Revista Universidade & Sociedade n. 25

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Olgaíses Maués*

A universidade pública no olho do furacão A Universidade Brasileira está nos centros dos acontecimentos há algum tempo. A mesma se encontra em crise desde a década de 70, acompanhando pari pasu a crise da sociedade resultante do modelo capitalista adotado. Aliás, já em 1968, o ensino superior foi reformulado porque a Universidade, segundo a ótica dos governantes, não atendia à necessidade social. Várias reformas aconteceram com ou sem a ajuda dos organismos internacionais, como o relatório Atcon, que apresenta, a pedido do Ministério da Educação e Cultura, propostas de reestruturação da Universidade. Outros “relatórios” oficiais surgiram e todos, de forma direta ou não, apontaram para a privatização da Universidade, para o questionamento da sua “eficiência e eficácia”, para os resultados de sua “produtividade”, para a “qualidade” dos cursos e dos egressos. No momento se vive mais um momento agudo dessa crise, e como a entendemos vinculada à soci-

edade, é preciso que se situe melhor este contexto, para também identificarmos melhor os problemas que hoje vive a Universidade Pública no Brasil. O cenário mundial O final do século XX, do breve (Hobsbawn) ou do longo (Kurtz), foi o de desmanche de tudo aquilo que parecia sólido (Marx:1997). As alterações que se processaram nas sociedades, tanto na sua base material quanto na ideológica, levaram a um questionamento das crenças e valores até então estabelecidos. O mundo se transformou, se modificou e começou a rejeitar verdades tidas como eternas. Esse cenário traduz uma crise do capital que se iniciou na década de 1970, significando o esgotamento de alguns modelos econômicos, políticos e sociais e a necessidade da criação, do surgimento de outros. Uma crise pode significar um obscurecimento de um paradigma, podendo o seu término ocorrer com o aparecimento de um outro paradigma ou modelo (Kuhn, 1994:116). Um paradigma, pois, pode ser a resposta a um problema ou a não resolução de um “quebra cabeça”. Desta forma,

a solução da crise pode representar uma revolução, sem contudo haver um esquecimento completo dos antigos padrões que foram, por vezes, as origens do problema. Marx (1983) apresenta, nos seus escritos, o fato de o capitalismo gerar suas próprias crises, como sendo um processo inerente à sua natureza. Este estaria marcado pelo caráter cíclico do processo de desenvolvimento, alternando fases de prosperidade com outras de depressão, representadas por ciclos parciais ou gerais, quando então se apresentariam as crises, significando estas um colapso de reprodução do sistema. Assim, pode-se considerar que houve um “longo ciclo” de expansão que começa após a Segunda Guerra Mundial e que perdura até os anos de 1973, quando então se inicia uma nova fase cíclica de problemas que vão caracterizar a atual crise estrutural do capitalismo. A partir de então se começa a viver, nos países capitalistas, um profunda mudança na sua base de sustentação, em função de que o regime de acumulação, que vinha sendo financiado pelo fundo público (Frigotto,1995 :62), a partir de políticas estatais que indicam esse Ano XI, Nº 25, dezembro de 2001 157


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