Revista Universidade & Sociedade n. 25

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Fazer política Hoje

José Augusto R. da Silveira* Tomás de Albuquerque Lapa**

Política de transporte, sociedade e espaço urbano 1. INTRODUÇÃO Os problemas relacionados ao acelerado processo de expansão urbana e às questões de mobilidade e acessibilidade à cidade estão no centro das discussões recentes sobre a qualidade de vida urbana. Tem-se buscado avaliar os efeitos da lógica evolutiva sobre a sociedade, a partir da análise da relação entre as novas configurações espaciais e as políticas de transportes. Dessa maneira, questões envolvendo a dinâmica da cidade e o comportamento social merecem uma análise aprofundada, uma vez que o surgimento de novos territórios afeta a gestão dos transportes. De modo geral, questões físicoterritoriais, de deslocamento e sócioculturais, não são adequadamente observadas nas discussões sobre transporte urbano e, por isso, não condizem com a realidade das cidades. Neste artigo, são destacados os processos de expansão e de transformação do espaço urbano, realçando a formação de novos territórios que, por sua vez, exercem influência sobre a gestão dos transportes. Aceitando-se que as questões do 40 Universidade e Sociedade

transporte devem ser tratadas numa perspectiva multidisciplinar, como forma de reconstituição do cotidiano da cidade e da sociedade, o transporte pode ser visto como um instrumento de análise das lógicas evolutivas urbanas, colocando-se com a possibilidade de conduzir uma estratégia de resolução dos descompassos entre as necessidades de deslocamento e a dinâmica de crescimento urbano. 2. Crescimnto e fragmentação do tecido urbano A historiografia urbana mostra que à predominância da centralização físico-espacial, considerada sistematicamente a partir da segunda metade do século XIX, atualmente contrapõe-se à descentralização, à desintegração e à fragmentação da “nova vida urbana” (Topalov,1987). O processo histórico de crescimento urbano destacou os papéis funcionais da centralidade, do surgimento das cidades até as primeiras décadas do século XX, contrapondo-a à fragmentação recente, característica do crescimento contemporâneo. O modelo dito dos “lugares centrais”, pelo qual Walter Christaller (1933) explicava o crescimento e a reparti-

ção das cidades, não dá devidamente conta de uma reticulação generalizada, ao mesmo tempo mais instável e menos centrada, nem da urbanização dispersa, em forma de tentáculos. Uma das conseqüências foi o surgimento de novas centralidades e a perda da perspectiva estrutural da totalidade da cidade, que afetou a questão da acessibilidade urbana. Ao contrário do que ocorreu com os espaços de centralidade histórica, que permitiam a percepção da totalidade da cidade, no processo atual de dispersão urbana, as novas periferias produzidas pelas dinâmicas espaciais de segregação somente podem ser apreendidas de forma fragmentária. Os fatos nas médias e grandes cidades brasileiras dão a parecer que a era das entidades urbanas discretas acabou. Isso indica a necessidade de rever, de forma ampla, as políticas de transporte urbano, não somente no que se refere à oferta de transporte, e sua adequação às necessidades de deslocamento da população, mas também quanto às articulações com a estrutura urbana e a ocupação do solo. Além disso, há que rever-se também os padrões de crescimento urbano e os efeitos dis-


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