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Romy Macedo

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José Sepúlveda

José Sepúlveda

porta para deitar uma vista de olhos sobre os filhos, ela bem sabia quão irrequieta era o pequeno João.

- É bom ter um irmãozinho. Diziam as coleguinhas. Olhavam-no com carinho À volta das florinhas.

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Que responsabilidade A sua amiguinha tinha, Privada de liberdade Para brincar, coitadinha!

O Joãozito a chamava, Precisava de atenção A sua mão agarrava E ela largava, então.

Queria saltar, brincar, Olhar as nuvens nos céus. - Ai se as pudesse alcançar! Mas não são minhas, meu Deus!

As colegas nem imaginavam a sorte que tinham em não terem um irmão irrequieto para aturar. Elas, sim, eram livres, podiam brincar o tempo todo. Certo dia, Mariqueta levantou-se mais cedo. Era o primeiro dia de férias. Tomou o pequeno almoço, para ir ao encontro das colegas até ao parque, conforme tinham combinado. Iriam aproveitar o tempo e apanhar folhas, caules,

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tubérculos e flores, para em conjunto fazerem um Herbário Escolar, trabalho que lhes foi sugerido pela professora Idália, da disciplina de Estudo do Meio. - Mãezinha, posso ir hoje ao Parque sem levar o mano? É que temos uma tarefa escolar para cumprir e com ele será mais difícil. Necessito estar livre para apanhar os componentes para esse trabalho. É para a aula de Estudo do Meio. Já combinei com as minhas amiguinhas! Pode ser? - Hoje não pode ser princesa, há muito material novo a chegar à loja, e sabes como é o teu irmãozinho! Ainda por cima, a avó Anastácia não pode ficar com ele, é muito irrequieto e como sabes, a tua avó, sempre apegada àquela bengala, não o consegue vigiar, não dá conta dele. Depois, ele precisa de sair, gastar energias. Por isso, hoje não dá, filha. Se o meu patrão o visse lá no estabelecimento, não ia ficar satisfeito e eu não posso prescindir desse trabalho. Desculpa, mas terás de ser tu a cuidar dele, tenta entender. - Está bem, mãezinha, eu levo-o comigo, vai-me obrigar a maior esforço na recolha dos elementos que precisamos, mas em conjunto havemos de os conseguir.

- Vem ajudar, Joãozinho, Dá-me uma mão, por favor. Corta esse caulezinho! E no saquinho vai por.

- Estrelinha, vem cá ver Como esta flor é bela - Mas temos que a colher Retorquiu a Anabela.

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O João, ali presente, Tinha gosto em ajudar E encontrou finalmente Uma raiz p’ra levar. Aqui e ali, o petiz Saltitava sem parar Sentia-se tão feliz Que nem queria parar.

Mas, cansado, se deitou Com o papo para o ar E no relvado observou. Muitas nuvens a passar

E com o seu dedo em riste, Apontado para o céu, E o seu olhar persiste Quando de um salto se ergueu.

Gritou para a irmãzinha: - Oh, Carneiros a voar! Mas não, a sua maninha Não o queria aturar.

- Mariqueta, Mariqueta olha o céu, como está lindo, parecem carneirinhos a voar! Vem ver! São tantos! – gritava o menino, enquanto olhava a irmã que parecia não lhe prestar atenção. – Vê, parece uma coruja! Deve andar a procurar alimento para as corujinhas que tem no ninho. Olha ali,

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um elefante! Parece zangado com as nuvens. Como é grande! Às tantas, ainda faz as nuvens chorar! E mal tinha acabado de dizer isso, e logo começou a chover. De imediato, as crianças desataram a correr em busca de um abrigo, que foram encontrar junto da pequena casinha que existia ali perto, junto ao parque infantil da pequena Aldeia das Flores. - Joãozinho, vem depressa ou vamos ficar encharcados –tentava Mariqueta arrastá-lo pela mão, enquanto ele, colado ao relvado, estupefato, mantinha o olhar fixo na nuvem que não parava de despejar água a jorros.

- Vem depressa, Joãozinho, Nossa mãe não vai gostar. Se chegas ensopadinho, Comigo se vai zangar.

Mas João, estupefato, Sem saber o que mais viu, Nesse lugar tão pacato Um Arco-Íris surgiu.

Que lindo, com sete cores, Ali frente ao seu olhar O colorido das flores Numa magia sem par.

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- Mana, vê, mas que engraçado, As cores vão a fugir, Arco-Íris desvairado, Logo se vai esvair.

Enquanto atónito contemplava aquele fenómeno da natureza, Joãozinho, de repente, grita para a irmã: - Vem ver, Mariqueta, as cores do Arco-Íris, estão a desaparecer. - Só mesmo teu, miúdo, não sabes que o Arco-íris é mesmo assim? Vem mas é daí que estás mesmo a ficar lindo. Além disso, está a chegar a hora de voltarmos para casa. A mãezinha disse que não podíamos ficar aqui muito tempo. - Mana – reclamou o menino – pelo menos, vem ver as cores do Arco-Íris, vê a cor amarela, está a desaparecer. Mas Mariqueta tentava dar agora um pouco de atenção às amigas e quase não ouvia os clamores do irmão. - Não liguem ao miúdo, inventa-me cada uma! Vejam lá isto, agora diz que as cores do Arco-Íris está a fugir, dálhe para cada uma! E distraída com esta conversa, e com a recolha das folhas, flores e raízes para o herbário, nem se apercebeu do que estava a acontecer com o irmão. Joãozinho, ao ver a cor amarela a saltar do Arco-Íris, instintivamente, aproximou-se e perguntou-lhe: - Porque saíste do Arco-Íris? Zangaste-te com as outras cores? Vamos ficar sem o Arco-Íris? - Não sei, nem me importa – respondeu - quero ir ver o mar, visitar o parque, sentir-me livre. Não quero ficar presa

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a outras cores que passam o seu tempo a barafustar comigo. Quero conhecer crianças como tu, conversar. Preso a seis outras cores, nada posso fazer, tenho que as seguir, estar sempre preso a elas, naquela mesma posição. Que tédio! Além disso, sinto-me sufocada entre o Laranja e o Verde, quero mais do que isso, muito mais, quero sentirme livre, caminhar por onde me apetecer, sem atrofias, sem amarras, sem destino, sem imposições, à espera que alguma nuvem, no meio dos seus lamentos, se lembre de começar a despejar um vale de lágrimas à toa, para então surgir o tal Arco-Íris, dizem que o símbolo de uma qualquer aliança entre o céu e a terra.

- Vou sobrevoar o Mar E o mundo conhecer, O ar puro respirar E em liberdade viver,

Quero gozar o tempo Como eu bem quiser usar, Sentir-me a voar ao vento E sem me preocupar.

Quero cheirar o jardim Dar mais cor a cada flor, Beijar a rosa, o jasmim E espalhar seu olor.

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Não ouvir reprovação, Antes, cantar e sorrir. - Queres uma opinião? Do Arco deves sair!

Sou ainda pequenino, Desta vida pouco sei Mas sinto ter algum tino Pelas coisas que passei.

- E se fossemos ambos dar um asseio? Nem te perguntei como te chamas! - João, chamam-me Joãozinho. Vim com a minha irmã Mariqueta que está para ali entretida com as amigas e até parece que me esqueceu. - Ai, sim? Então que achas à minha ideia? - Até que devia ser engraçado, mas não posso ir, a minha mãe já está à nossa espera, está a chegar a hora do almoço. Queres um conselho? Porque não vais ter com as outras cores do Arco-Íris? Elas precisam de ti, só assim o Arco-Íris ficará completo. Além disso, a tua cor é preponderante e dá ao Arco-Íris mais cor e beleza. Depois, o Amarelo é a cor da amizade, a componente que dá ao ArcoÍris toda a razão de ser. - Não, ainda é cedo. Vou dar uma volta por aí e depois verei o que fazer. Agora que me sinto livre, vou aproveitar para viajar por aí, conhecer coisas novas, sem as ter sempre ao meu redor a reprovar tudo o que eu digo. Aproveita a tua irmã estar distraída e vem daí, sempre me fazes um pouco de companhia.

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De soslaio, Joãozinho olhou o grupo das meninas, compenetradas no trabalho escolar, e resolveu seguir a sugestão de Amarelo. - Salta para aqui e partamos à aventura, logo te vou-te explicar como se forma um Arco-Íris. Este aparece quando a luz branca do sol é intercetada por uma gota d'água na atmosfera. A luz branca, na verdade, não é mais do que uma mistura de várias cores. Quando a luz atravessa uma superfície líquida - no caso, a gota da chuva - a refração faz aparecer o espectro de cores: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. E temos o Arco-Íris. - Que giro! – respondei João arreguilando os olhos.

Logo vai aparecer Com a luz do sol a brilhar E uma gotinha irromper. P’ra suas cores formar A sua luz vai surgir E ao céu escuro dar cor, Depois, a chuva ao cair O Arco vai recompor.

Dizem ser uma aliança Que Deus fez com o seu povo, Vai-se o mau tempo e a bonança Logo vai surgir de novo.

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Dizem ser uma ilusão E o Arco não existir, Mas em cada posição De novo vai ressurgir.

Violeta, verde, anil, Vermelho, laranja, azul Amarelo e cores mil Vão do norte até ao sul.

Realmente, o Arco-Íris não existe, é apenas uma ilusão de ótica, cuja imagem aparente depende da posição do observador. Todas as gotas de chuva refratam e refletem a luz do sol da mesma forma, mas somente a luz de algumas delas chega ao alcance do povo. E enquanto absorvia esta verdadeira lição do Estudo do Meio, lá ia o Joãozinho sulcando os céus, montado na cor Amarela roubada ao Arco-Íris. Voaram sobre um mar triste e apagado, passaram sobre o jardim onde as flores pareciam debotadas, sobrevoaram algumas ruas e viram gente a caminhar sem alento. Foi então que Joãozinho pediu à cor Amarela do Arco-íris para descer. Ele queria descobrir as razão porque a gente caminhava triste, porque razão o azul do mar era agora cinzento, o porquê de as flores estarem a perder a cor.

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- Desce lá, lindo Amarelo, Quero saber a razão Deste grande pesadelo E de tanta solidão.

Um Arco-Íris doente Porque tu vieste embora E o mundo tristemente Tua ausência tanto chora.

Sem saber o que fazer Nem sequer a volta dar, O Arco-Íris vai morrer? Se o Amarelo não voltar.

Santo Deus, misericórdia, Como foi acontecer? Foi o fruto da discórdia Que lhes foi aparecer.

Está triste, sente saudade, Ofusco, sem reação, Em tu, ó cor da amizade Podem ter a solução.

- O Arco Iris necessita de ti, Cor Amarela, vamos descer. Nossa aventura chegou ao fim. A grande lição da nossa viagem é que não te podes separar das outras seis cores do Arco-Íris, ou ele vai desaparecer para sempre.

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- Sabes, João? Na verdade, sinto falta daquelas cores rezingas sempre a resmungar. Mas, se pensar bem, nem tudo é perfeito. Nem eu! O mais veloz que pode, a Cor Amarela, voou em direção ao parque onde a azáfama era muita. As meninas corriam cada canto à procura de Joãozinho que, sem que se apercebessem, saltou do dorso da amiga e voltou até perto do lugar onde Mariqueta o havia deixado. E Logo se se fez ver, sem que de nada elas se tivessem apercebido sobre a sua aventura. Feliz pelo reencontro, Mariqueta perguntoulhe carinhosa e ainda apreensiva: - Onde te meteste, Joãozinho? Estávamos tão aflitas! - Andei por aí, maninha, desculpa. – e de si para si - Só fui dar uma voltinha com a Cor Amarela do Arco-Íris, mas voltei. E acho que, como candidato a escuteiro, já fiz a minha boa ação de hoje – sorriu. - O importante, é que tudo acabou bem. Ao largo, Joãozinho já podia ver de novo o Arco-Íris com a sua Cor Amarela que se tinha reunido de novo com as restantes cores. Tudo ia bem agora.

Compreensão é preciso, Muita paz e muito amor E construir com juízo Um mundo sempre melhor.

Amigas sempre leais, Sete cores em união Voam no céu e jamais Elas se separarão.

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Joãozinho lhe acenou Quando ao longo o viu surgir E aventura terminou Quando acenou a sorrir

Mariqueta respondeu Afagando o seu rostinho Um abracinho lhe deu Com tanto amor e carinho.

Foram ter com a Mãezinha Que os esperava ansiosa - Então, linda princesinha? Lhe disse toda vaidosa

Minha mãezinha querida, Quão belo foi nosso dia, Estou grata pela vida Que nos enche de alegria.

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O GALPÃO DO AVÔ ANTUNES

O Avô Antunes vivia numa enorme casa pintada de amarelo que tinha umas grandes janelas e um extenso galpão onde haviam feito os seus ninhos aves de várias espécies. No tempo de férias, o Avô Antunes recebia naquela casa os seus queridos netos Gininha, Nelito e Quinito, três meninos que o adoravam. O Avô Antunes era muito respeitado e acarinhado pelos habitantes da Aldeia. Tinha exercido a sua profissão de médico durante um bom par de anos no Posto Médico e conhecia cada um dos aldeões como as palmas das suas mãos. Ora, certa altura, os habitantes lá da aldeia, um dia decidiram pintar a casa do Avô Antunes de Amarelo, para a distinguir de todas as outras casas lá na Aldeia dos Laranjinhos. A partir desse dia, ficou a ser conhecida como a Casa Amarela. Em tempos de verão, a Casa Amarela enchia-se de crianças. Era vê-las a correr no vasto jardim, mergulhar na refrescante piscina que o Avô Antunes abria a todas as crianças lá da aldeia. Era por isso uma casa diferente. O lugar onde se situava, numa pequena aldeia localizada nos subúrbios da cidade, tornavam-na num lugar atraente onde toda a gente gostava de ir.

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O inverno na Aldeia dos Laranjinhos, era muito rigoroso. Nos dias de inverno, as portas da Casa Amarela fechavamse e só o Avô Antunes, as crianças e dois serviçais lá viviam. Havia dias em que a neve caía dia e noite, transformando as ruas e os jardins num imenso manto branco imaculado. O céu toldava-se de nuvens claras, o ar era gélido, a neve caía docemente pelos ramos das árvores, muitas delas agora nuas, desprovidas de folhas. As poucas aves que se conseguiam avistar, resguardavam-se nos seus ninhos nas poucas árvores de folhagem perene que por ali havia.

A neve tomba no chão E espalha-se no jardim E o nosso coração Vai pulsando mais assim.

As plantas adormecidas Sentem o vento a passar E mostram-se agradecidas Com os seus caules no ar.

Logo a neve de mansinho Chap, chap, vai caindo E os olhos de um menino Que olha alegre, sorrindo.

De brancura imaculada A estrada escorregadia, E a pobre da passarada No alvor de um novo dia.

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Olhando o amplo galpão Daquela Casa Amarela, Gozamos a ilusão Duma paisagem tão bela

Na Casa Amarela, Gininha, Nelito, e Quinito, deslumbrados e simultaneamente nostálgicos, olhavam através da grande janela da sala a idílica paisagem toda vestida de branco. O vento fustigava as árvores desprovidas de frutos no farto pomar e em todo o terreno à volta do pomar. O jardim não se vestia agora das belas rosas multicolores, apenas algumas folhas secas encenavam aquele bailado improvisado entre os canteiros do jardim. Lá dentro, na sala, embora se sentissem confortavelmente aquecidos pela velha lareira, ouvindo o crepitar das canhotas que o avô Antunes ia colocando, as três crianças olhavam e sorviam as lições que a natureza lhes queria transmitir. O avô bem sabia o quanto elas gostavam de andar a cirandar pela casa descalços e sem preocupações. A dado momento, Gininha, a mais velha dos três, chamou a atenção para algo que estava a ver no pomar. E logo o avô se aproximou.

- Avô, avó, vem depressa! - O que foi que aconteceu? - Vem aqui ver, ora essa! E o avô logo se ergueu.

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- O que se passa, querida, Porque me chamaste assim? - Estava aqui entretida E algo mexeu no jardim!

Vi qualquer coisa a correr Lá no meio do Pomar. Um bichinho, vai morrer Se não o formos buscar.

- Um coelho, um gatinho? - Só vi que era pequenito. Que má sorte, coitadinho! Lamentava-se o Nelito.

- Avô, vamo-lo buscar Trazê-lo p’ra nossa casa. - Se se deixar apanhar! Mas pode bater a asa.

O avô logo saiu, Gininha foi p’ra janela E o avô lhe sorriu: - Uma gaivota amarela!

Para casa regressou Trazendo-a na sua mão, Mas depressa se soltou E foi noutra direção.

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- Oh, que pena! A gaivota fugiu. Coitadinha, tremia como varas verdes! - Avô – gritou o Nelito vai atrás dela ou vai morrer de frio! - Não receies, pequerrucho, se ela sentir frio, há de vir à procura de um lugar aonde se proteger. As aves fazem isso por instinto. Não tarde e vamos encontra-la no galpão junto de outras aves. Elas sabem que ali estão abrigadas da neve, do vento e do frio. - Deus te ouça, avô.- retorquiu Quinito, que até então se tinha mantido em silêncio, como que a matutar numa forma de trazer a gaivota para casa. Não era uma ave como as que habitualmente faziam os seus ninhos junto ao teto do galpão, não. Esta ia precisar de ajuda. - Diz-nos, avô, como foi essa gaivota aparecer por aqui? Não é habitual vê-las tão longe do mar. - Responder-te-ia com prazer se soubesse, meu neto, mas não sei e essa é a questão. Giroflé, o gatarrão pachorrento lá de casa, saltou agilmente da janela e aproximou-se, circulando à volta das suas pernas ronronando e afagando-as com a sua farta cauda, como se quisesse intervir na conversa.

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- Miauu, Miauuu, mas que fome! E afagava Gininha - Gato que dorme não come! –Respondia-lhe a menina.

- Miau, miau! – ripostava, Sem parar de ronronar E logo rodopiava Mas sempre, sempre a miar.

- Vem, Giroflé, vem comer, doutro modo, nunca mais te vais calar - dizia o avô Antunes, já farto de tanta lamúria, enquanto dava umas palmadinhas no dorso do felino. Este, com andar pachorrento, seguiu o Avô Antunes, certo que este lhe ia saciar a fome, ao que as crianças acorreram, seguindo-os. E logo, de barriguinha cheia, Giroflé regressou ao seu poiso de sempre, para descansar. Afinal, era a única coisa que sabia fazer nos últimos tempos, deitar-se no seu aconchego, naquela caminha fofa de penas que o avô tinha comprado em tempos na Feira do Artesanato. - Avô, Avô, vem aqui depressa! A gaivota voltou, está aqui no parapeito da janela! De um pé para o outro, o Avô vestiu a samarra, abriu a porta e foi na direção da gaivota amarela. Cheios de entusiasmo, os meninos bem que queriam segui-lo, mas logo o avô os admoestou: - Nem pensem vir cá para fora! Fiquem onde estão. Está um frio de rachar os ossos, ainda apanham uma pneumonia!

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Os meninos não tiveram outro remédio senão acatar as ordens do avô. Assim, aproximaram-se do gato pachorrento que apenas pestanejou e logo fechou os olhos, embora com o ouvido à escuta.

- Vá lá, deixem-me dormir, Silêncio, façam favor! Gininha olhou a sorrir E o abraçou com dulçor.

- O avô tem a gaivota! Como está amedrontada! Quinito corre p’rá porta E tocou-lhe. – Está gelada!

Vão p’ra junto da lareira Para ela se aquecer Giroflé, ali na beira, Via o que ia acontecer.

- Giroflé, olha a prenda que o avô trouxe para nós! - dizia Gininha cheia de alegria – Afinal, não era todos os dias que tinham consigo uma gaivota, além do mais, tão linda. Quando recuperou do frio, a gaivota olhou as crianças e disse: - Obrigado por me ajudarem, meus amiguinhos, mas queria pedir-vos que ajudassem também os meus filhinhos e a minha companheira, posso contar convosco? Coitados, estão presos no nosso esconderijo. Uma rocha deslizou pela colina e caiu sobre ele, bloqueando a sua saída.

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Pasmado com a sua narrativa, logo o Avô Antunes lançou mão do gorro que ainda tinha sobre a cabeça, esfregou as mãos para as aquecer, olhou a Gaivota e disse: - Eh lá! Será que estou a ouvir bem? Como podes tu falar? Pensei que as gaivotas apenas grasnavam! - Tem razão – disse a gaivota, dirigindo-se não só ao avô como também aos meninos, que olhavam estupefactos com tudo o que estava a acontecer. - Não ne olhem com esses olhos, que me assustam. Sou a Gaivota Golias. Os animais, quando é preciso, também aprendem a falar. Será que posso contar convosco? Se assim for, peço-vos por favor para virem comigo. Receio que a minha família corra grande perigo. - Conta connosco, – respondeu o avô – vamos ajudar-te. – e virando-se para as crianças – Meninos, vamos a isso, agasalhem-se bem e vamos ajudar a nossa gaivota! - Vamos sim, avô, vamos até onde ela nos levar! E em poucos minutos, saíram com a amiga que ia voando à sua frente, a fim de lhes mostrar o trajeto a seguir.

- Vamos salvar a família Da Gaivota nossa amiga, Ela será nossa guia, Que toda a gente me siga! -

A gaivota, voa, voa Naquele branco tão puro E avistam uma pavoa Junto do lago inseguro.

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A neve tudo cobria, Havia que ter cautela Mas toda a gente a seguia Até à Patinha Estela!

- Eu vos vou acompanhar, Podem precisar de mim, Já não tenho onde morar O lago gelou, enfim!

E lá foram ao longo daqueles caminhos carregados de gelo. O avô carregou ao colo a Patinha Estela que estava a sentir dificuldade em caminhar sobre a neve e tinha as patinhas geladas. A determinado momento, a Gaivota parou junto a um amontoado de pedras esbranquiçadas, cobertas de neve, o avô entregou a Patinha Estela a Gininha, a neta. E começou a retirar uma a uma as pedras que impediam o acesso ao refúgio da família da Gaivota Golias. E logo conseguiu resgatá-las. Quando já todos estavam reunidos, o avô Antunes dirigiu-se à gaivota e perguntou: - O que pensas fazer agora com os teus, amiga, para onde ireis agora? Aqui não pode ser, este lugar é inseguro e não tem quaisquer condições. - Pois é! – respondei a gaivota – sem saber o que responder. - Se quiseres, podeis abrigar-vos no nosso galpão. Há ali muito espaço. – e virando-se para a patinha – E tu, Patinha Estela, também podes lá ficar, se quiseres.

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- Como é generoso, avô Antunes, aceitamos, sim, obrigado. – responderam a gaivota e a patinha. O frio apertava e toda a comitiva logo regressou a casa. Pelo caminho, encontraram a Galinha Pedrês com os seus três filhinhos, e mais à frente o Ganso Sarapata, o Siracura, o Coelho Saltitão e a Tartaruga Sarapinta. Conforme cada um ia surgindo, o avô sorria de alegria, ao ver aumentar a sua prole. E sorria feliz para os seus três netinhos.

- Que grande família temos Cantarolava Gininha E pouco ou nada sabemos O que mais se avizinha.

Sarapata, Siracura E o Coelho Saltitão Embarcam na aventura Porque alguém lhes deu a mão.

Golias e a Família Muito felizes estão Com tamanha cortesia De irem para o galpão.

Já se avista o doce lar, Que vai ser o seu cantinho E todos juntos ficar Tão perto do avozinho.

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Esta vida é mesmo assim; Giroflé veio ao postigo A Casa Amarela, enfim, Irá ser o nosso abrigo.

Haja amor no coração Que Deus nos proteja sempre, Haja paz e união Entre toda a nossa gente.

Agora há mais animais Que surgiram no caminho Todos tão especiais À procura dum carinho.

Quando chegaram à grande Casa Amarela, o Avô Antunes encaminhou toda a bicharada para o seu novo lar, no galpão, lugar onde passaram todo aquele inverno agreste, rigoroso e frio, que atormentara toda a região.

Na Aldeia do Laranjinho, Na linda Casa Amarela, Vivia o doce avozinho E os animais, dentro dela.

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Tiago e o Passarinho Azul

Tiago, aquele menino irrequieto de dez anos apenas, nascera na Vila de Arrojo. Como gostava de brincar no aprazível Parque da sua terra, um extenso espaço com frondosas árvores, algumas já centenárias, agora, o habitat de alguns pequenos roedores, como lebres, coelhos ou esquilos, muitos arbustos e onde havia um formoso lago no qual se pavoneavam alguns cisnes, gansos, patos e dois pavões com uma cauda encantadora que quando aberta em leque se tornava na atração principal de quem ali ia. Aos domingos de tarde, sobretudo, quando o tempo o permitia, ali se reunia uma multidão de pessoas, residentes ou não na pequena vila, para desfrutar das delícias do lugar, partilhando uns com os outros as suas habilidades gastronómicas alegres piqueniques e se divertiam na pratica de jogos populares em que participava toda a gente, crianças ou adultos. Entre os habitantes da aldeia vivia-se uma grande cumplicidade. Possuindo Arrojo cerca de duzentos habitantes, não era difícil que todos se conhecessem entre si, fossem elas duma facha social médias ou a uma classe de melhores recursos ou mais humilde. As portas de suas casas permaneciam abertas todo o dia.

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Em Arrojo, quem diria, As portas eram abertas Fosse de noite ou de dia, Sem vigias ou alertas.

Logo pelo alvorecer Strip, o galo cantava E só ao entardecer De novo cacarejava.

No galinheiro ficava Como para descansar Mas quando a tarde chegava, Toca de se levantar.

Neste vila assaz pacata, A população se unia Junto ao seu lago de prata Com toda a sua alegria.

Mas certa manhã, enquanto se divertia no baloiço, Tiago avistou ali mesmo junto a si um pequenino pássaro azul que despreocupadamente voava. Instintivamente, Tiago entendeu a sua mão e tentou alcançá-lo, mas o passarinho, apercebendo-se, assustou-se e voou desordenadamente até que caiu sobre o relvado. De imediato, Tiago saltou do baloiço e correu no seu encalço, tentando apanhá-lo. Coitado do passarinho! Ei-lo caído sobre a relva, estonteado. Como era lindo! As suas

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penas azuis brilhavam ao sol. Indeciso sobre o que fazer, desabafou para si: - Como teria vindo aqui parar? Perdeu-se, certamente, esta espécie não é vista por estes lados. Terá fugido ao calor dos grandes incêndios que por aí lavraram e devoraram tantas matas? Devia andar a ver se encontrava os pais.

- Vem aqui, meu passarinho! E tentava-o apanhar À espera que pobrezinho Acabasse de cansar.

- Desculpa pelo que fiz, Fi-lo mesmo sem querer! E cabisbaixo, o petiz Se foi a ele a correr.

Sentia-se irresponsável Ao vê-lo assim assustado, Era tão desagradável Vê-lo ali, inanimado!

Nem lhe tocou com a mão, Não queria fazer mal. Viu-o cair lá no chão Daquele modo irreal.

Tiago, parou por segundos, olhou a pequena ave que tentava recompor-se lentamente ainda um tanto aturdido. Na

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verdade, verificou, era um passarinho diferente de todos aqueles que proliferavam pelo Parque Infantil de Arrojo.

- Pobrezinho, está perdido, Que será que aconteceu? Deixa ver se está ferido Depois do tombo que deu!

Outro igual eu nunca vi Nem no Parque, nem na Aldeia. Pensou de si para si Com a sua alma cheia.

Caminhou devagarinho, Pé ante pé, com cuidado, Mas o pobre. Coitadinho, Ainda estava atordoado.

Mas quando viu o menino A caminhar para si, Deu à asa o pobrezinho Tentando fugir dali.

Via nele um inimigo E só pensava em fugir Sua vida estava em perigo, Mas acabou por cair.

Tiago ficou com medo De assustar a avezinha, E estendendo-lhe seu dedo Mais um pouco se avizinha.

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- Estás perdido passarinho? Não tenhas medo de mim Quero ser teu amiguinho! O que fazes no jardim?

Com toda a cautela, aproximou-se da avezinha, a pensar. - De onde terá vindo? - Não te aproximes! – pediu a avezinha com voz trémula. Tiago olhou em todas as direções, tentando aperceber-se de quem era a voz. Como não se apercebeu de ninguém ali ao redor, pensou: - Devo estar a ouvir coisas, deve ser o vento, às vezes parece que quer dialogar connosco, não é a primeira vez que acontece. Sem vacilar, estendeu de novo a mão para o passarinho, na tentativa que subisse para ela. - Posso ver se estás magoado? Vi que deste uma grande queda. Talvez possa ajudar-te. Não tenhas receio, não te vou fazer mal! Depois de verificar que estás bem, podes de novo voar. Acaso, no entanto, necessites de ajuda, levote até junto do meu pai, ele sabe cuidar os animais e as aves. É o veterinário cá da Vila, não tenhas medo, sim? - Prefiro não o fazer. Além disso, quem provocou esta queda foste tu. Não me obrigues a defender-me à bicada, olha que as minhas bicadas doem muito! - Ah, afinal, a voz que ouvi antes era a tua. Um pássaro que fala! Muito bem! Mas, ouve-me bem, já levei muitos passarinhos magoados à Clinica do meu pai, e nunca ouvi nenhum a falar! Serás tu um pássaro encantado? Até que

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podes ser. Também nunca tinha visto um pássaro azul. Quem és tu?

- O Bluebird oriental Onde tudo é muito azul, Uma ave tropical Que vive ao Norte e ao Sul.

- Longe do teu habitat Algo desorientada, Precisas de quem te trate Mas não queres fazer nada.

- Sialia sialis, família Que quero reencontrar! - No meio de tanta tília Não te vais orientar!

Vem daí, vou-te arranjar Água, conforto, comida, Liberdade pra voar O resto da tua vida.

- Hei de ao meu lar regressar, Mas não sei como fazer! Quando isto terminar, Vou lá voltar, tu vais ver!

- Na verdade, de momento necessito da tua ajuda. Posso contar contigo?

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- É isso que te venho a dizer há já algum tempo, meu amigo. Vou-te levar comigo pois deves estar cansada e com fome! - Irei sim, mas peço-te que entendas que não posso ficar aqui muito tempo. Neste preciso momento, já todos devem andar numa azáfama à minha procura. Sem mim, no Paraíso Azul tudo pode acontecer. Temos mesmo que nos despachar, o tempo urge. Antes, reconheço que me sinto fraco e tenho necessito restabelecer as minhas forças. Logo após, viajarei de novo à procura da Pérola Azul, da Flor da Felicidade, da Planta da Amizade, da Flor da Bondade, da Flor do Amor, e da Flor da Esperança. Meses atrás, o nosso Lugar Azul perdeu as cinco flores da Virtude, os seus Tesouros, os quais não eram compostos por bens materiais mas pelas Essências da Virtude. - Não entendo bem o que me queres dizer. Como se pode perder uma coisa imaterial? - A Essência da Virtude vive no nosso coração. Às vezes, uma coisa ou outra de índole material tenta corrompê-la. Isso afeta a nossa vida pois não nos serve para nada, se perdermos a inocência, perdermos a Liberdade e a raiz da Amizade, bens preciosos para nós. Não são palpáveis, mas trazem-nos a paz interior que necessitamos para viver. Entendes o que te quero dizer? - Não entendo muito bem. Deixa ver: a Liberdade, sei o que é, é assim a modo que te deixar livre, não te meter numa gaiola. Também eu gosto de ser livre, de correr no parque. Posso até dizer que a Liberdade é como o vento que sopra solto pelos campos, sobrevoa o mar e o faz ondular. O vento ninguém o prende, não tem amarras. Oh,

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como gostava de ser como o vento, livre, solto, sempre a soprar.

- Se eu fosse como o vento Correria sem parar, Varria do pensamento A palavra aprisionar.

Com as nuvens brincaria E a chuva a fustigar, Á noite me deitaria Lá no mar, a repousar.

E de manhã, bem cedinho, Corria na esperança De encontrar um passarinho A voar com confiança.

E os ventos de bonança Traria ao empobrecido Pra que um tempo de mudança Soprasse com mais sentido.

- Vem, salta para a minha mão e vamos ter com o meu pai, a ver se encontra alguma mazela no teu delicado corpo. - Vamos, meu amigo, vejo em ti uma criança muito especial que jamais pensaria

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fazer mal a uma ave indefesa como eu estou neste momento! Dito isto, saltou para a pequenina mão de Tiago que de imediato teve uma sensação estranha de se ver transformado também ele numa pequena ave, em tudo idêntica ao do Pássaro Azul. - O que me aconteceu? – perguntou Tiago surpreendido. - De momento, és o Pássaro Azul que me vai ajudar a salvar o meu Lugar Azul e a recuperar as Cinco Flores da Virtude: Amizade, Amor, Felicidade, Esperança e Bondade. - Mas como podes tu transformar-me numa ave? - Só o posso fazer com meninos especiais como tu. E isso aconteceu. A primeira coisa que necessitamos fazer, é encontrar a Pérola Azul. Temos de sobrevoar o Mar Azul e encontrar a Ostra Saguyr, ela dar-nos à a Pérola Azul. E desataram a voar por esse céu sem fim, sobrevoar a imensidão do Mar Azul, procurar a ajuda do Vento e desbravar esse mundo além. Tiago rejubilava de alegria, ia participar na maior aventura da sua curta vida. O Vento agitou o mar e penetrou nas suas profundezas, arrastando consigo o Passarinho Azul e Tiago, ora transformado em ave também. - Santo Deus, que beleza quanta beleza encerra o fundo do mar! Tiago nem querida acreditar! Os Cavalos Marinhos ali, mesmo frente ao seu olhar. Como sentiu vontade de ter de novo as suas mãozinhas para tentar levar um que fosse para casa! Mas logo reconsiderou: - Não, se o levasse comigo, depressa sucumbiria! Correram por todo o lado em busca da Ostra Azul, só ela lhes podia conceder a Pérola que os levaria à Liberdade.

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Tiago e o Passarinho Vão buscar a liberdade E abrir o seu caminho Para encontrar a Amizade.

- Oh, quem nos pode ajudar Nesta longa caminhada? Precisamos encontrar A nossa Ostra Azulada.

Tiago se transformou Para ajudar a ave Azul O Vento os ajudou Ali na Praia do Sul.

Quando chegaram ao local onde proliferavam as Ostras. perguntaram a uma jovem Sereia, que suavemente penteava seus longos cabelos. - Sereia, diz-nos, Sereia, onde podemos encontrar a Ostra Azul? - Saguyr, a Ostra Azul? Vamos ter com o meu avô, penso que ele está à vossa espera. Sigam-me com cuidado para que não toquem em nada do que veem ao redor, ou esta magia que circula à vossa volta se quebra sem retorno. Tomai a máxima atenção. - Sim, entendemos bem, seguiremos com todo o cuidado! E lá foram eles com a Menina Sereia até ao lugar onde estava Saguyr, a Ostra Azul. Esta, logo que os viu, foi de imediato buscar a Pérola Azul.

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Felizes e contentes, agradeceram a amizade e o empenho e partiram de imediato a fim de procurarem as Flores da Virtude:

- Muito gratos, Saguyr, E linda Pérola Azul. E esta disse: - A seguir, Vais do Norte para o Sul.

Quando saíram do Mar, Voaram pelas alturas Pra seu plano traçar Nessas novas aventuras.

Procuravam as Virtudes Que um dia alguém lhes roubou E quando nas altitudes, Algo a atenção lhes chamou.

- Olhem ali, é a Planta da Amizade, vinda da China! A Pilea Peperomioides é conhecida como planta da amizade porque gera uma infinidade de brotos no seu caule que permite fazer mudas para presentear os amigos. Logo que a apanharam, juntaram-na à Pérola Azul que de imediato a absorveu enchendo-se de brilho. Tiago e o Passarinho Azul entreolharam-se e ficaram espantados ao verem o resultado dessa metamorfose entre a Pérola Azul e a Planta da Amizade. Refeitos da surpresa, partiram dali à procura da Flor do Amor.

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- Essa eu conheço, Passarinho Azul, é o Amor Perfeito. Temos muitos no nosso jardim, vamos até lá. Temo-los de diversas cores. E lá foram voando na direção da casa do Tiago. Quando ali chegaram, escolheram o que lhes pareceu mais belo e juntaram-no à Pérola, que, a exemplo do episódio anterior, o absorveu, assumindo uma nova cor, a Rosa , cor que se alojou num dos cantos da Pérola Azul. Em seguida, partiram no encalço da Flor da Felicidade, que foram encontrar em certo Jardim Botânico. Originária da India, trata-se dum belo espécime, tendo levado consigo um exemplar que logo foi absorvido pela Pérola Azul. Ah, agora só faltavam duas Virtudes. Havia que procurar a Flor da Bondade, a que muitos chamavam Margarida que prolifera por aí, em muitos jardins. Sobrevoaram baixo e logo a encontraram no primeiro jardim que encontraram, levando-a de imediato até junto da Pérola Azul, agora com uma cor indefinida, que de imediato a absorveu. Faltava uma, a Flor da Esperança. Logo, o seu Paraíso Azul estaria livre daquele feitiço maquiavélico que lhes retirara as Virtudes. Era o Girassol, a Flor da Esperança. - Tiago, olha ali aquela planície vestida de amarelo, é um campo de girassóis! Vamos descer e recolher a última flor que nos falta e ver o resultado.

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E ei-los num voo estonteante em direção ao campo de girassóis que seguiam o brilho do astro rei. Quão felizes estavam!

- Cumprida a nossa missão, Para casa podes voltar. O teu nobre coração Eu nunca vou olvidar.

-Vais de regresso ao teu lar, Sê feliz, meu amiguinho. Basta quereres chamar E estou aqui, passarinho.

Contigo gostava de ir, O teu País conhecer. - Disse Tiago a sorrir Mas não pode acontecer!

Logo após Pérola Azul ter absorvido a Flor do Girassol, assistiram a uma transformação magnífica. Ela era agora a mais bela pérola que brilhava ao sol refletindo as cores do Arco-Íris. Subiu às alturas e aquele belo Arco da Aliança brilhava nas alturas. O pequenino Passarinho Azul voava ainda ao lado de Tiago, que mantinha ainda a forma de um delicado passarinho. Foi então que num golpe de magia o fez voltar à sua condição de menino traquina que era a sua. - Vento amigo, - suplicou - leva-me ao Paraíso Azul, quantas saudades sinto de ali regressar!

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Tiago recordava agora os momentos lindos que vivera durante essa viagem efémera ao Paraíso Azul, onde tudo se revestia dessa cor linda que se espalhava para lá do universo – o seu Azul Celeste. - Tiago, Tiago, acorda filho! Deixa ver se acaso tens febre! Que coisa mais estranha adormeceres no banco do jardim! - Não mãezinha, fiz uma longa viagem até um lugar onde encontrei o Arco-Íris, que devolveu as cinco Virtudes ao Paraíso Azul! - Tu e as tuas histórias – sorriu.

- Esse Passarinho Azul Não sei bem o que lhe deu, Foi para norte ou sul? Não sei, desapareceu!

- Tiaguinho, meu filhinho, Sempre no Reino da Lua, Vem para casa, menino, Com esta mãezinha tua.

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Autor

Rosa Maria Santos

Três contos

Um presente do céu

Amanheceu na Floresta Simálya. Os animais noturnos recolhem aos seus esconderijos, os diurnos preparam-se para uma nova jornada na procura de alimentos. Malika, a mãe coelha, levantou-se cedo para ir à horta de Inácio Flores procurar umas cenouras tenras com que ia alimentar as suas crias na sua refeição matinal. Ela bem sabe que uma boa refeição logo pela manhã trará a força precisa para mais um árduo dia de trabalho. Então, saltou do leito macio e chamou Limarke, o seu companheiro. - Acorda, Limarke, já se veem os primeiros raios de sol, toca a levantar, menino, e enquanto te arranjas, vou acordar o Molin, a Milay, e o Benjamim, vamos levá-los connosco à horta do Inácio Flores.

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