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10. PERÍODO NEO-TESTAMENTÁRIO

HISTÓRIA DE ISRAEL

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PERÍODO NEO-TESTAMENTÁRIO

Este período foi bastante agitado. Sob o governo de Roma, a Palestina tornou-se palco de diversas revoltas e movimentos messiânicos que almejavam a libertação. A Judéia foi, por causa disto, anexada à província da Síria e governada por um procurador romano, enquanto as demais tetrarquias permaneceram na mão dos Herodes. Diversos massacres tiveram lugar e inúmeros grupos instigaram o povo a pegar armas contra Roma, até que por fim, estourou a guerra que culminaria com a destruição de Jerusalém e do Templo.

Este período nos foi minuciosamente descrito por um historiador judeu de nome Flávio Josefo, que lutou na guerra de 66 d.C., sendo capturado pelo exército romano e levado a Roma onde escreveu de forma pormenorizada a história dos judeus e sobre esta guerra que ele presenciou pessoalmente. Em seus escritos temos um amplo panorama que nos dá o pano de fundo no Novo Testamento.

10.1 A DINASTIA HERODIANA

Herodes o Grande era Idumeu, povo do sul da Judéia que fora convertido ao judaísmo no tempo dos Macabeus e que seguia o judaísmo apenas nominalmente. Em 37 a.C. Herodes, com a ajuda dos romanos, derrubam a Antígono, aliado dos partos, e passa a governar a Palestina, dando início a uma dinastia que governara a região até a queda de Jerusalém, isto é, por mais de cem anos. O seu governo foi marcado por inúmeras intrigas familiares, por instigação de sua irmã Salomé. Não foram poucas as vezes em que ele teve a sua vida ameaçada pelos próprios filhos, Alexandre e Aristóbulo, sendo que por fim mandou matá-los, bem como a

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própria mulher, Mariana, a quem amava muito, mas que se viu acusada de tentar envenená-lo. Mandou também matar Aristóbulo, irmão de Mariana, que tinha dezessete anos quando ele colocou na posição de sumo-sacerdote, bem como o avô de Mariana, que tinha na época oitenta anos.

Fez grandes obras públicas, entre elas um anfiteatro e embelezou o Templo de Jerusalém, construiu a cidade de Cesárea em honra a Augusto. Todavia a maioria das suas obras destinava-se ao benefício dos gregos, visto que os judeus abominavam os jogos desportivos e outros costumes helênicos. Estas obras também geraram enorme crise econômica.

No final de sua vida, o remorso pelos crimes perpetrados contra a própria família, o levou quase à loucura. O medo de ser envenenado e perder a coroa o afligiam dia e noite. Foi esta loucura que o levou a assassinar as crianças de Belém e ao redor, quando ouviu falar de um rei que havia nascido para reinar sobre os judeus. Após tantas crueldades, sua morte foi de um sofrimento atroz. Assim Flávio Josefo conta sobre seus últimos dias:

Deus queria que Herodes sofresse o castigo de sua impiedade; sua doença agravava-se cada vez mais. Uma febre lenta, que não transparecia exteriormente, queimava-o e o devorava por dentro; ele tinha uma fome tão violenta, que nada era capaz de saciá-lo; seus intestinos estavam cheios de úlceras; violentas cólicas faziam-no sofrer dores horríveis; seus pés estavam inchados e lívidos, suas virilhas também, as partes do corpo que se escondem com maior cuidado, estavam tão corrompidas que já eram devoradas por vermes; seus nervos estavam frouxos e ele respirava com dificuldade e seu hálito era tão mau, que ninguém o queria perto dele. Todos os que consideravam com piedade o estado deste infeliz príncipe, estavam dispostos a admitir que tudo aquilo era castigo visível de Deus, para puni-lo pela sua crueldade.16

16. JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. livro XVII. CPAD: Rio de Janeiro. 2001

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Morreu Herodes no ano 4 ou 5 a.C., e seu filho Arquelau, passa a governar em seu lugar no governo da Judéia, Herodes Antipas se torna governador da Tetrarquia da Galiléia e da Peréia e Filipe fica como Tetrarca da Ituréia e de Traconites.

Arquelau só reinou dez anos como etnarca da Judéia. Sua crueldade levou os judeus a protestarem diante de Augusto (Mateus 2.22). Então ele foi destituído e a Judéia foi incorporada à Síria e governada por procuradores, dentre os quais, Pôncio Pilatos, que torna-se procurador no ano de 26 d.C., sob quem foi morto Jesus.

Herodes Antipas que governou a Galiléia e a Peréia divorciou-se de sua legítima esposa, que era filha do rei Aretas, rei dos árabes nabateanos, para casar-se com Herodias, mulher do seu irmão Felipe. Este pecado pesou-lhe imensamente, pois foi por isto repreendido por João Batista. Sua mulher o induziu a diversos erros, inclusive ao de mandar matar João. É este Herodes que Jesus chama de raposa (Lucas 13.32).

Entre os anos de 41 e 44 d.C., a Judéia volta a ser governada por um dos Herodes. Por ser amigo de Calígula, quando este se torna imperador, eleva Herodes Agripa, neto de Herodes o Grande, ao cargo de Rei da Judéia. Foi ele quem mandou matar Tiago, irmão do apóstolo João e quem mandou prender a Pedro, o qual foi milagrosamente liberto (Atos 12). Por fim, devido à sua soberba, foi ferido por um anjo e morreu comido de bichos.

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10.2 REVOLTAS JUDAICAS

Vários foram os movimentos internos que viam no julgo romano, uma opressão, que precisava ser destruída. Pelo menos três destes estão descritos no Novo Testamento e a eles refere-se também Josefo. Teudas e Judas (Atos 5.36-37) e ainda há referência a um egípcio (Atos 21.38) que agitaram este período.

Josefo nos informa que este Judas era da cidade de Gamala, que sendo ajudado por um fariseu de nome Sadoque incitou o povo a se rebelar, dizendo que o censo que estava sendo realizado pelo Império Romano, tinha por finalidade escravizá-los. O povo, impressionado, rebelou-se e houve latrocínio, saques e assassinatos por todos os lados.

Teudas era um mago, que persuadiu o povo a segui-lo até o Jordão, dizendo que era profeta e que deteria o curso do rio com apenas uma palavra. Através disto levou o povo à rebelião, mas por fim o povo foi disperso e Teudas teve sua cabeça cortada e levada a Jerusalém.

Quanto ao egípcio referido no livro de Atos (21.38) era mais um desses falsos profetas que ilude seus ouvintes com palavras doces. Este dizia ser profeta, conseguiu chamar a atenção de seus ouvintes porque dizia que depois de proferir algumas palavras os muros de Jerusalém cairiam por terra. Quando o procurador Félix soube disso foi atacá-lo com grande número desses soldados. Cerca de 400 pessoas que o seguia, foram mortas e duzentas foram feitas prisioneiras, mas o egípcio escapou.

Em outra ocasião também, Pôncio Pilatos introduziu na cidade, legiões romanas que traziam em suas bandeiras a imagem do Imperador. Os judeus protestaram tanto, que Pilatos enviou um pelotão de soldados, ameaçando matá-los se eles não parassem de incomodá-lo. Mas os judeus dobraram os seus joelhos e expuseram suas gargantas, mostrando que morreriam de bom grado pela sua fé. Mediante isto, o governador admirou-se e mandou retirar os estandartes.

Também durante o reinado do louco Imperador Calígula, foi ordenado que dentro do Templo de Jerusalém se colocasse uma estátua do Imperador, que agora se dizia ser um deus e queria que todos o adorassem. Os judeus mandaram uma

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delegação a Roma, chefiado pelo célebre filósofo judeu Filo, de Alexandria, mas Calígula nem se quer os recebeu e ordenou ao comandante Petrônio que colocasse a imagem no Templo nem que para isso tivesse que massacrar os judeus. Muitos deles morreram, mas fizeram de seus corpos uma barreira humana, pelo que Petrônio desistiu diante de tal firmeza. Ao saber disto, Calígula mandou que ele se matasse. Todavia, antes da carta chegar, Calígula já estava morto e Petrônio foi salvo.

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