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Com sabor de chocolate
Pesquisadora fala sobre produção e aplicações do plástico biodegradável e comestível
POR SARAH AGUIAR E LUÍSA CARDOSO
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Plástico aprovado para consumo e biodecomposto em 30 dias: essa foi a meta da pesquisa realizada pela professora Marcia Regina Aouada, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), no início do mês de fevereiro deste ano. A fabricação teve como base a gelatina incolor do tipo B, isto é, a gelatina comestível, uma substância amplamente disponível no mercado. Também foram adicionados outros componentes, como o óleo essencial de pimenta-preta e uma argila chamada "cloisita-Na". O estudo também abrange embalagens comestíveis, que contém nanoestruturas (na ordem de bilionésimos de metro) derivadas de purê de couve, cacau, cupuaçu, extrato de camu-camu e mais uma variedade de elementos.
microbianas, que ajudam o hambúrguer a não se contaminar.
Senso (in)comum: É possível produzir plásticos comestíveis com outros componentes?
Marcia Regina: Trabalhamos com embalagens que tem purê de fruta, já desenvolvemos um de couve. Aquela couve no supermercado que ninguém compra, por exemplo, nós a recolhemos e fazemos um tratamento para extrair o purê, que vem com todas as vitaminas da verdura. Assim, a partir dele, produzimos uma embalagem comestível.
Senso (in)comum: Como é a decomposição desse plástico biodegradável?
Marcia Regina: Não gosto de dizer que é um material biodegradável, porque todo material é — até o plástico comum; só que alguns degradam mais rápido. Quanto ao nosso plástico, depois de fazer testes de biodegradação, percebemos que, se colocarmos sobre o solo, em 30 dias ele já foi absorvido. Quando você enterra, o tempo é ainda menor: entre 18 a 20 dias. Esse solo não fica tóxico nem inapto a qualquer cultura.
Senso (in)comum: E no mercado, qual é a sua duração?
do componentes, pensando nos produtos que vou ter ao final.
Senso (in)comum: Pessoalmente, como foi fazer a pesquisa?
Marcia Regina: Foi um desafio, nós terminamos de desenvolver e fazer toda a parte de escrita durante a pandemia. Naquele momento, foi complicado conseguir os resultados, fazer a discussão, desenvolver os materiais, pensar na aplicação. Foi cansativo, mas nós conseguimos entregar a dissertação de mestrado da minha aluna, as publicações e as ramificações dessa pesquisa.
Marcia Regina é doutora em Química pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e, neste ano, ganhou o primeiro Prêmio Mulheres Pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), na área de Engenharia. Em entrevista exclusiva para o Senso (in)Comum, a professora conta sobre o processo de pesquisa e elaboração do plástico, como funciona sua decomposição e as possibilidades de uma produção em larga escala.
Senso (in)comum: Por que produzir plástico a partir desses produtos?
Marcia Regina: Esse trabalho utiliza a gelatina extraída do tutano de boi, pela disponibilidade que temos no Brasil. A argila foi colocada para melhorar a propriedade mecânica, a resistência e a eficiência da embalagem. Um dos maiores acertos foi trabalhar com o óleo essencial da pimenta preta. Como a ideia inicial era produzir uma embalagem para hambúrgueres, pensamos em um material que, além de prolongar o tempo na prateleira, chamasse a atenção do consumidor. O óleo também tem propriedades anti-
Marcia Regina: A degradação no solo é diferente se comparada a da prateleira. Biodegradação é a interação do material com os componentes que estão na terra, que vão acelerar o processo. Na prateleira temos outros problemas: luz, umidade e variação de temperatura. Eu tenho embalagens há mais de dois anos nessa condição e elas continuam com as mesmas características. Em algumas, até o próprio odor continua.
Senso (in)comum: Então, ele pode ter a mesma aplicação que os plásticos comuns?
Marcia Regina: Sim. Conseguimos modificar esses materiais para terem uma estrutura parecida com os materiais tradicionais, só que esses têm as barreiras de água e oxigênio excelentes. Até por isso, uma coisa importante é não achar que o produto alternativo é — ou deve — ser idêntico ao tradicional. Desde que consiga suprir todas as necessidades, ele serve.
Senso (in)comum: Qual a viabilidade de produzir esse plástico em larga escala?
Marcia Regina: Toda empresa me pergunta isso. Você tem que conseguir escalonar, senão a sua pesquisa não vale como inovação. Sim, eu consigo fazer baldes desses materiais. Eu só preciso me adequar a solução que vou trabalhar: modificando e adicionan-