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Qual é o preço que se paga?

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que sobreviver”

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Índices de inflação aumentam e consequências se tornam grandes fardos para universitários

POR GIOVANNA TROVÓ E ISABELLA BREVE

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Segunda-feira, 5h da manhã. Laryssa levantou da cama, tomou café da manhã e se preparou para enfrentar mais um dia. Quando o relógio marcasse 6h40, o ônibus com partida do Campus Santa Mônica sairia em destino ao Campus Umuarama, onde ela teria suas aulas e seu estágio. A rotina era apertada e não havia tempo a perder, muito menos forma de aproveitar o café da manhã proporcionado pela universidade, como tinha direito.

Este é o relato de uma estudante de enfermagem, Laryssa Candida, que apesar de pessoal, é semelhante aos de muitos estudantes da UFU que passam por dificuldades financeiras. Por conta da inflação e da falta de apoio financeiro da universidade, esses jovens têm que se desdobrar para manter seus estudos.

O economista Benito Salomão explica a inflação como uma “doença da moeda”. O aumento dos preços é uma consequência de causas que estão compreendidas no atual momento. “Nós tivemos um choque de oferta relacionado às mudanças de cadeia de suprimento por conta do isolamento da Covid-19, somado a Guerra da Rússia com a Ucrânia”, explica. Isso inviabilizou a oferta de energia, petróleo e derivados, “Assim, o petróleo subiu de preço, e interferiu em outros valores, como os derivados e frete. É um efeito em cadeia”, conclui.

Quando a inflação sobe, certos grupos perdem o poder de compra, e consequentemente, o salário não chega até o fim do mês.

Os relatos evidenciam o impacto da inflação brasileira diretamente na qualidade de vida dos universitários, bem como da população. Dados recentes divulgados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a inflação do país segue entre as mais altas do mundo - ela atingiu 11,7% no acúmulo dos últimos 12 meses.

O impacto dos cortes

Através do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), estudantes de baixa renda conseguem ter acesso ao ensino superior. Com o financiamento ofertado, as universidades remanejam recursos para bolsas estudantis, auxílio moradia, transporte e alimentação aos que necessitam. Na UFU, a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PROAE) é o órgão público responsável por esse remanejamento. Além das ações mencionadas, a PROAE também oferece recursos nas áreas de cultura, lazer, saúde, apoio pedagógico e inclusão digital.

Elaine Saraiva Calderari, PróReitora de Assistência Estudantil, expõe que a universidade vem sofrendo cortes desde 2016, totalizando uma perda de 18%sendo uma diminuição de verba significativa entre 2017 a 2018, que reduziu uma média de R$ 2,5 milhões.

“O valor do auxílio não corresponde com a vida que os universitários precisam levar”, conta o aluno da UFU, João Gabriel Machado. Tal fato não passa despercebido pela PROAE, como menciona Elaine. “Se houver um reajuste no subsídio para os estudantes, haverá, consequentemente, uma redução de 25% no número de alunos assistidos”. Ela comenta que, desde 2016, não conseguem prestar assistência à classe C, apenas a D e E.

Outro ponto crítico é o aumento generalizado dos preços nos alimentos. Tem se tornado uma realidade para grande parte da população brasileira deixar de consumir alimentos básicos ou realizar substituições mais baratas. O Brasil, conhecido por ser um dos principais consumidores de carne do mundo, teve uma queda no consumo de 14% em relação a 2019, sendo este o menor em 25 anos. Visando sua substituição, o ovo aparece. Segundo o Relatório Anual de 2022, da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo de ovos registrado foi de 257 unidades por habitante, quantidade essa que em 2010 era quase a metade. “Meu consumo de care se restringe ao que é oferecido no restaurante universitário. Por conta dos preços, tenho conseguido comprar apenas ovos”, conta Laryssa. O aumento do índice da inflação brasileira reflete diretamente no bem-estar e no futuro dos estudantes, que muitas vezes precisam trabalhar para garantir seu sustento. Laryssa, que mantém dois estágios, se vê em uma rotina desgastante e corrida, que afetou a sua saúde. Ela declara ter uma alimentação defasada, decorrente do pouco tempo e dinheiro disponível, que acarretou na queda de sua imunidade.

O lazer também é um fator que tem sido constantemente afetado pelo aumento dos preços. João Gabriel diz não conseguir acompanhar os programas de fim de semana dos amigos, considerando que eles frequentam locais que não cabem em seu orçamento. Enfrentando uma realidade parecida, Laryssa não consegue, por motivos financeiros, ter momentos de lazer. A estudante conta que usa os finais de semana para realizar trabalhos informais - para obter uma renda extra. Nas raras vezes que sai, seu destino é o Parque do Sabiá, por ser gratuito.

O futuro é incerto. João Gabriel está na busca por um emprego; Laryssa, futuramente, necessitará deixar um de seus estágios, fonte de seu sustento, para cursar disciplinas práticas que foram interrompidas pela pandemia. Cada um desses estudantes possui uma história diferente. O que eles têm em comum? O preço a se pagar para conseguir estudar. 

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