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Lembranças que vão na mala

Programas de Mobilidade Acadêmica possibilitam novas formas de aprendizado e trocas culturais.

POR JÚLIA VIDOTTI, LEÍSE ALVES E MARIA EDUARDA KOYAMA

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A atuação

Lágrimas de saudade escorriam pelo rosto de Giovanna a cada quilômetro percorrido pelo ônibus. Pensamentos giravam em torno de todas as memórias que viveu naquele lugar. Depois de semanas de convivência e muito amor, a estudante de veterinária não queria se despedir da sua nova amiga: a onça Kiara.

Durante seu estágio no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (CETRAS) em Patos de Minas, Giovanna Padilha teve sob seus cuidados uma onça parda que havia ficado órfã aos 15 dias de vida. Kiara não podia ser humanizada, mas precisava receber amor.

aprendermos a viver com as diversidades, principalmente para compreender o outro na sua diferença, independente da natureza, região, até mesmo da unidade da federação de paz e nacionalidade.”

Lorena Costa é outra universitária que teve a vida mudada após uma experiência de mobilidade nacional. Nascida e criada em Minas Gerais, ela não conhecia muitas espécies marinhas, mas sabia que era com isso que queria trabalhar. Depois de muito insistir, a estudante de veterinária foi aceita no seu primeiro estágio em marinhos, no aquário de Ubatuba (SP), em janeiro de 2020. Lá, ela ficava encarregada de informar aos turistas sobre educação ambiental e o impacto dos lixos na vida dos animais. Mais tarde, sentiu-se pronta para explorar novos mares e se inscreveu no Projeto Manatí.

GIOVANNA PADILHA

Sendo alimentada, pesada e tendo a temperatura medida diariamente, o carinho entre as duas crescia a cada cuidado. Sua maior dificuldade foi separar o emocional do que realmente impotava ali: a parte ética da profissão.

O programa Andifes/UFU de Mobilidade Acadêmica Nacional oferece aos alunos a oportunidade de entrar em contato com novas culturas em outras Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). De acordo com a socióloga e professora de antropologia Maria Angela Soares, “as trocas culturais são importantes para

O funcionamento da Mobilidade deve se adequar à Instituição que a oferta. Nesse caso, o aluno precisa se inteirar das especificações presentes nos editais e acompanhar os portais oficiais das Universidades parceiras, para não prejudicar a formação acadêmica durante o processo. Cabe ressaltar também a importância de conversar com as coordenações do curso de origem e chegada, a fim de esclarecer possíveis dúvidas.

Para Noézia Ramos, professora e coordenadora do programa de Mobilidade Nacional, a importância da mobilidade é trazer complementaridade para a formação dos alunos. Não só na teoria, como também na prática, pois proporciona experiência em diversas áreas da graduação.

“Seja da saúde, das exatas ou até mesmo das sociais aplicadas, nós temos diversas metodologias. Mesmo sendo universidades federais, cada uma tem a sua especificidade didática de ensino”.

No auge da pandemia, a estudante foi para Icapuí, pequeno município do Ceará, onde atuou na reabilitação e soltura de filhotes de Peixe-Boi. Com a mente aberta, Lorena chegou no vilarejo pronta para compartilhar experiências. Os moradores da comunidade tinham plena noção da importância do trabalho da estudante e faziam de tudo para ajudar na preservação da espécie. No decorrer de um mês, ela pegava um caiaque até o meio do mar, onde ficava o cativeiro. Trabalhava sozinha por seis horas diárias, e novamente em seu caiaque, retornava à ilha. “Vocês são guerreiros, eu não conseguiria ficar aí em cima”, diziam os pescadores, cientes da paixão dos estudantesportudoquefaziamali. Esses projetos proporcionam aos alunos experiências através da própria Universidade. No entanto, Noézia comenta sobre a baixa adesão ao programa. “A falta de um auxílio por parte das instituições inviabiliza essa oportunidade para os estudantes que não possuem condições de arcar com as despesas”. Independentemente de como a viagem é realizada, todo universitário traz na mala uma série de novas lembranças e aprendizados que impactam diretamente a vida pessoal, acadêmica e profissional. Em 23 de julho, Kiara chegou no Zoológico Municipal de Uberlândia. O coração de Giovanna apertou a cada passo dado em direção à gaiola. Pelo barulho, a onça andava de um lado para o outro, incomodada com o novo ambiente. A estudante olhava sua amiga com grande preocupação de não ser reconhecida. Por longos segundos, Kiara parou e olhou fixamente para o fundo dos olhos da antiga cuidadora. Naquele momento, era possível sentir o laço que construíram. Ainda que trancada em uma gaiola, Kiara soube que não precisava mais se sentir solitária, porque Giovanna estaria sempre ali. 

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