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Ficção ontem, pesquisa hoje, realidade amanhã

Imersos na tecnologia em saúde, estudantes da UFU pesquisam bioimpressão e inovações da área

Glossário:

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Biomateriais: material, natural ou artificial, ou junção de materiais usados para substituir, aumentar ou tratar algum componente do corpohumano.

“Os limites do possível só podem ser definidos indo além deles, para o impossível”, disse Arthur C. Clarke, escritor britânico de clássicos da ficção científica que previu a tecnologia atual e a forte relação de dependência que viríamos a ter. Com filosofia parecida, o professor e tutor do PET Engenharia Biomédica da UFU, Alcimar Barbosa, defende que, para imaginar a saúde do futuro, é necessário pensar “O que é a ficção científica de hoje, que será realidade no futuro?”

A partir dessa visão, o PET definiu o tema do XIV Simpósio de Engenharia Biomédica (SEB): “Engenharia do Amanhã”, segundo evento mais importante da área no Brasil, que acontecerá entre os dias 21 e 23 de novembro deste ano. O objetivo é trazer palestras e atividades para aproximar os estudantes das inovações de tecnologia em saúde, além de entender melhor as demandas do público, ao unir o laboratório às clínicas e instituições.

Algumas dessas inovações já são objeto de estudo no curso de Engenharia Biomédica da UFU, como a bioimpressão. Mais do que uma simples impressão 3D de próteses e equipamentos médicos, o método possui ambições ainda mais transformadoras. Márcia Mayumi, coordenadora do curso de Engenharia Biomédica e especialista em biomateriais, define que a técnica consiste no uso de células vivas, em conjunto de biomateriais, para construir um substituto biológico ou órgão.

Parceira de Márcia nas pesquisas sobre bioimpressão, a professora do curso de medicina, Letícia Filice, afirma que “teoricamente é possível fazer qualquer coisa, desde que haja interação entre os diferentes tecidos do organismo”. Segundo ela, o sonho de produzir órgãos funcionais move a pesquisasobreotema.

Biotinta: composto de células e outro biomaterial, dá a sustentação paraaestruturaquegeraotecido.

Entretanto, Letícia frisa as várias dificuldades que existem no processo. Para manter a célula viva, existe um conjunto de variáveis, como pressão, temperatura, e a própria composição da biotinta. Por isso, a utilização das construções bioimpressas é restrita a usos específicos, como testes e setores da indústria alimentícia, mas ainda sem aplicações em humanos.

As pesquisas

As previsões de Arthur C. Clarke vão ao encontro de pesquisas desenvolvidas na UFU. A graduanda em Biotecnologia, Laura Duarte Guimarães, investiga a praticidade da bioimpressora. O equipamento é a ferramenta mais valiosa de sua pesquisa e pode ser encontrada no Laboratório de Nanobiotecnologia do campus Umuarama.

A estudante procura pelos materiais mais adequados para o processo da bioimpressão, a fim de descobrir o ideal para construir uma pele artificial futuramente. No entanto, Laura ressalta alguns pontos que tornam a investigação ainda mais desafiadora.

Para um material passar pela agulha da bioimpressora, ele precisa estar líquido, e ao cair na mesa de impressão, a substância precisa se solidificar e formar o objeto impresso — sendo necessário o domínio de alguns concei- tos da física. Além disso, os materiais demandam propriedades biológicas com características específicas, como ausência de toxicidade e temperatura adequada. O não cumprimento desses itens destruirá a célula na qual forem aplicados.

Nessa direção, a técnica, ainda em desenvolvimento no Brasil e no restante do planeta, tem na iniciativa privada uma grande aliada. Desde a fundação da primeira empresa do ramo, em 2007, o setor passa por um grande processo de ascensão, no qual os empreendimentos fornecem ferramentas, materiais, serviços e aplicações em bioimpressão para apoiar a comunidade de engenheiros de tecidos e visionários de substituição de órgãos.

Do laboratório à clínica

Incontáveis utopias são imaginadas quando se fala do futuro tecnológico e medicinal. Yuval Noah Harari, no livro “Homo Deus: Uma breve história do amanhã”, discute que, no futuro, seres humanos poderão chegar à imortalidade graças à união da tecnologia e da biotecnologia. E a humano. O feito, publicado na revista Advanced Science'', obteve um órgão de três centímetros, no qual as células conseguiram contrair, mas não bombear. Dessa forma, o órgão ainda não era funcional, necessitando de maiores estudos.

Quando transpassar essas barreiras, o método irá colaborar na mitigação de problemas como a fila de transplante de órgãos. “Posso construir um coração para quem não tem doador compatível; ou ajudar pessoas com queimaduras muito extensas, que precisam substituir a pele e não tem de onde tirar”, diz Letícia, que vislumbra um futuro onde tal tecnologia estará no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, ela estaria realizando o que o professor Alcimar considera o propósito da tecnologia em saúde, “ver alguém tendo uma vida um pouco melhor com o resultado do que você fez”. 

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