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Algicultura: uma nova etapa da maricultura catarinense

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De pai para filho

De pai para filho

Após a liberação comercial da Kappaphycus alvarezii em 2020, o cultivo de algas ganhou força nos últimos anos em Santa Catarina e vem se apresentando como outra opção de renda com grande potencial ao maricultores

Há trinta anos, em Ribeirão da Ilha, Florianópolis (SC), o pescador Ademir dos Santos estava na beira praia quando recebeu a visita do pessoal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) que estavam ali para conversar sobre “plantações” de ostras e mexilhões. Isso chamou a atenção do pescador porque plantações no mar eram algo inusitado para a época.

A primeira experiência do pescador foi com o cultivo de mexilhões e um ano depois, começou a se aventurar com as ostras. Cerca de 15 anos depois, Santos foi informado de que a prefeitura de Florianópolis faria um intercâmbio com a França e procurava um produtor que pudesse representar o segmento no país europeu. E lá foi ele em destino a La Rochelle, cidade especialista em maricultura. A experiência acabou possibilitando o contato com novas tecnologias, formas de cultivos e experiências que foram repassadas aos maricultores catarinenses.

De volta ao Brasil, uma nova etapa da maricultura e da história de Santos começava duas décadas depois após o maricultor participar de uma palestra sobre algas. “Plantar algas? Eu pensei: ‘lá vem mais experimentos’”, comenta.

Também em Ribeirão da Ilha, nos anos 2000, quando o pai de Tatiana Cunha se aposentou, viu na maricultura a oportunidade de continuar em atividade com o cultivo de ostras e mexilhões. Mas, com o tempo, algumas áreas da família passaram a ter problemas higiênicosanitários que tornaram a produção inviável na região. Foi quando Cunha viu na Kappaphycus alvarezii a possibilidade de continuar ajudando na renda familiar.

Há cerca de 30 anos que Ademir dos Santos produz ostras e mexilhões em Florianópolis, mas nos últimos 10 anos se dedica exclusivamente a produção da Kappaphycus alvarezii

“Como as condições financeiras não ajudavam para fazer a depuração e comprar os equipamentos para fazer o cozimento da ostra, a gente resolveu migrar para alga”, conta Tatiana Cunha, algicultora e empresária.

Na nova experiência, e com apoio da Secretaria da Agricultura do Estado e da Epagri, Cunha decidiu seguir sozinha nas atividades da Algama Fazenda Marinha. Inaugurado em 2022, a empresa ganhou em janeiro de 2023 a primeira unidade de beneficiamento de algas do Estado.

A Algas Brasil

No início de 2020, após anos de tentativas e erros no cultivo, aconteceu a tão sonhada liberação do cultivo comercial da Kappaphycus alvarezii pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Litoral de Santa Catarina.

Foi então que surgiu a fazenda marinha Algas Brasil, fruto da sociedade de Ademir dos Santos com seu filho Gabriel Ademir dos Santos, e os empresários goianos e sócios-proprietários da empresa de fertilizantes Carbom Brasil, Leandro Anversa e Sandra Anversa.

No primeiro ano da empresa, em 2020, foram produzidos 1.000 litros da macroalga que, como explica Santos, é processada na própria fazenda. Com a expansão e a adoção de novas tecnologias no cultivo e processamento para a extração de biofertilizante da carragena, no segundo ano, foi alcançada a marca de 70 mil litros.

Com o sucesso da fazenda marinha, os demais maricultores da região também passaram a aderir às atividades com tecnologias cedidas. Assim, a empresa começou o seu processo de expansão, comprando e processando macroalgas dos produtores locais. Para este ano, as expectativas estão altíssimas já que, como conta Santos, “a empresa está processando atualmente cerca de 6 mil litros por dia.”

Família Cunha desistiu dos cultivos de ostras e mexilhões, mas a filha Tatiana começou uma nova etapa com pesquisas em usos múltiplos da macroalga

A Algama e os usos múltiplos

Da macroalga Kappaphycus alvarezii é feita a extração de carragenana, utilizada principalmente para a produção de biofertilizante. Mas, também já é possível o comércio de algas in natura, além de usos múltiplos na gastronomia e outros segmentos que vêm fortemente sendo estudados e explorados.

É justamente esses novos usos que levaram a produtora Tatiana Cunha a direcionar a produção da Algama Fazenda Marinha para pesquisas e usos múltiplos, como foi o caso dos cosméticos. “Minha inspiração veio após saber de um grupo de mulheres no Nordeste que trabalhavam com uma outra espécie de alga.”

Com técnicas para uma extração mais refinada dos hidrocolóides da macroalga, Cunha passou a produzir seus cosméticos. E após voltar de uma visita ao Instituto de Pesca de São Paulo, em São Paulo, o leque de possibilidade do uso da Kappaphycus alvarezii se expandiu também para a culinária, como por exemplo, a produção de farinha e extração de sal para consumo humano. Além do sal, a partir da alga desidratada para consumo humano, é possível fazer a extração da carragena também para a produção de fármacos e para a indústria alimentícia no geral, mas também a maricultora aplica na sua produção de gel nutritivo e outras receitas.

Pescados de Qualidade para

o tipo de Varejo e Atacado

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