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Proibido para menores de 65 anos

Marcado por tabus, o envelhecer pode ser de (re)descobertas e recomeços

POR: GABRIEL REIS E GIOVANNA ABELHA

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ão me recordo do nome que tinha quando nasci. Havia dias em que acordava sendo Maria. Quem nunca foi Maria? Do Carmo, Das Dores e até Aparecida. Tudo dependiadosvendavaisqueinundavamaminhacasa.

Certo dia, um vento gelado entrou pela porta da frente. Então, fui Maria Catarina. De nariz em pé, rígida e sensual. Talvez isso tenha chamado a atenção do rapaz de sorriso bobo, desalinhado e que, por ironia do destino, seria com quem eu passaria os próximos 32 anos.

Ao seu lado, eu variava entre ser Alice e Clarice. Eram charmosas, fingiam surpresa a cada frase repetida por ele e frequentavam os longos jantares com um sorriso alinhado.

Com o tempo, as surpresas já não me surpreendiam tanto. Esqueci como ser Clarice e o nome Alice eu já nem sabia escrever. Ele dizia que a idade estava me tornando seca, amarga e até louca.

Então, passei a ser Susana.

Quer nome mais seco que Susana? Impossível! Nesses dias, me faltavam adjetivos que expressassem tamanha sequidão destinada aos filhos e à dolorosa rotina. As coisas simplesmente aconteciam e eu passava por elas. Por outro lado, seriam eles que me acompanhariam por toda vida se eu não fosse uma mulher curiosa.

Aos 56, no auge dessa minha curiosidade, havia semanas em que eu era Gabriela, só Gabriela. Único, simples, meu. Ser Gabriela era fantástico, as pessoas me estendiam as mãos e me desejavam. Mas era rápido, ela vinha e ia embora; deixava apenas seu aroma como lembrança.

Em um dos picos de curiosidade, descobriquenenhumadelas,em32anos,havia sido suficiente para o rapaz desalinhado. Enquanto eu era Alice, ele procurava Patrícia; enquanto era Susana, ele procurava Morgana e assim por diante. Mas, eu estava viciada eembriagada demais emser Gabriela.

Quando finalmente me agarrei à sua magia, encontrei o amor nas danças da vida. Ao seu lado, poderia ter o nome que quisesse, e o rapaz desalinhado tornou-se apenas uma lembrança amarga. Aos 65, ainda existem dias em que sou Gabriela. Me olho nua no espelho, vejo a beleza de uma vida inteira e não abro mão de todas aquelas que já fui. Hoje sei que nasci assim, cresci assim mas duvido que serei sempre assim. O nome de batismo pouco me importa. Quem serei mas tenho certeza de que não tenho medo de me lançar às incertezas

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