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Marketing & Investimentos

Com estandes bem posicionados em todos os pavilhões, além da presença da Associação Brasileira do Fomento ao Pescado (Abrapes), mesmo com porcentagem reduzida no evento, o peixe fez barulho.

E o ruído veio também de onde não se esperava, com empresas que voltaram a priorizar o pescado em suas estratégias de expansão nas proteínas animais. É o caso da GT Foods, tradicional processadora de frango, que revelou à nossa reportagem através de Carlos Eduardo de Grossi Pereira, vice-presidente de proteínas do grupo, um ambicioso projeto: a ideia é chegar a processar 40 toneladas diárias de tilápia e vender com a marca Canção Alimentos.

O modelo é similar ao das cooperativas paranaenses, como a C.Vale, que enxergaram na tilápia um item complementar ao mix do varejo. “É difícil você fazer um cadastro tendo um item só para oferecer para o supermercado. Quando você tem o frango, você tem todos os cortes, então você consegue levar uma gama de produtos nesse cadastro”, conta Pereira. “Então, pensamos: a gente consegue encaixar a tilápia com essa com essas proteínas que já produzimos.” Depois de arrendar um frigorífico perto da matriz, em Maringá (PR), a empresa iniciou o abate de tilápia de terceiros em janeiro de 2022 e hoje, já processa 10 toneladas/dia.

Com a conversão de uma fazenda própria de arroz em viveiros de tilápia, a empresa pretende ter em breve toda a tilápia para produção própria - o aumento da produção irá forçar uma expansão da capacidade de abate. “Como nosso frigorífico atual só comporta dez, construiremos um frigorífico novo para abatermos inicialmente 30 toneladas, que é a capacidade da nossa própria fazenda, já com uma fábrica de ração própria e uma fábrica de farinha e óleo própria também para tratar o subproduto do peixe”, diz Pereira. O investimento total é de até R$ 80 milhões para um faturamento de R$ 200 milhões.

A busca por maiores volumes de tilápia também norteia os investimentos da Brazilian Fish. “Nós sabemos que falta peixe no mercado. Por isso, nós aumentamos nossa capacidade de abate em 55%”, revela Ramon Amaral, diretor do Grupo Ambar Amaral para os negócios de pescado e biofertilizantes. Para isso, a empresa adquiriu recentemente uma planta frigorífica na região – a Fish Farm, em Santa Albertina (SP) – para ampliar para 25% esta capacidade. “Em breve, aumentaremos em 30% por meio de outra aquisição.”

A empresa ainda estreou na Apas com novidades: o filé de tilápia em atmosfera modificada com 22 dias de shelflife e a carne moída de tilápia, que tem nova formulação. “O filé em ATM tem o maior shelf-life do mercado, o que aumenta muito as possibilidades de explorar o filé de tilápia fresco no ponto de venda. E a carne moída de tilápia é mais barata, saudável e gostava que a carne moída tradicional”, indica Amaral.

Valdemir Paulino dos Santos, superintendente comercial da Copacol, acredita que a escassez de produto pode tornar a ressaca pós-Quaresma menos complexa, bem como favorecer a campeã nacional. “Para nós que produzimos a tilápia, nosso carro-chefe, acho que está bem competitivo. A cada ano, o consumidor fica mais fiel.” Segundo ele, a cooperativa também tem planos de expansão. “Temos um caminho para aumentar ainda mais a produção, com mais um turno na indústria que ampliamos recentemente.”

A Korin, que também atua na tilápia, se direcionou a consumidores que buscam na filosofia da agricultura natural uma forma de consumir os alimentos e diminuir a pegada no meio ambiente. Luiz Carlos Demattê, CEO da Korin Alimentos, considera o pescado uma vertente em crescimento. “Encontramos uma série de processos que podem ser melhorados com base no nosso conceito de agricultura natural e produção natural de alimentos”. A expectativa é que aumente a fatia de clientes sensibilizados pelo esforço da empresa - por enquanto, ela atua com a tilápia e a truta naturais, sem uso de hormônios ou de qualquer antibiótico.

E Salm O

Apenas um estande de pescado para cada país. Este foi o saldo da participação de Argentina e Chile na Apas. O surgimento e consolidação da Seafood Show Latin America como feira especializada do setor é um dos fatores apontados pelos programas de promoção de exportação destes países para a debandada da Apas, fato comprovado na conversa com alguns dos tradicionais expositores. No entanto, também é um período turbulento no acesso a recursos públicos para financiar ações de promoção comercial em diversos países sul-americanos que tradicionalmente participavam da feira, como Peru e Equador - ausentes neste ano.

Ainda assim, algumas empresas fizeram questão de marcar presença. No caso argentino, a representante foi a marplatense Congelados Ártico. “Participamos [da Apas] em todos os anos, com a ideia de trabalhar no Brasil o conhecimento de que usamos 100% de matéria-prima argentina”, diz Nicolás Papazian, diretor da empresa. Para ele, a vinculação com o Mercosul também é um diferencial competitivo para a introdução destes produtos, pelos acordos tarifários que tornam os produtos processados mais baratos na venda ao Brasil.

Outros representantes argentinos não estiveram com estande na feira, mas ficaram abrigados em outros parceiros. Esse foi o caso de Pablo Basso, gerente comercial do Grupo Iberconsa, que fortaleceu a divulgação do camarão vermelho como parte do portfólio de produtos importados da Opergel. “Nossa intenção é fortalecer cada vez mais a presença deste produto entre os restaurantes japoneses”, ressaltou.

Já o camarão vannamei teve como representante exclusivo e focado a Qualimar, que centrou seus esforços de marketing em eventos neste ano na feira Apas, de modo a aumentar a capilaridade do produto no varejo nacional. A estrela do estande foi o aquário com exemplares vivos de vannamei, mas também houve espaço para os pacotes de tilápia, atum e dourado, entre outros produtos.

O segmento de filés brancos segue como o favorito no peixe congelado, o que força as empresas a desenvolverem soluções específicas na área. É o caso da Oceani, marca da Opergel para o varejo, que investiu no lançamento de um produto oriundo da pesca extrativa brasileira. “Estamos lançando o filé de pescada sem pele, uma novidade interessante porque a Opergel é uma empresa com foco muito grande na importação. Este é o primeiro produto oriundo da pesca que nós estamos lançando na marca Oceani”, comenta o gerente de negócios Pedro Pereira.

A empresa ainda lançou um kit paella reformuladodepois da troca do fornecedor anterior – e também anunciou a chegada ao mercado dos anéis de lula de origem peruana, que serão finalmente lançados depois de dois anos de testes em pouches de 400 g. O suprimento de produtos importados enfrentou uma situação caótica na pandemia, ao passo que a demanda crescia. No caso do Alasca, os volumes de captura diminuíram ao longo de 2020 e 2021, mas começaram a voltar à normalidade em 2022. “Nos últimos dois anos a gente viu preços muito fortes no Alasca e por diversas razões ligadas ao custo da operação durante a Covid-19”, explica Carolina Nascimento, sócia da River Global, responsável pelo programa do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI) na América Latina. “Não significa que será uma pechincha, uma super queima de estoque, mas vai voltar a preços mais normais que a gente viu uns cinco anos atrás”, projeta a especialista. Durante a Apas, uma delegação composta por seis empresas do Alasca fez uma escala em São Paulo (SP) e depois partiu para Bogotá e Cartagena (Colômbia), fechando em Lima e Piura (Peru).

A estratégia é distinta para cada um destes países, como ilustrou a gerente da ASMI para Latam e Leste Europeu, Nicole Alba - em uma entrevista direto da casa do cônsul dos EUA em São Paulo, que ocorreu na manhã do segundo dia da Apas. “Os mercados consumidores de Brasil e Colômbia são essenciais para nós por abrirem as portas para o mercado latino-americano. Já o Peru é um grande potencial para trabalhar com as plantas processadoras.”

Com apenas um estande chileno focado no salmão - da Invermar, abrigado no ProChile -, o pescado só não ficou mais ofuscado na Apas por conta do lançamento das porções individuais entre 200 g e 250 g da Bom Peixe, além das conservas da Robinson Crusoe (leia mais a seguir)

A feira serviu como palco de demonstração ao público, para testar a proposta de se ajustar ao bolso do amante de salmão. “O salmão tem um preço mais elevado e, porcionando, todos podem ter acesso”, comentou Phelipe Souza, gerente de logística da Bom Peixe.

Souza suspeita que os preços não devem refluir em um futuro breve. Com a produção mais controlada nas águas chilenas, não há perspectiva de aumento de fluxo de matéria-prima, mas ele espera ao menos uma estabilização. “A partir de agora, a produção tende a ficar mais estável e a oferta mais linear, o que garante um abastecimento mais tranquilo.”

Na linha de novas apresentações com salmão, a Robinson Crusoe apresentou uma opção de filés em conserva, dentro da nova linha Gourmet - que contempla ainda atum em filés e ventrecha, além dos filés de sardinha, todos em azeite de oliva extravirgem. “Somos a única empresa de pescado aqui no Brasil hoje que atua com salmão. O produto é importado diretamente do Chile com uma aparência mais premium”, crava Juliana Antunes, gerente de Trade e marketing da Robinson Crusoe. Ainda no segmento de conservas, mas no atum, ela destacou os bons resultados da linha MyProtein, lançada no ano passado. “Ele tem 31 g de proteína, mais do que o dobro do que uma lata de atum normal, o que o torna ideal para pessoas que praticam esporte ou regimes.” Essa tecnologia foi criada no Brasil e exportada para outras unidades do grupo espanhol Jealsa-Rianxeira, ao qual pertence a Robinson Crusoe.

Nas constelações do pescado na Apas, o bacalhau brilha como a aurora boreal. As já tradicionais Bom Porto, Ferraz & Ferreira, Riberalves e Soguima estavam lá novamente, mas a novata Caxamar chamou a atenção com a segunda participação na feira com uma linha ampla de itens de bacalhau. O presidente do conselho de administração da Caxamar, Gonçalo Bastos, esteve no Expo Center Norte e cravou: o Brasil se tornou prioridade. “Começamos a fazer um alinhamento da gama de produtos de acordo com a necessidade do mercado brasileiro.” O otimismo do executivo português é flagrante: “2023 é um ano que ficará marcado por grandes indicadores no consumo. Estamos preparados para isso e viemos para ficar.”

A categoria também atraiu a Copacol, que estabeleceu parceria com a Riberalves e destacou na feira uma linha de lombos, postas, bolinhos e bacalhau desfiado. “O lançamento foi no pré-Quaresma, mas o produto está com boa aceitação dos nossos parceiros e estamos com nível de cadastramento muito bom nas grandes redes”, projeta Valdemir Paulino dos Santos. A capilaridade da Copacol facilita o projeto de expansão: “Temos uma estrutura bem grande com relação à logística, importação e o armazenamento com várias filiais de vendas. Vamos chegar em praticamente todos os pontos de vendas de médio para grande.”

O desafio dos que operam com bacalhau é expandir o seu consumo em um cenário de pressão inflacionária já na origem. Com cotas de captura em redução desde o ano passado - a cota para 2023 foi recentemente reduzida em 20% -, o cenário é de carestia. “O valor da matéria-prima tem subido ao longo dos anos e precisamos nos ajustar para não termos produtos caros para o consumidor”, aponta Bastos, da Caxamar. Na prática, a empresa desenvolveu mais produtos diferenciados com pesos e caixas menores.

Enquanto a Opergel também modificou recentemente as embalagens de bacalhau da linha Oceani, a Bom Porto também se mostra atenta à tendência. Lançou na Apas as

Estrelas embaladas

Depois de participar recentemente da Anufood, a gaúcha Letto Seafood escolheu a Apas, no estande do Sebrae-RS, para apresentar as soluções de petiscos e pratos prontos com pescado. A diretora de marketing da empresa, Aline Novelletto, explicou que a proposta de introduzir produtos premium de peixes e frutos do mar no Rio Grande do Sul chamou a atenção de outras praças. “A partir daí, a gente também pataniscas, prato tradicional da culinária portuguesa com bacalhau empanado. Para Angélica Seiblitz, gerente de marketing da Bom Porto, é uma alternativa aos bolinhos que não estejam na preferência do consumidor. está vendo uma necessidade em nível Brasil desses pratos elaborados pelo nosso chef e sócio, Maurício Fernandes .” As opções variam de receitas como robalo com camarão e arroz com polvo, até casquinha de siri e camarão à milanesa.

A distribuição ficará a cargo da Golden Foods, que também participou da Apas com um viés de destaque ao pescado. Além dos produtos da Letto que passará a distribuir, a empresa já tem há anos uma linha própria de itens de alimentos aquáticos que agora volta a estar em evidência. “Estamos voltando com muita força no mercado, com panga, merluza e tilápia”, cravou Vitor Longue, gerente comercial

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