ZINT ⋅ Edição #16: Atypical

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zint edição #16: atypical

set. 2018



e di to ri al

Olha aqui mais uma Edição! Nesse mês de Setembro, nós falamos sobre a morte de Mac Miller, onde prestamos nossas homenagens, o filme “Sierra Burgess é uma Loser” e a novíssima temporada de “Atypical”, ambos da Netflix! Também, trazemos matérias sobre os novos álbuns de Troye Sivan e Paul McCartney, as novas temporadas de “O Conto da Aia” e “As Telefonistas” e comemoramos os aniversários de “Avatar: A Lenda de Aang” (10 ans) e “Lances da Vida” (15 anos). Ainda, três palavras figuram no nosso Guia pra você aprender. E com o Calendário Cultural lembramos que outubro tem as estreias de “Venom” e “Nasce Uma Estrela”, álbuns novos de Pabllo Vittar e Robyn, e as estreias de “Titans” e “O Mundo Sombrio de Sabrina”. Aproveitem!


O QUê A ZINT TEM?

como uma publicação digital, as possibilidades de interações são promissoras. usando a plataforma ao nosso alcance, a revista sempre vem acompanhada de interatividade. aproveitamos de todos esses recursos e você pode usufruir de tudo sem muito mistério. »


paleta de cores;

para ficar fácil diferenciar as áreas de cobertura, cada uma delas possuem suas próprias cores, que ficam visíveis nas barras laterais da revista

vídeo;

stories;

com uma revista de Cultura & Entretenimento, estamos sempre escrevendo sobre algo que possui um trailer ou um videoclipe, por exemplo. o ícone do Youtube é sempre visível para encontrar esse conteúdo audivisual. ao clicar na imagem, uma janela com o player será aberto e você poderá assistir ao vídeo!

se você está pelo app Issuu, é possível ler as principais matérias da Edição em versão “Stories”. na parte superior direita você pode ver um ícone de barras; basta clicar nele para ser levado para a área onde o conteúdo está em um formato de texto corrido

playlists;

links;

algumas das nossas matérias vem acompanhadas playlists. quando isso acontece, eles são encontradas ao final da respectiva matéria. ainda, nas páginas finais de cada publicação, você pode encontrar todas as listas, com ícones para ouvi-las no Deezer, Spotify e Youtube

além do conteúdo audiovisual principal, as matérias contém outros tipos de links, como para páginas da internet, ou até mesmo outros vídeos e áudios. toda vez que essa identificação visual aparecer saiba que ela corresponde a um link. é só clicar!

rodapé;

o easter-egg da revista. no rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint.online sublinhado também é um link. neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog


colabs da edição a cada publicação, o nosso time de colaboradores muda um pouco

joão

vics

criador da revista; editor de conteúdo

criador da revista; diretor de arte

15 colaboradores participam dessa edição, com matérias sobre música, filmes, televisão, indicação, tirinhas e com playlists!

clique aqui para ver todos nossos colabs


adan

bárbara lima

bruna curi

carolina cassese

debora drumond

giovana silvestri

guilherme luis

joão dicker

laísa santos

mike faria

nathália cioffi

rafael rallo

rayanne candido

vics

yuri soares


agenda cultural as principais datas de estreias e lançamentos de outubro [veja o calendário completo clicando aqui]

01

01

Happy Together

The Neighborhood

estreia da 1ªT

04

não para não pa bllo vittar

11

all american estreia da 1ªT

04

estreia da 1ªT

05

assassin’s creed odyssey pc, ps4, xbox one

venom

05

05

a star is born

lady gaga; bradley cooper

elite

estreia da 1ªT

11

nasce uma estrela


11

tudo por um popstar

11

o primeiro homem

12

call of duty black ops 4 pc, ps4, xbox one

12

12

the haunting of hill house

titans

estreia da 1ªT

estreia da 1ªT

14

16

18

charmed

the rookie

mogli: o livro da selva

19

19

19

battlefield v

forever neverland

just dance 2019

estreia da 1ªT

pc, ps4, xbox one

estreia da 1ªT

PS4, Switch, Wii U, Xbox 360, Xbox One

23

25

o mundo sombrio de sabrina

legacies

estreia da 1ªT

estreia da 1ªT

23

31

honey

tell me a story

Robyn

estreia da 1ªT


guia do en tre te ni men to

não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, podendo ficar sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados na área. por essa e outras, mês a mês, nos prontificamos a trazer três palavras, traduzidas, explicadas e exemplificadas

veja o dicionário completo


easter egg o easter egg é um deliciosa conhecido dos fãs do entretenimento. sendo traduzido literalmente como “ovos de páscoa”, o termo é utilizado para pequenas surpresas escondidas na trama de um filme (ou série), que podem ou não ter relação com o produto em questão. o nível de dificuldade para encontrar esses brindes variam de acordo com o desejo da produção – as vezes, eles são bem fáceis de achar, mas outras se tornam uma verdadeira caça ao tesouro. em algumas situações, produções tem easter eggs encontrados anos após seu lançamento. Filmes de super heróis, como Guardiões da Galáxia e Batman vs Superman são exemplos de filmes recheados de easter eggs, com alguns ainda sendo encontrados ou permanecendo como um verdadeiro mistério.

new adult o new adult é um termo utilizado para designar a literatura voltada para pessoas entre 18 e 25 anos, por apresentar personagens que estão iniciando a vida adulta. assim, estes livros costumam abordar questões como faculdade, primeiro emprego, sexo, etc. Livros como Entre o Agora e o Nunca, de J.A. Redmerski, e Belo Desastre, de Jamie McGuire, são do gênero new adult.

jumpscare o jumpscare é traduzido, literalmente, como “pulo de medo”. ou seja: são aquelas cenas que fazem o telespectador dar um saltinho, decorrido de um momento de susto


CONTEÚDO 16

filmes p.46

Sierra Burgess Laísa Santos p.48

Buscando... João Dicker p.50

música p.16

Mac Miller

Ferrugem Carolina Cassese p.54

Ponto Cego João Dicker

Giovana Silvestri p.24

Troye Sivan Guilherme Luis p.28

Paul McCartney Bruna Curi p.32

Djonga Carolina Cassese p.34

Demi Lovato Mike Faria p.38

Pink Floyd Bárbara Lima

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NA EDIÇÃO

p.70

As Telefonistas Nathália Cioffi

58

p.74

BoJack Horseman Giovana Silvestri p.80

Maniac Debora Drumond p.82

(Des)encantado Rayanne Candido p.86

Ghoul - Trama Demoníaca

televisão

Rayanne Candido

p.58

Making It

p.88

Atypical

vics

Giovana Silvestri

p.92

Avatar: A Lenda de Aang Yuri Soares

p.64

O Conto da Aia

p.98

Carolina Cassese

Lances da Vida Adan

Indicação

TIRINHAS

p.104

p.108

Mistério a Francesa

“O Sumiço” e “Noticiário”

Carolina Cassese

Rafael Rallo

playlists p.112

Todas as nossas listas musicais [ +1 ]



[

música

]


O LEGADO DE

por

Mac Miller

giovana silvestri

O

setembro amarelo foi triste para os fãs de Mac Miller. O rapper, que havia acabado de lançar um álbum falando sobre os recentes últimos meses de sua vida e estava se preparando para um turnê, faleceu

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na sexta-feira (7) de uma suposta overdose. O artista foi encontrado morto ao meio-dia em sua residência após uma ligação de emergência vinda de sua própria casa em San Fernando Valley, nos Estados Unidos. Miller morreu de ataque cardíaco decorrente de uma overdose. Segundo

diagramação

vics

o áudio gravado e divulgado pelo TMZ, a ligação era um pedido de resgate para um caso de parada cardíaca. Não se sabe quais substâncias o cantor usou, mas o exame toxicológico sai entre quatro e seis semanas após a data do falecimento. Ainda segundo o site, amigos estiveram na casa do


Na Edição #15, nós falamos sobre o Swimming, último álbum lançado por Mac Miller. Para ler a matéria, basta clicar aqui!

rapper na noite anterior, para uma festa, deixando o local na madrugada. Suspeita-se que um dos amigos de Miller realizou a ligação. O rapper nunca escondeu dos fãs sua luta, há anos, contra o abuso de drogas, com suas produções musicais contemplando o tema – a mixtape de 2014, Faces, autobiográfica, revela a relação do artista com as drogas. LINHA DO TEMPO O capriconiano Malcolm James McCormick, conhecido artisticamente como Mac Miller, nasceu no dia 19 de janeiro de 1992 em Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos. Desde criança apresentava vocação para a música – no clipe de Best Day Ever é possível ver vídeos da infância de Mac onde ele canta, dança e rima. Filho de Karen Meyers, fotógrafa e judia, e Mark McCormick, arquiteto e cristão, Miller foi criado judeu, teve um Bar Mitzvah e devido sua religião se descrevia como “o rapper judeu mais legal”.

Iniciando aulas de piano aos 6 anos, Mac Miller era um músico autodidata, tocando piano, guitarra, bateria e baixo. Durante o ensino médio, aos 14 anos, começou a produzir seus próprios conteúdos e a se dedicar ao estilo hip hop, se identificando e levando a seguir carreira no gênero. Com 15 anos, sob o pseudônimo EZ Mac, ele lançou a mixtape But My Mackin' Ain't Easy (2007) e How High, em 2008, ao lado do grupo de rap The III Spoken. Logo depois, vieram mais duas mixtape, The Jukebox: Prelude to Class Clown e The High Life, além de um lugar, em 2009, entre os finalistas da Rhyme Calisthenics, a competição do MC no Shadow Lounge. Em 2010 assinou com a Rostrum Records, uma gravadora independente de Pittsburgh, sua cidade natal. Em 2011 veio o seu quinto projeto, agora sob o selo da gravadora: a mixtape Best Day Ever trouxe singles como Donald Trump, Wear My Hat e All Around the World. No mesmo ano, anunciou o título de seu primeiro álbum de estúdio, Blue Slide Park, em seu canal no YouTube. Lançado em novembro do mesmo ano, a coletânea estreou no topo da Billboard 200, vendendo na primeira semana 144.000 cópias, sendo a primeira estreia distribuída de forma independente a ocupar o primeiro lugar na parada, desde o lançamento de Dogg Food, do grupo Tha Dogg Pound, em 1995. Miller lançou sua própria gravadora, a REMember Music, e seu segundo álbum de estúdio, Watching Movies with the Sound Off, em 2013, desfazendo seu contrato com a Rostrum Records em 2014. Em outubro do mesmo ano, o rapper entrou para o catálogo da Warner Bros. Records, passando a atuar como produtor de discos com o pseudônimo Larry Fisherman. Larry também é o pseudônimo que

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de rap de 2014, pela revista Rolling Stone, o disco tem uma exploração sombria, íntima e reveladora da luta de Miller com a toxicodependência, abordada através de temas de psicose, vício e mortalidade. Aqui, o rapper deixa um pouco o trap e o rap de lado para realizar uma produção mais voltado para o jazz, criando instrumentais psicodélicos. Faces inclui várias palavras faladas e amostras de filmes que foram intercaladas ao longo do álbum, assim como um relacionamento de longo prazo que o rapper teve com uma mulher que conheceu no ensino médio e que durou quatro anos, até abril de 2013. Miller adota para o projeto You, um EP exclusivo lançado no iTunes. No projeto, asinado como Larry Lovestein & The Velvet Revival, aposta no jazz, gênero musical presente na mixtape Faces. Em trabalhos mais recentes, como o disco Swimming, o artista mostra uma nova configuração na forma de produzir. Com uma maturação em suas produções, tanto na parte musical quanto em suas letras, as músicas revelam uma nova fase nas produções musicais de Miller, vista de forma positiva pela crítica e pelos fãs. FACES Faces é a maior produção musical em peso numérico de Mac Miller, com um total de 24 faixas. A décima mixtape solo do artista é também a última a ser lançada. Lançada gratuitamente, o projeto foi lançado de forma independente e online no Dia das Mães, 11 de maio de 2014, sendo um marco na carreira de Miller ao expor e explorar a luta do rapper contra o abuso de drogas. A coletânea é a continuação do seu segundo álbum de estúdio, Watching Movies with the Sound Off, sendo considerada por muitos fãs como o melhor trabalho do artista. Classificado como o 18º melhor álbum

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O VÍCIO Mac Miller disse que se tornou toxicodependente com uma combinação de prometazina e codeína em uma bebida. A chamada Purple Drank é um exemplo dessa mistura, que visa associar a codeína com anti-histamínico, como a prometazina, um antialérgico. A codeína, um opioide, é derivado da morfina e causa efeito de euforia em altas doses. Além disso, os opioides estão entre as drogas que mais causam dependência tendo em visto os fenômenos de abstinência que a droga causa, como contrações musculares, náuseas, mal-estar, cólicas intestinais e até crises convulsivas. O problema de associá-la a prometazina é o aumento da toxicidade da mistura, podendo causar reações no corpo como dificuldade respiratória, sonolência, vômitos, vertigens e alucinações, além da toxicidade proporcionar uma forte dependência química. Miller relatou que começou a usar a Purple Drank quando passava a enfrentava um estresse durante sua turnê Macadelic em 2012. Em janeiro de 2013, Mac fez um relato estranho a revista masculina Complex, assustando muitos fãs: “Eu amo a Purple Drank, é ótima. Eu não estava feliz e agora estou. Eu estava ferrado e o sempre era ruim. Meus amigos nem conseguiram olhar para mim



da mesma forma. Eu estava perdido”. Na época do vício de Miller, seu amigo de infância, Jimmy Murton, disse: “Eu o vi com essa mentalidade, que estava ferrado porque sentia que precisa daquilo. Ele estava tentando ficar longe de tudo enquanto ele estava bebendo, é inacreditável que ele parou de beber. É definitivamente uma das coisas mais impressionantes que ele já fez”. O artista deixou de tomar a mistura em novembro de 2012, antes de começar a filmar seu reality show Mac Miller and the Most Dope Family. PELOS OLHOS DE CRAIG JENKINS Poucos dias antes de falecer, Mac Miller deu

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sua última entrevista para a revista Vulture, em agosto. Para poder trazer um pouco da personalidade, vida e sentimentos do rapper, o crítico de música Craig Jenkins fez um perfil do artista chamado O perfeccionista Mac Miller está finalmente fazendo a música que ele sempre quis fazer. O jornalismo literário produzido pelo crítico, após dois longos dias de conversa, revela um lado exigente, lírico, pessoal e intenso de Mac Miller, que segundo o crítico, é uma pessoa detalhista, paciente, modesta, humana e, principalmente, perfeccionista. Ao caminharem durante uma tarde nublada após uma tempestade nas ruas de Nova York, Mac ainda pen-

sava sobre a apresentação que tinha feito no dia anterior, ponderava sobre seu desempenho, se analisava e imaginava o que poderia ter mudado e feito melhor. Por mais que a crítica tivesse o elogiado, Miller ainda pensava em como poderia melhorar: “Eu tenho uma mania, meio que penso sobre coisas e continuo cozinhando isso por um tempo. Eu vou acordar e apenas sentar aqui e pensar sobre isso por horas". COMOÇÕES Alguns amigos próximos, colegas de trabalho e admiradores se comoveram com a morte inesperada de Mac Miller aos 26 anos de idade. Segue algumas das declarações feitas pelas redes sociais.


“Eu te amei desde o dia em que te conheci quando eu tinha dezenove anos e eu sempre vou te amar. Eu não posso acreditar que você não está mais aqui. Eu realmente não consigo envolver minha cabeça nisso. Nós conversamos sobre isso, tantas vezes. Estou tão brava, estou tão triste, não sei o que fazer. Você era meu amigo mais querido, por tanto tempo, acima de qualquer outra coisa. Me desculpe, eu não pude consertar ou tirar sua dor. Eu realmente queria. A alma mais gentil e doce com demônios que ele nunca mereceu. Eu espero que você esteja bem agora. descansar” – Ariana Grande (cantora e ex-namorada)

“Desde a primeira vez que ouvi falar dele, ele foi gentil, inteligente e perspicaz. Mac lidou com mais, e ele lutou de volta com mais força. Eu me relaciono e sempre me convenço de que outras pessoas que me parecem ter passado por dificuldades como ansiedade e depressão são construídas para durar. Eu caio limpo e duro quando as coisas acabam de forma diferente. Sou grato por Mac Miller, o compositor, cuja música sempre me fez sentir como se eu tivesse um espírito afim no mundo em busca de significado, e por Malcolm McCormick a pessoa, que me convidou para sua vida e sempre teve tempo para conversar, mesmo quando milhões de outras pessoas queriam sua atenção. Se você quer honrar sua memória, trabalhe em seus sonhos e ouça seus sentimentos. Seja uma força que une as pessoas. Procure e incentive a grandeza. Arrisque em pessoas que merecem uma pausa. Deixe rumores infundados sozinhos. Malcolm era hilário e genuinamente empenhado em brilhar amor e luz sobre qualquer um que precisasse. Eu queria que o universo desse mais de volta” – Partes do depoimento de Craig Jenkins sobre a última entrevista que Mac Miller concedeu para a imprensa e seu falecimento.

“Eu não sei o que dizer. Mac Miller me levou para a segunda turnê da minha vida. Mas além de me ajudar a lançar a minha carreira, ele era um dos caras mais doces que eu já conheci. Um grande homem. Eu o amava de verdade. Eu estou completamente destruído. Deus o abençoe. Isso é muito doido porque o Earl (Sweatshirt) me ligou hoje de manhã e ele e o Vince (Staples) são amigos de verdade que eu conheci por causa do Mac. Essa m*rda doi demais; se você ama alguém faça questão de dizer isso a eles” – O rapper Chance The Rapper, amigo íntimo de Miller escreveu em seu Twitter.

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“Nós íamos para o Ohanas semana que vem. Eu ia vir nesse final de semana, nós íamos gravar nosso clipe na semana que vem. Nós tínhamos que terminar nossa série preferida. Não, não, não, não. Você fez a tatuagem de saturno depois que eu fiz seu mapa astral. Isso é demais. Isso está de cabeça para baixo. NÃO. EU VOU SENTIR TANTA SAUDADE. EU TE AMO CARA. O MELHOR DE TODOS” – Kehlani (cantora). “Meu Deus. Você era uma pessoa tão incrível. Você mudou tantas vidas. Tinha tanto amor no seu coração. Você inspirou durante o colegial e eu não estaria onde estou hoje sem você. Nunca existiu alguém tão bondoso, sincero e lindo como você. Eu te amo, Mac” – Post Malone (rapper).

“Mac, eu te amo! Você foi uma grande inspiração enquanto eu crescia. Obrigado pelas incontáveis horas divertidas ouvindo suas músicas com os meus amigos! Isso me deixa confuso. Você fará muita falta e será sempre lembrado” – Logic (rapper). “Muito triste. Mac Miller era um cara incrível. Quando eu comecei a minha carreira ele se esforçou para falar comigo no telefone e me dar conselhos. Um incrível artista e ser humano” – Lil Dicky (rapper).

HERANÇA A fortuna do rapper foi destinada, segundo o testamento que ele fez em 2013, para seus pais. Mark e Karen McCormack são nomeados como beneficiários, enquanto seu advogado David Byrnes é nomeado como o administrador. O site menciona que há a possibilidade de vários beneficiários, mas os pais de Miller receberão a maior parcela. O irmão do rapper, chamado Miller, também é nomeado administrador do estado no caso de Byrnes não cumprir sua obrigação. O total da fortuna do cantor não foi revelada. A morte do rapper foi divulgada por Mark e Karen em um comunicado para a mídia. //

Malcolm McCormick, conhecido e adorado pelos fãs como Mac Miller, faleceu tragicamente com 26 anos de idade. Ele era uma luz brilhante neste mundo para sua família, amigos e fãs. obrigado por suas orações.”

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TROYE SIVAN FLORESCE EM SEU NOVO ÁLBUM por

Guilherme Luis

diagramação

vics


T

OUÇA O ÁLBUM

Troye Sivan se firmou em 2015 como um dos grandes artistas pop com o lançamento do seu primeiro e incrível álbum, Blue Neighbourhood. Desde então, os fãs ansiavam pelo início de uma nova era, um novo disco e... um novo Troye? Bloom, seu segundo álbum foi lançado dia 31 de agosto e é basicamente um resumo da palavra novo em se tratando do artista. A era começou em janeiro, com o lançamento do single My My My!. Apesar de soar comercial, a música já dava o tom do que estaria por vir: um Troye maduro, falando de novos assuntos e com uma nova sonoridade. A faixa soa muito oitentista, sem deixar de ter uma batida atual e fala muito sobre libertar-se. Segundo o cantor, a música é pra dançar como se não houvesse pressão ou amarra social nenhuma e pra ser a si mesmo mais do que nunca. O clipe

traduz muito bem a mensagem mostrando um Troye mais desinibido que nunca e dançando da forma como bem entende. Um bom primeiro single que dita bem como será o álbum. Bloom, faixa-título do disco, saiu em maio. A música segue um pouco a sonoridade e a mensagem do primeiro single: o artista fala aqui, não literal nem explicitamente, sobre o sexo entre dois homens. Além disso, é uma música sobre florescer-se e libertar-se, tema recorrente no álbum. No mês seguinte é lançado o clipe, apostando em uma estética lindíssima, tanto na fotografia quanto com Troye e seus figurinos extravagantes. Aqui, ele passa a sua libertação visualmente, com cenas usando batom, outras usando roupas ditas femininas. Mensagem passada com sucesso. Dance To This, por fim, é o último single antes do lançamento do disco. Aguarda-

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Tidal

Ao Vivo

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díssima não só por fãs do cantor, mas também pelos amantes de Ariana Grande, que empresta seus lindos vocais para uma participação na faixa. Dance To This é uma música dançante e mid-tempo; ou seja, não tem um ritmo acelerado demais nem muito lento. É sobre um casal que se permite dançar juntos, naquele momento, naquele espaço, só os dois e sem se importarem com o mundo ao redor. Ariana casa perfeitamente com a música e é uma adição em peso para o álbum. O break da música é excelente e resume bem uma grande característica de todo o disco que é a produção detalhada e preocupada em inovar e agradar. No clipe, os dois cantores têm uma química perfeita e conseguem, ainda, passar por meio da dança e da troca de olhares a 26|

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grande mensagem do disco: liberte-se, dance quando e como quiser! Troye Sivan floresce em seu novo álbumSeventeen mescla os assuntos liberdade e sexualidade: é sobre as descobertas e as primeiras vezes de Troye. A música é fofa, identificável e traz sentimento de saudade até pros que não fizeram dezessete anos há tanto tempo. Um dos destaques do disco. Assim como o Blue Neighbourhood, nesse trabalho o artista fala bastante sobre amar muito um garoto. Amar a ponto de considerar que morrer com ele “seria celestial” ou até mesmo que o “para sempre não é nem metade do tempo” que ele gostaria de passar junto dele. Essas são todas frases da melancólica What a Heavenly Way to Die, que se destaca pela letra poderosa e bonita melodia. Já Lucky Strike compara o suposto garoto a uma marca de cigarro americana. “Respire-me, exale devagar”. Essa não é tão impactante, e fica apagada em meio às outras, assim como Plum, que, por ser mais genérica (tanto em produção quanto em letra), fica aquém do resto do disco. Postcard é a baladinha sofrência do Bloom. Alguém não liga mais para o Troye e nem responde seus cartões-postais, deixando-o arrasado. E bem sabemos que é nesse momento em que as melhores músicas saem; a faixa é um grande destaque, balada no piano impactante de letra linda. The Good Side e Animal são grandes produções do disco e as mais diferentonas. A primeira, por exemplo, caberia na trilha sonora do filme Me Chame Pelo Seu Nome (2017): é sobre um amor que


teve que acabar, mas deixou lindas marcas. A produção é inusitada e leva o ouvinte a um lugar que ele não espera. É poética e diferente de tudo o que Troye já fez. Animal, por sua vez, encerra do disco de forma poderosa e também inusitada, em sua melodia, do início ao fim. É sobre estar selvagemente apaixonado. Troye se despede do Bloom se sentindo um animal ao lado do menino que ama. Esse é o segundo disco de Troye Sivan, que avança muitos passos no quesito produção. São, em sua maioria, letras fortes acompanhadas de lindas melodias. É coeso em sua mensagem de libertação pessoal e, por isso, se faz importantíssimo aos jovens que o ouvem. Peca, talvez, em ser muito sucinto e breve e, principalmente, em não ter nenhuma faixa que soe muito comercial. Falta um grande hit ao disco, uma faixa memorável e que toque muito pra todo mundo. Troye conseguiu seu espaço como artista pop, mas ainda é deixado muito para nicho pela mídia. O artista ainda precisa florescer para o mundo. Bloom, entretanto, é um lindo primeiro desabrochar. //

TROYE SIVAN EM ENSAIO FOTOGRÁFICO PARA A REVISTA INDEPENDENTE INTERNACIONAL WONDERLAND MAGAZINE

PLAYLIST TEMÁTICA

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Viagem conceitual bruna curi diagramação vics por

A

s pessoas costumam dizer que idade não é documento, e talvez esse seja o caso de Paul McCartney. Aos 76 anos de idade, o músico demonstra ter o fôlego de um jovem, sempre procurando inovar e sair de sua zona de conforto. No início do mês, o artista lançou o seu 17º álbum de estúdio solo: Egypt Station, cinco anos após o lançamento de New. 28|

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uma alegre, uma que adora experimentações e até mesmo uma mais introspectiva, que pode ser observada na música I Don’t Know. Gravado pela CaA inspiração para pitol Records e produo nome do álbum veio zido por Greg Kurstin de uma das pinturas de (produtor renomado que Paul. “Gostei das palatambém já trabalhou vras ‘Egypt Station’. Elas com nomes como Adele, me lembram dos discos em Beck e Foo Fighvinis que costumávamos ters), o novo álbum de fazer. O álbum começa na McCartney apresenta primeira música em uma vitalidade jovial, com estação e a cada faixa uma pitada de modervisitamos uma nova. Foi nidade, mas sem deixar essa a ideia que seguimos de lado sua conhecida genialidade. Além disso, para criar cada música do álbum. Acho que ela veio Egypt Station mostra diversas facetas de Paul: de um sonho, mesmo lugar


de onde as músicas surgem”, revelou em um comunicado à imprensa publicado pelo site NPR. EGYPT STATION O álbum é composto por 16 faixas que viajam por quase uma hora de duração. Opening Station abre o disco em uma música instrumental de 42 segundos. De acordo com o Kurstin, a ideia partiu de fazer uma montagem com vários sons que remetesse à ideia de uma viagem de trem (esse mesmo conceito se aplica a faixa Station II, que está localizada mais no final do álbum). Em seguida, a introspectiva I Don’t Know se assemelha a uma balada à moda antiga e fala sobre as dúvidas pessoais que podem surgir ao longo de nossas vidas. Em uma entrevista para a revista MOJO, o cantor explicou a mensagem que a música passa: “Às vezes, em sua vida, você não é um deus no Olimpo. Você é uma pessoa real andando pelas ruas. Sou avô, pai, marido e, nesse pacote, não há garantia de que cada minuto vai dar certo. Na verdade, muito pelo contrário. E houve uma ocasião particular que me fez cair”. Come On To Me é uma música alegre, marcada por bateria e riffs de guitarra, que tem um refrão fácil de acompanhar. A letra remete a juventude de McCartney, por volta da década de 60, em que o cantor se imagina chegando em alguém durante uma festa.

A canção Happy With You também mostra o ex-Beatle feliz, apresentando o atual momento de sua vida. A faixa Fuh You foi a única do álbum produzida por Ryan Tedder, podendo ser considerada como a "faixa-chiclete", por possuir um refrão um pouco repetitivo e fácil de decorar. A canção se aproxima mais de um pop atual e o cantor até utiliza alguns efeitos eletrônicos. No quesito inovação, essa é a música que mais se destaca em Egypt Station e é a prova viva de que Paul McCartney não tem medo de ousar. Em forma de homenagem, temos a música Back In Brazil, marcada por alguns estereótipos, como o som dos passarinhos e pessoas gritando “futebol” ao fundo. A letra fala sobre uma garota brasileira que sonha com um mundo melhor no futuro. No dia 7 de setembro, em que se comemora a independência do País, McCartney lançou, na sua página do Facebook, o clipe da música, em um vídeo que mostra a história de uma garota e de um rapaz que se conheceram em Salvador e combinaram de ir ao show do ex-Beatle. Porém, o rapaz fica no trabalho até mais tarde e não pode acompanhar a garota. Apesar deste contratempo, a garota decide ir ao show sozinha e acaba sendo convidada para subir ao palco

(essa parte, gravada durante em seu show na Arena Fonte Nova, em 2017). A canção Despite Repeated Warnings começa com um tom melancólico e é possível perceber o piano bem marcante, sofrendo uma mudança para um tom mais roqueiro. Essa troca de melodia causa a impressão de que Paul está viajando, passando por diversos lugares e incluindo cada um deles em sua música. Além disso, a faixa faz uma crítica em relação aos que negam a existência da mudança climática – “Trump está lá”, revelou em uma entrevista para a MOJO, embora a mensagem seja para qualquer pessoa que seja renegue o fato. O álbum termina com Hunt You Down/Naked/C-Link, que novamente é marcada pela experimentação. A música contém três mini canções e se estabelece entre elas uma profunda conexão. A primeira parte é mais voltada para o rock, a segunda é um pouco lenta e sentimental, e por último tem o solo da guitarra. O nome Egypt Station traz ainda a ideia de uma viagem para um lugar exótico e, no fim, Paul McCartney conseguiu colocar isso em suas músicas, que fazem as pessoas viajarem por uma série de experimentações, além de passarem por lugares que dão uma sensação de serem velhos conhecidos. O disco é a prova viva de que o cantor ainda sabe inovar e de

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ASSISTA O SHOW como continuar relevante mesmo depois de tantos anos.

NO GRAND CENTRAL TERMINAL

GRAND CENTRAL TERMINAL Na quinta-feira, dia 6 de setembro, começaram a rodar rumores de que Paul McCartney faria um show em Nova York para promover o seu novo álbum. O local onde seria feita a apresentação permaneceu em segredo e só foi revelado algumas horas depois, na sexta-feira (7). Porém, o nome do disco já entregava uma pista: o show iria acontecer em uma estação. O cantor disse que pensou “qual a estação mais legal para se fazer um show?”, então marcou a apresentação no Grand Central Terminal. O espetáculo começou com algumas palmas, um “oh oh” e com o artista cantando alguns versos da canção Hey Jude, do The Beatles, e em seguida por um coro de pessoas o acompanhando. A primeira canção do repertório foi A Hard Day's Night, também do grupo britânico. Entre as pessoas que estavam assistin-

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do o show do britânico, estavam Meryl Streep, Nancy Shevell (esposa do músico), Jon Bon Jovi, Steve Buscemi, Amy Schumer, Jimmy Fallon e até mesmo Sean Lennon, filho de John Lennon. Além disso, também estavam alguns fãs que tiveram a sorte de conseguir uma entrada. Entre clássicos dos Beatles e seu próprio trabalho solo, Paul mostrou que, assim como o álbum Egypt Station, ele é capaz de emocionar e inovar. Em um dos pontos mais chamativos do show surpresa, o cantor usa um megafone para cantar My Valentine. Em seu Twitter, o artista contou que inicialmente a ideia era ter um piano de acompanhamento, como sempre fez em shows anteriores, ideia esta que o diretor do show achou melhor trocar pelo


uso do curioso instrumento. Outro momento marcante do show é durante a apresentação da música Blackbird, quando ele sai do palco onde estava e caminha pelo público. Ali, no meio das pessoas, em um pequeno palco, Paul se cerca de fãs e, utilizando apenas seu violão, cria um momento mais intimista. MAIS MCCARTNEY

OUÇA O ÁLBUM

Uma semana após o lançamento de seu novo álbum, o Spotify lançou uma playlist com versões exclusivas de músicas de McCartney, gravadas em um show que o músico realizou no lendário Abbey Road Studios, no Reino Unido. A lista conta com grandes clássicos da época dos Beatles e alguns de seus sucessos mais recentes, como Fuh You e Come On To Me, presentes em seu novo álbum. Para as gravações, cerca de 150 fãs do ex-Beatles foram convidados. Vindo de todos os cantos do mundo, os público também incluía alguns amigos próximos como Amy Schumer, Johnny Depp, Kylie Minogue e Orlando Bloom. //

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Luz, câmera, reação

Sucesso e divulgação de clipes músicas impactantes e recheados de críticas sociais têm causado discussões interessantes na internet, tanto a respeito da linguagem quanto sobre as temáticas trabalhadas. por

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Carolina cassese

clipe de A Música da Mãe, do rapper Djonga, deu o que falar o último mês. O principal alvo da polêmica foi a voadora que atinge um garoto branco logo no começo do vídeo. Alguns internautas (brancos, em sua maioria) acusaram Djonga do famigerado racismo reverso. Em seguida, diversos fãs do rapper rebateram as críticas apontando como muitas pessoas questionaram o ato demonstrado no clipe, mas não percebem as diversas atrocidades contra minorias que não só também são representadas no vídeo, mas que se repetem todos os dias na sociedade. 32|

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diagramação

vics

A produção como um todo, repleta de referências, aborda temas urgentes, como racismo, machismo e violência policial. "Mesmo assim querem me colocar na cela lá. Se me vêm passando no Focus de teto solar é batida e porrada, Eu acho que é sempre assim que terminam os contos de fada", diz parte da letra. A recente discussão dominou os fóruns e paginas da internet no últimos mês, reacendendo o fogo de uma constante e corriqueira onda de clipes músicas que confirmam a potência sócio-política desta forma de expressão musical. O vídeo de Djonga foi comparado ao fenômeno estado-unidense This is Ameri-


ca, de Childish Gambino (a.k.a. Donald Glover), lançado também 2018, que escancara o racismo presente na sociedade norte-americana, com referências ao massacre de Charleston (em que um branco invadiu uma igreja afro-americana e matou nove pessoas negras) e à morte de Stephon Clark pela polícia. O vídeo propõe diversas análises e faz referências e correlações entre citações bíblicas, ações do movimento negro nos EUA, à repressão policial e as ações causadas por racismo institucionalizado, dentre outras temáticas em diversas cenas do vídeo. É impossível falar de clipes políticos sem mencionar a diva pop Beyoncé. Com Formation, em 2016, a cantora denunciou a violência policial e reforçou a importância de se valorizar a beleza de pessoas negras: “Eu gosto do cabelo do meu bebê, com cabelo de bebê e afro / Eu gosto do meu nariz negro com as narinas do Jackson 5”. Com a repercussão do clipe, o programa Saturday Night Live fez uma paródia hilária sobre a reação dos norte-americanos à Formation, intitulada O dia em que Beyoncé virou negra. Dois anos depois, Queen B lançou a música Apeshit, com um vídeo também repleto de simbologia. Para começar, o cenário da produção foi, nada mais nada menos, do que o Museu do Louvre (ambiente majoritariamente frequentado por brancos e pessoas de classe alta). No clipe da artista, são corpos negros que ocupam esse espaço. A coreografia em frente

à pintura The Consecration of the Emperor Napoleon and the Coronation of Empress Joséphine, de Jacques-Louis David, representa uma inversão da história: dessa vez, não é o colonialismo francês que está sendo coroado, e sim Beyoncé. A cantora aparece também em frente à Vênus de Milo, conhecida como a deusa da beleza. Os padrões do que é normativamente considerado belo são, portanto, expandidos. Se muitos clipes são elogiados por representarem bens as causas sociais, outros podem ser criticados por reafirmar o preconceito. O vídeo de Me Solta, de autoria do Nego do Borel, não agradou boa parte da comunidade LGBTQ+. No clipe, o cantor, que é hétero, se fantasia de mulher e beija outro homem. Tudo acontece de maneira bem caricata. Boa parte da polêmica se deu pelo fato de que o artista tem uma foto com o candidato à presidência Jair Bolsonaro, reconhecidamente homofóbico. Vai Malandra, de Anitta (a empoderadora que não se posiciona contra esse mesmo candidato homofóbico, racista e misógino) também dividiu opiniões: alguns afirmaram que o clipe só reafirma a objetificação do corpo feminino, enquanto outros disseram que, no vídeo, a mulher é representada como dona do próprio corpo. Você Não Presta, de Mallu Magalhães, colocou a repercussão da cantora em xeque – o clipe foi acusado de objetificar os corpos negros. Não, não existe fórmula mágica para a boa aceitação de um clipe, mas as produções corajosas, simbólicas e realmente críticas ganham cada vez mais destaque (e claro, viralizam). // zint.online | 33


Um ano de um relato honesto e forte à maneira de Demi mike faria diagramação vics por


V

ocais poderosos, melodias consistentes e batidas harmônicas; assim é composto o sexto e mais recente álbum de estúdio lançado, há um ano, por Demi Lovato. Intitulado Tell Me You Love Me, a artista investiu em uma sonoridade mais madura, passando pelo soul e R&B, para mostrar além de sua potência vocal, o que o público ainda não sabia sobre si própria e sua vida. Demi aposta em um discurso sobre vingança e empoderamento que domina e dá o tom a todo o álbum. Se Sorry Not Sorry deixa evidente já na primeira música a resposta aos haters, todo o resto do disco revela de forma aberta e sincera a vontade de mostrar a que veio. O ritmo leva por alguns momentos a declarações frágeis, provocantes, sem deixar de lado as letras e mensagens ácidas e os melismas, marca registrada de toda a carreira da

Now payback is a bad bitch And baby, I’m the baddest You fuckin’ with a savage Can’t have this, can’t have this And it’d be nice for me to take it easy on ya, but nah Baby, I’m sorry (I’m not sorry) Baby, I’m sorry (I’m not sorry) Being so bad got me feeling so good Showing you up like I know that I would Baby, I’m sorry (I’m not sorry) Baby, I’m sorry (I’m not sorry) Feeling inspired ‘cause the tables have turned Yeah, I’m on fire and I know that it burns

cantora. Com inspirações em Aretha Franklin e Christina Aguilera, esta última com quem colaborou recentemente em Fall in Line, grandes referências para ela e para o álbum como já havia deixado claro, Lovato expõe o que tem de melhor: sua potência vocal, alinhada a baladas intensas e toques eletrônicos que por vezes compõe o som. Uma mistura reveladora de um pop muito adequado a sua voz, apoiado no R&B e soul music. Ao ouvir as 12 faixas do disco, a sensação é que ela quer fazer música que mostre ao mundo o que realmente consegue fazer. Vindo de uma investida sensual em Confident, seu quinto álbum lançado em 2015 e concorrente ao Grammy Awards 2017, revelando singles como a faixa-título, Cool for the Summer ou ainda a carregada Stone Cold, a cantora surpreende pela coragem e gran-

de produção ao falar de relacionamentos abalados. Ela assina a composição de todas as músicas e o álbum tem apenas uma participação, com o rapper Lil’ Wayne, em Lonely. O DISCO Com o disco, Demi Lovato conquistou certificado de platina, atribuído a venda de 1 milhão de cópias. Tell Me You Love Me é considerado o álbum de maior sucesso da artista nas plataformas de streaming. Quatro meses após o lançamento, já era o mais ouvido da cantora no Spotify, com mais de 710 milhões de reproduções somados. Além disso, com Sorry Not Sorry, a artista alcançou a melhor posição da carreira na Billboard Hot 100 (8º lugar), tornando-se o single mais bem-sucedido da sua carreira. Em Lonely, ela se livra do

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Nossa Playlist temática da Demi.

amor provocante, fala sobre um relacionamento que acabou e a deixou arrasada e solitária. É a música mais diferente do álbum, calma e relaxante, apesar da letra carregada e dramática. Aliadas às músicas mais ácidas, Demi Lovato colocou na tracklist um conjunto de faixas mais provocantes e sensuais – Sexy Dirty Love, Ruin The Friendship e Games, por exemplo. Nesta última, Demi fala sobre os ‘‘joguinhos’’ que o cara faz com ela, mandando mensagens de texto confusas e que nem sempre querem dizer exatamente o que está escrito. Ainda, a canção Only Forever fala sobre um relacionamento que ela deseja profundamente e até incentiva a pessoa a tomar uma atitude para torná-lo realidade. Uma balada intensa e cheia de emoção. 36|

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OUÇA O ÁLBUM

Apple Music

Spotify

Deezer

Youtube

Tidal

Com tanta energia e confiança, não há muito espaço para músicas que mostram um lado mais vulnerável da cantora. Tell Me You Love Me é uma das poucas que dá voz às inseguranças amorosas da artista. Com um coral de fundo, palmas e toques sacros, Lovato traz vocais surpreendes e bem colocados nesta que pode facilmente ser eleita uma das melhores faixas do disco. O fato é que com produções impecáveis, vocais bem dosados, gostosos de ouvir e muita emoção, o álbum marcou sua carreira e é digno de Grammy, o reconhecimento tão esperado por Demi, mas que não ocorreu na edição deste ano. O que importa é a admiração dos fãs que novamente conquistou, reafirmando assim seu talento e a capacidade de transmitir através da música sua emoção e situações que todos nós vivemos. Como anuncia a crítica no site oficial da Academia do Grammy, “esse é o álbum mais forte que ela já criou… parece que finalmente achou a sua voz: fresca, feroz e sem remorsos”, Lovato finalmente parecia tomar controle da sua vida e sua vocação. Ela nos convence com uma condução confessional de sua maturidade musical e nos deixa esperançosos para o que ainda pode contribuir para a cena pop.

Com o álbum, Demi consegue se manter poderosa e confiante, porém mostra-se mais preparada e segura vocalmente, refletindo assim em um material mais consistente e que muito provavelmente agrada a todos. Os novos ritmos mostram a versatilidade da cantora ao assumir uma nova identidade para sua música de maneira tão séria e potente. Ainda, como sugere o próprio título do álbum: ‘‘Nós te amamos Demi!”. E se você não a amava antes, com certeza vai admitir isso no final do álbum. Desafio lançado! //

Com críticas positivas, Tell Me You Love Me atingiu o #3 da Billboard 200 e conseguiu vender mais de 1 milhão de cópias nos EUA

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UMA RETROSPECTIVA DE PINK FLOYD bárbara lima diagramação vics

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Nota do Colab A história é sobre o meu pai. O texto é em homenagem a sua bela história que conta da relação do Pink Floyd com a sua vida. Algumas partes da história são romantizadas. 38|

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Na Edição #1, nós falamos sobre o álbum Animals, do Pink Floyd. Para ler a matéria, basta clicar aqui!

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ra 1964. Aqui no Brasil, estava sendo implantada a Ditadura Militar. Nos jornais, as notícias sobre manifestações de estudantes que acabaram sempre com a repressão de policiais eram capas principais. No Estadual Central, famosa escola de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, havia um estudante que cursava o seu Ensino Fundamental. Ia para casa apreensivo e com medo, de mais uma vez pelas ruas, ter os seus olhos irritados pela bomba de gás lacrimogênio. “Eu andava a avenida Amazonas com o coração apertado, pensando em meus irmãos, se estavam bem. Se já tinha comida em casa. E a minha mãe, onde poderia estar?”, afirmou. A história desse estudante é árdua. Trabalhou desde muito novo e com 11 anos já servia cafezinho na ótica. De lá, ia para a escola a pé, e da escola pegava o circular para chegar finalmente em casa. Exausto. Com uma infância em que brincar, se divertir, nas ruas foi o seu segundo

plano. Hoje, a sua feição não esconde essa trajetória estreita, difícil de seguir. Com o cabelo grisalho, em seu sorriso é possível perceber marcas de dor. Na escola, se dedicava à matemática e a média de notas era excelente. Um dia, pediu ajuda a seu irmão, que hoje, já é falecido: “Apollo, me ajuda com a matemática?”, conta com um enorme sorriso em tom de deboche. Parecia estar passando o filme em sua cabeça deste dia, que hoje, para ele, é como se o tempo não tivesse passado. Apollo respondeu com um “Eu posso te ensinar a ter um bom gosto musical”. Foi aí, neste dia, em que esse menino conheceu uma paixão, que até então não conhecia. “Uma sensação transcendental”: essa frase o faz fechar os olhos e imaginar. Apollo colocou o seu disco preferido para tocar na vitrola. Era o álbum The Dark Side Of the Moon, do Pink Floyd. Ele, estático, apreciava cada faixa do álbum. A sua preferida era difícil de dizer. Afirma hoje que é a sua banda favorita. Em 1975 foi o primeiro contato entre o estudante e o Pink Floyd. Se passara dois anos do lançamento do álbum The Dark Side of The Moon. A ida da ótica para a escola e da escola para casa ficou muito mais divertida, já que ele só pensava em chegar e ligar a vitrola para escutar a voz daqueles que o deixa a flor da pele. Em meio aos anos de terror da ditadura militar, a banda era um refúgio. E se encaixava muito bem em sua realidade, já que o caráter do Pink Floyd foi de sempre conter uma crítica em suas letras. O garoto, apesar de novo, já conseguia captar nas entrelinhas. E o motivo é simples: foi graças a sua vivência. Esse é um dos motivos que agradece por ter tido uma vida que cobrou muito, adquiriu sabedoria. “Hoje, olhando pra tudo isso, eu vejo o lado positivo, me tornei uma pessoa sábia”, e se orgulha desta afirmação. Voltando um pouco no tempo, enzint.online | 39


quanto em 1964 a Ditadura era implantada no Brasil, na Inglaterra o Pink Floyd estava criando forma. É interessante observar o paradoxo: no Brasil, a censura dos artistas estava para vir, enquanto lá na Europa a imaginação fluía entre os jovens músicos, sem a repressão do governo. A banda teve diferentes nomes antes de se concretizar como Pink Floyd (Sigma 6, Tea Seat e The Abdabs), mas o até então vocalista na época, Syd Barret, deu a ideia de um nome alternativo: The Pink Floyd Sound, que logo foi reduzido, tirando o Sound, mas David Gilmour chamou-os por The Pink Floyd até 1984. O primeiro álbum do grupo, The Piper at the Gates of Dawn, concretizou o estilo de rock psicodélico, a característica marcante deles. Em menos de cinco anos, a banda estourou com todos os seus sucessos, que deixavam o garoto belo-horizontino com uma sensação de leveza. Até nos tempos de hoje, ele conta que o seu ritual do fim de semana era ir para a área externa que têm em sua casa e colocar para tocar o seu amado Pink Floyd. O que sente falta é da companhia do irmão e de sua vitrola. Ele continua tendo os discos, mas a vitrola, infelizmente, estragou. 40|

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Lamenta, mas não se importa tanto. “As tecnologias desses tempos modernos passaram todas essas músicas pra internet, ai ficou fácil”, afirma em tom de brincadeira. Depois de The Dark Side Of the Moon, ele teve contato com o álbum The Wall. “Para mim um dos melhores, eu adoro a composição de Roger Waters”. A sua música favorita é Mother e o motivo é crucial para a composição desta narrativa: “Eu não entendia inglês, hoje compreendo algumas palavras. Mas na época, associei a palavra ‘mother’ à ‘mãe’, e ela me faz recordar de minha mãe”. E conclui com um tom de brincadeira “E não é que ‘mother’ significa ‘mãe’ mesmo?!”.


Logo quando saiu o DVD do The Wall, ele já foi à procura nas locadoras. Na época, locava o filme toda sexta-feira: chegava do trabalho, fazia um lanche, abria uma cerveja e saboreava a sonoridade da banda se compondo com todas àquelas imagens. “O que eu mais gosto desse DVD é de ver a autoridade dos professores com os estudantes. Lembro da minha época. Já levei palmadas nas mãos. Não podíamos falar sobre certos assuntos. Tudo era muito autoritário”, conclui. “Eu sei que o pai do Roger Waters foi morto na Segunda Guerra Mundial, e em muitas de suas letras, esse fato está presente. O meu pai foi para a Segunda Guerra Mundial”, balbucia estas palavras e olha pensativo em direção da janela. Eu sempre me emociono escutando esta história. Além desta vida difícil que teve, o garoto não conheceu o seu pai. Mas acalme-se, leitor, ele não morreu na guerra. José Matias Junior, um soldado jovem, foi convocado para defender o Brasil na Itália. Viu amigos morrerem, e acima de tudo: ele matou

muita gente. “Meu pai nunca se orgulhou disso. Mamãe contava que ele se sentiu mal por ter tido que matar sem ter a opção de ir contra. Um tempo depois que voltou, morreu de ataque do coração. Não resistiu a essas lembranças terríveis”, uma lágrima quer sair de seus olhos, mas continua firme em sua fala – “A história de Roger Waters lembra a minha”. O garoto realmente se identifica com a banda. Pink Floyd marcou a sua vida.

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Na Edição #7, nós falamos um pouco sobre a carreira e a turnê Us+Them, de Roger Waters. Para ler a matéria, basta clicar aqui!

“Ah, você não vai se esquecer de comentar sobre Wish You Were Here, né?”, ele me lembra deste outro álbum incrível. Quase ia me esquecendo durante a nossa conversa. Este álbum foi lançado em 1975. O irmão do garoto, Apollo, conseguiu o disco de um colega de escola, comprou, é claro, por cinco mil cruzeiros (hoje, em conversão, algo em torno de R$ 1,80). Mais um motivo que o fazia passear pelos campos de sua imaginação. Até hoje, a sua favorita é, com certeza, Shine On You Crazy Diamond. A música é progressiva, utilizando de vários instrumentos para a sua composição sonora – e é isso que admira. Ainda, associa a música a sua filha. “Eu não sei por que, mas a música me lembra da minha querida filha”, brinca. Apollo repetia essa música quantas

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vezes fosse preciso, até que os irmãos adormecessem. Muitas vezes, eles dormiam no sofá mesmo, só para terem o prazer de escutar todas as faixas. A mãe não deixava a vitrola ficar nos quartos, e por isso, permaneciam na sala de estar. Continuamos a conversa e mostro o vídeo do show atual de Roger Waters, em que ele brinca com a música Pigs (Three Different Ones), associando a imagem de um porco à Trump. Ele cai na gargalhada, dizendo adorar a ironia e a criatividade de Rogers Waters. Animals também está na listinha do garoto de álbum favorito, principalmente Pigs e o motivo, ele explica com uma aparência de gratidão, chega a ser cômico: “Meus irmãos sempre me chamaram de leitão. Eu era gordinho e porque eu adorava uma carne de porco, nunca tínhamos o luxo de comer uma carne boa. E quando isso acontecia, sempre pedia um porco. Realmente, tudo do Pink Floyd se relaciona com a minha vida". Animals tem influência do punk rock e fazia associação à Revolução dos Bichos do livro Animal Farm. Todos os animais que são nomeados em suas faixas são usados como metáfora dos membros da sociedade contemporânea. O álbum teve como o líder de criação Roger Waters e marcou a sua era de liderança da banda. O garoto com todos estes seus álbuns favoritos mudou os seus pensamentos. Conseguiu refletir mais e apreciar os mínimos detalhes da vida, seja pela janela do ônibus que pegava, seja por uma nota boa tirada, e até mesmo colocando Shine On You Crazy Diamond na vitrola de seu irmão. A sua infância pode não ter sido gozada de tantas brincadeiras, mas foi cons-


truída aos moldes daquela realidade. Hoje, depois de ter cursado o curso que queria, é feliz. Finalmente vai realizar um sonho, no dia 21 de outubro, de ir ao show do Roger Waters, no Mineirão, com a sua amada filha: “Para mim, a melhor companhia para este show, é estar ao lado dela. Mal posso esperar”. Ah, me esqueci de dizer o seu nome. O estudante da história se chama Marciano Matias. Hoje ele é Engenheiro Civil, vive bem com a sua família e distribui gratidão por onde passa. Por viver muito nas nuvens depois que conheceu o Pink Floyd, todos diziam que o garoto vivia em Marte. “Mas vivo mesmo. Desfrutando de sonhos”. //

Roger Waters se apresenta no Brasil em outubro, com sete shows no país, nos dias 9 (São Paulo), 13 (Brasília), 17 (Salvador), 21 (Belo Horizonte), 24 (Rio de Janeiro), 27 (Curitiba) e 30 (Porto Alegre).

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filmes

]


Not a loser

Novo filme da Netflix, Sierra Burgess propõe uma discussão sobre o padrão de beleza imposto pela sociedade por

laísa santos

N

os tempos atuais, as pessoas estão mais abertas para discussões sobre homofobia, racismo, bullying e outros tipos de preconceito que, infelizmente, ainda estão impregnados no pensamento comum da sociedade. Já passou da hora de colocar o tabu de lado e discutir questões tão importantes como estas citadas, motivo pelo qual esse pensamento conservador está ficando para trás e o momento para abrir a mente é agora. 46 |

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Diversos filmes e séries têm abordado temáticas que promovem uma discussão em torno dos tipos de preconceito e como esses pensamentos não cabem mais no mundo contemporâneo. É necessário entender, de uma vez por todas, que todos nós somos diferentes em todos os aspectos e que isso é completamente normal e saudável. Não há mais espaço para discursos de ódio em relação a cor da pele, o tipo de corpo, orientação sexual e muitas outras questões. Em Sierra Burgess é uma Loser, novo


filme adolescente original da Netflix, existe uma grande discussão sobre os padrões de beleza impostos pela sociedade, especialmente em relação aos corpos femininos. Criou-se na sociedade uma afirmação de que todas as mulheres precisam ser magras, saradas, cabelo claro, dentes brancos e ter a pele perfeita. Mesmo que haja grandes discursos de empoderamento feminino, esse é um padrão que infelizmente continua se estendendo. É preciso levar esse debate à todos os indivíduos, independentemente da idade; então, por mais clichê que a narrativa do filme possa ser, a mensagem por trás é de extrema importância. Na película, a protagonista Sierra Burgess (Shannon Purser) é uma adolescente insegura com o próprio corpo e que não consegue enxergar a sua beleza. Ela acredita no padrão imposto pela sociedade e vê beleza em garota socialmente aceitas, como é o caso de Verônica (Kristine Froseth). O caminho dessas duas personagens se cruza no momento em que a garota popular resolve ter uma atitude “má” contra quem ela considera um perdedor na vida e isso vai impactar diretamente a vida da protagonista. A relação de Verônica e Sierra tem muitos desdobramentos desde o primeiro encontro entre as duas. A personagem principal demonstra suas inseguranças quando o assunto é Jamey (Noah Centineo), o garoto

que ela gosta, mas não se ofende com as críticas de Verônica, sempre tentando sair por cima e mostrar que aquelas palavras não significam nada. A grande questão é que, bem no fundo do seu coração, ela sabe como qualquer ofensa machuca os sentimentos de uma pessoa, seja a crítica relacionada a corpo, inteligência ou outros aspectos. Em uma das cenas finais, Sierra tem uma conversa bem sincera com o pai e, nesse momento, ela discute sobre a forma como os pensamentos equivocados de uma sociedade realmente interferem na vida de um determinado indivíduo. Não só isso, mas como ela sente que ninguém deve tentar viver à sombra de outra pessoa ou tentar se encaixar em um padrão que não deveria nem existir. Somos pessoas diferentes em várias circunstâncias, com cada uma possuindo sua própria beleza. Não existe (ou pelo menos não deveria existir) um padrão corporal certo ou errado, uma cor de pele ou tipo de cabelo melhor. Precisamos nos aceitar e incentivar jovens mulheres a se gostarem do jeito que são; e é por isso que obras cinematográficas que possuem essa temática são tão importante. Existe uma necessidade de conscientização não só dos jovens, mas sim de todas as pessoas, uma vez que esse preconceito absurdo continua prejudicando a vida de tantas mulheres, mexendo não só na autoestima, como também na saúde mental. //

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Inventividade diegética | inventividade diegética matéria por joão dicker inventividade diegética diagramação de vics

É inegável que o avanço tecnológico foi de extrema importância para o desenvolvimento do Cinema enquanto arte, indústria e, principalmente, para a sua linguagem. Desde os primórdios do segmento, as experimentações linguísticas por meio de novidades tecnológicas fazem parte da realização da sétima arte, que em produções recentes acabaram voltando seu olhar para as ferramentas tecnológicas do dia a dia como meio de produção. Dois casos marcantes, para bem ou para mal, são o fraco Amizade Desfeita (2014), filme de terror que explora de uma incessante conversa 48 |

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no Skype como formato, e o intrigante suspense Distúrbio (2018), dirigido por Steven Soderbergh, que utiliza somente de um iPhone 8 para gravação. Agora, a estreia de Buscando..., inédito trabalho de Aneesh Chaganty na direção de um longa-metragem, trabalha com as possibilidades linguísticas, visuais e, porque não, semânticas e temáticas da tecnologia no dia a dia contem-

porâneo humano para construir um filme tenso e astuto o suficiente para explorar de sua inventividade como uma ferramenta diegética poderosa. O formato de Buscando... é uma espécie de found-footage por meio de um notebook, que coloca o espectador como testemunha ocular da jornada de um pai (vivido por John Cho) que ao adentrar em uma busca online por


sua filha desaparecida, acaba encontrando respostas que trazem a tona a dificuldade emocional e familiar que existe em sua própria casa. Apesar de a trama ser essencialmente pautada no mistério do desaparecimento, existe uma profundidade maior do que o puro suspense de antecipação e descoberta no roteiro, que não só é corajoso e inteligente nas escolhas do enredo, mas também inventivo para justificar as ações de alguns personagens a partir da proposta técnica e linguística do longa. Em alguns momentos em que o protagonista se desloca para longe da tela do computador, por exemplo, o diretor tem a coragem de passar o olhar da câmera para um smartphone, para uma câmera de segurança ou para recortes de programas jornalísticos, em um compromisso evidente de se manter fiel à proposta narrativa e diegética da obra. É um compromisso que, sem a astúcia de Aneesh Chaganty na direção e participação no roteiro, juntamente de Sev Ohanian, além do ótimo design de produção que consegue recriar perfeitamente as interfaces de todos os sistemas operacionais, redes sociais e ferramentas digitais utilizadas por nos no nosso dia a dia, transformaria Bus-

cando... em um filme que propõe algo corajoso, mas que falha na execução. São mensagens, e-mails, fotos, vídeos, tweets, posts, utilizados com inteligência para complementar a narrativa e para sustentar as temáticas levantadas. Além de toda engenhosidade técnica e imagética, o longa também se sustenta graças a uma ótima atuação de John Cho. O protagonista consegue transmitir, mesmo que em um enquadramento que não beneficia nenhum ator, emoções que vão do desespero mais profundo à raiva mais intensa motivada não só por um medo de perder a filha, mas também pela toxicidade vivenciada na internet. Esse, inclusive, é um dos principais pontos levantados pelo roteiro que encontra na sua própria estrutura a forma perfeita para abordar

questões intrínsecas a vida contemporânea, como as dificuldades de relacionamentos verdadeiramente íntimos e pessoais em um mundo digitalizado, o linchamento público, a hipocrisia humana e a melhor apresentação da sociedade do espetáculo. Partindo de uma premissa inventiva e sendo executado com maestria, Buscando... acaba por ser uma das surpresas mais interessantes do ano até então, trazendo um trabalho impecável em toda parte técnica, capaz de criar uma das experiências com a linguagem audiovisual mais diegéticas e marcantes da última década. //

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por

Carolina cassese

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O ÍMPETO PELO CLIQUE O vazamento de um vídeo íntimo que contém uma cena de sexo entre a adolescente Tati e seu ex-namorado desencadeia os principais acontecimentos de Ferrugem (2018), longa de Aly Muritiba. O filme não só mostra os desdobramentos do ocorrido, como também se propõe a investigar a maneira como a geração "hiperconectada" se relaciona. A premissa do 50 |

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longa se assemelha com a de Depois de Lúcia (2012), filme mexicano dirigido por Michel Franco, também centrado em uma adolescente que, após ter um vídeo íntimo divulgado, sofre bullying pesado por parte dos seus colegas de escola. A produção mexicana, no entanto, impacta e atordoa mais o espectador. A representação de adolescentes de classe média em Ferru-

gem é verossímil e escapa de estereótipos, mas, para o espectador, não é tarefa fácil construir uma relação genuína de empatia com qualquer um dos personagens, já que os mesmos são construídos de maneira rasa. O longa brasileiro é dividido em duas partes. A primeira, contada a partir de Tati (Tifanny Dopke), retrata o bullying que a protagonista passa a sofrer


depois de ser exposta na internet. Na segunda, acompanhamos Renet (Giovanni de Lorenzi), um garoto recluso que se envolve brevemente com Tati e é um dos suspeitos de ter vazado o vídeo. Um acontecimento drástico separa os dois atos. A disparidade entre eles é evidente. O primeiro, colorido e dinâmico. O segundo, pela visão (ou pela culpa) de Renet, monocromático e lento. A instantaneidade permeia a primeira parte do longa. Após o vazamento do vídeo, Tati escreve para Renet e, segundos depois, o chat do Facebook notifica: mensagem visualizada. Nada de resposta. A ansiedade logo consome a protagonista. “Você vai me ignorar?”. Nada de resposta. Em outra cena, é também uma notificação que dá o recado de que o vídeo de Tati está em um site pornô. Pouco tempo depois, a protagonista não resiste e checa a tal página, visualizando, inclusive, os comentários horrendos. O ímpeto de clicar não é facilmente controlável. Quando Tati sai da sala de aula, após ser ridicularizada em uma apresentação de trabalho, os sons que escutamos são difusos.

As imagens também não são nítidas, representando o olhar turvo característico de quem acabou de passar por uma situação humilhante. Envergonhada, a adolescente passa a faltar às aulas. O isolamento social é um sintoma recorrente do comportamento depressivo, que acomete também a garota Alejandra em Depois de Lúcia. A angústia está claramente presente em Tati, mas especialmente por conta do ritmo que dita o primeiro ato, não é possível conhecer a protagonista a fundo. Os rabiscos do banheiro feminino da escola da garota, típicos de qualquer colégio do Ensino Médio, compõem uma ambientação pertinente para a narrativa. Enquanto no espelho está escrito “você é linda”, de batom (mensagem que recentemente passou a marcar presença em muitos banheiros por conta das crescentes discussões sobre empoderamento), no azulejo ao lado uma garota é chamada de "vadia". A geração que compartilha textões feministas nas redes sociais ainda

N a i m ag e m , Tat i , a e s q u e r da , e R e n e t, a di r e i ta , di s c u t e m

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esbarra com comportamentos machistas arraigados. A amiga de Tati é fonte de apoio e sororidade, mas se sente na obrigação de obedecer ao namorado quando o mesmo diz que ela deveria ficar longe de sua colega. O filme deixa claro que as consequências de um vídeo íntimo vazado são diferentes para homens e mulheres, já que o ex de Tati segue com sua vida normalmente (no máximo ouvindo um comentário engraçadinho sobre o tamanho de seu pênis), enquanto a garota é completamente exposta e estigmatizada. Não se pode afirmar, no entanto, que a discussão sobre o machismo é profunda. A raiz do preconceito não está em pauta. Aly Muritiba acerta em não mostrar os pais da protagonista. Os dois se contentam com respostas vagas da menina e não percebem que há algo de errado com o seu comportamento. Apesar de viverem na mesma casa (um ambiente bem clean, decorado com fotos grandes da filha na sala), a conexão entre a adolescente e os pais é praticamente inexistente. Em Ferrugem, as ausências e os silêncios são mais potentes do que qualquer aparição ou diálogo. É justamente a partir de um ponto de virada impactante 52 |

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que o filme muda abruptamente, trazendo consciências pesadas e turvas. No segundo ato, após a tragédia, o pai de Renet leva a família para uma casa à beira-mar. A lentidão da segunda parte pretende evidenciar a aflição do jovem, assim como a direção de fotografia que expressa a melancolia ao captar as bem escolhidas e bonitas locações. Por outro lado, a cena em que o protagonista pede desculpas a Tati, por meio de um recado na caixa postal, soa tosca e quase irritante. Algumas perguntas importantes também não são respondidas, dentre elas: o que de fato motivou Renet a espalhar o vídeo? Impulso? Algum


tipo de vingança? É interessante perceber que as personagens mulheres são mais empáticas do que os homens. Enquanto David, pai do jovem e também professor, se sente no direito de pegar e esconder o caderno de Tati, a fim de apagar indícios contra o filho, a mãe, Raquel, se impõe como um contraponto: “isso é justo com a menina?”. Neste momento, o tempo abre. Narrativa e estética dialogam constantemente, muitas vezes até de maneira óbvia (como nessa cena da discussão entre David e Clarice, em que a conexão entre desembaçar o vidro do carro e resolver a relação dos dois é explícita). O primo de Renet ridiculariza a atitude drástica de Tati, enquanto a irmã do protagonista demonstra, mesmo que de relance, ter alguma empatia com o ocorrido. O sensacionalismo da mídia e a cultura do espetáculo rondam a narrativa. Um programa de televisão tem acesso às gravações da câmera da escola que gravaram a tragédia, o mesmo vídeo que, hora depois, viraliza no WhatsApp. O primo de Renet recebe o conteúdo e pretende consumi-lo como entretenimento. Renet, em um primeiro momento, se

nega a ver as imagens, mas, em cena posterior, decide acessar o vídeo. Novamente, a ânsia pelo clique é voraz. A segunda parte é contemplativa. O difícil é inferir que o jovem tem profundidade o suficiente para ser contemplado em planos tão longos. Fica a sensação de que Ferrugem apresenta dois filmes (muito diferentes) em um só. A disparidade entre um ato e outro não diz respeito apenas à mudança de protagonista, mas também ao ritmo, à montagem e paleta de cores. A transição é abrupta. O primeiro se aproxima de um episódio de Malhação, enquanto o segundo, mais sombrio, investiga um personagem sem conseguir adentrar de fato em seu universo. Se por um lado o longa acerta com sua direção cuidadosa e com o preciso trabalho de som, por outro peca com a construção dos personagens. Não só não é possível compreender as motivações dos mesmos mas o filme também acaba sofrendo com a superficialidade dos muitos debates apresentados, como a prática de slut shaming, o distanciamento entre pais e filhos, o isolamento social e uma possível depressão. //

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O que você enxerga quando vê? por

joão dicker

diagramação

vics

A

pesar de não ter conquistado prêmios no Festival de Sundance, realizado em janeiro deste ano, Ponto Cego (Blindspotting, título original) deixou uma enorme expectativa não só pelos diversos elogios a Daveed Diggs e Rafael Casal, que protagonizam, roteirizam e produzem o longa, mas principalmente pelo peso de ser colocado como um dos maiores dramas sociais do ano. O enredo nos apresenta aos amigos Collin (Diggs) e Miles 54 |

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(Casal), nascidos e criados em uma Oakland que, atualmente, passa por um evidente processo de gentrificação. Vivendo seus últimos três dias de liberdade condicional, Collin está a um passo de alcançar sua tão aguardada chance de um recomeço, que passa a se tornar uma possibilidade mais complicada depois que ele presencia o assassinato de um homem negro por um policial branco. Naturalmente afetado e tocado com o peso do acontecimento, Collin vê não só sua relação com seu amigo de toda vida ser transformada, mas também a própria percepção a respeito de sua identidade e da realidade social e cultural do bairro em que cresceram. A partir do perspicaz, íntimo - os roteiristas são nascidos e criados na cidade - e profundo roteiro, Diggs e Casal nos mostram o cotidiano da Oakland que sente diariamente as mudanças na dinâmica social do bairro periférico em que habitam. As gritan-

tes diferenças na ocupação urbana da região é muito bem capturada pelo astuto diretor Carlos López Estrada, que estreia no comando de um longa com segurança e eficácia. A forma como filma o cotidiano dos protagonistas e, principalmente, a maneira sútil com que apresenta pequenas variações em comportamentos fundamentais e essenciais dos mesmos evidenciam as transformações que ambos, principalmente Collin, pas-


sa depois de presenciar o tiroteio. O momento em que o crime acontece, inclusive, é filmado com tamanha inteligência em um jogo de visão que coloca o protagonista e o espectador enxergando pelo reflexo de um espelho retrovisor, em uma possível interpretação de que aquele cidadão negro injustamente assassinado poderia ser um reflexo, também, do protagonista sentado em seu caminhão. Evidentemente, o racismo perdura a projeção como um tema inerente ao enredo e ao universo representado, sendo desenvolvido em diferentes etapas, além de tangenciar uma discussão a respeito da apropriação cultural e, porque não, de identidade. Seja pelo constante posicionamento de Collin, enquanto um homem negro em uma sociedade urbana marginalizada e preconceituosa, ou de um Milles que sente que precisa reafirmar e comprovar sua própria identidade em um contexto cultural urbano ao qual pertence, mas se sente deslocado. É uma relação de enxergar em si mesmo e também no outro os reflexos de um determinismo social e cultural, ao mesmo tempo que na relação antiga e íntima dos protagonistas eles enxergam um pouco de si no companheiro. A metáfora com o Vaso de Rubin é, inclusive, uma pequena metáfora didática para a relação dos protagonistas entre si e com seus próprios sentimentos, mas adiciona um quê de reflexão ao longa e ainda mais peso a jornada pessoal de Collin. A dupla explora da química natural que possuem para trazer mais veracidade à relação dos dois, até mesmo nos diálogos que soam como improvisos de uma brincadeira de amigos que dialogam por meio de rimas do hip hop, reafirmando ainda mais o contexto urbano ao qual estão inseridos. O que não funciona organicamente, devido ao constante peso temático e de diversas ações do longa, é a mudança de tom entre o drama social e a comédia urbana mais leve, criando um ruído de ritmo em algumas sequências.

De um ponto de vista narrativo, utilizar da liberdade condicional de Collin como um artifício de tensão é uma jogada inteligente que acaba criando a constante sensação de apreensão no espectador. Assim, é aguardado que a qualquer momento um acontecimento fuja do controle do protagonista, sendo provavelmente causado por Milles, levando-o injustamente a perder tudo aquilo pelo que estava construindo no último ano. O mais impactante é perceber que o constante incômodo de Collin e o racismo latente nas pequenas atitudes do dia a dia mantém a tensão alta e enervante ao longo de toda projeção. E ainda quando a tão esperada liberdade é alcançada, o incômodo é mantido de forma pungente, causa das possibilidades de que aquele homem negro pode sofrer , única e exclusivamente, por motivações preconceituosas em relação a seu rosto, pele e etnia. Todo essa construção de tensão e apreensão são catalisadas em um climax arrebatador, que permite um momento para Daveed Diggs brilhar ainda mais ao mostrar suas habilidades como rapper e toda sua profundidade dramática como ator. Com uma proposta íntima de dialogar a respeito de diversos temas inerentes ao contexto em que os roteiristas e protagonistas foram criados, Ponto Cego extrapola os limites da intimidade para ser um filme universal que se assume como umas das produções mais impactantes, profundas e relevantes do ano. // zint.online | 55



[

televisĂŁo

]


O DIFERENCIAL EM

Atypical por

giovana silvestri

diagramação

Na Edição #4, nós falamos sobre a primeira temporada. Para lê-la, basta clicar aqui!

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Atypical é uma séria de comédia dramática, original da Netflix, escrita por Robia Rashid. Tendo sua estreia em agosto de 2017, a produção logo ganhou o público do streaming, sendo renovada para uma segunda temporada que estreou na sexta-feira, 7 de setembro. A narrativa conta a história de Sam (Keir Gilchrist),um adolescente no espectro autista apaixonado pela Antártica e pelos pinguins do ártico

vics

(estando sempre os desenhando), anota “regras de convivo social” e briga com sua irmã mais nova, Casey (Brigette Lundy-Paine). A trama se desenrola quando o personagem busca novas experiencias e independência social. A série ganha um ar informativo tanto para questões que envolvem o autismo quanto a Antártida. O personagem principal é fascinado pelo continente e quando se sente tenso repete


nomes de pinguins para se acalmar. Sam também possui um quarto decorado com gelo, orcas e pinguins de pelúcia, além dos tons de azul nos papeis de parede. Durante os episódios, o protagonista narra em off informações interessantes sobre os animais, as explorações, condições e curiosidades do ártico que, ao mesclados com as cenas, podem ser interpretados como metáforas as situações de sua família e relações. As informações sobre o espectro do autismo chegam para nós através de personagens secundários, como a mãe do garoto, Elsa (Jennifer Jason Leigh) e sua psicóloga Julia (Amy Okuda), que explicam o transtorno. Passamos a entender o autismo como uma condição ou um transtorno de desenvolvimento que geralmente aparece nos três primeiros anos de vida e compromete as habilidades de comunicação e interação social. Lançado em maio de 2013, a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) define o autismo sob um novo termo médico e global: Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), sendo entendido pela presença de “Déficits persistentes na comunicação social e na interação social”. Logo, os pacientes são diagnosticados em grau de comprometimentos em relação ao transtorno, existindo, assim, tipos e níveis de autismo. As pessoas sem esse espectro são classificadas como neurotípicas (abreviação de neurologicamente típico): pessoas que realizam ligações neurológicas típicas nas interações sociais e na comunicabilidade. Em contra partida, quem possui o espectro do autismo possuí conexões diferentes para essas circunstancias, gerando reações, diálogos e até expressões atípicas.

Conseguimos conhecer o autismo mais de perto aos termos contato direto com os raciocínios do protagonista. Ao longo dos episódios, o personagem narra seus pensamentos e emoções e podemos ouvir Sam conversando conosco como se fossemos seu terapeuta, sobre seus medos, frustrações, relações, objetivos, pensamentos e como tudo isso passa pelo seu espectro. Assim, a história se torna rica ao revelar a perspectiva do jovem em relação a sua família, amigos e situações. É interessante como o personagem carrega consigo um pequeno caderno, onde escreve pensamentos, desenha animais e anota regras de

n a n ova t e m p o r a da , a lé m de b u s c a r n ova s e x p e r i ê n c i a s, s a m ta m b é m s o n h a e m s e r m a i s i n de p e n de n t e

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ao la do, n a p r i m e i r a i m ag e m , s a m c o n ve r s a c o m s e u s pa i s. n a s e g u n da , e le t r a b a lh a ao la do de s e u m e lh o r a m i g o za h i d . na terceira, em uma c r i s e , c a s e y, s u a i r m ã , o a p e r ta at é q u e e le s e ac a lm e . n a ú lt i m a , s a m s e vê n o m e i o de u m m a l e n t e n di do e n t r e u m a n ova a m i ga e s u a e x n a m o r a da

convívio social. Sam é metódico e adora regras; quando se sente perdido nas interações ao não entender uma reação ou frase, ele realiza pesquisas na internet ou perguntas para pessoas. Quando chega em uma conclusão, cria e anota regras para lidar melhor com suas interações. Outro fato decisivo no drama são as relações pessoais do personagem, que ora o confundem e ora o confortam. A mais intensa, conflituosa e resiliente de Sam é com sua irmã Casey, irmãos que brigam, mas sempre são presentes um para o outro. A garota é uma adolescente cheia de objetivos, sonhos e um tanto racional em suas relações, mas quando trata de seu irmão, o protege, o consola e mais do que isso, o entende. Quando ele começa a ter crises de pânico, é ela quem o abraça pelas costas e o aperta, até ele acalmar, ou lê uma página do Wikipédia 60 |

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sobre um explorador famoso da Antártida. A relação deles se fortifica a cada episódio e é fácil notar o carinho, amor e compreensão que ambos têm, cada um em seu devido espectro. Na mesma linha de ajuda, está Zahid (Nik Dodani).O melhor amigo do protagonista trabalha com ele em uma loja de informática, é descontraído, engraçado e bastante inconveniente. Embora tenha uma visão não convencional sobre a realidade das coisas, ele é visto como a pessoa mais sábia por Sam ao ensinar-lo como conquistar uma garota ou fazer macarrão. A forma como Zahid enxerga e lida com o protagonista configura em uma empatia na relação. A naturalidade da amizade exalta uma relação entre pessoas, como qualquer outra, e não uma relação entre Sam e um neurotípico. Com uma narrativa descontraída, reflexiva e bem-humorada, Robia criou uma trama que explica, exalta e humaniza o espectro do autismo, seus desafios, conceitos, preconceitos e impacto, tanto pessoal quanto social. Com a produção,

e m b u s c a de m a i s r e p r e s e n tat i vi da de , o g r u p o de s u p o r t e de s a m é f o r m a do p o r at o r e s n o e s p e c t o a u t i s ta

ela consegue provar que as situações atípicas, forma do comum, são as mais humanas, sensíveis e verdadeiras. SEGUNDA TEMPORADA O gênero comédia dramática está sendo bem explorado pelos produtores de conteúdo por abarcar um roteiro que gira em torno de uma trama na qual é retirada pitadas de comédia, assim como em BoJack Horseman, Please Like Me, Final Space, e principalmente, Atypical. O drama começa quando notamos, na primeira temporada, como a condição de Sam não afeta apenas ele, mas toda sua família e intensamente sua mãe. Elsa desabafa em um grupo de apoio que se sente constantemente tensa ou com medo. zint.online | 61


N ÃO SÓ SAM ESTÁ PA S SAN D O P OR MUDANÇAS. CASEY E STÁ EM UMA NOVA ESCOLA E ENF RE NTAN D O P ROBLE MAS P ESSOAIS, A LÉM D E T E R QU E LIDAR COM U M SE GREDO Q UE FEZ COM Q U E SEUS PAIS, QU E N A NOVA TEMP ORADA A INDA ESTÃO S E A CE RTANDO, A MORARE M SEPARAD OS POR UM T E MP O

Ao ouvir o telefone tocar, imagina que algo aconteceu com Sam, que foi humilhado por alguém, esqueceu de olhar para os dois lados antes de atravessar a rua ou teve uma crise na escola por se incomodar demais com sons e cheiros. A dependência social de Sam é reforçada por ela que, por medo, não deixa seu filho ocupar novos espaços, conhecer outras pessoas

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e viver novas situações. A proteção materna é elevada a décima potência, ao notarmos que ela não protege seu filho do mundo e, sim, seu filho autista do mundo. A personagem deixa sua vida e desejos de lado para cuidar e protege-lo a todo custo. A série se torna conflituosa quando o próprio Sam quer viver coisas novas e diz querer ter uma namorada. A partir disso, podemos enxer-

gar como pequenas coisas como flertar, são tão complexas e cheias de repertório social, que o protagonista busca adquirir. Depois dessa atitude na primeira temporada, o personagem continua tentando se encaixar na sociedade ao ter novas experiencias, algo que antes o assustava tanto ao ponto de nem tentar. A segunda temporada de Atypical mostra as novas


tentativas e experiências de Sam e insinua seus próximos objetivos que, por mais difíceis que aparentam, ele tenta realizar. Além disso, um grande passo no elenco é definido por Robia que insere oito atores autistas para os papeis dos colegas do grupo de apoio de Sam, em uma iniciativa de inclusão social que traz grande peso e diferencial para a nova temporada. A série começa a desfocar um pouco de Sam para dar a personagens secundários o desenvolver de suas próprias tramas. Elsa comete erros com Doug (Michael Rapaport), pai do jovem, e enfrenta problemas no casamento. Casey se muda de colégio e se depara com

novos desafios, amizades e sentimentos, antes desconhecidos pela personagem. Essa última mescla entre os desafios que adentram a rotina da personagem e de sua família, nos faz pensar como os neuróticos não conseguem lidar de forma genuína e verdadeira com certas circunstancia e preferem se esconder, ou evitar a resolução dos problemas, enquanto Sam, autista, não consegue mentir e muito menos sossegar até entender e solucionar um problema pessoal. A série prova que “ser normal” é uma definição pouco clara, objetiva e lógica quando se trata de seres humanos. Em muitas falas os personagens são confusos, perdidos e assustados com os conflitos que aparecem, assim como Sam, Casey, Doug e Elsa se sen-

tem deslocados, sozinhos e diferentes. Essa comparação entre as reações de Sam e de sua família, em conjunto a compaixão e amor que eles compartilham entre si mesmo com tantos conflitos, frustrações e problemas, revela o ponto chave que Robia tentou mostrar com a série: a diferença não nos separa e, sim, nos une. Identificar, entender e compreender as pessoas portadoras do transtorno é algo que nossa sociedade pouco gerencia, articula e promove. Uma série sobre o espectro dentro de uma das plataformas de streaming mais consumida mundialmente é uma maneira de aproximar nossa sociedade neurotípica e confusa dessa perspectiva tão única e humana que é o autismo. //

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UM CONTO SOMBRIO ​ sociedade distópica de Gilead A em The Handmaid’s Tale, comandada por “cidadãos de bem”, é teocrática, misógina, homofóbica e, principalmente, hipócrita. Qualquer semelhança com ideais defendidos na vida real não é mera coincidência.

por

Carolina cassese

diagramação

vics



"Use o vestido vermelho, use as toucas, cale a sua boca, seja uma boa menina. Deite-se e abra as pernas. Sim, senhora. Que possa o Senhor abrir. O que vai acontecer quando eu fugir?" A tão esperada segunda temporada de O Conto da Aia chegou ao Brasil em setembro pelo Paramount Channel. A curiosidade era grande, já que o livro homônimo de Margaret Atwood (de 1985), que inspirou a série, narra apenas os acontecimentos da primeira temporada. A continuação, portanto, é inédita e idealizada pelos roteiristas da produção. Disponibilizada pela plataforma Hulu, a série é ambientada em um futuro distópico, onde um governo teocrático e misógino tomou o poder por meio

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de um golpe. A narrativa é centrada em June (Elisabeth Moss), que por ser uma aia (mulher fértil que se torna propriedade de uma família de classe alta), passa a se chamar Offred (ou seja, do Fred, seu Comandante). A primeira temporada, elogiadíssima pela crítica, apresentou a personagem e o cenário aterrorizante da República de Gilead (que se localiza no território dos EUA). A segunda, que estreou no país norte-americano em abril deste ano, foi recebida de forma mais controversa, com alguns críticos afirmando

Na Edição #7, nós falamos sobre a primeira temporada. Para lê-la, basta clicar aqui!

que a série estaria se tornando um “pornô de tortura”, por conta das cenas fortes e violentas que os novos episódios apresentaram. Na nova temporada, conhecemos mais sobre as colônias, lugar onde as mulheres inférteis (ou “criminosas”) são levadas para cavar lixo tóxico, com muitas morrendo por contaminação. O primeiro episódio já apresenta esse novo


ambiente e as cenas definitivamente não poupam o espectador. A crítica Lisa Miller, da The Cut, escreveu: “Apertei o botão de acelerar o vídeo com tanta frequência nesta temporada que sou obrigada a me perguntar: por que estou vendo isto? Tudo parece tão gratuito, como uma surra que não acaba nunca”, disse. Em contra ponto, a protagonista da série Elizabeth Moss, em entrevista ao The Guardian, rebateu os comentários de que os episódios estariam exageradamente violentos: “Não digo isso porque me preocupo ou não que vejam a minha série, não estou nem aí. Mas, ter coragem de ver uma série de televisão? Isto está acontecendo na sua vida real. Acordem, pessoal. Acordem.” É inegável, no entanto, que algumas cenas podem servir de gatilho para espectadores mais sensíveis. Nem sempre

n a série, june a pa r ec e brevemen te na pri mei ra t emp orada d o pro gra ma , an te s d e desa pa rec er . agora, a p er so nagem re torn a, co m sua hist ória t en d o l uga r na s colôn ias de mi neraç ão

Em 2017, a atriz Elizabeth Moss já ganhou um Primetime Emmy Awards por sua atuação na série, que por sua vez já levou o prêmio de Melhor Drama no mesmo ano.

escancarar situações de violência é a forma mais efetiva de trazer um olhar crítico em relação a determinado tema. A barbárie está presente na vida real, é verdade, mas existem formas menos explícitas de suscitar debate e reflexão sobre essas situações. De qualquer maneira, a crítica da segunda temporada de The Handmaid’s Tale (no título original) continua potente. Muitas

nuances do machismo são abordadas – desde o mansplaining à abusos físicos. Os flashbacks, que mostram a vida nos EUA logo antes do golpe, garantem ótimas cenas. Não se pode deixar de ressaltar que a atuação de Elizabeth Moss continua impecável: um simples olhar de June tem múltiplas camadas. Destaca-se também a presença de Alexis Bledel, a Rory de

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Gilmore Girls. Sua personagem, considerada uma “traidora do gênero” por ser lésbica, é uma das mais bem construídas da narrativa. A personagem Serena Waterford (Yvonne Strahovski), esposa do Comandante de June, é também complexa: se por um momento ela consegue ter alguma empatia com a aia, no outro os seus valores autoritários falam mais alto. “Cada um deve saber o seu lugar na criadagem”, diz. Uma terceira temporada vem aí, provavelmente em abril de 2019. Fica a torcida para que as críticas sociais continuem contundentes e para que as cenas permaneçam impactantes, mas não sensacionalistas. O valor da família (“Gilead valoriza a família. E recompensa todos aqueles que vivem sobre esses valores”) é característicos dos homens brancos, héteros e ricos que comandam Gilead, indo ao encontro de discursos autoritários, presentes inclusive no atual cenário político brasileiro. Afinal de contas, qual família que os donos do poder defendem? A segunda temporada deixa claro: gays, bissexuais e lésbicas não são bem-vindos. Assim que o regime autoritário toma o poder,

a personagem Emily é separada de sua esposa e de seu filho. Um lar estável e amoroso é destruído. A traição masculina (com as próprias aias ou com prostitutas), por outro lado, é aceitável. Nesse ideal de família, só homens podem ter prazer com sexo. As mulheres, sempre submissas, devem ficar caladas. O objetivo número um é claro: reproduzir. A leitura, para elas, é uma atividade proibida – nada mais perigoso do que uma mulher que pensa, não é mesmo? A família tradicional brasileira, oops, norte-americana distópica condena o estupro (e acredita que aqueles que cometem esse crime devem ser apedrejados), mas acham aceitável que a tal cerimônia (que nada mais é do que, pois é, um estupro) aconteça dentro de casa, com a Bíblia sendo recitada ao fundo. É a favor da vida, mas acredita que os que pensam diferentes devem ser enforcados em praça pública – e os corpos exibidos posteriormente. Os cidadãos de bem de Gilead podem trair, estuprar, matar, mas continuam sendo “de bem”. Para eles, crime mesmo é dois homens saírem de mãos dadas. Que deus (ou que a deusa) nos livre. // zint.online | 69


A volta de Las Chicas por

nathália cioffi

Terceira temporada de Las Chicas del Cable foge do drama amoroso clichê e dá visibilidade às personagens

Na Edição #3, nós falamos sobre a primeira temporada. Para lê-la, basta clicar aqui!

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diagramação

vics

Nota da Colab Este texto contém sérios spoilers da série.

A

terceira temporada de As Telefonistas, disponível no catálogo da Netflix desde o dia 7 de setembro, é com certeza a mais interessante das duas anteriores. Desviando do drama amoroso (e enfadonho) vivido pela personagem principal, Lídia Aguilar (Blanca Suárez), a nova temporada goza de muito mais ação, ativismo e suspense.


A temporada se inicia a tragédia de um incêndio, que muda completamente a vida das protagonistas. Com esse acontecimento, a história se desenvolvendo a partir daí: alguns personagens recebem menos destaque do que nas outras temporadas, a protagonista perde um pouco do ar misterioso e se revela uma mãe dedicada, as quatro telefonistas (que agora pouco são telefonistas) estão mais unidas que nunca e há presença de novos personagens. Diferente da primeira e da segunda, a terceira temporada coloca a personagem principal frente a questões mais importantes do que a indecisão entre dois homens. Lídia agora se torna uma mulher madura e dedica-se integralmente ao papel de mãe protetora e capaz de tudo para se vingar pelo desaparecimento de sua filha. Ângeles (Maggie Civantos), que dentre as telefonistas era a mais ofuscada, se recupera da fase de temor vivida na temporada anterior e começa a trabalhar para a polícia. Marga (Nadia de Santiago) se distancia do papel de moça ingênua e desenvolve novas aptidões sexuais. Carlota (Ana

Fernández), que agora é herdeira milionária, usa e abusa do ativismo de gênero, batendo na tecla da emancipação feminina. TERCEIRA TEMPORADA Não há tantas mudanças referente à estrutura da série. O contexto ainda é o mesmo – a caótica Madrid dos anos 1930. Os figurinos agora são mais sérios, os tons das vestimentas são mais escuros e fortes, assim como a maquiagem. Lídia, que antes abusava dos tons vermelho e rosa, agora escolheu as cores vinho e preto para viver o luto. A trilha sonora, que não acompanha o estilo musical presente nos anos 30, faz uma brincadeira com a questão da discordância dos estilos de época. Sendo uma característica marcante da série, o estilo pop eletrônico das músicas atuais compõe as cenas dos típicos cabarés. O enredo agora é mais cativante – há mortes, suspense, brigas e desaparecimentos de personagens. Lídia sai do sofrimento entre o passado e o presente e mesmo tendo decidido ficar com Carlos (Martiño Rivas), as demonstrações de afeto entre o casal são

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poucas durante a temporada. O trio, incrementado com Francisco (Yon Gonzales), fica em segundo plano e a protagonista se atém em encontrar sua filha Eva, desaparecida logo no primeiro episódio. Além disso, o novo enredo se preocupa mais em cercar a vida pessoal das quatro integrantes do grupo, deixando os homens em segundo plano. A rivalidade entre Lídia e a sogra, Carmen Cifuentes (Concha Velasco), fica mais em evidência nesta temporada. Carmen, por sua vez, se torna uma vilã muito mais raivosa que nas outras temporadas, abusando da manipulação e egoísmo para conseguir as coisas a seu favor. Ainda que fastidiosa, a disputa gato e rato entre as duas é o que move os conflitos presentes na série. A personagem Marga ainda é a telefonista mais cômica, mas agora é mais madura e dispõe de um corte de cabelo mais adulto e aprimora suas vontades sexuais com a

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ajuda de uma leitura pornô, já que não está na melhor fase de seu casamento com Pablo. Carlota, que se dedica completamente a pautas feministas, ocupa seu tempo com o Violetas, um grupo de ativistas feministas no qual fazem parte Sara e as demais telefonista, e, além disso, desenvolve um programa de rádio para mulheres e feito por mulheres, onde dissemina pautas progressistas. O ativismo de Carlota é bem mais admirável que nas temporadas anteriores. Mesmo tendo como obstáculo a sociedade misógina e defensora da moral e dos bons costumes da Madrid de 1930, Carlota e as integrantes do Violeta mostram que estão dispostas a tudo para defenderem seus direitos civis. Já Ângeles, que possui uma evolução admirável, vive uma vida dupla trabalhando para a polícia. Ainda que não tenha alcançado a liberdade e autonomia que tanto deseja, ela agora é mais


empoderada e representa uma personagem bem mais interessante, que está cansada de ser cercada pelo machismo dissipado pelos homens (e nós também). Em questões gerais, a temporada é a melhor da série até então. As protagonistas estão mais maduras, as questões abordadas agora são mais sérias e o drama do triângulo amoroso entre Lídia, Francisco e Carlos finalmente chegou ao fim. Ainda assim, o novo ano peca em não tratar com tanta profundidade a questão da transexualidade de Sara, que fica ofuscada pelas necessidades de Carlota, ou até mesmo a questão do abuso de drogas, caso enfrentado pelo personagem Miguel. Outro ponto negativo é que a produção não mostra, desde a ascensão do casal, a visão da sociedade perante a relação homoafetiva entre Sara e Carlota – tendo em vista que a relação entre duas mulheres era repudiada e considerada crime. Mesmo com alguns pontos negativos, o programa acerta em colocar Marga desenvolvendo aptidão com os números,

dando esperanças de que na temporada seguinte seja uma líder e ocupe um espaço predominantemente masculino, mostrando que as mulheres têm a mesma capacidade que os homens ao assumir cargos que envolvam contas e raciocínio lógico. Para a quarta temporada, que já está sendo filmada e tem previsão para 2019, fica a torcida de que alguns personagens não sejam tão unilaterais e sim aprofundados, como o caso da irmã de Carlos, Elisa (Ángela Cremonte), que poderia ser bem mais aproveitada por ser da família Cifuentes, além de trazer um assunto de grande relevância: saúde mental. Las Chicas del Cable (no título original) deve ser contemplada por ser uma ótimo opção de entretenimento e por dar ênfase ao protagonismo das mulheres. Mesmo que errando em alguns aspectos, a série tem evoluído bastante na questão da representatividade e no relacionamento entre as quatro amigas. Além disso, a série é divertida e ao mesmo tempo cativante com sua trama de suspense. //

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Nota da Colab Este texto contém sérios spoilers da série.

A SAÚDE MENTAL EM

BoJack Horseman por

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giovana silvestri diagramação vics


É com uma frase sutil e simples (“você diz que quer melhorar e não sabe como")

que o trailer da quinta temporada de BoJack Horseman começa e termina. Pode ser entendida como uma frase breve para descrever o personagem principal, mas, após a revisão do contexto, é a resposta para o final da quinta temporada que estreou na sexta-feira (14). BoJack Horseman é uma sitcom estadunidense lançada pela Netflix em 2014, cuja comédia é extraída do drama que cerca a vida do personagem principal: BoJack (Will Arnett) – personagem este que ganhou o público do streaming tendo sua renovação até a sexta temporada. Criada por Raphael Bob-Waksberg, a série conta a história de um antropomórfico cavalo-humano que fez muito sucesso nos anos 90 em Hollywood, mas agora não mais. Além de estacionar sua carreira como ator e se transformar em uma múmia dos sucessos de Hollywood, BoJack comete erros, vive bêbado e se vangloria de seu sucesso na série Horsin’ Around. Segundo o primeiro episódio da produção, em 1987 estreava a fictícia sitcom Horsin’ Around na ABC, criada por Herb Kazzaz (Stanley Tucci) e estrelada por Horseman. A produção, na qual um jovem cavalo solteiro reavalia suas prioridades quando concorda em criar três crianças humanas, foi rejeitada pelos críticos por ser fantasiosa, sentimental e ruim. Porém, a comédia familiar teve uma resposta positiva do público e ficou no ar por nove temporadas, sustentando o ego, dinheiro e fama de BoJack. BoJack Horseman (série) retrata o famoso cavalo, trinta anos depois, tentando voltar a fama com uma biografia. Uma perspectiva da série é o nonsense, ao ser

ambientada em uma sociedade onde os seres humanos e animais antropomórficos vivem lado a lado, e apresentar seu melhor amigo, Todd Chaves (Aaron Paul), como um desconhecido que entrou de penetra em uma de suas festas, dormiu no sofá e nunca mais foi embora. Somos aproximados de cada personagem ao longo das cinco temporadas. Princess Carolyn (Amy Sedaris), ou só PC, é uma gata rosa empresária e namorada de BoJack; a humana Diane Nguyen (Alison Brie) é a ghost writer da tal biografia e Mr. Peanutbutter (Paul F. Tompkins), um labrador quarentão, é a estrela de uma sitcom dos anos 90, cuja premissa é semelhante de Horsin’ Around, acabando por ter sucesso (segundo o protagonista, as custas de seu próprio sucesso). Progressivamente, conhecemos o lado emocional e psicológico de cada um deles. O uso de flashbacks é explorado em todas as temporadas e revela o passado sombrio, triste e difícil tanto de BoJack quanto dos personagens secundários que fortalecem e diversificam a série, moldando o roteiro além da vida decadente da estrela do seriado dos anos 90. A 5ª TEMPORADA Nessa temporada vemos BoJack como estrela de um novo seriado sobre drama policial chamado Phillbert que é dirigido por Flip McVicker (Rami Malek) e disponibilizado pelo site “What time is it rigth now?”. Sob esse pano de fundo, o novo ano mantem suas críticas a Hollywood, desta vez focada nos assédios sexuais e machismo presentes, tanto dentro quanto fora dos sets de filmagem. Tal foco é evidenciado pelo episódio BoJack, o feminista (S05E04), que apresenta como temática principal como os homens possuem voz, são perdoados e seus assédios morais ou sexuais são esquecidos pela indústria. A história narrada carrega o típico nonsense e exagero ao criar uma

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premiação para celebridades arrependidas de seus erros, em uma espécie de perdão nacional. Além disso, a série mantém, desde sua primeira temporada, o constante trabalho metafórico, como o próprio uso de animais para trabalhar uma estrutura de uma fábula, assimilando também que cada animal é uma metáfora para as características de cada personagem. Princess Carolyn, por exemplo, é uma gata rosa por sempre conseguir “cair de pé” nos problemas que enfrenta, se safando ou conquistando algo sorrateiramente em seu trabalho como empresária. Mr. Peanutbutter é um labrador por sempre ser carinhoso, atencioso, otimista e brincalhão. BoJack é um cavalo por sempre se portar rígido, forte ou até grosseiro em relação as pessoas e situações de sua vida. SAÚDE MENTAL A vertente mais intensificada durante a quinta temporada é o lado psicoemocional de BoJack. Ao decorrer de todos os anos anteriores, nos deparamos com algum trauma, problema ou erro que o personagem teve na infância ou durante seu sucesso em Horsin’ Around.

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Na primeira temporada, culpamos BoJack por suas atitudes imorais e comportamento rudes, não entendemos porquê o personagem foge de relações, evita demonstrar sentimentos ou toma atitudes antiéticas e imorais em muitas situações de sua vida. Ainda, o famoso cavalo tem o vício de tratar mal as pessoas ao seu redor e é extremamente egoísta, desconfiado, bêbado e sem nenhuma perspectiva positiva sobre o futuro. A segunda e terceira temporada nos aproxima intensamente tanto da infância do personagem-título quanto da de sua mãe, ambas traumatizantes e determinantes para a construção da personalidade de ambos os personagens. A relação entre Beatrice Horseman (Wendie Malick) e filho é conflituosa, cheia de insultos e difamações que os dois trocam nos curtos e raros diálogos que possuem. BoJack teve uma infância complicada com pais que o rejeitavam ou o culpavam.

Da e s q u e r da pa r a a d i r e i ta : D i a ne , M r . P e a nu tb u tte r , B o J ack , P r i nce s s Ca r o ly n e To d d


Beatrice se casou com o aventureiro Butterscotch Horseman (Will Arnett) por conta de uma gravidez indesejada. Herdeira de uma empresa de açúcar, ela não soube se acostumar ao mínimo conforto que Butterschotch podia oferecer trabalhando como operário em uma fábrica. Assim, com o passar dos anos, Beatrice e Butterscotch brigam tanto a ponto de esquecerem a presença e existência do filho. Em um lar caótico, BoJack nasce e cresce sentindo constantemente medo de seus pais e em completa solidão. E, a partir desse momento, enxergamos o personagem com outros olhos, mas ainda sem o isentar de suas culpas. O episódio Churros Grátis (S05E06) releva ao máximo o sentimento de BoJack em relação a sua mãe. O enredo se configura em um monólogo do personagem durante o funeral dela., onde ele desenrola um texto improvisado tentando descrever um pouco de sua mãe. O cavalo falha nessa tentativa e se sente frustrado ao perceber que passou a vida inteira tentando entender Beatrice, sem conseguir. O pouco de positivo que consegue descrever, é, de certa forma, triste, solitário e sombrio: “Minha mãe sabia como era passar a vida inteira se afogando, mas em alguns raros momentos ela se lembrava de que sabia nadar. Ela quase sempre se afogava”. A infância de Beatrice foi marcada por um pai machista e opressor que, ao ver sua esposa em crises de ansiedade, após a morte de seu filho na guerra, deduziu histeria a obrigando a fazer uma cirurgia no cérebro que afetou sua capacidade de comunicação. Beatrice cresce com uma presença machista e ausência de atenção materna. BoJack transparece pouca tristeza ou comoção no funeral, mas em certas reflexões percebemos como personagem se sente

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desolado diante da morte da mãe por não ter, segundo ele, uma esperança de ainda conseguir ser um orgulho ou felicidade na vida da mãe. Contudo, a raiva toma conta quando se depara com uma contradição. Ao ir em um fast food o personagem pede um churros a atendente que pergunta se ele está tendo um ótimo dia. BoJack responde que não, porque sua mãe faleceu. A atendente cai aos prantos e oferece o churros de graça. O personagem se revolta ao perceber que, uma atendente que nem o conhecia teve mais carinho e atenção com ele do 78 |

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que sua mãe em toda a sua vida. O determinismo maneja as atitudes atuais de BoJack por variados motivos que estão em seu passado, e o personagem se culpa constantemente por suas atitudes erradas, embora nunca consiga parar de toma-las. O protagonista tem mania de vitimização, mesmo sabendo que suas ações foram erradas, dizendo para si mesmo que é quem mais sofre com as atitudes de BoJack Horseman. Além disso, o cavalo não tem autoestima. Na quarta temporada, no episódio Seu estupido de m**** (S04E06), conhecemos os pensamentos de BoJack, narrados em off durante as cenas em ordem cronológica

na história. Horseman é autodepreciativo na maioria de seus pensamentos, se contradiz muitas vezes e tenta parar de pensar bebendo, fumando ou se drogando. Ainda, ele é depressivo, ansioso e muito pessimista, com uma saúde mental frágil, enxergando sempre o lado negativo das situações, cometendo erros repetidamente e esperando


R e t r at o da fa m í li a H o r s e m a n

que as pessoas o perdoem ou digam que, no fundo, ele é uma boa pessoa. Sua busca por paz ou felicidade chega num extremo e o cavalo começa a se viciar em analgésicos fortes durante a quinta temporada, além do alcoolismo e vício em cigarro. O personagem não assume responsabilidade afetiva por não ter, nem com si

mesmo, responsabilidade alguma. Assim, BoJack rejeita ajuda de outras pessoas por não querer se sentir inferior ou menos inteligente que os outros (seus pais chamavam muito ele de burro quando criança). A frase “Você diz que quer melhorar e não sabe como” é dita por Diane, melhor amiga do cavalo e que tenta ajuda-lo ao perceber o nível de vicio, angustia e depressão

que o amigo se encontra. Apesar dos erros que BoJack cometeu com ela no passado, a mulher os ignora e tenta o convencer a procurar ajuda, sempre encontrando relutância por parte dele: “E se eu continuar sendo a pessoa horrível que sempre fui, mesmo assim?” , ele questiona, enquanto Diane insiste eu ele tem duas opções: "ir embora e resolver tudo do seu jeito, como fez a vida toda, ou pode ver o que eles têm a oferecer”. Ao fim, BoJack entra para uma clínica de reabilitação, onde permanecerá ao longo de seis meses. Este então se torna um grande começo para a série e para ele, que finalmente decide pedir ajuda e optando por largar seus vícios. //

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A + B + C = MANIAC por

J

debora drumond

á imaginou uma pílula que curasse todos os seus medos e traumas? No universo de Maniac, nova minissérie original da Netflix criada por Cary Joji Fukunaga e Patrick Somerville, ela existe. Esse é o tema base da trama que conta a história de dois jovens adultos, Owen (Jonah Hill) e Annie (Emma Stone). Ambos se encontram, por acaso (ou não), em um teste farmacêutico da 80 |

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droga da Neberdine Pharmaceutical Biotech (NFB). Owen é esquizofrênico e não consegue se encaixar em sua família supostamente perfeita de ricos e bonitos. Ele tem alucinações em que um clone de seu irmão, em uma versão de como ele gostaria que o irmão fosse, lhe dá pequenas missões e diz que ele está destinado a salvar o mundo. Na vida real, a família de Owen o convence a mentir no tribunal e ser um

diagramação

vics

álibi para o verdadeiro irmão que está sendo julgado por assédio sexual. O personagem decide participar do teste após ser demitido de seu emprego. Annie tem uma personalidade forte, independente e rebelde. Ela está desempregada e se mantém através de uma política em que o indivíduo paga pelos anúncios que consome. Seu pai é uma pessoa sozinha e traumatizada assim como ela. A personagem tem problemas


psicológicos devido a uma grave briga que teve com sua irmã mais nova. O motivo pelo qual Annie decide participar da experiência é o fato de estar viciada em uma das três pílulas usadas no teste. O teste farmacêutico da NPB se baseia em compreender como os traumas afetam a mente humana e encontrar uma forma de quebrar os mecanismos de defesa que fazem com que o trauma cause danos psicológicos na vida das pessoas. Para o idealizador do projeto, o Dr James K. Mantleray (Justin Theroux), o tratamento substituiria a terapia que, na sua visão, não é suficiente para curar traumas. Tal tratamento se baseia em três pílulas: A, B e C. A primeira leva o paciente ao momento do trauma, onde um computador com inteligência artificial é capaz de colher dados para implementar a segunda pílula. Quando esta, que irá trabalhar os mecanismos de defesa e diagnosticar o paciente, é usada, a terceira pílula entra em ação, fazendo com que o indivíduo enfrente seus demônios pessoais e se cure. Os caminhos de Owen e Allie se aproximam quando o computador que analisa os dados começa a juntar as

simulações em que ambos são submetidos ao tomarem as pílulas B e C. Nessas experiências eles vivem outras realidades e são apresentados a seus mecanismos de defesa sutilmente. Esses momentos são interessantes, com Emma Stone e Jonah Hill tendo que interpretar personagens totalmente diferentes do casal central – fazendo isso com muito êxito. Outra curiosidade sobre a série é o fato do universo de Maniac ser distópico. Sendo no futuro mas adotando uma estética dos anos 1980, com tecnologias e aparelhos da época, é difícil determinar a época exata em que se passa a história. Ainda, essa incógnita nos leva a pensar que tudo pode ser apenas um devaneio de Owen, já que ele é diagnosticado como esquizofrênico e não toma seus remédios a alguns meses. A iniciativa da Netflix de criar uma minissérie abordando um tema sério e relevante como os transtornos psicológicos, ainda mais tendo sua estréia no mês de prevenção ao suicídio (setembro amarelo), mostra um amadurecimento do canal de streaming. Tudo isso ligado a estética anos 80 e uma temporalidade particular traz uma sensação reflexiva, parecida com a que era causada por Black Mirror. Maniac, com toda certeza, é um grande acerto, mesmo que não seja um conteúdo para todos os públicos. //

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A REBELDIA NA IDADE DAS TREVAS por

Rayanne Candido diagramação

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epois dos sucessos Os Simpsons e Futurama, Matt Groening retoma os aclamados traços e se aventura em uma estética medieval com (Des)encanto, sua nova série para a Netflix. A animação se passa no reino mágico da Terra dos Sonhos e acompanha as aventuras e desventuras da princesa alcoólatra Tiabeanie, ou simplesmente Bean, uma jovem rebelde que só pensa em diversão, bebida e sexo. No fatídico dia de seu casamento, ela recebe um misterioso presente: Luci, seu pequeno e sagaz demônio pessoal, que a atormenta e está sempre disposto a tentá-la a tomar má decisões e fazer coisas erradas. Simultaneamente, em uma floresta mágica repleta de alegria e doces, está o simpático Elfo chamado Elfo, que entediado de toda essa felicidade abandona sua realidade extraordinária à procura de experiências e aventuras no mundo real. Por possuir sangue mágico, o pequeno vira alvo de interesse do Rei Zog e dos magos do reino que pretendem usar a simpática criatura para seus interesses. Sua chegada a Terra dos Sonhos completa o trio que mais vai causar confusões na idade das

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trevas. Sem a presença da mãe, a Rainha Dagmar, Bean se vê em uma relação um tanto quanto conflituosa com seu pai, uma figura não muito diferente do patriarca da família Simpsons – rechonchudo, desnorteado e grosseiro. Ainda, ela tem que lidar com o segundo casamento dele para estabelecer a paz entre reinos com sua misteriosa madrasta, a Rainha Oona, meio humana meio salamandra. A falta de afetividade em seus laços familiares é um dos motivos da rebeldia de Tiabeanie, que foge dos deveres da realeza e faz tudo como bem entende, sem pensar nas consequências, rompendo, assim, com os estereótipos da donzela que está à espera do cavaleiro para te salvar. O estilo visual da animação denuncia que (Des)encanto tem alguma ligação com as outras produções de Groening. Por meio de um easter-egg encontrado em um dos episódios, é possível pensar na possibilidade da série se passar no mesmo universo de Futurama. A revelação ocorre quando Luci usa uma bola de cristal que mostra Fly e outros personagens em uma máquina do tempo, estabelecendo que a animação pode se passar em algum

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período do passado desse universo. Outra referência interessante acontece quando Elfo descreve uma antiga namorada, e a descrição bate exatamente com a personagem Leela – uma garota de uma terra distante, órfã, que tem um olho só – uma das protagonistas de Futurama. Com cada um dos 10 episódios da série levando o público

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para uma canto diferente, o trio de protagonistas, cuja "química" é um dos pontos altos da produção, se vê em uma longa e divertida jornada. (Des)encanto desbrava florestas, pântanos e vulcões, ao mesmo tempo em que apresenta seu universo de seres, como ogros, trolls e sereias. É uma trama crescente que apresenta um censo de humor áci-


do e sarcástico, revisita diversos clichês medievais, como invasores vikings, referências religiosas, uma sociedade secreta de magos e a facilidade das sociedades medievais em começar guerras. Mesmo em uma época tão distante, a produção consegue tratar de assuntos atuais como o machismo, o uso de drogas e a igualdade de gênero. A fotografia funciona bem com cenários elaborados, trabalhando nos extremos: de um lado casas e lugares coloridos e de outro pântanos e florestas medonhas, utilizando esporadicamente do 3D, com apresentações ricas do reino da Terra dos Sonhos. Apesar de não ser a mais animada, a trilha sonora medieval assinada por Mark Mothersbaugh é bem colocada. A dublagem nacional é repleta de referências a músicas, memes e particularidades brasileiras agrega ao programa sendo um dos grandes destaques da animação, aproximando de maneira incom-

parável o público, pecando, no entanto, no excesso – o que deveria ser icônico, acaba se tornando forçado. A série, que repete a mesma estrutura humorística das produções de Groening, sofre com a necessidade de contar uma história de longo prazo com seus episódios irregulares e falha em não aproveitar as varias opções que poderiam ser exploradas e acabam sendo deixadas de lado. Ações que deveriam gerar algum tipo de consequência não atingem esse contexto e são jogadas ao vento, fazendo com que em boa parte da temporada a história não se desenvolva e entregue um final de narrativa intenso em que a trama é aprofundada, mas somente para colocar certos fatores em destaque e deixar várias lacunas e ganchos para serem possivelmente explorados em temporadas futuras. Definitivamente, é uma série que está tentando se encontrar. //

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MISTICISMO ASSOMBRA ENCARCERADOS EM MINISSÉRIE INDIANA por

rayanne candido

diagramação

A

segunda produção original da Netflix vinda da Índia, Ghoul: Trama Demoníaca explora o folclore Árabe e o terror crescente. Pensada originalmente como um longa-metragem, a plataforma de streaming decidiu exibir a produção como uma minissérie, dividindo-a em três episódios de cerca de 40 minutos cada. Em um futuro distópico, a Índia é controlada por forças militares autoritárias, sob a justificativa do nacionalismo primordial, a população é oprimida com a censura extrema e têm seus direitos cada vez mais reduzidos. Nina Rahim (Radhika Apte) é uma jovem cadete do exército autoritário. Por conta da alienação exercida pelo regime e por seu patrio86 |

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tismo exacerbado, é a responsável pela denúncia de seu próprio pai, um professor que não age conforme as diretrizes exigidas por esse governo fechado, lendo e ensinando aos alunos assuntos que ultrapassam os permitidos pelo currículo oficial. A protagonista é, então, convocada a trabalhar em um

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setor secreto onde os presos políticos são interrogados e torturados para darem informações sobre organizações que ameacem o regime. Assim, a trama se passa majoritariamente dentro desse centro de interrogatório, e é a partir da chegada do líder terrorista, Ali Saeed (Mahesh Balraj), que coisas estranhas começam a acontecer. Apesar de sofrer todo o tipo de violência, o alvo jamais fala e é inexpressivo. O papel do torturador é adentrar a mente da vítima e atingi-la para seu próprio benefício, mas o torturado vai ganhando mais consciência e gradativamente


o extraordinário é apresentado, ficando cada vez mais nítido que o líder não parece ser algo humano. Entra aí o aspecto do sobrenatural na forma de um demônio folclórico árabe conhecido mitologicamente como “ghul”, um gênio diabólico que muda de forma e consome carne humana – é referenciado na obra As Mil e Uma Noites. Ghul é invocado quando alguém vende a própria alma e desenha um símbolo de sangue de chão, em uma clara representação do desespero.

“Revele a culpa e coma a carne deles”.

ataca, o que faz tanto os demais personagens quanto o público se confundir ao tentar descobrir quem é quem, já que qualquer um pode ser o invocado. O enredo acerta ao inserir detalhes que sempre dão certo no gênero do terror, como sinais medonhos e frases misteriosas em uma língua anciã. A produção trata de assuntos importantes dentro de um contexto político e fascista, como autoritarismo, nacionalismo e religião, mas falha ao tentar abordar todas essas ideias de uma vez só, o que faz com que o roteiro fique carregado e cause desequilíbrio pela má distribuição, abordando muita informação em algumas cenas e nem tanto em outras.

Produzida por Jason Blum, da Blumhouse Productions (mesma produtora de Fragmentado, Corra! e A Morte te Dá Parabéns), a minissérie consegue abordar bastante o sentimento de culpa, que é o maior alimento da criatura, uma vez que o “ghul” utiliza a culpa para entrar na mente dos personagens, assim como nos métodos usados pelos torturadores nos interrogatórios. O demônio assume a forma de quem ele

Ghoul, apesar de não inovar no gênero e ser cheio de boas ideias má executadas, é uma boa aposta para aqueles que buscam ou gostam de produtos audiovisuais com tramas demoníacas e jumpscares bem colocados. // zint.online | 87


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A ARTE DO "FAÇA VOCÊ MESMO" texto e diagramação de

vics

Criatividade vive em todos nós. E não há melhor jeito de se expressar do que fazer algo usando sua própria mão. Não é apenas um hobbie. É um fenômeno mundial! É com a frase acima que Amy Poehler e Nick Offerman apresentam Making It, um reality show de competição do canal norte-americano NBC. A premissa é bem simples: oito artesãos, especializados em diferentes áreas ou tipos materiais, são convidados a mostrarem seus talentos para

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NOS CANTOS, SIMON DOONAN E DAYNA ISOM JOHNSON. NO MEIO, NICK OFFERMAN E AMY POEHLER

construir coisas (o famoso DIY/Do It Yourself, ou Faça Você Mesmo, em português), semana após semana, em volta de um tema específico. Aqui, os participantes do programa duelam para ganhar um disputado patch temático e o título de "Master Maker" (algo como "Artesão Maioral", em tradução livre). E, ah!, também tem um prêmio de 100 mil dólares; mas esse não é muito divulgado porque ninguém está muito interessado – afinal, você já viu os maravilhosos patchs? Pelo menos, é isso que acreditam os dois apresentadores, que são velhos colegas de trabalho. Poehler e Offerman, atores e comediantes, estrelaram da premiada e aclamada série Parks and Recreation, entre 2009 e 2015: ela como a positivista e resiliente Leslie Knope, e ele como o rabugento e anti-governo Ron Swanson. Making It é uma deliciosa e muito bem vinda competição, apresentando uma perceptiva diferença entre os outros programas de mesmo gênero. O reality é bastante positivista e não elabora intrigas e dramas para prender seu telespectador; isso é feito com a ajuda de uma excelente química entre Poehler e Offerman, que deixam o 90 |

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programa divertido com um humor único. Os participantes, por sua vez, apesar de estarem ali para vencer o desejado prêmio, estão constantemente mostrando suporte e ajudando os colegas, tecendo elogios e até mesmo ficando felizes por eles terem terminado suas produções a tempo. Fica claro que, mais do que o prêmio, eles querem mostrar seus trabalhos e crescer profissionalmente, vendo aquele espaço como uma oportunidade única. Essa realidade vai de encontro com a ideia do programa, que de acordo com o casal de apresentadores, como comentado em diversas entrevistas televisionadas, veio para iluminar um momento obscuro nos Estados Unidos, atribuído principalmente à presidência de Donald Trump e acentuada violência e preconceito que o país vem vivenciando. Making It é um programa onde a pessoa pode assistir e se livrar de seus problemas e torcer pelos seus favoritos, ao mesmo tempo em que se diverte com o ambiente leve e de suporte, ilustrado por um cenário bem colorido e cheio de criatividade. Na primeira temporada, de seis episódios, o telespectador é apresentado aos competidores Amber Kemp-Gerstel (especialista em artesanatos de papel), Billy


Kheel (feltro), Jeffery "Jeff " Rudell (papel), Jemma Olson (tralhas no geral), Joanna "Jo" Gick (designer de interiores), Khiem Nguyen (marceneiro), Nicole Sweeney (marceneira) e Robert Mahar (decoração e designer). Também, unindo-se a Amy e Nick, temos Simon Doonan, um famoso e conceituado paisagista de vitrines, como os da loja Barneys, e Dayna Isom Johnson, curadora do Etsy, um site onde pessoas podem vender seus respectivos produtos feito a mão. Os dois exercem a função de jurados do programa, estando ali para avaliar o trabalho de cada um dos makers e decidir o melhor (que ganhará o patch e estará um passo mais próximo do prêmio em dinheiro) e o pior (que irá para casa) de cada semana. O reality ainda tem uma

interessante construção de segmentos. Além das duas provas habituais, conhecidos como “Faster Craft” - que dura três horas - e “Master Craft”, os carismáticos apresentadores não só fazem divertidas notas e narrações do que o telespectador está vendo no momento, mas também performam rápidas esquetes entre alguns quadros. Nessa última parte, é possível assistir Poehler tentando nomear diferentes utensílios do meio (como uma Pistola de Pregos), ou Offerman, vendado, sendo desafiado a nomear os tipos de madeiras apenas pelo cheiro – na vida real, Nick tem um ateliê de marcenaria, onde faz e vende diversos móveis de madeira. Um dos mais engraçados, no entanto, são quando os dois

entram em um duelo de trocadilhos baseado no tema da semana. Making It é divertido do início ao fim, sendo bem construído e carregado de forma bastante natural, seja graças ao seus carismáticos apresentados ou por toda a parte técnica e visual do programa, que busca trazer à vida esse aspecto do DIY. E com apenas seis episódios, é um programa rápido de assistir, perfeito para momentos em que o telespectador quer apenas sentar e relaxar. O show, infelizmente, não passa no Brasil, mas já foi renovado para uma segunda temporada. //

DA ESQUERDA PRA DIREITA: JEFFERY “JEFF” RUDELL, JOANNA “JO” GICK, KHIEM NGUYEN, JEMMA OLSON, ROBERT MAHAR, AMBER KEMP-GERSTEL, BILLY KHEEL E NICOLE SWEENEY

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"A LENDA DE AANG"

MAIS VIVA DO QUE NUNCA A série de animação segue como um dos maiores títulos do gênero por

yuri soares

diagramação

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Nota do Colab Este texto contém sérios spoilers da série.

“Água , t erra , fogo, a r. H á mui to tempo as nações v i via m e m pa z e h a rm on ia , mas aí , tudo i sso mudou, q u a n d o a N ação d o Fogo atacou. Só o Avatar domi na o s quat ro ele m en t os e pod e i mpedi -l os, mas quando o m un d o m a is precisa d e le, el e desaparece. Cem a nos se pa ssa ra m e m eu irmão e eu descobri mos o n ovo Avata r, um ga rot o d omi nador de ar. Embora s ua h a bilida d e com o a r seja óti ma, el e tem mui to q u e a pre n d er a n t es que possa di zer: ‘Eu sou Aang’. Ma s eu acre d it o que o A a n g possa salvar o mundo! ”

S

e você curte animação, com certeza já ouviu essa história. Trate-se da icônica abertura de Avatar: A Lenda de Aang (Avatar: The Last Airbender, no título original em inglês), um dos desenhos mais populares da década. Produzida e co-criada pelos norte-americanos Michael Dante DiMartino

e Bryan Konietzko, a série se consagrou como uma das maiores produções do canal a cabo Nickelodeon. Exibido entre 2005 e 2008 nos Estados Unidos, o desenho infantil conquistou crianças e adultos em diversas partes do mundo. Dez anos se passaram e pouco mudou: a história de Aang e seus amigos continua cativante e atraente a novos fãs.

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A relevância da série animada segue, mesmo após tantos anos, graças ao roteiro fechado e bem articulado. Além disso, conta com um universo único, cheio de detalhes, onde representações culturais, humor e trilha sonora dá precisão as cenas e ritmo a trama. A ideia de dividir os 61 episódios em três temporadas, nominadas de livro, e intitular cada episódio de capítulo, contribui para o fácil entendimento sequencial dos fatos. Assim, a animação consegue ser um programa para crianças e, ao mesmo tempo, muito sofisticado para ser restrito ao seu público alvo. Por aqui, a Classificação Indicativa decidiu que a série não é indicada para menores de 10 anos, pois trata de temas como morte, política e religião. Sem adentrar na discussão da faixa etária dos espectadores, é fato que A Lenda de Aang é uma narrativa densa,

Da esque rda pra dire ita, o bisão Ap pa, Sokk a, K atara, Aan g e o lêmure Mom o

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cheia de questionamentos e problemas tão complicados quanto à vida real. Não é exagero comparar a série de animação a outros títulos consagrados pela crítica e público. A história do último dobrador de ar não deixa nada a desejar comparada as franquias de Harry Potter e Senhor dos Anéis, por exemplo. São muitos os elementos que contribuem para isso, além dos já citados acima.


A evolução dos personagens, sem dúvidas, é um de seus pontos fortes. A começar pelo próprio Aang, uma criança de 12 anos que nunca quis ser avatar e, depois de um século preso em um iceberg, retorna a um mundo de guerras e injustiças. Escolhido pelo destino para salvar o mundo, ele ainda tem que lidar com a dor do genocídio de seu povo, derrotar o Senhor do Fogo Ozai sem ter que matá-lo, o sequestro de seu bisão inseparável Appa – talvez o momento mais marcante de Aang em toda a série – e seu romance com Katara. Por falar em Katara, a jovem dominadora de água da Tribo do Sul é praticamente uma mãe dos demais personagens, quase sempre com um ar maternal. Por outro, vive um dos momentos mais dramáticos de todo o arco. Destemida a encontrar com o assassino de sua mãe e se vingar, quando o encontra usa a obscura dobra do sangue para subjugá-lo, mas decidi por não matá-lo. Mais tarde, com o coração livre de rancores, salva Zuko e vence a louca princesa Azula. Ao lado dela está Sokka, que aos poucos conquista seu espaço de guerreiro eficiente em meio a humanos dominadores de elementos.

A a n g ao la do de Toph Beifong Em contra ponto, a pequena Toph, surpreendente desde que aparece pela primeira vez, aprende a importância dos vínculos afetivos e emocionais. A princípio vilão e depois mocinho, o príncipe Zuko é a maior história de redenção da série. Sua dualidade entre bem e mal é um exemplo direto de que não existe precisão do que é bom ou mau. As oscilações de Zuko entre os dois lados inimigos na guerra só confirmam isso. Todos os personagens evoluem em suas trajetórias, sejam eles protagonistas ou secundários. Homens, mulheres, crianças ou animais. A inclusão é fator relevante na animação, principalmente representada pelas personagens femininas. As mulheres da série são independentes, destemidas e poderosas. Katara é a que se destaca, por ser a mais sensata do grupo de mocinhos, mas também por confrontar o machismo da Tribo da Água do Norte, que a restringia de aprender mais sobre as dobras de água. Torna-se a maior dominadora de água do mundo e a única capaz de realizar a dobra de sangue, além de outros feitos restritos zint.online | 95


apenas a ela. A professora de Aang em dobras de terra também não fica para trás. Toph, como dito anteriormente, sempre foi apresentada como personagem acima do padrão. Superprotegida pelos pais, por ser cega, a menina é totalmente independente e muito forte. É a maior dominadora de terra do planeta e também a primeira pessoa a dominar o metal. Suas técnicas são essências na última batalha de Aang. O mesmo serve para as vilãs. Princesa Azula, Ty Lee e Mai, apesar de virem de uma nação que não faz distinção de gênero, formam o temível “trio da garotas” e proporcionam boa parte das maiores cenas de lutas da série. Azula, eximia dobradora de fogo azul e raios, louca e temida por todos, inclusive por suas amigas, quase mata seu irmão se não fosse parada por outra mulher, Katara. O grande vilão é ninguém menos que o Senhor do Fogo Ozai. Apesar de não aparecer nas duas primeiras temporadas, o personagem tem sua figura tirana construída durante toda a história. É o grande ditador da franquia. Para os fãs de Star Wars, fica o aviso: Ozai é dublado por Luke Skywalker, quer dizer, Mark Hamill. E que não passe em branco tio Iroh, irmão do grande antagonista. O mentor de Zuko é tão importante na sequência de acontecimentos da série que chega a ser injusto o spoiler. O grande combate é também o mais esperado: a luta do menino Aang e o grande antagonista é um encerramento digno para uma animação de tamanha qualidade. A resposta da pergunta que durante toda a série parecia respondida, mas o Avatar relutava. De fato, existia outra opção. SE VOCÊ NÃO CONHECE A SÉRIE Avatar: A Lenda de Aang é uma série de animação norte-americana

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produzida com base na cultura asiática. Influenciado principalmente pela mitologia chinesa, o programa mistura magia, os quatro elementos e artes marciais. Representações das culturas coreana, tibetana e japonesa também são perceptíveis, em especial a última, devido aos traços da animação semelhantes aos de animes e mangás. A série conta a história de Aang, encontrado congelado em um iceberg por Katara e Sokka no Polo Sul. No mundo deles, a humanidade é dividida em quatro povos com alguns seres humanos capazes de dominar um dos quatro elementos. São eles: os Nômades do Ar, as Tribos da Água, a Nação do Fogo e o Reino da Terra. No meio deles, existe um ser capaz de dominar todos os quatros elementos e, assim, deve manter a harmonia entre as nações. Esta responsabilidade é do Avatar, um espírito que quando morre reencarna em um humano de outro povo, que dá continuidade ao ciclo dos avatares. A Nação do Fogo começa uma guerra imperialista com os outros povos. Seu único obstáculo é o Avatar. Para impedir a reencarnação do espírito, o Senhor do Fogo manda dizimar os Nômades do Ar, povo no qual o segundo o ciclo o Avatar deveria nascer. Assustados, os protetores de Aang revelam ao garoto que ele é o Avatar. Inconformado com as consequências da revelação, a criança foge. Enquanto isso seu povo é aniquilado. Passam-se 100 anos sem que nenhum nômade do ar seja avistado. Com o sumiço do Avatar, a Nação do Fogo conquista quase todas as nações, que se tornaram colônias. A única nação independente é o Reino da Terra, que por sua vez vive em uma ditadura monárquica. Tudo muda com o achado de Katara e Sokka na quase deserta Tribo da Água do Sul. O resto vale a pena assistir; ou arriscar no texto acima,


se já não o fez. A série está disponível nos catálogos da Netflix e do Crunchyroll. ADAPTAÇÕES E SÉRIE LIVE ACTION Séries de animação costumam ser produzidas para serem grandes sucessos comerciais, principalmente no mercado de produtos licenciados, como linhas de brinquedos. As sequências, geralmente, alavancam as vendas em números expoentes, entretanto A Lenda de Aang tem suas peculiaridades. Sua continuação animada A Lenda de Korra (The Legendo of Korra, no título original em inglês) não agradou crianças nem adultos. A adaptação cinematográfica, intitulada O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, dirigida por M. Night Shyamalan, 2010) foi um fracasso por diversos motivos, dentre eles a narrativa corrida e atuações engessadas. Por outro lado, a franquia se consolidou no mercado impresso e deu origem a uma aclamada história em quadrinhos e uma série de graphic novels que segue com publicações de novas histórias originais. Agora é vez da Netflix, que normalmente não dá ponto sem nó, produzir

material da jornada de Aang. O anúncio da série live action aconteceu no último dia 18. Um tweet da conta oficial da gigante de streaming, mas, claro, sem muitos detalhes. O que se sabe, e ao mesmo tempo empolga, é participação de Michael DiMario e Bryan Konietzki, criadores da história original, como showrunners da nova adaptação. A ideia dos dois como produtores executivos colabora, e muito, para que as expectativas cresçam às alturas, principalmente porque dá a entender que o material será, ou tentará ser, fiel a obra original. A produção terá inicio ano que vem, mas a primeira temporada disponível em catálogo só deve sair um ano depois, em 2020. Se a série seguir os padrões de qualidade das grandes produções da Netflix e for algo similar à arte de John Staub, divulgada no tweet de anúncio, pode-se dizer que fãs e novos fãs farão das aventuras do avatar Aang e seus amigos um dos maiores sucessos de adaptação de uma animação consagrada. //

I m ag e m di vu lga da p e la n e t f li x n o a n ú n c i o da s é r i e li ve -ac t i o n

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Os lances da vida de One Tree Hill por

adan

diagramação

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vics


There’s only one tree hill and it’s your home. Quem cresceu nos anos 2000 viveu em uma época de várias séries enlatadas tomando conta dos horários da TV aberta em seus mais variados turnos. No campo das séries teens, tivemos a SBT como maior importadora desse segmento. Várias séries fizeram parte do pacote que nos preenchiam diariamente nas madrugadas, final da tarde do sábado ou ao meio-dia do domingo. Uma das séries mais marcantes para muitos e até hoje bastante cultuada é One Tree Hill, conhecida nacionalmente também pela alcunha de Lances da Vida. OTH, como é abreviada, trazia inicialmente uma história bastante clichê que envolvia dois irmãos de mães diferentes, Lucas Scott (Chad Michael Murray)

e Nathan Scott (James Lafferty), filhos do inescrupuloso Dan Scott (Paul Johansson). Lucas é o mocinho apaixonado sonhador que é apaixonado por Peyton Sawyer (Hilarie Burton), namorada do seu meio-irmão. Nathan é o bad boy da série que vive essa rivalidade tanto na vida pessoal, quanto nas quadras de basquete e vê na tutora e melhor amiga do outro Scott, Haley James (Bethany Joy Lenz), a chance de sua vingança pessoal. Peyton é a melhor amiga de Brooke Davis (Sophia Bush) e juntas formam um triângulo amoroso na série. Ao decorrer da história as coisas vão tomando uma forma mais complexa, abrindo um leque ainda maior nas histórias narradas e, o que era inicialmente uma série teen clichê, vai se desenrolando em temáticas adultas, tratando mais profundamente das relações familiares, o uso de drogas, sexualidade, gravidez na adolescência, câncer, entre outros. A série estreou no canal norte americano The WB no dia 23 de setembro de 2003, durando nove temporadas, encerrando sua trajetória no canal The CW, em 04 de abril de 2012. É ao longo da quase década que o público acompanha os cinco protagonistas desse dos tempos de escola até suas vidas adultas. Desde dos primórdios de sua composição, One Tree Hill tem uma força musical muito forte. Sua alma é formada por grandes momentos onde a música faz uma diferença enorme, com os títulos

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Da esquerda pr a d i rei ta , o s p e r s o n ag e n s P ey to n, L uc a s, Bro o ke , N at h a n e H ayle y

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de seus episódios sendo nomeados em referência a um título musical, banda ou álbum que tenha relação com o episódio em questão. No mesmo passo, várias bandas e cantores fazem participação durante os 188 episódios, com três álbuns nascendo dessa paixão musical, que não ficou restrita apenas à ficção. Em um típico caso de "vida imitando a arte", quando na segunda temporada os personagens Haley James e Chris Keller (Tyler Hilton) saem em turnê, os atores, também cantores na vida real, se juntam para um tour nos Estados Unidos; já na quinta temporada, a personagem Mia Catalano (Kate Voegele) também vai pelo mesmo caminho, com Voegele indo aos palcos ao lado da banda Hanson. Originalmente planejado como um filme, One Tree Hill seria chamado de Ravens, inspirado no time de basquete que existe na série. O criador Mark Schwahn, no entanto, sentiu o poder da história que tinha em mãos e percebeu que se sairia melhor no formado seriado. O título do show e da cidade fictícia onde o roteiro se desenrola são derivadas da música One Tree Hill, da banda irlandesa U2 – a faixa, parte do álbum The Joshua Tree, se refere a um monte vulcânico da cidade de Auckland, na Nova Zelândia. Além disso, os fãs frequentemente perguntavam o por que o show conter o "One", já que a cidade fictícia se chama apenas Tree Hill. A resposta veio no episódio 22 da primeira tempo-

rada, quando a mãe do personagem Lucas, Karen (Moira Kelly), diz a ele "There is only one tree hill, and it is your home", que na tradução fica "Há apenas uma Tree Hill... e é a sua casa". A frase, uma das mais famosas da série, é repetida por Haley no telhado do Karen's Café, no episódio final do programa. OTH é uma série que marcou época e a vida de vários jovens (hoje, adultos), que tiraram aprendizados e que possivelmente vivem na pele vários dos ensinamentos deixados por esses personagens incríveis. Após o fim da série, para matar a nostalgia dos fãs de todo o mundo, foi criada a One Tree Hill Convention, um evento onde os atores se reúnem com os fãs e matam as saudades da produção, respondendo perguntas e confraternizando entre si. Quinze anos depois e diante de vários revivals, além da constante união dos atores e atrizes da série, sempre brota uma esperança de que ocorra uma nova temporada ou até mesmo um especial trazendo nossos personagens favoritos de volta à telinha. //

Com nove temporadas e um total de 187 episódio, One Tree Hill é listada como uma das Maiores Séries Teen de Drama de Todos os Tempos.

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INDICAÇÕES

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Mis tér i o à Franc esa Para quem deseja fugir das tão conhecidas tramas norte-americanas, o catálogo da Netflix conta com algumas produções francesas, especialmente do gênero suspense. Confira algumas delas.

// TEXTO CAROLINA CASSESE // Diagramação vics

» O Bosque Seguindo o estilo de Dark e Stranger Things, na premissa da série francesa O Bosque, uma garota desaparece em uma cidade pequena e seu sumiço desencadeia uma série de acontecimentos misteriosos. A investigação é conduzida pelos policiais Gaspard Decker (Samuel Labarthe) e Virgine Musso (Suzanne Clément), que contam também com a ajuda da intrigante professora Ève Mendel (Alexia Barlier). Criada por Delinda Jacobs e dirigida por Julius Berg, a primeira temporada apresenta seis episódios, todos bem amarrados. Destaque para a fotografia, que utiliza de cores mais opacas e contribui para a atmosfera melancólica da narrativa. As atuações dos atores principais também não deixam a desejar. 104|

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» A Louva a Deus A polícia parisiense recebe a inusitada ajuda de uma serial killer para solucionar uma série de crimes. Jeanne Deber (Carole Bouquet), uma espécie de “justiceira”, conhecida por ter matado (de forma bem violenta) homens abusadores, está presa há mais de 25 anos. Quando crimes parecidos com os que ela cometia começam a assolar a cidade de Paris, Jeanne é acionada para a resolução desses casos. A criminosa faz apenas uma exigência: trabalhar em conjunto com seu filho, o policial Damien (Fred Testot). A série se destaca por realmente surpreender o espectador, apesar da premissa não ser exatamente original. No entanto, fica o alerta: as cenas são fortes, violentas e não poupam o olhar de quem está assistindo.

» La Trêve Com uma premissa parecida com a de O Bosque, um assassinato em uma cidade do interior da França é responsável pelo desenrolar da trama. Cada episódio termina com um toque de suspense, o que faz com que o espectador anseie pelo próximo capítulo. O elenco é definitivamente um ponto forte da produção – principalmente os atores principais Yoann Black e Guillaume Kerbus. A atmosfera, sombria e fria, é também muito bem construída. Os dez episódios são ótimos para serem maratonados.



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tirinhas

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O Sumiรงo de Rafael Rallo

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Noticiรกrio de Rafael Rallo

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PLAYLISTS

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play lists

a revista possui suas próprias playlists temáticas, fruto das matérias que produzimos. ao todo, são 23 listas, que você pode usufruir e escutá-las pelo Deezer, Spotify e Youtube! PARA ACESSAR A LISTA, CLIQUE NA IMAGEM!











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