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Especial Um mar de oportunidades (e algumas incertezas)
from Seafood Brasil #49
A compra da Komdelli pela Frumar, anunciada em abril, reabre a discussão sobre o potencial de consolidação das empresas de pescado. Afinal, o que podemos esperar para o segundo semestre de 2023?
Texto: Guilherme Bourroul | Edição: Léo Martins
Éconsenso entre especialistas que 2023 seguirá um ano com muitos desafios para os empresários. Isso porque estamos vivendo no mundo uma série de eventos de impacto global, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o conflito comercial entre Estados Unidos e China e a persistente pandemia da Covid-19.
Este cenário faz com que os investidores estejam mais cautelosos na hora da tomada de decisões e também com que os financiamentos fiquem mais caros. De acordo com a consultoria Dealogic, o mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no Brasil, teve em 2023 seu pior início de ano desde 2020, quando foi afetado pelo choque do início da pandemia. Conforme o levantamento, feito a pedido do jornal Valor Econômico, o volume financeiro das transações de janeiro a maio deste ano somou US$ 6,1 bilhões, o que representa uma queda de 73% em relação ao mesmo período de 2022. O valor movimentado nos cinco meses iniciais de 2020 foi de US$ 5,7 bilhões, 67% menor em relação mesmo período de 2019.
Ainda segundo a consultoria, apesar do início de ano considerado “morno”, a expectativa é de melhora nos próximos meses – nesse cenário, o setor de M&A já dá sinais de reação. Soma-se a isso o fato de que o investidor estrangeiro continua vendo o Brasil como um importante destino para novos aportes. Para 2023, é esperado que o País continue sendo um dos principais países a receber capital estrangeiro, atrás somente de Estados Unidos e China.
“O nível de complexidade está tão elevado que, de fato, os investidores estão mais cautelosos na tomada de decisão. Isso tem motivos claros: o fluxo de informação é gigantesco, a complexidade é alta, o risco sistêmico está elevado e, embora haja liquidez elevada, o medo de errar é grande”, aponta o economista Gilberto Gonçalves, sócio da GL3 Consultoria, que acompanha o setor de pescado há mais de uma década. Segundo ele, diante deste desafio, a saída para as empresas está em reforçar a governança e diversificar o portfólio, o que às vezes pode significar mais complexidade e dificuldade de controle. “Ser menos ousado e adotar estratégias mais conservadoras é uma postura mais inteligente. Além disso, manter uma estrutura de capital menos alavancada também é uma atitude responsável, em épocas de muita incerteza e volatilidade”, recomenda.
Um caminho para crescer e enfrentar o cenário
Simplicidade e eficiência podem ser adotadas por organizações de qualquer porte e, embora empresas maiores acessem melhor e com mais visibilidade os mercados locais e internacionais, aquelas de pequeno porte nacionais também podem adotar estratégias mais conservadoras e alavancar menos suas operações e, em função disto, ficarem mais resilientes a crises políticas, econômicas, financeiras e de demanda. Conforme explica Gonçalves, há oportunidades para todos os tipos de apetite. Tudo vai depender da estratégia do investidor e do que ele está buscando. “Cada investidor pode ter interesses distintos em um mesmo momento, ou mesmo interesses distintos e cenários diferentes. Isto muda muito. A cada hora ele pode querer priorizar uma estratégia.”
A compra da Komdelli pela Frumar, anunciada em abril deste ano, trouxe de volta a possibilidade de maior consolidação das empresas de pescado. Na ocasião, a empresa gaúcha confirmou ter pago R$ 50 milhões para absorver a Komdelli, que enfrenta um processo de recuperação judicial desde 2017, num negócio com bastante potencial, que multiplica a capacidade produtiva da Frumar por 10, atualmente em 80 toneladas por mês. “O volume estimado para 2023 poderá chegar a 10.000 toneladas e o faturamento do grupo somado deverá ultrapassar
Gilberto Gonçalves diz que para driblar a crises financeiras, políticas, econômicas ou de demanda, empresas podem reforçar a governança e diversificar o portfólio, o que às vezes pode significar mais complexidade e dificuldade de controle
R$ 670 milhões em 2023, 66% mais do que no ano passado”, disse o diretor da Frumar, Éderson Krummenauer, quando o negócio foi concretizado.
Hoje muito focada em importações, a Komdelli poderá dar suporte a um plano da Frumar de expandir a atuação para além das fronteiras brasileiras. “Com uma área industrial de 28 mil m2 e área frigorífica de 7,2 mil m2, a empresa catarinense tem posição logística estratégica, pois fica próxima dos principais portos de cargas e do maior polo pesqueiro do Brasil: Itajaí, o que favorece ainda mais as operações no mercado internacional”, afirmou Krummenauer. Sendo assim, a unidade da Komdelli soma-se a outras cinco da Frumar: em Porto Alegre/RS, São Leopoldo/RS, Passo Fundo/RS, Itapema/ SC e São Paulo/SP.
Parcerias como
Alternativas A Fus O Ou Aquisi O
Fusões e aquisições não são o único caminho possível para as empresas do setor de pescado seguirem o caminho de crescimento ou enfrentamento de crise econômica global. Em 2022, por exemplo, observaram-se algumas movimentações de parcerias estratégicas, comerciais ou industriais.
Uma delas foi firmada entre a Bio Pescados da Amazônia e a Zaltana, principal indústria de tambaqui do Brasil. “Como temos intenção de ser uma empresa com foco na sustentabilidade, sempre pensando em proteger os rios, temos essa iniciativa com a Zaltana para o fonrecimento de tambaqui em cativeiro, reduzindo o impacto sobre o tambaqui selvagem e somando forças de comercialização, produção e distribuição”, conta o diretor comercial Armando Corrêa A parceria também envolve a parte comercial e de vendas. “Estamos atuando juntos, extraindo o melhor de cada empresa.” Segundo ele, a companhia ainda possui parcerias similares com outros criadores de tambaqui de cativeiro.
A estratégia parece estar surtindo um efeito positivo nas vendas da Bio
Armando Corrêa, diretor comercial da Bio Pescados da Amazônia, comenta que a parceria com a Zaltana visa extrair o melhor de cada uma para as duas somarem forças de comercialização, produção e distribuição
Pescado, que vem trabalhando para abertura do mercado internacional e já comercializa banda de tambaqui na Colômbia, Peru e, mais recentemente, começou também a embarcar produtos para os Estados Unidos. “A aceitação está muito boa. Estamos trabalhando massivamente no marketing e abertura de pontos de distribuição”, destaca.
Ele confirma que existe a intenção de abrir novos mercados. “Nosso foco é cada vez mais tornar nosso produto conhecido e de forma sustentável, uma vez que sabemos que o segmento de proteína animal, principalmente o do pescado, tem um grande potencial de crescimento.” A expectativa da companhia é fechar 2023 com um faturamento de R$ 40 milhões, crescimento superior a 20% em relação ao ano passado, quando atingiu R$ 32 milhões.
A Bio Pescados conta com uma estrutura de três frigoríficos, com capacidade de produção de 100 toneladas por dia, com a estratégia de diversificação de produção entre as plantas produtivas e maior capacidade
De olho em outros nichos
A Frescatto mostra-se atenta também a caminhos alternativos. No ano passado, a companhia fez um aporte na Sustineri Piscis, uma foodtech brasileira de peixe cultivado que produz em laboratório, sem o abate de animais. O valor do negócio não foi revelado.
Conforme informa a Sustineri Piscis em seu site, o objetivo da empresa é “revolucionar o modelo tradicional de consumo de frutos do mar, há séculos viabilizado pela pesca selvagem, e propor a aquicultura celular como uma solução inovadora escalável, uma alternativa ecologicamente correta de consumo mais saudável, mais seguro e mais sustentável.” Dentro deste cenário, Thiago De Luca explica que a decisão de investir neste projeto tem a ver com o propósito da Frescatto, com a preocupação de reduzir o impacto ambiental sempre. “Depois de quase três anos de P&D, a Sustineri Piscis, de forma inédita no Brasil, obteve sucesso na produção de massa proteica de carne de robalo por cultivo celular em biorreator, ou seja, carne genuína de pescado.” Segundo o executivo, muito em breve a empresa apresentará ao público seu primeiro bolinho de peixe como prova de conceito.
As três unidades da Bio Pescados somam juntas, a capacidade de produção de 100 toneladas por dia; a intenção é ampliar a capacidade produtiva para fazer frente aos novos desafios que vêm surgindo de captação do pescado direto com o pescador. E a empresa não deve parar por aí: Corrêa confirmou à reportagem que existe a intenção de ampliar a capacidade produtiva para fazer frente aos novos desafios que vêm surgindo.
Outro case que movimentou o setor no último ano veio da Frescatto, uma das principais indústrias de pescado do Brasil, que produz 20 mil toneladas de peixe por ano. A companhia sediada no Rio de Janeiro/RJ firmou parceria de co-branding com a norueguesa Mowi.
“É a maior produtora de salmão no mundo, nosso parceiro de longa data que, assim como a Frescatto Company, tem em seu DNA o cuidado com a qualidade e práticas sustentáveis de cultivo. Entre as ações realizadas em parceria com a Mowi, está o desenvolvimento de embalagens e relacionamento com clientes”, relata Thiago De Luca, diretor geral na Frescatto.
“Estamos avaliando a necessidade para que possamos crescer de forma segura e consistente. Temos a intenção de já nesse ano, começar a construir uma nova planta moderna e eficiente.”
Conforme ele explica, a Mowi traz para o negócio toda a sua expertise adquirida no mundo, por meio de muita pesquisa com consumidores, com base em hábitos de consumo. O próprio time da Frescatto segue também sempre avaliando o mercado, com o objetivo de trazer novidades e melhorar a experiência
Dicas para os empresários de todos os portes
A pedido da reportagem da Seafood Brasil, o consultor Gilberto Gonçalves detalhou o que imagina para o restante do ano de 2023. Na avaliação dele, fusões podem entrar no radar das grandes empresas, enquanto aquisições devem ser avaliadas por pequenas – como target – e médias empresas. “O importante é observar a tendência de conglomeração do setor de proteína animal. Vejo tanto empresas de fora buscando oportunidades aqui quanto empresas nacionais olhando fusões.” O especialista alerta, no entanto, que embora muitas vezes a negociação ocorra de forma séria e bem-intencionada, em outras ocasiões, funciona uma como forma de chamarem atenção para si ou fazerem espionagem, o que pode ser perigoso.
Para as pequenas empresas, Gonçalves diz que a saída para garantir a sobrevivência é a completa formalização do negócio, conjugada com leitura e entendimento da cadeia produtiva e conhecimento mais a fundo quais são os concorrentes mais diretos. “Não do mercado como um todo, mas daqueles que disputam com o mercado, seja supermercado, food service, etc.” Na opinião dele, todo o resto não é possível ter controle. Então, é fundamental treinar bem os funcionários, formalizar o negócio e olhar diariamente para produtividade e riscos.
Paras as empresas médias, governança e produtividade também precisam ser observadas com atenção. Mas o consultor recomenda alguma ousadia na diversificação de mercado (clientes) e de portfólio de produtos. “Sempre com pé no chão e sem devaneios, sendo sempre humilde e atento, e sem ter medo de impostos e do varejo.”
Já as grandes empresas podem pensar em compras e fusões, pois têm mais acesso a informação e capital, além de melhor poder de barganha com varejo e food service Neste caso, os principais desafios elencados por Gonçalvez do consumidor com o pescado, democratizando esse consumo.
De acordo com o executivo, a parceria vem rendendo bons frutos. “Apesar de 2023 ser um ano ainda com desafios econômicos, alto desemprego e alta inflação nos pescados, estamos aumentando o número de clientes com os produtos e nos solidificando com os são: controle gerencial, funcionários, filiais e risco de fraudes. “Elas têm acesso a oportunidades que as pequenas e médias não conseguem”, acrescenta.
Negociar uma empresa é complexo e envolve planejamento e uma série de cuidados para mitigar os riscos. “Se o grau de governança for baixo e a informalidade – inclusive sonegação – for alta, a possibilidade de uma venda ser bem sucedida é baixa, o que é frustrante. Às vezes não sai negócio, ou sai negócio e logo em seguida ele é desfeito, que é o que temos visto”, opina Gonçalves. A recomendação dele é formalizar o negócio, ter um nível de governança bom, pagar impostos, ter balanços e DREs (Demonstrações do Resultado do Exercício) críveis, treinar funcionários, manter fornecedores parceiros e ser transparente na hora de negociar.
Rodrigo
Tendência no setor de proteína animal é de conglomeração: fusões podem entrar no radar das grandes empresas, enquanto aquisições devem ser avaliadas por pequenas e médias empresas pescados frescos, seguros, sem cheiro e cada vez mais práticos.”
Novos horizontes, novos descobrimentos
Na avaliação da Frescatto, o mercado brasileiro ainda tem muitas oportunidades de expansão, em várias direções. “Ainda existem muitos desafios no mercado de pescado no Brasil, que precisa de um marco regulatório mais atual, inclusive com novos parâmetros ambientais”, avalia De Luca. Ele acredita que com a formalização do setor e com controles e fiscalização, o pescado vai se consolidar e, consequentemente, o consumidor vai sentir mais confiança para consumir mais. “Ele [o consumidor] está mais preocupado com a saúde e, por isso,
A Frescatto firmou parceria de co-branding com a norueguesa Mowi, maior produtora de salmão do mundo para o desenvolvimento de embalagens e relacionamento com clientes buscando incluir mais pescados na rotina de alimentação”, completa.
Em 2022, a companhia obteve uma receita recorde superior a R$ 1 bilhão. Já o ano de 2023, começou de forma positiva, com conquistas que denotam o avanço da governança da companhia. “O primeiro trimestre foi bastante feliz: conquistamos o Selo Mais Integridade em fevereiro, uma chancela do Ministério da Agricultura e Pecuária que avalia fatores de governança, sustentabilidade e responsabilidade social. É o segundo ano consecutivo que conquistamos essa certificação, que reforça nosso compromisso com o mercado”, relata o diretor da Frescatto.
Em 2024, a empresa completa 80 anos de atuação. “Estamos trabalhando para comemorar este marco tão expressivo, não somente para o setor de pescados, mas para o País como um todo”, projeta.
Fabricadores de Gelo de 10 a 72 toneladas
Evaporadores para Túneis de Congelamento
Condensadores Evaporativos
Reservatórios para Amônia e Freon
Resfriadores de Água
Cortinas de Ar
Transportadores e Sopradores de Gelo