17 minute read
Albertina Fernandes
from Conta-me um Conto
by rosammrs
Fica-lhe tão bem Quer por dentro quer por fora O amigo Zé É quem a namora
É quem a namora Quem a namorou Ao sair da escola A mão lhe apertou
Advertisement
A mão lhe apertou Muito bem apertadinha Ao sair da escola Ficou casadinha
Ficou casadinha Ficou muito bem Batamos a palmas Olaré, meu bem!
Eu ficava sensibilizada com o protagonismo que sempre me davam, mas corava muito quando tinha de apertar a mão do ‘noivo’; o escolhido também não se sentia muito à vontade, e, logo que a roda se desfazia, corria para junto dos outros rapazes, que se entretinham com atividades mais masculinas, seja jogar à bola de trapos ou fazer corridas com arcos de pipas velhas, acionados por uma haste de arame. Fui, pois, sempre assim, uma criança responsável.
9
Um dia, porém, dei por mim a pensar com todas as forças: “Basta, Ritinha! Chega de seres a menina modelar que todos tratam tão bem! Quero fazer como os outros, falar como eles, praticar ações interditas, desobedecer... Quero sentir-me com outra ‘pele’. Nem mais um dia de espera para concretizar este desejo! Por onde vou começar? Ah, já sei!” E, disfarçadamente, roubei uma borracha à minha colega de carteira. Eu sabia que os seus pais eram muito pobres e não tinham possibilidades de lhe comprar material escolar. Mas não quis que esse facto abalasse a minha decisão, embora o coração batesse com mais força e a mão tremesse. Consegui! Quando a colega se virou para trás, a pedir um lápis, eu, zás! Enfiei a borracha no bolso da bata e, como se não se tivesse passado nada de anormal, continuei a escrever a parte final da minha composição – curiosamente, a composição tinha como título A primeira boa ação do dia! A minha atrapalhação não foi notada e eu respirei de alívio. De regresso a casa, segui, sozinha, por um caminho mais isolado e, a dada altura, sentei-me numa pedra e disse, em voz alta, uma série de palavrões, que não vou reproduzir aqui, por serem impróprios de uma criança. Olhei à minha volta: ninguém... “Ainda bem – pensei – se alguém ouvisse, que vergonha!” Reparei, então, que, perto de mim, uma inocente lagartixa se estendia, descuidada, a receber o sol do meio-dia. Era pacífica, não estava a fazer mal a ninguém... A ocasião não podia ser mais favorável: com um pau, pressionei a cauda do pobre bichinho, que, ao tentar libertar-se, perdeu parte
10
dela. Tive um arrepio ao observar que a parte que se soltara do corpo saltava como se estivesse viva e quisesse unir-se à parte que fugira. Pensei que sim, que isto é que se podia chamar uma verdadeira maldade. Cheguei, finalmente, a casa. A minha mãe olhou para mim, voltou a olhar... Eu sentia que ela me observava, mas os meus olhos permaneciam baixos, comprometidos. Será que a minha mãe detetou em mim algo de diferente? Notar-se-ia assim tanto a minha mudança? A voz da minha mãe chamava-me com meiguice, como sempre.
Não fui logo, logo. Uma coisa cá dentro me prendia no quarto. Seria a voz da consciência a começar a trabalhar? Não o sabia explicar, mas o que é certo é que o leite com chocolate e o pão com manteiga - de que tanto gostava , nessa tarde, não tinham o mesmo sabor. Comia, mas era quase desagradável, não sei até se eu achava que, no meio do pão, se me afigurava a cauda da lagartixa... Tive de desistir de comer. “Que tens, Filha, estás a ficar doente? Tu, sem apetite? É estranho, comes sempre com tanta vontade...” Um aperto na garganta incomodava-me e não deixava a comida passar. O que estaria a acontecer-me? Chegou a noite. Dentes lavados, pijama vestido, cama, sono... Sono? Esse não vinha. Dava voltas e mais voltas e os olhos, embora fechados, viam tudo claramente: a minha companheira à procura da borracha, a pobre lagartixa a fugir, deixando atrás um pedaço do próprio corpo, que continuava aos saltos descompassados… a minha voz, soltando palavrões, tão feios que sentia um rubor intenso a
11
inundar-me o rosto. Quando, enfim, adormeci, fui acometida por um sonho perturbador: a lagartixa cresceu assustadoramente, cresceu tanto que mais se assemelhava a um horrendo crocodilo, e voltava atrás, à procura da cauda perdida; procurava as minhas mãos, os meus dedos, e eu não conseguia fugir daquele lugar. A minha companheira, de cabeça dilatada e riso sinistro, acusava-me à professora. O seu dedo indicador crescia, crescia sempre, quase tocava a minha consciência, e a professora, de olhos redondos e vermelhos, indignada e medonha, expunha o meu roubo perante a turma. Eu não conseguia articular palavra. Queria desaparecer... Mas todos os meninos e meninas da sala me estendiam o dedo acusador, que era, no fundo, o da própria professora, transformado nos braços de um polvo cruel. Repetiam, ao mesmo tempo, em altos gritos, os palavrões que eu pronunciara na esquina do caminho. Acordei banhada em suor, e tão cansada como se tivesse passado a noite a subir e descer montanhas. E não precisei de pensar mais: logo que cheguei à sala de aula, procurei o momento certo para recolocar, no seu lugar, a borracha, que não me pertencia. Respirei de alívio e parte do peso começou a abandonar a minha consciência e a deixar normalizar as batidas do meu coração. E as outras duas maldades? Como repará-las? Devolver a cauda à lagartixa era impossível. Apagar da minha boca aqueles palavrões horríveis, igualmente impossível. Então, escrevi, desabafei com o papel o que me atormentava. Fiz uma cópia do texto e fui colocá-lo sobre a cómoda, no quarto da minha mãe. O original guardei-o numa caixa,
12
fechada à chave, como se, desse modo, aquela atitude que tanto me andava a perturbar ficasse, assim, encerrada para sempre. Estava, finalmente, aliviada. Ia voltar a ser a Ritinha, igual a si própria, a Ritinha que gostava de cumprir, de ser correta e educada, de se sentir respeitada e de respeitar as pessoas à sua volta. Hoje, ao escrever estas palavras, volvidos já muitos anos, reconheço, ainda, que o facto de ter fechado a minha confissão numa gaveta não impediu que a memória me devolvesse este episódio... Sabe-se lá porquê...
13
O CÃO QUE PRECISAVA DE SABER FALAR
Não era ‘nobre’, não tinha pedigree, era apenas um rafeirito que aparecera, uma tarde, no quintal, a escorrer doçura pelo olhar e a dar à cauda, como que a cumprimentar os proprietários e a dizer-lhes que gostaria de fazer parte da família. Andou com sorte, porque foi bem recebido. Quer o pai, quer a mãe de Tiago apreciavam cães; por isso, estenderam a mão para lhe fazerem festas, o que foi interpretado como uma receção favorável à sua adoção. Tiago não teria mais de oito anos quando Elias foi apareceu. Chamaram-lhe Elias, em memória de um outro cão que tiveram e que morreu atropelado. Talvez seja melhor contar como tudo se passou, para entendermos as razões que estiveram na base da escolha deste nome. Tiago adorava o primeiro Elias. O tio, que vivia no Porto, oferecera-lho como prenda de aniversário. Foi uma loucura, quando lho pôs nos braços e lhe disse: “Toma, é a minha prenda, espero que gostes. É um épagneul breton; trata-o bem, pois esta raça já não se vê muito pelos nossos lados. Se morre, será difícil arranjar outro.” Tiago tremia de emoção, não sabia se havia de agradecer a oferta, se fugir dali para começar a brincar com o seu novo amigo. Gerouse uma ligação tão forte entre os dois que nunca estavam
14
separados. Tiago chegou a pedir autorização à professora para o levar consigo para a escola. “Se me garantires que ele fica aí, ao pé de ti, sem perturbar, podes trazê-lo. De vez em quando. Sempre, não convém, porque, se o senhor inspetor vem visitar-nos e o vê, será muito negativo para a minha avaliação. Compreendes, não é verdade?” Tiago compreendia, e combinou, então, levá-lo, apenas, uma vez por semana. Todas as outras crianças reagiram com entusiasmo àquele novo ‘colega’. Elias sentava-se aos pés do Tiago e ali permanecia quieto e feliz. Às vezes, abria um olho, para verificar se o dono estava bem e voltava à atitude inicial. Quando começava o burburinho de fim de aula, Elias já sabia que estava na hora de se mexer, e, aí, espreguiçava-se e ia cumprimentar todos os presentes, incluindo a professora, que lhe fazia festas na cabeça. De regresso a casa, era uma alegria: Tiago e Elias pareciam doidinhos, ambos aos saltos, Tiago a cantar e Elias a latir de felicidade. As pessoas com quem se cruzavam no caminho paravam para apreciar e achavam graça àquela relação tão especial entre uma criança e um cão. Um mês antes de acabarem as aulas, Tiago sentiu-se mal. Queixava-se de fortes dores abdominais e começou a vomitar. Isso assustou os pais, que o conduziram, imediatamente, ao Centro de Saúde. O médico diagnosticou-lhe uma apendicite. Era urgente operá-lo. Não havia tempo a perder. A operação correu bem. Enquanto esteve internado, não deixava de pensar no seu Elias, que, de certeza, havia de sentir a sua falta. Os pais traziam-lhe sempre notícias; algumas eram preocupantes, porque Elias passava as noites a ganir à porta da cozinha e comia muito pouco;
15
andava de orelhas caídas e não tinha vontade de saltar. E um dia, o pior aconteceu: Elias, não suportando talvez, a ausência do dono, transpôs as grades e pôs-se a caminho... Não estava habituado à estrada, não sabia desviarse dos automóveis, ia sem rumo, aos ziguezagues, e um condutor mais apressado não conseguiu travar a tempo. Não foi possível evitar a morte. Os pais de Tiago não sabiam como levar-lhe esta notícia tão triste. Sabiam que ia ser um rude golpe para ele e tentaram, por isso, adiar a informação. Mas Tiago, na hora da visita, confessou que sentia um aperto no peito, como se lhe custasse respirar. O pai olhou para a mãe e os dois associaram, de imediato, esse mal-estar ao acidente de Elias. Mas continuaram a guardar segredo. Chegou, finalmente, o dia de Tiago voltar para casa. A ausência de Elias foi inevitavelmente notada, não sendo, assim, possível esconder a verdade por mais tempo. Tiago chorou em silêncio a perda do seu companheiro de todas as horas. Foi difícil chegar à resignação. O tio bem lhe tinha recomendado que tivesse cuidado com o seu épagneul, porque não seria muito provável arranjar outro. Os pais foram-no convencendo de que ele não poderia sentir-se responsável pelo acidente. E o tempo foi serenando a tristeza de Tiago. Até que surgiu aquele rafeirito, a dar à cauda e a lançar-lhes um olhar tão meigo que não deixaria ninguém indiferente.
Tiago ia poder preencher o vazio afetivo deixado por Elias com este novo Elias. E uma nova grande amizade se desenvolveu entre ambos.
Tinham chegado as férias grandes. Tiago gostava de ir para o monte com o seu Elias II, para apreciar o seu estilo
16
de caçador de coelhos. Não tinha intenção de que Elias capturasse os coelhos, pois achava que eles estavam no seu habitat e deveriam viver aí em liberdade, mas adorava ver como Elias se empenhava a descobrir-lhes as tocas e como latia vivamente a avisar que ali estava coelho escondido. Foi num desses dias que tudo aconteceu. Entusiasmado com a azáfama de Elias, Tiago não se apercebeu do poço, porque estava coberto com ramos secos. Alguém os tinha lá colocado, talvez para evitar que algum animal caísse. A verdade é que nenhum animal caiu, mas caiu Tiago. O poço era bastante fundo e tinha água. Foi a sua sorte, pois a água amorteceu-lhe a queda e ele não sofreu nenhuma fratura. Caiu bem, mas a água estava muito fria e Tiago começou a sentir a temperatura do seu corpo a baixar. Elias, completamente desorientado, ouvindo a voz do dono a sair do fundo do buraco, fez várias tentativas de se atirar lá para dentro. Não o fez, vá-se lá saber porquê. De repente, lança-se numa corrida vertiginosa, em direção a casa. Agitado e latindo de desespero, tenta saltar para o colo do pai de Tiago, que logo se apercebe de que algo de anormal se estaria a passar. Elias começa, então, a correr em direção ao monte. O pai de Tiago seguiu-o e, assim, tomou conhecimento daquele cenário inesperado. “Tiago, estou aqui, aguenta mais um pouco, que eu vou buscar uma corda para te tirar daí.” “Sim, pai, mas tenho muito frio, quase não sinto as pernas, estão geladas”. “ Pensa que estás salvo, para te dar coragem, eu volto já!
17
Em casa, embrulhado num cobertor e a beber um chá bem quentinho, Tiago recompõe-se do grande susto, que poderia ter sido mais do que um susto, não fosse o seu amigo Elias agir prontamente, como se tivesse pensamento e linguagem. Elias olhava para ele, como a querer dizer-lhe: “Como eu desejei saber falar para explicar ao teu pai o perigo que corrias!...
Rafeirito
Era um pobre rafeirito Perdido em quintal alheio. Tiago pegou em mim. Por ter-me achado bonito, Levou-me pra sua casa. Não esperava vida assim.
Antes de mim outro houvera, Pedigree de boa raça, Com meiguice e muita graça, Mas pouca sorte tivera A estrada foi o seu fim.
Ocupei o seu lugar No coração de Tiago. Cresceu a nossa amizade. Eu, cão, a falar verdade,
18
Pelos olhos e o latir. Ele, gente sem maldade, Sempre a saltar e a sorrir.
Voz de gente, quem me dera, Para o Tiago salvar. Sorte que o pai me entendera E ao monte o foi buscar.
19
O FASCÍNIO DA ARTE
Susana andava a preparar-se para o grande dia. Tinha o enxoval pronto, roupinhas mimosas, de cores suaves e muito fofinhas, artigos de higiene, caminha e carrinho; não se esqueceu de nada. Além disso, ia às aulas de ginástica, para aprender a técnica da respiração a adotar, quando chegasse aquela hora especial. Ah, e fazia outra coisa muito curiosa e talvez diferente da maior parte das outras grávidas: todos os fins de tarde, ia sentar-se, calmamente, no seu cadeirão e punha-se a ouvir música, de olhos fechados e com as mãos na barriga, massajando-a suavemente, como se estivesse a acariciar o seu bebé. Era uma menina e ia chamar-se Luz, assim, simplesmente, Luz. Luz era o que aquele bebé significava para ela. Por isso, não queria acrescentar mais nada a este nome. O pai de Luz era músico. Sempre que compunha novos temas, pensava na sua Luz e dedicava-lhe os seus trabalhos. Susana escolhia, precisamente, essas músicas para Luz ouvir. Estava convencida de que Luz as apreciava, pois, se estivesse a dar pontapés na sua barriga, logo se acalmava e ela entendia que isso era sinal de que estava a gostar. Luz nasceu, finalmente, e esses sinais de amar a música iam-se notando visivelmente. Deitada no seu bercinho de
20
rendas, a reação às melodias do pai era clara: deixava de esbracejar, recusava a chupeta e sorria, banhada de felicidade. E assim cresceu. Quando começou a falar, depois de “papá” e “mamã”, foi a palavra “música” que ela aprendeu. E fazia esta frase, que não era bem uma frase, mas que se entendia como tal: “Papá, mamã, música...”. E sentava-se, de imediato, no colo do pai, respirando de satisfação e aguardando, silenciosamente, que o aparelho começasse a debitar os sons que ela já conhecia tão bem. Ficava assim, muito quietinha, com os olhos inundados de luz... Um dia, estavam todos na casa dos avós paternos, onde iam, de vez em quando, e este cenário repetiu-se. No meio da conversa dos adultos, ouve-se a célebre frase de Luz, agora mais completa, porque já sabia falar melhor: “Pai, põe a tua música!” – e sobe para o seu colo e aguarda. A mãe, o avô e a avó assistiam, em silêncio; os avós nem queriam acreditar. Foi uma surpresa. Mas foi ainda uma surpresa maior, quando Luz, no fim da música, com os olhos carregados de lágrimas, diz: “Porque estou a chorar, Pai?”. O pai, emocionado, não sabia que dizer; a mãe e a avó ficaram também com lágrimas nos olhos, tal a emoção que estas palavras nelas provocaram, o avô afastou-se para que não vissem que tinha, igualmente, vontade de chorar. Foi uma cena única, ver uma menina tão pequena a sentir a música daquele jeito, a viver as emoções que a música do pai lhe despertava, sem ela própria saber definir por que acontecia assim. O silêncio dos adultos criou uma situação embaraçosa, pois Luz ficou à espera que lhe dessem uma explicação para estas lágrimas que lhe vieram
21
aos olhos. Geralmente, as crianças desta idade choram quando têm dor, ou alguém as contraria, não choram porque a música as emociona. Luz cresceu rapidamente, saudável e enérgica. No Jardim de Infância, maravilhava a Educadora, quando se punha a cantar. Tinha uma voz segura, nunca desafinava e não se inibia de subir ao palco, nas festas de Natal. Sabia de cor todas as canções que a Educadora ensinava e queria sempre aprender mais e mais. Era difícil satisfazer a sua ânsia de saber. Mas o que mais a seduzia continuava a ser a música. E depois veio a dança. No rés-do-chão do prédio onde viviam os avós maternos, havia uma escola de ballet clássico. A música subia até ao apartamento dos avós. Luz passava lá muito do seu tempo e foi-se habituando a ouvir. E começou a gostar da harmonia daqueles sons. Quando ia com a avó à rua, passear ou fazer compras, sempre espreitava pela porta entreaberta para descobrir que mundo se vivia naquele salão mágico. Um dia, a professora apercebeu-se de que alguém estava ali, à porta, e foi averiguar. Ao ver Luz, convidou-a a entrar, para que ela pudesse satisfazer a sua curiosidade. Foi uma coisa fantástica para ela! Desejou, naquele momento, pertencer àquele grupo de meninas, tão elegantes com a indumentária típica das bailarinas, executando movimentos tão harmoniosos e expandindo tanta alegria. “ - Gostavas de aprender a dançar, Luz?” “ - Gostava muito!”
22
“ - Então, é fácil. Basta pedires autorização aos teus pais, fazer a inscrição, comprar o fato e os sapatos e vir. Ficamos à tua espera”. Luz foi para casa da avó, muito, mas mesmo muito contente. Não falava de outra coisa até chegar a hora da sesta. Quando acordou, foi-se pôr ao espelho a ensaiar os passos que tinha visto as outras meninas executarem. Ficou encantada com a sua imagem. Mal a mãe a foi buscar, ao fim da tarde, foi a primeira coisa que lhe disse: “Mãe, quero que me deixes ir para a escola de Ballet. Eu quero ser bailarina, Mãe!” Hoje, Luz tem cinco anos. Já participa em espetáculos de dança clássica; fica linda, com o cabelo todo esticado com gel e preso atrás, como as bailarinas profissionais. Nunca deixou de gostar de música. O pai já compôs várias canções para ela; e ela canta-as tão bem que o pai decidiu gravar algumas. Luz tem, agora, uma irmãzinha, que já reconhece a sua voz no telemóvel e bate palmas quando a canção de Luz chega ao fim. Bate palmas e pede ao pai para repetir. Será que, também ela, vai ter a mesma paixão de Luz pela música e pela dança?
23
Autor
Alda Melro
Três contos
O AVÔ JOÃO
Joãozinho, é um menino que vive na zona piscatória da sua cidade. E por ser ainda de tenra idade, ia com o seu pai Manuel, ver a chegada da faina do seu avô João, que era um pescador exímio. Infelizmente, houve um dia que a faina não lhe correu bem e o barco do seu avô, chegou completamente vazio, sem um peixinho sequer. O Joãozinho ficou triste por ver o seu avô zangado, porque afinal segundo ele, tinha apanhado muito peixe na rede. Intrigado, Joãozinho perguntou: - mas então, onde está o peixe? Ao que o avô lhe respondeu: - Saltou todo borda fora meu neto, contente e a saltitar para o mar! Joãozinho riu-se tanto e correu para casa e contou à sua tia Rosa, o que tinha acontecido.
24