ALUADO E OUTROS CONTOS DE ALUMBRAMENTO

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Adriano Messias

ilustrações de Carlos Caminha

Adriano Messias

ilustrações de Carlos Caminha

Março de 2021

Copyright © 2021 by Adriano

EDITOR

Mário Vinícius Silva

PRODUÇÃO EDITORIAL

Rafael Borges de Andrade

SUPERVISÃO EDITORIAL

Maria Zoé Rios Fonseca

PROJETO GRÁFICO

Mário Vinícius Silva

CAPA E ILUSTRAÇÕES

Carlos Caminha

ASSISTENTE EDITORIAL

Olívia Almeida

REVISÃO

Lílian de Oliveira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

M585a Messias, Adriano

Aluado e outros contos de alumbramento / Adriano Messias; ilustrado por Carlos Caminha. - 2. ed. - Belo Horizonte: Aluar, 2021. 140 p. : il. ; 13,5cm x 20,5cm.

ISBN: 978-65-991989-4-6

1. Literatura juvenil. 2. Realismo fantástico. 3. Adolescência. 4. Sobrenatural. I. Caminha, Carlos. II. Título.

CDD 028.5

2021-642

2ª edição

Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410

Índice para catálogo sistemático:

1. Literatura juvenil 028.5

2. Literatura juvenil 82-93

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem o consentimento por escrito da editora.

Todos os direitos reservados à: ALUAR EDITORA LTDA.

Rua Helium, 119 – sala 1 – Nova Floresta

Belo Horizonte – MG – CEP: 31140-280

Telefone: (31) 3334-1566

aluareditora@aluareditora.com.br

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

CDU 82-93

Sumário Adolescendo .......................................................... 7 1 - Aluado ........................................................... 11 2 - A alma do boi ................................................ 23 3 - O passarinho de Tiziu .................................... 33 4 - Gente-bovina ................................................. 51 5 - A noite das aleluias ........................................ 65 6 - O fêmur do lobo ............................................ 83 7 - O pinto que o menino fez crescer ................ 105 Paratexto: Assombre-se! .................................... 125

Sou menino de janeiro criado longe do mar...

A noite, quando vem funda, dá vontade de chorar. (do autor)

Adolescendo

Aqui estão sete contos que tratam (também) do mundo dos adolescentes. São textos de literatura fantástica, com abordagens tanto de questões existencialistas quanto de angústias em torno do corpo que se transforma e dos sofrimentos que podem arrebatar o sujeito.

É complexo passar por essa fase da vida. Por um lado, o mundo cobra posturas e comportamentos. Por outro, oferece ideações e falsos conceitos que seduzem. Estes costumam trazer superficialidade semelhante àquela do espelho d’água de uma poça em que um certo menino-lobo buscava se reconhecer. Lá, se ele não se mirar bem, poderá enganar a si mesmo no reflexo pálido do que acreditará ser sua pessoa.

E é justo um menino-lobo-guará que se apresenta como o primeiro dos personagens adolescentes deste livro. Ele parece querer se acostumar com a nova condição entre homem e lobisomem, incomodado por descobertas corporais e emocionais que não passarão despercebidas por uma delicada moça, filha de um anônimo vizinho.

Na segunda narrativa, é o lado menos agradável de um avô, que antes dava colo e parecia heroico, que causará desconfiança em um rapazote que via o mundo de cima

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do telhado de uma casa de sítio. Por lá, também se falava de uma visagem que percorria as redondezas, um tipo assustador de “boi-da-cara-branca”.

Em seguida, tem-se um conto um tanto patético, em que o estranhamento do personagem masculino para com uma avezinha faz com que ele entre em contato com um lado inesperado de si mesmo, ao mesmo tempo que os arroubos de um provável primeiro amor se manifestam inesperadamente. Seria preciso o esforço desesperado em se livrar de um diabinho aprisionado em uma garrafa para que as culpas do rapaz fossem embora de vez?

O quarto conto traz uma família de roceiros que busca refazer a vida na cidade, perdendo, pouco a pouco, a inocência que a morada no campo parecia assegurar. Porém, no decorrer de uma viagem de carro de boi, constatações assombrosas podem surgir.

A seguir, o texto perturba pelo elemento sobrenatural e poético em torno de um casarão abandonado, no qual adentra um rapaz atormentado pelas experiências negativas causadas por uma mãe excessivamente nutridora e pelos colegas e parentes que não toleravam sua obesidade.

O penúltimo conto narra os desencontros de três adolescentes que, em um período de férias, tentaram dar um sentido especial a um objeto que encontraram em um antigo farol à beira-mar. Uma das personagens é uma

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menina com macacão de mecânico segurando um machado afiado, a qual encantará dois garotos frágeis em uma noite de vento forte e chuva torrencial.

Como desfecho, temos a história de um menino que um dia expressou compaixão por um animalzinho manco: um pinto. Tempos depois, Martim tentaria se libertar dos aparentes determinismos que a vida tentaria lhe impor, tendo como ajuda um monstro imaginário e um bando de criaturas horrendas que passariam a acompanhá-lo, amorosa e fielmente, por toda a vida.

São sete narrativas que reservam descobertas, estranhamentos, separações e encontros, em meio a uma natureza que participa com força impressionista e até mesmo surreal.

O leitor encontrará fantasmas de outras espessuras, emanados das angústias, mas, também, das soluções criadas pelos personagens. Esta é, portanto, uma obra que enfatiza o terror e o mistério dotados de carga psicológica.

Se por um lado a adolescência pode parecer assombrosa, ela engendra igualmente a possibilidade de que seu alumbramento ofereça à vida fortes matizes de poesia e de beleza.

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Adriano Messias
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1 Aluado

Nascido e criado à beira da estrada da fazenda, muitas vezes se escondendo no meio de uma casinha de telhas perdida dos olhos dos outros devido à altura do capinzal, aquele menino, em noites de lua gorda, cismava de olhar fundo. Era de um halo borrado o círculo que se fazia em volta do astro vermelho toda vez que iria esfriar. Ele, deitado ao lado do monjolo, renascia de suas pequenas dores ao ver, em um ponto do céu, subir aquela esfera que chamavam lua.

Explico: na roça, quando vai fazer frio, vê-se em torno daquele astro um círculo que indica, na certa, que ventos gelados vão cortar os campos.

– Estou cansado, avozinha, de ver essa lua que fica vermelha. E também não posso correr pelo pasto, que lua cheia me dá enjoo.

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A ideia que ele teve foi de abrir um guarda-chuva imenso que vivia escondido no paiol. Era daqueles modelos antigos, com uma ponta projetada para cima, e os antigos temiam que funcionasse como para-raios. Se era lua cheia, o menino gostava de correr acelerado com o guarda-chuva aberto, arrancando com o pé pequenas touças de capim na terra mole. Era uma tentativa de fugir da estranha mania que a lua tinha de enfeitiçá-lo. Havia muito céu em volta dele naqueles arredores cercados pelas copas das árvores tortas do cerrado. As estrelas de nada serviam para protegê-lo.

“Nenhuma estrela me distrai.” – pensava. O guarda-chuva, como uma máscara totêmica, ia assustando quem ao longe da estrada passava, uns últimos roceiros voltando das capinas. Porque, na linha do horizonte, logo acima do capim alto, entre uma árvore e outra, aquilo parecia parte de um bicho estranho, com um chifre só, unicórnica visagem prateada pelo luar. E o corno ia célere, flutuante, cortando os arbustos da mata-galeria, lá para os lados do rio, onde muita coisa estranha já se tinha visto.

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Ponta do guarda-chuva, assombração!

Era muito estranha a sensação de ser um garoto afetado pela lua. Naqueles instantes enluarados, ele ficava pálido, um palito, varapau. Era como um fantasma, um morto errando sobre os campos gerais. Tinha uma luz mortiça tudo aquilo que o envolvia, argentando o imenso campo salpicado às vezes por pirilampos.

Um bonito menino de sardas, estrelas no rosto que também cintilavam à força do luar. E, ao redor das sardas, certa noite, começaram a despontar brilhantes pelos, como se uma barba rala insistisse em nascer. E era mesmo uma barba, ora! À força de ser homem – e assim é que seria –, as coisas todas ficariam abandonadas para trás: a gangorra, a pinguela, o cavalo de pau e as balas de coco.

Era da alvorada de todo menino tornar-se homem por uma diversa força lupina. Os pelos cresciam por toda parte onde um rapaz os devesse ter. Não só no rosto, mas nos braços, nas pernas, no escondido da nudez.

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No rio que cortava o campo adiante, onde a lua também se fazia penetrar, as águas tocavam de leve os pés do menino-lobo, e as aves assustadas, cheias de penugem, saíam em revoada, incomodadas pela presença ameaçadora de um quase-cão.

Ai, que ardente era o calor que lhe cobria a face naquelas noites de lua vermelha! Aquele anel em volta do astro, coisa que se vê antes na roça do que na cidade, era também uma aura que firmava seus pés no chão. Fincava-os bem na terra, e depois, a contragosto, passava a girar e a esfregar o ventre sobre o capim baixo, em movimentos de vaivém. Contorcia-se convulso, e era como se uma pequena morte o invadisse após o frenesi. Apesar de prazeroso, era assustador começar a entender das coisas de lobo.

Foi a moça da casa do vizinho que certa vez o vira daquele jeito, ela bem escondida atrás das treliças de uma janela colonial. Ele estava tão desolado e solto. Um brilho fosforescente empalidecia ainda mais sua nudez. Quando a percebeu de soslaio, quis fugir, mas talvez fosse tarde. Seus dentes estavam protuberantes, assim como a cauda, que se levantava

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