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Começa uma nova história de pescador
from Seafood Brasil #49
ExpoMar estreia no maior pólo pesqueiro do Brasil e ocupa espaço inexplorado com um evento comercial para a pesca e maricultura
Sem a parte folclórica, a ExpoMAR – pesca, maricultura e logística - pode ser sim uma história de pescador. Afinal, o evento estreou estrategicamente em 29 de julho, quando se celebrou o Dia do Pescador, em um dos principais polos da atividade no Brasil: a cidade de Itajaí (SC).
No centro da cidade, o espaço aguardava mais de 1.500 participantes entre pescadores, armadores, maricultores e empresários dos setores da pesca e da maricultura, universidades, entidades e governo. Já na cerimônia de abertura, Altemir
Gregolin, presidente do IFC e da ExpoMar, destacou os propósitos que motivaram a criação do evento. “Protagonismo. Nós sabemos que a pesca tem muitos problemas no dia a dia, mas precisamos pensar grande para construirmos uma nova narrativa no setor para a pesca ser conhecida por suas virtudes”, pontua.
A diretora executiva da ExpoMar e do IFC, Eliana Panty, também aproveitou a ocasião para destacar que o evento é fruto do apoio de diversas pessoas. “Nosso propósito e de contribuir e dar o nosso melhor para que esse setor amadureça, cresça e seja cada vez mais importante no fornecimento de proteína saudável”. Agnaldo Hilton dos Santos, presidente do Sindipi, pontuou que Itajaí tem o seu porte como polo pesqueiro do Brasil e que é ligado sobretudo pela união. “A união dos nossos armadores e da nossa indústria”, fala. Conforme ele, foi um desafio organizar um evento em três meses e já antecipou as expectativas para o que será realizado no próximo ano: “será ainda melhor”.
Os demais discursos no palco da cerimônia e nos corredores também celebraram a realização do evento. Entretanto , não deixaram de refletir o quanto a pesca no Brasil tem assuntos urgentes que necessitam passar do âmbito do debate para soluções práticas.
Promovida pelo IFC Brasil e com correalização da Fundep, Sindipi e da Univali, o evento teve apoio de diversas empresas, como o Sebrae e o BRDE e instituições como o MPA e a ONU.
O secretário-executivo de Pesca e Aquicultura de Santa Catarina, Tiago Frigo, representando o governador do Estado, Jorginho Melo, destacou a importância do setor para o Estado. “Nós geramos praticamente R$ 4 bilhões de faturamento na indústria da pesca e mais de 8 mil embarcações estão em Santa Catarina, o que representa mais de 30% da frota”, diz.
Atento aos discursos dos que o antecederam, André de Paula, ministro do MPA, aproveitou a cerimônia para anunciar a criação, por meio da Portaria Mpa Nº 101, de 28 de junho de 2023, do Grupo de Trabalho (GT) com a finalidade de subsidiar a gestão da atividade pesqueira da tainha (Mugil liza) para 2024 no litoral Sul/Sudeste.
Do mar à terra
As empresas do setor aproveitaram o encontro para reforçar seus laços comerciais e apresentarem suas soluções de produtos e serviços. Além disso, os expositores também fizeram suas reflexões sobre o atual momento do segmento e a importância do evento aos negócios.
A Marine Equipment levou suas sondas de alta tecnologia para performance e medição de oxigênio, além de sistemas de automatização que, juntos com as sondas, podem controlar outros equipamentos da indústria na água e na terra. “Essa é a primeira edição de uma iniciativa que vejo nova e que o mercado merece”, destaca Fabio Rossi, sócio-diretor da empresa.
Adriano Marcos, gerente-geral do Grupo Marquinhos, comenta que é necessário ter uma feira para linkar todo o setor, com o governo e especialistas nacionais e internacionais trocando ideias. “Unidos discutindo problemas, todos podem trazer soluções para o setor.”
Já o Grupo 100%, que tem hoje com a pesca uma representação importante de 30% do faturamento, entende que “o evento é importante para agregarmos cada vez mais nesse ramo da pesca”, pontua Carlos Kohler, gerente de soluções da empresa.
Passagem do ministro por Itajaí ainda foi marcada por mais queixas e demandas do setor, em uma agenda extra com pescadores e pescadoras do litoral catarinense. A revisão da cota da tainha e a volta do subsídio para o óleo diesel foram as principais reivindicações
Conhecimento em forma de palestras e debates
A Mazzaferro Pesca distribui para o Brasil inteiro e mais de 57 países soluções para pesca industrial, artesanal e esportiva. Neste contexto, Cristiane Balestrin, gerente de negócios da empresa, destaca que “o setor precisava de uma feira desse porte para unir colaboradores e fornecedores de suprimentos.”
Com menos tempo de atuação no setor, a Black Marine tem enxergado oportunidades de fornecer para o civil soluções náuticas com a robustez e o DNA militar. “O pessoal acaba não enxergando por conta da tradição na pesca. Então, novas tecnologias acabam entrando e trazendo benefícios para todo mundo”, diz João Pedro Pio, sócio-proprietário e engenheiro naval da empresa.
“Economia do Mar e a Pesca no Brasil, Plano espacial marinho, sinergias e conflitos”, os “Desafios e estratégias para a pesca e maricultura no Brasil” e os “Desafios e estratégias para elevar a competitividade e sustentabilidade da indústria de processamento de pescado” foram alguns dos temas abordados pelos 53 conferencistas no Fórum Internacional da Pesca e Seminário da Maricultura, ambos realizados nos dias 29 e 30 de junho.
Já o painel que debateu as Mudanças Climáticas e os efeitos sobre a disponibilidade e o comportamento dos estoques pesqueiros e na maricultura foi um dos mais aguardados. Na ocasião, a especialista Doris Soto, consultora internacional Chile e José Angel Alvarez Perez, pesquisador e professor da Univali, pontuaram pesquisas com base em dados que mostram o aumento da temperatura da terra.
Assim, a mudança climática que é abordada ainda pelo IPCC (relatório sobre mudanças climáticas da ONU) mostra alguns dos efeitos mais importantes como consequência desses gases do efeito estufa no mar, como aquecimento, aumento do nível e redução de oxigênio.
A ZKS Equipamentos e ZKS Engrenagens foram à feira para apresentarem soluções para a melhora do processo produtivo, principalmente da tilápia. Arnaldo Kostanecki, diretor das empresas , opina que a pesca está evoluindo, mas faz um alert a. “ O que tem que ser trabalhado no peixe é a redução de custos em todos os sentidos.”
A percepção mais positiva do segmento faz parte da visão de Narcelio Queiroz, gerente comercial da Central de Embalagens, para quem a empresa passa por um bom cenário. “A gente vem numa crescente dentro desse mercado e neste ano, esperamos crescer algo em torno de 20 a 25%”, diz.
Já Nicholas Jarussi, sócio-diretor da BKT Pesca, diz que é possível ver que a pesca extrativa no Brasil não apresentou crescimento nos últimos anos. Para ele, o alto custo em comparação à aquicultura é um dos entraves da atividade. “É preciso um estímulo a uma taxação menor, principalmente na área de combustível”, fala.
A necessidade de atuação governamental mais efetiva também foi destacada por Magno Francisco Medeiros, proprietário da Magno Redes. “Precisamos ter leis com mais eficácias e estudos”, fala. Para o evento, a empresa apresentou cabos vindos da Espanha com polistil e aço no meio e, da Argentina, panagens de redes com cabos sintéticos sem ferragem no meio.
José Luiz de Andrade, comercial das LZX Equipamentos, reforça o discurso de que o momento atual do setor requer cautela e acompanhamento das ações do governo. “Existem mudanças muito grandes acontecendo. Ou seja, se um investimento grande é feito em certos produtos, tudo pode ser invalidado se alguma mudança vier.”
Para Leandro Barbosa de Oliveira, sales manager da Volvo, o segmento no País é realmente desafiador. “A gente entende que historicamente, a questão de ‘motores de pescado’ vem sendo cada vez mais difícil de obter.
Os operadores e armadores precisam se especializar cada vez mais para otimizar essa operação porque eles estão com um custo operacional muito mais alto.”
Tina Rodrigues, comercial da empresa da Radionaval Eletrônica fornec, que também está situada em
Itajaí, destaca que as reclamações entre os clientes são em torno do valor baixo do peixe e das limitações das pescarias. Porém, ela analisa que apesar dos desafios, o segmento no Estado ainda está bem. “Está forte, mas a parte da pesca precisa de mais união e desde o pescador até a venda.”