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PARA MOVIMENTAR A Tríade das Mulheres Atletas

Como mulheres são afetadas pelo excesso e compulsão no esporte?

POR JANAINA BERNARDINO E MARIA EUGÊNIA LIMA

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O ouro os espera

POR CAMILA E MILENA

A DISFORMIA CORPORAL - FOCO OBSESSIVO NO PRÓPRIO CORPO - E CONSEQUENTE NECESSIDADE EM DIMINUIR O PESO SÃO FATORES QUE INFLUENCIAM NO DESENVOLVIMENTO DA TRÍADE DA MULHER ATLETA - FOTO MARIA EUGÊNIA LIMA

Nadadoras, bailarinas, tenistas, maratonistas, ginastas… O número de esportistas do sexo feminino tem crescido em diversas modalidades e grande parte delas obtêm importantes benefícios à saúde com a prática regular de exercícios. Entretanto, aquelas que se exercitam sem moderação estão suscetíveis a desequilíbrios provocados por causas não naturais. Tal como a Tríade da Mulher Atleta (TMA), síndrome em que o organismo precisa se adaptar fisiologicamente aos exercícios físicos intensos, provocando sérias implicações.

"Tripé": Distúrbios alimentares, amenorréia e osteoporose: são estes os sintomas que envolvem a Tríade da Mulher Atleta, sinalizada pela baixa disponibilidade energética. Não se alimentar adequadamente à sua performance esportiva implica ter energia e índices de estrogênio reduzidos, tornando-se mais suscetível às condições da tríade, isoladas ou combinadas. Os transtornos alimentares englobam uma esfera de comportamentos nutricionais restritivos causados, sobretudo, por fatores psicossociais e motivações de imagem corporal. A amenorréia, por sua vez, é a ausência ou disfunção do ciclo menstrual, em razão dos desequilíbrios hormonais causados pelos transtornos alimentares decorrentes. Resultante da redução da produção de hormônios ovarianos, a osteoporose provoca diminuição da densidade óssea, viabilizando fraturas e lesões. A perda de massa óssea é comum na menopausa ou após os 60 anos, porém pode ocorrer precocemente em mulheres com alta demanda esportiva e baixa ingestão calórica.

Bastidores: Sabendo que padrões estéticos historicamente recaem com mais intensidade sob o público feminino, não é surpresa que mulheres recorram a métodos prejudiciais para se adequarem a um peso corporal irrealmente baixo. No cenário esportivo isso não é diferente. Atletas do sexo feminino tendem a desenvolver distorção da percepção corporal e transtornos alimentares, conforme comenta Anna Valéria Gueldini — especialista em ginecologia e obstetrícia. “Todas as meninas e mulheres fisicamente ativas estão sob risco de desenvolver um ou mais componentes da tríade, principalmente durante a adolescência, em que há maior preocupação com o corpo e se internalizam mais as pressões estéticas”. Ela ainda afirma que algumas modalidades estão estatisticamente mais relacionadas com a TMA, como esportes que valorizam o corpo magro — ginástica artística e balé — e que exigem o uso de roupas justas ao corpo — natação, corrida e ciclismo.

Vida Universitária: Entre competições, treinos e estudos, as atletas universitárias enfrentam dupla jornada e duplo desafio quando desenvolvem TMA. Frente a essa realidade, Ana Paula Magalhães — docente do curso de Fisioterapia da UFU e atuante na área de Fisioterapia na Saúde da Mulher — declara: “não tenho dúvidas de que é mais desafiador para as universitárias. Elas precisam equilibrar provas, atividades acadêmicas e treinos. Muitas vezes não tem condições de cuidar adequadamente da alimentação”.

O sol estava radiante. Pássaros sobrevoavam o céu azul. O semblante do dia era de sucesso. Jorge corria em uma pista de 200 metros, enquanto a arquibancada vibrava. Dentre a multidão, quem realmente significava era sua família. Desde seu acidente em que lhe foi roubado o movimento de um dos pés, o atleta não esperava, tão cedo, participar de novas competições.

Motivado a atravessar a linha de chegada — que se encontrava próxima —, cansado e com sede, estava perto de mais uma conquista. Ao findar, ouviu uma voz ecoar por sua cabeça. Poderia ser qualquer outro ruído, mas era seu filho — um dos frutos mais maduros colhidos em vida. Aquela doce e aguda voz se aproximou e permaneceu, claramente, em seus ouvidos.

CARACTERÍSTICO DA TMA, O DÉFICIT ENERGÉTICO AFETA NEGATIVIDADE O DESEMPENHO DE EXERCÍCIO E REDUZ O CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO EM 28% NAS ATLETAS (FONTE: TRÍADE DE MULHER ATLETA - DRA. ANNA VALÉRIA). FOTO: MARIA EUGÊNIA LIMA

Prevenção: Ações preventivas e de identificação são cruciais, principalmente na adolescência ou início da fase adulta, em que a ausência de aporte energético e nutrientes adequados podem levar a graves consequências. Pensando nas jovens atletas, as complicações da TMA podem tornar a experiência universitária um grande emaranhado de impedimentos fisiológicos, emocionais e sociais. “Antes de intensificar seus treinos, procure um ginecologista para monitorar o ciclo menstrual, avaliar a massa óssea e atualizar os exames de rotina da saúde da mulher. Procure um especialista em medicina esportiva para determinar sua proposta de treino”, recomenda Anna Valéria Gueldini, especialista em ginecologia e obstetrícia. Ela ainda aconselha a supervisão de um educador físico para monitorar a evolução dos treinos e ter dieta orientada por nutricionista; além de suporte psicológico e familiar. 

Voz essa que parecia flutuar em sua direção. Os braços estendidos para um abraço forte, juntamente com gritos estridentes que pronunciavam incansavelmente as palavras “papai”, resultaram em dois triunfos: o êxito na corrida e o privilégio de ter ao seu lado o torcedor número um. Maria compartilha, também, do mesmo sentimento acolhedor de Jorge, com suas duas melhores companhias: ela mesma e sua cadeira de rodas.

No pódio, coração acelerado. Com delicadas e trêmulas mãos, Maria tocou sua primeira medalha. A prata fria era como ouro ardente, abrasador. O contato acalentou seu coração, e a fez acreditar que aquele espaço realmente a pertencia. Em poucos minutos, todo o suor derramado e a dedicação rotineira se transformaram em um único sentimento: gratidão.

Alguns afirmam que a cadeira é um fator limitante. Ora, se foi ela que levou Maria a um dos momentos mais especiais de sua existência, como pode ela limitar? Seria a prática do esporte traduzida em se (re)descobrir a cada progresso? A energia motriz para trilhar um caminho de vivências turbulentas e, ainda assim, açucaradas?

Mesmo que o mundo pareça inóspito, certos ápices do viver definem sensações indescritíveis. Assim, eles seguem, apesar de suas realidades diferentes, à caminho de uma mesma direção: o ouro.Avitória, com certeza, eles já alcançaram. 

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