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Livros pubLicados ed._________
sequência Ameríndias: performances do cinema indígena no Brasil, aa.vv., seleção de textos rita Natálio, rodrigo Lacerda, susana de Matos viegas Matchundadi: género, performance e violência política na Guiné-Bissau, Joacine Katar Moreira prefácio de pedro vasconcelos Esferas da Insurreição: notas para uma vida não chulada, suely rolnik prefácio de paul b. preciado O Desensino da Arte: projecto de uma Escola Ideal, Maria sequeira Mendes, Marta cordeiro, Marisa F. Falcón Coisas de Theatro e Loisas de Theatro, sousa basto, santos Gonçalves prefácio de andré e. Teodósio, prelúdio de paula Gomes Magalhães
série Curta introdução a um catálogo sem autor, anónimo, prefácio de cyriaque villemaux Impasse, João pedro vale, Nuno alexandre Ferreira, diogo bento introdução de andré e. Teodósio Anda, Diana, diana Niepce
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Série
coleção dirigida por Rita Natálio e André e. Teodósio «ed._________» resulta da colaboração da editora Sistema Solar com o Teatro Praga. Esta chancela é composta por duas coleções. A coleção «Série» divulga o património imaterial das artes performativas contemporâneas. A coleção «Sequência» organiza-se em livros temáticos oriundos de diversas disciplinas, que ofereçam uma reflexão sobre sistemas de poder e protesto na atualidade. Pretende-se assim colmatar a ausência, no panorama editorial português, de uma bibliografia regular e consistente dedicada às artes performativas, bem como pensar o mundo e a história com recurso a disciplinas estéticas, filosóficas e políticas.
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Delirar a Anatomia
Partituras-Poemas de Ana Rita Teodoro
+ (des)léxico para A.A. de Joana Levi
SiSTEmA SoLAR ed._________
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Índice
Prólogo, Ana Rita Teodoro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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modos de operação, Ana Rita Teodoro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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(Des)léxico para A.A., Joana Levi Língua e os túneis do corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Partitura-Poema, Ana Rita Teodoro orifice Paradis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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(Des)léxico para A.A., Joana Levi Crueldade: força-vida, lucidez-horror . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Partitura-Poema, Ana Rita Teodoro Sonho d’intestino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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(Des)léxico para A.A., Joana Levi Atletismo afetivo: corpo duplo, atleta do coração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Partitura-Poema, Ana Rita Teodoro Peler (descascar) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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(Des)léxico para A.A., Joana Levi Canto de uma anarquia que se organiza: corpo-poema, avesso-direito
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Partitura-Gráfica, Ana Rita Teodoro Palco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . o Joelho orifício. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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(Des)léxico para A.A., Joana Levi Culto-civilizado × cultura em ação: representação, cultivo . . . . . . . . . . .
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Partitura-Poema, Ana Rita Teodoro Pavilhão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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(Des)léxico para A.A., Joana Levi Corpo sem órgãos / linguagem aberrante: abertura ao devir e à metamorfose. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Peças da coleção Delirar a Anatomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Biografias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Prólogo
Delirar a Anatomia é uma coleção de estudos febris dedicados a uma parte do corpo. Delirar a Anatomia é uma coleção de peças de dança e uma coleção de partituras-poemas. o presente livro compila cinco partituras-poemas desta coleção, intercaladas pelo (des)léxico para A.A. de Joana Levi, artista, performer e estudiosa sensível ao corpo proposto por Antonin Artaud. Delirar a Anatomia reestuda as partes do corpo, acumulando e entrelaçando visões díspares — poéticas exageradas, simplistas, descabidas, ignorantes e eruditas — para conceber um corpo que dança. Propõe um estudo que isola as diferentes partes (boca, pele, coração, joelho, esfenoide, nuca, intestinos, etc.) para tentar ver o corpo não como um todo — máquina útil —, mas como um ser de diversos, composto de plurissistemas. Para desviar o foco do eu-corpo-todo-potente ou do eu-corpo-que-me-mata, talvez se possa propor um corpo-plural composto de diversas potências. Sendo a anatomia a disciplina que separa e nomeia o corpo, Delirar a Anatomia usa a escrita para renomear. A escrita é basal no processo de maturação da peça coreográfica, porque o ato de escrever torna possível e afirma um outro organismo ou uma outra função — por exemplo, a perna-língua lambe o pelo; iniciar o processo de secagem espiralando a coluna. Deste modo, as partituras-poemas resultam de uma exploração simétrica entre processo de escrita e processo coreográfico, entre palavra e gesto. A partitura-poema compõe-se da descrição de movimentos, de ações, de sensações, misturadas com factos e constatações. Pode funcionar como um monólogo interior do intérprete ou como guia para futuras interpretações performativas. Aqui neste livro, as partituras-poemas servem para desencadear o delírio no leitor, para que este possa encontrar uma dança que está para além do presente visual, próprio do espetáculo performativo. importa ainda acrescentar que o delírio desta anatomia diz respeito ao efeito de «aumentar» — aumentar as imagens, aumentar os sentidos, aumentar as sensações e deixar que este aumento de matéria se reorganize, sobrepondo-se, fun11
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dindo-se, multiplicando-se… Um delírio que não provoca «histeria» ou «perda de sentidos», mas que convive, acalma e se reconstrói na desmesura. Porém, Delirar a Anatomia não é uma ideia original, é uma manifestação individual de um pensamento sobre o corpo que encontra a sua genealogia em Antonin Artaud. Joana Levi e o seu (des)léxico para Artaud trazem ao leitor uma outra dimensão a este meu trabalho. Uma dimensão que é histórica, porque Artaud é o artista maldito da sociedade do início do século XX cuja obra marcou e continua a marcar estudiosos e artistas de diferentes domínios. E uma dimensão que é «mágica», pois potencializa o delírio, a imaginação e a interpretação das partituras-poemas. Quando comecei a dançar, no início da década de 2000, o pensamento de Antonin Artaud e especificamente o texto «Corpo sem órgãos» desenvolvido por Deleuze e Guattari em Mil Planaltos estavam em voga no contexto da dança contemporânea. Coreógrafos, críticos e bailarinos evocavam constantemente este texto para atualizar (e por vezes justificar) os corpos presentes na dança, corpos que se afastaram da dança clássica e da dança moderna. Voltei a encontrar Artaud no meu interesse pelo Butô e, concretamente, em Hijikata Tatsumi, grande apaixonado pelo escritor, e que trabalhou na coreografia de um corpo virado do avesso, um corpo que fala desde as suas entranhas, e também um corpo que não-pertence — um corpo que não pertence aos cânones estéticos e sociais estipulados pela sociedade japonesa dos anos 60. Delirar a Anatomia, como tantos outros projetos, está na continuidade dos processos e do corpo pensado por Artaud. manifesta o desejo de virar o corpo do avesso e procurar na constituição física dos corpos um mundo livre, sensual e à medida de cada 1.
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A primeira escolha é a de isolar uma parte do corpo, e friamente colocá-la num estúdio vazio. Proporcionar o delírio, operando na fricção de factos e ficções, no ataque aos órgãos e às suas funções destinadas. Permitir liberdade na criação do corpo, e assim redesenhar as suas formas, gestos e funções, e assim alargar o seu modo de ser e de existir.
Modos de operação Renomear funções. Atacar as funções primordiais do corpo dando-lhes outras funções — por exemplo, a função dos olhos de olhar e a da mão de agarrar, fazer o olho que agarra e as mãos que olham. Deslocar órgão ou função. Atacar as zonas destinadas aos órgãos deslocando-os — por exemplo, deslocar a zona da boca para a zona da vagina. Estas duas dinâmicas produzem uma multiplicação não só do órgão (boca), mas também da sua função destinada (comer), que resulta num corpo que devém um só órgão — corpo-boca e corpo-intestino. Exceder a função. Exigir tanto de uma função que ela perde o seu propósito inicial — por exemplo, comer mais do que podemos, querer agarrar em demasiadas coisas ao mesmo tempo com as duas mãos, correr e rir ao mesmo tempo. integrar diferentes objetos na função normal do corpo para entender como os objetos podem otimizar, substituir, modificar ou melhorar as funções — usar uma mesa para ouvir melhor.
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Ana Rita Teodoro É portuguesa, mestra em Dança, Criação e Performance pelo CNDC de Angers e pela Universidade Paris 8 (2011/2013). Desenvolveu como pesquisa a criação de uma Anatomia Delirante, da qual resultou a Coleção Delirar a Anatomia, pequenas peças de dança dedicadas a uma parte do corpo: Orifice Paradis (2012), Sonho d’Intestino (2013), Palco e Pavilhão (2017). o butoh de Tatsumi Hijikata tem sido uma das suas áreas de maior investimento artístico. Desde 2007 participa em diferentes workshops liderados por artistas e pesquisadores como: Tadashi Endo, Sankai Juko, Torifune, Akira Kasai, min Tanaka, Yoshito ohno, Patrick De Vos e Christine Greiner. Em 2015, recebe a Bolsa de Aperfeiçoamento Artístico da Fundação Calouste Gulbenkian para estudar com Yoshito ohno no Japão, e em 2016 desenvolve uma pesquisa em torno da prática do butoh com o apoio Aide à la recherche et au patrimoine en danse do Centre national de la danse, CN D (Pantin). Esta pesquisa culmina na performance-conferência intitulada Your Teacher, Please (2018). Ana Rita Teodoro criou as seguintes coreografias a solo – MelTe (2009), Curva (2010), Assombro (2015) e a sua primeira grande peça de grupo FoFo (2019), que contou com o apoio New Settings da Fundação Hermes. No contexto do serviço pedagógico do CN D, Ana Rita concebeu duas conferência-espetáculo para o público jovem: Conferência 1. O Corpo (2019) e Conferência 2. Pequena História do imaginário corporal (2020). No mesmo contexto, Ana Rita prepara uma terceira conferência sobre como o pensamento sobre o corpo se manifesta na dança enquanto arte e expressão dos tempos. Trabalha com o músico Julien Desprez e é intérprete da sua peça Coco (2019), trabalha em diversos projetos pontuais com artistas como Nadia Lauro (Garden of Time, Festival de la cité Lausanne 2020), João dos Santos martins (Trolaró, Casa da Dança de Almada – 2020) e a artista visual Adelaïde Feriot (Palais de Tokyo – 2019). Foi igualmente intérprete de João
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dos Santos martins em Projeto Continuado (2015), em Companhia (2018) e em Antropocenas (2017) do mesmo coreógrafo e da Rita Natálio. Foi artista associada do Centre national de la danse, CN D (Pantin) entre 2017 e 2019 e é artista da Associação Parasita desde a data da sua criação em 2015.
Joana Levi (Rio de Janeiro, 1975) É performer, encenadora e dramaturgista. Vive em Lisboa desde 2017. É formada em Filosofia/USP e mestra em Filosofia-Estética/FCSH-UNL. A sua criação mais recente, Rasante, estreou no Festival Alkantara 20’, no âmbito do ciclo «Terra Batida». Nos últimos dez anos tem-se dedicado a projetos experimentais e colaborativos que forjam uma cena atravessada por diferentes linguagens (da performance ao teatro, da dança ao pensamento filosófico) e que evocam relações de tensão, expressas em contextos e conflitos urbanos, (pós-)coloniais e de género. Recentemente, colaborou com Carlota Lagido, Sónia Baptista, Rita Natálio, Gustavo Ciríaco, Julia Salem, entre outros. Anteriormente, no Brasil, destacam-se as suas criações Museu Encantador (mAm – RJ), em colaboração com Rita Natálio; Rózà (Casa do Povo – SP), em parceria com martha Kiss Perrone; e In_Trânsito (Prémio montagem Cénica – RJ), codirigido por isabel Penoni/Cia marginal. É cooperadora da Penha Sco_arte cooperativa (Lisboa), onde realiza programação de artes performativas e gestão de projetos.
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© Teatro Praga / Sistema Solar (chancela ed._________ ), 2022 Textos e imagens © as Autoras Fotografia Dimitri Rey, p. 109 1.ª edição, fevereiro de 2022 500 exemplares iSBN 978-989-8833-89-1 Conceção gráfica Horácio Frutuoso Revisão Helena Roldão impressão e acabamento Europress Rua João Saraiva, 10 A 1700-249 Lisboa, Portugal Depósito legal 495767/22 Esta publicação recebeu o apoio da República Portuguesa – Cultura | DGARTES – Direção-Geral das Artes
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