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Empresas “de dono”

“Existiam duas GeneSeas: a de Aparecida do Taboado e a da Faria Lima.” A frase virou um chavão no setor e poderia ser creditada a muita gente que, de fora, interpretou a derrocada da empresa como resultado de uma administração feita por um fundo de investimentos private equity. “O fundo não entrou na GeneSeas para financiar capital de giro, é um fundo que entrou para valorizar a empresa e depois vender”, avalia Roberto Imai, do Sipesp.

No modelo, o capital privado investido precisa dar retorno breve - em média sete anos -, o que pode motivar ciclos de expansão mais acelerados e consumidores de grande volume de recursos, em geral contratados junto a instituições financeiras. Se os fatores externos previstos não corroboram com o plano de expansão, a empresa fica mais desprotegida. Mas se dá certo, dá muito certo e a própria Aqua Capital é prova disso em outros negócios. Só um deles - a empresa de insumos naturais Biotrop - pode ser vendida em breve por R$ 2 bilhões, segundo o AgFeed.

Em uma administração familiar, os movimentos de expansão em geral são executados de maneira mais lenta, com ritmo definido pela disponibilidade de capital próprio ou acesso ao de terceiros e pela leitura cautelosa de cenários do setor. No caso da piscicultura, é comum uma empresa tirar o pé e acelerar em momentos distintos do mesmo ano fiscal. Ambar Amaral, BTJ Aqua e Grupo Pluma são bons exemplos de “empresas de dono”, mas com uma gestão orientada à inovação.

BTJ Aqua: números, planilhas e sistemas

Felipe Torquato Junqueira Franco é engenheiro agrônomo formado pela Esalq-USP com grande conhecimento em pecuária de corte, confinamento e integração lavoura-pecuária. Entre 2014 e 2019, ele desenvolveu um programa de venda de gado baseado em indicador referencial de preços da arroba bovina no mercado. Os resultados foram muito importantes para aprimorar contratos de venda para os frigoríficos, com preços préajustados e um planejamento amplo do campo ao abate.

A preocupação com indicadores vem de berço. Quando Celso Torquato Junqueira Franco entrou no negócio da piscicultura, em 2012, ele quis entender o negócio a fundo. A Fish Company, de Sud Menucci (SP), tinha três sócios que operavam com outra forma de gestão - em sete anos, a produção cresceu de 20 toneladas para 200 toneladas. Celso transmitiu o aprendizado aos filhos, que desenharam um plano de negócios para a família ingressar na aquicultura.

Em 2018, o grupo criou a BTJ Aqua, uma holding à qual seriam adicionadas mais três fazendas de produção e um frigorífico localizado em Ilha Solteira. Felipe e o irmão, Henrique, tocam a operação da planta frigorífica e das fazendas com uma certa obsessão pelos dados. “Hoje temos tantos dados que nem analisamos tudo, mas se quisermos analisar no futuro, teríamos de construir isso no presente”, diz Henrique.

Foi por isso que Felipe foi em busca do indicador do Cepea para a tilápia, hoje uma referência a todo o setor. “Como eu faço um combinado com frigorífico sem saber qual é o valor de mercado do meu produto?” A pergunta para quem ninguém tinha resposta o fez procurar os principais atores da cadeia e, com o apoio e respaldo da PeixeBR, fechou um acordo com o Cepea. “Juntamos 20 empresas que rateiam o custo entre si e bancam o

Família Torquato Junqueira Franco: obsessão por dados que fundamentem a gestão para alcançar 10 mil toneladas por ano em 3 unidades produtivas e um frigorífico para 28 toneladas/dia, além de um CD em Americana (SP) projeto, via PeixeBR.” No início o projeto monitorou três praças (Grandes Lagos, Norte e Oeste do Paraná) e agora, com uma articulação dos produtores de Morada Nova, também apura o preço daquela região.

Internamente, Felipe admite ter um preciosismo com a informação. Recentemente a empresa integrou o sistema ERP (gestão financeira) com um sistema de gestão da piscicultura. No frigorífico, o rendimento dos operadores é calculado individualmente, com bônus por produtividade. Grosso modo, com o indicador de mercado do Cepea somados aos indicadores internos, a BTJ Aqua sabe se está competitiva no mercado e consegue negociar melhor.

Felipe acha que a gestão familiar foi fundamental para a evolução da empresa, mas porque sempre

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