscrever até três projetos, sendo que um deles vai ser adaptado. Os grupos de estudantes vão receber certificados de participação e premiações em dinheiro que podem chegar a até 1200 reais. Já as empresas faturam os troféus e projetos sustentáveis. Quem vem colecionando pódios, não deixa de participar. Esse é o caso da Itatiaia, gigante da indústria moveleira, que foi a primeira vencedora do prêmio, e segunda colocada nas duas últimas edições. Os produtos desenvolvidos para participar do prêmio foram o maior sucesso, e aumentaram ainda mais a visitação nos estandes da empresa durante a feira “o prêmio gera muita visibilidade, é um ótimo diferencial, é muito importante estar participando. Sempre nos questionam sobre os produtos nos estandes. É muito gratificante, como empresa e como setor de desenvolvimento, ver um

produto ser tão comentado”, conta Evandro Pinheiro, diretor de projetos da marca. A Cozinha Dandara, primeira vencedora da premiação em 2016, esteve no catálogo de vendas até este ano. Já o armário Smart, segundo colocado em 2018, é sucesso de vendas até hoje e um dos queridinhos do público jovem. Já a cozinha Gourmet G3 é o carro chefe da linha de madeiras, sendo um dos maiores sucessos de vendas da marca. Mas não são apenas as gigantes que conseguem um impulso extra com o prêmio. Na edição de 2020 a vencedora foi exatamente uma estreante. A Montanha Móveis lançou o Buffet Maloca e atraiu a atenção do público e dos jurados logo em sua estreia. O projeto é do diretor da empresa, Lucas Montanha, que tirou do papel o seu trabalho de tcce conquistou o troféu. O móvel que foi produzido com madeira de reflorestamento e retalhos de chapas de mdf, gerou economia de recursos, reaproveitamento de materiais, além de apresentar diversas funcionalidades como prateleiras, uma adega e compartimento interno que pode ser convertido em mesa de centro. O conceito aumentou em muito a visibilidade da empresa “é um produto em que a ideia é inovadora, mas que não é possível produzir em escala. Tem um valor mais agregado e

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tem uma história, e até hoje está em linha. Muitas pessoas foram ao estande querendo saber mais sobre, e com ele geramos muitas vendas, dele e de outros produtos”, conta Lucas Montanha. A empresa, que atua em todo o sudeste e vem expandindo para o nordeste e centro-oeste, estava apenas em sua segunda participação na feira, e viu no prêmio a oportunidade de se destacar entre as gigantes do ramo “A femur fez muita diferença no faturamento e na visibilidade da empresa. A feira é muito visitada, ajuda bastante no desempenho do negócio ”, comenta Lucas. E mesmo quem não vence, colhe ótimos frutos com a premiação. Esse é o caso da Suprema Estofados, que faturou o terceiro lugar no prêmio em 2020. A cadeira Levi utilizou diversos materiais reciclados, e foi uma releitura de outro projeto, desenvolvido em ferro e acrílico:

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“Colocamos os componentes mais sustentáveis. Utilizamos corda náutica reciclada e recouro, que é o couro reutilizado, além do ferro mecânico reciclado, que é a sobra de ferro da indústria de solda”, conta Saulo Meireles, designer. A cadeira Levi, que significa “ligadura”, é feita totalmente com materiais reaproveitados, e gerou uma visibilidade surpreendente para a marca “a partir da premiação, o mercado passou a perceber a Suprema também como criadora de tendências, atraindo a atenção para nossos produtos diferenciados”, ressalta Saulo.

O Prêmio Design Sustentável apresenta diversos benefícios, tanto para as empresas quanto para os estudantes de design que fazem parte dos projetos. As empresas ganham notoriedade e prêmios, enquanto os alunos ganham experiência.


foto by Terza Santos

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foto by Alexandre Costa

Para o diretor da Suprema Estofados, Saulo Meireles, a busca por um produto diferenciado é sua principal motivação. Ele diz que se diverte desenvolvendo móveis e que faz isso por paixão “sou movido a desafios”, ele afirma. Para Saulo, o novo formato onde estudantes vão alterar os projetos com iniciativas sustentáveis tem tudo para dar certo pois, além de promover novos profissionais do design, mais pessoas pensando sobre o assunto sempre pode aumentar o nível da competição: “várias cabeças pensam melhor do que uma. Nossa ideia é que, nessa edição, a gente consiga melhorar nossa colocação, garantindo pelo menos o segundo lugar”. A Itatiaia também está inscrita, e espera continuar no pódio esse ano “estamos sempre procurando inovar, sempre atentos à sustentabilidade, efetuando pesquisas no mercado para entender melhor o

que os clientes desejam e para nos manter competitivos, adaptando aos anseios dos clientes”, afirma Evandro Pinheiro, diretor de projetos. Já a atual campeã não quer perder o posto. A Montanha Móveis disse que ainda não definiu o modelo, mas que vão trazer um Home (rack com painel) para a disputa “somos especialistas em móveis de alto padrão, para a disputa desse ano vamos aliar a qualidade dos nossos produtos, com a durabilidade e sustentabilidade em todo nosso processo de produção”, finaliza Lucas Montanha. A Femur 2022 já confirmou sua realização presencial, e o lançamento da feira vai acontecer em um café da manhã no dia 18 de novembro. Já no dia seguinte, 19 de novembro, vai ser realizada uma live com o diretor do intersind, e realizador da feira, Aureo Barbosa. Para participar da feira é muito importante que expositores e visitantes estejam em dia com a vacinação contra a covid-19. Vacine-se e não fique de fora do maior evento moveleiro do estado de Minas Gerais.

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PROJETO NA ROCINHA FABRICA SKATES USANDO TAMPINHAS PLÁSTICAS INICIATIVA DÁ NOVO USO PARA MATERIAL QUE SERIA DESCARTADO. texto

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MARCIA SOUZA| fotos MORITZ MENTGES

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riar uma solução local para a gestão de resíduos é um dos grandes propósitos de um projeto em desenvolvimento na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. A iniciativa, batizada de Na Laje Designs, começou reaproveitando tampinhas plásticas para a produção de skates. Ali mesmo, dentro da comunidade, são recolhidas as tampinhas. O material provém de moradores, pescadores e de projetos sociais. Feito à mão, cada skate leva 1,5 kg de tampinhas plásticas em sua composição, o que equivale a cerca de 500 unidades. Além dos resíduos plásticos, a fabricação dos skates também se dá localmente. Para isso, é utilizado um triturador, forno de pizza industrial, prensa mecânica e um molde. O processo consiste basicamente em coletar o “lixo”, limpar, separar, triturar, derreter e transformar em produto. Já o eixo e as rodas são comprados no mercado de produção de skates convencionais. Cada skate leva duas

horas para ficar pronto, suporta até 115 kg e é vendido por R$ 480 com as rodas ou R$ 260 sem as rodas. Tendo começado com o skate, a ideia é desenvolver outras peças no futuro. Mais do que isso: reciclar outros materiais, além do plástico, como metal e vidro. Está nos planos também reutilizar redes de pesca. Para além da reciclagem em si, criar um “centro de educação, inovação e oportunidades para lidar com esta crise de gestão de resíduos” é o maior objetivo, segundo o engenheiro mecânico canadense, Arian Rayegani, idealizador do projeto. Rayegani afirma que hoje a Rocinha, com uma população estimada de 150 a 200 mil habitantes, produz 230 toneladas de resíduos por dia.

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Ali mesmo, dentro da comunidade, são recolhidas as tampinhas. O material provém de moradores, pescadores e de projetos sociais. Feito à mão, cada skate leva 1,5 kg de tampinhas plásticas em sua composição, o que equivale a cerca de 500 unidades. Além dos resíduos plásticos, a faPara um país que recicla apenas bricação dos skates também se dá 1,28% do plástico que produz, as localmente. Para isso, é utilizado um chances de resíduos recicláveis triturador, forno de pizza industrial, terem um destino inadequado prensa mecânica e um molde. O pro– como aterros sanitários – são cesso consiste basicamente em coleenormes. Em entrevista à impren- tar o “lixo”, limpar, separar, triturar, sa, o canadense afirmou que o derreter e transformar em produto. projeto, que teve início em abril Já o eixo e as rodas são comprados de 2021, já evitou que 700 quilos no mercado de produção de skates de tampinhas fossem descartados. convencionais. Cada skate leva duas O “Na Laje Designs” também atua horas para ficar pronto, suporta até em sintonia com outras iniciativas 115 kg e é vendido por R$ 480 com locais. São elas: Salvemos São as rodas ou R$ 260 sem as rodas. Conrado, Vivendo Um Sonho Surf, Horta na Favela e Família na Mesa. Saindo dos limites da cidade maravilhosa, o projeto chamou a atenção da prefeitura de João Pessoa, que solicitou a Rayegani a elaboração de um projeto de reciclagem de plástico. Entre as possibilidades, está a produção de skates em parceria com a secretaria de Juventude, Esporte e Recreação e a produção de bancos de praças a partir de plástico reciclado. Em ambos os casos, o projeto deve envolver as associações de coleta seletiva apoiadas pela gestão. “Nosso objetivo é ampliar a consciência ambiental das pessoas sobre o consumo e o descarte de plástico”, afirmou Ricardo Veloso, superintendente da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (emlur) de João Pessoa.

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foto by Moritz Mentges

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O projeto Na Laje Designs viabiliza a reciclagem do plástico, promovendo um novo uso para esse material que, muitas vezes, apresentam um descarte incorreto.

foto by KrizJonh R.

Tendo começado com o skate, a ideia é desenvolver outras peças no futuro. Mais do que isso: reciclar outros materiais, além do plástico, como metal e vidro. Está nos planos também reutilizar redes de pesca. Para além da reciclagem em si, criar um “centro de educação, inovação e oportunidades para lidar com esta crise de gestão de resíduos” é o maior objetivo, segundo o engenheiro mecânico canadense, Arian Rayegani, idealizador do projeto. Rayegani afirma que hoje a Rocinha, com uma população estimada de 150 a 200 mil habitantes, produz 230 toneladas de resíduos por dia. Para um país que recicla apenas 1,28% do plástico que produz, as chances de resíduos recicláveis terem um destino inadequado – como aterros sanitários – são enormes. Em entrevista à imprensa, o canadense afirmou que o projeto, que teve início em abril de 2021, já evitou que 700 quilos de tampinhas fossem descartados. O “Na Laje Designs” também atua em sintonia com outras iniciativas locais. São elas: Salvemos São Conrado, Vivendo Um Sonho Surf, Horta na Favela e Família na Mesa. Saindo dos limites da cidade maravilhosa, o projeto chamou a atenção da prefeitura de João Pessoa, que solicitou a Rayegani a elaboração de um projeto de reciclagem de plástico.

Entre as possibilidades, está a produção de skates em parceria com a secretaria de Juventude, Esporte e Recreação e a produção de bancos de praças a partir de plástico reciclado. Em ambos os casos, o projeto deve envolver as associações de coleta seletiva apoiadas pela gestão. “Nosso objetivo é ampliar a consciência ambiental das pessoas sobre o consumo e o descarte de plástico”, afirmou Ricardo Veloso, superintendente da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (emlur) de João Pessoa. Ali mesmo, dentro da comunidade, são recolhidas as tampinhas. O material provém de moradores, pescadores e de projetos sociais. Feito à mão, cada skate leva 1,5 kg de tampinhas plásticas em sua composição, o que equivale a cerca de 500 unidades. Além dos resíduos plásticos, a fabricação dos skates também se dá localmente. Para isso, é utilizado um triturador, forno de pizza industrial, prensa mecânica e um molde. O processo consiste basicamente em coletar o “lixo”, limpar, separar, triturar, derreter e transformar em produto. Já o eixo e as rodas são comprados no mercado de produção de skates convencionais. Cada skate leva duas horas para ficar pronto, suporta até 115 kg e é vendido por R$ 480 com as rodas ou R$ 260 sem as rodas. Tendo começado com o skate, a ideia é desenvolver outras peças no futuro. Mais do que isso: reciclar outros materiais, além do plástico, como metal e vidro.

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CULTURA COSMOS

WALL-E (2008) Após entulhar a Terra de lixo e poluir a atmosfera com gases tóxicos, a humanidade deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave. O plano era que o retiro durasse alguns poucos anos, com robôs sendo deixados para limpar o planeta. WALL-E é o último destes robôs, e sua vida consiste em compactar o lixo existente no planeta. Até que um dia surge repentinamente uma nave, que traz um novo e moderno robô: Eva. A princípio curioso, WALL-E se apaixona e resolve segui-la por toda a galáxia. Serviço de streaming: Disney Plus

Moda & sustentabilidade: Design para mudança (2012) Edição Português por Kate Fletcher (Autor), Grose Lynda (Autor) Kindle R$ 58,41 Capa Comum R$ 116,00

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Sustentabilidade no design de interiores (2012) Sustentabilidade no design de interiores apresenta de forma prática os fundamentos do projeto sustentável e diretrizes para a escolha de materiais, sistemas energéticos e hidráulicos e métodos construtivos sustentáveis. Amplamente ilustrado, Sustentabilidade no design de interiores destina-se a estudantes e profissionais de design de interiores e a todos que são comprometidos com a incorporação de princípios ecorresponsáveis no desenvolvimento de projetos.

Amazon: A partir de R$ 227,00

Abstract: The art of design (2017)- NETFLIX Conheça o trabalho desafiador e visionário de alguns dos designers mais importantes e criativos da atualidade. São profissionais que, da arquitetura à fotografia, criam tendências que vão muito além de facilitar o dia-a-dia das pessoas. É olhando para o futuro que eles moldam o mundo e inspiram a vida de todos. Serviço de streaming: Netflix

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DESIGN SUSTENTÁVEL: O QUE É E ABORDAGENS O DESIGN SUTENTÁVEL É RESULTADO DA UNIÃO DO DESIGN SOCIAL COM O ECODESIGN.

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JULIA AZEVEDO fotos NATHALIA ROSA

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pesar de muitas pessoas confundirem design sustentável e ecodesign, essas são áreas diferentes. O design sustentável pode ser entendido como um conjunto de ferramentas, conceitos e estratégias que buscam desenvolver produtos, serviços e soluções para gerar uma sociedade mais sustentável. Já o ecodesign é uma dessas ferramentas de gestão ambiental e é centrado na fase de concepção dos produtos e de seus respectivos processos de produção, distribuição e utilização. Isso significa que o conceito de design sustentável é mais abrangente que o de ecodesign, porque considera também preocupações sociais e econômicas ligadas a um item. O principal objetivo do design sustentável é desenvolver produtos e serviços que sejam economicamente viáveis, ecologicamente corretos e socialmente equitativos. Portanto, o ecodesign é uma etapa necessária para o design sustentável. Quando aplicado em sua completude, o design sustentável utiliza os conceitos do ecodesign automaticamente. Ao ampliar o foco para essa tríade de dimensões, o design sustentável também procura dar atenção para as pessoas influenciadas por todas as etapas do processo produtivo, isto é, do planejamento e fabricação ao descarte de itens.

Além disso, o design sustentável pretende satisfazer as necessidades humanas básicas de toda a sociedade, atendendo principalmente a comunidades menos favorecidas. O design sustentável propõe uma visão holística de todos os elementos envolvidos no processo produtivo de um serviço ou produto, oferecendo um maior compromisso com a sustentabilidade ambiental e social. Assim, é mantido também um cuidado em uma gama infinitamente maior de fatores, como a forma como o produto é pensado, projetado e criado; sua embalagem; o transporte; a venda; a forma com que ele chega na casa do consumidor; e como será a forma e meio em que será realizada a reciclagem, descarte ou até mesmo a reutilização do produto, tentando reduzir ao máximo o número de resíduos gerados. O grande mérito dessa vertente mais ampla é a preocupação com quem faz parte de todos os processos de criação, transporte e a venda do produto: as pessoas. Afinal, são elas que têm influência sobre o rumo de toda a cadeia produtiva.

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Atualmente, qualquer empresa que não esteja disposta a implantar ou discutir aspectos sustentáveis no seu processo de produção tem grande chance de perder espaço no mercado, já que a sociedade tem se conscientizado cada vez mais sobre a importância de iniciativas que não agridam o meio ambiente. Muitas empresas já tiveram suas imagens danificadas por participarem de produções que envolviam questões prejudiciais à natureza, como a emissão de grande quantidade de poluentes ou o uso de madeira não legalizada para o comércio. Dessa maneira, o design sustentável impacta diretamente na imagem da empresa. Além disso, é possível utilizar o conceito a favor dos negócios, uma vez que existe uma preocupação crescente com a questão ambiental e de sustentabilidade. Vale ressaltar que o consumidor também tem um papel fundamental na escolha de produtos que priorizem o design sustentável. O principal objetivo do design sustentável é desenvolver produtos e serviços que sejam economicamente viáveis, ecologicamente corretos e socialmente equitativos. Portanto, o ecodesign é uma etapa necessária para o design sustentável. Quando aplicado em sua completude, o design sustentável utiliza os conceitos do ecodesign automaticamente. Ao ampliar o foco para essa tríade de dimensões, o design sustentá-

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vel também procura dar atenção para as pessoas influenciadas por todas as etapas do processo produtivo, isto é, do planejamento e fabricação ao descarte de itens. Além disso, o design sustentável pretende satisfazer as necessidades humanas básicas de toda a sociedade, atendendo principalmente a comunidades menos favorecidas. O design sustentável propõe uma visão holística de todos os elementos envolvidos no processo produtivo de um serviço ou produto, oferecendo um maior compromisso com a sustentabilidade ambiental e social. Assim, é mantido também um cuidado em uma gama infinitamente maior de fatores, como a forma como o produto é pensado, projetado e criado; sua embalagem; o transporte; a venda; a forma com que ele chega na casa do consumidor; e como será a forma e meio em que será realizada a reciclagem, descarte ou até mesmo a reutilização do produto, tentando reduzir ao máximo o número de resíduos gerados. O grande mérito dessa vertente mais ampla é a preocupação com quem faz parte de todos os processos de criação, transporte e a venda do produto: as pessoas. Afinal, são elas que têm influência sobre o rumo de toda a cadeia produtiva.


foto by Toa Heftiba

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É importante compreender que design sustentável e ecodesign são coisas diferentes. O primeiro é o conjunto de ferramentas; o outro é uma dessas ferramentas.

foto by Kelly Sikkema

Atualmente, qualquer empresa que não esteja disposta a implantar ou discutir aspectos sustentáveis no seu processo de produção tem grande chance de perder espaço no mercado, já que a sociedade tem se conscientizado cada vez mais sobre a importância de iniciativas que não agridam o meio ambiente. Muitas empresas já tiveram suas imagens danificadas por participarem de produções que envolviam questões prejudiciais à natureza, como a emissão de grande quantidade de poluentes ou o uso de madeira não legalizada para o comércio. Dessa maneira, o design sustentável impacta diretamente na imagem da empresa. Além disso, é possível utilizar o conceito a favor dos negócios, uma vez que existe uma preocupação crescente com a questão ambiental e de sustentabilidade. Vale ressaltar que o consumidor também tem um papel fundamental na escolha de produtos que priorizem o design sustentável. O principal objetivo do design sustentável é desenvolver produtos e serviços que sejam economicamente viáveis, ecologicamente corretos

e socialmente equitativos. Portanto, o ecodesign é uma etapa necessária para o design sustentável. Quando aplicado em sua completude, o design sustentável utiliza os conceitos do ecodesign automaticamente. Ao ampliar o foco para essa tríade de dimensões, o design sustentável também procura dar atenção para as pessoas influenciadas por todas as etapas do processo produtivo, isto é, do planejamento e fabricação ao descarte de itens. Além disso, o design sustentável pretende satisfazer as necessidades humanas básicas de toda a sociedade, atendendo principalmente a comunidades menos favorecidas. O design sustentável propõe uma visão holística de todos os elementos envolvidos no processo produtivo de um serviço ou produto, oferecendo um maior compromisso com a sustentabilidade ambiental e social. Assim, é mantido também um cuidado em uma gama infinitamente maior de fatores, como a forma como o produto é pensado, projetado e criado; sua embalagem; o transporte; a venda; a forma com que ele chega na casa do consumidor; e como será a forma e meio em que será realizada a reciclagem, descarte ou até mesmo a reutilização do produto, tentando reduzir ao máximo o número de resíduos gerados.

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COLUNA

O lado científico do marketing por Cora Rónai | ILUSTRAÇÃO SAUL STEINBERG

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entadas em cadeiras encantadas na parede de um conjunto de escritórios colaborativos, duas mulheres jovens, vestidas coms o despojamento de cariocas típicas, esperavam o momento de serem chamadas para um teste. Elas haviam respondido a um anúncio encontrado na internet, receberiam um pequeno cachê e estavam curiosas a respeito do que precisariam fazer. Não era nada muito difícil. mas era, com certeza, bem diferente de qualquer outra coisa que já tivessem feito. Numa salinha adjacente , elas seriam apresentadas a meia dúzia de diferentes cremes hidratantes, todos em potes iguais, e marcariam numa tela, as notas que atribuiriam a cada um deles. Sensores conectados ao seu

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rosto e um discreto leitor de pupilas, instalado no monitor registrariam, enquanto isso, a intensidade das suas reações a cada um dos produtos. AS DUAS MOÇAS, junto com outras setenta igualmente recrutadas, estavam participando de uma análise de neuromarketing, um campo novo do marketing que se propões a estudar, de forma científica, as reações e o comportamento do consumidor. Registrando as reações neurológicas das pessoas a produtos e peças publicitárias, ele pretende ir bem além das pesquisas tradicionais que se baseiam em simples perguntas e respostas. Ele surgiu da constatação de que muitos fatores externos atrapalham o resultado das pesquisas clássicas,

em que cultura e percepções de mercado frequentemente se impõem entre o que as pessoas sentem e as respostas que dão, e vem crescendo à medida em que, cada vez mais, os consumidores reagem melhor a “experiências” do que a anúncios. É um aliado fundamental da propaganda, já que um de seus objetivos é eliminar os pontos de irritação do público diante de anúncios. Quem me levou ao teste das moças e me explicou o que é neuromarketing foi Billy Nascimento, professor de Neurociência do Consumo da espm.Billy, que é doutor em neurofisiologia, fundou aqui no Rio, junto com o colega de pós-graduação Ana Souza, uma empresa chamada Forebrain, que nasceu na


EU ENTENDO

incubadora da Coppe-EJ e hoje trabalha para a indústria de produtos de consumo e para agências de publicidade. Ele me contou que a forma como as marcas estão se relacionando com as pessoas está mudando muito rápido, e que nós mesmos nem sempre nos damos conta do que nos estimula, e como esse estímulo acontece. - Nós temos um pacto com a mídia tradicional. Nós aceitamos que a determinados intervalos de tempo, a nossa programação da TV vai ser interrompida por comerciais. Mas qual é o nosso pacto com o YouTube, por exemplo, ou com o conteúdo da internet em geral? O neuromarketing busca entender essas novas frentes, e tudo o que cerca a nossa relação com os produtos. Para Billy, um case clássico de “experiência” é o Red Bull, energético que

conseguiu se transformar no lado palpável de um estilo de vida radical. A moeda da experiência é a emoção - mas como mapear a emoção? Aí está a explicação para os sensores conectados às moças que iam testar hidratantes: eles estavam registrando os seus batimentos cardíacos, expressões faciais, dilatamento das pupilas. - Apenas 5% do que acontece no cérebro é percebido de forma consciente- observa Billy- O resto é emoção. Quando uma embalagem de suco de fruta fala dos fazendeiros que colhem as frutas, por exemplo, ou do que é ser italiano, está tentando chegar a esse campo misterioso. O neuromarketing tem as ferramentas para deter-

minar se a estratégia vai funcionar. Perguntei a Billy o quanto as vendas de produtos aumentam quando embalagens e publicidade são analisadas por empresas como a sua. - Ah, nós daríamos tudo para saber, mas este segredo os fabricantes guardam a sete chaves. Nós temos a confirmação de que as análises funcionam na prática através de um fato simples: os clientes voltam.

Cora Tausz Rónai é uma jornalista, escritora e fotógrafa brasileira.

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ilustrado por: JUAN GATTI



METAVERSO EM TRANSFORMÇÃO NOVAS EXPERIÊNCIAS VIRTUAIS IMERSIVAS ESTÃO TRANSFORMANDO A RELAÇÃO DOS CONSUMIDORES COM MARCAS HAUTE COUTURE texto

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JULIA STORCH | fotos NIC CHIRO

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ova York, Londres, Milão, Paris e, em 2022, o universo virtual. As mais prestigiadas grifes de roupa do mundo agora desfilam suas criações também no metaverso, o novo destino “it” da moda. Um dos marcos recentes dessa empreitada foi o Metaverse Fashion Week, da plataforma de realidade virtual Decentraland, um mundo virtual aberto que funciona no blockchain de Ethereum, que aconteceu no fim de março. A maior semana de moda totalmente digital até o momento reuniu consagradas grifes, como Tommy Hilfiger, Dolce & Gabbana e Elie Saab, e nativas digitais, como The Fabricant, Auroboros e DressX. Com mais de 60 marcas, artistas e designers participantes, o evento trouxe, ao longo de quatro dias, diversos desfiles, palestras, pós-festas, ativações imersivas e lojas pop-up, com as grifes exibindo looks digitais em avatares nas passarelas virtuais. Mais de 108.000 usuários únicos, também na sua versão avatar, estiveram presentes para conferir as coleções e fazer compras com suas criptomoedas. “O mais interessante na mvfw é a grande adesão de marcas muito

amplas e com uma participação expressiva no mercado tradicional a um varejo digital, numa nova dinâmica. Os consumidores puderam comprar peças exclusivas para os seus avatares, e também itens físicos, adquiridos dentro do metaverso e entregues presencialmente”, destaca Carol Garcia, professora do curso de design de moda da Belas Artes. O evento veio na esteira de uma série de incursões da indústria da moda ao metaverso, especialmente nos últimos dois anos, e um maior interesse pelos non-fungible tokens (nfts). Os tokens não fungíveis, na tradução em português, são uma espécie de certificado de autenticidade e propriedade de bens digitais, baseado em blockchain, permitindo que os artigos virtuais se tornem únicos. Nesse período, a Balenciaga, por exemplo, criou um jogo exclusivamente para apresentar sua coleção e, na sequên­cia, fechou uma parceria com o Fortnite, game online que é fenômeno global, para vender roupas (ou skins) para os personagens dentro da plataforma. Outras marcas conceituadas, como Louis Vuitton, Gucci, Burberry e Prada, também foram por esse caminho vestindo digitalmente personagens de videogames.

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Esse cenário tem influenciado também as semanas de moda tradicionais, que estão adicionando elementos imersivos ou de rea­lidade aumentada à experiência da passarela. Um exemplo é a estreia de uma linha de prêt-à-porter puramente digital da inovadora Auroboros na London Fashion Week deste ano. Outro caso, na Semana de Moda de Nova York, foi a apresentação da coleção de wearables digitais de Jonathan Simkhai na plataforma Second Life, um dia antes das versões físicas, em um desfile com 11 looks do designer reimaginados virtualmente para o metaverso. Além das roupas, entre os convidados vip estavam modelos, influenciadores, celebridades e jornalistas especializados — todos com seus avatares personalizados vestindo peças de Simkhai Entre os designers que se apresentaram está o carioca Lucas Leão, que desde 2018 produz peças com intervenções digitais, como estampas e avatares, filmes em 3D e realidade aumentada. Em abril do ano passado, o estilista lançou uma coleção de peças digitais e com realidade aumentada no marketplace Shop2gether. Ao comprar os looks, como uma jaqueta puffer e um vestido, o cliente enviava uma foto para que os looks digitais fossem manipulados ao seu gosto na imagem. Em outubro do ano passado, Leão realizou um desfile com realidade aumentada. Munidos de celulares com o aplicativo Snapchat, os convidados puderam visualizar

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a coleção simultaneamente nos formatos físico e digital. Através da tela, roupas, acessórios e a cenografia da passarela apareciam digitais com o uso de um filtro. Pesquisador de tendências do universo digital, a cada ano Leão traz um novo conceito para suas apresentações. “Para este ano, quero que haja trocas entre o espectador e a peça física, com interação com sensores, por exemplo, para que as pessoas possam sentir frio ou calor”, comenta. Saindo do nicho de luxo, a moda digital também chegou às fast fashions. No final de março, a Renner apresentou sua coleção de outono/inverno com novos recursos possíveis pela tecnologia. Em vez de uma passarela tradicional, as peças desfilavam sem corpos através dos óculos de realidade aumentada. Porém, as roupas foram comercializadas no formato físico. Para Fernando Hage Soares, coordenador do curso de moda da Faap, a digitalização das semanas de moda, que antes eram eventos exclusivos para jornalistas e compradores, agora se tornou uma oportunidade de contato direto com os consumidores finais da marca.


foto by Oladimeji Odu foto by Hoxane XUX

O metaverso na moda gera diversas discussões: seria esse o futuro da moda? Isso significa que ele torna a moda mais acessível?

Desfile de Jonathan

Pesquisador de tendências do universo digital, a cada ano Leão traz um novo conceito para suas apresentações. “Para este ano, quero que haja trocas entre o espectador e a peça física, com interação com sensores, por exemplo, para que as pessoas possam sentir frio ou calor”, comenta. Saindo do nicho de luxo, a moda digital também chegou às fast fashions. No final de março, a Renner apresentou sua coleção de outono/inverno com novos recursos possíveis pela tecnologia. Em vez de uma passarela tradicional, as peças desfilavam sem corpos através dos óculos de realidade aumentada. Porém, as roupas foram comercializadas no formato físico. Para Fernando Hage Soares, coordenador do curso de moda da Faap, a digitalização das semanas de moda, que antes eram eventos exclusivos para jornalistas e compradores, agora se tornou uma oportunidade de contato direto com os consumidores finais da marca. Além da Renner, a marca de calcinhas absorventes Pantys entrou no mercado de NFTs ao lançar 33 tokens. As peças, que no mundo físico têm um uso específico, ganharam um valor simbólico no universo digital. A cada transação feita, com valor a partir de 0,015 eth, a empresa se comprometeu a doar uma peça para mulheres em situação de vulnerabilidade social logo contando com o incrremento bilateral de roupas

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Se a tendência continuar, será que, no futuro, a moda será mais feita de pixels do que de tecido? Ninguém sabe ao certo. À medida que esse espaço emergente vai sendo explorado, as marcas estão descobrindo o que funciona ou não. O que o mercado fashion já sabe é que há muitas oportunidades na mesa para correr o risco de ficar para trás. Além de trazer diversas possibilidades para entregar experiências completamente diferentes ao consumidor, esse universo abre um novo horizonte de negócios. Esse movimento demonstra o lugar que o universo digital já ocupa em nossa cultura atual, inclusive na moda. “O aumento da ‘vida digital’ vem acontecendo em nossa sociedade desde que os smartphones se popularizaram. E, com a pandemia, fomos ainda mais impulsionados a criar uma presença digital”, observa Soares.

Simkhai na plataforma Second Life, dentro do metaverso.

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A ideia de um mundo virtual em 3D que simula a vida real, com interações entre avatares, não é exatamente nova — em 2003, o Second Life já fazia isso. Mas não existia uma economia digital em que marcas pudessem ganhar dinheiro com o recurso. Hoje, isso é possível. Porém, para o designer Lucas Leão, o metaverso vai muito além das roupas digitais que as marcas vêm lançando. “Atual­mente as grifes vendem o metaverso como um mundo particular, que não é tão recente assim se você pensar que o Second Life e o The Sims já desempenhavam esse papel há 20 anos”, diz. “Precisamos olhar para essa interação do físico com o digital, em vez do digital exclusivamente.” Criadora do brifw, Olivia Merquior concorda com Lucas Leão. “Faz sentido o mercado de luxo testar todas essas plataformas, que contam com altos investimentos e rendas. Mas não acredito que isso será o futuro da moda, e sim um dos exemplos possíveis para o futuro da indústria”, finaliza.

Se olharmos de modo mais superficial, o metaverso é a 'personificação' de um mundo ideal, mas se analisarmos do ponto de vista da sustentabilidade no mundo da moda virtual, muitas preocupações começam a surgir.

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SLOW FASHION E FAST FASHION

O QUE SIGNIFICAM?

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MARIA LUISA PEREIRA SANTOS | fotos FRANÇOIS NGUYEN


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Quem foram os trabalhadores por trás da produção daquele item? Será ocê conhece os termos “Mo- que a remuneração deles é justa? da Sustentável”, “Moda Conscien- Tais questionamentos podem nos te”, Slow Fashion e Fast Fashion”? ajudar a compreender o impacto Tais termos têm se popularizado no do nosso consumo na sociedade. Brasil, com cada vez mais pessoas repensando seus hábitos de consumo. SLOW FASHION E FAST FASHION: O Mas qual a diferença entre eles? QUE ISSO QUER DIZER? Como a moda afeta o meio am- Para além dos termos “moda sustenbiente e o nosso modelo de con- tável” e “moda consciente”, há dois sumo Brasil? Saberemos neste outros conceitos importantes que reartigo sobre modelos de produ- lacionam esse mercado com o meio ção Slow Fashion e Fast Fashion! ambiente: fast fashion e slow fashion.

MODA SUSTENTÁVEL E MODA CONSCIENTE: QUAL A DIFERENÇA?

Moda sustentável busca entender o processo de produção das peças, desde a extração de matéria-prima até a venda nas lojas, de modo a reduzir impactos causados no meio ambiente. De outra forma, a moda consciente busca compreender o padrão de compra dos consumidores, a consciência de compra, em uma dialética de produção e consumo. São as pessoas que conscientemente buscam por uma moda que é produzida de maneira sustentável. Vamos fazer um exercício de refletir sobre o seu consumo: Por que você fez aquela última compra? Era um item que você precisava?

O QUE É FAST FASHION?

“Fast Fashion significa moda rápida, é o termo utilizado para designar a renovação constante das peças comercializadas no varejo de moda.” (sebrae, 2015)

O QUE É SLOW FASHION?

Por outro lado, slow fashion foi um termo adotado em 2004, em Londres, pela escritora da revista Georgia Straight,

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O VALOR DAS ROUPAS X REMUNERAÇÃO DOS TRABALHADORES

Vocês sabiam que muitas empresas utilizam da mão de obra precarizada para reduzir o investimento na produção e lucrar? É o que afirma o conceito de “Mais-Valia“: Em poucas palavras, seria a disparidade entre remuneração do trabalhador em relação ao valor/tempo gasto na produção de um item. Mas o que isso tem a ver com moda? Uma das críticas que o modelo fast fashion recebe é no sentido da desvalorização das trabalhadoras costureiras. “O emprego de mão de obra precarizada ou escrava é outro gran-

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foto by Tyler Nix

Angela Murrills, inspirado pelo conceito de “slow food” originado na Itália. O termo indica a busca por alternativas mais conscientes e sustentáveis para o consumo de roupas. Assim, ao passo que a fast fashion tem como objetivo a moda globalizada, refletindo na alta rotatividade das peças, na antecipação das vendas e na renovação constante das lojas, a slow fashion busca a produção local, a sustentabilidade das peças, a reutilização de peças antigas e o ciclo de vida maior. “Um produto, uma peça de roupa[…] torna-se um produto real, uma peça de roupa real apenas quando usada, desgastada, consumida. Através do uso, ela se desintegra e se nega. Isso estimula mais produção. O consumo cria a necessidade de nova produção” (modefica, 2019)

de problema relacionado ao fast fashion. Grandes fabricantes já foram flagradas utilizando contratações ilegais, jornadas de trabalho superiores a 16 horas, condições degradantes e pagamentos ínfimos.” (digitale textil, 2020). Isso porque, no processo de produção, a encomenda chega até você apenas em um clique – e isso pode fazer com que você nem pense realmente por quais estágios aquele produto passou até chegar ao seu destino. Assim, quando algumas lojas fazem sucesso no segmento da moda com o barateamento excessivo das peças – situação comum ao modelo fast fashion – há duas variáveis que entram nesse debate: baixo custo de uso e trabalhos análogos à escravidão. Como explica Barbara Poerner, bacharel em Moda e redatora da página Elas Disseram, Sabiam que dez países asiáticos (Bangladesh, Camboja, China, Índia, Indonésia, Mianmar, Paquistão, Filipinas, Sri Lanka e Vietnã) somam 75% da força de trabalho da rede produtiva da moda no mundo? (onu e oit). São 65 milhões de pessoas, em maioria (80%) mulheres, trabalhando dia após dia para produzirem um tantão de roupas que pasmem… a gente nem precisa. E muitas com preços bem


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foto by Dominik Kielba

A indústria têxtil é uma das quatro indústrias que mais consomem recursos naturais, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA). Por isso, a procura por opções de consumo sustentável de roupas é cada vez maior.

O fetichismo e o consumismo tomam conta do processo de trocas comerciais, onde a propaganda e a comercialização acabam por reduzir os vestígios de construção e produção das verdadeiras imagens do baixos: em 2016, Bangladesh era o que é consumido. (harvey, 2009). segundo fornecedor mais barato de Ou seja, o consumo estreita as roupas para a União Europeia entre trocas comerciais e traz harmonia dez países competidores. (elas dis- às fases do ciclo produtivo. E assim, seram, 2020, Barbara Poerner) esquecemos de quais condições e Contudo, vale destacar que o ba- contextos as mercadorias passarateamento das peças não significa ram até chegar nas nossas mãos. necessariamente que existe trabalho análogo à escravidão naquela O SEGMENTO DA MODA AFETA produção. O MEIO AMBIENTE? Nesse sentido, as críticas da moda ALTA ROTATIVIDADE E rápida trazem o questionamento OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA sobre a produção e a poluição gerada Outra crítica relacionada ao mode- pelo descarte de peças. Além do balo fast fashion está na questão de rateamento da mão de obra, estudos alta rotatividade e obsolescência demonstram que o meio ambiente programada, por trazerem proble- também é afetado com o excesso máticas para nosso meio ambien- das peças produzidas. A pesquisa te, principalmente com a escas- disponibilizada pela fundação Elsez dos nossos recursos naturais. len MacArthur Foundantion, afirma Afinal, o que acontece com as peças que a indústria da moda é segunda que descartamos? Ainda que “joga- indústria mais poluente do mundo. das fora” pelo consumidor, essas Além disso, conforme o movipeças terminam em algum lugar. mento “Menos 1 Lixo”, todos os O Pacto Municipal Triparti- anos, a indústria têxtil utiliza 93 te Contra a Fraude e a Precariza- trilhões de litros de água, perdendo ção acompanhou 20 marcas da apenas para a agropecuária, maior indústria têxtil que já usaram trabalho escravo na produção. Isso porque, no contexto global, os nossos hábitos de consumo são incentivados pelo capitalismo. Dessa forma, nesse sentimento de precisarmos seguir as tendências, esquecemos da dinâmica de produção dos produtos e muitas vezes compramos coisas que nem precisamos. Como explica Harvey (2009), teórico que fala sobre produção e capitalismo:

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O BRECHÓ COMO UMA OPÇÃO DA MODA SLOW FASHION

Pode-se afirmar que existem possibilidades pessoais de mudanças para que a moda seja mais sustentável. Baseado nas práticas individuais, algumas pessoas estão procurando formas de reduzir o impacto de seu consumo no mundo com alternativas como brechós. O brechó se popularizou no século xix, no Rio de Janeiro, fundada por um comerciante português chamado Belchior. Atualmente, é muito comum no Instagram vermos as lojas mostrando o processo de curadoria, envio e garimpo, e muitas pessoas aderiram a essa alternativa. Segundo dados da Agência Brasil,

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Representação do desperdício na indústria da moda

foto by Sunny

responsável pelo desperdício e poluição das águas doces do mundo. Segundo o Fashion Revolution, consumimos uma média de 10 mil litros de água para fabricar uma calça jeans e 8 mil para um par de sapatos. Além disso, poucas são as empresas que usam tecidos sustentáveis e eco-friendly (amigável ao meio ambiente), seja pela demora de produção e custeamento – no Brasil, menos de 1% do algodão produzido é orgânico (ou seja, cultivado sem o uso de agroquímicos e corantes tóxicos). Dessa forma, o crescimento do consumo sustentável depende da conscientização da sociedade acerca da importância dos recursos naturais, a qual é formada através de projetos voltados para a formação de “consumidores cidadãos”. (santos. a. p. l; fernandes. d.s; 2012)

“A abertura de estabelecimentos que comercializam produtos de segunda mão teve um crescimento de 48,58%, entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, de acordo com levantamento do Sebrae, com base em dados da Receita Federal.” O que nos leva a crer que a pandemia afetou os hábitos de consumo de muitas pessoas. Seja pelo lado financeiro, seja pela preocupação com o meio ambiente, não podemos ignorar a função de refletir nosso impacto no mundo. No Brasil metade da população brasileira vive com 413 reais ao mês, de acordo com o jornal EL PAÍS, é de responsabilidade dos trabalhadores a redução de gases poluentes que as) E como fica a responsabilidade social das empresas do ramo da moda? Apesar de a mudança de hábitos ser importante, esse debate é ainda mais complexo. Afinal, se no Brasil metade da população brasileira vive com 413 reais ao mês, de acordo com o jornal EL PAÍS, é de responsabilidade dos trabalhadores a redução de gases poluentes que as grandes indústrias produzem? Pensando nisso, como afirmam Dierkes (1998) e Rita Von Hunty (2020), o equilíbrio ecológico só é alcançado quando as grandes indús-


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trias modificam a dinâmica produtivista do capitalismo. Lembrando que, no processo de conciliação ecológica e circulação da economia, os autores relatam ser imprescindível o diálogo entre todas as etapas do processo de produção de forma transparente e digna aos trabalhadores.

foto by Hoxane XUX

Todos os dias, mais e mais consumidores buscam alternativas para minimizar os danos causados ao planeta, sem renunciar ao estilo. Mas ainda assim, devido ao alto custo das peças de Slow Fashion aos consumidores, a indústria de Fast Fashion ainda é muito buscada pelo público e tem muito a crescer.

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MODA CIRCULAR

CONCEITO, EXEMPLOS E COMO SE ENGAJAR.

texto MARINA LINS | fotos CERQUEIRA

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oda circular é uma prática da economia circular, que pensa o desenvolvimento de produtos num ciclo de vida mais durável, regenerativo e sustentável. Uma vez que a moda tem um impacto cada vez mais negativo ao planeta, medidas para a circularidade buscam frear os efeitos da crise climática que estamos vivendo. Segundo o instituto internacional Ellen Macarthur Foundation, referência no assunto, a moda circular passa pela eliminação do desperdício e poluição; a circularidade de produtos e materiais; e a regeneração dos solos.

Ou seja, ao desenvolver um produto, é necessário considerar a durabilidade, sua reinserção de volta ao solo ou num novo produto.

MODA CIRCULAR: 5 FORMAS DE PRATICAR

As micro-ações podem parecer pequenas, mas são a porta de entrada pra uma vida mais consciente. Por isso, você também é uma protagonista nessa conversa! Pra exemplificar, aqui vai algumas dicas de como se engajar na moda circular:

1. Pesquise sobre tecidos que façam sentido para sua realidade. Aqui ECONOMIA CIRCULAR NA MODA entra fazer compras conscientes e Se numa perspectiva linear e tra- necessárias. Do ponto de vista dos dicional os processos se baseiam tecidos, dê preferência a materiais em extração, produção, consumo de qualidade e peças confortáveis e descarte, a economia circular de acordo com o clima da sua cidade. busca produzir de forma integrada com nossos ecossistemas. Produ- 2. Dê preferência às peças usadas. tos são projetados para serem re- Sempre que puder, dê uma chance ciclados e continuar num ciclo de para as peças de brechó. Lá você uso, conforme a imagem abaixo. pode garimpar roupas e acessórios Ainda, é necessário diferenciar exclusivos e com muito estilo. a economia circular da reciclagem. Enquanto o processo de reciclar faz gestão dos resíduos no final do processo produtivo, na economia circular isso é pensado desde o princípio.

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3. Prolongue o uso das suas roupas. ++++Afinal, foi um longo caminho para ela chegar até você. Nada de descartar suas roupas sem usá-las ao máximo, certo? 4. Quando uma roupa chegar ao fim de vida útil, busque as marcas para entender qual soluções elas têm. Por exemplo, aqui na Herself, onde temos um programa de logística reversa! 5. Fique atenta à lavagem verde, já que a moda circular exige dados e transparência.

durabilidade e para reciclagem, que devem ser levados em consideração desde a criação da peça. Design de processos e fluxos circulares. Como por exemplo as práticas de upcyling e logística reversa. Sistemas vivos: regenerar a natureza. Por exemplo, usando materiais compostáveis e se comprometendo com a restauração e melhora do solo. Recursos e toxicidade limitadas. Que diz respeito à redução de energia, água e saídas químicas na produção têxtil. Condições locais do sistema: internalizar externalidades. Aqui, deve ser levado em conta seguir as políticas públicas do país e priorizar a produção nacional com rastreabilidade. Além disso, levar em conta a acessibilidade dos produtos e parcerias com instituições educativas também são essenciais. Sociedade: justiça e ecologia social. Como relações justas, diversidade, geração de novos empregos e inclusão de atores informais. Nesse sentido, a igualdade de gênero e raça são demandas importantes no tema.

Mas, não se esqueça: a economia circular é complexa. E, o poder público e privado também são responsáveis por essa transformação. Afinal, se como consumidoras, não está em nossas mãos agir rumo a uma mudança sozinhas, consumir de quem está comprometido com MODA CIRCULAR BRECHÓ: essas ações pode fazer a diferença! QUAL É A RELAÇÃO? Os brechós possuem um protagoEXEMPLOS DE MODA CIRCULAR nismo na discussão sobre a moda Mas como a moda circular acontece circular. Segundo o Sebrae, de na prática? Bom, não existe uma úni- 2020 para 2021, o mercado de seca bibliografia e nessa transição de um modelo linear para circular, cada negócio deve adaptar seus processos. Nós gostamos muito do método de moda circular lançado recentemente pelo Modefica, que aplicou o conceito de Ellen Macarthur Foundation para as necessidades do Sul Global. Assim, estando nesse Brasil tão plural e cheio de particularidades, podemos ter como parâmetro: Design de produto circular. Aqui entram práticas de design para

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foto by Karina Tess

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foto by Malicki M Beser

A indústria têxtil é uma das quatro indústrias que mais consomem recursos naturais, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA). Por isso, a procura por opções de consumo sustentável de roupas é cada vez maior.

gunda mão cresceu 48,5%. Quando as roupas usadas estão circulando, seu tempo de vida útil é estendida. Da mesma forma, o upcycling também é uma prática mais sustentável. A partir de roupas usadas são feitos novos produtos. Embora essas técnicas estejam se popularizando com marcas de grife, essa inteligência coletiva está presente há anos na periferia brasileira. Como é o caso da “Remexe”, cooperativa de moda sustentável do Centro Cultural Lá da Favelinha, que cria a partir de resíduos têxteis. Dessa forma, as práticas se encaixam não só no design para durabilidade, como também na diversidade, por promover renda a pessoas de diferentes etnias e contextos sociais. Mas, então, todo brechó faz parte da moda circular? Em alguma medida, alguns possuem produtos circulares. No entanto, nem todo o brechó opera nessa lógica. Práticas como upcyling, melhor uso dos tecidos, reciclagem e sustentabilidade social também devem ser levados em consideração. 3 livros para se informar sobre o tema Por fim, se você quer se informar mais, temos ótimas dicas. Abaixo listamos as principais referências desse texto. Alguns, como o caso de Cradle to Cradle (Berço ao Berço), infelizmente não tem tradução para o português. Mas os outros três estão disponíveis, repletos de dados e pesquisa. Assim, fica mais fácil se tornar um agente ativo nessa mudança, né? Confira:

1.Cradle to Cradle de William McDonough e Michael Braungart Essa é uma das principais escolas de economia circular. Caso você consiga ler em inglês, vá fundo nessa leitura incrível. 2. Economia Circular, da Catherine Weetman Já esse livro aqui é a principal referência com tradução para o português. Apresenta estratégias e métodos para empreendedores e atuantes em empresas. 3. Fios da Moda, do Instituto Modefica E, por fim, um relatório incrível feito pelo Instituto Modefica, que apresenta todas as teorias da moda circular, métodos, dados e desafios sobre essa agenda aqui no Brasil.

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COLEÇÃO “ROOTS OF REBIRTH”

SLOW FASHION E FAST FASHION: O QUE SIGNIFICAM?

IRIS VAN HERPEN UTILIZA PLÁSTICOS OCEÂNICOS RECICLADOS EM SUA NOVA COLEÇÃO DE ALTA COSTURA.

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RENATO CUNHA | fotos MOLLY SJ LOWE

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m sua nova coleção de alta-costura “Roots of Rebirth” para primavera/verão 2021, a estilista holandesa Iris van Herpen explora uma simbiose de alta tecnologia e o artesanato da alta costura, através de uma coleção que faz referência à complexidade dos fungos e ao emaranhado da vida que respira sob nossos pés. Van Herpen aponta para a milagrosa interconexão da “rede subterrânea florestal”, tecendo um diálogo entre o terrestre e o mundo subterrâneo. As deslumbrantes roupas de Van Herpen são feitas à mão com os melhores materiais, garantindo que duas peças nunca serão iguais. Com a introdução de peças únicas feitas com impressão 3D, a estilista mostrou que designs únicos também podem ser alcançados usando tecnologia. Para a primavera/ verão 2021, Van Herpen colaborou com Parley for the Oceans para incluir tecidos de poliéster feitos de plásticos oceânicos reciclados. “É claro que os clientes [de alta costura] esperam a mais alta qualidade, então você não quer ser sustentável se diminuir a qualidade”, disse ela. “Estamos agora em um

momento em que a qualidade, entre uma seda orgânica e um poliéster reciclado, é completamente igual…. Agora é realmente uma questão de decisão, não é uma questão de escolher uma qualidade. Basicamente, não há muitos motivos para não usar mais materiais sustentáveis, a não ser mudar sua mentalidade.” O livro Entangled Life de Merlin Sheldrake, sobre como os fungos sustentam a vida na Terra, inspirou a coleção de Van Herpen em muitos níveis. Seu uso de pregas pode estar relacionado às guelras dos cogumelos. O micélio, a parte ramificada do fungo em forma de renda, influenciou tanto as silhuetas quanto os enfeites. Van Herpen até trabalhou com um artista que cultivava padrões de renda em madeira. O micélio, explica a estilista, forma uma “rede subterrânea florestal”, ou sistema subterrâneo de comunicação. É uma ideia que “me tocou especialmente”, disse Van Herpen,

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“porque acho que o ano passado foi, para mim, e acho que para todos nós, um ano de isolamento e separação. E, claro, é muito bonito olhar para a natureza e como a natureza se conecta de uma maneira muito semelhante a como nos comunicamos. E embora a alta-costura seja a expressão mais exclusiva da moda, também é a mais íntima. Um dos motivos pelos quais “eu amo tanto a alta costura”, diz ela, é “porque é uma abordagem muito pessoal da moda. Tenho relacionamentos e contatos diretos com as pessoas para as quais crio, e acho que esse é um valor tão raro hoje em dia, onde tudo é tão separado.” Van Herpen se esforçou muito para alinhar a moda com a ciência e a natureza com a tecnologia.

Conhecida por suas criações etéreas e transcendentais, Iris Van Herpen une o ofício artesanal em sua excelência com a alta tecnologia — peças com impressões 3D detalhadas e um trabalho manual minucioso dos artesãos da marca.

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ECOFASHION

Use cascas e sobras de vegetais e frutas

COMO PREPARAR CORANTES NATURAIS

Cada um dos vegetais citados cria cores distintas: verAs cascas de frutas e vegetais que sobram do preparo melho (beterraba), amarelo (laranja), verde (espinafre), de refeições podem ter muitos usos, um deles, pouco azul (repolho vermelho) e laranja (cebola). É possível comum, é transformá-las em corantes naturais para usar outros alimentos, de acordo com as cores desejadas. tingir roupas ou tecidos. Isso é ótimo, já que corantes 1. Para fazer o tingimento de roupas, o primeiro passo artificiais podem ser prejudiciais à saúde e ao meio é colocar cada ingrediente para ferver com água. Use ambiente. Se você gosta de artesanato, trabalhos mapanelas distintas para cada cor que você quer criar. nuais e do trabalho com tecidos, saber como tingir roupa em casa, usando apenas ingredientes naturais, 2. Leve os legumes ou cascas picados ao fogo junto permite criar cores personalizadas e ainda reaproveicom o dobro de água em relação à quantidade tar peças de roupa e restos de alimentos orgânicos. do alimento (no caso da receita sugerida seriam duas xícaras de água para cada panela de corante INGREDIENTES E MATERIAIS NECESSÁRIOS natural). Deixe em fogo médio para ferver, durante uma hora. 1 xícara de cascas de beterraba; 3. Passado esse tempo, desligue o fogo e deixe es1 xícara de cascas de cebola; friar até que a água atinja a temperatura ambiente. Depois disso, use o coador e coloque os seus 1 xícara com folhas de repolho vermelho; corantes naturais nos recipientes de vidro. 1 xícara de espinafre;

4.

1 xícara de cascas de laranja; Sal; Vinagre; Panelas pequenas;

Pronto! Agora é só começar o tingimento das suas peças de roupa. Para que o corante natural pegue bem, use uma mistura fixadora nos tecidos.

No caso de corantes feito à base de frutas: 1. Ferva o tecido em 4 xícaras de água com 1/4 de xícara de sal por uma hora. Para tinturas feitas com vegetais, use uma xícara de vinagre diluído em 4 xícaras de água. Nos dois casos, ferva a roupa na mistura fixadora durante uma hora.

Água; 2.

Depois de ferver, espere a roupa esfriar, escorra e coloque a peça de roupa ou tecido em água fria antes de começar o tingimento.

3.

Torça bem o tecido e, em seguida, coloque a peça de molho no corante natural por pelo menos uma hora, ou até o tecido atingir a cor desejada.

4.

Depois, é interessante lavar as peças tingidas naturalmente em água fria, para preservar a cor por mais tempo, e separadas das outras peças, para evitar manchas.

Coador; Colher de pau; Recipientes de vidro.

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APRENDA A FAZER: ECOPRINT O Ecoprint é uma técnica de estamparia apenas com vegetais, ou seja, toda coloração é extraída de flores e plantas. Este tingimento em tecido, pode ser feito em qualquer tipo de peça, desde roupas até acessórios, personalizando o material. A forma ecológica de tingimento e a estética agregam valor ao produto, para quem deseje investir como um negócio ou renda extra.

INGREDIENTES E MATERIAIS NECESSÁRIOS Peça de tecido (usamos um recorte de seda); Folhas, ervas, flores (os vegetais irão dar a cor e os desenhos na peça);

COMO FAZER: 1.

Molhe todo o tecido com vinagre e estenda em uma superfície plana (o vinagre ajuda a fixar a cor e melhora o manuseio do tecido); 2. Distribua os vegetais sobre o tecido estendido (a disposição das plantas, conforme suas cores e formatos, é o que vai dar personalidade à peça). 3.

Bastão de ferro ou pvc (cerca de 5 cm de bitola e 30 cm de comprimentopode variar conforme tamanho da peça);

Enrole o tecido no bastão e amarre de forma bem firme (a escolha entre cordas, cordões ou redes é significante pois sua pressão sob o tecido também registra marcas na peça);

4. Cordas, cordões ou redes (usamos redes recolhidas dos oceanos, pois além de estilizar a peça também agrega valor ecológico a ela); Vinagre de álcool; Panela grande (que caiba o bastão em posição horizontal e totalmente mergulhado) com água fervente e erva mate (ajuda a colorirdeixa mais escuro);

Submerja o bastão na água fervente com erva mate e deixe, no mínimo, 30 minutos. O bastão deve ficar em posição horizontal e totalmente coberto. Quanto mais tempo a peça ficar na água, mais escura será a sua coloração. É importante não deixar a água ferver enquanto está com o bastão. Desta forma, antes de colocar o objeto, a água que estará fervente esfriará, e deve permanecer nesta temperatura. Então, o indicado é baixar o fogo assim que colocar a peça na água. 5. Deixe esfriar, desamarre, desenrole e lave a peça em água fria. 6. Com o tecido ainda molhado (é importante ser molhado, porque senão a peça pode enrijecer), passe com o ferro quente, de forma que seque a peça no ato de passar. 7.

Após dois dias, no mínimo, lave com sabão e amaciante e está pronta a sua peça!

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SE INTEGRA

RONALDO FRAGA


EU REFLITO

Ronaldo fraga enquanto artista Como um dos maiores nomes da moda enxerga as demais vertentes do seu trabalho com a arte na atualidade, em meio à pandemia por

Stela Cambraia

O artista, estilista, ativista, pai e influencer nas horas vagas Ronaldo Fraga, nascido em Belo Horizonte, no dia 27 de outubro de 1967, representa bem o papel daquele que, mesmo já consagrado nas artes, conseguiu trazer um novo olhar sobre suas obras, e que divide suas impressões com o público que quer conhecer o que existe por trás de sua arte. Formado no curso de estilismo da ufmg, e pós-graduado na Parson’s School de Nova York, Ronaldo Fraga eternizou o seu nome na história da moda pela originalidade e ousadia, trazendo inclusão e representatividade onde quer que estivesse. Indo além da moda, Fraga não se limita a nenhum rótulo, já que opera em diversas áreas e, principalmente agora, compartilha suas visões diretamente nas mídias sociais para fãs e admiradores do seu trabalho. Em entrevista exclusiva ao Colab, o artista contou como foi ter seu trabalho “pausado” pela pandemia, como a imagem do Brasil o inspira durante a criação, e o que significa ser alguém capaz de levar sua mensagem para milhões de pessoas. Fraga falou também sobre como quebrar barreiras e vencer o medo de criar. Como é ser artista na era da tecnologia? Você considera as mídias sociais como aliadas ou percebe que limitam sua forma de expressar?

Primeiro, me considerar artista é algo que eu tenho certo pudor de me colocar nesse lugar, e quando o outro reconhece arte no meu trabalho eu acho legal. Mas eu sou um profissional da cultura e sempre penso nesse mundo da moda como um vetor cultural. Eu me vejo na frente de cultura, mas pensando a moda como cultura, e eu acho que a cultura, nestes tempos pandêmico, é como disse o Manoel de Barros, que liberdade é igual água, ela caça

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jeito, ela escorre entre as pedras, e a cultura também. De certa forma, podem tentar tirar, mas a cultura vai vencer e está nos dando alento nestes tempos pandêmicos. Você acha que a arte vai além de apenas talento? você passou por algum momento em que pensou que ter talento não era tudo e que, era necessário ousar de diferentes formas?

Bom, primeiro o que é o conceito de talento? Tem gente que jura que tem, tem gente que é dito que tem talento e tem gente que você fala ‘que talento é esse?’. Primeiro, o talento deve estar muito ligado à paixão, à transpiração, à persistência, e, principalmente, ao entendimento deste talento como uma forma de comunicação com o seu tempo. Tudo que eu penso e tudo que me alumbra, como tudo que me assombra, quando eu quero falar sobre algumas coisas eu falo sobre essa fluência e com esse meu vetor de comunicação, que é o meu trabalho. Eu não consigo desassociar isso e, no caso da moda, para mim, é um pouco sobre o tempo que a gente está vivendo. Não me interessa a moda do passado ou pensar o futuro, me interessa a moda de hoje, falando hoje, é isso que me interessa. Você acha que todo artista deveria se posicionar por meio da sua arte? Que seja relevante em aspectos sociais ou políticos, por exemplo. Todas as figuras e todos os artistas que eu considero artistas no Brasil, se posicionam. O resto são manifestantes de massa. Os cantores sertanejos, por exemplo, não dá pra colocar isso no mesmo pacote de figuras que daqui a 200 anos a gente vai estar falando deles, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Arnaldo Antunes, então esses são os artistas com A maiúsculo. Praticamente todos que eu admiro, estão se posicionando. A arte é um farol, a verdadeira arte é um farol, e eu acho que todo mundo deveria se posicionar, seja famoso ou anônimo.

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ALGUMAS COISAS EU FALO SOBRE ESSA FLUÊNCIA E COM ESSE MEU VETOR DE COMUNICAÇÃO, QUE É O MEU TRABALHO


O que mais te preocupa no meio artístico de hoje? Você, percebe algum rumo negativo para as artes e o legado deixado para jovens que procuram viver da criatividade e inovação?

Sempre houve esse movimento na cultura de consumo, do consumo rápido, então, nós já passamos por isso, o Brasil sempre teve isso, e do mesmo jeito que eles vem, eles vão. Eles nos alimentam pouco, como se dessem um hambúrguer do McDonald’s, uma comida sem nutriente algum, essa coisa do showbiz de massa. Deste modo instigando a inovação.

Desfile de Ronaldo Fraga na edição 47 do SPFW

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qual você considera ser sua paixão atualmente? a moda, a co-criação, os trabalhos como ativista, espalhar a sua palavra na política?

A cultura brasileira, para mim, sempre vai ser o meu norte. A cultura do meu país e os mitos em que eu acredito sempre me nortearão, independente de eu estar falando de moda, da política, sempre terei ali meus mentores que estão sempre me inspirando, isso independente do setor que eu esteja atuando. Durante a pandemia, você sentiu uma liberdade maior em criar ou se sentiu limitado, com os encontros pessoais tendo sido levados à força pro virtual?

A vida inteira eu precisei trabalhar com espaço de manobra, à distância, dependendo do espaço que eu estava trabalhando, então, foi mais uma vez um espaço de manobras. Mas eu acho que quanto mais você tem espaço de manobra, mais criativo você pode ficar. Tem o lado ruim, porque eu gosto de estimular alguns lados meus, por exemplo, eu gosto de viajar, de encontrar pessoas, mas, por outro lado, eu fui para lugares que diminuíram a distância através do virtual, então, tem um lado bom, sim. Eu tenho que, de alguma forma, me reinventar. Está duro? Está! Está triste? Está! Mas eu agradeço aos meus mentores por me darem inspiração. O que é criar pra você? O que seu processo de criação envolve, seja uma peça de roupa, um novo projeto... Eu não tenho limite de criação enquanto esporte; pode ser um desenho, um texto, uma decoração de uma casa. Eu não tenho esse setor como limitador. Claro, eu me sinto à vontade com a moda, mas não é meu único vetor. Eu não me limito em vetor algum. Tem assuntos da moda que eu vou escolher, mas tem vezes que é uma pintura ou um fala, mas tudo que você faz com o coração é válido. A criação artística é um processo comunicativo que valoriza os conceitos de criatividade e de arte. Enquanto a criatividade é um processo ordenador e configurador do que assimilamos da realidade mas ultrapassa-a ao alargar-se ao mundo do imaginário, a arte, por seu turno, implica o belo, a beleza e a sedução.

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SEMPRE PENSO NESSE MUNDO DA MODA COMO UM VETOR CULTURAL


Fernando Pessoa considera que a criação artística implica a conceção de novas relações significativas, graças à distanciação que faz do real. O poeta parte da realidade, mas distancia-se, graças à interação entre a razão e a sensibilidade, para elaborar mentalmente a obra de arte. Desde sempre, o Homem recorreu à criação artística como arma de comunicação e, por vezes, de protesto, de intervenção e defesa. Você sente alguma dúvida em relação ao seu trabalho, mesmo já sendo um nome tão consagrado no mercado artístico?

Eu nunca tive dúvida, nem quando eu não era crescido. Como eu sempre fui pirracento, tive muita certeza de tudo que fazia. Hoje, claro, tem popularidade dentro do mercado; ela poderia ser maior, mas ela é importante. No início, lá atrás, quando as pessoas tinham medo de falar e se posicionar, eu me posicionei, perdi contratos, mas eu faria tudo de novo. Eu sou um homem e eu sou eu em minhas próprias circunstâncias e acredito na morte. Vida e morte sempre vão ter e eu não tenho medo de nenhuma das duas: nem da vida e nem da morte. você tem algum conselho para os que querem ser integrantes do movimento artístico e trabalhar por meio da arte?

Primeiro, sair do lugar de ensimesmado. Sabe, ensimesmado da academia, do seu grupo e da sua bolha. Rompa fronteiras, pule os limites. A galinha, se você fizer um círculo em torno dela na terra, ela não pula, ela encara isso como limite e muita gente faz isso também. Rompa bolhas para dialogar com outras. Isso é extremamente importante para qualquer profissão. A verdadeira escola é o mundo e é importante ter fome; fome de informação, do conhecimento, e o que a gente tem visto mais são pessoas tirando a fome, mas é a fome que nos move.

A ideia é imaginar um “Guerra e Paz” de Cândido Portinari atualizado pra 2019

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SUSTENTABILIDADE NA INDÚSTRIA DA MODA

QUAL É O PAPEL DA INOVAÇÃO?

texto

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JULIA STORCH | fotos AIONY HAUST

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EU REFLITO

A

s marcas estão cada vez mais sendo pressionadas para assumir papéis mais conscientes na sociedade. A sustentabilidade na indústria da moda, que já não é uma novidade, passa a ser um tema ainda mais comentado e cobrado pelos consumidores. Pensando nisso, muitas empresas já passaram a se adaptar e, para isso, utilizaram a tecnologia como aliada. Para saber mais sobre o tema e compreender algumas ações que podem te ajudar no processo de se tornar uma indústria mais sustentável, continue a leitura!

COMO A TECNOLOGIA PODE AUXILIAR NA INDÚSTRIA DA MODA? Existem, de fato, alguns obstáculos para se tornar mais sustentável, como é o caso das matérias-primas mais sustentáveis que são mais caras, os custos com as boas condições de trabalho, o design e as ofertas de atividades do conceito fast fashion, entre outras. A boa notícia é que até mesmo isso a tecnologia está auxiliando, pois surgem soluções constantemente agora que o combate aos impactos da indústria na moda no meio ambiente é uma preocupação cada vez maior.

Agora que a chamada “moda verde” não é mais vista como uma tendência passageira, ela tende a se tornar um diferencial competitivo importante. Sendo assim, é preciso elaborar estratégias para produção e design que reduzam os impactos ambientais da produção e consumo na indústria do vestuário. Também vale ressaltar a importância de conhecer a própria cadeia de produção e seus métodos produtivos, principalmente quando todas as etapas da confecção não são centralizadas. A subcontratação é a que mais causa problemas como trabalhos análogos a escravidão e trabalho infantil. O monitoramento dos fornecedores e parceiros já pode ser controlado online, sendo este um dos passos para tornar a sua indústria mais sustentável. Muitos tecidos sintéticos, inclusive, já são produzidos por meio de processos mais verdes, inclusive o algodão e o poliéster.

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Apesar ++++ de os tingimentos serem processos poluentes, eles também podem ser feitos por meio de processos regulados, com tratamentos de resíduos eficientes e outras ações.

INOVAÇÃO VERDE: QUEM JÁ ESTÁ INOVANDO E QUAIS SOLUÇÕES UTILIZADAS?

Como já dissemos no início do artigo, as empresas já estão investindo em soluções tecnológicas para obter processos mais sustentáveis. Veja algumas abaixo.

A CIRCULOSE® RENEWCELL

A Renewcell conseguiu transformar o algodão e a viscose em uma nova matéria-prima para confecção, a Circulose® Renewcell. Essa polpa é transformada em novas fibras por meio da pressão através de bocais bem pequenos. Além de reduzir o lixo de descarte, as fibras Renewcell contam com uma resistência maior à tração. ROUPAS FEITAS POR MEIO DE FUNGOS E BACTÉRIAS Sim, elas já existem e são produzidas por meio de bactérias encontradas na kombucha, sendo transformadas em biotecidos. Esse feito foi conquistado pela Biotecam e os tecidos foram chamados de Texticel. Hugo Mendes, um dos sócios, afirma que o trabalho artesanal feito atualmente encarece o produto, mas que, quando as marcas auto-

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matizarem a produção, ele pode baratear e conquistar o mercado. O CICLO SUSTENTÁVEL DA TOMMY HILFIGER A marca Tommy Hilfiger tem o objetivo de fazer com que seus produtos façam parte de um ciclo sustentável até 2030. Para isso, lançou o programa Make It Possible e iniciou a implementação do projeto Tommy for Life em outubro. Inicialmente ela conta com três eixos: “Reloved” (fazer com que os consumidores devolvam as peças usadas, “Refreshed” (reablitar produtos devolvidos) e “Remixed” (utilizar os materiais dos produtos que não são recuperáveis para a fabricação de peças novas e exclusivas). Além disso, a marca ainda tem lançado diversas coleções-cápsulas sustentáveis.

COMO FAZER A TRANSIÇÃO PARA UMA PRODUÇÃO MAIS EFICIENTE E SUSTENTÁVEL?

Obviamente você não precisa criar um novo tecido revolucionário a partir de outras matérias-primas para se tornar sustentável. É possível começar a se adaptar da melhor maneira, como já mostramos, principalmente pela revisão de todo


foto by Aiony Haust

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o processo — não somente da empresa como de seus fornecedores. Alguns equipamentos da Indústria 4.0 também podem auxiliar na redução do desperdício, na economia e, por consequência, na sustentabilidade. Aqui na Delta nós temos como exemplo os hidro aspersores, que aplicam o amaciante por meio de spray, proporcionando uniformidade na aplicação, redução de tempo de set up, redução de desperdício de matéria prima e aumento da produtividade da rama. Há ainda a revisadeira de tecidos, que identifica problemas nos tecidos assim que eles chegam do fornecedor, evitando os desperdícios causados pelo descarte das peças. Também podemos citar as lavadoras de amostras que usam muito menos água e energia elétrica para determinar o encolhimento dos tecidos e a embaladeira automática, que reduz o consumo de plástico e gera economia. foto by Stella Mccartney

Mesmo com o estilo de fast fashion ainda existente, cada vez mais é possível encontrar a moda sustentável também como uma tendência nas passarelas e vitrines.

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Ou seja, o consumo estreita as trocas comerciais e traz harmonia às fases do ciclo produtivo. E assim, esquecemos de quais condições e contextos as mercadorias passaram até chegar nas nossas mãos.

O SEGMENTO DA MODA AFETA O MEIO AMBIENTE?

Nesse sentido, as críticas da moda rápida trazem o questionamento sobre a produção e a poluição gerada pelo descarte de peças. Além do barateamento da mão de obra, estudos demonstram que o meio ambiente também é afetado com o excesso das peças produzidas. A pesquisa disponibilizada pela fundação Ellen MacArthur Foundantion, afirma que a indústria da moda é segunda indústria mais poluente do mundo. Além disso, conforme o movimento “Menos 1 Lixo”, todos os anos, a indústria têxtil utiliza 93 trilhões de litros de água, perdendo apenas para a agropecuária, maior responsável pelo desperdício e poluição das águas doces do mundo. Segundo o Fashion Revolution, consumimos uma média de 10 mil litros de água para fabricar uma calça jeans e 8 mil para um par de sapatos. Além disso, poucas são as empresas que usam tecidos sustentáveis e eco-friendly (amigável ao meio ambiente), seja pela demora de produção e custeamento – no Brasil, menos de 1% do algodão produzido é orgânico (ou seja, cultivado sem o uso de agroquímicos e corantes tóxicos).

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O BRECHÓ COMO UMA OPÇÃO DA MODA SLOW FASHION

Pode-se afirmar que existem possibilidades pessoais de mudanças para que a moda seja mais sustentável. Baseado nas práticas individuais, algumas pessoas estão procurando formas de reduzir o impacto de seu consumo no mundo com alternativas como brechós. O brechó se popularizou no século XIX, no Rio de Janeiro, fundada por um comerciante português chamado Belchior. Atualmente, é muito comum no Instagram vermos as lojas mostrando o processo de curadoria, envio e garimpo, e muitas pessoas aderiram a essa alternativa. Segundo dados da Agência Brasil, “A abertura de estabelecimentos que comercializam produtos de segunda mão teve um crescimento de 48,58%, entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, de acordo com levantamento do Sebrae, com base em dados da Receita Federal.”


foto by Aiony Haust

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O que nos leva a crer que a pandemia afetou os hábitos de consumo de muitas pessoas. Seja pelo lado financeiro, seja pela preocupação com o meio ambiente, não podemos ignorar a função de refletir nosso impacto no mundo.

E COMO FICA A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS?

Além das inovações tecnológicas, a área da moda também avança nas pautas sociais.

Apesar de a mudança de hábitos ser importante, esse debate é ainda mais complexo. Afinal, se no Brasil metade da população brasileira vive com 413 reais ao mês, de acordo com o jornal EL PAÍS, é de responsabilidade dos trabalhadores a redução de gases poluentes que as grandes indústrias produzem? Pensando nisso, como afirmam Dierkes (1998) e Rita Von Hunty (2020), o equilíbrio ecológico só é alcançado quando as grandes indústrias modificam a dinâmica produtivista do capitalismo. Lembrando que, no processo de conciliação ecológica e circulação da economia,

os autores relatam ser imprescindível o diálogo entre todas as etapas do processo de produção de forma transparente e digna aos trabalhadores dessas empresas.

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Esse cenário tem influenciado também as semanas de moda tradicionais, que estão adicionando elementos imersivos ou de rea­lidade aumentada à experiência da passarela. Um exemplo é a estreia de uma linha de prêt-à-porter puramente digital da inovadora Auroboros na London Fashion Week deste ano. Outro caso, na Semana de Moda de Nova York, foi a apresentação da coleção de wearables digitais de Jonathan Simkhai na plataforma Second Life, um dia antes das versões físicas, em um desfile com 11 looks do designer reimaginados virtualmente para o metaverso. Além das roupas, entre os convidados VIP estavam modelos, influenciadores, celebridades e jornalistas especializados — todos com seus avatares personalizados vestindo peças de Simkhai Entre os designers que se apresentaram está o carioca Lucas Leão, que desde 2018 produz peças com intervenções digitais, como estampas e avatares, filmes em 3D e realidade aumentada. Em abril do ano passado, o estilista lançou uma coleção de peças digitais e com realidade aumentada no marketplace Shop2gether. Ao comprar os looks, como uma jaqueta puffer e um vestido, o cliente enviava uma foto para que os looks digitais fossem manipulados ao seu gosto na imagem. Em outubro do ano passado, Leão realizou um desfile com realidade aumentada. Munidos de celulares com o aplicativo Snapchat, os convidados puderam visualizar a coleção simultaneamente nos formatos físico e digital. Através da tela, roupas, acessórios e a cenografia da passarela apareciam digitais com o uso de um filtro.

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Pesquisador de tendências do universo digital, a cada ano Leão traz um novo conceito para suas apresentações. “Para este ano, quero que haja trocas entre o espectador e a peça física, com interação com sensores, por exemplo, para que as pessoas possam sentir frio ou calor”, comenta. Saindo do nicho de luxo, a moda digital também chegou às fast fashions. No final de março, a Renner apresentou sua coleção de outono/inverno com novos recursos possíveis pela tecnologia. Em vez de uma passarela tradicional, as peças desfilavam sem corpos através dos óculos de realidade aumentada. Porém, as roupas foram comercializadas no formato físico. Para Fernando Hage Soares, coordenador do curso de moda da Faap, a digitalização das semanas de moda, que antes eram eventos exclusivos para jornalistas e compradores, agora se tornou uma oportunidade de contato direto com os consumidores finais da marca.


foto by Cesar La Rosa

Os avanços da indústria devem acompanhar os avanços do debate público e o surgimento das novas tecnologias. A principal tendência da moda, agora, são designs que promovam consciência ambiental e social. Diante de um público consumidor tão atualizado nas questões do novo mundo, se destacam as marcas que promovem inovações nesse sentido.

foto by Liz Martin

Pesquisador de tendências do universo digital, a cada ano Leão traz um novo conceito para suas apresentações. “Para este ano, quero que haja trocas entre o espectador e a peça física, com interação com sensores, por exemplo, para que as pessoas possam sentir frio ou calor”, comenta. Saindo do nicho de luxo, a moda digital também chegou às fast fashions. No final de março, a Renner apresentou sua coleção de outono/inverno com novos recursos possíveis pela tecnologia. Em vez de uma passarela tradicional, as peças desfilavam sem corpos através dos óculos de realidade aumentada. Porém, as roupas foram comercializadas no formato físico. Para Fernando Hage Soares, coordenador do curso de moda da Faap, a digitalização das semanas de moda, que antes eram eventos exclusivos para jornalistas e compradores, agora se tornou uma oportunidade de contato direto com os consumidores finais da marca. Além da Renner, a marca de calcinhas absorventes Pantys entrou no mercado de NFTs ao lançar 33 tokens. As peças, que no mundo físico têm um uso específico, ganharam um valor simbólico no universo digital. A cada transação feita, com valor a partir de 0,015 ETH, a empresa se comprometeu a doar uma peça para mulheres em situação de vulnerabilidade social

EU REFLITO

Se a tendência continuar, será que, no futuro, a moda será mais feita de pixels do que de tecido? Ninguém sabe ao certo. À medida que esse espaço emergente vai sendo explorado, as marcas estão descobrindo o que funciona ou não. O que o mercado fashion já sabe é que há muitas oportunidades na mesa para correr o risco de ficar para trás. Além de trazer diversas possibilidades para entregar experiências completamente diferentes ao consumidor, esse universo abre um novo horizonte de negócios. Esse movimento demonstra o lugar que o universo digital já ocupa em nossa cultura atual, inclusive na moda. “O aumento da ‘vida digital’ vem acontecendo em nossa sociedade desde que os smartphones se popularizaram. E, com a pandemia, fomos ainda mais impulsionados a criar uma presença digital”, observa Fernando Hage Soares.

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ilustrado por: JUAN GATTI



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Bárbara miranda 116

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Arquitetura sustentável: entrevista à arquiteta Bárbara Miranda No âmbito do dia mundial do ambiente, entrevistamos a arquiteta Bárbara Miranda para nos falar sobre arquitetura sustentável. por

Neuza Cardoso

Bárbara Miranda, portuguesa, é arquiteta pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.. Encontra-se atualmente a terminar uma pós-graduação em Arquitetura Sustentável na Kunstuniversität Linze é estagiária no Studio Anna Heringer, Alemanha. Vê na arquitetura uma ferramenta poderosa para mudar o mundo. Defende a arquitetura sustentável, justa e responsável a nível social, económico e ecológico. Contamos com a arquiteta Bárbara Miranda nesta entrevista acerca de arquitetura sustentável onde a desafiamos a desenvolver o tema. 1. VOCÊ trabalha com a questão da sustentabilidade na arquitetura. Pode falar um pouco a cerca desse tema? A arquitetura sustentável é, acima de tudo, uma forma de construir sem desrespeitar o meio ambiente, a tradição arquitetónica, as comunidades locais e a economia. É um tema muito necessário nos dias de hoje, uma vez que os edifícios são responsáveis por 40% do consumo energético na União Europeia. Produzem 36% dos gases de estufa emitidos. É urgente falar, desenvolver e praticar uma arquitetura que seja o menos prejudicial possível para todos. 2. A arquitetura praticada nos dias de hoje é sustentável? A arquitetura mais comumente praticada hoje em dia, baseia-se em materiais como o betão, alvenaria de tijolo, cimento ou vários tipos de metais. O grande problema destes materiais, é numa primeira

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fase o uso abusivo de matérias primas como a água ou a areia para o seu fabrico, que acaba por destruir os ecossistemas de onde estas são extraídas. Seguidamente, o problema passa pela produção. Para fabricar estes materiais é necessário um dispêndio energético muito elevado que consequentemente origina elevadas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. Para além disso, derivado da estandardização dos materiais construtivos que são fabricados centralmente nas respetivas fábricas, o transporte destes materiais é também responsável por inúmeras emissões de co2 Finalmente, é importante perceber também que a “qualidade” duradoura destes materiais acaba por ser prejudicial a nível ambiental, uma vez que a sua degradação é muito lenta e destrói o meio ambiente onde se insere. Por outro lado, a arquitetura sustentável, como se baseia em técnicas e materiais construtivos locais e naturais, permite menos transportes, menos energia despendida e menos impacto nos ecossistemas. Por isso, quando olhamos para a arquitetura tradicional portuguesa, feita de terra, madeira, fibras ou pedra, podemos verificar que arquitetura sustentável não é afinal um conceito novo, mas um conceito muito presente na nossa história. 3. Quais são os indicadores de sustentabilidade num projeto? Referemse a materiais e/ou processos? A sustentabilidade num projeto pode ser aplicada em todas as parcelas do mesmo. Medidas como: empregar artesãos locais, remunerar justamente os trabalhadores, utilizar materiais naturais ou respeitar as tipologias tradicionais de determinada zona são igualmente sustentáveis. A nível ambiental, tanto os materiais, como os processos podem ser indicadores de sustentabilidade. Materiais que estejam abundantemente disponíveis na zona de construção como terra, madeira, fibras ou pedra, assim como técnicas construtivas que privilegiem a mão de obra humana ao invés da utilização de máquinas, tornam um projeto mais sustentável. Numa vertente mais tecnológica, é também possível aumentar o índice de sustentabilidade de um edifício ao integrar-se o uso de energias renováveis no edifício. Mas para se ser sustentável, não é de todo obrigatório o uso da tecnologia. Por exemplo, os edifícios de

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TANTO OS MATERIAIS, COMO OS PROCESSOS PODEM SER INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE


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terra, devido à sua inércia térmica, conseguem reduzir drasticamente a necessidade de aparelhos tecnológicos como ares condicionados ou aquecedores. A Sul do país, também podemos ver a importância da pedra na arquitetura portuguesa através do uso extensivo da cal. A cal, proveniente do calcário, permite que as paredes sobre as quais é aplicada sejam respiráveis, tem propriedades antibacterianas e ainda ajuda na reflexão dos raios solares que evita o sobreaquecimento das áreas interiores. A um nível mais geral, a pedra também acarreta imensas vantagens construtivas no que toca a fundações ou sistemas estruturais. Todas estas formas de utilizar a pedra demonstram que para fazer arquitetura sustentável, basta olharmos para os materiais que nos rodeiam e empregá-los de uma forma que tenha o menor impacto ambiental e o maior impacto social e económico possíveis. Contudo, sendo a pedra um recurso não renovável nesse sentido é necessário que o seu uso seja ponderado. 4. Na sua opinião, os arquitetos, os engenheiros, ,têm consciência das necessidades de preservação do meio ambiente e dos recursos?

Diria que as gerações profissionais mais jovens são as que mais estão conscientes do impacto da arquitetura no meio ambiente. No entanto, ainda existe um longo caminho pela frente para tornar a arquitetura mais sustentável. Cabe principalmente aos países desenvolvidos, recuperar as técnicas construtivas tradicionais que só por si já respondem aos problemas climáticos, ecológicos e sociais e transformá-las na arquitetura contemporânea que dá resposta aos problemas atuais do século xxi. É em especialistas como a Anna Heringer ou o Martin Rauch que nos devemos inspirar para criarmos edifícios saudáveis para um planeta mais saudável também.

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COMO PENSAR NA ARQUITETURA DE FORMA SUSTENTÁVEL?

HÁ ALGUNS ANOS, O BRASIL BUSCA SE TRANSFORMAR EM REFERÊNCIA MUNDIAL EM CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL, COMO MOSTRA ESTA NOSSA ENTREVISTADA

texto SANDRO PREZOTTO| fotos SINA YAZDI

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necessidades e desejos da sociedade ao mesmo tempo em que respeita a harmonia com o meio ambiente.

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árias iniciativas voltadas para a solução de problemas crônicos nas grandes cidades apontam para a consolidação de um novo paradigma na área. Esse mercado tem trazido à tona alguns temas, como eficiência energética, uso racional da água, técnicas construtivas inovadoras e novos materiais que favorecem o conforto e o bem-esrar. Para saber mais sobre o tema construção sustentável, conversamos com a arquiteta urbanista Patricia O’Reilly. Graduada pela Universidade Belas Artes São Paulo, Patricia é titular do Atelier O’Reilly Architecture & Partners, com sede em São Paulo, escritório composto por uma equipe de profissionais especializados em arquitetura, urbanismo, paisagismo, meio ambiente, sustentabilidade e energia.

H: Quando a sustentabilidade passou a fazer parte dos seus projetos? P: Em minha atuação profissional, sempre considerei os aspectos ambientais, sociais e econômicos ao desenvolver soluções e projetos. Atualmente, empreendedores e empresas estão atentos para a forma sustentável de fazer arquitetura, principalmente em função de uma necessidade global crescente, um pensamento que precisa integrar a edificação ao seu entorno para utilizar melhor os recursos naturais e os potenciais de cada empreendimento. H: Quais iniciativas com esse perfil você destaca? P: Atualmente estou desenvolvendo

um projeto que se chama casa 88°, um trabalho pioneiro em arquitetura sustentável holística, com uma equipe multidisciplinar, inovação tecnológica e grau máximo de eficiência em todas as fases de vida da edificação: projeto no papel, esHABITARE: Como surgiu sua relação colha de materiais, obra, uso com com a arquitetura sustentável? indicadores de desempenho mensuráveis, manutenção e retorno dos PATRICIA: Em uma sociedade em materiais à natureza. Outro projeto que o respeito pelo meio ambiente que estabelece um dos tripés da susé indiscutível, penso que o arquiteto tentabilidade, o social, como ponto pode atuar no sentido de oferecer al- fundamental é o Mirante do Gavião ternativas que garantem uma relação Amazon Lodge, que foi construído saudável e holística com a natureza no coração da floresta amazônica e o entorno. Acredito que é possível em Novo Airão. gerir os recursos naturais por meio de um conceito contemporâneo de arquitetura que adquire sua forma pelo entendimento de estratégias sustentáveis capazes de atender às

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unindo respeiro ao meio ambiente e viabilidade econômica.

H: O que foi privilegiado no projeto da casa 88°? P: Concretizada pelas empresas consorciadas Atelier O’Reilly Architecture & Partners, Gaia Construtora, mado Janelas & Portas e Rewood Madeira Laminada, a casa 88° integra conhecimento e inovação aos econômicos, ambientais, sociais e culturais. No projeto, localizado no condomínio Fazenda Boa Vista, valorizamos a utilizção de materiais ecológicos, certificados e reciclados; reduzimos o impacto ao entorno e ao meio ambiente; melhoramos a eficiência térmica, acústica e energética para atingir excelência em desempenho, conforto e qualidade de vida aos moradores. A obra conta ainda com três câmeras de vídeo, que permitirão assistir ao vivo à construção em todas as suas etapas.

H: Para o usuário comum, que recursos podem ser incluídos para contribuir com esse aspecto? P: Cada projeto tem suas características e especificidades. O ideal é criar soluções de acordo com as necessidades de cada empreendimento, seja este residencial, corporativo ou comercial. De qualquer modo, soluções em tecnologia e sistemas construtivos que possam viabilizar uso racional de água, materiais e energia devem sempre ser considerados por qualquer pessoa que busca por resultados sustentáveis em construções. H: Quais as oportunidades e desafios do segmento?

P: Temos feito um trabalho importante e daqui para frente acredito que a sustentabilidade estará definiH: Alguns empreendimentos bus- tivamente presente em projetos de cam o selo sustentável para parecer arquitetura e urbanismo exaramenbem aos olhos do público. O que te por atender a uma necessidade você acha dessa tendência e até que crescente de empreendimentos que ponto ela é verdadeira? consideram aspectos ambientais, econômicos e sociais em equilíbrio. P: Acredito que apenas por existir já impactamos o meio, portanto não há como falar em ser 100% sustentável. Sendo assim, sempre vamos buscar maximizar o impacto positivo e minimizar o impacto negativo, por exemplo, recuperando a mata nativa de um terreno. O custo depende do percentual de sustentabilidade desejado. É possível fazer uma construção sustentável em graus diferentes, de acordo com as necessidades de quem vai ocupar aquele espaço, Com o uso de recursos e tecnologias já disponíveis no mercado é possível inovar e ser sustentável

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A grande oportunidade é que o próprio planeta já reclama visivelmente por soluções menos impactantes e, sendo assim, impulsiona os especialistas e a indústria a buscar soluções imediatas para uma construção sustentável. O maior desafio é alcançar um sobrecusto baixo em função da aplicação de e estratégias sustentáveis, e consequentemente melhorar o tempo de amortização dos investimentos necessários para alcançar resultados realmente significantes. Um bom exemplo é a casa 88°, que alcançou uma economia de 49% de energia, com um sobrecusto de 2% e uma amortização de 4 anos. foto bySina Yazdi

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DIA DA TERRA 2022: O PROGRESSO DO MUNDO PARA ALCANÇAR A ARQUITETURA SUSTENTÁVEL À MEDIDA QUE A CRISE CLIMÁTICA CONTINUA A SE APRESENTAR COMO UMA AMEAÇA SIGNIFICATIVA AO FUTURO DO ECOSSISTEMA E DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

texto DIMA STOUHI | fotos ALEXANDRU IONE

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Relatório do ipcc deste ano, intitulado Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, descobriu que, embora os esforços de adaptação estejam sendo observados em todos os setores, o progresso que está sendo implementado até agora é muito desigual, pois há lacunas entre as ações realizadas e o que é necessário. No dia da Terra deste ano, celebrado este mês de abril, exploramos o progresso feito por governos e arquitetos para alcançar operações neutras em carbono nas próximas décadas. Governos e ongs de todo o mundo têm pressionado por agendas verdes, garantindo que, nas próximas duas décadas, seus países tenham alcançado condições de vida sustentáveis universais e completas. A partir de 2020, 28 grandes cidades, incluindo Nova York e Washington. DC, nos eua, Medellin na Colômbia e Cidade do Cabo e Joanesburgo na África do Sul, se comprometeram a alcançar operações de construção neutras em carbono até 2050. Com isso, a sustentabilidade tornou-se um ponto focal no mundon da arquitetura e do design, inspirando arquitetos a repensar como eles constroem hoje. De casas neutras em carbono no Reino Unido à introdução de novos modelos de habitação integrada na Califórnia, vários arquitetos já exploraram diferentes estratégias para seguir os ideais de sustentabilidade de 2030 a 2050.

Experimentações com novos materiais de construção também ganharam atenção. Como forma de combater a diminuição maciça de insetos causada pelas mudanças climáticas, a empresa inglesa Green&Blue está trabalhando em “Bee Bricks”, blocos perfurados que substituem os tijolos normais na fachada dos edifícios para fornecer um elegante local de nidificação para várias espécies de abelhas solitárias. A empresa sueca Wood Tube lançou um novo produto inovador: montantes leves feitos de celulose à base de madeira, que são econômicos, fáceis de trabalhar e contribuem para um processo de construção mais sustentável. Apesar das muitas soluções comprovadas de baixo custo e impacto no meio ambiente apresentadas pelas construções neutras em carbono nos últimos anos, a indústria parece estar lidando com o futuro do ambiente construído de maneira inconsistente e lenta. De acordo com o Relatório de Futuros Sustentáveis de 2022 da nbs, que visa fornecer informações sobre sustentabilidade no setor de construção em 2022, mais da metade dos arquitetos do Reino Unido não trabalhou em projetos neutros em carbono em 2021, com apenas 4% relatando que trabalharam exclusivamente em projetos desse gênero.

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Quando perguntados quais são as razões por trás da escassez desses projetos, a maioria dos arquitetos explicou que é de fato uma falta de demanda do cliente, enquanto outros explicaram que os materiais recomendados estavam fora de alcance e eram quase impossíveis de serem adquiridos localmente, ou notavelmente caros em comparação com os materiais e técnicas de construção tradicionais. Outras razão por trás do lento progresso das metas de sustentabilidade pode ser a pandemia. Embora as emissões de carbono tenham sido significativamente reduzidas durante a pandemia, pois os projetos foram interrompidos ou adiados, eles retornaram rapidamente aos números pré-pandemia e, em alguns casos, os excederam para compensar os atrasos inesperados. A falta de políticas e regulamentos governamentais também foram importantes contribuintes para os atrasos. 37% dos participantes da pesquisa da nbs creditaram o governo como o culpado do progresso lento, destacando a aplicação de padrões mais altos e códigos de construção rigorosos pode ser o caminho mais rápido para atingir as metas de sustentabilidade.

O tema do Dia da Terra 2022 é "Invista no nosso planeta". Este é o momento de mudar tudo - o clima de negócios, o clima político e como agimos em relação ao clima.

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Entrevista com o arquiteto Michele Olivieri – MCA, Itália Michele Olivieri, nascido em Fano, Itália, em 1980, formouse em arquitetura pela Faculdade de Ferrara em 2005.

por

Green Building Council Brasil

De 2003 a 2004 estudou Urbanismo e Desenho Industrial na cidade de Curitiba, Brasil, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e trabalhou no prestigiado ippuc– Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano, fundada por Jaime Lerner. De 2006 a 2010, enquanto trabalhava como arquiteto, desenvolveu atividade de pesquisa para a Universidade de Ferrara e Veneza (iuav), obtendo um PhD em Tecnologia da Arquitetura com a tese “Vegetação nas Fachadas dos Edifícios para o Controle do Microclima”. A partir de 2008 colabora com o estúdio mca – Mario Cucinella Architects em Bolonha, Itália, trabalhando como arquiteto e gerente em mais de 40 projetos e concursos como: sede da 3M, em Milão, os projetos preliminares e definitivos de um novo Campus universitário em Valle D’Aosta, o concurso para a extensão do campus da Universidade Bocconi em Milão, a direção artística da sede da Arpa em Ferrara e o projeto para a torre de Unipol Sai em Milão. Ele também trabalhou em vários projetos de grande escala de regeneração urbana como: a extensão da Fiera di Parma, o masterplan para a área do distrito de Romanina em Roma, o projeto para o desenvolvimento urbano do distrito de San Berillo em Catania e do masterplan para a distrito financeiro de Venetocity entre Pádua e Mestre. Durante os anos como colaborador com a mca trabalhou como arquiteto e gerente de projeto para uma série de novas estruturas hospitalares na Itália e na África do Norte, entre eles o projeto definitivo de quatro hospitais na Toscana, nas províncias de Lucca, Prato, Pistoia e Massa Carrara , a construção do novo edifício de cirurgias para o hospital San Raffaele, em Milão, o projeto preliminar do novo “Centro hospitalo-Universitaire” (chu) em

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Alger, e o projeto preliminar para o concurso da “Città della Salute e della Ricerca” em Milão, trabalhando como coordenador técnico da equipe do projeto.

A sustentabilidade nas construções avança em um ritmo acelerado em diversos países. Como você avalia este cenário nos próximos anos?

Michele Olivieri: O assunto da sustentabilidade na arquitetura não é uma novidade por si mesmo e nos últimos 10-15 tornou-se um poderoso motor para sustentar o setor das construções. O emprego de materiais e produtos com uma pegada ambiental sustentável é hoje em dia muito comum, assim como a certificação de empreendimentos imobiliários (a partir do padrão leed). Isso tudo já está alcançando uma quota de mercado das construções muito grande e nesse sentido a arquitetura já conseguiu o resultado de pioneira na busca de soluções técnicas inovadoras. A maior barreira deste mercado hoje é a falta de soluções alcançáveis pelas faixas de baixa renda, que envolvem tanto a construção particular, como o desenvolvimento de novos espaços públicos. Neste setor a arquitetura precisa investir muito trabalho no futuro próximo, desenvolver linguagem, tecnologias e soluções para transformar a sustentabilidade num direito para todos Fale um pouco sobre o que é Empatia Criativa na construção sustentável?

MO: Empatia criativa significa desenvolver cada projeto a partir dos recursos naturais, materiais e culturais diferentes oferecidos por cada lugar. Significa abandonar a ideia de uma arquitetura global que pode ser repetida (como um carimbo) igual a si mesma em cada canto do mundo, por causa da possibilidade de conseguir performance ambientais aceitáveis a partir do emprego de implantações cada vez mais caras e sofisticadas. Significa projetar, a cada vez, arquiteturas diferentes e novas, feitas para ocupar um determinado lugar no mundo, num tempo certo na história.

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O EMPREGO DE MATERIAIS E PRODUTOS COM UMA PEGADA AMBIENTAL SUSTENTÁVEL É HOJE EM DIA MUITO COMUM


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Quais foram os pontos fortes em sua opinião e o que você acredita que ainda tem a evoluir no setor brasileiro de construção sustentável?

MO: O Greenbuilding Brasil foi sem dúvida uma experiência interessante. A crise do setor da construção dos últimos anos no Brasil fez com que a busca de produtos, soluções arquitetônicas e certificações se tornasse uma opção de grande interesse por empresas e firmas. Isso é bom na medida em que transforma um momento difícil da economia brasileira, numa oportunidade de desenvolvimento, mas principalmente os arquitetos precisam encontrar a força e a coragem para conseguir algo maior do que isso, é preciso voltar a desenvolver nas grandes metrópoles brasileiras projetos de alto impacto arquitetônico e social, capazes de incorporar o que o mercado da tecnologia e das certificações podem oferecer, transformando o que hoje aparece como oportunidade de desenvolvimento econômico numa oportunidade de desenvolvimento social. No âmbito da construção sustentável se aborda muito o termo “integração”. Como você define esta palavra e qual a importância dela?

MO: A palavra integração sempre teve na historia de nosso escritório e de nossa pesquisa como arquitetos interessados em desenvolver uma linguagem focada na sustentabilidade, um papel muito importante. Tudo o que nós conseguimos experimentar ao longo dos anos nos levou a pretender alcançar em cada projeto a máxima integração entre todos os aspectos, não apenas técnicos das nossas arquiteturas (o que hoje em dia após o desenvolvimento de instrumentos inovadores como todos os softwares que nos permitem trabalhar com modelos virtuais BIM, capazes de simular qualquer problema ou interferências do mundo real), mas também culturais, sociais e históricos de cada nova obra de arquitetura.

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Em sua opinião, qual a grande importância de um sistema de automação bem planejado na real eficiência das construções verdes?

MO: A automação no mundo da produção industrial para o setor das construções não é uma novidade. Até ao ponto que é possível discutir bastante sobre os resultados que nas últimas décadas do século passado foram conseguidos. O que hoje é mais interessante observar é como o desenvolvimento de instrumentos informatizados cada vez mais sofisticados para controle dos projetos, estão conseguindo implementar e transformar a produção industrial favorecendo a difusão de peças que, apesar de serem produtos industriais, podem se diferenciar conforme a especificação dos Arquitetos para se adaptar às necessidades de cada projeto. Por funcionar de maneira racional, sem o risco de falha humana, a automação permite a redução da quantidade de erros nos processos, muito em função de eliminar os tradicionais ruídos na comunicação. devido a ausência de pessoal qualificado para a operação do edifício. Como você avalia este cenário e quais soluções que devem ser adotadas ?

MO: Não existe uma regra para este problema que não seja a formação de profissionais e usuários. Hoje é possível controlar ao longo do projeto a totalidade dos problemas que um prédio poderia gerar ao longo da sua vida, é possível construir modelos virtuais, colocando em cada componente as verdadeiras características em termos de custo, eficiência e duração. Esse tipo de controle que até poucos anos atrás era considerado inovador, está se tornando em muitos países do mundo uma demanda comum para qualquer novo empreendimento. Isso significa que o projeto hoje em dia, além de definir os detalhes da construção, precisa considerar e envolver a modalidade de utilização de um prédio ou de um espaço, no dia-a-dia, como ao longo da sua vida. Por isso é necessário acostumar também os usuários a estudar as características dos edifícios que utilizam como já fazem com qualquer equipamento tecnológico. Para incentivar isso é preciso mostrar de maneira muito clara as vantagens de utilizar no modo

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A ARQUITETURA PRECISA RETOMAR UM POUCO DAS SUAS RESPONSABILIDADES SOCIAIS E CULTURAIS


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certo uma estrutura, desenvolvendo uma comunicação que seja cada vez mais simples e direta dos aspectos técnicos dos projetos. um tema que vem sendo bastante discutido no é a saúde e bem-estar dos usuários. Quais os principais benefícios que um projeto que prioriza esta questão pode trazer?

MO: Um bom projeto de arquitetura deve considerar todos os fatores ambientais ao seu redor. Isso sempre foi uma demanda fundamental na história da arquitetura, que o mercado da especulação imobiliária do século passado resolveu tentar abandonar, gerando cidades e arquitetura monstruosas, muitas vezes escondidas atrás de fachadas modernistas ou neoclássicas. A arquitetura em si foi desenvolvida para servir e melhorar a qualidade de vidas dos homens, do ponto de vista ambiental, assim como social e cultural e é preciso voltar a desenvolver projetos capazes de alcançar esse objetivo. Implementar a qualidade do espaço urbano significa melhorar não apenas a salubridade dos espaços mas também oferecer mais oportunidades aos moradores. Os custos econômicos da qualidade nos projetos (especialmente de grande porte) precisam ser comparados com as vantagens em termos de bem-estar social gerado. a geração de energia limpa através de placas fotovoltaicas, sendo a Itália detentora de um alto nível de conhecimento. Como a experiência da Itália pode contribuir para a evolução desta tecnologia no Brasil?

MO: A tecnologia fotovoltaica já alcançou um elevado nível de desenvolvimento e maturidade. Ainda existe margem para desenvolver mais este tipo de produto, mais os níveis de industrialização e a queda dos custos fazem com que sejam bem acessíveis para qualquer mercado.

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ARQUITETURA SUSTENTÁVEL MELHORA QUALIDADE DE VIDA

CONCEITO RELATIVAMENTE NOVO NADA MAIS É QUE A UNIÃO DE TÉCNICAS E MATERIAIS AMIGÁVEIS AO MEIO AMBIENTE, SOLUCIONANDO O PROBLEMA DOS “RECURSOS NATURAIS LIMITADOS”. A NOVA ESTRATÉGIA PROMETE TRAZER CONDIÇÕES MAIS AGRADÁVEIS PARA AS CONSTRUÇÕES QUE HABITAM OS MORADORES DA CAPITAL FEDERAL

texto REDAÇÃO JORNAL DE BRASÍLIA | fotos REFIKA ÍMGE GÜNYAKTI

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aixa umidade, clima quente e seco e com ventos quentes, é assim que podemos caracterizar o clima de Brasília, especialmente nesses últimos dois meses. Não há como negar que as condições climáticas favorecem para o surgimento de doenças respiratórias, mas não só isso: a população candanga tem padecido até mesmo dentro de suas próprias casas, que tem sido a principal localização de todos em virtude da pandemia do novo Coronavírus. Mas uma nova forma de projetar e construir traz soluções inteligentes e com economicidade para a Capital Federal. Trata-se da Arquitetura Sustentável, um segmento dentro desse campo de atuação que pode ser conceituado como sustentabilidade aplicada na arquitetura e urbanismo. Essa modalidade de arquitetura nada mais é que uma estratégia profissional a fim de promover o “Conforto Ambiental”, é o que explica o especialista em “Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística”, Thiago Meireles. Thiago enaltece as bibliografias que conceituam esse tema. “Conforto Ambiental é um termo que descreve um estado de satisfação do ser humano em um determinado espaço. Estar em conforto ambiental significa que o espaço proporciona boas

condições psicológicas, higrotérmicas, acústicas, visuais, de qualidade do ar e ergonômicas para a realização de uma tarefa humana, seja de lazer, trabalho, descanso ou estudo”. Relação Arquitetura Sustentável e Conforto Ambiental? No que tange o conforto ambiental no quesito construção residencial, Thiago explica que antes de construir é preciso que o projeto residencial seja concebido sob técnicas passíveis de aplicabilidade como o uso racional de energias renováveis, ventilação natural e gestão ecológica. Já no aspecto reformas, Meireles detalha que se “usa um processo chamado retrofit, em que o projeto busca a atualização e melhoria das instalações antigas de uma edificação, tornando-o mais seguro, econômico e confortável para os usuários”. Além disso, o arquiteto traz algumas dicas para manter o conforto térmico residencial, tais como: encher várias bacias de água e posicioná-las a frente de janelas e portas em locais ventilados e sombreados.

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Assim, a ventilação natural tratará de evaporar partículas de água que fluirão para dentro da casa, diminuindo a temperatura e aumentando a umidade do ar. Também é possível posicionar grandes rochas ou várias delas e deixá-las molhadas e sombreadas, trazendo o mesmo efeito resfriamento. Com a baixa umidade do ar e ventos quentes, deve-se fechar as janelas enquanto estiver fora de casa. A intenção é que ao final do dia a residência esteja com a temperatura interna mais confortável que a de fora. Outra medida é pintar a moradia com cores claras, principalmente a cobertura da casa, seja laje ou telhado. Quanto mais clara for a cor, menos ela absorverá calor.

A arquitetura sustentável é exemplo disso. Por meio de seus pilares e de vários projetos de relevância internacional, é possível perceber como arquitetos ao redor do mundo estão aplicando os conceitos e usando sua profissão a fim de dar voz a um movimento tão importante.

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Projetos humanizados por Willian Brandão | ILUSTRAÇÃO SAUL STEINBERG

“M eus clientes viram meus

amigos, alguns eu posso até chamar de irmãos. Gosto de ter essa relação próxima com os clientes, pois o meu trabalho é realizar sonhos”, afirma Maronildo José Souza, arquiteto há 13 anos, construtor há 44 e proprietário da MJS Construtora. Ele garante que a relação humanizada pode render bons frutos: “Além da boa relação de amizade, a realização de projetos para toda a família”. A construtora de Maronildo atua com o foco na produção , mas acredita em projetos feitos com carinho, sem esquecer da importância de um projeto perfeito e funcional.

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“Os clientes chegam com muitas ideias e vontades. Como o nosso trabalho é realizar os projetos da melhor maneira poss´´ivel, procuramos adaptar essas ideias dando alternativas que valem a pena, com muita paciência e ética com o cliente”, comenta o proprietário da MJS. Maronildo se considera um arquiteto antenado, sempre de olho nas novidades, mas nunca se esquece de suas raízes. Segundo ele, a arquitetura tem evoluído constantemente, e é importante a empresa estar alinhada com as mudanças do mercado. “Como os arquitetos de hoje estão acostumados a fazer

os projetos direto no computador, croquis feitos a mão não são algo que se vê nos tempos atuais”.conta. Porém, Maronildo enfatiza que como seus projetos seguem a linha humanizada, é de extrema importância a ideia de sair do papel antes de ir para o computador. “Dessa forma, você consegue conhecer melhor o cliente, idealizar melhor o trabalho e fazer o projeto com muito mais amor e carinho. Pois eu sei que daquele traço sairá um sonho”, diz o arquiteto. A MJS Construtora é uma empresa que se importa com o cliente acima de tudo. Além disso, é considerada uma empresa de tradição,


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pois agrega excelentes trabalhos a clientes fiéis. Ela oferece serviços diversos, que vão da construção de prédios de grande porte a obras residenciais. “Nossos clientes sempre voltam. Temos uma relação de amizade com eles. Por isso, temos vários casos parecidos na construtora”, afirma Rosana Mguel, sócia, arquiteta e filha de Maronildo. E quando o assunto é parceria, bons preços e ótimo atendimento, a MJS Construtora pensa logo na Só Reparos. “Gosto de fazer negócios com o pessoal da Só Reparos. Eles sempre me entregam tudo no prazo e os materiais são ótimos”, garante Maronildo. O arquiteto conta que a loja tem um preço

em conta e materiais de excelente qualidade para qualquer tipo de obra. “Eles não pensam duas vezes antes de agradar o cliente e também as empresas parceiras como a nossa. Vejo muita vantagem em trabalhar com a Só Reparos, já que eu sei que não vai faltar material e eu vou ser muito bem atendido”, finaliza.

Willian Brandão @ willianbrandao_fato

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ÁRIES (21/03 - 20/04)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em sua vida material e financeira. A lunação chega em conjunção com Urano e em ótimo aspecto com Marte em Peixes, beneficiando as tomadas de decisão, que estarão amplamente influenciadas por sua intuição, que está mais aflorada. O período pode envolver ganhos inesperados que tendem a trazer muitas mudanças em sua vida pessoal e profissional nos próximos meses.

GÊMEOS (21/05 - 20/06)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em sua maneira de lidar com a saúde. É possível que você decida mudar toda sua rotina de saúde, introduzindo em sua vida atividades que tragam bem estar e equilíbrio. Começar uma psicoterapia ou um tratamento com uma atividade integrativa pode ser a melhor escolha que você faz para os cuidados consigo mesmo. Faça isso por você.

LEÃO (23/07 - 22/08)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em sua vida profissional e planos de carreira. Nesta fase, pode haver uma insatisfação com o trabalho e abertura de portas para novas oportunidades. Não está descartada a possibilidade de mudança de carreira. O período pode envolver a decisão de ter um negócio próprio ou de mudar de empresa, depois de muitos anos no mesmo lugar. Um acontecimento importante pode marcar o início dessa fase.

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TOURO (21/04 - 20/05)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em seu signo no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em algumas áreas de sua vida. Eclipses são imprevisíveis e você é diretamente impactado pelos quatro eclipses deste ano. O que acontece este mês, promete trazer libertação de situações mal resolvidas e soluções rápidas e imprevisíveis. O eclipse solar mostra abertura de caminhos e o novo chegando à sua vida.

CÂNCER (21/06 - 21/07)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em sua vida social, envolvendo novas e antigas amizades. O período pode ser movimentado. Nesta fase, você pode se envolver em um projeto em equipe, que será o carro chefe dessas mudanças. Você pode ser convidado para gerenciar o projeto e criar uma nova equipe de trabalho.

VIRGEM (23/08 - 22/09)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em sua maneira de sentir e observar a vida. Você pode estar passando por um momento de insatisfação e busca de um novo sentido e uma nova filosofia de vida. Um novo caminho espiritual pode ser encontrado e, certamente, será seguido com seriedade e disciplina, o que trará algumas mudanças importantes em você e em sua vida.


SAGITÁRIO (22/11 - 21/12)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em sua rotina pessoal e de trabalho. Este pode ser um período em que você decide tornar sua rotina mais saudável, incluindo nela, atividades que vão melhorar sua saúde e bem estar. Você estará mais organizado e metódico, e essas características trarão as mudanças necessárias aos seus dias.

AQUÁRIO (20/01 - 18/02)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em tudo o que envolve sua casa e família. Aqui falamos também da casa interna, de sua interioridade e necessidade de estar consigo mesmo para compreender emoções relacionadas aos seus pais e infância. A família que você constrói também tem a ver com esse setor de seu mapa.

ESCORPIÃO (23/10 - 21/11)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em seus relacionamentos pessoais e profissionais. O período pode estar relacionado com uma pessoa que atravessa seu caminho e chama sua atenção. Você pode estar mais aberto para um relacionamento afetivo, mas deve estar atento para o tipo de relacionamento ou pessoa que se aproxima de você durante um eclipse.

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LIBRA (23/09 - 22/10)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em aspectos de seu mundo emocional e financeiro. O período pode envolver processos emocionais intensos que o levam ao mergulho às suas profundezas promovendo um processo de transformação e limpeza de suas emoções. Por outro lado, pode ser um período de acordos e negociações com parceiros financeiros e investidores envolvendo uma grande soma de dinheiro, que trará as mudanças prometidas nos próximos meses.

CAPRICÓRNIO (22/12 - 19/01)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em processos que envolvem a auto estima e sua relação com o amor. Perguntas como “o que é o amor”, “o que desejo de fato de um relacionamento”, “como amo e como quero ser amado” entre outras, fazem parte desse processo. O período pode também estar relacionado com uma gravidez ou o surgimento de um novo amor em sua vida.

PEIXES (19/02 - 20/03)

Maio começa sob as energias do eclipse de Lua Nova que aconteceu em Touro no último dia de abril, prometendo mudanças importantes, pelo menos nos próximos seis meses, em sua rotina, que sentiram diferente e mais dinâmica. A comunicação ganha força e destaque, assim como as atividades que a envolvem. Se estiver envolvido com jornalismo, comércio ou vendas, você vai sentir que a vida o leva para outras possibilidades. É possível que você decida começar um curso ou mesmo dar aulas e esse seja o ponto que as mudanças começam.

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CoSMOS N A A R T E

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