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11. O CERCO E A QUEDA DE JERUSALÉM

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HISTÓRIA DE ISRAEL

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O CERCO E A QUEDA DE JERUSALÉM

Cada vez mais os judeus elevavam suas vozes contra a odiada Roma. Ao partido dos zelotes afluíam fanáticos e rebeldes que reclamavam do domínio estrangeiro. Os abusos dos procuradores romanos tornavam a situação ainda mais delicada. O movimento ia se radicalizando. Quando o procurador Floro exigiu dois talentos de ouro do tesouro do Templo, no ano de 66 d.C., a revolta estourou. A guarnição romana foi atacada e Jerusalém caiu na mão dos rebeldes. A este fato, irrompeu a rebelião por todo país. Na Galiléia a revolta foi abafada, mas na Judéia a guerra ainda prosseguiu e inúmeros judeus refugiaram-se em Jerusalém, que já se encontrava lotada devido a festa da Páscoa. Em meio a esta campanha morre o Imperador Nero. Vespasiano, que então chefiava a guerra contra os judeus, é chamado a Roma e deixa o cerco de Jerusalém por conta de seu filho Tito.

Os judeus, apesar da fome a que estavam sujeitos, recusavam-se a se render. Por diversas vezes, Tito ofereceu-lhes propostas de paz. Nem mesmo a intermediação de Josefo, que mais tarde seria o célebre historiador desta guerra, seria suficiente para levá-los à razão.

Muitos judeus tentavam escapar durante a noite, e uma vez apanhados eram crucificados pelos romanos. Tantos foram crucificados que toda a floresta que havia ao redor de Jerusalém foi devastada. Espalhou-se também entre os soldados romanos, que os judeus engoliam ouro quando fugiam, na esperança de recuperá-lo depois. Devido a isto, os fugitivos quando apanhados tinham o seu ventre aberto pelos soldados, ainda vivos. Quando Tito soube disso puniu os acusados.

O espectro da fome apoderou-se da cidade super povoada de tal forma que a

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morte fazia uma colheita terrível. A ânsia em comer, fosse o que fosse, não conhecia mais limites, matava qualquer outro sentimento humano.

A fome, cada vez mais insuportável, aniquilava famílias inteiras. Os terraços estavam cheios de mulheres e crianças desfalecidas, as ruas juncadas de velhos mortos. Crianças e jovens cambaleantes erravam como fantasmas pela cidade, até que caíam. Tão esgotados estavam que não podiam enterrar ninguém e caíam sobre os mortos ao querer enterrá-los.

A miséria e a fome alcançaram tal patamar que a simples sugestão de qualquer coisa comestível, começava logo uma luta para apoderar-se dela, e os melhores amigos lutavam entre si, arrancavam uns aos outros as coisas mais miseráveis. Ninguém acreditava que os moribundos não tivessem algum alimento. Os ladrões se atiravam aos que jaziam nas últimas e revistavam-lhes as roupas. Esses ladrões andavam de um lado para outro, batendo as portas das casas como ébrios. Em seu desespero batiam duas ou três vezes no mesmo dia em uma mesma casa. Muitos começavam a roer seu cinturão e sapatos e até mesmo o couro dos casacos. Comiam até feno velho e talos de ervas. Muitos percorriam as ruas em busca de alimentos.

Certo dia, de uma casa saía um cheiro de carne assada. Os homens penetraram imediatamente na habitação e se depararam com Maria, filha da nobre família Bet-Ezob, extraordinariamente rica, da Jordânia Oriental. Ela tinha ido como peregrina a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Os famintos a ameaçaram de morte se não lhes entregasse o assado. Perturbada, a mulher estendeu-lhes o que pediam, e eles viram, petrificado, que era um recém-nascido meio devorado – o próprio filho de Maria.

A notícia transpôs os muros e Tito quando soube jurou que este crime não ficaria impune.

Conseguiram por fim penetrar na cidade. Tito pediu todo o tempo que o Templo fosse poupado, devido à sua suntuosidade. Mas em meio aos duros combates, um soldado apanhou uma tocha e atirou para dentro do santuário. Cheio de mate-

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riais inflamáveis, o fogo logo se alastrou, embora o general tentasse impedir, já não era possível. As chamas a tudo consumiram. E os soldados, impulsionados pelo desejo de saque, nada fizeram para impedir isto. Como havia revestimento de ouro por toda parte, os soldados derrubaram tijolo por tijolo, para apoderar-se do ouro.

Segundo informações do historiador Tácito, havia na cidade 600.000 pessoas. Flávio Josefo registra que só por uma porta da cidade foram retirados, no espaço de três meses, cento e quinze mil e oitocentos cadáveres de judeus. Noventa e sete mil foram feitos prisioneiros.

No ano 71 d.C., Tito mostrava a glória de sua vitória sobre os judeus, fazendo um imenso desfile triunfal. O candelabro de sete braços (o Menorá) e a mesa dos pães da proposição foram conduzidos a Roma. Foram representados no Arco de Tito, o qual ele erigiu para comemorar esta campanha. Começa assim o maior período da Diáspora judaica, que só encontraria seu fim quase dois mil anos depois.

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