Viral 12 _ Tecnologia

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REVISTA LABORATÓRIO ED. 12 | DEZEMBRO 2020

Bitcoin

Criptomoeda conquista investidores com a promessa de maiores ganhos

e mais

Golpes digitais

A hora e a vez do e-book


SUMÁRIO 4

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FINTECHS

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EFEITO DOMINÓ

As startups financeiras possibilitam negócios de impacto social e atendem público seleto

Os crimes virtuais no Brasil, que é campeão no número de casos

LUZ, CAMÊRA, TRANSFORMAÇÃO

Como os processos tecnológicos influenciaram o entretenimento

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RESÍDUOS ELETRÔNICOS

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TIK TOK

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CAMINHOS DA LEITURA

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AS LIÇÕES DA PANDEMIA

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Entenda como funcionam as criptomoedas, que representam o possível futuro do dinheiro

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NO RASTRO DAS BITCOINS

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Como fazer um melhor aproveitamento do material e a importância do descarte correto

Com mais de 2 bilhões de downloads no mundo, aplicativo é a grande novidade de 2020

A transição dos livros impressos para o digital, com e-books e outras publicações

Desafios do ensino remoto, em um país em que 26% da população ainda não tem acesso à internet

TECNOLOGIA PARA INCLUSÃO

Telas e softwares colaboram no aprendizado e na socialização dos autistas

ACESSIBILIDADE NA EDUCAÇÃO

Máquinas e aplicativos contribuem para o aprendizado de olhos fechados

CIRCUITO ESPORTIVO

A tecnologia utilizada como evolução no esporte


CARTA AO LEITOR

ACESSE O ESPECIAL SOBRE A QUARENTENA

E XPEDIENTE Diretoria da FaAC Prof. Humberto Iafullo Challoub Coordenador de Jornalismo Prof. Robson Bastos Professores Responsáveis Helder Marques, Nara Assunção e Raquel Alves Capa Arte por Fran Ferreira (inspiração na arte de Michael Waraksa/ NYT) Projeto Gráfico Original Diego Kassai, Gabriel Chiconi, Kelvyn Henrique e Nathália Affonso Siga as redes sociais: @viralunisanta Rua Oswaldo Cruz, 266, sala 321 Santos I São Paulo Realização:

A invenção da roda, o surgimento da escrita, da prensa móvel, do telégrafo, rádio, TV. Ou mesmo os grandes avanços da medicina.  A tecnologia nos acompanha desde a gênese civilizatória e, depois da globalização, impulsionada na década de 1990, galgou incisivamente para o boom tecnológico dos últimos tempos. Se por um lado esse avanço trouxe um conforto e facilitou o dia a dia, por outro, colocou em xeque muitos aspectos da vida em sociedade, como a privacidade.  A era digital deu início à corrida por likes, acompanhada da superexposição nas redes sociais. Nossos dados pessoais foram terceirizados e trafegam na velocidade da luz por veias algorítmicas que não vemos, mas sabemos que viram uma espécie de mercadoria nas mãos das gigantes Google, Amazon, Microsoft... a lista parece interminável.  Ao ceder as informações a estas empresas, elas também tomaram a frente em outro aspecto importante do cotidiano: nossas escolhas. Que roupa vamos comprar? Qual o hotel a ser reservado para a próxima viagem? Devemos dar uma pausa no trabalho por aquele cafezinho na Starbucks? Enquanto não temos certeza sobre nossas próximas escolhas, convidamos nossos leitores a fazer uma reflexão: qual o verdadeiro papel da tecnologia em nossas vidas? Para ajudá-lo a formular essa resposta, falamos nesta edição da Viral de moedas virtuais, de ensino remoto, investigamos as fraudes digitais, o destino dos aparelhos eletrônicos que ficaram ultrapassados, os livros digitais e muitos outros assuntos. Versátil como é, a tecnologia cria novas formas de nos relacionarmos com grupos sociais, objetos e situações. Cabe a nós nos adaptarmos ou não a essas mudanças, enquanto o mundo digital e analógico coexistem em uma harmonia (não tão) perfeita.

Boa leitura!


CADA DIA MAIS, AS CRIPTOMOEDAS REPRESENTAM O POSSÍVEL FUTURO DO DINHEIRO TEXTO: FRANCIELE FERREIRA E LARISSA RIBEIRO FOTOS: DIVULGAÇÃO DIAGRAMAÇÃO: LUIZA DE OLIVEIRA ILUSTRAÇÃO: LUIZA DE OLIVEIRA

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escentralizada, democrática e acessível. Essas foram as palavras que apareceram repentinamente no sonho de Maria Gazola, tecnóloga de logística, após algumas aulas de economia na faculdade. Pode parecer esquisito e até algo da cabeça dela, mas o devaneio era mais que real. “Estranhei, mas me levantei, fui direto pesquisar sobre aquilo que tinha sonhado. Achei interessante e muito promissor”, conta. Depois desse episódio, Gazola ficou intrigada, resolveu interpretar aquela visão e se aprofundou ainda mais nas pesquisas. Foi assim que descobriu

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uma de suas maiores paixões, a bitcoin – uma criptomoeda digital criptografada, assim como no sonho que teve. Por mais que já tivesse interesse pelo mundo da economia, a nova tecnologia financeira ainda parecia ser extremamente utópica para Maria, principalmente por conta de sua desburocratização, algo impensável nas agências bancárias atuais, o alto poder de compra e por não ter regulamentação governamental. “Quando descobri tudo isso, comecei a me envolver mais, não só pela lucratividade, mas para entender o fato de que o governo não consegue taxar, principalmente no Brasil, que tem impos-

tos absurdos nas nossas ações”. A tecnóloga não percebeu uma diferença imediata na sua vida financeira, mas por conta dos estudos, percebeu um déficit de informação sobre o tema na internet. Com isso, acabou tornando o seu sonho - um tanto quanto peculiar - em um artigo que apresentou na Fatec Log 2018 – congresso que debate logística e tecnologia. “Quis escrever sobre o impacto dessas novas tecnologias no ramo da Logística. Eu falei um pouco sobre bitcoin, mas foi bem difícil encontrar alguém que entendesse do assunto e pudesse me orientar, por isso tive que incluir o sistema de e-


-commerce”, declara Maria. Foi no mesmo período de produção do artigo, denominado “E-commerce e Social commerce: evolução e influências no Brasil”, que Maria resolveu acordar de seu sonho e começou a comprar e investir em bitcoin, assim como outros 1,4 milhão de brasileiros que apostam nesse investimento, segundo o site financeiro Foxit. SABE O QUE É? Para entender mais um pouco sobre criptomoedas é necessário despertar, espreguiçar e voltar lá para 2008. Naquela época – que para o mundo ‘internético’ já passou faz um tempão, mal exis-

tiam aplicativos de bancos ou qualquer fintech - startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro. Porém, baseado na descentralização da internet, o mundo financeiro era discutido com afinco em inúmeros fóruns espalhados pela web. O debate principal sempre foi sobre a centralidade da política monetária daquele tempo, que, como todos sabem, ainda é a mesma. Por conta dessas discussões, um personagem misterioso chamado Satoshi Nakamoto publicou um artigo no fórum ‘The Cryptography Mailing’. Nesse contexto ‘cyber místico’, porque nunca se descobriu quem ele era

ou se era um grupo de pessoas, foi concebido o conceito de criptomoeda. Pulando do sonho para a vida real, em 2009, ocorreu a primeira transação com uma moeda virtual realizada entre aquele tal Satoshi Nakamoto e Hal Finney, um programador americano – que para os mais ‘nerds’ é citado como o pai da moeda. Para Fabrício Tota, criador de criptoativos e porta-voz da corretora financeira ‘Mercado Bitcoin’, a tecnologia surgiu para facilitar transações peers-to-peers – que no velho e bom português, é a compra e venda funcionando de uma pessoa para outra, sem intermediários fiscais. “Qualquer

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Comecei a me envolver mais para entender o fato de que o governo não consegue taxar Maria Gazola, Tecnóloga

Em meados de 2008, um desenvolvedor identificado apenas como Satoshi Nakamoto publicou um estudo sobre o funcionamento de um mercado virtual e deu origem à criptomoeda mais famosa do mundo. A identidade de Nakamoto, no entanto, nunca foi comprovada

indivíduo pode comprar bitcoin em corretoras financeiras. É algo que subverte um pouco como os produtos financeiros são, mas o canal de investimento é padrão e simples”, explica. Teoricamente, a bitcoin, por não ter ainda regulamentação, é mais democrática e lucrativa. A criptomoeda não é nada mais do que um algoritmo de um código. Da mesma forma que a moeda física tem números de série, marca d’água e outros dispositivos de segurança, a criptomoeda utiliza códigos difíceis de quebrar, para garantir transações muito mais seguras. A partir do código são geradas inúmeras outras criptomoedas, que vêm ganhando espaço nos últimos tempos, como a litecoin, a ethereum e outras, mas foi essa primeiríssima que popularizou o conceito de criptoativo digital, é a mais famosa e a que trouxe outros tópicos tecnológicos, como a mineração, processo de validar transações bitcoin de um computador a outro, o blockchain, utilizado como uma carteira de investimentos digital, e por aí vai. Sem falar que é a mais cara dentro desse mercado, apesar de ainda ser um sonho que está na fase 1 do mundo da internet. Atualmente, uma única bitcoin custa 66 mil reais. Como é uma rede por computadores ligados ao redor da Terra enquanto validam transações, a famosa mineração digital, as ações nunca param de ganhar recompensas financeiras, por isso, é tão lucrativo. Todas as transações são conectadas ao endereço bitcoin do

investidor, que é armazenado na carteira digital do usuário. Se o endereço estiver vinculado à identidade real de uma pessoa, as transações serão rastreáveis. INCÓGNITA Sabe quando você sonha e vê uma pessoa que conhece, mas não sabe o nome? É mais ou menos isso. Esse nível relativo de anonimato torna a plataforma bitcoin uma ótima maneira de fazer compras online de forma incógnita. “Tenho um código identificando o destino das minhas transações, mas como há uma distribuição na rede, nenhum órgão governamental do mundo pode me impedir de mexer nos meus investimentos”, pontua Tota. O número de brasileiros que investem em criptomoedas superou, em duas vezes, a quantidade de investidores cadastrados na bolsa brasileira B3 (antiga BM&FBovespa), de acordo com informações divulgadas recentemente pelo O Estado de S.Paulo. Um dos principais fatores que podem ajudar a explicar a grande quantidade de investidores de criptomoedas no Brasil é a acessibilidade do investimento. Por ser uma moeda fracionável, há uma possibilidade maior para comprar e passar a investir, porque o valor pode ser fracionado até a oitava casa decimal, ou seja, até o 0000000,1 bitcoin, para que se aproxime de um preço interessante para quem quer adquirir. Com liberdade bancária, livre das grandes taxações, já que em todos os países do mundo não é necessário declarar essa

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criptomoeda, a bitcoin vem ganhando um lugar considerável no caminho financeiro e na indústria tecnológica. do qual não se tem garantias legais. “IndependenIMPACTOS temente de ser uma rede Nessa pandemia, ao contrário sem ente central, ele tem da paralisia das moedas fiduci- algumas cobranças, em peárias - qualquer título não-con- quenas transações, além de versível que advém da confiança que nos últimos anos, tem em quem as emite –, o dinheiro sido pauta para criação de um digital teve o seu valor elevado. conselho monetário. Porém, a Apesar de ficar praticamente moeda não tem uma legalidaestável desde janeiro, a bitcoin de plena, sua movimentação ficou entre os ativos de melhor ainda pode ser algo perigoso”, desempenho no primeiro se- complementa. mestre de 2020, acumulando a Como todo remédio para o valorização de 26,85%. sono, a bitcoin ainda tem alNo Brasil, por causa também guns fatores negativos, mas que da disparada de 35%, a bitcoin não estremecem a estrutura do teve um desempenho ainda me- código e não são um pesadelo. lhor, avançando 72% no valor Por ser uma rede descentralizainicial, de acordo com pesquisa da, a moeda passa por uma vodo portal de notícias econômicas latilidade sem limite. É por isso Infomoney. que o preço da bitcoin pode Mesmo sendo um modo de subir 20% em um dia e descer investimento inovador, com uma 6% em outro, tal volatilidade é tecnologia ampla, rentabilidade normal no mercado de criptomaior e descentralização, o im- moedas. A instabilidade é uma pacto é como qualquer outra mo- fonte de possíveis rendimentos eda: a facilitação de troca de pro- absurdos, o que deixa muidutos, como uma pílula do sono ta gente confusa, mas feliz. É que pode te ajudar a adormecer. como aquela sensação de cair Para o economista Luciano enquanto dorme – normalmenSimões, por conta da circulação te, é estranho, mas quando se de criptomoedas, o comércio e o volta a sonhar, pode ser melhor consumo se modificam, usando do que antes. valores monetários diferentes, inFabrício Tota contou que isso clusive atraindo um perfil novo é uma situação comum no merde investidores. “Logicamente cado de investimentos. Por isso, com risco, mas é um impacto co- a preocupação deve ser modemum para a política monetária, rada, deve-se ter intuição. “Isso só que sem regulamentação”. é inerente ao ativo. Vai flutuar De acordo com ele, o dinhei- porque é assim que é. Por isso, ro tem um valor especulativo, para investir é necessário medir

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O QUE É? Bitcoin é uma criptomoeda, ou seja, é um meio de troca que se utiliza da criptografia para assegurar transações online e para controlar a criação de novas unidades da moeda.

QUANDO SURGIU? A bitcoin foi apresentada em 2009 por um programador identificado como Satoshi Nakamoto e é considerada a primeira moeda digital.

COMO É DIVIDIDO? A bitcoin é dividida em Satoshis; um bitcoin equivale a cem milhões de Satoshis. A maioria desses sites e aplicativos que oferecem bitcoins grátis, na verdade oferece os Satoshis.


o tamanho da sua exposição. Ter uma visão realista da sua carteira de investimento”. QUEM INVESTE? Assim como a sonhadora Maria, que tem apenas 22 anos, a predominância de investidores jovens é uma realidade. Além da facilidade de acesso, que se torna cada dia mais evidente, isso acontece, também, porque os jovens que presenciaram o surgimento desse mercado cresceram junto com a moeda. Bem no comecinho do sistema de bitcoin, Thiago Gonçalves começou a estudar sobre criptomoedas. Interessado no assunto, um tempo depois resolveu comprar a sua primeira moeda virtual. “Em 2015, estava com um dinheiro parado e não me atraía a ideia de investir em uma aposentadoria. Foi quando lembrei das criptomoedas, resolvi correr um risco maior, minerei um tempo para aprender, mas não era vantajoso com o equipamento que eu tinha”. Para minerar bitcoin é necessário ter um computador com alta capacidade de processamento. Diante da dificuldade de minerar, atualmente não é mais possível fazer com um computador caseiro. Os mineradores compram máquinas que foram feitas especialmente para esta ação, como as ASICS, um processador que custa de 5 a 16 mil reais. Os gastos com a mineração

não param na compra de um Isso é inerente ao computador robusto. O uso de energia em casa também pode ativo. Vai flutuar subir consideravelmente, o que faz com que investir na mineporque é assim ração não valha tanto a pena que é. Por isso, no Brasil. Agora Thiago mora na Taipara investir é lândia – o país em que a tecnonecessário medir logia anda de mãos dadas com os negócios –, e nota uma extreo tamanho da ma diferença em como as pessua exposição soas entendem do assunto por lá. “Aqui é o centro do mundo, Fabrício Tota, você tem acesso a todo mercacriador de criptoativos do oriental, pode fazer transação com esse tipo de dinheiro, a maioria da população é familiarizada. Isso ocorre ainda mais porque aqui há muitos chineses, que são fortes nesse cenário e praticamente comandam o mer- para a bitcoin, mas aos poucos outras camadas vão sendo criacado de mineração”. das para que se facilite o seu uso. POUCOS COMPREENDEM “Não está tudo pronto, vamos Por que parece tão fantasioso o dizer assim. Uma transação com conceito de bitcoin? Apesar de as bitcoin ainda é um pouquinho criptomoedas estarem cada vez cara para poder, talvez, pagar o mais comuns, muitos ainda têm lanche desses fast foods que exisdúvidas se o investimento vale a tem mundo afora”, compara o pena, ou se é apenas uma ilusão. economista Luciano Simões. Por enquanto, o bitcoin ainAfinal, é uma tecnologia recente e diferente do que estão acostu- da paira como uma tendência, mados, o que pode causar certa que pode ou não engrenar em breve. Mas é possível que se apreensão. “Acredito que é porque a transforme no euro da internet, gente não entende muito bem facilitando transações e se tornem como funcionam as mo- nando uma moeda única para edas oficiais, como o próprio pagamentos digitais. A ‘moedinha’ que já engareal. Mas com essas, a gente se sente confortável, porque estão tinha no mercado de investiaí desde que o mundo é mun- mentos, está evoluindo, assim como o e-mail foi para carta do”, acrescenta Tota. Poucos serviços oferecem con- ou como o Netflix está sendo versão de uma moeda tradicional para as locadoras

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TEXTO E REVISÃO: DAVI DA COSTA OLIVEIRA DIAGRAMAÇÃO E INFOGRAFIA: ISIS CANONICI BARRADA REVISÃO E PRODUÇÃO: HENRIQUE CUNHA BUENO FOTOS E ILUSTRAÇÕES: RAFAEL CALDEIRA DE ALMEIDA PRADO

FINTECHS QUEBRAM PARADIGMAS STARTUPS FINANCEIRAS ATENDEM UM PÚBLICO SELETO E POSSIBILITAM NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL

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as décadas de 70 e 80, os filmes futuristas apresentavam as possíveis soluções tecnológicas. Em comum, os gadgets eram instantâneos, ou seja, você apertava um botão e em poucos segundos estaria na cidade — ou galáxia — que desejava ou teria a comida pronta em mãos. No mesmo período, o Brasil via as agências bancárias se espalharem em cada esquina e esse fenômeno acabou por concentrar a renda brasileira em cinco “bancões”: Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa e Santander. Ao contrário dos filmes, os bancos não tinham respostas rápidas naquela época. Para pagar uma

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Wesley Queiroz leva uma vida agitada e não vai ao banco pagar contas ou utilizar serviços

conta, fazer transferência e até sacar dinheiro, era necessário enfrentar uma fila, antes de poder resolver com um bancário, engravatado. Mesmo após algumas décadas e com a democratização do acesso à internet, boa parte dos serviços, ainda precisam ser feitos em agência bancária, como é o caso de solicitação de financiamento ou o aumento da linha de crédito. No entanto, desafiando esse método burocrático, com o auxílio da tecnologia, as fintechs apresentam soluções financeiras digitais, mais práticas e com custo baixo ou isento. Um exemplo, é a startup brasileira Nubank, que começou oferecendo um cartão de crédito sem anuidade e agora já permite aos clientes terem uma conta digital gratuita e contratar empréstimos, usando apenas o aplicativo no smartphone. Aproveitando da praticidade dos serviços que as fintechs oferecem, o jornalista Wesley Pacini, 23, decidiu abrir uma conta no Nubank, que em menos de 7 anos tem se popularizado entre os jovens. “Nunca tive uma boa experiência nas agências bancárias e quando descobri o Nubank, adorei a proposta”, explica. O objetivo do banco é bem simples: centralizar todos os serviços bancários em um único aplicativo.

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“No Nubank, posso fazer transferências, solicitar mais crédito, pagar contas ou pegar um empréstimo, entre outras coisas. É tudo muito fácil e intuitivo, então, nem preciso ir até uma agência”. POTENCIAL Nascidas no mundo digital, as primeiras fintechs surgiram no Brasil, por volta de 2010. Elas não contam com grandes estruturas físicas, como agências bancárias, o que diminui os custos, podendo oferecer serviços mais baratos ou gratuitos. Apesar disso, as fintechs geralmente não apresentam lucro de início, mas possuem grande potencial de crescimento. Para ganhar dinheiro, as startups também podem contar com investidores. No caso do Nubank, ele recebe do estabelecimento um percentual do valor de cada compra realizada através da bandeira do cartão. Os bancos digitais também ganham com juros de financiamento, quando um cliente decide financiar parte ou o total do valor da fatura. O especialista em mercado digital Luciano Si-


mões acredita que os bancos digitais têm desempenhado um importante papel para forçar uma evolução no atendimento. “O sucesso das fintechs mostra que a digitalização de serviços pode tornar uma agência bancária disfuncional. Um dia não veremos mais tantos postos de atendimento”, esclarece Simões. Ele explica que o surgimento do Nubank chega em ótimo momento por conta de uma forte demanda das novas gerações, que buscam tarifas menores, comodidade, funcionalidade, rapidez. Bancos e contas digitais costumam trabalhar com tarifas zero e transferências gratuitas e ilimitadas. Contudo, ele ainda ressalta que os bancos tradicionais não devem sentir impactos significativos por hora. “As fintechs não têm o porte desses bancos. Os “bancões” são muito grandes e podem se adaptar, fazendo frente a essa concorrência digital, tanto que devagarzinho alguns começaram a oferecer propostas de contas digitais, para fazer concorrência a essa situação”, complementa. DESBANCARIZAÇÃO Do mesmo modo que os bancos tradicionais estão se reinventando para fazer frente às startups financeiras, outras ideias surgem com a finalidade de atender outros públicos. Uma é a Conta Black, que se propõe a resolver o desafio da desbancarização e, consequentemente, a exclusão financeira. Encabeçada pelo empreendedor Sergio All, 46, a Conta Black é uma conta digital voltada para o público distante do sistema bancário. Segundo dados do executivo, o número de pessoas sem acesso ao sistema bancário chega a 45 milhões de pessoas, das quais 69% são negras. Isso significa que, a cada três brasileiros, um não possui conta bancária. Detalhe: mesmo à margem do sistema financeiro, esse grupo movimenta anualmente no país mais de R$ 800 bilhões, sendo mais da metade em espécie. O surgimento da ideia da fintech está ligada à

O sucesso da Nubank e outros bancos digitais mostra que a digitalização de serviços pode tornar uma agência bancária disfuncional Luciano Simões, Economista especialista em mercado digital

vivência de Sergio enquanto homem negro. “Eu precisava trocar 50% das máquinas da minha agência de produção de sites, e precisava de recursos. Na hora de pedir o empréstimo, o gerente me respondeu com um sonoro ‘não’, relembra All, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e uma expressão de incredulidade. Ele explica que a resposta não fez nenhum sentido à época, já que mantinha um bom relaciona-

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COBRANÇA DE TARIFAS Um dos principais motivos apontados pelos clientes para abrirem uma conta nos bancos digitais é a diferença na cobrança de tarifas para serviços corriqueiros. A maior parte dos bancos tradicionais cobra taxa de anuidade de cartão de crédito, além de valores para transferência para outros bancos, via DOC ou TED, por exemplo, enquanto que as fintechs cobram apenas tarifas para saque.

ATENDIMENTO ONLINE Outra diferença entre bancos digitais e bancos tradicionais é a praticidade. Todo mundo já sofreu na espera de filas de bancos ou do atendimento telefônico para resolver problemas simples. Já as Fintechs oferecem a possibilidade de resolver praticamente todas as questões por meio do próprio aplicativo.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA Os bancos digitais, como Nubank, Next e Conta Black, investiram para que seus aplicativos fossem intuitivos o suficiente para facilitar a navegação e a operação de seus clientes. Algumas ferramentas também ajudam o usuário a controlar melhor suas finanças. Em bancos tradicionais, a linguagem é mais formal e dificulta o entendimento das novas gerações.

AGÊNCIA FÍSICA Dentre as pessoas que não conhecem muito bem as fintechs, 50% se sentem inseguras pelo fato de não haver agências físicas. Esse é um ponto positivo dos bancos tradicionais. Dentre os que conhecem, esse receio cai para 22%. Esse é um serviço considerado essencial, como um ponto de segurança, caso alguma coisa dê errado. De certa forma, para muita gente é preciso ter algum lugar onde você vá pessoalmente resolver algum problema ou mesmo realizar um saque ou depósito, por exemplo.

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Sergio All empreende desde cedo e hoje tem o sonho de criar um banco gerenciado por pessoas pretas, algo até então inédito no País. Entre as quase mil startups no Brasil, apenas All é um gestor preto.

mento de anos e contava com uma boa pontuação. “A resposta foi muito fria por parte do gerente. No dia, ele disse que não conseguia liberar, mas hoje vejo que não queria", detalha agora frente a um banco digital com expectativa de atender mais de 20 mil clientes neste ano. "Dados de mercado mostram que o negro tem crédito negado até três vezes ou mais em comparação ao branco. O gerente costuma ver o empreendedor negro com desconfiança e os próprios algoritmos dificultam o acesso a crédito, levando em consideração a cor e o CEP, que pesam muito”, esclarece All. Com isso em mente, All decidiu criar um banco ainda em 1999. Porém, a tecnologia ainda não permitia pôr a ideia em prática e por isso o projeto da Conta Black seguiu engavetado até 2017. Para Sergio All, único gestor negro de uma

fintech brasileira em um universo que se aproxima do seu primeiro milhar, o processo de disrupção é apenas o começo. "Hoje, nos vemos desafiados. Queremos redesenhar esse novo modelo de impacto social e mostrar aos nossos clientes que eles estão envolvidos em ações positivas, como a doação de uma bolsa de estudo e um cashback - programa de reembolso, em que uma porcentagem do valor gasto é devolvida ao titular do cartão de crédito - por confiar em nossos serviços”. Sobre como fazer isso, o empreendedor explica que a meta da Conta Black é ter 20 milhões de contas digitais para ser convidada pelo Banco Central a se tornar um banco, alocando recursos onde quiser e permitindo que mais empreendedores marginalizados ingressem no sistema bancário

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EFEITO DOMINÓ O EFEITO DOS CRIMES VIRTUAIS: BRASILEIROS SÃO CAMPEÕES NESSE JOGO


TEXTO: JOÃO PEDRO E BEATRIZ PEREIRA FOTOS E DIAGRAMAÇÃO: FERNANDA PAES

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m simples clique no smartphone pode mudar completamente a vida de uma pessoa. A tecnologia é como uma peça de dominó e, se usada indevidamente, traz efeitos que derrubam todas as outras peças. Na mesma proporção que contribui para o avanço da sociedade, a tecnologia gera riscos, entre eles, os crimes virtuais, tão comuns, mas difíceis de serem solucionados. Uma peça do dominó caiu quando uma massagista, conhecida da publicitária Juliana Maffei, recebeu oferta de cursos de sua área de atuação. A mulher teve o celular invadido após repassar seu código de segurança do WhatsApp. O hacker enviou mensagens para todas as pessoas da lista de conta-


Brasil lidera ranking de crimes cibernéticos

tos da massagista pedindo dinheiro. Uma dessas pessoas foi Juliana, que acreditou na história contada pelo criminoso, já que muitas pessoas passaram por dificuldades financeiras na pandemia. A publicitária depositou na conta bancária indicada, a quantia pedida pelo bandido, que mandou um número e acabou clonando seu WhatsApp também, novamente pela tática do código, derrubando outra peça do jogo. “Quando percebi que estava sendo vítima de um golpe, fiz o boletim de ocorrência e a Caixa Econômica Federal bloqueou a conta. Depois do ocorrido, em qualquer hipótese, peço para a pessoa me ligar e estou atenta a qualquer tipo de código”, concluiu a publicitária. Segundo relatório da Norton Cyber Security de 2017, o Brasil, com cerca de 62 milhões de casos, é o segundo país do mundo com mais registros de crimes virtuais, ficando atrás apenas da China. De acordo com o advogado Pedro Alonso, existem duas formas mais comuns do delito atualmente: o primeiro contra o sistema de informação e segurança ou de informações do usuário; e o segundo, envolvendo ações cometidas por meios digitais. Ou seja, o primeiro caso é quando há invasão do dispositivo eletrônico,

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mediante a violação do mecanismo de segurança, com o objetivo de acessar, adulterar ou destruir dados ou informações. Os violadores são os conhecidos “hackers”. Já no segundo, são os casos de ofensas, calúnias, ataques homofóbicos e racistas nas redes sociais, cometidos em nome da “liberdade de expressão”. RACISMO O problema é que boa parte dos infratores, muitos com perfis falsos, criam um linchamento virtual. Um exemplo desta prática está no futebol quando um time perde. Os criminosos acabam culpando, na maioria das vezes, os jogadores negros e fazem ataques com palavras racistas. Quem não lembra da eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 2018 contra a Bélgica? A Seleção Canarinho foi derrotada nas quartas de final por 2 x 1, com um gol contra do meio campista Fernandinho, que sofreu uma avalanche de comentários racistas nas redes sociais. Esse tipo de comentário preconceituoso é recorrente, só quem passa por isso sabe o tamanho da dor e da indignação que causa e, por muitas vezes, é difícil fazer uma denúncia formal, mas é necessário para combater esse tipo de violência. Os famosos “nudes”, que você pode até receber, devem

ser denunciados igualmente à justiça. O compartilhamento de conteúdo não autorizado pelas pessoas que detêm os direitos de imagem é crime e dá cadeia. Quando essa imagem é repassada, a pessoa também está cometendo uma infração, independentemente da ocasião. As prisões vão de um a cinco anos. Em relação à lei atual para essas práticas, o advogado Pedro Alonso ressalta que nos crimes cibernéticos, a maior dificuldade enfrentada por advogados e autoridades públicas são as fragilidades na segurança dos sistemas de informação, o anonimato e os dados cadastrais falsos dos fraudadores. “Hoje é possível obter, por


meio de ação judicial, os dados do usuário infrator, mesmo que ele se mantenha anônimo. Porém, acredito que seja necessário um endurecimento nas penas e nos meios de investigação. Assim como reprimir condutas atentatórias à inviolabilidade de sistemas informáticos com informações sigilosas”, afirma o advogado. GOLPES Com a pandemia do novo coronavírus, os casos aumentaram significativamente, visto que as pessoas se tornaram ainda mais reféns da tecnologia. Segundo informações da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o número de phishings – links fal-

sos que fazem o usuário passar seus dados pessoais – aumentou 70% durante a pandemia. “Os chamados ataques de ‘engenharia social’ levam pessoas a executar ações que vão prejudicá-las, como, por exemplo, uma oferta ‘imperdível’ em um site de compras. É a versão atualizada de golpes que já eram feitos há muito tempo”, reforça o professor de Internet e Redes de Computadores da Unisanta, Claudio Nunes. No mês de agosto, a jornalista Gabriela Neblot passou por uma tentativa de golpe. Ela conta que recebeu uma ligação de um rapaz, informando-a que sua foto com a família em um restaurante de Santos havia

É possível obter dados do usuário infrator, por meio de ação judicial Pedro Alonso Advogado

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Um dos cuidados é seguir o velho ditado popular: ‘Quando a esmola é demais, o santo desconfia

Claudio Nunes, Professor

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sido escolhida a vencedora de uma campanha e ela teria direito a um jantar de graça. A ida de Gabriela e sua família ao restaurante tinha ocorrido em dias anteriores, então a jornalista acreditou na história do criminoso. Com um plano orquestrado e atento aos detalhes, ele enviou um código e disse a ela que só ganharia a promoção, se respondesse à mensagem. Como estava trabalhando e queria desligar o telefone, a jornalista acabou enviando o número para o hacker que, rapidamente, clonou seu WhatsApp. Por sorte, o marido de Gabriela conseguiu enviar mensagem para o suporte do aplicativo, que bloqueou o número por sete dias. Gabriela, que trabalha como assessora de imprensa, teve as peças do dominó completamente derrubadas quando ficou com seu principal instrumento de trabalho bloqueado, o número telefônico. Em alguns episódios, as pessoas conseguem perceber o golpe antes de ser aplicado e agem com cautela e agilidade. A estudante universitária Natália Azzolini e o namorado Rafael Meireles pediram um almoço pelo aplicativo iFood. Porém, na hora da entrega, o motoboy informou que tinha uma taxa extra de R$5,90. Como o pagamento do almoço já havia sido feito pelo aplicativo, Natália desconfiou da ação e resolveu pagar com um cartão de limite baixo, já que o

motoboy tinha como comprovante apenas a tela do celular. Ela despistou o entregador e foi conferir a fatura. Para sua surpresa, constavam duas tentativas frustradas de débitos de aproximadamente R$3 mil. Revoltada, a estudante não quis receber o pedido e discutiu com o oportunista, que argumentou ser problema do aplicativo, e foi embora. O caso ganhou destaque e foi noticiado nos principais veículos de comunicação da Baixada Santista. Apesar da tentativa de golpe, o entregador continuou trabalhando pelo aplicativo. AÇÕES E CUIDADOS É importante ter em mente que, da mesma forma que é preciso tomar cuidado na vida real com golpes e assaltos, a internet exige a mesma atenção. E muitos desses criminosos se aproveitam da falsa sensação de segurança para aplicarem os golpes. Para o professor Claudio Nunes, “um dos cuidados a seguir é um velho ditado popular: ‘Quando a esmola é demais, o santo desconfia’, para evitar golpes do estilo engenharia social. Precisamos passar por uma alfabetização digital e usar a internet para aprender a usar a internet”. Ele aponta cuidados como: usar senhas seguras e aplicar autenticação de duplo fator, uma “segunda senha” enviada pelo próprio aplicativo via SMS ou e-mail.


OUTROS CRIMES

DICAS DE SEGURANÇA

PARA O COMPUTADOR OU CELULAR

Esse universo de golpes cibernéticos é tão grande que daria um livro. Nem mesmo as autoridades e instituições mais prestigiadas do mundo conseguiram escapar das ações dos criminosos. Os hackers já tentaram, por exemplo, invadir o sistema da Organização Mundial de Saúde (OMS) em meio à pandemia. O FBI, polícia federal dos Estados Unidos, teve seus dados roubados mais de uma vez. Serviços de espionagem de alguns países, como a Rússia, são frequentemente apontados como suspeitos de participação nesses ataques cibernéticos. Crimes antigos viram na internet mais uma oportunidade para a prática de atrocidades, como a pornografia infantil, que tem uma pena muito maior em relação aos outros crimes virtuais. Para fechar o cerco contra esses criminosos é necessário uma mega operação policial, algo parecido com os filmes de ação norte-americanos. A última grande operação ocorreu no começo de setembro deste ano. A Polícia Federal, com informações da Interpol, prendeu um homem em Araçatuba, no interior de São Paulo, responsável por manter uma plataforma com vídeos de abusos sexuais de crianças

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LUZ, CÂMERA E

TRANSFORMAÇÃO DA COMUNICAÇÃO À ILUMINAÇÃO: COMO OS PROCESSOS TECNOLÓGICOS INFLUENCIAM O ENTRETENIMENTO TEXTO: ANA CAROLINA E MARIANA SAITTA FOTO: LUCIANO MATIOLI DIAGRAMAÇÃO: ANA CAROLINA E MARIANA SAITTA

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primeiro burburinho radiofônico em solo brasileiro fez-se ouvir em 7 de setembro de 1922. Na celebração centenária da Independência, o país experimentava outro tipo de revolução. A tecnologia no mundo do entretenimento começava a ganhar som e ritmo, e o novo meio não demorou a cair nas graças do povo. Quase três décadas mais tarde, o jornalista Assis Chateaubriand decidiu expor — ainda em preto e branco — algumas figuras ilustres do rádio. As vozes que já eram amadas pelo público, ganhavam agora uma fisionomia própria, em carne e osso, nas telas da TV Tupi. Era o ano de 1950. Embora a nova tecnologia trouxesse características comuns de seu antecessor, o rádio, a TV conquistou o próprio espaço no mundo do entretenimento. Aproximou culturas e, aos poucos, estabeleceu

uma relação única com quem a assistia. A televisão passou a assumir não só o papel de levar lazer, mas também de informar, provocando uma miscelânea entre jornalismo e momentos mais leves que divertiam o público. Mais que isso, o aparelho era parte da rotina. O espectador passava horas a fio em frente às telas. Recursos de iluminação, som e imagens cada vez melhores eram a fórmula do sucesso na busca pela audiência. Depois de 70 anos de existência, a TV elevou a iluminação a um novo conceito, transformando-a em arte. Sérgio de Almeida trabalha na área há 20 anos, como lighting designer, profissão altamente ligada à tecnologia e que vai além de um simples acender de luzes. Para ele, é lidar com a parte cerebral do processo. Conduzindo a dança de luzes a seu bel prazer, de forma harmoniosa com

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Com a chegada da pandemia, o setor do entretenimento despencou. A solução foi produzir lives por acesso remoto (home office) Em casa, as filhas de Sérgio acabaram participando ainda mais da carreira do pai

o restante dos equipamentos, ajudando a dar vida ao espetáculo audiovisual. Almir Padial, por outro lado, acompanhou a metamorfose tecnológica de um ângulo diferente: nos bastidores, atrás das câmeras. O repórter cinematográfico começou a carreira como assistente de câmera, em uma

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produtora de filmes chamada BlimpFilm, em 1977. Lá, se usavam câmeras de 35 milímetros na produção de comerciais, já as de 16 milímetros auxiliavam nos documentários. A empresa, inclusive, filmava programas para o Globo Repórter. Almeida, também no início de carreira, era técnico e monta-

dor de iluminação, o que lhe rendeu experiência na área antes de tomar gosto pela parte criativa dos processos de iluminação cenográfica. Em 2003, já como lighting designer, foi contratado pela LPL Professional Lighting, renomada empresa em toda a América do Sul para locação de iluminação com finalidades diversas. Almeida se mantém ativo na empresa até hoje e testemunhou grandes avanços na área. Um deles foi a implementação do timecode, que permite programar e alinhar a iluminação dos eventos de acordo com a necessidade, transformando-os em uma linha do tempo. A partir daí, cada jogo de luz é inserido em momentos específicos, para se obter melhor impacto visual. Por ser um campo versátil, Almeida cria projetos únicos para os mais variados clientes. Entre esses projetos especiais, ele foi o responsável pela iluminação do Criança Esperança de 2009 a 2011. Participou de cinco edições do Rock In Rio, mas a lista de festivais musicais ainda inclui Tomorrowland, Lollapalooza e alguns nacionais, como o Festival de Verão de Salvador. Voltando ao ramo televisivo, o lighting designer montou cenários de luz para o The Voice Brasil e a versão kids do programa, além de desenvolver um projeto especial para a vinda do Papa Francisco ao Brasil, em 2013.


Padial participou de diversas coberturas durante a carreira, dentre eles os desfiles de carnaval no sambódromo de São Paulo. Ao lado, Padial e seus colegas de trabalho na década de 90, com as Unidades Móveis de Jornalismo (UMJ)

O LADO B DA EVOLUÇÃO Nos anos 1980, Almir Padial ingressou no jornalismo. As Unidades Móveis de Jornalismo, conhecidas como UMJ’s, eram tecnologia de ponta na época. A espécie de caminhão mais compacto cumpria o papel de permitir ao repórter entrar ao vivo de onde estivesse, facilitando a vida de quem saía às ruas em busca de notícias. Apesar da mobilidade e da qualidade do sinal de transmissão, o veículo equipado logo foi substituído por tecnologias mais modernas. Há menos de uma década, a internet móvel passou a ser uti-

lizada durante as transmissões jornalísticas. Contudo, Almir considera que os sinais 3G ou 4G não alcançam a mesma qualidade de sinal das UMJ´s, pois o Brasil possui internet de baixa qualidade em relação a outros países.As câmeras diminuíram, ficaram mais leves e finas em nome da portabilidade. Tal como aconteceu com as transmissões ao vivo, a qualidade se perdeu, segundo o repórter cinematográfico. As pesadas câmeras com lentes de cristal vêm sendo substituídas por equipamentos mais

leves, porém, não captam imagens com a mesma nitidez. A qualidade, em determinadas situações, não foi a única coisa que a virada tecnológica descartou. O repórter cinematográfico desabafa sobre a precarização do trabalho, advinda da modernidade. A equipe tornou-se enxuta e os equipamentos, escassos. A modernidade é sintoma da evolução tecnológica e vice-versa. Mas Padial questiona se este processo continuará levando em conta o poder individual de escolha ou simplesmente a imposição hierárquica?

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DO LUXO AO LIXO RESÍDUOS TECNOLÓGICOS

53,6 MILHÕES DE TONELADAS POR ANO É A PRODUÇÃO DE LIXO ELETRÔNICO NO MUNDO

NO BRASIL

1,5 MILHÃO DE TONELADAS

VALOR

AVALIADO EM US$ 57 BILHÕES


BRASIL É O QUINTO PAÍS DO MUNDO NA PRODUÇÃO DE RESÍDUOS ELETRÔNICOS

7,3KG

POR PESSOA

17,4%

DESSA QUATIDADE FOI RECICLADA

RISCO À SAÚDE

O lixo eletrônico é um risco à saúde e ao meio ambiente, contendo aditivos tóxicos ou substâncias perigosas, como o mercúrio, que danifica o cérebro e o sistema nervoso humano

TEXTO: GIULIANO LIGOTTE E VICTOR PERSICO FOTO: FELYPE BRANDÃO DIAGRAMAÇÃO: GIULIANO LIGOTTE E CAIO BIBIANO

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ão é novidade que a principal característica da nossa geração é a conectividade. Smarthphones se tonaram item essencial na nossa vida, assim como uma infinidade de outros eletrônicos que ganham popularidade, como: computadores, tablets, videogames, notebooks etc. Devido à velocidade com que a tecnologia está mudando, as pessoas trocam seus aparelhos a intervalos cada vez mais curtos. Lixo e tecnologia são palavras que caminham juntas. Não conseguimos viver sem tecnologia no nosso dia a dia. Estamos contaminados pela eficiência e rapidez com que celulares e computadores abreviam nossas tarefas no trabalho em casa, no trânsito, na escola, enfim, até nas nossas férias. Embora facilitem a rotina, não se pensa o quanto uma bateria de celular ou de notebook pode poluir o solo ou os lençóis freáticos. A atualização tecnológica é algumas vezes uma opção que se sobrepõe ao dano ambiental. “O lixo eletrônico é uma consequência do mundo tecnológico em que vivemos. Com novos aparelhos surgindo a uma velocidade muito maior do que há 20 anos, estamos consumindo em excesso. E descartando o que se tornou obsoleto ou parou de funcionar, sem a menor responsabilidade, pre-

judicando o meio ambiente” reforça Guilherme Molarino, professor de Biologia. Segundo relatório divulgado pela The Global E-waste Monitor em 2019, o Brasil foi o quinto país que mais produziu lixo eletrônico, ficando atrás apenas da China, EUA, Índia e Japão. Ao todo, foram geradas 2.143 toneladas no ano passado. De acordo com a The Global E-waste Monitor, aproximadamente 50% das trocas de aparelhos digitais, celulares e eletroeletrônicos não foram efetuadas por desgaste ou mau funcionamento do produto, mas porque o novo era mais atual, mais moderno, melhor ou com mais funções. A questão que fica é: por qual motivo consumimos tanto sem necessidade? Uma das respostas pode ser a publicidade. O marketing e as propagandas podem ser considerados culpados pelo consumo desenfreado. Ao ligarmos a TV ou entrarmos nas redes sociais, deparamo-nos com centenas de propagandas e geralmente daquilo que pesquisamos ou queremos comprar. Porém, não é o principal culpado, é apenas um dos motivos. A publicidade apenas serve para instigar um desejo que você já tem, um gatilho. A vontade incontrolável de comprar só por comprar esconde algum problema que não queremos enfrentar.

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Feirão de Eletrônicos usados que acontece toda segunda sexta-feira do mês

Muitas das compras estão relacionadas com pertencer a um grupo

Valéria Albuquerque, Psicóloga

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Segundo a psicóloga e antropóloga Valéria Albuquerque, muitas das compras efetuadas estão relacionadas com o desejo de pertencer a um grupo e manter relações próximas com outras pessoas. E há também outras razões sociais, relacionadas com distinguirmo-nos dos outros, querermos saltar à vista, por status, ou para chamar a atenção de alguém, por exemplo. Outro motivo para compras sem controle pode ser mais subconsciente como a insegurança, que traz o sentimento de não ser bom o suficiente ou de não ser tão bom quanto os outros, é mais um motivo para as compras sem controle. O estresse é mais um possível culpado. Descarregamos nossas frustrações naquilo que compramos para nos sentirmos aliviados. E por fim, existem aquelas pessoas que simplesmente consomem por hobby, para colecionar. Porém, para a psicóloga, o que importa é nos conscientizar e cada um fazer sua parte. “Se você consome bastante, mas respeita o meio ambiente, seguindo as instruções corretas de descarte, não há problema em fazer umas compras a mais”. Chamados de resíduos eletrônicos, os aparelhos que já não servem mais têm em sua composição chumbo, cádmio, mercúrio, berílio e tantos outros metais altamente tóxicos. O descarte, se mal feito, pode comprometer o meio ambiente, visto que

são compostos por elementos muito poluentes que, absorvidos pelo solo e pelo lençol freático, um reservatório subterrâneo da chuva que escoa pelo solo, comprometendo o equilíbrio ecológico. Além de poluir o ambiente, o contato com esses produtos pode causar diversas doenças nos animais e os seres humanos. ONDE DESCARTAR? A Secretaria do Meio Ambiente (Seman) de Santos, criou os ecopontos para facilitar o descarte do lixo eletrônico, como celulares, acessórios de informática, baterias, lâmpadas florescentes, pilhas, videogames, tablets e outros aparelhos eletrônicos que não têm mais utilidade. Para mais informações, o site da prefeitura conta com uma relação dos locais para descarte do lixo eletrônico.


CENTRO RECICLA E DÁ VIDA NOVA A COMPUTADORES A Fundação Settaport (Sindicato dos Empregados Terrestres em Transportes Aquaviários e Operadores Portuários) tem seu próprio Centro de Reciclagem de Lixo Eletrônico. Criado em 2010, o projeto tornou-se referência de sustentabilidade na Baixada Santista com o descarte correto dos equipamentos tecnológicos. Desde a sua inauguração foram coletadas mais de 1.500 toneladas de lixo eletrônico, recuperados centenas de computadores para implantação de salas de informáticas em diversas comunidades de região,

além disso, para ampliar o recolhimento desses objetos, uma campanha para compra de um caminhão foi realizada através do financiamento coletivo. A arrecadação de fundos foi feita de forma online. As pessoas físicas e principalmente empresas parceiras da Fundação Settaport doaram. Ao todo 80 mil reais foram arrecadados, destacou Francisco Antonio Nogueira, supervisor operacional do Centro de Reciclagem de Lixo. “Os itens sem utilidade e sucatas são vendidos para empre-

sas de reciclagem certificadas e as que estão em condições de reaproveitamento servem para a montagem de computadores que são encaminhados para os Núcleos de Inclusão Digital Fundação Settaport, instalados em diferentes bairros da cidade”. Para fechar o ciclo, o Centro de Reciclagem passou a realizar toda segunda sexta-feira um Feirão de Eletrônicos usados, com preços acessíveis, onde são vendidos produtos que ainda funcionam e outros que podem ser reaproveitados.

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O QUE FAZER PARA DIMINUIR O LIXO ELETRÔNICO? Para descartar equipamentos eletrônicos o indicado é recorrer aos pontos indicados, como os ecopontos. É o que garante que eles possam ser reciclados ou possuam a devida finalidade, sem afetar o meio ambiente. Devido ao descarte incorreto do lixo eletrônico que muitas pessoas ainda realizam, jogando-o em lixeiras • comuns e misturando-o aos outros objetos de consumo, ainda há muitos prejuízos que são aplicados à natureza devido a essa prática, causando consequências a toda a população e podendo agravar os resultados ao longo do tempo para o nosso planeta. Então, o que podemos fazer para diminuir o descarte do lixo eletrônico? Existem muitas ma- • neiras de evitar que isso aconteça. Abaixo estão algumas dicas. •

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PROCURAR LOCAIS DE DESCARTE CORRETO A maioria das cidades possui algum local próprio para o descarte de eletrônicos, seja para reutilização ou para reaproveitamento de suas peças. Deve-se entrar em contato com entidades focadas em reciclagem e informar-se sobre a possibilidade. Ao descartar seus eletrônicos, é preciso certificar-se de que

estejam limpos e sem nenhuma peça solta. Deve-se enrolar fios em torno dos aparelhos, de modo que não se soltem nem quebrem. Assim, eles ficam melhor conservados para serem reaproveitados. PARAR DE SE RENDER AO APELO PUBLICITÁRIO Trocar de celular ou de computador todo ano (a não ser que seja estritamente necessário para o seu trabalho) não faz sentido se ele estiver funcionando e servindo às suas necessidades. VERIFICAR SE É NECESSÁRIO TROCAR O COMPUTADOR Se for imprescindível, deve-se comprar um novo, porém, é interessante doar o antigo para uma pessoa que precise, um amigo, uma instituição, etc. ESTENDER A VIDA ÚTIL DOS EQUIPAMENTOS No caso dos computadores, por exemplo, muitas vezes a lentidão se deve aos • arquivos perdidos e lixo deixado pelo sistema ope-

racional. Os vírus também podem deixar o computador lento. Uma solução seria fazer um backup dos arquivos e depois formatar o computador, reinstalando novamente o sistema operacional. Passar um antivírus no software pode resolver o problema sem a necessidade da formatação. DOAR PARA MUSEUS Se estiver descartando algum tipo de dispositivo


Franscisco Nogueira, supervisor operacional do Centro de Reciclagem de Lixo da Fundação Settaport

muito antigo, pode ser que existam instituições interessadas. Computadores e outros aparelhos de décadas passadas já podem ser considerados artigos de museu. Deve-se buscar informações sobre esse tipo de coleção na cidade ou estado e entrar em contato para saber a melhor forma de doar. Em vez de simplesmente jogar fora, é importante contribuir para a cultura da sua região.

DESFAZER-SE DO EQUIPAMENTO Deve-se vender o computador ou as peças separadamente (no caso de desktops pode-se vender separadamente a CPU, monitor, teclado, mouse, caixas de som ou mesmo peças individualmente) por um preço mínimo, a fim de que alguém possa reaproveitá-lo. BATERIA Os principais fornecedores

desse produto têm urnas em todas as lojas das operadoras e oficinas autorizadas para o descarte das baterias. •

LOGÍSTICA REVERSA Muitas empresas fabricantes de eletrônicos e as operadoras de celular já recebem de volta os aparelhos usados. Deve-se ligar para a operadora ou até mesmo ir à loja onde o novo equipamento foi adquirido para se informar

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COM MAIS DE 2 BILHÕES DE DOWNLOADS NO MUNDO, APLICATIVO SE TORNOU O GRANDE ENTRETENIMENTO DE 2020


TIKTOK O APLICATIVO DO ANO TEXTO: GABRIEL SOMENSARI, LUAN GABRIEL REIS, NARA VASCONCELOS E LUIZA PIRES DIAGRAMAÇÃO: LUIZA PIRES FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

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osicione o celular, acione o temporizador para se arrumar, e comece a seguir os passos da dança que está tomando conta de todas as redes sociais no momento. Ou prepare diante da câmera aquela receita que está na família há anos, ou conte uma piada que irá se tornar o grande meme do mês. Mostre como combinar seu tênis com o look do dia. Após isso, edite, coloque um efeito, insira uma transição entre as cenas e compartilhe com o mundo. Com um vídeo de 15 segundos, ou até 60 segundos, é possível viralizar nas redes sociais e até definir a nova grande ten-

dência que milhares de pessoas vão seguir. E tudo isso através do TikTok, aplicativo de compartilhamento de vídeos que caiu nas graças da Geração Z e se tornou o grande sucesso da internet este ano. Divertida e uma ótima forma de entretenimento, sem pesar a memória do celular, a plataforma está presente em 140 países e conta com 800 milhões de perfis ativos no mundo, além de 2 bilhões de downloads no total, de acordo com a empresa We Are Social, que monitora o uso de redes sociais. Os vídeos feitos no aplicativo podem ser editados com dublagens, músicas de fundo, gráficos, efeitos, filtros e textos.

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Podem apresentar diversos conteúdos, como tutoriais de maquiagem, decoração, humor, experimentos ou artesanato. UM HIT DE MEMES O aplicativo se tornou uma verdadeira máquina de memes durante a quarentena, com piadas, cenas montadas, pegadinhas com namorados e amigos, tudo para o divertimento dos usuários. Um dos grandes nomes que mais tem se destacado neste plataforma é Mario Jr., conhecido como ‘galã’ do TikTok, que viralizou com seu charme de protagonista de comédia romântica e ganhou repercussão em outras redes sociais, ainda mais depois que famosos começaram a reproduzir os vídeos dele. Acumulando mais de 340 mil seguidores no aplicativo, Mario tem divertido muitas pessoas ao longo de meses tão caóticos. EXPLOSÃO DE SUCESSO Apesar de estar disponível desde 2017, a plataforma teve sua explosão de reconhecimento este ano. O aplicativo foi o mais popular durante a quarentena, superando até o Youtube. Só no mês de abril, foram mais de 78 milhões de downloads, segundo a revista Forbes. O crescimento, principalmente no Brasil, chamou a atenção de grandes empresas, como a Sony e o Guaraná Antarctica, da Ambev, que procuraram a plataforma para ações de publicidade. A marca de refrigerante selou uma parceria com o aplicativo e lançou uma série de 27 latas temáticas que apresentavam um

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TikTokCode, uma espécie de QR Code, que ao ser escaneado, levava a pessoa para o perfil da marca na plataforma. Em sua página, Guaraná Antarctica lançou quatro desafios e um time de 50 influenciadores digitais para divulgação. Já a Sony utilizou a plataforma para divulgar com exclusividade a música #CarnavalChegando, do DJ Rennan da Penha, antes do lançamento oficial. Por dois dias o aplicativo disponibilizou um trecho de 15 segundos da música. Marcela Oliveira, publicitária e analista de mídias sociais, explica que a criação e sucesso de aplicativos dinâmicos como a plataforma se tornam um grande atrativo para empresas utilizarem como uma ferramenta de divulgação. Outro fator que auxilia no engajamento e aumento de usuários e o engajamento de vídeos, divulgados em outras redes sociais, como Instagram e Twitter, funcionando como um convite para a plataforma. “O TikTok viralizou ainda mais na quarentena porque todo mundo estava no isolamento e precisava de uma distração, então se tornou uma alternativa psicossocial. Todo mundo queria ver um vídeo engraçado e fazer parte daquele mundo”, explica a publicitária. Pietro Falbuon, estudante de Jornalismo, começou a fazer vídeos em março e atualmente acumula mais de 30 mil seguidores na rede social. Um amigo produzia vídeos sobre basquete que tiveram grande repercussão. Com incentivo

O TikTok é um universo de possibilidades, você pode usar para tirar bom proveito de si mesmo, ou para seu lazer próprio Pietro Falbuon, Estudante

desse mesmo amigo, Pietro se sentiu inspirado a criar o seu próprio perfil e desde então isso se tornou um passatempo para o estudante. Produzindo vídeos de humor, como dublagens ou piadas, Pietro organiza seu conteúdo através da própria análise do aplicativo. Pietro também pensa em quem será atingido pelas suas criações e se será bem recebido. “A partir do momento que você vira uma figura pública, é necessário saber que está lidando com diferentes pessoas do outro lado da tela. Precisa tentar o máximo para fazer com que as pessoas recebam seu conteúdo de uma boa forma”, diz. Apesar de ter dúvidas de como será o futuro da plataforma no “novo normal”, ele acredita que o aplicativo é a nova realidade para divulgações e revela que durante uma entrevis-


Na intimidade do seu quarto, Pietro grava vídeos para o TikTok e faz sucesso na plataforma

ta de emprego para um cargo na área de Marketing, o recrutador questionou se o jovem tinha conhecimento da plataforma, porque tinha a intenção de utilizá-la na empresa. O estudante conta que o aplicativo foi benéfico para sua vida pessoal e também sua imagem pública, abrindo portas para novas amizades e parceiras de divulgação. “O TikTok pode ser apenas para o lazer, mas é um universo de possibilidades, depende da pessoa que o usa”, conta.

NOVA FORMA DE EMPREENDER Certo dia, a estudante de Publicidade e Propaganda, Gabriela Maria, recebeu uma mensagem em sua rede social de uma jovem que mora em uma cidade do interior de São Paulo, dizendo que seus conteúdos eram uma inspiração e que estava começando a abrir sua própria loja. A história por trás da mensagem é esta: Gabriela perce-

beu que o TikTok era uma ferramenta de divulgação para o seu negócio. Junto com a sua mãe, ela tem uma loja de roupas chamada Santa Moda, localizada na Praia Grande. Após o local ficar fechado durante a quarentena, ela começou a usar o aplicativo no tempo livre por diversão, produzindo vídeos de dublagem, e após isso, percebeu que ou-

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Ligada nas últimas tendências da moda, Gabriela monta looks para suas redes sociais

tros usuários estavam começando a postar vídeos de roupas e composições de looks. Inspirada e ligada nas tendências, Gabriela viu a possibilidade de juntar duas coisas que gosta: redes sociais e moda. A jovem se arriscou e começou a fazer vídeos para divulgar as roupas da sua loja. “Para mim, as roupas dizem muito sobre você, seu dia, como está se sentindo”, revela. Juntando a possibilidade de aparecer na página Para Você (For You) e a facilidade do engajamento no aplicativo, Gabriela acredita que o TikTok dá mais visualizações aos criadores e au-

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xilia na divulgação da sua loja para desconhecidos. O objetivo da estudante, além de influenciar as pessoas, é produzir conteúdo de uma maneira mais leve e divertida, utilizando vídeos e músicas que estão em alta, ou até recriando figurinos usados por personagens de uma série ou um filme. Com tudo para ser a próxima It-Girl, termo usado para se referir a mulheres que criam tendências, ela revela que seu plano é continuar divulgando sua loja através dos vídeos e crescendo comercialmente, e um dia, criar sua própria marca de roupas.

FORA DA SALA DE AULA Priscila Avarena, professora de ensino fundamental em uma escola particular de Santos e maquiadora, entrou para o segmento beleza de forma autodidata, aprendeu alguns truques na internet e se aperfeiçoou em cursos profissionalizantes. Não demorou muito para que ela resolvesse divulgar o seu próprio trabalho através das redes sociais, no seu perfil pessoal e depois criando uma conta exclusiva para mostrar suas maquiagens ao mundo, com fotos e vídeos. Priscila já utilizava o aplicativo no ano passado, mas apenas


Apaixonada por maquiagem, a professora tem investido o tempo livre para produzir vídeos no app

como ferramenta de edição de vídeos pela facilidade que o TikTok dá em inserir transições, efeitos e músicas. Durante a quarentena, passou a produzir vídeos na plataforma como uma forma de distração. Iniciando com tutoriais de maquiagem, passou para desafios de antes e depois, até dublagens e vídeos de autoajuda. Algo que era para ajudar ela mesma, começou a ter mais engajamento no aplicativo e até receber mensagens de seguidores dizendo que seus vídeos serviam como uma fonte de alegria. Para conciliar a rotina de professora e também produzir conteúdo em suas redes sociais, ela grava e edita por volta de 20 a 30 vídeos no TikTok durante o final de semana e deixa prontos para serem postados durante a semana, publicando de 2 a 3 vídeos por dia na plataforma. Apesar de não olhar o aplicativo como um trabalho profissional, Priscila fala da importância de gravar vídeos bons e ter um retorno dos seus seguidores. Para ela, o importante é produzir com o intuito de se divertir. “Foi uma época conturbada. No começo, devido à pandemia e ter que ficar em casa às vezes sem ter o que fazer, o TikTok acabou sendo uma grande distração e conheci muitas pessoas legais, fiz muitas amizades dentro do aplicativo”, relata Priscila

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COMO SURGIU? Criado em 2012 Zhang Yiming, fundador da empresa chinesa ByteDance, de Pequim, o TikTok surgiu da compra de um app de dublagem chamado Musical.Ly, lançado em 2014. A empresa adquiriu o aplicativo e o transformou no TikTok em novembro de 2017. Não é o primeiro aplicativo de compartilhamento de vídeos para entretenimento da ByteDance. Em

2016, a empresa chinesa lançou a plataforma Douying, exclusiva para o público chinês. A diferença entre este e o TikTok é que o Douying segue as restrições chinesas, também rodando em um servidor diferente. Não demorou muito tempo para que o aplicativo virasse sucesso após seu lançamento, fazendo com que a ByteDance se tornasse a startup mais valiosa do mundo.


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TEXTO: LILLIAN CRUZ E EDUARDO RUSSO FOTO: JULIA NASCIMENTO DIAGRAMAÇÃO: JULIA NASCIMENTO

CAMINHOS DA

LEITURA A TRANSIÇÃO DO IMPRESSO PARA O DIGITAL 39


O

s olhos correm do topo ao rodapé em um piscar de olhos. Com pressa, o polegar toca a lateral do aparelho, passando para a tela seguinte. Respiração descompassada, olhar assustado e, reparando bem, tem um fio de suor escorrendo pela testa. A expressão de alívio toma o rosto conforme as próximas palavras passam a fazer sentido: o garoto sobreviveu, conseguiu escapar mais uma vez. Era tudo que ela precisava saber antes de guardar o aparelho na bolsa e finalmente ir para o trabalho. À primeira vista, a impressão é que Aline recebera uma notícia importante envolvendo um menino conhecido. Mas, na verdade, toda a sua atenção estava voltada aos capítulos finais de Harry Potter e o Cálice de Fogo, um dos muitos livros armazenados em seu Kindle. Anos atrás, seria fácil descobrir que não havia qualquer mensagem ou amigo envolvido, afinal, a versão impressa da obra de J. K. Rowling, com suas mais de 580 páginas, certamente seria identificada como um livro. Hoje, com a tecnologia dos leitores digitais, cada vez mais parecidos com tablets ou celulares convencionais, não é raro confundir um leitor assíduo, devorando páginas e páginas de suas histórias favoritas, com alguém navegando em sites de notícias ou redes sociais. “Eu retomei o hábito de ler depois que dei uma chance aos e-books”, conta a diretora de

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arte Aline Santos, que carrega centenas de livros para todos os lugares aonde vai – literalmente todos. Apesar de ter crescido frequentando bibliotecas, ela decidiu investir em um Kindle – um tipo de dispositivo feito especialmente para armazenar e guardar e-books, livros no formato virtual, há aproximadamente quatro anos. A ideia inicial era voltar a ler com frequência. Na época, Aline buscava uma alternativa para não precisar carregar peso na bolsa e um leitor digital, de menos de 200 gramas, parecia uma boa opção. O que ela não imaginava era que, em pouco tempo, voltaria à rotina de leitura que tinha na adolescência. Como o preço de um e-book é menor que um livro físico e o aplicativo sugere novos títulos de acordo com as preferências de cada leitor, não demorou muito até que sua coleção online alcançasse a marca de 300 livros, muito mais do que conseguiria guardar em uma prateleira de seu quarto. Em um país onde a maioria da população não atinge a média de cinco leituras por ano, Aline pode parecer uma exceção. Porém, quem está nos bastidores das páginas também percebe as mudanças que a tecnologia trouxe para o setor literário. Deborah Strougo, escritora brasileira que vive em Lisboa, capital portuguesa, não tem dúvidas de que a chegada dos e-books facilitou o mercado editorial.

“Nem todo mundo tem a possibilidade de investir em livros físicos”, garante Deborah, acrescentando que os e-books podem abrir portas para que os leitores passem a admirar o trabalho de novos autores. “Se você quer conhecer a escrita de algum autor, mas sente medo de não gostar, é muito mais viável pegar um e-book do que comprar um livro físico. Se o leitor gostar da escrita e da história, ele estará mais propenso a comprar os próximos livros


“ A chegada dos e-books facilitou a entrada de novos escritores no mercado editorial

físicos, porque já criou uma conexão”. Deborah faz parte do time de escritores que se destaca no mundo dos livros online. Apaixonada por palavras, ela as transforma em histórias que ganharam o coração de pessoas ao redor do mundo e, mesmo com obras já publicadas de forma impressa, recentemente optou por uma publicação independente e digital. O resultado? Centenas de leituras do conto “Casos e (não tão) acasos” em poucos meses, além

do aumento nas buscas por seus outros livros. BEST SELLER Vivendo do lado de cá do mapa, Carol Bianchi investiu nesse tipo de publicação desde o começo de sua carreira. E não se arrepende! Apesar de nenhum de seus títulos ocupar as prateleiras das grandes livrarias e mesmo sem filas em noites de autógrafos, ela se tornou uma autora best seller pela Amazon, maior site de comercialização

Nem todo mundo tem a possibilidade de investir em livros físicos Deborah Strougo Autora


O mercado editorial é complicado para quem nunca lançou Carol Bianchi Autora

de e-books, e não por acaso: durante meses, ela esteve no ranking dos 100 livros mais lidos na plataforma. “Eu sempre sonhei em publicar por uma editora, só que o mercado editorial é complicado para quem nunca lançou”, confessa. Mas, em vez de se deixar abalar pela falta de espaço dentro das editoras, Carol seguiu o coração e, depois de muita hesitação, abraçou a possibilidade de se lançar sozinha no universo dos livros. Considerando que ela alcançou milhares de leitores com um e-book de 563 páginas, nem é preciso dizer que valeu a pena arriscar. Pesquisas do Instituto Pró-Livro mostram que, em 2017, cerca de 26% dos brasileiros já consumiam e-books. E se a tecnologia aumenta o número de leitores justamente por tornar a leitura mais acessível, ela também os aproxima de seus grandes ídolos da literatura por meio das redes sociais. “A Internet é maravilhosa!”, Deborah se entusiasma ao dizer. “É sempre um enorme prazer receber mensagens dos leitores falando que leram meus livros e gostaram. Amo conversar e trocar indicações com os leitores!” Para ela, a facilidade de comunicação é uma vantagem, pois ajuda a criar laços com quem lê seus livros, mesmo que essas pessoas estejam fisicamente distantes. Aline, que ama entender mais sobre as ideias de seus autores favoritos, se diverte ao dizer que, às vezes, sente-se quase uma amiga dos escritores.

“É bacana, pois não existe mais aquela barreira. Ninguém precisa ir à bienal ou a um dia de autógrafos para dizer que curtiu um livro, basta mandar uma mensagem pelo Instagram”, pontua. A onda dos e-books cresceu ainda mais em 2020, devido às medidas de isolamento social provocadas pela pandemia de covid-19. O dados confirmam: um levantamento feito pela Bookwire, uma das maiores distribuidoras de livros digitais no Brasil, mostrou que o número de exemplares de e-books que foram comercializados até julho deste ano equivale a 80% do total em 2019. DIGITAL VERSUS FÍSICO Se o cenário virou um mar de rosas para quem respira a tecnologia, algumas mudanças foram necessárias para aqueles que sempre tiveram os livros físicos como forma de sustento. José Luiz Tahan, proprietário da Livraria Realejo, no bairro do Gonzaga, em Santos, precisou pensar fora da caixa – ou melhor, fora das paredes da livraria – para garantir que as vendas fossem mantidas enquanto as portas estavam fechadas. As redes sociais tornaram-se grandes aliadas: ele passou a divulgar os livros virtualmente, interagiu com os clientes e teve a ideia de levar até eles os títulos desejados. “Foi uma experiência muito boa! Acabei levando pessoalmente o livro e foi bem importante para salvar a livraria. Foi através das redes


sociais também, para clientes conhecidos e desconhecidos”, conta Tahan. Ele, que se considera um defensor da livraria, ficou surpreso ao notar que, mesmo sem os eventos que frequentemente ocorriam presencialmente, o uso da Internet aumentou o número de clientes: antes, ele vendia cerca de 700 livros por mês. Agora, são mil exemplares mensais. Pensando em manter vivo o brilho da leitura, mesmo em tempos de crise, ele pretende inovar e usar a tecnologia, também, para realizar um dos maiores eventos literários da região: a Tarrafa Literária, o Festival Internacional de Leitura de Santos, que terá sua 12ª edição de forma totalmente digital. “A programação será adaptada como se fosse um programa de televisão totalmente ao vivo pela Internet”, antecipa Tahan, ansioso para realizar o evento em um ambiente tão diferente do habitual. Seja para aqueles que não abrem mão do cheiro de papel ou para os que trocaram os marcadores de páginas pelos cliques na tela de um e-book, tecnologia e leitura formam uma bela dupla – e tudo indica que essa união não é passageira.

Foi necessário adaptar os meios de venda tradicionais à tecnologia

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26% 74%

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se conectam exclusivamente pelo aparelho


O

sinal toca, é hora de iniciar mais um dia de aula, mas algo está diferente.Nenhum barulho no corredor, ninguém correndo pelo pátio, cadê os grupinhos de amigos? Nem se sente o cheirinho dos lanches da tia da cantina. Na lousa, nada escrito: a sala de aula está vazia, um silêncio ensurdecedor. Por outro lado, em casa, o computador já está ligado. Hora de desligar a TV, pedir para a família ficar em silêncio e prestar atenção que a aula começou. Essa é a nova realidade da educação escolar. Já ouvimos falar tanto do novo coronavírus, que nem novo ele é mais. O vírus transformou a vida de milhões de pessoas pelo mundo, afetando diversas áreas e proporcionando uma nova realidade que ninguém esperava. De início foi difícil entender e se acostumar à “nova realidade”. Na educação reinventar-se foi essencial: escolas, cursos e faculdades adotaram o ensino a distância, um desafio tanto para os alunos, quanto para os professores. Como a maioria dos estudantes nasceu na era digital, a adaptação das aulas para as plataformas digitais foi mais sentida pelos professores, conta Tathiana França, coordenadora do colégio Integração, de São Vicente. Já para os alunos a dificuldade é ficar longe dos amigos e do cotidiano da escola. Tathiana diz que o trabalho emocional, com

a compreensão dos professores, foi fundamental para que os alunos mantivessem o rendimento nas aulas a distância. “A ansiedade foi uma questão enfrentada pela escola, que, mesmo com as aulas online, deu continuidade ao LIV, o Laboratório de Inteligência de Vida, programa que proporciona o desenvolvimento de habilidades socioemocionais importantes para o aluno”, explica a coordenadora. O LIV garante acesso do aluno a uma psicóloga para conversar sobre o seu desenvolvimento escolar. A coordenadora explica que o conteúdo das apostilas foi adaptado para estimular o envolvimento e participação dos estudantes. As aulas virtuais acentuaram as discrepâncias sociais entre escolas públicas e privadas, tendo em vista que 26 % da população brasileira não tem acesso à internet em casa. Essa desigualdade seria maior ainda não fossem os smartphones. Dos 74% dos brasileiros que têm acesso à internet pelo telefone, 58% se conectam exclusivamente pelo celular. Enquanto 99% das casas da classe A estão conectadas à rede, a taxa cai para 43% na classe E, segundo pesquisas do The Brazilian Report, publicadas no site O Petróleo. Em julho, o instituto de pesquisas Datafolha para as fundações Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, entrevistou pais e responsáveis de 1.556 es-

para o

Quais as lições da pandemia?

%

TEXTO: VINÍCIUS COSTA FOTO: ARQUIVO PESSOAL DIAGRAMAÇÃO: LUCAS FERREIRA


A ansiedade foi uma questão enfrentada pela escola

Tathiana França Coordenadora do Colégio Integração

tudantes de escolas públicas do país. A pesquisa revelou que aumentou de 74% para 82% o índice de alunos que estavam recebendo atividades escolares em casa, seja por material impresso ou celulares, desde maio. AULAS A DISTÂNCIA Prender a atenção dos alunos na sala de aula, segundo Tathiana, é muito diferente do que acontece na frente do computador. Trancados em suas casas, muitas vezes compartilhando o espaço com irmãos, ao som de crianças brincando, familiares falando, notícias ruins nos telejornais, tudo tira a concentração do aluno e interfere no bom rendimento educacional. Professora há 37 anos, Júnia Gonzalez leciona para as turmas do Jardim II, do Colégio do Carmo, em Santos e às segundas-feiras, no horário da manhã, dá aula de vivência para o Jardim I. Inicialmente teve receio de não conseguir passar o conteúdo de alfabetização pela internet, mas a paixão pela Educação foi maior que qualquer temor. As videoaulas são postadas diariamente, mas as aulas ao vivo acontecem apenas três ve-

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Com as saulas de aulas vazias, as escolas precisaram se adaptar à nova rotina virtual, que acentuou a discrepância social Tatiana França, coordenadora do colégio Integração diz que os professores tiveram mais dificuldade que os alunos na adaptação ao universo digital

zes na semana, pela plataforma da Sala de Aula Google. Júnia conta que o desafio era manter a essência das aulas presenciais no vídeo, sem perder a didática. Para tornar a aula lúdica, a professora contou com o auxílio da família. “Minha filha me ajudou muito ao me dirigir, já que ela é e sempre foi ligada a esse universo. Professor tem que ter habilida-

de com artesanato. A decoração e cenário são ideias que tive ao longo dos anos, já as luzes foram feitas pelo meu marido que entende de iluminação”. O cenário e os recursos técnicos usados pela professora têm proporcionado um resultado bastante positivo. Os alunos participam das aulas, entram para os plantões, tiram dúvidas, conversam e, por meio


Ana Júlia, de 5 anos, recebe as atividades pelo Google Classroom e as realiza com a ajuda da mãe Professora há 37 anos, Júnia Gonzalez teve a colaboração da filha na gravação das videoaulas

dos encontros particulares com cada aluno, ela consegue avaliá-los melhor. “Sou uma professora que conhece individualmente cada aluno, me preocupo em saber as necessidades e dificuldades, reparo em cada expressão, gesto, fala”. Em algumas instituições de ensino, o material didático é entregue ao aluno, que retira a apostila na própria escola, responde em um prazo estipulado, podendo tirar dúvidas com o professor por e-mail. Já em outras, o professor responsável pela disciplina disponibilizou o conteúdo em um grupo nas redes sociais, tirando dúvidas e cobrando a entrega. Cada escola desenvolve uma forma para que os alunos não fiquem sem o conteúdo, de

acordo com a sua série. Ana Júlia, de 5 anos, está no Infantil I da escola municipal Oscar Niemeyer, de Praia Grande. A mãe, Andressa Alves, conta que o material didático é postado na plataforma Google Classroom, mas também recebe o conteúdo por meio de um grupo com os pais dos alunos e a professora. Nessa idade a criança está no processo de alfabetização, que acontece de forma totalmente lúdica, por meio de brincadeiras e atividades com a interação dos colegas de classe, coisas que tiveram de ser remanejadas por causa da pandemia. “A criança sente falta do ambiente da sala de aula, dos amigos e das atividades em grupo”. Andressa fala que mesmo a distância as ativida-

des ajudam no desenvolvimento, não tanto quanto na sala de aula, com a didática da professora, mas ao mesmo tempo proporcionam aproximação maior dos pais com essa fase importante de aprendizado. A educação a distância, não é algo novo, mas com a crise do coronavírus ganhou ainda mais ênfase, destacando as desigualdades na educação. Esse formato de aprendizado parecia algo muito distante, a tecnologia já auxiliava na educação, mas com a pandemia foi inserida 100%, dividindo opiniões e pegando muita gente surpresa. De fato, a educação foi área mais afetada, proporcionado novas formas de ensino, que quem sabe não veio para ficar né?

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FOTO ILUSTRATIVA/ AGÊNCIA BRASIL

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TECNOLOGIA PARA

INCLUSÃO TELAS E SOFTWARES COLABORAM NO APRENDIZADO E NA SOCIALIZAÇÃO DOS AUTISTAS TEXTO: SABRINA LOUISE E THAIS NUNES FOTO E DIAGRAMAÇÃO: SABRINA LOUISE

A

tecnologia é uma grande aliada da educação, juntas podem significar demais no progresso de crianças e jovens com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Existem muitos softwares, aplicativos e outros programas que ajudam e são eficazes na vida educacional dessas pessoas, como jogos, vídeos e atrações tecnológicas. Não são poucos os casos em que a tecnologia ajudou em um desempenho considerável na fala, estímulos e linguagem, tudo isso com o suporte de ví-

deos e jogos especialmente concebidos para essas crianças com TEA e outras deficiências. Existem aplicativos que auxiliam na alfabetização e interação social por meio de pequenas situações apresentadas por esses softwares. Sendo assim, os pequenos treinam a educação e habilidades não só na escola, mas em casa também. Portanto, os benefícios desses apps são significantes, tendo em vista o objetivo principal, que é auxiliar o desenvolvimento pedagógico das crianças e jovens.

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ESTUDOS ON-LINE DA FAMÍLIA CHACUR Em tempos de pandemia, os recursos tecnológicos têm ajudado pais e mães a conduzirem a rotina escolar com os filhos portadores de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso ficou bastante evidente em tempos de pandemia. Mas não é de hoje que programas, games e aplicativos atuam na interface entre educadores e alunos deficientes. O autismo tem como principal característica a dificuldade de interação e comunicação, por conta disso crianças com TEA têm problemas em lidar com professores e colegas de sala dentro do ambiente escolar. Em contraponto, crianças com autismo possuem facilidade de aprendiza-

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gem a partir de estímulos visuais. Os vídeos, jogos com imagens e cores, os desenhos e fotografias, entre outros, são atraentes e captam a atenção das crianças. Entram em cena a tecnologia, tablets e computadores, além de brinquedos digitais que estimulam a curiosidade e a interação. Com metodologia de ensino mais ativa, a criança se sente atraída pelos jogos e brincadeiras, nas quais a criança passa por processos em que acaba descobrindo áreas para desenvolver diversas capacidades, sejam elas cognitivas ou sensoriais, como, auditiva, tátil e visual, tudo em conjunto. Por isso, ao possibilitar que autistas utilizem esses recursos,

a escola consegue motivá-los, ao mesmo tempo que proporciona aprendizados capazes de ampliar o desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos educandos. ADAPTAÇÃO Até há bem pouco tempo, o “normal” para crianças com TEA era usar a tecnologia nas aulas presenciais. A pandemia acelerou o uso pelas famílias, o que tem funcionado muito bem em algumas casas, mas tem representado um desafio diário muito cansativo. Quem chega cedo na casa da família Chacur, por exemplo, pode encontrar um ambiente em plena transformação. A sala é toda arrumada para virar local de estudos.


A mudança e adaptação à tecnologia representam um desafio...

Ana Paula Chacur Mãe de Helena e Antônio

Com sinal de internet checado e microfones a postos, a câmera é ligada e a professora Ariana Alcantara dá início aos trabalhos, falando para uma plateia atenta. Adaptar-se ao novo normal não foi fácil para famílias de todo mundo, mas algumas em especial tiveram que se moldar ainda mais. Mãe solteira, Ana Paula Chacur divide um único computador entre seus dois filhos, que têm os mesmos horários de aulas, mas com professores e mediadores diferentes. Como conciliar e fazer dar certo? A Ativista do TEA e da PCD, Ana Paula Chacur contou como foi a adaptação de seus filhos Helena e Antônio que possuem o TEA. Helena, 11, entendeu rápido a rotina de aulas on-line. Acostumar-se com os sons da internet foi fácil, a concentração que geralmente

é uma dificuldade dentro de sala de aula já Antônio, 9, não se interessou em ficar sentado de frente para o computador, o menino fica desmotivado, irritado e ainda piora quando a conexão falha ou cai. A mudança e adaptação à tecnologia representam um desafio para a família, crianças não tão familiarizadas com o computador, internet, tecnologia demora para fazer login, sons diferentes, problemas de conexão. Cada detalhe deve ser trabalhado de forma diferente para cada um. Ana Paula se tornou mediadora dos filhos e conciliar as dificuldades de dividir o computador entre eles.

rente, com descobertas que acabamos aprendendo a valorizar outras coisas. “Com a Helena eu tive a possibilidade de fazer vídeo chamadas, foi um trabalho que já iniciado com a outra professora e deu super certo porque é um trabalho individualizado entre professor e aluno”. A professora acabou se descobrindo e reafirmando a paixão que tem pelo ensino dos autistas, é extremamente gratificante, com auxílio da Ana Paula a professora fez novas cursos usando materiais adaptados online, facilitando ainda mais a metodologia. Finalmente, o que é aprendido em sala de aula através do uso PROFESSOR da tecnologia pode ser transferiA professora Ariana Alcanta- do para o ambiente real e o cora do Ensino Fundamental dos tidiano da criança com autismo, irmãos enfatiza que não foi um facilitando a convivência social e ano perdido e sim um ano dife- a qualidade de suas vidas

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ACESSIBILIDADE

É TECH É POP É TUDO

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MÁQUINAS E APLICATIVOS PARA APRENDER DE OLHOS FECHADOS TEXTO: ELAINE BRAZÃO, IZABELY CARVALHO E MARIANE SOARES FOTO: ARQUIVO PESSOAL DIAGRAMAÇÃO: IZABELY CARVALHO

S

empre da esquerda para a direita, de cima para baixo. Os dedos tateiam a tela do celular como um mouse no computador, direcionando ao item desejado. Dois cliques para selecionar. Dois cliques e pressionar, assim as opções são listadas por uma voz ao fundo, descrevendo o que se passa no smartphone nas mãos de Pedro Brito, 17 anos, deficiente visual desde a infância. Ele teve a visão prejudicada pela luz de uma incubadora quando ficou internado por problemas de saúde, o que causou o descolamento da retina. Com 1% da visão, foi alfabetizado por meio de tintas pretas e letras maiúsculas para facilitar a leitura do alfabeto convencional. Aos 7 anos, perdeu totalmente a visão e precisou par-

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tir para uma nova aprendizagem, o sistema braille. “Para quem vivenciou o mundo, aprendeu a ler e escrever normalmente, a aceitação de uma nova realidade é muito difícil”, explica Brito. Apesar do novo alfabeto, o estudante hoje faz uso dos códigos zero e um, a linguagem da tecnologia, presente em todo o cotidiano dele, seja para se comunicar, andar ou estudar. Isso é feito com o auxílio do Shine Plus, um aplicativo que disponibiliza um recurso de voz para fazer a leitura da tela do celular durante o manuseio. Assim, Pedro pode utilizar o seu aparelho diariamente sozinho. Na escola, a tecnologia também faz diferença. Utilizando um computador com leitor de tela instalado, Pedro acompanha todas as atividades. Para as aulas de Matemática, conta com o Multiplano, uma placa perfurada com linhas e colunas que possibilita o encaixe de pinos identificados com números, sinais e símbolos matemáticos. Ele também conta com uma auxiliar para tirar fotos dos materiais utilizados em sala e para converter em conteúdo digital para a leitura no computador. Não é por acaso que está fazendo um curso de programação em uma escola técnica de Santos e pretende estender os estudos para uma graduação em Ciências da Computação ou Análise e Desenvolvimento de Sistemas. “Não é muito difícil entender como um deficiente visual aprende. Basta colocar uma venda nos olhos e perceber como os

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É um desafio. Com amor e critividade, a gente vai longe Imaculada Scorza Mãe do Pedro, de 12 anos (foto)

outros sentidos substituem a visão”, afirma Imaculada Scorza, mãe do Guilherme Guilherme Matheus Scorza, 12 anos, que possui deficiência visual desde o nascimento, hoje está no sexto ano do Ensino Fundamental e tem acompanhado as aulas sem dificuldades. Sua agenda é bem cheia: além das atividades escolares, ele se divide entre as aulas de piano, trompete e informática. Através de uma instituição voltada aos cuida-

dos de pessoas com deficiência visual, o Lar das Moças Cegas (LMC), ele tem desenvolvido um jogo do Harry Potter. Fã da história, o garoto pretende disponibilizar o game no LMC para a diversão de outras crianças que passarem por lá. Sempre dedicada ao bem-estar do filho, Imaculada vem criando e investindo em equipamentos que auxiliem o desenvolvimento do Guilherme. Ela vai de videoaulas no Youtube aos


A aceitação de uma nova realidade é muito difícil Pedro Ian Brito Estudante

mapas feitos à mão, tudo para lhe proporcionar qualidade de vida. “Eu não vejo dificuldade, é um desafio. Com amor e criatividade, a gente vai longe”, explica a mãe do garoto. LEITURA ACESSÍVEL Substantivo feminino. Qualidade ou caráter do que é acessível. Esse é o significado da palavra acessibilidade e foi o objetivo dos alunos do quinto ano de Engenharia da Computação ao de-

senvolverem projetos voltados a pessoas com deficiência visual. Relevo, punções, conjuntos de caracteres formando letras e conjunto de letras formando palavras, assim funciona a Zbraille, uma impressora braille desenvolvida pelos estudantes como trabalho de conclusão de curso, apresentado em 2019. Estimulados pela coordenação a realizarem projetos com um direcionamento social, Daniel Zanutto e mais três cole-

gas - Bruno Souza, Rafael Leal e Walter Tadeu - pensaram nas dificuldades de acesso aos conteúdos por parte dos estudantes deficientes visuais e também dos educadores. O trabalho acadêmico visou à redução de gastos, já que uma impressora comercial em braille custa, em média, quatro mil dólares e a dos estudantes não chegou a 900 reais, pois contaram com o auxílio do laboratório de fabricação digital, InovFabLab, da Universidade Santa Cecília. “Como o material necessário para a construção é muito caro, tivemos que aprimorar o projeto para ficar mais econômico. Por mais que tenha sido feito na faculdade, visamos minimizar o custo“, afirma Zanutto. Utilizando dois programas, um para a leitura de documentos de texto e outro para transformá-los em um modelo digital de braille, eles fizeram uma conexão com o auxílio de uma placa eletrônica - Arduino - que interpreta a linguagem do software e passa as coordenadas para a máquina se movimentar, realizando assim as punções - movimento responsável pelos pontos em alto-relevo que marcam o papel. A impressora, peças, códigos e processos utilizados na construção podem ser consultados no laboratório da universidade. “Nosso objetivo nunca foi o lucro, mas sim contribuir com a sociedade. Então deixamos todo o material e instruções disponíveis para que outras pessoas reproduzam”, diz o engenheiro recém-formado.

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DICAS PARA PRODUZIR POSTS MAIS INCLUSIVOS a hashtag 1 Use #PraCegoVer

o tipo 2 Anuncie de imagem (foto, ilustração)

a descrição 3 Comece da esquerda para a

direita, de cima para baixo

4 Informe as cores os 5 Descreva elementos criando

uma sequência lógica

com 6 Descreva períodos curtos.

Seja simples e direto

pelos 7 Comece elementos de menor importância até chegar ao clímax

8 Evite adjetivos e coloque9 Capriche se no lugar daquele

que está acessando a sua publicação

Fonte: #PraCegoVer

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PARA ONDE

VAMOS?

Siga reto. Vire à esquerda. Siga reto. Vire à esquerda. Curva suave à direita. Você chegou ao seu destino. Esse é o Beaguide, um aplicativo parecido com o GPS, criado para facilitar o dia a dia de deficientes visuais na mobilidade em ambientes públicos e fechados. O projeto é uma criação de um outro grupo de estudantes na reta final do curso de Engenharia da Computação para o Congresso Nacional de Iniciação Científica (Conic) de 2019. Por meio de pesquisas, os estudantes identificaram que a locomoção é a maior dificuldade dos cegos e desenvolveram uma plataforma para dar independência a eles. Um celular com bluetooth e o aplicativo é tudo que a pessoa precisa para começar.

TESTES Por ser um projeto acadêmico, necessita ser aprimorado e de investimento para ser aplicado nos sistemas Android e IOS. O app passou pelo teste dos professores e chegou aos painéis do Conic, ficando entre os 10 melhores na classificação parcial. Para o teste ser realizado, foi preciso o mapeamento de um local. Com o auxílio do piso tátil, faixas em alto-relevo fixadas no chão, encontrados no térreo do bloco M da Unisanta, tiraram as medidas do pavimento e construíram um mapa para disponibilizar no app, sincronizando

com a posição do usuário. Por comando de voz o usuário informa o local onde quer chegar. O aplicativo então direciona a pessoa até o destino final, completando a “corrida”. #PRACEGOVER Uma coisa é certa: com a ascensão da tecnologia o número de usuários das redes sociais aumenta cada vez mais. O Instagram tornou-se o queridinho dos brasileiros nos últimos anos. De acordo com dados divulgados pelo site alemão Statista (www. statista.com), o aplicativo conta com 66 milhões de usuários no Brasil, ocupando o segundo lugar no ranking mundial. Mas será que essas redes são acessíveis às pessoas com deficiência visual? A professora de educação inclusiva e produtora de acessibilidade em livros e redes sociais, Patrícia Silva de Jesus, hoje conhecida como Patrícia Braille, encontrou uma solução para transformar a internet em uma rede mais democrática e acessível. Percebendo as dificuldades dos seus amigos cegos, Patrícia lançou o projeto #PraCegoVer e o que era uma ideia apresentada apenas aos leitores do seu blog, acabou sendo conhecida e usada no país inteiro por grandes empresas como Google e Coca-Cola. Ao visitar uma rede social, em que a maioria do conteúdo


BRAILLE É um sistema de escrita e leitura tátil para cegos. A grafia conta com seis pontos que podem formar 63 combinações para a formação de textos, dependendo da posição em que são ordenados. O Brasil distribuiu em 2019 mais de 50 mil cópias de materiais especializados nesse sistema, entre livros didáticos, paradidáticos e revistas. Fonte: InstItuto BenjamIn Constant

possui como base o audiovisual, é possível perceber a necessidade da descrição de imagens para aqueles que possuem baixa ou total perda de visão. A audiodescrição foi a maneira encontrada pela professora para incluir os deficientes visuais em algumas ferramentas de comunicação como Facebook e Instagram. Por exemplo, ao fazer uma publicação nas redes sociais, basta utilizar a hashtag #PraCegoVer na legenda e descrever aquilo que pode ser visto apenas por videntes, obedecendo os critérios e regras de acessibilidade. AUDIODESCRIÇÃO A comunicação mundial depende de um aparelho que cabe na palma da mão, o smartphone. Esses celulares modernos, em sua maioria, possuem recursos de acessibilidade como

função de fábrica ou basta fazer o download de aplicativos. As possibilidades são variadas, como por exemplo o Talkback, aplicativo utilizado como leitor de tela para celulares ou o VoiceOver, desenvolvido especialmente para os deficientes visuais usuários de aparelhos da Apple, capaz de descrever em áudio toda a interface do dispositivo. O movimento ‘Web para todos’, idealizado em 2017 pela empreendedora Simone Freire, também está em busca da acessibilidade digital. Eles defendem a mobilização, a educação e a transformação da sociedade como meio de revolucionar e melhorar a web, para que seja completamente inclusiva. Através de uma plataforma online é disponibilizado um espaço para troca de experiências

obtidas por pessoas com deficiência ao acessar páginas na internet. Esse conteúdo reúne cartilhas, vídeos, fóruns e tudo o que é necessário para impulsionar o processo de transformação digital. A plataforma presta serviços de consultoria, adequando sites, aplicativos e outras bases digitais para a navegação de pessoas com deficiência. O foco do trabalho é promover informação e educação, para que no futuro tenhamos uma rede totalmente apropriada para todo internauta. A inclusão de deficientes visuais como o Pedro ou o Guilherme depende de ações coletivas. A simples descrição de uma imagem postada na rede é capaz de transfomar a vida de pessoas que têm todo o direito de ocupar os seus espaços em todas as esferas da sociedade

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(CURTO)

CIRCUITO ESPORTIVO

A FERRAMENTA TECNOLÓGICA COMO EVOLUÇÃO NO ESPORTE

TEXTO: RAPHAEL SERONI INFOGRÁFICO: BERNARDO MARTINI DIAGRAMAÇÃO: DIOGO GAMBERINI

O

universo competitivo dos esportes envolve técnicas, estratégias e desempenho dos atletas. Dentre as mais diversas modalidades, a tecnologia tem sido utilizada como um investimento de auxilio no progresso das atividades físicas e no cenário esportivo. A professora e responsável pela natação da Universidade Santa Cecília, Rosa do Carmo José, conta que para determinar algumas variáveis do nado limpo e dos fundamentos da natação, a tecnologia é tida como fundamental. Rosa diz que o uso de revisão em filmagens de treinos e competições, por meio de um aparelho biomecânico, ajuda na avaliação do movimento do atleta

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e possíveis alterações para uma melhor eficiência. Com isso, a correção de técnicas, momentos e movimentos onde o esportista perde velocidade e força se tornam mais eficientes. Ela conta ainda que, durante a pandemia, plataformas digitais de vídeochamada foram tidas como recurso essencial para a continuação dos treinos. “Devido ao isolamento, orientamos a preparação física em casa. A partir de sessões diárias pelo Zoom, nossa equipe foi capaz de observar e informar sequências de exercícios e acessórios de apoio, tais como corda, elástico, entre outros.”. A universidade foi responsável por revelar atletas promissores de natação no país. Somente no ano passado, cinco deles re-

presentaram o Brasil internacionalmente em competições. OLHO DO FALCÃO No futebol, por exemplo, em que o campo é grande e a visibilidade não é tão boa para jogadores e juiz, a tecnologia do olho de falcão “hawnk-eye” foi desenvolvida para definir se a bola ultrapassou a linha do gol de fato. O mecanismo funciona por meio de um chip implantado na bola, que transmite informações a um computador que registra sua trajetória e conclui a validação do gol. Outra tecnologia recente nos jogos de futebol é a do árbitro em vídeo. Com ela, o juiz tem à disposição na lateral do campo uma tela que mostrará o exato momento de uma falta que gerou dúvidas no árbitro. Assim,


Testes nos atletas de VO2 máximo. Determinam a quantidade máxima de oxigênio que um atleta consegue respirar enquanto pratica um esporte aeróbico. O teste também fornece informações sobre as respostas dos sistemas cardiovascular, respiratório, vascular pulmonar e muscular esquelético ao estresse físico.

Luvas com tubos de pressão que medem a água que passa pela mão do nadador e transformam em som para que o atleta possa interpretar e ajustar o nado ao ouvir o som no fone de ouvido.

ele pode conferir com riqueza de detalhes se aquele momento realmente foi falta ou não, evitando cobranças indevidas e injustas durante a partida. Nesse sentido, o apoio da tecnologia tem sido cada vez mais utilizado para as práticas esportivas. Com o passar dos anos, novos métodos, acessórios e objetos foram surgindo e passaram a ser, cada vez mais, comuns na rotina dos esportistas. Para os desafios físicos na procura de obter uma alta performance, na obtenção de dados para reprodução de estatísticas e na criação de estratégias (e até mesmo como auxilio de decisões em partidas e jogos), a tecnologia tem desempenhado um papel significativo na evolução da capacidade da humana nos esportes

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Câmeras e sensores de piscinas, que permitem medir a resistência e propulsão dos nadadores enviando os dados coletados para uma central que mede a velocidade do atleta, forças e ondas, permitindo avaliar os padrões de movimentação e calcular a resistência das ondas criadas.

Outro software criado para otimizar os movimentos na hora de nadar. As câmeras são posicionadas dentro da piscina em dois pontos: uma no nível da água e outra um pouco acima. As imagens são enviadas para o software que faz comparações com os melhores movimentos possíveis.

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