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Tilabras: com um fundo especializado

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Pescados

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Aporte de recursos do fundo viabiliza plano de expandir gradativamente a produção; as outorgas da empresa permitem uma produção superior a 100 mil toneladas

Apremissa está alinhada com o 14º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas: “buscar elevados retornos de capital, melhorar a saúde dos oceanos, garantir fontes de alimentação sustentáveis e fornecer ferramentas escaláveis de mitigação das mudanças climáticas”. É com essa orientação que o fundo inglês de private equity Ocean 14 busca fazer seus investimentos em empresas da chamada Blue Economy, cujo faturamento global é estimado em US$ 3 trilhões.

Em 10 de outubro de 2022, o fundo anunciou um aporte superior a 10 milhões de euros na Tilabras para suportar o plano de expansão da empresa, que envolve expandir a engorda em Selvíria (MS) - cuja concessão permite produzir 100 mil toneladas - e colocar em pleno funcionamento o frigorífico de Buritama (SP), adquirido em maio de 2021. Atualmente, a empresa produz 8.600 toneladas anuais e pretende chegar a 25 mil toneladas em 2024 - o processamento está em 22 toneladas diárias.

O plano já estava desenhado antes da pandemia, conforme garante o fundador e CEO, Nicolas Landolt. “Eu andava com este livreto [ele mostra um prospecto impresso em alta qualidade] pela feira de Boston e fiz mais de 20 reuniões para potenciais investidores”, conta. A lista encolheu para algumas poucas opções e Landolt achou que a empresa teria na Ocean 14 um bom parceiro, o que não foi unanimidade na Tilabras. “Como a Ocean 14 é muito especializada no setor, eles investem menos do que outros fundos com menos conhecimento. Então tive um debate internamente: queremos ter um sócio que trará algo para a mesa ou será só um financeiro. Acabei optando pela Ocean 14.”

Além de especialistas em Fusões & Aquisições (M&As), a equipe do fundo reúne cientistas e biólogos marinhos como consultores especializados para qualificar as análises financeiras. “No meu caso, tenho a sorte de sentar numa mesa de pessoas que têm know-how do setor, com uma abordagem diferente da minha”, sustenta Landolt. “A ideia deles através da Tilabras é transformá-la em uma consolidadora da proteína branca, mas eu não participo ativamente nisso. Sei que eles estão ávidos por novos investimentos na América Central e do Sul.”

Com larga experiência internacional, Landolt tem convicção de que o Brasil se tornará o líder no mercado norte-americano na tilápia. E, segundo seu desejo, a Tilabras será protagonista deste processo a partir da nova injeção de capital. “Nossa intenção é crescer. Ainda mais agora que o mercado norte-americano não está sendo atendido pelo mercado centroamericano e sul-americano.” O governo hondurenho quer suspender a tilapicultura em um de seus principais reservatórios e a Colômbia enfrenta episódios de mortalidade massiva que reduzirão muito os volumes para este ano. “Além disso, os norte-americanos querem reduzir a exposição aos asiáticos, dentro dos conceitos nearshoring e friendshoring [atuação regional fortalecida e sinergia com países de valores similares].”

No caminho da GeneSeas?

De tão recente, a experiência da RJ da GeneSeas deixa o setor com pé atrás em relação a uma transação apoiada em investimento de um fundo, como é o caso do novo aporte da Ocean 14 na Tilabras. Fontes ouvidas pela reportagem dizem temer que a empresa “vá pelo mesmo caminho”, em alusão à expansão mais acelerada a partir de capital externo. Landolt afirma, porém, que o clima interno é o melhor possível depois das discussões que ratificaram a importância de um perfil técnico a um perfil financista de investidores. “Esse investimento foi para o melhor. A equipe inteira está com muita vontade, não levou um balde de água fria como às vezes acontece em transações do gênero.”

O português Francisco Saraiva Gomes, sócio fundador e diretor de investimentos do Ocean 14, é um dos quadros técnicos elencados por Landolt. Com mais de 23 anos de atuação em empresas da cadeia aquícola, em cargos-chave, ele é um dos interlocutores que a Tilabras pretende ter na mesa para tornar a expansão cada vez mais factível. “Nossa parceria com a Tilabras dá continuidade ao foco da Ocean 14 Capital na interseção de sustentabilidade e finanças, criando plataformas industriais impactantes que permitem o crescimento medido e sustentável de uma das formas mais eficientes de produção de proteínas do planeta”, disse Gomes em um comunicado à imprensa na época da transação.

O executivo avalia que a tilápia cultivada no modelo continental em grandes reservatórios com alta capacidade produtiva em pouca área “é a alternativa mais sustentável ao peixe branco capturado no oceano”.

“O investimento do fundo na Tilabras apoia a visão da empresa de se tornar a produtora em escala de peixe branco de menor ‘custo natural’ do mundo”, avalia Gomes. Um dos sóciosfundadores do Ocean 14, Chris Gorell Barnes, endossa a interpretação.

“Nossa parceria com a Tilabras visa viabilizar essa transição dos setor para a piscicultura de grande escala e baixo impacto, aproveitando o melhor da tecnologia moderna. A tilápia deve crescer para uma indústria de US$ 9,2 bilhões até 2027 - é realmente o futuro em termos de como podemos alimentar o mundo”. Se tudo sair conforme o planejado, o negócio terá saído barato.

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